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Copyright © 2 0 2 1 — Anne Miller S U B MIS S A PAR A O MEU CH EF E 1ª Ediçã o digital: Setembro de 2 0 2 1 Todos os direitos reservados. É proibido qualquer tipo de reprodução, armazenamento ou transmissão desse livro sem a autorização por escrito da autora. A reprodução não autorizada desta obra, total ou parcial, constituí violação de direitos autorais. ( Lei 9 .1 6 0 / 9 8 ) . Capa: Anne Miller Imagem: @ Crello Ediçã o digital: setembro de 2 0 2 1 Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situaçõ es da vida real terá sido uma mera coincidência. Precisa falar comigo? E- mail: autoraannemiller@ gmail.com. Instagram: @ iannemiller. Índice Índice Prólogo Capítulo 01 Capítulo 02 Capítulo 03 Capítulo 04 Capítulo 05 Capítulo 06 Capítulo 07 Capítulo 08 Capítulo 09 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Epílogo Agradecimentos Conheça os Meus Outros Trabalhos Anne Miller Prólogo AL EX AN D R E S eis anos antes. — Você viu o Bruno? — Thais me perguntou, relembrando-me de que agora ela possuía um namorado. E justamente no momento em que eu estava prestes a dizer o quanto ela estava linda naquele vestido branco. — Aquele seu namoradinho frouxo? — respondi ciente de que estava agindo como um babaca, entretanto, eu não gostava de vê-la andando pra cima e pra baixo com aquele garoto. Isso me tirava do sério. Ela me lançou um olhar raivoso, o que me obrigou a lhe dizer: — Foi mal... — Deveria calar a minha boca e não piorar a situação, mas, uma vez mais, não me contive. — Eu só acho que ele não é homem o suficiente pra você, princesa... Só isso. E quem era homem o suficiente para ela? Eu? Essa ideia quase me deixou desconcertado. — Como assim, Alexandre? — questionou-me Thais, praticamente revirando os seus olhos para mim. — Pra sua informação, o Bruno é inteligente, atencioso e muito fofo. — Viu só? Ele é frouxo, Thais! — Foi impossível não rir com a expressão do rosto dela. Adorava quando a irmã do meu amigo ficava brava e fazia aquele biquinho. Era excitante discutir com ela, eu simplesmente não conseguia resistir. E talvez tenha sido isso que me fez continuar: — Eu aposto que ele ainda nem te comeu. A minha frase causou um efeito instantâ neo, deixando-a totalmente ruborizada. Aquilo, o simples fato de mudar o assunto para sexo, me deixou excitado. Consequentemente, também me deixou um pouquinho envergonhado e isso me obrigou a colocar a mão, junto com a latinha de cerveja, na frente da minha virilha, para esconder a minha ereção. — Dica de amigo, se você não quiser morrer virgem, é melhor trocar de namorado — tornei a provocá-la, gostando daquelas faíscas que estavam rolando entre a gente. Eu queria um incêndio. Queria vê-la pegando fogo. — Vai... vai se ferrar! — Thais respondeu e então começou a correr, afastando-se de mim a passos apressados. E, só então, notei que havia passado dos limites. Q ue droga eu estava fazendo? Eu era um babaca de carteirinha, sempre fui um, mas essa era a primeira vez que agia assim com ela. Foi uma daquelas piadas de mau gosto que, logo após ser pronunciada, deixava um gosto amargo terrível na boca, que você faz sem se dar conta do quanto ela pode ferir. Talvez fosse a bebida, talvez fosse o fato de eu detestar vê-la em um relacionamento ou então talvez fosse porque estava cansado de me privar, de ser o cara legal e “gente boa”, que não pegava a irmã do amigo, mesmo querendo e muito. Não fiquei pensando em todas as possibilidades e corri atrás dela, pois não queria que Thais ficasse chateada comigo, não por conta de uma coisa tão idiota. Eu a alcancei e, tocando em seu ombro, murmurei: — Ei... eu sei que agi como um babaca. Ela continuou em silêncio e os seus olhos me evitaram. Eu sabia que o problema não havia sido a minha ofensa ao namorado frouxo dela. Ferrei tudo quando zombei do fato de ela ainda ser virgem, de algo que Thais me contou em uma de nossas conversas. Ela havia confiado isso a mim e, por algum motivo estúpido, usei como chacota num momento de frustração. — Sei que não mereço, mas você pode, por favor, me desculpar? — sussurrei com os meus olhos fixos naquele rostinho lindo. — Não quero brigar com a minha garota preferida logo no primeiro dia do ano. Lentamente, o pescoço dela foi se virando e os seus olhos finalmente encontraram os meus. Forcei uma careta, com a minha melhor expressão de cachorro sem dono, e então ela balançou a cabeça, cedendo. — O motivo pelo qual continuo provocando você com essa história... — Eu me interrompi, como se estivesse prestes a fazer algo estúpido, talvez ainda mais do que zombar da garota que eu gostava. — Acho que não gosto de ver você com ele. Levantei a minha cabeça, tornando a encará-la. E notei que ela estava olhando pra mim, flagrando-me com aqueles olhos enormes, assistindo de perto a todos os meus medos e desejos, vendo isso refletido em meu rosto. Simplesmente esqueci toda a merda de não pegar a irmã do meu amigo. Naquele instante, Thais não era mais a irmã de J onas, não era a garota bobinha da qual eu sempre me referia como “princesa”. Enxerguei-a como mulher. Uma mulher que eu desejava. Nossos rostos foram se aproximando e, diferentemente de todos os momentos semelhantes que tivemos no passado, quando acabava rolando um clima — e eu me esforçava para matá-lo com alguma piadinha infantil —, não evitei o beijo. Fiz exatamente o oposto e abandonei todo o controle, tomando aqueles lábios macios para mim, agindo como se ela fosse minha e não daquele menino frouxo. — Eles... Todos eles estão certos, Alex... — ela disse em um sussurro, assim que nos afastamos. — É verdade o que dizem... Eu gosto de você. Por uma fração de segundos, travei, sem a mínima ideia do que deveria fazer ou lhe dizer. Fiquei tão atônito ao ponto de realmente lhe dizer a verdade. — Eu também gosto de você, princesa — sussurrei ao pé do ouvido dela, instantes antes de beijar a sua pele quente, sentindo um pouquinho mais do gosto daquela fruta proibida que sempre quis morder. — Acho que sempre gostei. — Eu... eu não posso — ela sussurrou, interrompendo o nosso beijo e escapando dos meus braços. Por um momento, a minha mente gritou “e nem eu”, fazendo com que eu me desse conta de onde estava pisando, da merda que estava fazendo. — Preciso terminar com o Bruno primeiro... Depois que fizer isso... — Ela sorriu, enquanto continuava me fitando com aquele olhar esperançoso, como se enxergasse um paraíso no meu rosto. — Serei completamente sua. Após me dizer isso, Thais simplesmente se afastou, andando apressada pela praia. Quando a garota deixou o meu campo de visão e todo o êxtase daquele nosso beijo terminou, finalmente notei o que tinha feito. Beijei a irmã do meu amigo. Ainda pior, deixei com que ela pensasse que teríamos algo sério. Aquele “serei completamente sua” deu conta do recado. Eu queria muito a Thais, talvez bem mais do que eu já quis qualquer outra garota. Não sabia nem mesmo explicar o que me atraia tanto naquela menina. Mas tinha certeza de que não era o homem para ela, de que nunca poderia dar o conto de fadas que ela sonhava viver. Fiquei parado no mesmo lugar por mais alguns segundos, olhando para o vazio, pensando no que deveria fazer. Procurei dezenas de justificativas para não dar continuidade naquilo que ainda não havia nem começado. Contudo, todos esses pensamentos eram ofuscados pela lembrança do breve beijo que tivemos. Seus lábios macios, minhas mãos descendo pela sua cintura fina, o som de sua respiração e o vento soprando forte contra os nossos rostos. Como é que eu poderia lutar contra um sentimento assim? Era isso. Exatamente isso. Não poderia. Com um sorriso no rosto, virei-me pronto para correr atrás de Thais, mais do que preparado para lhe dizer que eu estava ansioso pelo momento em que ela seria completamente minha. — Que droga você pensa que estáfazendo? — A voz de J onas impediu-me de dar o primeiro passo. Meus olhos buscaram pelo rosto dele e observaram a expressão zangada que ele carregava. Certamente, ele viu ou alguém contou sobre o nosso beijo. Abri a minha boca para tentar me explicar, mas ele não deixou. — Se afasta da minha irmã. Com os meus olhos fixos em J onas, respondi: — Eu gosto dela, cara... De verdade. — Pensei em Thais e um sorriso espontâ neo apossou-se dos meus lábios. — Nunca me senti assim com mais ninguém e... — Eu não vou falar de novo, Alexandre — ele me interrompeu. — Ela só gosta de você porque não sabe do idiota que você é... Se eu suspeitar de mais alguma coisa, por menor que ela seja, vou fazer questão de contar cada um dos seus podres. Não sabia nem o que responder depois daquela ameaça. A minha única certeza era de que J onas não parecia estar brincando. Eu não me importava com a possibilidade do meu pai descobrir sobre as minhas festinhas na faculdade, sobre as incontáveis garotas com quem havia dormido, tampouco com a forma fútil com que eu torrava o dinheiro da nossa família. Aquilo que realmente deixou-me apreensivo, foi o risco de tudo isso chegar aos ouvidos da Thais, de que ela me enxergasse como o lixo que eu era. — Também não precisa ficar tão sério assim — ele tornou a falar, forçando um sorriso. J onas levantou a mão e gritou: — Manuela, vem cá! Tenho uma pessoa pra te apresentar. — Seu rosto tornou a buscar por mim e, depois de piscar, ele sussurrou: — Pronto, agora vai fazer aquilo que você sabe fazer de melhor. Capítulo 01 Dias atuais. — Você, o quê? — Bruno questionou-me, completamente chocado com o que eu havia acabado de lhe contar. Como ele sabia que eu não repetiria aquela coisa bizarra, prosseguiu: — Como assim você é a nova “submissa” do Alexandre? O meu amigo fez até aspas ao pronunciar a palavra “submissa”. O que é que ele queria que eu lhe dissesse? Nem mesmo eu tinha uma boa explicação para tudo aquilo. — Eu sei que pode parecer um pouquinho estranho... — Um pouquinho estranho? — ele me interrompeu rindo, ainda incrédulo. — Estranho, com toda a certeza, não é a palavra certa para descrever essa merda. Eu poderia simplesmente confessar que aceitei a proposta porque gostei muito daquilo que experimentei ao lado de Alexandre. Até porque, não era como se eu tivesse feito uma escolha vendada, sempre soube no que estava me metendo, no pâ ntano que estava pisando. Descobri assim que flagrei o sexo dele com Daniela. No entanto, sentia-me envergonhada apenas em insinuar que estava confortável com a sigla “BDSM”, mesmo sendo para o meu melhor amigo. — E você ia me contar isso quando, criatura? — ele tornou a questionar, mostrando-me que não havia sido uma boa ideia lhe atualizar de todas as novidades. — Da última vez que nos falamos, você tinha me dito que perdeu a virgindade com um estranho... Não que eu tenha acreditado nessa sua história boba, mas... — Eu não queria falar nada disso pelo telefone. — Dessa vez, fui eu quem o interrompeu. — E quando descobri que você estava vindo passar um tempo aqui, resolvi esperar para contar pessoalmente. Mais uma mentira. A grande verdade é que eu não tinha intenção de lhe dizer absolutamente nada. Eu mesma considerava toda a história — envolvendo as preferências sexuais de Alex — bizarra, então não sairia panfletando isso, nem mesmo para Bruno, que, por mais que fosse o meu melhor amigo, era ótimo em me julgar. Entretanto, quando ele chegou à minha casa e começamos a conversar, eu não consegui continuar guardando tudo aquilo, precisava falar com alguém sobre as coisas que estava vivendo, era horrível não ter ninguém com quem pudesse compartilhar. — Você sabe que isso não combina muito comigo, não é? Ficar de sermão, dando uma de careta pra cima de você — ele respondeu, com os olhos azuis em meu rosto. — Eu queria muito dizer que estou feliz por você finalmente estar vivendo, por ter saído desse quarto, por ter deixado os personagens fictícios de lado por um instante... E, é claro, por estar transando com alguém. Mas eu te conheço amiga e esse é justamente o problema. — Sem deixar com que eu abrisse a minha boca, ele continuou: — Eu sei que você não quer só essa coisa de submissão com o Alex. Aposto que deve ter aceitado essa porcaria de proposta só pra continuar saindo com ele. Às vezes detestava essa facilidade com que Bruno podia me enxergar. Mesmo sem lhe contar praticamente nada do que havia acontecido entre Alexandre e eu, ele identificava e ia direto à fonte do problema. Eu gostava muito de todo o lance da submissão — principalmente o da dominação —, mas estaria mentindo se dissesse que não entrei nisso porque, pelo menos assim, continuaria vivendo aquela loucura ao lado dele, ainda que isso não fosse um relacionamento de verdade. — Você acha que é tão idiota assim da minha parte ter alguma esperança? — questionei, entregando que ele estava certo em tudo o que havia me dito. — Ele confessou que eu fui a primeira mulher a mexer com os sentimentos dele... — Isso aí não significa nada, amiga. Se ele quisesse algo sério, não teria convidado você pra ser a submissa dele... Vocês estariam namorando, como duas pessoas normais — Bruno respondeu, jogando uma jarra de água fria na minha cara. As coisas não eram tão simples quanto Bruno fazia parecer. Alexandre era, literalmente, o meu primeiro homem. Foi o primeiro que amei e o primeiro com quem tive uma experiência sexual. Não podia simplesmente me afastar dele só porque essa nossa relação podia me machucar. — Só me promete que quando você notar que isso não é o que você quer, vai terminar com ele? Forcei um sorriso e lhe respondi: — Só quando você fizer o mesmo com o Felipe. Não podia perder aquela oportunidade de revidar. Ele e Felipe estavam sempre indo e voltando, era desgastante de acompanhar, sem nunca saber se estavam bem, se a relação deles sobreviveria a mais um fim de semana. O meu amigo fez uma careta e depois riu, mostrando-me que eu havia pegado ele com aquele comentário. — Tuchê — ele respondeu, como se eu tivesse acertado o coração dele com uma espada de esgrima. — Mas, de qualquer forma, você sempre foi a mais inteligente de nós dois, né amiga? Não sou um bom modelo pra você seguir. Diria alguma coisa para consolá-lo, algo como “você não é idiota. O F elipe que é”, mas minha mãe entrou no quarto e fez com que o assunto morresse imediatamente por motivos óbvios. — Temos visita — ela disse com os olhos em mim e, depois de dar um sorrisinho bobo, saiu do quarto. Voltei o meu olhar para Bruno e neguei com a cabeça, para que ele soubesse que não estava esperando por ninguém. Assim que o meu olhar retornou para o rosto dele, notei que o cretino estava com uma expressão de paisagem que berrava “CULPADO!”. — Você não chamou aquela garota pra vir aqui, não é? — perguntei sem esconder a minha vontade de esganá-lo. Com um sorriso sem graça, o meu amigo revelou: — Digamos que eu não disse que ela não poderia vir. Na época da escola, Bruno saiu com outra garota além de mim, mais uma de suas tentativas fracassadas do que na época ele chamava de “ser normal”. Nós nos mudamos depois de nos formarmos e Bruno finalmente se assumiu para as novas pessoas que foi conhecendo. Contudo, ele ainda não havia feito isso para as pessoas da cidade, o que incluía os pais dele e essa garota, que o procurou no Facebook e praticamente se convidou para reencontrá- lo. E o que o desgraçado fez? Disse que estaria na minha casa e que se ela quisesse aparecer, seria muito bem-vinda. — Você sabe que uma hora vai ter que contar pra todo mundo, não é? — Nesse momento, você é a última pessoa que pode me falar sobre contar alguma coisa — ele respondeu, arrancando-me um sorriso. Eu sabia que não era algo tão simples. Até porque se fosse, ele já teria feito há muito tempo. De acordo com o meu amigo, era extremamente fácil ser assumido para as pessoas que ele ia conhecendo no meio do caminho. Se elas não estivessem confortáveis com o fato de ele ser gay, simplesmentese afastariam, não existiria nenhum vínculo e, consequentemente, ele não perderia ninguém. Mas com as antigas, as coisas mudavam drasticamente, existia um medo e um risco grande de afastá-las, de ele mudar aos olhos delas. Só existiam três pessoas na cidade que sabiam sobre a orientação sexual dele. Eu, porque o flagrei beijando um garoto quando ainda éramos adolescentes — e, pasmem, um casal —, e os meus pais, que em uma de suas visitas ao meu antigo apartamento, viram ele junto com Felipe e simplesmente ligaram os pontos. Tinha certeza absoluta de que esse era o motivo pelo qual ele adorava visitar a casa da minha mãe e conviver com a gente, porque sabia que poderia ser ele mesmo com os meus pais, sem inventar nenhuma namorada nova. Como estava muito curiosa em relação a minha visita, deixei o meu quarto e fui ver isso com os meus próprios olhos. Estava em dúvida se era a garota ou os pais de Bruno, que ainda achavam que o filho deles eventualmente acabaria se casando comigo. Contudo, para a minha surpresa, não se tratava de nenhum dos dois. Encontrei ninguém menos que Alexandre Brandão. Também conhecido como o meu chefe dominador. Capítulo 02 Ele estava sentado no sofá da sala, ao lado do meu pai, que mantinha uma expressão feia no rosto, como se a proximidade com o CEO estivesse matando-o aos poucos. Seu Romário parecia pedir-me socorro com os olhos, era quase uma mensagem subliminar. Eu, por outro lado, não consegui esconder o quanto estava surpresa e feliz ao vê-lo ali diante de mim. Fazia mais de seis anos desde a última vez que eu o vi em frente ao meu pai. Nesse tempo, ele estava sempre acompanhado do meu irmão. Então, tinha que ficar esperando uma chance — quando J onas finalmente desgrudava dele — para que pudéssemos conversar. — Posso saber o que você está fazendo aqui, Alex? — questionei-o sem me preocupar em estar soando grosseira. Ainda que tê-lo perto de mim fosse bom, tudo o que eu menos precisava, era de Alexandre visitando a casa dos meus pais, dando falsas esperanças para a minha mãe — e para mim, que poderia começar a confundir as coisas, exatamente como fiz na adolescência. — Eu estava passando por aqui perto e resolvi dar um “oi” pra sua mãe... — ele respondeu, soando gentil, como de costume. — Mas pode ficar tranquila, hoje eu não estou aqui como o seu chefe. A última palavra foi pronunciada com certa malícia e isso despertou um sorriso em meus lábios. Não deu trinta segundos e a minha mãe apareceu com uma xícara de café na mão, servindo o meu chefe barra dominador. Ela trouxe a bebida usando um pires — cuja única utilidade naquela casa era para comer bolo — e isso já dizia tudo. — Não tenho ideia de como costuma ser esses cafés chiques que você toma, mas espero que o meu seja do seu agrado, querido — ela disse, sorrindo como se estivesse ao lado de uma estrela internacional. — Está quente... Tenha cuidado para não se queimar. — Imagina... Garanto que nenhum desses cafés chiques é melhor do que o seu, dona Mariza — ele respondeu, com um sorriso lindo, que faria qualquer uma se derreter toda. Meu pai, entretanto, era completamente imune ao charme dele, permanecia com a cara fechada, como se estivesse sendo obrigado a continuar ali sentado ao lado de Alexandre — o que, sabendo como era a minha mãe, realmente devia ser o caso. — Você ficará para o jantar, não é? — minha mãe praticamente afirmou. — Não quero incomodá-la — ele recusou educadamente. — Eu nem avisei que viria e agora vou acabar incomodando, fazendo vocês arrumarem mais um lugar na mesa em cima da hora. — Relaxa, Alexandre... Nós vamos, literalmente, só pegar mais um prato no armário e colocá-lo na mesa da cozinha... — rebati não me contendo. — Três segundos e problema resolvido. Após a minha mãe afirmar que ele era muito bem-vindo na casa e que ir embora sem jantar seria uma grande desfeita, o loiro resolveu ficar. Dona Mariza sentou-se ao lado dele e isso fez com que eu me desse conta de que não poderia continuar ali parada, com cara de boba, encarando Alexandre e meus pais em pé. Sentei-me mais afastada deles, numa poltrona do outro lado da sala, pois não queria dar uma ideia errada — ou muito acertada — da relação que possuíamos, que estava longe de se manter apenas no â mbito profissional. Minha mãe e Alex começaram a falar de J onas. E, é claro, mamãe não poupou elogios, agindo como se o meu irmão viesse visitá-la toda semana, comentando sobre os presentes que ganhava e sobre o quanto ele era trabalhador e atencioso. Passou minutos vendendo uma coisa que não existia. Felizmente, já não me importava mais com isso. Depois de um tempo, deixei de encarar essa fantasia como irritante e passei a sentir pena dela, pois não era justo o que aquele cretino fazia com os meus pais, sempre colocando-os como as últimas opçõ es em sua vida. — Então você visita a casa de todas as suas funcionárias? — meu pai questionou, interrompendo a conversa animada entre Alex e minha mãe. — Deve ser um chefe bem prestativo, eu imagino. Dona Mariza o fuzilou com o olhar, mas isso não impediu que ele continuasse com a cabeça erguida, aguardando a resposta do meu chefe que, definitivamente, não estava esperando por aquele soco em forma de pergunta. — Sua filha não é uma simples funcionária pra mim, senhor. Ela é quase da família — ele respondeu, visivelmente sem graça. Q uase da família? Como Alex podia dizer isso de alguém que ele amarrou e fodeu em cima daquela cama preta? — Imagina... Você já é de casa, meu filho — minha mãe tentou contornar a situação com sorrisos e palavras carinhosas. — Você é sempre muito bem-vindo aqui. Acho que foi isso que o Romário quis dizer... — Ela voltou o olhar para o meu pai e completou: — Não é mesmo querido? Ele balançou a cabeça confirmando, mas era perceptível de que o fazia a contragosto. Antes que o clima pudesse esquentar — ainda mais do que já estava —, Bruno finalmente desceu as escadas. Tinha certeza de que o filho da mãe demorou tanto porque achou que a nossa visita se tratava da menina que ele havia convidado. Ao que tudo indicava, ele havia acabado de tomar banho — outra desculpa para o seu atraso proposital. Seus cabelos castanhos estavam molhados, penteados para trás. Vestia um short azul marinho, que nos dava uma boa visão de suas coxas grossas e usava também uma regata branca que deixava os seus braços musculosos à mostra. Ele se aproximou da poltrona em que eu estava sentada e apoiou as suas mãos em meus ombros. — Lembra do Bruno, Alexandre? — questionei numa espécie de apresentação desajeitada. O loiro balançou a cabeça, negando. — A gente meio que namorava — Bruno disse e então deu alguns passos, aproximando-se de Alex para cumprimentá-lo com um aperto de mão. — Eu realmente não me recordo, mas prazer... — ele respondeu, apertando a mão do meu melhor amigo. — Alexandre Brandão. — Só Bruno — o meu amigo devolveu, claramente zombando do CEO, que se apresentava usando nome e sobrenome, como se estivesse numa reunião de negócios. Bruno voltou o seu olhar para o meu pai e questionou-o: — Pronto pra perder pra gente de novo, velho? — Perdeu o respeito, garoto? — meu pai argumentou. — E, só pra constar, vocês dois ganharam a partida porque roubaram da gente... E isso prova o meu ponto de como a geração de vocês está perdida. O moreno sorriu e devolveu: — Aceita que eu e a Thais somos uma dupla imbatível. E não vou nem entrar na questão da nossa geração. Como notei que Alexandre estava visivelmente avulso naquela conversa, tentei inseri-lo da melhor forma que eu pude: — A gente jogou baralho mais cedo e Bruno e eu demos uma surra nesses dois aí — expliquei o assunto, apontando para os meus pais. — E, como papai é péssimo em perder, já começou com a desculpa de que roubamos. Meu amigo foi em direção ao sofá para se sentar, mas antes que ele tivesse a chance, meu pai lhe disse: — Para a cozinha agora, garoto! — O moreno fez uma careta, lembrando-se do que havia prometido quando chegou. — Eu não vou te deixar dormir enquanto não fizeraquela maldita lasanha. Bruno cozinhava muito, muito bem. Quando ainda morávamos na mesma cidade — antes de eu ser obrigada a sair do apartamento em que vivia —, sempre que os meus pais me visitavam, ele ia até a minha casa e fazia a melhor lasanha do mundo. Até mesmo a minha mãe havia dado o braço a torcer, admitindo que a lasanha dele era, em suas próprias palavras, “um pouquinho” melhor do que a dela. Eu não acreditava muito em dons, mas se eles realmente existissem, o do meu amigo com certeza era cozinhar. — E se deixássemos a lasanha pra um outro dia? — minha mãe sugeriu, quase como se estivesse nos dando uma opção. — Eu estava pensando em cozinhar algo mais especial hoje, pro nosso convidado de honra. Era um tanto óbvio de que ela diria algo assim, já que nunca perderia a chance de cozinhar para Alexandre Brandão, o seu santo na terra. — Mas nem convidado ele foi, como é que seria de honra? — Bruno rebateu, recebendo um olhar raivoso da minha mãe. Após o fuzilamento, praticamente uma ameaça silenciosa de morte, o homem ao meu lado acrescentou: — Vamos de algo mais especial então... Ó tima ideia, Mariza. — De qualquer forma, não é como se o Alexandre fosse comer lasanha — não segurei a minha língua, que estava coçando para fazer uma piadinha sobre a dieta rígida dele. — Ele não consome nada que tenha açúcar ou gordura. Como é que vocês acham que ele mantém esses gominhos na barriga? — Gominhos na barriga? Quando foi que você me viu sem camisa, Thais? — Alex se vingou de forma impiedosa, deixando-me desconsertada em frente aos meus pais. — Você está me espionando enquanto eu troco de roupa no avião? Essa última frase fazia uma referência clara ao dia em que fiquei escondida, observando o sexo dele e de Daniela. Desgraçado! O CEO voltou o olhar dele para mim e, pela expressão séria e vitoriosa de seu rosto, peguei a mensagem de que eu deveria apenas calar a minha boca. Contudo, optei por prosseguir, para pilhar um pouco a minha mãe e, é claro, tirar o foco de mim e os gominhos da barriga dele: — A senhora vai ter que se esforçar muito pra encontrar algo cem por cento saudável dentro da nossa geladeira. — Algo sem açúcar e sem gordura? Na geladeira dessa casa? Acho que só tem água gelada — Bruno não perdeu a chance de entrar na brincadeira, rindo do meu chefe e me ajudando a mudar de assunto. Voltando a atenção para a minha mãe, Alex respondeu as minhas acusaçõ es: — Esse negócio de dieta é só uma brincadeira... Thais está claramente brincando, dona Mariza... A sua filha, caso a senhora não saiba, é sempre tão engraçadinha, ela adora brincar com todo tipo de coisa... — Os olhos cor de mel dele vieram na minha direção, intimidando-me com ameaças silenciosas, antes de ele prosseguir: — Não é mesmo, princesa? “Adora brincar com todo tipo de coisa”. F ilho da puta. Não tinha como eu continuar com aquela roleta russa, não em frente aos meus pais. Acabaria com um tiro na cabeça. Sendo assim, apenas confirmei com um aceno de cabeça, dando-me por vencida. — Eu estava morrendo de saudades da sua comida caseira... Acho que comentei até mesmo com a Thais sobre isso — Alexandre continuou tentando mudar a imagem que eu havia pintado dele, como se não fosse um “nojentinho”, que não comia nada minimamente normal. — Não se encontra mais isso, nem mesmo nos melhores restaurantes do mundo. — Então está decidido, eu vou cozinhar! — minha mãe anunciou, levantando-se do sofá e seguindo apressada para a cozinha. Antes que pudesse deixar o cômodo, ela interrompeu os próprios passos e se virou, trazendo os seus olhos na minha direção: — E você comigo. Como sabia que ela não queria a minha ajuda de verdade — não arriscaria me deixar destruir o jantar delicioso dela —, nem mesmo protestei, simplesmente a segui, deixando os homens na sala. Quando já estávamos na cozinha, sem que ninguém pudesse nos ouvir, ela questionou: — Por que você não me disse nada? — Eu não tinha ideia de que ele viria aqui. — Não sobre isso! — Ela me lançou um olhar que me fez fazer uma careta no mesmo segundo. — Você sabe muito bem do que eu estou falando. — Pode guardar o surto pra depois, mãe... A gente não tem nada! — respondi, sentindo um gostinho amargo na boca. Sem medo de ser sincera, prossegui: — Eu bem que queria, mas... — Tenho certeza de que ele não veio aqui pra me ver... E muito menos pra ver o seu pai, com aquela cara feia — ela respondeu rindo, provavelmente lembrando-se das patadas que ele havia dado em Alex. — Princesa? Revirei os meus olhos e nem me dei ao trabalho de explicar, dizendo que Alexandre me chamava disso desde que a gente se conhecia. Poderia repetir que nós não tínhamos nada — além de um acordo bizarro que eu jamais teria coragem de lhe contar —, entretanto, limitei-me a balançar a cabeça e fiquei na cozinha, observando ela cozinhar. Vinte minutos depois, tempo suficiente para que eu observasse toda a timeline do meu Facebook, a minha mãe provou o molho especial, o maior motivo de orgulho dela, e fez uma careta terrível. Ela me deu a colher de pau e me pediu: — Prova um pouquinho e me diz o que você acha. Estava salgado. Muito salgado. — Bom — menti, com medo de lhe dar a notícia de que ela havia estragado a refeição perfeita de Alexandre. Como o olhar dela continuou em mim, queimando o meu rosto, assumi: — Talvez só um pouquinho salgado... — Eu nunca salguei nada na minha vida... Nunca! — ela me disse entrando em desespero. — E isso foi acontecer justamente hoje, com o Alexandre Brandão na minha casa? — Se acalma, mãe... A gente sempre pode pedir uma pizza — sugeri. — Pizza, Thais? — ela retrucou. Tanto eu quanto ela sabíamos que o CEO não comia aquele tipo de coisa. Eu mesmo sabia que ele já quebraria a sua dieta para experimentar o jantar da minha mãe. Imagina se tivesse que engolir um pedaço de uma pizza? O coitado teria um colapso nervoso. Quando estava perto de lhe falar para simplesmente servir tudo daquela forma mesmo, ela disse: — Bruno... Traga ele aqui agora! Na verdade, aquela era uma ideia muito boa. Se tinha alguém que podia dar um jeito naquele problema envolvendo sal, definitivamente tratava-se do meu amigo. Deixei a cozinha e retornei até a sala, onde os três homens continuavam sentados. Meu pai e Bruno estavam conversando e Alexandre estava com uma expressão que parecia gritar “que droga eu vim fazer aqui?”. Era a primeira vez que eu o via daquele jeito, tão deslocado e sem graça, longe do seu habitat natural. Aproximei-me de onde Bruno estava sentado e o puxei pelo braço, sussurrando: — Nós precisamos de você. — J á voltamos — disse, com os meus olhos em Alexandre. — E, em breve, serviremos o jantar. Puxei Bruno para a cozinha e, quando chegamos, minha mãe avançou sobre ele, com a colher de pau na mão. — Estraguei o molho! Sabia que não podia continuar na cozinha. Pela expressão de Alexandre, era como se ele pudesse ir embora a qualquer momento. A única coisa que devia estar segurando-o naquele sofá, ao lado do meu pai e de seu péssimo humor, era educação. E se ele partisse antes do jantar, a minha mãe me culparia pelo resto da vida. Para impedir que isso acontecesse, voltei para a sala. Assim que me aproximei, Alexandre se levantou do sofá, confirmando cada uma das minhas suspeitas. — Nós podemos conversar? — ele questionou, fazendo com que eu balançasse a minha cabeça, concordando de imediato. Ia sugerir ficarmos no meu quarto, mas ele foi mais rápido: — Lá fora, por favor. Antes de cruzarmos a porta, fuzilei o meu pai com o olhar, pois sabia que ele devia ter dito alguma coisa, colocando-me naquela situação. — Minha mãe vai me matar se eu te contar, mas estamos resolvendo um problema com o... — Que porra é essa, Thais? — ele me interrompeu, assuntando-me pelo aumento repentino de sua voz. Eu estava tão atônita com a forma como ele pronunciou aquelas palavras que não consegui nem questionar sobre o que ele estava falando. Porém, tinha certeza de que não era referente as patadas sutis do meu pai. — Eu renunciei a muita coisa por essenosso acordo... Ele me custou muito... — ele prosseguiu, deixando transparecer o quanto estava irritado. — E eu só fiz todos esses sacrifícios porque pensei que você fosse honrá-lo também, porque eu acreditei na sua palavra. Era oficial. Não tinha ideia do que ele estava falando. Será que eu havia me esquecido de algum compromisso nosso? Não podia ser isso ou não teria marcado de passar o fim de semana todo com o meu melhor amigo. E eu também duvidava muito de que ele fosse surtar assim por algo tão besta. — Não faço ideia do que você está falando, Alexandre — finalmente consegui dizer, quando ele parou de me atacar de forma gratuita. — Ah, você não faz? — ele retrucou rindo, deixando com que o sarcasmo tomasse conta de seus lábios. Como ele notou que eu não lhe diria nada, que talvez eu estivesse dizendo mesmo a verdade sobre não ter ideia do motivo do seu surto, continuou: — O que esse cara está fazendo aqui na sua casa? Devo ter demorado uns trinta segundos para me dar conta de que aquele “esse cara” era uma referência direta ao meu melhor amigo. — Por acaso você está se referindo ao Bruno? — questionei, não deixando de rir daquela reação dele. — Porque sem ele, só sobra o meu pai. — É claro que eu estou me referindo a ele, Thais... — o loiro disse, interrompendo-me novamente. — E qual é o motivo da graça, porra? Vê-lo daquela forma, tão nervoso e enciumado, foi bonitinho. Alexandre estava tão bravo que as suas bochechas estavam vermelhas. — Você aí, todo bravinho... Com ciúmes do meu melhor amigo! Era engraçado. Mas, ao mesmo tempo, bem ridículo. — Do seu ex-namorado, você quis dizer! — ele retrucou, chocando-me mais. Abri a minha boca para refutar, mas ele foi mais rápido: — O mesmo marmanjo que desceu a escada da sua casa de cabelinho molhado, como se estivesse dormindo aí... O cara que fica grudado em você o tempo todo, que faz piadinhas idiotas como se tivesse alguma intimidade comigo e com quem você aparentemente tem segredinhos... A parte dos “segredinhos” certamente foi quando minha mãe pediu para que eu chamasse Bruno na sala, para consertar o molho da carne. Esse provavelmente foi o estopim para que Alexandre surtasse. — Nós somos só amigos, Alex — afirmei uma vez mais. — E o Bruno é assim mesmo... Você não o ouviu chamando meu pai de velho? — Só amigos... Sei... — ele riu e balançou a cabeça, descrente. — Não existe essa coisa de amigo... Não com um homem! — ele tornou a falar, deixando-me cada vez mais surpresa. — Eu posso até acreditar que você o enxergue assim, mas saiba que esse cara aí não te vê da mesma forma, nenhum homem vê. Todos eles, secretamente, querem comer você. O quê ? T odos os homens queriam me comer? Esse argumento dizia mais sobre ele do que de qualquer outra pessoa. — Então você está me dizendo que sente vontade de comer todas as suas amigas? — questionei, não acreditando no que estava ouvindo. — Não mude de assunto! E eu não tenho amiga, Thais. O mais próximo disso são as garotas que prometi que não veria mais para ficar com você — ele respondeu num tom bem sério, mostrando que realmente estava chateado comigo. Eu não aguentei e comecei a rir. Não deveria estar tão feliz com aquela crise de ciúmes, mas eu estava. Antes que ele pudesse surtar novamente, prossegui: — Você não precisa ter ciúmes do Bruno, seu bobo. — Claro que não, eu tenho é que ficar olhando vocês dois praticamente se agarrando na minha frente... — Ele é gay, Alexandre — eu o interrompi, pois aquilo já estava perdendo a graça e começando a me irritar. — Então, não, ele não quer me comer! — disse por fim, sabendo que não existia outra forma de fazê-lo parar de surtar comigo. — E, sim, a gente namorou por um tempinho, mas logo depois eu descobri a verdade... E, desde então, nós continuamos como melhores amigos. Como ele permaneceu em silencio, dando-se conta do papel de idiota que tinha protagonizado, completei: — Você acha mesmo que se o Bruno fosse hétero, o meu pai permitiria que ele dormisse aqui em casa? — E você não podia ter me dito isso de uma vez? — Você nem me deu a chance, me interrompeu e ficou gritando sobre como todos os homens do mundo querem me comer — respondi não perdendo a oportunidade de relembrar aquela fala dele. — Bom... Agora pelo menos você já sabe que não existem motivos para ter ciúmes dele. — E quem é que disse que eu estou com ciúmes? — ele retrucou. — Ah, então você não estava morrendo de ciúmes do meu melhor amigo gay? — Não, eu não estava, Thais — ele tornou a insistir, divertindo-me com o seu malabarismo para esconder a verdade. — Estava chateado... Pensei que você tinha quebrado o nosso acordo, só isso. Não perderia mais tempo naquela discussão idiota. Tanto eu quanto ele sabíamos que havia sido, sim, um ataque de ciúmes e um dos grandes. Se Alexandre não queria admitir isso para mim — ou para ele mesmo —, aí o problema era dele. — Acho melhor você voltar pra dentro dessa casa e fazer o meu melhor amigo te adorar... — Dessa vez, fui eu quem não lhe deu oportunidade de responder. — Porque entre vocês dois, com toda a certeza do mundo, eu o escolheria... Um homem que, de acordo com você mesmo, é um dos poucos caras no mundo que não querem me foder! Eu me virei para voltar, mas Alex me puxou, trazendo-me para perto dele novamente. — Ei, princesa... Não fica chateada comigo... Eu ter feito papel de idiota já não é punição o suficiente? — ele questionou num sussurro, com aquele olhar de cachorro sem dono. — E não precisa se preocupar, seu amigo vai me adorar. Eu não quero me gabar, mas os gays me amam. Dei uma tapinha no peito dele e lhe disse: — Convencido! Rimos mais um pouco de toda aquela confusão e então eu o chamei para voltar, pois sabia que logo a minha mãe viria atrás da gente. — Por favor, aja como se essa fosse a melhor refeição de toda a sua vida... Como se ela não tivesse usado um monte de gordura pra cozinhar... — sussurrei, sabendo o quanto aquilo significava para a minha mãe. — Ela está tão nervosa que conseguiu até salgar o molho da carne. Depois de ele garantir que colocaria um sorriso no rosto, desfazendo-se daquela carranca, entramos e poucos minutos depois, a minha mãe serviu o jantar. — Desculpe pela demora — minha mãe comentou, enquanto servia o prato de Alexandre. — Eu espero que goste da comida... É simples, mas é feita com o coração. “E com muito, muito sal” pensei, quase começando a rir. — Tenho certeza de que vou adorar, dona Mariza — ele respondeu com um sorriso gentil. — O cheiro está maravilhoso. Começamos a comer e descobri que Bruno havia conseguido consertar o molho da carne. Não tinha ideia de como, mas estava realmente bom, entretanto, já não se parecia mais com uma refeição da minha mãe. — Agora eu acho que estou me recordando de você — Alexandre disse, voltando a sua atenção para o meu amigo. — Não sei como pude me esquecer do primeiro namoradinho da Thais. “P rimeiro e ú nico” a minha mente fez questão de completar. Conversamos sobre aquela época, sobre como as coisas costumavam ser mais fáceis. Alexandre falou que sentia muita saudade de conviver com a gente e que já não mantinha mais contato com J onas. Minha mãe tornou a agir como se o meu irmão mais velho nos visitasse frequentemente, dizendo-lhe que informaria o filho de que o seu antigo amigo apareceu para lhe fazer uma visita. Assim que terminamos de comer, meu pai ajudou a minha mãe com a mesa e louça, e Alexandre, Bruno e eu fomos para o sofá da sala. — Naquele tempo, juro que achava que você era gay — Bruno comentou, não possuindo filtro algum como de costume. — Pelo menos, até o dia em que Thais e eu vimos você transando com uma garota na praia. Alexandre voltou os seus olhos para mim e pelo seu olhar, sabia que ele estava pensando algo como “quantas vezes você já me assistiu foder alguém, hein, princesa?”. — Eu posso garantir que não sou gay — ele respondeu. Não precisava nem olhar para o meu amigo para saber que ele havia detestado essa frase, pois soava muito como masculinidade frágil. Ao menos, até queo CEO completasse: — Sei disso porque já experimentei. Meus olhos voaram na direção de Alex, completamente chocada. Bruno também estava muito surpreso com aquela revelação. — Você já experimentou? — questionei, não escondendo a minha surpresa. — Um homem? Se meu pai estivesse por perto, diria que a teoria dele — de que Alex era um gay enrustido — estava totalmente correta. Felizmente ele não estava ali, continuou na cozinha com a minha mãe. — Sexo é igual comida, você tem que comer pra ter certeza de que realmente não gosta — ele respondeu. — Mas e aí, como é que foi? — Bruno indagou. — Não foi ruim, ruim... Só estranho o suficiente pra eu saber que não era pra mim — Alexandre respondeu sorrindo. Ele voltou os olhos cor de mel dele para o moreno e prosseguiu: — Mas não foi com um cara tão bonito quanto você, então, vai saber, não sei se dá pra ter tanta certeza assim. Bruno, evidentemente, se derreteu com aquele flerte barato. Era incrível como Alexandre conseguia seduzir todo mundo a sua volta. — Não vou mentir, eu tinha uma impressão horrível sua. Sempre achei você esnobe e todas essas coisas que constitui um babaca. Mas agora tudo isso foi embora... Eu adorei conhecer você de verdade, Alex... Posso te chamar de Alex? — o moreno comentou. Assim que o CEO confirmou com um aceno de cabeça, meu amigo prosseguiu: — É oficial... Você já tem a minha benção pra começar a namorar a minha amiga. Fiquei petrificada com aquele comentário de Bruno. Desgraçado. — Nós somos... Somos apenas amigos... E colegas de trabalho — disse com muita dificuldade. — Bem que eu queria, mas não sou bom o suficiente pra Thais, ela é muita areia pro meu caminhãozinho — ele respondeu saindo daquela pergunta da forma mais cavalheiresca possível. — Essa garota aqui merece o próprio príncipe encantado. Alexandre levantou-se do sofá e comentou: — A conversa está ótima, mas infelizmente tenho que me ausentar. — Ele levou os olhos até o outro homem e disse: — Foi um prazer rever você, Bruno. Depois disso, ele foi para a cozinha despedir-se dos meus pais e então eu o acompanhei até o outro lado da rua, onde ele havia estacionado o carro, um veículo preto que eu nunca tinha visto antes. — Príncipe encantado? — indaguei, assim que paramos em frente ao seu carro. — Eu não menti, princesa... Você merece o melhor homem do mundo — ele respondeu com uma expressão séria no rosto. — Um que não pense só em amarrar e foder você com força. — E você só pensa nisso? — Na maior parte do tempo, sim. Fiquei desconcertada ao ponto de mudar de assunto: — Pelo que notei, Bruno adorou você... Claro que parte disso se deve ao fato de você ter flertado com ele. — Eu não disse que fazia sucesso com gays? — ele respondeu rindo. — Gostei dele também... Pelo menos, depois de descobrir que ele não estava querendo roubar você de mim. — Ah, então agora você admite que era ciúmes? — Não era ciúme, Thais. Foi apenas a minha vasta experiência como homem. Nós não prestamos, então não podemos ser dignos de confiança ao ponto de nos tornarmos amigos próximos de mulheres. Vocês vão querer um ombro amigo e nós só estaremos pensando em... — Nos foder? — adivinhei, completando a frase dele. — Isso aí! Então caímos em um momento estranho, onde não sabia se devia me aproximar para um abraço ou se arriscava um beijo. Não queria que pegasse mal, ao ponto de ele precisar, uma vez mais, lembrar-me de que nossa relação era baseada em um fetiche sexual. Esperei tanto que Alex acabou escolhendo por mim. Ele se aproximou, levou sua mão até o meu rosto e então me beijou. Foi um beijo breve, mas repleto de desejo — de ambas as partes envolvidas —, senti seus lábios nos meus e, no final, seus dentes mordendo levemente meu lábio inferior. — Boa noite, princesa... E tome cuidado com esses homens safados, hein? — ele sussurrou ao se afastar, entrando em seu carro caro. “N a verdade, esse é um conselho muito bom” pensei, enquanto observava o carro dele descendo a rua. Não existia homem mais safado e perigoso que Alexandre Brandão, e eu devia tomar cuidado ou acabaria com o meu coração destroçado. Capítulo 03 — Estão sem química. — Voltei o meu olhar para Bruno, que estava jogado em cima da minha cama com uma expressão de tédio. — Tem cenas de sexo muito boas, mas, tirando isso, é como se fossem feitos de papelão, sem paixão e emoção. Às vezes, parece só um livro sobre duas pessoas transando. O meu amigo desviou o olhar da tela do smartphone e focou a sua atenção em mim. — Eu acho que você está exagerando um pouco, amiga — ele respondeu com os olhos em mim. — Pra mim, pelo menos em relação ao que eu li, o livro está refletindo a relação que vocês dois tiveram. Uma relação que, se formos justos, não foi nada grandiosa. Começou com o seu amor não correspondido por ele, que culminou num beijo e afastamento. Somente agora, seis anos depois, vocês estão resgatando isso com esse acordo sexual. Ouvindo daquela forma, a minha história com Alexandre soava ainda mais patética. Não tinha ideia de como consegui extrair conteúdo para um livro inteiro disso, quando tudo podia ser resumido facilmente num capítulo chamado “a vida amorosa fracassada de T hais P ontes”. — Acho que preciso de um capítulo novo, de uma cena bem româ ntica e delicada, que conte um pouco mais sobre ele, sobre os problemas com o pai e a família, que o humanize mais para as minhas leitoras — disse tentando criar alguma coisa na minha mente. — Uma cena numa lancha ou em qualquer lugar que não seja dentro daquele maldito avião. — E nem na casa dele — o meu amigo acrescentou, fazendo com que eu concordasse imediatamente. — Agora que você mencionou isso, admito que a ambientação desse livro não é das melhores. Tudo acontece no avião, na casa dela ou então na dele. Sei lá, parece uma série de baixo orçamento. — Mas é por conta desse acordo estúpido que nós temos — eu me defendi. — O que você queria que eu fizesse, Bruno? Caso não tenha notado, nós dois não podemos sair como um casal normal. Não podemos ir ao cinema, a um restaurante e nem mesmo a uma pracinha na esquina... Tudo o que podemos fazer é transar. Você queria que eu escrevesse sobre o quê? — Esse surto todo foi por eu criticar o livro ou a sua vida amorosa? — ele indagou, arrancando-me um sorriso frustrado. — Acho que os dois — confessei envergonhada. — Não é como se fossem muito diferentes um do outro, não é? — Você tem que se valorizar mais, amiga. Em parte, eu compreendo você, já que o Alex é uma delícia de macho. Gentil, atencioso, carismático, bonito, elegante e, ainda por cima, muito bom de cama. — Levei os meus olhos até o rosto dele, não conseguindo esconder a minha reação por aquela descrição tão detalhada de Alexandre. Após encarar a minha expressão de deboche, Bruno rebateu: — O que foi? O que eu posso dizer? O cara me conquistou com aquela cantada ruim. — Nem parece a mesma pessoa que vivia debochando dele... — Nunca neguei o fato de ele ser bonito, só não sabia sobre todo esse charme e carisma, mas o ponto não é esse... O que eu estou tentando te dizer, é que entendo você estar presa a esse cara — o meu amigo prosseguiu. — Mas você precisa começar urgentemente a se valorizar. Por que é que ele não pode levar você a um restaurante? Por que vocês não podem ir ao cinema? — Porque eu sou a submissa e não a namorada dele — expliquei com um gosto amargo na boca. — Alex fez questão de me lembrar disso muitas vezes. Sou a garota com quem ele quer transar, não aquela que ele escolheu pra andar de mãos dadas com ele. — Então o que é que ele estava fazendo aqui naquele dia? — Bruno questionou, parecendo muito a minha mãe. — Se a relação de vocês é puramente baseada em sexo, por qual motivo ele apareceria na casa dos seus pais? Somente Alexandre poderia responder a uma pergunta como aquela. Eu não tinha a mínima ideia do que se passava na cabeça dele. Havia desistido de tentar compreendê-lo há muito tempo. — Às vezes, eu realmente acho que ele gosta de mim, sabe? — disse, lembrando-me das vezes que conversamossobre coisas que não envolviam o nosso acordo ou sexo. Do café da manhã à meia-noite que tivemos, de quando falamos um pouco sobre a relação problemática que ele possuía com o pai, quando Alexandre admitiu que isso o traumatizou ao ponto de refletir em seus relacionamentos, ou na falta deles. — Mas aí, logo depois, Alex me afasta, dá um jeito de deixar claro que ele só está ali pelo sexo. Foi exatamente o que ocorreu depois dessa noite que tivemos. Na manhã seguinte, o CEO fez questão de dizer que precisávamos separar as coisas — que eu não deveria confundi-las — e me convidou para ser oficialmente a submissa dele. — Você precisa dizer isso a ele, Thais... Precisa falar que não quer só sexo, que quer ser levada para o cinema e para a pracinha da esquina — meu amigo continuou, como se fosse simples. — O máximo que vai acontecer, é ele falar não. “E acabar com o nosso acordo” pensei, assustando-me com essa possibilidade. — Quando é que começamos a falar sobre a minha vida amorosa mesmo? — brinquei, cansada de discutir aquele assunto. — Chega disso, por favor! O moreno riu e, depois de alguns segundos em silêncio, tornou a falar: — Como você quiser. Estava pensando aqui, e se tivesse um outro homem? Pode ser até um amigo dele... Quem sabe outro dominador gostoso? Franzi a minha testa e respondi: — Não estou nem dando conta de um, imagina de dois dominadores, Bruno? Fora que também não é como se eu não estivesse apaixonada pelo Alexandre. Estou ligada a esse infeliz, não consigo me interessar por mais ninguém. É a maldição da minha vida. — Ele começou a rir e, automaticamente, eu me dei conta: — Você estava se referindo ao meu livro, não é? Bruno confirmou com um aceno de cabeça, o que me fez completar: — Até eu já estou começando a me confundir. O meu celular vibrou. E não precisei nem mesmo olhar para a tela para saber que se tratava de Alexandre. Era quase como se ele soubesse que estávamos falando dele. — A orelha dele deve estar vermelha — disse mostrando a tela do meu celular, com a chamada de Alex, para o meu amigo. — Deixa eu ver o que ele quer. Bruno sussurrou “comer você ! ”, mas evidentemente ignorei. Simplesmente aceitei a chamada e deixei com que Alexandre falasse primeiro. — Está fazendo o quê, princesa? — Estou no meu quarto. — Sozinha? — Por quê? — quis saber, não entendendo o motivo dessa pergunta. — Porque eu sou o seu dominador, Thais. Tenho o direito de saber — prosseguiu Alex. Quando ele notou que eu não falaria nada, emendou: — Estou em Vancouver, num quarto de hotel e, como estou entediado e um pouquinho excitado, pensei em fazermos uma brincadeirinha. — A sua última palavra me roubou uma risada. E ele deve ter encarado isso como recusa, pois continuou: — Lembrando que agora, devido ao nosso acordo que me impede de sair com outras mulheres, me deixar satisfeito sexualmente é responsabilidade sua. — Não me lembro de ter assinado nada, senhor Brandão — fiz questão de lembrá-lo. — Mas, de qualquer forma, eu não estou sozinha. Assim que lhe disse isso, ele fez uma solicitação de chamada de vídeo. E isso me arrancou um sorriso vitorioso, já que ele estava, evidentemente, se roendo de ciúmes. — Quem está aí com você? — ele questionou assim que recusei a chamada de vídeo. — E mude a ligação pra vídeo, cacete! Poderia irritá-lo mais um pouquinho, mas não queria fazer isso — enquanto flertávamos — bem ao lado de Bruno. Uma coisa era eu contar o que acontecia entre mim e o CEO para ele mais tarde e outra completamente diferente era me assistir ao vivo com Alexandre. E levando em conta a minha experiência traumática com a cena da Daniela, não queria nada parecido, ainda que virtual. Aceitei a chamada de vídeo e disse, virando a câ mera para o meu melhor amigo: — Advinha quem pediu pra te ver, Bruno? O moreno quase pulou na cama, sentando-se para ficar numa boa posição. Bruno acenou e sorriu, observando Alexandre na tela quebrada do meu smartphone. — Você não está fazendo a minha amiga trabalhar à s dez horas da noite, né Alexandre Brandão? — Bruno questionou num tom de brincadeira. — Pode me chamar só de Alex — ele respondeu, com um sorriso bonito nos lábios. — Afinal, agora nós dois somos amigos de Facebook também, não é? A propósito, eu dei uma curtida naquela sua foto de perfil. Ficou tão boa que quase te dei uma cutucada... Ainda existe essa coisa de cutucar por lá? — Pare de dar em cima do meu amigo, Alexandre — eu o repreendi. Voltei o meu olhar para Bruno e acrescentei: — E você, vê se não caí no papo mole desse aí. Lembra daquele dia em que o flagramos com aquela menina logo depois de ele ter me beijado? Ele é um safado! Alexandre riu e a ligação travou por alguns segundos. — Essa doeu... Principalmente porque eu não tenho nenhum argumento pra me defender. — O CEO ajeitou-se na cama do hotel. Os olhos dele buscaram pelo meu melhor amigo. — Mas, respondendo a sua pergunta, não, nada de trabalho pra nossa garota hoje, estou ligando só como amigo dela mesmo. Alexandre usava um terno cinza e uma gravata azul oceano. Seu cabelo dourado estava penteado num topete para o lado e, aparentemente, havia sido cortado desde a última vez que havíamos nos vimos no trabalho. — Até porque, não tem como eu te servir uma xícara daquele seu café ruim daqui do Brasil, não é? — comentei, observando o sorriso dele pela tela do meu celular. — Meu café não é ruim... E você faz muito mais do que servir bebidas pra mim, princesa — o loiro respondeu, deixando-me desconfortável. Antes de me dar uma piscadela, ele prosseguiu: — Com você, a satisfação costuma ser sempre completa. Corei. Maldito. Obviamente, ele não estava se referindo ao trabalho que desempenhava como comissária de bordo. — Então você não está no Brasil? — Bruno questionou, tirando-nos naquele show de duplo sentido. — A frase da Thais deu a entender que você está em outro país. O CEO balançou a cabeça confirmando e respondeu: — Estou no Canadá pra um evento corporativo. — E por que a Thais não foi com você? Nesse momento, o meu coração parou por uma fração de segundos. Alexandre não sabia que eu havia contado sobre o nosso acordo para Bruno. E conhecendo bem o meu chefe, duvidava que ele fosse gostar disso. Lancei um olhar repreendendo Bruno: — E por que é que o meu chefe me levaria com ele pro Canadá, Bruno? — J ustamente por ele ser o seu chefe, criatura... Você não é tipo a aeromoça particular dele? — Bruno continuou, mostrando-me que estava certo em seu questionamento anterior. De que eu que o interpretei de forma errada, por motivos óbvios. — Vou ficar pelo restante da semana, são quatro dias de evento e ainda tenho algumas reuniõ es com executivos de outras companhias. Então não tinha motivos para incomodar a Thais com isso. Da forma como Alexandre falou, foi como se eu fizesse um favor a ele como comissária de bordo, como se não fosse o meu trabalho. Tinha certeza de que ele levou Fabrício, já que não podia voar sem o seu piloto. Logo, não existiam motivos para não me ter ao lado dele também. — Você se importa se eu roubar a Thais de você um pouquinho, Bruno? — Alexandre questionou. O moreno negou com um aceno de cabeça e se levantou da cama, dizendo: — Você pode roubá-la sempre que quiser... — Ele deu um sorrisinho bobo pra mim e acrescentou: — Eu vou deixar dois vocês sozinhos, mas não vão falar de trabalho, hein? — Sem trabalho — o CEO disse num tom de promessa. Depois de dar um “tchauzinho” com a mão, o meu amigo deixou o quarto. Capítulo 04 — Onde é que nós paramos mesmo, minha princesa? — ele questionou, ainda com o sorriso sacana nos lábios. Alex não precisou pronunciar mais nenhuma palavra, pois eu sabia exatamente o que aquele safado estava pensando, estava escrito bem em sua testa. E isso me obrigou a lhe dizer: — Eu não vou fazer sexo virtual com você, Alexandre Brandão. Eu não vou. Sem chance... Pode esquecer! Apenas a ideia de me tocar enquanto ele me assistia, sentado naquela cama de hotel, deixava-me desconcertada. O loiro balançou a cabeça em negativa. — Comodisse anteriormente, Thais Pontes, a minha satisfação passou a ser uma obrigação sua, que agora é a minha única submissa — Alex tornou a falar, agindo como se esse fosse um ótimo argumento. — Em outras circunstâ ncias, eu, como o cara bonito e charmoso que sou, poderia muito bem me encontrar com uma mulher daqui, mas, como nós dois sabemos, o nosso acordo me impede de fazer isso. — Por que esse cara bonito e charmoso não pode, sei lá, fazer como qualquer outro e só procurar um vídeo qualquer na internet? — Porque pornô não é pra esse cara bonito e charmoso, Thais... Ele prefere foder com alguém de verdade, ainda que virtualmente — ele respondeu, não largando daquele osso. — J á que não posso dominar você com as minhas próprias mãos, farei isso remotamente, usando as suas. Poderia simplesmente desligar aquela ligação na cara dele, mas a verdade era que estava com saudade de ter um momento quente ao lado daquele pervertido, de simplesmente ouvi-lo me dizendo as coisas mais safadas ao pé do meu ouvido. — O.K . Mas se vamos mesmo fazer isso, então você começa! — concordei com a questão do sexo virtual, algo que eu nunca havia feito antes e que me assustava um pouquinho. — Ou seja, pode ir tirando toda a sua roupa, Alexandre. Ele riu e, com os seus olhos cor de mel em mim, respondeu- me: — J á esqueceu quem é que manda? Sou eu quem dá as ordens por aqui. Alexandre era inegavelmente o dominador da nossa relação, entretanto, todas as vezes que me submeti a ele, foram em benefício da minha própria satisfação, fiz apenas porque me excitava. Em outras palavras, ele podia me dominar fisicamente, mas quem dava as ordens de verdade estava longe de ser ele. — Por favor, senhor — pedi com a minha voz mais manhosa. — Diferente de você, que é um cafajeste de primeira, não tenho nenhuma prática nisso. O loiro acabou dando-se por vencido — e isso provava a minha teoria de que no jogo mental, era eu quem estava no comando — e começou a se despir, tirando os trajes sociais, permanecendo apenas com uma cueca cinzenta, cujo volume já estava bem-marcado no tecido de algodão. Ele colocou o iPad — o aparelho que usou para fazer a chamada de vídeo — na cabeceira da cama e isso me deu uma visão completa dele. Consegui observar o seu peitoral, cada um dos gominhos bem esculpidos, as suas coxas grossas e, principalmente, a barraca que sua cueca havia se tornado. — É a sua vez, princesa. Coloquei o meu celular na mesinha próxima da minha cama e sentei-me sobre o colchão. Em seguida, tirei o meu moletom e camiseta, ficando apenas com as roupas intimas. Usava um sutiã cor de rosa e uma calcinha preta. Como não sabia que faríamos algo parecido com isso, não tinha me produzido, colocando um conjuntinho mais novo. — Tudo bem... Nós já estamos quase completamente sem roupa. Então... Como... como é que isso funciona? — questionei ansiosa e nervosa para começar a jogar com ele. — Sendo sincero, isso também é uma novidade pra mim — ele revelou, chocando-me com a informação. Aparentemente, existia algo envolvendo sexo que Alexandre Brandão ainda não havia feito. Isso era, no mínimo, muito surpreendente. — Você nunca fez sexo virtual? — indaguei, parecendo o próprio Bruno zombando de mim na época em que ainda era virgem. Após ele confirmar com um aceno de cabeça, prossegui: — E o que você fazia quando a sua submissa não estava no mesmo lugar que você. — Eu comia outra — ele respondeu sem nenhuma hesitação. — É exatamente por esse motivo que sempre tive mais de uma. Foi impossível não revirar os meus olhos. — E pensar que eu te achava o homem mais gentil do mundo — comentei ainda não acreditando no quanto Alexandre havia mudado diante dos meus olhos. Não estaria sendo honesta se dissesse que era uma mudança negativa, já que, ainda que não fosse admitir em voz alta, amava aquele puto interior que ele tinha, mas era inegavelmente diferente da forma como eu o enxergava quando nos reencontramos. — Deixa eu te contar um segredinho sobre as mulheres: elas não querem homens gentis — ele pronunciou quase sussurrando, como se realmente soubesse o que nós, mulheres, queríamos. — Querem alguém que as façam gozar. E eu aposto que não existe um homem gentil no mundo inteiro que te faça gritar mais do que eu em cima de uma cama. — Você mudou muito nesses últimos anos, mas isso não pode ser dito do seu excesso de confiança — disse perdendo-me naquele abdome trincado. Observei a pinta, uma bem próxima do umbigo, que Alex possuía e tornei a falar: — Isso e, é claro, o fato de você ainda ser muito gostoso. Essa última frase escapou. Estava tão concentrada no corpo dele que simplesmente pensei em voz alta. — Não acho que mudei tanto assim, mas obrigado pelo elogio. — Ele riu e seus olhos me encontraram, tentando se esquivar da câ mera do meu celular. — E acho que não preciso dizer o quanto você é bonita, não é? — Eu, definitivamente, não me comparo com as garotas capas de revista com quem você costumava sair — disse num tom de brincadeira, mas o gostinho amargo na boca foi inevitável ao final da minha frase. Detestava não me sentir o bastante para ele, mas essa era a verdade. Perto de um homem como Alexandre — rico e gostoso —, eu não passava de uma garota comum. — Não mesmo... — ele respondeu, transformando a minha expressão numa careta de ódio. Uma coisa era eu dizer algo assim e outra completamente diferente era aquele cretino confirmar, concordando comigo. Mas era exatamente o que eu merecia por ter praticamente mendigado um elogio. — Nunca estaria me expondo dessa forma com outra pessoa — ele prosseguiu. — Tecnicamente, estou correndo o risco de você gravar essa chamada de vídeo e espalhar o meu pau por toda a internet. — Ele riu e continuou: — Então... Não, você não é como nenhuma dessas garotas. Fiquei até sem jeito depois disso. — Isso aí só me lembrou que você ainda não me mostrou o seu pau, senhor Brandão — disse não fazendo questão de esconder a minha vontade de vê-lo sem aquela cueca. Ele abriu as pernas e apertou o volume em sua cueca, arrepiando-me todinha. — Eu estou tão duro quanto naquele dia que você derramou água em mim — ele comentou, tornando impossível que eu desviasse o meu olhar de seu membro, que continuava dentro daquela barraca. Um sorrisinho sacana brotou em seus lábios, antes de ele continuar me dizendo: — Se naquela época eu suspeitasse minimamente do quanto você é safada, não teria demorado tanto pra dar em cima de você. — Dar em cima de mim? — repeti, não acreditando no que ele estava me dizendo. — Até parece... Você nem chegou a fazer isso, Alexandre. Pelo que eu me lembro, tive que fazer todo o trabalho sozinha. Praticamente implorei para que ele transasse comigo. Não me orgulhava muito disso, mas também não deixaria com que agora, um tempo depois, ele agisse como se tivesse tomado a iniciativa. — É impressão minha ou você está tentando desviar o assunto do sexo? — respondeu-me o loiro. — Podemos voltar para o nosso sexo virtual, senhorita Pontes? — Tudo bem, senhor Brandão. Vamos voltar a falar sobre sexo... É a única coisa com que você se importa mesmo, não é? — disse não escondendo a frustração no meu tom de voz. — Sou o seu dominador... Com o que mais eu deveria me importar? — ele rebateu, mostrando-me de que realmente não entendeu o que eu quis dizer. Não desenharia para ele. Então simplesmente tornei a focar no sexo, como ele queria: — O que nós faremos agora, dominador? — Tenho uma ideia bem interessante — ele comentou, roubando a minha atenção, que ainda estava em seu corpo. — Podemos dizer o que faríamos caso estivéssemos no mesmo quarto. Não era uma ideia ruim. Quando Alexandre insinuou que queria sexo virtual, pensei que nos limitaríamos a assistir o outro se tocar. E isso não era muito excitante para mim. No entanto, com essa brincadeira, poderíamos exercitar nossa criatividade e deixar as coisas mais interessantes. — Tudo bem... Eu começo — disse surpreendendo a mim mesma por tomar a iniciativa. — Se eu estivesse aí, chegaria bem pertinho da sua cama,pararia em frente a você e me abaixaria, ficando de frente com as suas pernas... — Felizmente, descrever cenas picantes era praticamente parte do meu trabalho como autora. — Levaria a minha mão até a sua cueca e abaixaria ela lentamente. Alexandre entrou na minha brincadeira e abaixou a cueca, colocando o seu cacete grande para fora. Tirei um momento para observar aquele membro suculento através da tela quebrada do meu celular. Sem dúvida alguma, essa foi a vez que mais me importei com os trincados, já que eles me impediam de ver cada detalhe de seu caralho com perfeição. — Colocaria a minha mão no seu pau e apertaria, sentindo as veias dele pulsarem... — Alex pegou o cacete com a mão direita e balançou, deixando-me sedenta, com água na boca, por aquele pedaço de carne. — Droga... Eu queria tanto que você estivesse aqui comigo. Queira deitá-lo sobre a minha cama e chupar cada um dos gominhos em seu abdome. Passar a minha língua sobre a sua pele salgada e ir descendo lentamente, até chegar naquela virilha, onde me acabaria. — Essa é a intenção, Thais, agir como se eu estivesse aí com você... Batendo com o meu pau na sua cara... — ele sussurrou baixinho, dando um rouquidão sexy a sua voz. — Mas eu quero mudar um pouco o cenário... Não me leve a mal, mas esse quarto de hotel é muito sem graça e também não tem nenhum dos meus brinquedos por aqui. — E pra onde é que nós iríamos? — Pra minha casa, dentro do meu quarto... “É claro que ele diria algo assim” pensei, relembrando a conversa que tive com Bruno, comentando que só via Alexandre no trabalho ou na casa dele e que isso estava afetando até mesmo a ambientação do meu livro. — Você também podia me levar a um restaurante ou a uma pracinha na esquina? — sugeri com um sorriso, finalmente tomando coragem pra lhe dizer que não queria vê-lo apenas nesses dois locais. — Podíamos ir a... — Você curte esse tipo de coisa, princesa? — ele me interrompeu, deixando-me um pouco confusa. — Gosta de sexo em locais públicos? Não. Credo! Eu não “curtia” isso. Mas o fato de ele ter cogitado, mostrou-me que Alex não entendeu a minha intenção com o comentário sobre o restaurante. E, novamente, não queria ter que desenhar para que ele compreendesse alguma coisa. — Eu... eu... — Mesmo não sendo muito a minha praia, posso providenciar algo assim — ele tornou a falar, deixando-me tão vermelha quanto uma pimenta. — Pensando bem, adoraria comer você em cima de uma mesa de restaurante, sem me importar com quem estivesse nos observando. Aquilo — a proposta bizarra dele — não deveria ter me deixado tão excitada. — Melhor nós continuarmos no seu quarto mesmo, pelo menos por enquanto — respondi, tentando tirar todos aqueles pensamentos envolvendo sexo em público da minha mente. — Como você preferir. — Alexandre se ajeitou na cama e voltou os seus olhos para a câ mera, e foi quase como se ele estivesse olhando diretamente para mim. — Eu quero que você se deite na cama e que feche os seus olhos. O.K ? — O.K . — Vou permitir que você se toque, mas existem algumas regrinhas — o CEO prosseguiu, deixando-me curiosa quanto as suas “regrinhas”. — A primeira delas é que, como essa boceta é minha, você só poderá se tocar com a minha permissão. Entendido, cadela? Não consegui segurar uma risada debochada de escapar por entre os meus lábios, mas, no fim das contas, acabei respondendo- lhe: — Sim... Eu entendi, senhor. — Boa garota. Fiz exatamente o que ele havia me pedido. Continuei deitada sobre a cama e fechei os meus olhos, tentando me imaginar dentro da casa dele. — Se eu estivesse aí, deixaria você nua e amarrada. Amarraria suas mãos para trás, abriria bem as suas pernas e observaria essa boceta linda que você tem. — Obedeci, abrindo as minhas pernas e, consequentemente, enquadrando-me numa posição que ele conseguisse ver o meu sexo exposto. — Que delícia, Thais. Espalha ela com a mão pra mim... Isso aí! Ele riu e foi como se a risada tivesse soado dentro do meu quarto. — Vou deixar você se tocar um pouco. Até porque, como não estou aí, preciso que faça parte do trabalho por mim — Alexandre prosseguiu de forma séria. — Comece lentamente, como se fosse a minha mão te tocando, como se fossem os meus dedos... Sinta a sua boceta... Isso... Assim. Ainda com os meus olhos fechados, continuei me tocando ou, como ele havia ordenado, “sentindo a minha boceta”. E era impossível não relembrar das vezes que ele havia me tocado daquela forma e isso tornava essa experiencia ainda mais real. — Está pronta pra receber o meu pau? — Sim. — Então insira dois dedos bem devagarzinho... Isso, sem pressa... Quero que você sinta o meu cacete entrando... Cada pedacinho dele... Que delícia, Thais! Não pensei que ele estava me assistindo fazer todas aquelas coisas, simplesmente embarquei naquela loucura e fantasiei que o meu dominador estava naquele quarto, tocando-me intensamente. — A sua boceta está tão molhada agora, eu consigo sentir daqui... Você não tem ideia do quanto é difícil vê-la assim e não poder chupar... — ele continuou. — Queria muito sentir o seu gosto... Mas, como não posso, quero que sinta por mim. Tirei os dois dedos de mim e levei-os até a minha boca. Não pensei muito, apenas os chupei, como Alexandre havia me pedido para fazer. — Que bocetinha gostosa... — ele tornou a falar, como se realmente tivesse me chupando. Abri os meus olhos e observei o cacete dele no vídeo. Alex estava tão excitado. Seu pau parecia duro feito uma rocha. Detestei o fato de ele não estar comigo, de não poder senti-lo entrando com força em mim. — Eu vou fazer você gozar — ele anunciou. — Quero que leve os seus dedos de volta pra sua boceta. Fiz isso e ele prosseguiu: — Quero te foder com força, então você precisa aumentar esses movimentos. — Movimentei os meus dedos e gemi, dessa vez um pouco mais alto. — Mais forte, porra! Intensifiquei um pouco mais. — Se eu estivesse mesmo aí, essa boceta já estaria vermelha e cheia com a minha porra. Isso foi o suficiente pra me fazer atingir o êxtase. O simples fato de imaginar o pau dele explodindo dentro de mim, de lembrar da sensação de ter a porra dele escorrendo pelo meu corpo, marcando-me como dele. Era o suficiente. — Merda. Sujei tudo aqui — ele comentou, fazendo-me levantar para observá-lo no vídeo. Pelo que pude ver, através da tela quebrada, ele também havia gozado, melecando todo o lençol. Ele mostrou parte do líquido branco em sua mão. — Quanto desperdício. Queria poder lamber cada gotinha de toda aquela porra. — Até que foi bom... — sussurrei, ajeitando-me sob a câ mera. — Mas seria melhor se tivesse me levado com você. — Não, foi melhor assim... Você só me atrapalharia aqui — Alexandre respondeu, desconcertando-me com a resposta um tanto grosseira. Ao menos, até ele continuar: — Acha mesmo que eu teria interesse em assistir alguma palestra sabendo que poderia passar o dia inteiro no quarto com você? — Isso aí foi um elogio? — O fato de você não sair nunca da minha cabeça? Sim, é um elogio, Thais. Forcei um sorriso e mudei de assunto, questionando-o: — E você volta quando mesmo? — Domingo à noite. E assim que eu chegar no Brasil, vou mandar o meu motorista buscar você em casa. Precisamos conversar, discutir os termos do nosso acordo. Nós ainda não fizemos isso. — Tudo bem, eu ficarei esperando então — disse ao me aproximar do celular, pronta para encerrar a ligação. — Boa noite, Alexandre. — Boa noite, minha princesa. Capítulo 05 Meu chefe estava sentado numa poltrona escura e segurava algumas páginas de algo que se assemelhava muito com um contrato, ainda que ele afirmasse a todo o momento que não me obrigaria a assinar nada. — Podemos começar? — ele questionou trazendo os seus olhos penetrantes até o meu rosto. Ajeitei-me sobre o sofá espaçoso e ergui a minha cabeça, observando o rosto bonito de Alexandre Brandão. O desgraçado estava mais lindo do que nunca naquele suéter verde. Seu cabelo dourado estava penteado para o lado e sua barba nunca esteve tão grande, dando-lhe uma expressão felina,quase impiedosa. Foi inevitável não questionar como seria sentir aquela barba raspando em meu corpo. Deixei de encará-lo — e de ser inundada por meia dúzia de pensamentos impuros — e confirmei com um breve aceno de cabeça. Fazia pouco mais de um mês desde que havia aceitado a sua proposta, cinco semanas desde que dissera “sim”, tornando-me oficialmente a submissa dele. Alex precisou viajar para o Canadá e, estranhamente, não requisitou os meus serviços de comissária de bordo. Foi difícil não estranhar e, principalmente, não encarar isso como uma hesitação. Isso surgiu após ele afirmar que eu estava sempre em sua mente. Uma parte minha achou que ele voltaria atrás, que havia se arrependido. Contudo, havia recebido uma mensagem sua na noite anterior, avisando-me de que tínhamos uma reunião agendada em sua casa para discutirmos os termos do nosso acordo. — Discutiremos sobre as obrigaçõ es do dominador e, logo em seguida, vamos para as da submissa. — Como continuei em silêncio, ele emendou: — De acordo? A expressão dele estava tão séria que realmente parecia que estávamos no meio de uma reunião de negócios. — Por mim, tudo bem... Eu acho. Mesmo num assunto que era, no mínimo, constrangedor, Alex agia de forma natural e isso fez com que eu questionasse mentalmente quantas vezes ele já não tinha passado por aquilo, quantas vezes o cretino não havia se sentado naquela mesma poltrona e encarado uma garota indefesa, antes de começarem a discutir os termos daquele acordo bizarro. — Eu tenho apenas duas obrigaçõ es — ele começou, depois de dar mais uma olhada nos papéis em sua mão. — A primeira delas é cuidar da submissa. Era um pouquinho estranho ser referida como “submissa”, mas, aparentemente, era o que havia me tornado. — De uma forma mais resumida, a sua segurança, finanças, saúde e bem-estar são todas de minha responsabilidade a partir de agora — Alex prosseguiu. Ele usou um tom tão imponente que eu quase balancei a minha cabeça, concordando com tudo aquilo, entretanto, no meio do caminho, acabei me interrompendo, dando-me conta do que tudo aquilo significava. — O quê? — questionei, realmente não entendendo o que aquelas coisas tinham de relacionado com o nosso acordo, que até onde eu sabia, tratava-se de algo meramente sexual. — Tudo o que você acabou de mencionar são responsabilidades minhas, Alexandre. — Eu discordo, princesa — ele argumentou, ajeitando-se na poltrona. O loiro abriu bem as pernas e isso fez com que os meus olhos corressem para o volume saliente no meio delas. Detestei-me por isso, principalmente porque ele flagrou o meu olhar e sorriu maliciosamente. — Se você é minha, automaticamente todas essas coisas passam a serem minhas também. Não acha? Não tive tempo nem de pronunciar “não, eu não acho”, tampouco de continuar secando o cacete dele marcado na calça social, pois o cretino acrescentou: — Mas, de qualquer forma, isso não é algo discutível. “I sso não é algo discutível”. Com quem esse idiota pensava que estava falando? — Você sabe que eu posso desistir disso a hora que eu quiser, não é? — blefei, pelo simples prazer de provocá-lo. — Então, sugiro que tente ser um pouquinho mais agradável, senhor Brandão. Ele sorriu, mordendo o lábio inferior e me respondeu: — Desistir... Você? — O seu tom de voz deixou claro que ele não acreditava em minha ameaça vazia. — Se você não olhasse pro meu pau a cada dez segundos, talvez eu até acreditasse. Corei instantaneamente. Maldito! Era incrível a habilidade dele em me deixar desconfortável. Após notar todo o meu desconcerto, Alex se levantou da poltrona e seguiu na minha direção, tão lento quanto um predador prestes a atacar sua presa. Ele deixou as folhas em cima da mesinha de centro e manteve os olhos em mim, queimando-me como dois lasers. Como ele estava se aproximando demais, questionei: — Que droga você está fazendo? — Nada que você também não queira. Não tive tempo de reagir. Seus dedos correram para debaixo do meu vestido e isso roubou o restante das minhas palavras, impedindo-me de continuar questionando o que ele estava tramando. Ainda me observando com seu olhar mais penetrante, ele acariciou a minha boceta por cima do tecido da calcinha e isso me deixou completamente tensa, fez com que eu me esquecesse de que estávamos ali para discutir os termos do acordo que havia aceitado. — Fiquei com saudade dessa boceta. Seus dedos me massagearam, enquanto ele continuava a me encarar com uma expressão sacana. Uma vez mais, faltou-me tempo. Ele simplesmente afastou a minha calcinha e me invadiu, inserindo dois de seus dedos em mim. Gemi baixinho. E, como uma boa submissa, deixei com que ele continuasse me tocando, com que matasse aquela saudade que havia sentido de mim. — Você está tão molhada... — ele sussurrou de forma convencida, ainda brincando com o meu sexo. — Não me parece que você quer desistir, princesa. F ilho da puta. Cretino. Desgraçado. Sem tirar os dedos de mim, ele esticou o braço esquerdo, pegando novamente o papel em cima da mesinha de centro. — Podemos seguir para o próximo tópico? — Sua voz soou séria, mostrando-me que ele realmente continuaria a reunião daquela forma, ainda dentro de mim, como se quisesse esfregar na minha cara, e em outras partes, que eu não possuía nenhum controle, que ele me dominava totalmente. Estava tão nervosa e excitada que acabei rindo, antes de lhe responder: — Na verdade... Ah... Se não se importa, senhor, eu gostaria continuar discutindo o tópico anterior... Não tinha ideia do motivo pelo qual coloquei aquele “senhor” em minha frase. Talvez fosse porque uma parte de mim — uma submissa e estúpida — quisesse agradá-lo a todo instante, entregando-lhe o controle que ele tanto estimava. — A segunda obrigação, é a questão envolvendo monogamia — ele me interrompeu, realmente pulando toda aquela parte de segurança, bem-estar e finanças, como se estivesse tudo resolvido. — Sou um homem de palavra, Thais. Então, pode ficar tranquila, não vou sair com mais ninguém enquanto mantivermos esse acordo. Ele voltou o olhar para o papel e isso me irritou ao ponto de eu simplesmente esticar a minha mão e puxar aquilo dele. Infelizmente para mim, Alex tinha a vantagem. O desgraçado estava com aqueles dedos enfiados em minha boceta e isso lhe dava controle total sobre o meu corpo. Eu não conseguia ficar nem dez segundos sem gemer com os seus movimentos mais sutis. Então, ele não demorou muito para recuperá-los, mas não conseguiu antes que eu lesse um dos tópicos destacados: CU ID AD OS COM A S U B MIS S A Trabalho. Moradia. Mesada. — Trabalho, moradia e mesada? — repeti as palavras, sem entender o que aquilo significava. — Que droga isso quer dizer? Ergui a minha cabeça, fuzilando-o com o meu olhar, à espera de uma resposta. Ele, em contrapartida, agitou os dedos, numa espécie de punição, que me fez gemer alto. — Olha o tom, garota! Com quem você pensa que está falando, hein? — Alex respondeu, irritando-me tanto quanto me excitava. — J á esqueceu quem é que manda, cadela? Senti seus dedos se movimentaram dentro de mim novamente. Mordi o meu lábio inferior e detestei-me por estar gostando daquilo, por permitir que o cretino continuasse me usando daquela forma. Não era uma reunião. Aparentemente, apenas ele tinha voz e opinião. — Que droga isso quer dizer, Alexandre? — repeti, não deixando com que ele fugisse disso também. Dessa vez, minha voz soou mais firme que o normal. — E eu não vou perguntar de novo. Para mostrar que não estava brincando, eu o empurrei, tirando os seus dedos de mim. Não queria que ele confundisse a minha excitação como um sinal verde para continuar me silenciando. — O motivo por eu ter contratado você como comissária de bordo, foi porque estava me envolvendo sexualmente com Daniela... Precisava substituí-la — ele finalmente me deu alguma explicação. — Acredite ou não, não gosto de misturar trabalho e sexo, ainda mais depois de ter assumido a diretoria da companhia. Os meus poucos anos de experiência já são motivo suficiente para
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