Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. Definição ....................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 3 3. Agente etiológico e transmissão ......................... 4 4. Infecção local precoce e tardia .............................. 5 5. Manifestações clínicas ............................................. 6 6. Neurossífilis ................................................................15 7. Sífilis congênita .........................................................23 8. Diagnóstico ................................................................27 9. Interpretação dos casos ........................................30 10. Tratamento ..............................................................31 Referências bibliográficas ........................................35 3SÍFILIS 1. DEFINIÇÃO A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum, da ordem das espiroquetas. As manifestações clíni- cas da doença vão depender do está- gio em que se encontra, como vere- mos adiante. 2. EPIDEMIOLOGIA Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimaram que em 2016, houve cerca de 20 milhões de casos de sífilis em adolescentes e adultos, entre 15 e 49 anos, sen- do 6,3 milhões de casos novos. Em 2014, a taxa média foi de 17,2 casos SÍFILIS Infecção sexualmente transmissível Agente etiológico: Treponema pallidum Bactéria gram negativa Espiroqueta por 100.000 mulheres e 17,7 casos por 100.000 homens, sendo mais prevalente em região de Pacífico Oci- dental, seguido por África e América. Segundo a OMS, a situação da sífilis no Brasil não é diferente da de outros países. No novo Boletim Epidemio- lógico, pode-se observar que a sífilis adquirida, agravo de notificação com- pulsória desde 2010, teve sua taxa de detecção aumentada de 59,1 casos por 100.000 habitantes, em 2017, para 75,8 casos por 100.000 habi- tantes, em 2018. Também em 2018, a taxa de detecção de sífilis em ges- tantes foi de 21,4/1.000 nascidos vi- vos, a taxa de incidência de sífilis con- gênita foi de 9,0/1.000 nascidos vivos e taxa de mortalidade por sífilis con- gênita foi de 8,2/100.000 nascidos vivos. Entretanto, apesar do aumento de casos notificados, nenhuma Uni- dade da Federação (UF) apresentou taxa de incidência de sífilis congênita mais elevada que a taxa de detecção de sífilis em gestantes, o que pode refletir a melhora da notificação dos casos de sífilis em gestantes no país. O Ministério da Saúde vem executan- do diversas estratégias de abrangên- cia nacional para o controle da sífilis no país, entre as quais: compra cen- tralizada e distribuição de insumos de diagnóstico e tratamento (testes rápidos, penicilina benzatina e crista- lina); desenvolvimento de instrumen- tos de disseminação de informação estratégica aos gestores, auxiliando 4SÍFILIS a tomada de decisão; realização de Campanha Nacional de Prevenção; e desenvolvimento de estudos e pesquisas voltados para o enfrenta- mento da sífilis no SUS. Figura 1. Evolução das taxas de sífilis de 2010 a 2018. DISPONÍVEL EM: https://portalarquivos2.saude.gov.br/ima- ges/pdf/2019/outubro/30/Boletim-S--filis-2019-internet.pdf Outro parecer epidemiológico impor- tante é que existe uma alta taxa de co-infecção pelo HIV entre HSH (ho- mens que fazem sexo com homens) com sífilis. Cerca de 42% dos HSH com sífilis estão infectados pelo HIV, em comparação com 8% dos homens que fazem sexo com mulheres e 4% das mulheres. 3. AGENTE ETIOLÓGICO E TRANSMISSÃO O Treponema pallidum, é uma bacté- ria gram-negativa da ordem das es- piroquetas. Possui aproximadamente 10 a 13 mícrons de comprimento, mas apenas 0,15 de largura, o que o torna muito delgado, dificultando sua visualização por microscopia direta. Assim, a visualização desse organis- mo é feita por microscopia de campo escuro, sendo um organismo delica- do, em forma de saca-rolhas, com espirais firmemente enroladas e um movimento rotativo, suficientes no diagnóstico da sífilis. 5SÍFILIS Figura 2. Treponema pallidum. Fonte: http://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/sifilis_estrategia_diagnos- tico_brasil.pdf A transmissão ocorre, geralmente, através do contato direto com a lesão infecciosa durante o ato sexual. Para ocorrer infecção, a lesão deve estar aberta e com presença de microrga- nismos, como ocorre na lesão primária e em algumas manifestações secun- dárias da sífilis (manchas mucosas e condiloma lata). Já as lesões cutâneas apresentam baixas risco de transmis- são por conter poucos treponemas. Pacientes com sífilis latente também são considerados infecciosos. O de- senvolvimento da doença é feito por inoculação do agente em qualquer parte do corpo, levando ao desen- volvimento de uma sífilis primária na- quele local, podendo se espalhar por todo o corpo. Além disso, gestantes que não fo- ram tratadas ou tratadas inadequa- damente, a sífilis pode ser transmiti- da para o feto (transmissão vertical), mais frequentemente intraútero (com taxa de transmissão de até 80%), embora a transmissão também possa ocorrer na passagem do feto pelo ca- nal do parto. SE LIGA! Não há vacinas contra a sífi- lis e a infecção pela bactéria causadora não confere imunidade protetora. Assim, pessoas infectadas pelas sífilis podem ser reinfectadas tantas vezes quantas forem expostas ao Treponema pallidum. 4. INFECÇÃO LOCAL PRECOCE E TARDIA A contaminação ocorre a partir do contato com o tecido subcutâneo por meio abrasões microscópicas da pele. A lesão ulcerativa inicial (cancro duro) surge após cerca de 30 horas. Duran- te esse período pode ocorrer infesta- ção de linfonodos locais, com disse- minação subsequente. No infiltrado da lesão foram encontrados, além de linfócitos TCD4 e TCD8, monó- citos ativados, macrófagos e células dendríticas com receptores do HIV. A presença desses receptores pode justificar o vínculo entre a infecção por sífilis e a transmissão do HIV. O desenvolvimento da resposta imune humoral também acontece no início da infecção, levando ao desenvolvi- mento de anticorpos que podem ser detectados na fase inicial. 6SÍFILIS A vasculite de pequenos vasos, co- mum nos estágios secundários, ocor- re pelo aumento do número de lin- fócitos e células plasmáticas que se infiltram em vasos e tecidos perivas- culares. Como consequência, pode ocorrer envolvimento do arco ascen- dente da aorta e da válvula aórtica, levando ao que chamamos de sífilis cardiovascular. 5. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Pacientes com sífilis podem apresen- tar inúmeros sintomas ou podem tes- tar positivo no teste sorológico sem presença de sintomas (sífilis latente). A sífilis precoce compreende a sífi- lis primária e secundária que ocorre, geralmente, semanas a meses após a infecção inicial. Quando não trata- da, essa infecção pode progredir para uma doença latente tardia ou desen- volver uma sífilis terciária. A manifes- tação clínica tardia pode ocorrer de 1 a 30 anos após a infecção inicial e apresenta repercussões sistêmicas. SE LIGA! As manifestações clínicas em gestantes são as mesmas que a da po- pulação em geral, não sendo afetadas pelo estado gravídico. SE LIGA! O Treponema pallidum facilita significativamente o risco de se contrair a infecção pelo vírus HIV, uma vez que as lesões genitais facilitam a entrada do vírus. Além disso, a presença do T. palli- dum no organismo acelera a evolução da infecção pelo HIV para a AIDS. Se por um lado as respostas imunoló- gicas são capazes de controlar a lesão inicial, ocorre ao mesmo tempo uma disseminação generalizada de espi- roquetas em um indivíduo não trata- do, levando a manifestações clínicas de sífilis secundárias ou terciárias. Na sífilis tardia pode ocorrer, anterior- mente, um período prologando de la- tência que pode ser explicada por: Diminuição da imunidade com o enve- lhecimento, facilitando o desenvolvi- mento de pequenos treponemas que sobreviveramem locais sequestrados Hospedeiro hipersensível parcial- mente imune que pode reagir à pre- sença de treponemas, gerando uma resposta inflamatória crônica. Assim, na infecção tardia pode ter o aparecimento de granulomas em pele, vísceras ou outros tecidos, co- nhecido como Gummas ou sífilis benigna tardia. Essa manifestação ocorre em indivíduos com resposta imune insuficiente para ser proteto- ra, mas substancial o suficiente para causar danos aos tecidos e levar a formação de granulomas. 7SÍFILIS A sífilis pode ser classificada de duas formas: • Segundo o tempo de infecção: ◊ Sífilis adquirida recente (me- nos de um ano de evolução); ◊ Sífilis adquirida tardia (mais de um ano de evolução). • Segundo as manifestações clíni- cas da sífilis adquirida: ◊ Sífilis primária ◊ Sífilis secundária ◊ Sífilis latente ◊ Sífilis terciária Tempo de infecção Manifestações clínicas Classificação da sífilis < 1 ano de evolução Recente (até um ano de infecção) > 1 ano de evolução Tardia (mais de um ano de infecção) Adquirida recente Sífilis secundária Adquirida tardia Sífilis latente Sífilis primária Sífilis terciária 8SÍFILIS CONCEITO! Sífilis adquirida recente compreende sífilis primária, secundária e latente precoce. • Sífilis primária ou cancro duro: Após um período médio de 21 dias de incubação (variando de 3 dias a 3 meses), pode ocorrer o apa- recimento de lesão genital ulcera- da, quase sempre única, indolor, de bordos endurecidos, de fundo limpo e rica em treponemas. Essas lesões ulceradas, geralmente não possuem uma base exsudativa e podem ocorrer em outras regiões além de genitália, como região oral, faringe posterior e ânus. A lesão dura cerca de 2 a 6 semanas e de- saparece espontaneamente. Além disso, pode ocorrer, associado à lesão, adenopatia satélite inguinal indolor, que se diferencia do linfo- granuloma venéreo por se apre- sentar, em geral, bilateralmente. Figura 3. Lesões de cancro duro de 4mm. Fonte: Mat- tei, P.L. and cols. Syphilis: A Reemerging Infection. Am Fam Physician. 2012. Figura 4. Cancro duro em região genital. Fonte: https:// go.aws/2IE4IAa O cancro representa uma infecção lo- cal inicial, mas a sífilis rapidamente se torna sistêmica com ampla dissemi- nação das espiroquetas. Essa disse- minação pode ou não estar associada a sintomas sistêmicos concomitantes, mas é a base fisiopatológica da sífilis secundária e/ou tardia subsequente, incluindo a neurossífilis. 9SÍFILIS • Sífilis secundária: Cerca de 25% dos pacientes com sífilis primá- ria não tratada desenvolvem uma doença sistêmica que represen- ta a sífilis secundária. Pacientes com sífilis secundária podem não ter tido apresentação do cancro (assintomáticos) ou essa lesão ter passado despercebida. Suas ma- nifestações ocorrem cerca de 4 a 8 semanas após o aparecimento do cancro. Assim como na sífilis primária, as lesões desaparecem espontaneamente, mesmo na au- sência de terapia, exceto em casos mais graves como na lues maligna. SÍFILIS PRIMÁRIA Cancro duro 21 dias após contato sexual Adenopatia unilateral, múltipla e sem sinais de flogose Desaparece em 04 semanas mesmo sem tratamento VOCÊ SABIA? Lues maligna é uma forma grave de sífilis secundária que ocorre em pacientes gravemen- te imunocomprometidos, principalmente os infectados por HIV, e é caracterizada por lesões cutâneas ulcerativas não resolvidas. Figura 5. Lues maligna, forma grave de sífilis secundária. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/ image?topicKey=7584&search=lues%20maligna&source=outline_link&imageKey=ID%2F50771&sp=0 10SÍFILIS Os pacientes com sífilis secundária não tratada sofrem episódios de re- cidiva, que podem ocorrer em até 5 anos após a infecção inicial. Os sin- tomas associados a sífilis secundá- ria acontecem, principalmente, pela resposta imune rápida resultante da disseminação generalizada do T. pallidum. • Sintomas constitucionais: febre, cefaleia, mal-estar, anorexia, odi- nofagia, mialgias e perda de peso. • Adenopatia: aumento de linfo- nodos palpáveis em região cer- vical posterior, axilar, inguinal e femoral, com consistência mini- mamente macia, firme e aspecto emborrachado. Figura 6. Linfonodo cervical posterior na sífilis secundária. Fonte: https://www.uptodate.com/con- tents/image?imageKey=ID%2F59275&topicKey=ID%2F7584&search=sexually%20transmited%20 disease&source=see_link • Erupção cutânea: É o achado mais característico da sífilis secundária. Se apresenta como erupção ma- cular ou papular difusa, simétrica, envolvendo todo o tronco e as ex- tremidades, incluindo palmas das mãos e sola dos pés. 11SÍFILIS Figura 7. Múltiplas pápulas eritematosas esca- mosas em tronco de paciente com sífilis secun- dária. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/ image?imageKey=DERM%2F60313&topicKey=I- D%2F7584&search=sexually%20transmited%20 disease&source=see_link A erupção cutânea também pode acometer superfícies mucosas, se apresentando com lesões grandes elevadas, cinza, esbranquiçada, prin- cipalmente em boca e períneo, sendo referidas como condiloma lata. Figura 8. As manchas mucosas da sífilis secundária podem aparecer em uma variedade de membranas mucosas. Eles estão cheios de organismos e, portanto, são altamente infecciosos. Fonte: https://www.upto- date.com/contents/image?imageKey=ID%2F66087&- topicKey=ID%2F7584&search=sexually%20 transmited%20disease&source=see_link Figura 9. Condiloma lata em região perianal de uma mulher com sífilis secundária. Fonte: https://www. uptodate.com/contents/image?imageKey=ID%- 2F63924&topicKey=ID%2F7584&search=s%C3%A- Dfilis&source=see_link 12SÍFILIS • Alopecia: É vista ocasionalmente e é chamada de alopecia “devo- rada por traça”, devido ao padrão irregular de queda de cabelo. Pode ocorrer em região de couro cabelu- do, sobrancelhas ou barba e é re- versível com o tratamento. Figura 10. Alopecia irregular na sífilis secundária. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/ image?imageKey=ID%2F52213&topicKey=ID%2F7584&search=s%C3%ADfilis&source=see_link • Anormalidades gastrointestinais: A hepatite sifilítica é caracterizada por aumento sérico de fosfatase alcali- na, geralmente com transaminases normais. Quando leve, desapare- ce com o tratamento. Pode ocorrer ainda infiltrados ou ulcerações em TGI, o que pode ser diagnosticado erroneamente como linfoma. • Anormalidades renais: Albuminúria transitória leve, síndrome nefrótica ou nefrite aguda com hipertensão e IRA. O tratamento para sífilis é capaz de reverter o quadro. • Achados neurológicos/oculares: Cefaleia, meningite aguda, déficit de nervos cranianos, doença me- ningovascular ou AVC. Paciente com sífilis pode ainda desenvolver uveíte anterior, posterior e panuve- íte, de características granuloma- tosas, associado a diminuição de acuidade visual. O envolvimento ocular deve ser considerado uma manifestação da neurossífilis. 13SÍFILIS • Sífilis latente: Representa o pe- ríodo de infecção pelo T. pallidum comprovado por teste sorológico, mas sem apresentação sintomá- tica. A categoria “sífilis de duração desconhecida” foi eliminada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças e categorizaram nova- mente a sífilis latente em precoce, quando a infecção ocorreu nos 12 meses anteriores, e tardia quan- do após 12 meses. Essa distinção, além da conduta terapêutica ser SÍFILIS SECUNDÁRIA 4 a 8 semanas após cancro duro Linfadenopatia generalizada 40% do treponema detectado em SNC Regride em 2-6 semanas com períodos de remissão mais intervalados Lesões cutâneo mucosas Alopécia Anormalidade renais, gastrointestinais Achados neurológicos/oculares diferente, é importante para enten- der o risco de transmissão, visto que pacientes com sífilis latente tardia não são considerados infecciosos em seus contatos sexuais recen- tes, já que não apresentam lesões que possam transmitir a doença. Pacientes com sífilis latente pre- coce podem ter contaminado seusparceiros sexuais através de lesão recentemente ativa, mas que não está mais presente ou por meio de 14SÍFILIS lesão obscura ou indolor que não foi descoberta no exame físico. SE LIGA! Diante de um indivíduo com diagnóstico confirmado, em que não é possível inferir a duração da infecção (sífilis de duração ignorada), trata-se como sífilis latente tardia. CONCEITO! Sífilis adquirida tardia compreende sífilis latente tardia e sífilis terciaria. Ocorre em indivíduos infecta- dos que não foram tratados adequada- mente ou não realizaram tratamento. • Sífilis terciária Cerca de 25 a 40% dos pacientes com sífilis não tratada pode evoluir para sífilis tar- dia, podendo ser latente tardia ou terciária. Não necessariamente os indivíduos tiveram sífilis primária/ secundária sintomáticas antes de desenvolver a tardia. Na sífilis ter- ciária, os achados são: ◊ Sífilis cardiovascular: aortite com envolvimento do arco as- cendente, resultando em aorta dilatada e regurgitação da val- va aórtica. Relaciona-se esse distúrbio como consequência da vasculite nos vasa vasorum, levando um enfraquecimento da parede da aorta. Apresen- ta-se com sopro assintomático ou insuficiência cardíaca es- querda. Aparecem tipicamente 15 a 30 anos após a infecção ◊ Sífilis gomatória: Também cha- mado de Gummas. É mais raro, sendo um achado mais fre- quente em paciente infectados por HIV. Pode ocorrer em qual- quer lugar, como pele, muco- sas, ossos ou órgãos internos. • Sífilis cutânea: as manifestações po- dem ser em forma de nódulos, tubér- culos, placas nódulo-ulceradas ou tuberocircinadas e gomas. Podem ser solitárias ou em pequeno núme- ro, assimétricas, com pouca inflama- ção, endurecidas, com bordas de- marcadas, policíclicas ou em formato de círculos, destrutivas, com tendên- cia à cura central com extensão peri- férica, com formação de cicatrizes e hiperpigmentação periférica. Figura 11. Lesão cutânea característica da sífilis terciária. Fonte: http://www.scielo.br/pdf/abd/v81n2/ v81n02a02.pdf 15SÍFILIS Neurossífilis tardia: Sífilis terciária do sistema nervoso central (SNC) re- presentado por paresia geral e tabes dorsalis, meningite aguda, goma do cérebro ou da medula, atrofia do ner- vo óptico, lesão do sétimo par crania- no, paralisia geral e demência É tão importante que vamos abrir um tópico para falarmos somente sobre neurossífilis. 6. NEUROSSÍFILIS Existem muitas formas de sífilis do SNC, como as formas precoces (sífi- lis precoce) e tardias (sífilis terciária), podendo ocorrer até 25 anos após a infecção inicial. Existem cepas espe- cíficas de T. pallidum que podem ter maior probabilidade de causar neu- rossífilis. Esse acometimento come- ça com a invasão do líquido cefalor- raquidiano (LCR) pelos organismos causadores em 25% dos pacientes com sífilis não tratada. A meningite persistente é resultado da falha de re- moção do organismo no LCR, sendo que esses pacientes possuem “neu- rossífilis assintomática”, podendo evoluir para neurossífilis sintomática posteriormente. A neurossífilis é dividida em precoce, podendo ser assintomática, por me- ningite sintomática, meningovascu- lar, sífilis ocular e otossífilis ou tardia, podendo levar a paresia geral e tabes dorsalis. A neurossífilis precoce ocorre por acometimento do LCR, meninges e vasculatura. Seus tipos são: • Neurossífilis assintomática: Não apresentam sinais e sintomas do SNC, mas podem apresentar ma- nifestações de sífilis primária ou secundária concomitantemente. Pode surgir de semanas a meses após infecção inicial, raramente ocorre posterior a 2 anos de in- fecção. O diagnóstico é feito desta forma: Linfócitos no LCR > 5 células/microL, geralmente <100 células/microL Proteínas no LCR > 45mg/dL geralmente <100 mg/dL Teste VDRL reativo DIAGNÓSTICO NEUROSSÍFILIS ASSINTOMÁTICA OU OU Existem duas ressalvas para esse diagnóstico: 1. Pacientes com neurossífilis assin- tomática e COM infecção pelo HIV, que não é reativo ao LCR-VDRL, mas apresenta-se com pleiocitose leve e/ou proteína elevada no LCR, o diagnóstico torna-se difícil porque a presença desses critérios pode ocorrer devido ao próprio HIV. 16SÍFILIS náuseas, vômitos e rigidez de nuca. Os sinais que podem es- tar presentes são os de neuropa- tias cranianas, particularmente de nervo óptico (sífilis ocular), facial e auditivo (otossífilis). Pode causar ainda hidrocefalia e arterite de va- sos pequenos, levando a isquemia do cérebro ou da medula espinhal (meningovascular). A inflamação da meninge pode levar a presen- ça de gomas sifilíticas, se apre- sentando como lesões de massas contíguas às leptomeninges (arac- noide e pia-máter), característica da sífilis secundária. 2. Pacientes com neurossífilis assin- tomática, independentemente da reatividade do LCR-VDRL, devem ser tratados com neurossífilis para evitar a progressão para doença sintomática. • Meningite sintomática: Geral- mente ocorre no primeiro ano após a infecção, mas pode ocorrer tam- bém anos depois. Os achados de sífilis precoce podem ocorrer tam- bém simultaneamente, principal- mente as erupções cutâneas da doença secundária. Esses pacien- tes apresentam cefaleia, confusão, Figura 12. Goma sifilítica em RM cerebral de paciente infectado pelo HIV com sífilis secundá- ria. Em A, RM em sequência T1 com contraste, em corte coronal, mostrando realce meníngeo fo- cal no lobo frontal esquerdo com edema circundante. Em B, RM FLAIR, em corte axial mostran- do edema significativo no lobo frontal posterior esquerdo. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/ image?imageKey=NEURO%2F64262&topicKey=NEURO%2F7599&search=s%C3%ADfilis&source=see_link * FLAIR: recuperação de inversão atenuada por fluido 17SÍFILIS O diagnóstico é feito também com base nos valores linfocíticos e protei- cos, sendo que o LCR-VDRL é quase sempre reativo. Linfócitos no LCR entre 200 e 400 células/microL Proteínas no LCR entre 100 e 200 mg/dL Teste VDRL quase sempre reativo DIAGNÓSTICO MENINGITE SINTOMÁTICA A neuroimagem de gummas cere- brais mostram áreas focais de realce adjacentes às meninges, geralmen- te com uma “cauda dural” e edema circundante. Meningovascular A meningite sifilítica pode causar uma arterite infecciosa que pode afetar qualquer vaso no espaço subaracnoi- de ao redor do cérebro ou da medula espinhal, levando a trombose, isque- mia ou infarto. Apresentam queixas de cefaleia, tontura ou alterações de personalidade, por dias ou semanas antes do início da isquemia ou do AVC. Esses sintomas são provavel- mente devido a meningite concomi- tante. A artéria cerebral média (ACM) e seus ramos são os mais comumen- te afetados. O diagnóstico é muito parecido com a de meningite aguda, porém menos grave. A angiografia cerebral é um método de diagnóstico útil para diferenciar a isquemia por acidente vascular cere- bral da isquemia provocada por sífilis cerebrovascular, a qual tem manifes- tações clínicas semelhantes. Na neu- rossífilis ocorre, habitualmente, envol- vimento multifocal de ramos arteriais de menor calibre, observando-se na angiografia um acometimento difu- so e irregular de artérias e arteríolas intra-cerebrais. Linfócitos no LCR entre 10 e 100 células/microL Proteínas no LCR entre 100 e 200 mg/dL Teste VDRL quase sempre reativo DIAGNÓSTICO NEUROSSÍFILIS MENINGOVASCULAR 18SÍFILIS Figura 13. RM cerebral em cortes coronais nas ponderações T1 (em A) e T2 (em B) de um doente com neurossífilis. As setas indicam áreas de infarto lacunar. DISPONÍVEL EM: http://www.scielo.mec.pt/pdf/am/v19n3/v19n3a05.pdf Sífilis ocular A uveíte e panuveíte posteriores são as mais comuns e apresentam-se com diminuição da acuidade visual. Ocorre frequentemente acompanha- da de meningite sifilítica. Otosífilis A perda auditiva, com ou sem zum- bidos, é considerado como parte dos sintomas neurológicos e como si- nais de neurossífilis. Pode ou não ser acompanhada de meningite sifilítica. A neurossífilis tardiaafeta parênqui- ma cerebral e medula espinhal. São as consideradas formas terciárias de sífilis. • A paresia geral: É uma demência progressiva, também chamada de paralisia geral dos loucos ou neurossífilis parética. Geralmen- te surge após 10 a 25 anos após infecção. Embora o exame neu- rológico possa parecer normal em alguns pacientes, os achados anormais comuns são disartria, hipotonia facial e dos membros, tremores de intenção de face, lín- gua e mãos e anormalidades re- flexas. Os achados pupilares são mais comuns de tabes dorsalis. O diagnóstico: Linfócitos no LCR entre 25 e 75 células/microL Proteínas no LCR entre 50 e 100 mg/dL Teste VDRL reativo DIAGNÓSTICO NEUROSSÍFILIS PARÉTICA 19SÍFILIS A neuroimagem geralmente revela atrofia cerebral. • Tabes dorsalis: Também chamado de ataxia locomotora. É uma do- ença das colunas posteriores da medula espinhal e raízes dorsais. Possui período latente mais longo entre a infecção primária e o início de todas as formas de neurossífilis, com intervalo médio de 20 anos. É o acometimento de SNC menos comum. Os sintomas frequente- mente associados são ataxia sen- sorial, dores lancinantes (dores súbitas, breve e intensas, em pon- tada que podem afetar membros, costas ou face) e alterações pupi- lares (pupila de Argyll-Robertson). Disfunção da bexiga, como reten- ção urinária ou incontinência po- dem ocorrer no início do curso da doença. SAIBA MAIS! PUPILA DE ARGYLL-ROBERTSON: São pupilas bilateralmente pequenas que não respon- dem a luz, mas se contraem normalmente para acomodação e convergência, dilata-se ao estímulo midriático e não dilata em resposta a estímulos dolorosos. É um dos sinais mais comuns de tabes dorsalis. Figura 14. Pupila de Argyll-Robertson, não reativa à luz. Fonte: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/ NEJMicm1507564 20SÍFILIS SAIBA MAIS! Para pessoas com HIV, o risco de neurossífilis assintomática e sintomática é aumentado na- quelas com menor número de células T CD4+ periféricas, RNA plasmático detectável do HIV e/ou nenhuma terapia antirretroviral. Meningite persistente Neurossífilis assintomática recente Invasão do SNC INFECÇÃO SÍFILIS Clareamento Neurossífilis sintomática recente (Semanas-meses-anos) Neurossífilis sintomática tardia (Anos-décadas) Meningite sintomática Tabes dorsalis Meningovascular Paresia geral O diagnóstico de tabes dorsalis é feito: Linfócitos no LCR normal ou pleiocitose leve (entre 10 a 50 células/microL) Proteínas no LCR entre 45 e 75 mg/dL Teste VDRL reativo em 75% dos casos DIAGNÓSTICO TABES DORSALIS 21SÍFILIS HORA DA REVISÃO SÍFILIS ADQUIRIDA RECENTE Sífilis primária: Geralmente consiste em um único cancro no local da inoculação indolor e acompanhado por adenopatia regional bilateral. Sífilis secundária: Doença sistêmica que geralmente inclui erupção cutânea (disseminada e/ ou envolvendo as palmas das mãos e as plantas dos pés), febre, mal-estar e outros sintomas como faringite, hepatite, manchas mucosas, condiloma lata e alopecia. Sífilis latente precoce: Refere-se ao período em que um paciente está infectado com Trepo- nema pallidum, conforme demonstrado por testes sorológicos, mas não apresenta sintomas. A sífilis latente precoce ocorre dentro do primeiro ano da infecção inicial. SÍFILIS ADQUIRIDA TARDIA Sífilis terciária: Paciente com sífilis tardia que apresentam manifestações sintomáticas en- volvendo o sistema cardiovascular ou doença granulomatosa (pele, mucosa, tecidos subcutâ- neos, ossos ou vísceras). Sífilis latente tardia: Período em que um paciente infectado com T. pallidum, conforme de- monstrado por testes sorológicos, mas não apresenta sintomas. A sífilis latente tardia, por definição, ocorre mais de um ano após infecção inicial. Se o momento de uma infecção não for conhecido, presume-se sífilis latente tardia. NEUROSSÍFILIS Pode ocorrer a qualquer momento durante o curso da infecção. Neurossífilis precoce: Pacientes com neurossífilis precoce podem ter meningite assintomáti- ca; meningite sintomática; doença meningovascular (menos comum), isto é, meningite e der- rame; perda da visão ou da adição, com ou sem meningite concomitante. Neurossífilis tardia: As formas mais comuns envolvem cérebro e medula espinha (paresia geral e tabes dorsalis). Figura 14. Evolução da sífilis. https://www.sanarmed.com/caso-clinico-sifilis-ligas 22SÍFILIS Agente etiológico Secundária Terciária Primária Latente precoce Neurossífilis SÍFILIS Indolor Bordas elevadas Aortite Treponema pallidum Úlcera genital Sintomas constitucionais Assintomático Lesões cutâneo mucosas Achados neurológicos/oculares Anormalidades gastrointestinais Doença cardiovascular Linfadenopatia generalizada Erupções cutâneas Doença granulomatosa (pele, osso, vísceras, mucosa, tecido subcutâneo) Alopécia < 1 ano de infecção Anormalidades renais Lesões gomosas, nodulares e destrutivas 23SÍFILIS 7. SÍFILIS CONGÊNITA A definição de sífilis congênita requer que: (1) a criança apresente sinais fí- sicos, laboratoriais ou radiográficos de sífilis congênita (confirmada ou pro- vável) OU (2) criança que nasceu de mãe não tratada, inadequadamente tratada ou subtratada. Alguns especialistas também presu- mem que os bebês têm sífilis con- gênita se suas mães tiveram contato com uma pessoa com sífilis primária ou secundária dentro de 90 dias an- tes do parto e não foram tratadas ou inadequadamente tratadas. A sífilis congênita é um importan- te problema de saúde, complicando cerca de 1 milhão de gestações por ano em todo o mundo, refletindo o aumento de incidência de sífilis em mulheres em idade fértil e o acesso precário ao pré-natal um importante fator de risco para sífilis congênita. A sífilis congênita geralmente é ad- quirida pela transmissão transplacen- tária de espiroquetas na corrente san- guínea materna ou, ocasionalmente, pelo contato direto com uma lesão infecciosa durante o parto. Mulheres com sífilis primária ou secundária não tratada são mais propensas a trans- mitir sífilis para seus fetos (60-90%) do que mulheres com doença laten- te (40% na latência inicial e <10% na latência tardia). O T. pallidum não é transferido no leite materno, mas a transmissão pode ocorrer se a mãe ti- ver uma lesão infecciosa na mama. As manifestações clinicas da sífilis congênita precoce (antes dos 2 anos de idade), apesar de 60 a 90% dos recém-nascidos vivos são assinto- máticos ao nascimento, são: • Hepatomegalia: pode ou não estar associada à esplenomegalia, mas a esplenomegalia isolada não ocorre. • Icterícia: associado a hepatomega- lia e colestase. • Corrimento nasal: geralmente se desenvolve durante a primeira se- mana de vida e raramente após o terceiro mês. A secreção nasal é branca e pode ser sanguinolenta (secundária à erosão da mucosa) ou purulenta se houver infecção bacteriana secundária. • Erupção cutânea: podem ocorrer em qualquer lugar, principalmente em costas, nádegas, coxas e sola dos pés. A erupção geralmente progri- de em uma a três semanas, seguida de descamação e crostas. À medi- da que desaparece, as lesões ficam vermelhas escuras ou cor de cobre, e a pigmentação pode persistir. Se presente ao nascimento, a erupção cutânea pode ser amplamente dis- seminada e bolhosa (pênfigo sifi- lítico). Lesões ulcerativas e líquido bolhoso contêm espiroquetas, são contagiosas e podem transmitir in- fecção por contato direto. 24SÍFILIS Figura 15. Lesões pigmentadas nas solas de uma criança com sífilis congênita. DISPONÍVEL EM: https://www. uptodate.com/contents/image?imageKey=PEDS%2F81352&topicKey=PEDS%2F14428&search=s%C3%ADfilis&- source=see_link Já as manifestações da sífilis con- gênita tardia (após 2 anos de ida- de) estão relacionadas a cicatrizes ou inflamação persistente de infecção precoce e são caracterizadas pela formação de goma em vários tecidos. Se desenvolve em aproximadamente 40% dos bebês nascidos de mulhe- res com sífilis não tratada durante a gravidez.São representadas por: • Abaulamento dos ossos frontais, depressão da ponte nasal (nariz em sela”), maxila curta, mandíbula protuberante. • Linfadenopatia generalizada, prin- cipalmente epitroclear • Anormalidades esqueléticas. • Acometimento do SNC: O envolvi- mento sintomático do SNC é raro em bebês com sífilis congênita, mas pode se desenvolver a partir da disseminação contínua em be- bês que não são tratados no perí- odo neonatal. A sífilis sintomática do SNC em bebês tem duas apre- sentações sobrepostas: leptome- ningite sifilítica aguda e sífilis me- ningovascular crônica. 25SÍFILIS Figura 16. Os estigmas faciais da sífilis con- gênita descritos acima incluem abaulamento dos ossos frontais e depressão da ponte nasal (“nariz em sela”), ambos devido à periostite; rinite causada por lesões nas mucosas nasais («fungadas») e uma erupção cutânea circumo- ral. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate. com/contents/image?imageKey=PEDS%- 2F69781&topicKey=PEDS%2F14428&sear- ch=s%C3%ADfilis&source=see_link • Ceratite intersticial: Inflamação da estrutu- ra do tecido conjuntivo da córnea. Geral- mente é bilateral. Figura 17. Névoa estromal nos dois olhos desta criança devido a ceratite intersticial, uma manifestação de sífilis congênita tardia. Fonte: https:// www.uptodate.com/contents/image?imageKey=PEDS%2F52740&topi- cKey=PEDS%2F14428&search=s%C3%ADfilis&source=see_link • Alterações esqueléticas: curvatu- ra anterior das canelas (“canela de sabre”), artrite indolor dos joelhos (“articulações de Clutton”). Esta última é uma condição indolor que, geralmente, ocorre durante os es- tágios finais da sífilis congênita Figura 18. “Canela de sabre” secundária a sífilis congênita. Fonte: https://www.uptodate. com/contents/image?imageKe- y=PEDS%2F81604&topicKe- y=PEDS%2F14428&sear- ch=s%C3%ADfilis&source=- see_link 26SÍFILIS Figura 19. “Articulações de Clutton” ou hidrartrose simétrica da articulação do joelho. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKe- y=PEDS%2F78286&topicKey=PEDS%2F14428&se- arch=s%C3%ADfilis&source=see_link Na sífilis congênita, é importante o diagnóstico diferencial com condi- ções semelhantes, como infecção por toxoplasmose, por rubéola, citome- galovírus e vírus herpes simplex. O diagnóstico pode ser feito por vi- sualização direta ou coloração com anticorpo fluorescente de fluidos ou lesões corporais infectadas, placenta ou cordão umbilical; por testes soro- lógicos típicos da sífilis. Pode ser re- alizado também a detecção de DNA do T. pallidum por PCR. EVOLUÇÃO ESTÁGIOS DA SÍFILIS CONGÊNITA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sífilis congênita (antes de dois anos de idade) Precoce • Hepatomegalia com ou sem esplenomegalia e icterícia • Lesões cutâneas (pênfigo palmo-plantar, condiloma plano), • petéquias, púrpura • Periostite ou osteíte ou osteocondrite, pseudoparalisia dos membros • Sofrimento respiratório com ou sem pneumonia • Rinite sero-sanguinolenta, anemia e linfadenopatia generali- zada (epitroclear) • Fissura peribucal, síndrome nefrótica, hidropsia, edema, convulsão e meningite Sífilis congênita (após dois anos de idade) Tardia • Tíbia em “lâmina de sabre” • Articulações de Clutton • Fronte “olímpica” e nariz “em sela” • Dentes incisivos medianos superiores deformados (dentes de Hutchinson), molares em “amora” • Rágades periorais, mandíbula curta, arco palatino elevado • Ceratite intersticial • Surdez neurológica e dificuldade no aprendizado Tabela 1. Manifestações clínicas de acordo com a evolução e estágios da sífilis congênita. Fonte: Ministério da sáude. 27SÍFILIS em pacientes com imunossupressão ou doença precoce. • Os testes não treponêmicos são os utilizados na triagem e incluem: ◊ VDRL: Laboratório de Pesqui- sa em Doenças Venéreas ◊ RPR: Reagin Rápido de Plasma ◊ TRUST: Teste de Soro Não aquecido a Toluidina Vermelha. Testes não treponêmicos positivos são relatados como um título de an- ticorpo, por exemplo 1:32, que repre- senta a detecção de um anticorpo no soro diluído 32 vezes. Esses títulos tendem a ir diminuindo com o tempo, mesmo sem tratamento. • Os testes treponêmicos são mais complexos e mais caros para serem realizados. São utilizados como confirmatórios quando os testes não treponêmicos são reativos. Os testes treponêmicos incluem: ◊ FTA-ABS: Absorção Flu- orescente de Anticorpos Treponêmicos ◊ MHA-TP: Teste de Micro-He- maglutinação para Anticorpos contra T. pallidum ◊ TPPA: Ensaio de Aglutinação de Partículas de T. pallidum ◊ TP-EIA: Imunoensaio com En- zima T. pallidum ◊ CIA: Imunoensaio quimiolu- minescente 8. DIAGNÓSTICO A triagem diagnóstica da sífilis deve ser realizada em pacientes: 1. Com sinais e sintomas de infecção: úlcera genital indolor (sífilis primá- ria); uma erupção macular ou pa- pular difusa, simétrica, envolvendo todo o tronco e extremidades (sí- filis secundária); paresia geral; ou tabes dorsalis (sífilis terciária); 2. Sem sinais e sintomas, mas com alto risco de adquirir doença ou transmitir a outras pessoas; 3. Mulheres grávidas; 4. HSH (homens que fazem sexo com homens) e sexualmente ati- vos anualmente; 5. Comportamento sexual de risco; 6. Indivíduos infectados por HIV. Os testes sorológicos são utilizados para a triagem dos pacientes. Exis- tem dois tipos de testes sorológicos para sífilis: teste não treponêmicos e testes específicos do treponema. O diagnóstico é feito com base nesses dois tipos de testes, visto que o teste sorológico, principalmente o não tre- ponêmico, está associado a resulta- dos falso-positivos. Resultados falso- -negativos também podem ocorrer, já que necessita de resposta imune humoral para positivar o teste. Assim, estes testes apresentam limitações 28SÍFILIS Os testes sorológicos rápidos são feitos utilizando microscopia de cam- po escuro para examinar o exsudato de lesões quanto a presença de mi- crorganismos de T. pallidum, porém não é o mais recomendado rotineira- mente. A maioria são testes específi- cos do treponema que não distinguem entre sífilis ativa e previamente trata- da. Possuem baixa sensibilidade 74 a 86% e especificidade de 96 a 100%. Figura 20. Treponema pallidum em microscopia de campo escuro. Fonte: https://www.uptodate.com/con- tents/image?imageKey=ID%2F63806&topicKey=ID%- 2F7588&search=s%C3%ADfilis&rank=1~150&sour- ce=see_link Os métodos diretos são utilizados para diagnóstico definitivo de sífilis. Como o T. pallidum não pode ser cul- tivado em laboratório, o organismo deve ser identificado em visualização direta ou detecção de amostras clíni- cas. Para isso, foi desenvolvido testes de reação em cadeia da polimerase (PCR) para detecção de DNA do T. pallidum de amostras clínicas. A sen- sibilidade desse teste é de 70 a 95% e parece ser maior do que a observa- da em microscopia de campo escuro. A especificidade variou de 92 a 98%. Não deve ser realizado em pacientes assintomáticos, já que em amostras de sangue e de líquido cefalorraqui- diano a sensibilidade do teste cai para 24 a 32%. 29SÍFILIS Fonte: https://www.sanarmed.com/caso-clinico-sifilis-ligas PRINCIPAIS TESTES DIAGNÓSTICOS DA SÍFILIS TESTE DESCRIÇÃO VANTAGENS LIMITAÇÕES Microscopia de cam- po escuro Visualização direta das espiroquetas no fluído da lesão. Diagnóstico imediato. Permite notificação rápida do parceiro. Não útil para lesões orais. Exige técnico experiente para realização do exame. Não treponêmico VDRL Detecta anticorpo anticardiolipina no sangue. Baixo custo. Títulos são correlacionados com sucesso ou falência no tratamento. Falta de reatividade antes da se- gunda semana na sífilis primária. 1 a 2% de falso-positivos na ges- tante e em pessoas com doenças autoimunes, malária, cirrose e tuberculose. Treponêmico FTA-Abs Detecta anticorpos anti-T. Pallidum no sangue. Teste confirmatório com alta especificidade e baixa taxa de falso-positivo. Torna-se reagente precocemente na sífilis primária comparado aoutros testes treponêmicos. Custo mais elevado. Só se torna reagente depois de 15 dias na sífilis primária. Tabela 2. Principais testes diagnósticos na sífilis. Fonte: Guia de Referência Rápida. Doenças Sexualmente Transmis- síveis. 1ª Edição. Rio de Janeiro, 2013 http://subpav.org/download/prot/destaque/APS_DST_final_completo.pdf REAGENTENÃO REAGENTE Reagente Reagente Não-reagente Não-reagente FTA-AbsFTA-Abs Doença não tratada ou tratada recentemente Sífilis primária precoce ou doença de longa evolução possivelmente curada Falso positivo Não se evidencia sífilis, mais pode ser período de incubação VDRL 30SÍFILIS 9. INTERPRETAÇÃO DOS CASOS Sífilis adquirida • Situação 1: Indivíduo assintomático com tes- te não treponêmico reagente com qualquer titulação e teste treponê- mico reagente • Situação 2: Indivíduo sintomático para sífilis com pelo menos um teste rea- gente (treponêmico ou não trepo- nêmico com qualquer titulação). Sífilis em gestantes • Situação 1: Mulher assintomática para sífilis, que durante o pré-natal, o parto e/ ou puerpério apresente pelo me- nos um teste reagente (trepo- nêmico ou não treponêmico com qualquer titulação) e sem registro de tratamento prévio. • Situação 2: Mulher sintomática para sífilis, que durante o pré-natal, o parto e/ou puerpério apresente pelo menos um teste reagente (treponêmico OU não treponêmico com qualquer titulação). • Situação 3: Mulher que durante o pré-natal, o parto e/ou puerpério apresente teste não treponêmico reagente com qualquer titulação E teste tre- ponêmico reagente, independen- te de sintomatologia da sífilis e de tratamento prévio SAIBA MAIS! O rastreamento de sífilis em gestante, pelo teste não treponêmico- VDRL é feito logo na pri- meira consulta do pré-natal. Caso positivo é confirmado pelo teste treponêmico FTA-ABS. O teste deve ser repetido no terceiro trimestre (entre 28 e 32 semanas), no momento do parto e em casos de abortamento. O tratamento deve ser feito seguindo as recomendações do adulto, exceto com uso de Doxiciclina (contraindicado na gravidez). Sífilis congênita • Situação 1: Todo recém-nascido (RN), nati- morto ou aborto de mulher com sífilis não tratada ou tratada de for- ma não adequada • Situação 2: Toda criança com menos de 13 anos de idade com pelo menos uma das seguintes situações: ◊ Alteração clínica, liquóri- ca ou radiológica de sífilis 31SÍFILIS congênita E teste não trepo- nêmico reagente ◊ Títulos de teste não treponê- mico do lactente maiores do que os da mãe, em pelo menos duas diluições de amostras de sangue periférico, coletadas simultaneamente ◊ Títulos de testes não treponê- micos ascendentes em pelo menos duas diluições ◊ Títulos de testes não treponê- micos ainda reagentes após 6 meses de idade, exceto em situação de seguimento terapêutico ◊ Testes treponêmicos reagen- tes após 18 meses de idade sem diagnóstico prévio de sí- filis congênita. *Nesta situação deve ser sempre afastada a possibili- dade de sífilis adquirida. • Situação 3: Evidência microbiológica de in- fecção pelo Treponema pallidum em amostra de secreção nasal ou lesão cutânea, biópsia ou necrop- sia de criança, aborto ou natimorto. *Detecção do T. pallidum por meio de exames dire- tos por microscopia de campo escuro ou com material corado. 10. TRATAMENTO Como vimos, pacientes com sinais e sintomas de sífilis devem ser sub- metidos a testes sorológicos para confirmar diagnóstico. No entanto, o tratamento empírico pode ser fei- to para sífilis precoce, ou seja, com base na suspeita de cancro duro, ou em exposição recente conhecida, es- pecialmente quando pouco provável o acompanhamento deste pacien- te. Um teste não treponêmico deve ser obtido antes do tratamento para adequação da resposta sorológica pós-tratamento. Sífilis adquirida recente • Sífilis primária, secundária e laten- te recente (com menos de um ano de evolução). 32SÍFILIS Fonte: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=ID%2F50435&topicKey=ID%2F7597&search=neur- rossifilis&source=outline_link Monitoramento após tratamento: Exame clínico e teste sorológico com um teste não treponêmico (por exem- plo RPR) aos 6 e 12 meses. Os títulos devem ser verificados com mais fre- quência se o paciente estiver infecta- do pelo HIV, o acompanhamento for incerto ou se houver reinfecção. Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/dia, por 14 dias (contraindicado na gravidez) Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/dia, por 4 semanas (contraindicado na gravidez) Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades, IM, dose única (1,2 milhão UI em cada glúteo). Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades, IM, 1x/semana, por 3 semanas (1,2 milhão UI em cada glúteo). Ceftriaxona 1 a 2 g por dia, IM ou IV, por 10 a 14 dias Ceftriaxona 2 g por dia, IM ou IV, por 10 a 14 dias Tetraciclina 500 mg, VO, 4x/dia, por 14 dias Amoxicilina 3 g + Probenecide 500 mg, VO, 2x/ dia, por 14 dias TRATAMENTO ALTERNATIVO TRATAMENTO ALTERNATIVO TRATAMENTO PREFERIDO TRATAMENTO PREFERIDO Sífilis adquirida tardia • Sífilis latente tardia (com mais de um ano de evolução) ou laten- te com duração ignorada e sífilis terciária. Fonte: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=ID%2F50435&topicKey=ID%2F7597&search=neur- rossifilis&source=outline_link 33SÍFILIS SE LIGA! Indicação para retratamento: Se um paciente assintomático com sus- peita de sífilis latente tiver sido tratado anteriormente para sífilis, mas o rece- bimento de um regime de tratamento apropriado não for verificado, o regime completo de três doses de penicilina recomendado para sífilis latente tardia deve ser administrado. Monitoramento após tratamento: Exame clínico e teste sorológico com um teste não treponêmico (por exem- plo RPR) aos 6, 12 e 24 meses. Neurossífilis Ceftriaxona 2 g por dia, IV, por 10 a 14 diasPenicilina G cristalina 3 a 4 milhões de unidades, IV, 4/4h, por 10 a 14 dias Penicilina G procaína 2,4 milhões de unidades, IM, diariamente + Probenecide 500 mg, VO, 4x/dia, por 10 a 14 dias TRATAMENTO ALTERNATIVOTRATAMENTO PREFERIDO Fonte: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=ID%2F50435&topicKey=ID%2F7597&search=neur- rossifilis&source=outline_link *Se possível, pacientes alérgicos à penicilina devem ser dessensibilizados e tratados com penicilina IV. Monitoramento após tratamento: Exame clínico e teste sorológico com testes não treponêmico (por exemplo RPR). A frequência depende do es- tágio da doença (precoce ou tardio). O monitoramento do LCR pode ser garantido. SE LIGA! Nas primeiras 24h após a primeira dose de penicilina, principal- mente na sífilis secundária, a paciente pode apresentar a Reação de Jarisch- -Herxheimer, caracterizada por febre, artralgia, mal-estar e exacerbação das lesões cutâneas. Essa reação não confi- gura alergia à penicilina e ocorre em res- posta ao derrame de proteínas e de ou- tras estruturas dos treponemas mortos pela penicilina na corrente sanguínea. O tratamento é feito com analgésicos e antitérmico. 34SÍFILIS Adquirida recente Adquirida tardia NeurossífilisPrimária Métodos diagnósticos Tratamento Secundária Terciária Neurossífilis Congênita VDRL RPR TRUST FTA-Abs MHA-TP TP-EIA Imunoflores- cência em campo escuro Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades, IM, dose única 2ªop: Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/dia, por 14 dias Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades, IM, 1x/ semana, por 3 semanas 2ª op: Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/ dia, por 4 semanas Penicilina G cristalina 3 a 4 milhões de unidades, IV, 4/4h, por 10 a 14 dias OU Penicilina G procaína 2,4 milhões de unidades, IM, diariamente + Probene-cide 500 mg, VO, 4x/dia, por 10 a 14 dias 2ªop: Ceftriaxona 2 g por dia, IV, por 10 a 14 dias SÍFILIS Clinica Treponema pallidum Agente etiológico Não treponêmicos Treponêmicos Pesquisa direta 35SÍFILIS REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico- Sífilis. Secretaria de Vigilância em Saúde. N° Especial, Out. 2019 Hicks, C.B., Clement, M. Syphilis: Epidemiology, pathophysiology, and clinical manifestations in HIV-uninfected patients. Uptodate, Oct 24, 2019. Atualizado em: Fev, 2020. Marra, C.M. Neurosyphilis. Uptodate, Dec, 2018. Atualizado em: Fev, 2020 Hicks, C.B., Clement, M. Syphilis: Screening and diagnostic testing. Uptodate, Jun 12, 2019. Atualizado em: Fev, 2020 Hicks, C.B., Clement, M. Syphilis: Treatmente and monitoring. Uptodate, May 21, 2018. Atu- alizado em: Fev, 2020 Dobson, S.R. Congenital syphilis: Clinical features and diagnosis. Uptodate, Jan 29, 2019. Atualizado em: FEV, 2020 Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e He- patites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília-DF, 2015 36SÍFILIS
Compartilhar