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Centro Universitário de Brasília - UniCEUB
Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais - FAJS
Curso de Bacharelado em Direito
STEPHANIE CASTRO DE OLIVEIRA CABRAL
ARTIGO: Tipicidade conglobante e princípio da insignificância
BRASÍLIA
2022
RESUMO
O artigo a seguir trata dos principais pontos da tipicidade conglobante e suas
características, traz o princípio da inexistência sua aplicação e peculiaridades, e os
correlaciona.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. TIPICIDADE
2.1.TIPICIDADE CONGLOBANTE
3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS
3.1. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
3.2. COORELAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E A
TIPICIDADE CONGLOBANTE
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. INTRODUÇÃO
A tipicidade traz a necessidade de punibilidade ou não de uma conduta de
acordo com seus critérios, sejam eles materiais ou formais de acordo com a teoria
adotada no ordenamento jurídico. A tipicidade conglobante é nada mais do que a junção
da função material e antinormativa, ao trazer as características dessa tipicidade, há uma
correlação e necessidade para maior fluidez da doutrina, da utilização do princípio da
insignificância para casos excepcionais e específicos que serão regidos de modo a não
sobrecarregar o direito penal e afastar a tipicidade em caso de insignificância do bem
jurídico atingido.
2. TIPICIDADE
A doutrina adotada no Brasil coloca o crime como um fato típico, ilícito ou
culpável, dentro do fato típico há a conduta, o resultado, o nexo causal e a dita
tipicidade. Essa tipicidade penal seria uma característica da conduta humana que se dá
diante da previsão da lei penal, e que se importa com o agente em sua realidade e o
resultado da conduta. Para conceituar o crime é possível utilizar a forma material,
formal e analítica, porém nós que utilizamos o civil low aplicamos no regime brasileiro
são apenas o conceito formal em combinação com o material, que seria a violação da lei
por uma conduta que esta descrita no conteúdo do direito penal e também a violação dos
princípios sociais, respectivamente. A analítica, a título de curiosidade, seria a
conceituação do crime de forma sintetizada, de forma a deixar apenas o indispensável.
A tipicidade é a adequação de algum fato relevante juridicamente a um
determinado tipo, este tipo seria a descrição da própria conduta de forma objetiva ou
neutra (ação/ omissão) podendo o mesmo a uma sanção para um delito, assim sendo, a
tipicidade é a constatação do encaixe dentro de uma moldura perfeita dita típica. O tipo
penal tem duas funções primordiais em sua essência, a indiciária e a protetiva, essas
garantem a proteção do individuo perante o estado, já que só haverá o indiciamento e a
punibilidade caso a conduta esteja tipificada em um tipo penal. Seus elementos podem
ser objetivos quando for possível a delimitação de um conteúdo determinado, podem ser
subjetivos quando expressa uma generalização e uma indeterminação do conteúdo, e por
fim, podem ser normativos quando são advindos de normas técnicas que são conteúdo
de uma área ou comunidade específica.
É importante destacar a divisão entre tipicidade direta e tipicidade indireta.
Dentro da tipicidade direta há a subsunção que se dá quando uma ideia antes abstrata
aloca-se a um fato da vida real, basicamente é quando há um tipo penal que se demostra
de forma perfeita na realidade da vida, mas para isso deve passar perfeitamente pelo iter
criminis. O dito Iter Criminis seria a segunda característica da tipicidade direta, seria a
trajetória do crime a ser traçada e desenvolvida diante de quatro fases, a cogitação, a
preparação, a execução e a consumação, assim, o crime nasce no pensamento quando se
tem a ideia de cometer algo ilícito passa pelos preparativos onde há uma busca do que é
necessário para o que foi anteriormente idealizado se consumar, depois de todos os
preparativos começa a execução em prol do objetivo final, e por fim, a consumação
onde se materializa o que estava em andamento. Já a tipicidade indireta rege a tentativa
de crime quando a conduta não chega a consumação por circunstancia alheia, perpassa
também pelas condutas quer parecem tentativa de crime mas não são como a desistência
voluntária, arrependimento incapaz, arrependimento posterior, crime impossível e crime
impossível, e por fim, abarca o concurso de agentes quando mais de uma pessoa faz
uma parte e concorre em um crime.
A tipicidade lida também com o conflito aparente de normas de acordo com três
princípios (Da especialidade, subsidiariedade e consunção) e por fim há as
possibilidades de exclusão da tipicidade que é onde se encontra o princípio da
insignificância que falaremos mais a seguir.
2.1 TIPICIDADE CONGLOBANTE
A teoria da tipicidade adotada pelos autores Pierangeli e Zaffaroni (2011, p.
393-401) assegura que a tipicidade é mais complexa, podendo ser formal ou
conglobante, sendo a tipicidade formal basicamente o sentido estrito da análise formal,
o encaixe como uma luva de um fato exercido dentro de um molde da lei penal. Esses
autores dividem a tipicidade conglobante em material e antinormatividade, ao reiterar a
tipicidade material já citada anteriormente observa-se que a tipicidade só existirá
quando o perigo, lesão ou conduta direcionada ao bem jurídico for relevante, como por
exemplo, a subtração de um pão para se alimentar, no conceito formal essa conduta
seria típica, porém, a lesão ocasionada ao bem não é relevante o suficiente, ou seja, de
forma material essa conduta é atípica e insignificante. Já a antinormatividade seria
caracterizada como a existência de uma norma jurídica que descreva ou abarque a
conduta praticada pelo indivíduo como um ato repudiado pela legislação, caso não haja
uma norma que envolva o fato, não haverá a tipificação do mesmo. Dessa forma, de
acordo com a forma conglobante só haverá tipicidade se houver a análise a partir do
ordenamento jurídico total (antinormatividade), como por exemplo, não poderá haver o
choque de normas dentro do Direito Penal.
Dessa forma, dentro da obra do Zaffaroni ele discorre que caso o que esteja
permitido em uma norma não pode estar descrito como proibido em outra, pois nesse
caso não constituiria um fato típico.
3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS
Princípio é algo conceituado como anterior, que vem antes de tudo, é o começo
que norteia as ações humanas, princípio constitucional serve para nortear o Estado no
modo de agir e reger seus indivíduos, é a base para a construção de direitos, deveres e
valores inegociáveis.
As sete Constituições Federais que existiram no nosso país serviram para reger o
Estado de Direito dos indivíduos brasileiros, os princípios constitucionais penais trazem
os fundamentos para basear o modo de agir do Direito Penal, são eles: a) dignidade da
pessoa humana, b) igualdade ou isonomia, c) legalidade e anterioridade, d)
irretroatividade da lei penal, e) personalidade da pena, f) individualização da pena, g)
humanidade, h) intervenção mínima, i) culpabilidade, j) proporcionalidade, k)
ofensividade ou lesividade, l) adequação social, m) insignificância, este último que
ocasiona a exclusão da tipicidade é o que nos interessa dentro desse artigo.
3.1. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Também denominado de minimus non curat praetor ou princípio da bagatela, é
um princípio do direito penal, que tem como objetivo a interpretação da legislação, sem
esquecer a divisão de poderes, que age de forma a não cegar o Direito para a realidade
social, e evitar quer o mesmo seja exercido de forma desnecessária. Esse princípio alivia
a carga do Direito Penal de reger absolutamente todos os comportamentos sociais,
dando a possibilidade das outras áreas do Direito tomarem as rédeas de situações ditas
insignificantes penalmente, toda vez que o fato ou a lesão causada tida como
insignificante, pode-se aplicar o princípio da bagatela.
Segundo Diomar Ackel Filho
“O princípio da insignificância se ajusta à eqüidade e correta
interpretação do Direito. Por aquela, acolhe-seum sentimento de
justiça, inspirado nos valores vigentes em sociedade,
liberando-se o agente, cuja ação, por sua inexpressividade, não
chega a atentar contra os valores tutelados pelo Direito Penal.
Por esta, exige-se uma hermenêutica mais condizente do Direito,
que não se pode ater a critérios inflexíveis de exegese, sob pena
de desvirtuar o sentido da própria norma e se conduzir a graves
injustiças.”
A ausência de periculosidade da ação socialmente falando, ou o valor do
patrimônio jurídico e a o nível de ofensividade para o conjunto social ser mínimo,
possibilita a caracterização desse princípio, que também rege o princípio da intervenção
mínima e é derivado do princípio da dignidade da pessoa humana, mas podendo por si
só, excluir a tipicidade.
Dentro da jurisprudência, no transito em julgado do Supremo Tribunal Federal
(HC 104.787/RJ, Rel. Min. Ayres Britto), diz que:
“O princípio da insignificância é vetor interpretativo do tipo
penal, tendo por escopo restringir a qualificação de condutas que
se traduzam em ínfima lesão ao bem jurídico nele (tipo penal)
albergado. Tal forma de interpretação inserese num quadro de
válida medida de política criminal, visando, para além da
descarcerização, ao descongestionamento da Justiça Penal, que
deve ocupar-se apenas das infrações tidas por socialmente mais
graves. Numa visão humanitária do Direito Penal, então, é de se
prestigiar esse princípio da tolerância, que, se bem aplicado, não
chega a estimular a ideia de impunidade. Ao tempo que se
verificam patentes a necessidade e a utilidade do princípio da
insignificância, é imprescindível que a aplicação se dê de
maneira criteriosa, contribuindo sempre tendo em conta a
realidade brasileira, para evitar que a atuação estatal vá além dos
limites do razoável na proteção do interesse público.”
O STJ tem afastado a hipótese da utilização do princípio da insignificância nos
casos de reincidência, são três possibilidades que afastam, o princípio da
insignificância: os crimes que são praticados com a utilização de violência ou grave
ameaça, a reiteração de crimes, e por fim, não se aplica aos crimes cometidos contra a
administração pública Para exemplificar esse princípio podemos falar da subtração de
um chocolate, essa conduta é condenável formalmente falando, e seria considerada
típica, porém o bem que está sendo furtado é de valor irrisório e acaba sendo um bem
jurídico apto a ap0licação do princípio da insignificância.
Nesse sentido, segue a decisão do relator Ministro Dias Toffoli em
posicionamento jurisprudencial do STF:
Habeas corpus. Furto de barras de chocolate. Res furtiva
de pequeno valor. Mínimo grau de lesividade. Alegada
incidência do postulado da insignificância penal
Inaplicabilidade. Paciente reincidente especifico em delitos
contra patrimônio, conforme certidão de antecedentes criminais.
Ordem denegada. 1. Embora seja reduzida a expressividade
financeira dos produtos subtraídos pelo paciente, não há como
acatar a tese de irrelevância material da conduta por ele
praticada, tendo em vista ser de reincidente especifico em delitos
contra o patrimônio. Esses aspectos dão claras demonstrações de
ser um infrator contumaz e com personalidade voltada à prática
delitiva. 2. Conforme a jurisprudência desta Corte, ‘o
reconhecimento da insignificância material da conduta increpada
ao paciente serviria muito mais como um deletério incentivo o
cometimento de novos delitos do que propriamente uma
injustificada mobilização do Poder Judiciário’ (HABEAS
CORPUS N° 101998, BRASIL. STF. 2010).
3.2. COORELAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E A
TIPICIDADE CONGLOBANTE
A questão da tipicidade conglobante, visa não criar normas que se contradigam,
pois isso acarretaria em uma exclusão do fato típico, para proteger Estado de Direito, já
que no formato do conceito formal o que não está em norma não seria tipificado, por
isso, ao evitar a criação de normas desnecessárias que sobrecarreguem o Direito Penal
utiliza-se do princípio da insignificância, que dará as devidas providencias de acordo
com outras áreas do Estado de Direito excluindo a tipicidade penal, e facilitando a
eficiência da justiça brasileira. O Direito não tem que deixar de seguir a doutrina, ao
contrário, ele tem a obrigação de segui-la, mas a possibilidade de aplicação da
insignificância é o direcionamento e a adequação desse ordenamento jurídico de acordo
com a realidade e a vida real.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tipicidade conglobante de Zaffaroni objetiva a não sobrecarga do Direito
Penal, já que não pode existir uma norma proibitiva e outra permissiva sobre o mesmo
tema, essa tipicidade considera apenas as normas que já existem e são de acordo com os
valores e princípios da sociedade, adaptados para um Estado de Direito eficiente, onde a
realidade social é levada em conta e evita a criação de normas com caráter punitivo,
utilizando de um dispositivo penal chamado princípio da insignificância que tutela atos
insignificantes juridicamente para o Direito Penal, e trata dessas condutas com a
razoabilidade e a proporcionalidade necessária para continuar praticando a justiça
dentro do âmbito nacional sem fugir do ordenamento jurídico.
REFERÊNCIAS
ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal
brasileiro: volume 1: parte geral – 9. ed. Ver. E atual. – São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011, p. 393-401
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4962/O-principio-da-insignificancia-no-Dir
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20de,valor%20de%20maneira%20menos%20intensa.
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.
ZAFFARONI, Eugênio Raúl; Alejandro Slokar; Alejandro Alagia. Direito penal
brasileiro II: segundo volume – teoria do delito, Rio de Janeiro: Revan)
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4962/O-principio-da-insignificancia-no-Direito-Penal#:~:text=Introdu%C3%A7%C3%A3o-,O%20princ%C3%ADpio%20da%20insignific%C3%A2ncia%20pode%20ser%20considerado%20uma%20esp%C3%A9cie%20de,valor%20de%20maneira%20menos%20intensa
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http://iccs.com.br/dos-principios-constitucionais-penais-rodrigo-otavio-dos-reis-chediak/
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