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SÍFILIS EM GESTANTES A sífilis é uma doença infectocontagiosa crônica. Apresenta-se com evolução sistêmica desde sua fase inicial, após um período de incubação que varia de 10 a 90 dias, em sequência a contato infectante, dependendo do número e virulência do treponema e da resposta imunológica do hospedeiro. Pode evoluir cronicamente com manifestações clínicas exuberantes ou discretas, entremeadas com períodos de silêncio clínico denominados de latências. As principais e mais importantes vias de transmissão são sexual (genital, oral e anal) e a vertical (da gestante para o feto – intraútero, ou neonato – periparto), proporcionando a sífilis congênita com altas taxas de mortalidade. Em 2018 registrou-se 62.599 casos (25,7% mais casos que no ano anterior). Além disso, a incidência foi de 21,4 casos de sífilis em gestantes para cada 1000 nascidos vivos (25,7 maior que no ano anterior). Desse modo, considera-se a sífilis como sério problema de saúde pública, notificando-se cerca de 12 milhões de casos novos por ano. Os casos de sífilis congênita em 2018 somaram um total de 26.219 ( 9 casos/1000 nascidos vivos). Nota: notificação obrigatória. Etiologia A sífilis é causada pelo Treponema pallidum que é uma bactéria espiroqueta. É patógeno exclusivo do ser humano, sensível ao calor, a ambientes secos, a detergentes e a antissépticos comuns. Epidemiologia Os número de sífilis no Brasil são muito preocupantes. Em outubro de 2016, por exemplo, o Ministério da Saúde decretou a epidemia diante dos altos índices de novos casos da doença no país. Em 28 de fevereiro de 2019, a OMS publicou estimativas, as quais mostram que em 2016, havia mais de meia milhão (aproximadamente 661 mil) de casos de sífilis congênita no mundo, resultando em mais de 200 mil natimortos e mortes neonatais. A sífilis é uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns globalmente, com cerca de 6 milhões de novos casos a cada ano. Se uma mulher grávida infectada não receber tratamento precoce adequado, pode transmitir a infecção para o feto, resultando em baixo peso ao nascer, nascimento prematuro, aborto, natimorto e manifestações clínicas precoces e tardias (sífilis congênita). Considera-se que a sífilis congênita é a segunda principal causa de morte fetal evitável em todo o mundo, precedida apenas pela malária. Manifestações clínicas de acordo com os estágios EVOLUÇÃO ESTÁGIOS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sífilis recente: menos de 2 anos de duração. Primária: 10 - 90 dias (média de 21 dias) após o contato. Geralmente se manifesta como um nódulo indolor único no local do contato, que se ulcera rapidamente, formando o cancro duro. Costuma surgir na genitália, mas também pode ocorrer no períneo, ânus, reto e orofaringe, lábios ou mãos. A lesão primária é rica em treponemas. Secundária: 6 semanas a 6 meses após o contato. Nessa fase da doença, são comuns sinais e sintomas sistêmicos da infecção, mimetizando manifestações clínicas de outras enfermidades e, dessa forma, sendo frequentemente confundida com outros diagnósticos. Podem ocorrer erupções cutâneas em forma de máculas (roséola) e/ou pápulas, principalmente no tronco; lesões eritemo-escamosas palmo- plantares (essa localização, apesar de não patognomônica, sugere fortemente o diagnóstico de sífilis no estágio secundário); placas eritematosas branco-acinzentadas nas mucosas; lesões pápulo-hipertróficas nas mucosas ou pregas cutâneas (condiloma plano ou condiloma lata); alopecia em clareira e madarose (perda da sobrancelha em especial do terço distal), febre, mal-estar, cefaleia, adinamia e linfadenopatia generalizada. As lesões secundárias são ricas em treponemas. Latente recente: nos primeiros 2 anos da infecção. Período em que não se observa nenhum sinal ou sintoma clínico de sífilis, verificando-se, porém, reatividade nos testes imunológicos que detectam anticorpos. A maioria dos diagnósticos ocorre nesse estágio. Aproximadamente 25% dos indivíduos intercalam lesões de secundarismo com os períodos de latência, durante o primeiro ano de infecção. Sífilis tardia: mais de 2 anos de duração. Latente tardia: após 2 anos de infecção. Terciária Menos frequente na atualidade. É comum o acometimento do sistema nervoso e cardiovascular (dilatação aórtica, regurgitação aórtica, estenose do óstio carotídeo). Além disso, verifica-se a formação de gomas sifilíticas (tumorações com tendência a liquefação) na pele, mucosas, ossos ou qualquer tecido. Sífilis primária • 10 a 90 dias após o contato sexual (média de 21 dias). • Características: o Bordas endurecidas; o Indolor; o Fundo liso e brilhante; • Cancro Duro. OBS: pode passar despercebida. Sífilis secundária • 6 a 8 semanas após o desaparecimento do cancro duro. • Exantema morbiliforme. • Artralgia, febrícula e cefaléia. • Pápulas cutâneas em mãos e pés. Sífilis terciária • Mais de 2 anos de duração. • Apresentação: o Lesões cutâneo-mucosas, que se apresentam como tubérculos ou gomas. o Apresentação neurológica como o tabes dorsalis e demência. o Doença cardiovascular na forma de aneurisma aórtico. o Comprometimento articular (Artropatia de Charcot). Sífilis latente recente ou tardia É uma fase de duração variável em que não se observam sinais e sintomas clínicos. O diagnóstico é realizado exclusivamente através de testes sorológicos. Sífilis na gestação É considerado caso de sífilis na gestação: toda gestante com evidência clínica de sífilis e/ou com sorologia não treponêmica reagente, com qualquer titulagem, mesmo na ausência de resultado de teste treponêmico, realizada no pré-natal ou no momento do parto ou curetagem. Sífilis congênita A transmissão vertical da sífilis pode ocorrer em qualquer fase da gestação. A taxa de transmissão vertical é de 70 a 100% dos casos, em casos de mãe não tratadas nas fases primárias e secundárias e 30% dos casos nas fases terciárias. Não há transmissão vertical pelo leite materno. Abortamento espontâneo, natimorto ou morte perinatal ocorre em 40% dos conceptos não tratados. Transmissão vertical • Primária e secundária: aproximadamente 100%; • Fase latente precoce: aproximadamente 80%; • Fase latente tardia: aproximadamente 30%. Sífilis congênita precoce (diagnóstico antes de 2 anos) • Gravidade variável. • Lesões cutâneo-mucosas, como placa mucosas, lesões palmo-plantares, fissuras radiadas periorificiais e condilomas planos anogenitais. • Lesões ósseas, manifestas por periostite e osteocondrite (ex. pseudo paralisia de Parrot – dor à movimentação dos membros). • Lesões do sistema nervoso central (ex. convulsões, meningite). • Lesões do aparelho respiratório (pneumonia alba). • Hepatoesplenomegalia, pancreatite. • Rinite sanguinolenta. • Anemia, plaquetopenia, púrpura. Sífilis congênita tardia (diagnóstico após os 2 anos) • Fronte olímpica. • Mandíbula curva. • Arco palatino elevado. • Surdez, retardo mental e hidrocefalia. • Tríade de Hutchinson (dentes de Hutchinson + ceratite intersticial + lesão do VIII par). • Nariz em sela. • Tíbia em lâmina de sabre. Diagnóstico – testes sorológicos Testes imunológicos para diagnóstico de sífilis. Não treponêmicos • VDRL • RPR • TRUST Quantificáveis (ex. 1:2, 1:4, 1:8). São importantes para o diagnóstico e monitoramento da resposta ao tratamento. Treponêmicos • FTA-Abs • ELISA/EQL • TPHA/TPPA/MHA-TP • Teste rápido (TR) Na maioria das vezes, permanecem reagentes mesmo após o tratamento, pelo resto da vida da pessoa. Não indicados para monitoramento da resposta ao tratamento. • Não treponêmicos: (cardiolipina) e é realizado na primeira consulta de pré-natal, no 3° trimestre e no momento dainternação hospitalar (parto, curetagem ou abortamento). o VDRL: ▪ São qualitativos (reagente e não reagente). ▪ São quantitativos (1:4, 1:8, 1:16 ....). ▪ São utilizados para triagem e monitorização de infecção. • Treponêmicos: (células de treponema) são utilizados para confirmação de infecção e podem permanecer detectáveis por tempo. o Aglutinação passiva (THPA), teste de imunofluorescência direta (FTA-Abs), ensaio imunoenzimático (ELISA) e teste rápido. o O teste rápido é um teste treponêmico e de fácil execução. ▪ Toda gestante em qualquer visita de pré-natal desde que não tenha realizado exames treponêmicos reagentes e gravidez atual ou anterior. ▪ Apresentação de sinais e sintomas para IST durante o período gestacional. ▪ Resultado de VDRL indisponível no momento do parto. ▪ No 3° trimestre de gestação, quando o primeiro resultado for negativo. Diagnóstico Para realização do diagnóstico deve-se realizar um teste treponêmico e mais um teste não treponêmico. Sempre que possível, começar por um teste treponêmico. Cicatriz sorológica É uma expressão utilizada para casos de testes não treponêmicos persistentemente reagentes, usualmente em baixas titulações, em pessoas adequadamente tratadas. Teste treponêmico reagente: - Teste rápido; - FTA-Abs; - TPHA; - EQL; - ELISA; Teste não treponêmico reagente: - VDRL; - RPR; - TRUST; DIAGNÓSTICO DE SÍFILIS CONFIRMADO Tratamento • Devemos tratar em qualquer fase da gestação e tratar o parceiro. • Quando a paciente possui alergia à penicilina devemos interna-la e promover a dessensibilização. • Na impossibilidade, usar estearato de eritromicina por 15 dias (na latente precoce) e 30 dias (na latente tardia). Acompanhamento e critério de cura • Solicitar VDRL mensal para acompanhamento. • Após o tratamento adequado, os testes não treponêmicos (VDRL) na sífilis primária e secundária devem declinar de 2 diluições em 3 meses (1:64 para 1:16); 4 diluições (1:64 para 1:4) em 6 meses. • Na infecção latente precoce, a queda de 4 vezes no título ocorre, geralmente, após 1 ano. • Pacientes tratadas em estágio latente tardio, ou que tiveram múltiplos episódios de sífilis podem mostrar um declínio mais gradual de títulos. Elevação dos títulos, o que fazer? • Aumento da titulação em duas diluições (1:16 para 1:64 ou de 1:4 para 1:16) justifica um novo tratamento. • Verificar se o parceiro foi tratado (reinfecção). • Verificar se o tratamento da gestante foi adequado para a forma clínica (subtratamento). • Co-infecção de sífilis e HIV (falência terapêutica). Tratamento inadequado para sífilis • É todo o tratamento realizado com qualquer medicamento que não seja a penicilina. • Tratamento incompleto mesmo tendo sido feito com penicilina. • Não tratamento do parceiro. • Instituição ou finalização em 30 dias antes do parto. • Ausência de queda ou elevação dos títulos após o término do antibiótico. Nota: é obrigatório a investigação e o tratamento adequado da criança após o parto.
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