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Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo Plaquetopenia Plaquetopenia, ou trombocitopenia, é definida pela presença de menos de 100.000 plaquetas/mm3 no sangue periférico, podendo produzir sinais de sangramento quando abaixo de 30.000/mm3 - nas plaquetopenias crônicas, os pacientes toleram bem, sem sangramento, níveis de 10.000 ou menos/mm3. Pode ser subdividia em leves (contagem de plaquetas 100.000 a 150.000 / microL), moderada (50.000 a 99.000 / microL) e grave (<50.000 / microL). Existe ainda a pseudoplaquetopenia, condição não-patológica causada por auto-anticorpos naturais contra o complexo GPIIb/IIIa, em que a contagem de plaquetas está falsamente reduzida. As formas graves com sangramento são emergência médica que requerem ação imediata, como na púrpura trombocitopênica trombótica (PTT), síndrome hemolítico-urêmica (SHU), microangiopatia trombótica induzida por drogas ou síndrome de falha da medula óssea com pancitopenia grave. As principais etiologias da trombocitopenia envolvem insuficiência de produção de plaquetas (por depressão seletiva de megacariócitos ou por parte de insuficiência global da medula óssea), aumento do consumo de plaquetas (de causa imunológica, por coagulação intravascular disseminada ou por púrpura trombocitopênica trombótica), distribuição anormal de plaquetas e perda dilucional. Doenças bacterianas crônicas associadas com anemia e com acometimento da medula óssea, podem apresentar plaquetopenia discreta. A doença hepática crônica com insuficiência hepática, hipertensão porta e icterícia costuma ser acompanhada de anemia discretamente macrocítica com presença de hemácias em alvo, sinais de hiperesplenismo caracterizado por discreta leucopenia, neutropenia e plaquetopenia. Na apresentação clínica geral, a principal manifestação é o sangramento, que se manifesta por história de sangramento, petéquias, equimoses, epistaxe, sangramento gengival, hematêmese, melena ou sangramento menstrual intenso. O sangramento grave aumenta o risco de choque hipovolêmico. No diagnóstico geral (não específico de cada patologia), a anamnese deve avaliar contagens de plaquetas anteriores, história familiar, passado de sangramento e uso de medicamentos que podem causar o quadro. Ao exame físico, avaliar presença de sangramento, linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, trombose e envolvimento de órgãos. Quanto aos testes laboratoriais, solicitar hemograma completo e esfregaço de sangue periférico. A insuficiência na produção de plaquetas é uma causa comum e geralmente está associada à insuficiência global da medula óssea. Além das disfunções já citadas, essa insuficiência pode ser vista na anomalia de May-Hegglin e na Síndrome de Wiskott-Aldrich (WAS), associada a eczema e deficiência imunológica. A Figura 1 - Avaliação de plaquetopenia confirmada. Fonte: Clínica Médica USP – Volume 3: Doenças Hematológicas, Oncologia e Doenças Renais e Geniturinárias. 2ª ed. Barueri, SP: Manole, 2016. (Página 350). Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo WAS é causada por mutação no gene WASP (proteína reguladora de sinalização das células hematopoéticas). O diagnóstico dessas causas de trombocitopenia é feito pela história clínica, pelo hemograma e pelo exame da medula óssea. A púrpura trombocitopênica autoimune (idiopática, PTI) pode ser crônica ou aguda. A forma crônica é relativamente comum, sendo a causa mais comum de trombocitopenia sem anemia ou neutropenia. Em geral, é idiopática, mas pode ser vista associada a outras doenças - lúpus eritematoso sistêmico, HIV, HCV, Helicobacter pylori, leucemia linfocítica crônica, linfoma de Hodgkin e anemia hemolítica autoimune (síndrome de Evans). A patogênese se resume no fato de que autoanticorpos antiplaquetas (IgG) causam remoção prematura das plaquetas da circulação pelos macrófagos do sistema reticuloendotelial, sobretudo no baço. O início é insidioso, com petéquias, equimoses fáceis e, em mulheres, menorragia, além de epistaxe ou sangramento gengival em casos graves. A PTI crônica tende a recidivar e a regredir de forma espontânea, dificultando a previsão da evolução. O diagnóstico é feito analisando a contagem de plaquetas (10 a 100 x 10³/µL) e o VPM aumentado. A hemoglobina e o leucograma são normais, há diminuição do número de plaquetas e presença de plaquetas grandes. Não há alterações nas demais séries. A medula óssea mostra número normal ou aumentado de megacariócitos. O tratamento tem como objetivo a manutenção da contagem de plaquetas acima do nível no qual ocorrem equimoses ou sangramento espontâneo, com um mínimo de intervenção - contagem de plaquetas acima de 20 x 10³/µL, em paciente assintomático, não requer tratamento. Os fármacos mais utilizados são os corticoesteroides – prednisolona 1 mg/kg/dia é o tratamento inicial em adultos, diminuindo-se a dose de modo gradual depois de 10 a 14 dias. Transfusão de plaquetas é indicada para pacientes com sangramento. Esplenectomia é um tratamento efetivo para a PTI, devendo ser cogitada após 6 meses de evolução naqueles pacientes com plaquetopenia persistente e grave, após falha de resposta com corticosteróides. A púrpura trombocitopênica aguda é mais comum em crianças, ocorrendo na maioria das vezes após vacinação ou infecção (varicela ou mononucleose infecciosa). A patogênese se resume na ligação de imunocomplexos inespecíficos às plaquetas. Remissões espontâneas são usuais, porém, a doença pode se tornar crônica (duração superior a 6 meses). Apesar de rara, o risco encontra-se na hemorragia cerebral. O diagnóstico é de exclusão. Se a contagem de plaquetas for > 30 x 10³/µL, não há necessidade de tratamento; pacientes com sangramento significativo e baixas contagens são tratados com esteróides e/ou imunoglobulina intravenosa. A trombocitopenia associada a infecções por vírus e protozoários é imunomediada. Na infecção por HIV, também está envolvida uma diminuição na produção de plaquetas. A trombocitopenia induzida por fármacos é explicada por um mecanismo imunológico, sendo que a contagem de plaquetas quase sempre é < 10 x 10³/µL e a medula óssea mostra número normal ou alto de megacariócitos. Os anticorpos antiplaquetas dependentes de fármaco podem ser demonstrados no soro de alguns pacientes. O tratamento imediato é a suspensão do fármaco suspeito, mas deve ser administrado concentrado de plaquetas em pacientes com sangramento grave. Vale ressalatar que diuréticos tiazídicos podem causar plaquetopenia leve por meio da formação de anticorpos antiplaquetas e através da supressão da trombopoese. A púrpura pós-transfusional ocasiona trombocitopenia súbita e grave que ocorre 10 dias após a transfusão de sangue, sendo atribuída a anticorpos do receptor contra o antígeno plaquetário humano la (HPA- la) - presente nas plaquetas transfundidas. Na púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) há deficiência da metaloprotease ADAMTS13, que cliva multímeros de peso molecular “ultra-grande” do fator von Willebrand (ULVWF). As formas adquiridas decorrem do desenvolvimento de um autoanticorpo IgG inibidor, estimulado por infecções, doenças autoimunes e do tecido conectivo, certos fármacos, transplante de células-tronco ou cirurgia cardíaca. A PTT apresenta-se pelo quinteto composto de trombocitopenia, anemia hemoli-microangiopática, alterações neurológicas, insuficiência renal e febre. O diagnóstico é sugerido por trombocitopenia e esquizócitos no hemograma e elevação expressiva da desidrogenase lática (LDH). Os testes de coagulabilidade são normais e a ADAMTS13 está ausente ou significativamente reduzida no plasma. O tratamento é a troca de plasma. Rituximabe (anti-CD20) pode ser utilizado. Recidivas são frequentes. A síndrome hemolítico-urêmica em crianças manifesta-se por diarreia,etiologicamente associada à Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo infecção por Escherichia coli com verotoxina ou a outros microrganismos - Shigella. O tratamento se dá com hemodiálise e controle da hipertensão. A coagulação intravascular disseminada causa trombocitopenia pelo aumento do ritmo de destruição de plaquetas pelo nível elevado de consumo. O aumento da retenção esplênica é o principal fator responsável pela trombocitopenia na esplenomegalia. Na ausência de defeitos hemostáticos adicionais, a trombocitopenia da esplenomegalia não costuma estar associada a sangramento. Na síndrome da transfusão maciça, pacientes transfundidos com quantidades maciças de sangue armazenado apresentam coagulação anormal e trombocitopenia, podendo ser corrigidas com uso de transfusão de plaquetas e plasma fresco congelado. Referências Bibliográficas Hoffbrand, A.V. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. Clínica Médica USP – Volume 3: Doenças Hematológicas, Oncologia e Doenças Renais e Geniturinárias. 2ª ed. Barueri, SP: Manole, 2016. ALVES, Ana Klara Rodrigues. Púrpura trombocitopênica idiopática: uma doença subdiagnosticada. Revista Sustinere, v. 9, n. 1, p. 50 - 64, Agosto de 2021. Figura 2 - Diagnóstico de Púrpura Trombocitopênica Idiopática. Fonte: Clínica Médica USP – Volume 3: Doenças Hematológicas, Oncologia e Doenças Renais e Geniturinárias. 2ª ed. Barueri, SP: Manole, 2016. (Página 354).
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