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1 Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 Emerson José de Almeida Faculdade Anhanguera Educacional eja.legal@bol.com.br INSERÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO. Caso de sucesso em São Sebastião, SP. RESUMO No terceiro milênio, as pessoas com deficiência começam a ga- nhar espaço no mercado de trabalho. Sob a ótica da diversidade humana, aceitar a limitação destas pessoas é ainda ato de com- paixão, pena ou sentimento de dó. Um equívoco! São pessoas que vislumbram o sucesso de uma carreira, sonham com melhores condições de vida e lutam. Mas o que as impedem de serem su- cedidas? Diante a este questionamento, desenvolveu-se este estu- do de caso, envolvendo o Posto de Gasolina da Praia das Cigar- ras, em São Sebastião, Litoral Norte Paulista. Nesta empresa, a missão é oferecer melhor condição de vida ao ser humano não importando com as suas limitações. Ao contrário da Lei de Cotas, a gestão empresarial desta instituição, objeto de estudo, adotou como inserção 50%+1 de pessoas. Observa-se nesta empresa que a inserção já é prática, entretanto, as diversas barreiras são obstácu- los para o trabalho como qualquer outro. No atual cenário de li- mitações, com constrangimentos e tarefas incompatíveis, em que a exclusão ainda domina, deve-se seguir este exemplo de sucesso e responsabilidade social liderado por Marcelo Sobrinho. Palavras-chave: Mercado de trabalho. Pessoa com deficiência. Respo- sabilidade social. ABSTRACT In the third millennium, people with disabilities start to get space in the labor market. From the perspective of human diversity, accepting the limitation of these people is still an act of compas- sion, pity or feeling sorry. It’s a mistake! These are people who envision a successful career, dream of a better life and struggle. But that prevent them from being unassigned? Faced with this challenge, we developed this case study, involving the Gas Stati- on Beach of Cicadas in São Sebastião, São Paulo North Coast. This company's mission is to provide better living condition to hu- mans not caring about their limitations. Unlike the Quota Law, the corporate management of the institution, subject of study, adopted as insert 50% +1 of people. It is observed that this com- pany is now entering practice, however, several barriers are obs- tacles to work like any other. In today's limitations, constraints and incompatible tasks, in which the exclusion still dominates, one should follow this example of success and social responsibil- ity led by Marcelo Sobrinho. Keywords: Job Market, Person with disabilities, Social responsibility. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 15/02/2013 Avaliado em: 15/02/2013 Inserção da Pessoa com Deficiência no mercado de trabalho: caso de sucesso em São Sebastião, SP. Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 2 1. INTRODUÇÃO Abordar a pessoa com deficiência (PCD) e os desafios organizacionais é um assunto polêmico sob a ótica gerencial. Segundo Sassaki (1997), essas pessoas, em comparação as demais, apresentam habilidade significativamente superior, podendo até se destacar. Em contrapartida, geri-las ainda é um tabu para os gestores empresa- riais, os quais, muitas vezes, não estão preparados para lidar com PCD. Alguns patamares conquistados como a visibilidade social e a empregabilida- de proporcionaram a inserção da PCD no competitivo mercado de trabalho (BUSCAGLIA, 1993). Mas, como fica a inserção da PCD no ambiente laboral? Como prepará-los para assumirem cargos de linha de frente (serviços front of) – alto contato com o cliente – e de liderança? O relacionamento interpessoal é determinante para a adaptação da PCD, o que depende do acolhimento no ambiente laboral. Todo homem é um ser humano por questões biológicas, porém, só será considerado ser pessoa se respeito ao próxi- mo (MORIN, 2003). Diante desta conjuntura, o objetivo é conscientizar a sociedade acerca dos obs- táculos enfrentados na inserção de PCD e na gestão empresarial. 2. REVISÃO DE LITERATURA No conjunto da diversidade humana pode-se encontrar parcela de pessoas que possuem algum tipo de deficiência. É um subconjunto que enfrenta a exclusão e como consequência sofre com esta rejeição. É um absurdo este desprezo. Sob esta rea- lidade, as pessoas em geral devem tratar esta questão com outros olhos, inclusive os gestores e políticos. A PCD vislumbra com melhores condições de vida mas enquanto houver favorecidos ou privilegiados este desejo não será realizado. 2.1. Taxonomia das deficiências humanas O ser humano por meio do seu comportamento aceita ou até mesmo rejeita uma PCD, visto talvez que não conhece ou não dá importância às limitações humanas. Este cenário com a falta de humanização é obstáculo que as PCD enfrentam (DAFT, 2005; MORIN, 2003). A tabela 1 conceitua os tipos de deficiência. Emerson José de Almeida Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 3 Tabela 1. Taxonomia das deficiências humanas. TIPOS DE DEFICIÊNCIAS DESCRIÇÃO Intelectual (DI) Funcionamento intelectual geral abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimen- to. Concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas ou da capacidade de responder adequadamente à demanda da sociedade em comunica- ção, cuidado pessoal, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, inde- pendência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho. Sempre se manifesta antes dos 18 anos. Visual (DV) A acuidade visual, que pode ser parcial, atingindo o porcentual de visão (subnormal) ou até mesmo total (cegueira), é derivada de fatores genéticos e anormais. Ambas podem ser desenvolvidas no decorrer da vida ou no nascimento. Auditiva (DA) O déficit da capacidade de ouvir, que pode ser total ou parcial, e congênita ou adquirida, afeta a fala da PCD, visto que uma deficiência acarreta a outra. De acordo com os diferentes graus da perda da audição, classifica-se a surdez em leve, moderada, severa e grave. Física (PCD) Resultante do comprometimento ou da incapacidade que limita ou impede o desempenho motor. Decorrente de lesões neurológicas, neuromusculares, ortopédicas ou de má formação congênita ou adquirida: Sensoriais: acomete em algum órgão dos sentidos, mais especificamente o da visão e o da audição. Não sensoriais: alterações completas ou parciais de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física. Múltipla (DM) Associação de duas ou mais deficiências primárias (física, visual, auditiva, intelectual) com comprometimentos que acarretam déficit no comprometimento global na capacidade adaptativa de condutas típicas ou altas habilidades. Fonte: Adaptado de Berch e Machado, 2007; Cavalcanti, 2006; Costa, 2000; DMS-IV, 1995; Fonseca, 1996; Honora e Frizano, 2008; Mantoan, 1989; Sassa ki, 1997. 2.2. Incentivos para a PCD De acordo com a Declaração de Salamanca, o ensino de qualidade também deveria ser ofertado para a PCD e em sua modalidade trazer programa de orientação para assim evitar a rejeição no ambiente de aprendizado. Inserção da Pessoa com Deficiência no mercado de trabalho: caso de sucesso em São Sebastião, SP. Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 4 Assim, a PCD poderia ter oportunidade no mercado de trabalho cabendo aos gestores e proprietários a tarefa de abrir portas e incluir estas pessoas na empresa. 53. Jovens com necessidades educacionais especiais deveriam ser auxiliados no sentido de realizarem uma transição efetiva da escola para o trabalho. Escolas deveriam auxiliá-los a se tornarem economicamente ativos e provê- los com as habilidades necessárias ao cotidianode vida, oferecendo treina- mento em habilidades que correspondam às demandas sociais e de comu- nicação e às expectativas da vida adulta. Isto implica em tecnologias ade- quadas de treinamento, incluindo experiências diretas em situações da vida real, fora da escola. [...] Tal atividade deveria ser levada a cabo com o en- volvimento ativo de aconselhadores vocacionais, oficinas de trabalho, asso- ciações de profissionais, autoridades locais e os respectivos serviços e agen- cias (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1984) Outro aspecto importante é a família que deve participar ativamente na for- mação de seu filho, como acompanhamento no desenvolvimento, por meio de ativi- dades e parcerias. 55. Pessoas com deficiências deveriam receber atenção especial quanto ao desenvolvimento e implantação de programas de educação de adultos e de estudos posteriores. Pessoas com deficiências deveriam receber prioridade de acesso a tais programas. Cursos especiais também poderiam ser no sen- tido de atenderem às necessidades e condições de diferentes grupos de a- dultos com deficiência (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1984) A divulgação por meio da mídia também é importante para assim chamar a atenção dos empregadores quanto a importância da PCD em atividades dentro de uma organização. 67. A mídia possui função fundamental na promoção de atitudes positivas frente à integração de pessoas com deficiência na sociedade. Superando preconceitos e má informação, e difundindo um maior otimismo e imagina- ção sobre as capacidades das pessoas com deficiência. A mídia também po- de promover atitudes positivas em empregadores com relação ao emprego de pessoas com deficiência. A mídia deveria acostumar-se a informar o pú- blico a respeito de novas abordagens em educação, particularmente no que diz respeito à provisão em educação especial nas escolas regulares, pela popularização de exemplos de boa prática e experiências bem sucedidas (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1984) O alicerce da vida, sob o contexto da Conferencia de Jomtiem, trata da educa- ção como a maneira de transformar o homem me pessoas capazes de escolherem ca- Emerson José de Almeida Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 5 minhos. É uma luta constante e para que esta transformação aconteça, a Educação de- ve estar à disposição de todos, adequada aos diferentes tipos de ensino. (JOMTIEN, 1990). 2.3. Inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho No Terceiro Milênio, o conhecimento é a ferramenta que traz vantagens no ambiente empresarial, por meio das pessoas que ao longo de anos enriquecem de in- formações e experiências adquiridas no meio em que estão inseridas. Sob a visão de Edgar Morin, a convivência em sociedade é direito da PCD, juntamente com a educa- ção (MORIN, 2000). Sob este contexto, o desenvolvimento das pessoas, que relacionam entre si a todo o momento é muito importante para a sua adaptação, tanto no ambiente educa- cional quanto ao laboral. (DAFT, 2005) E com tanta tecnologia, esta relação com as pessoas está se estreitando devido à comodidade virtual, causando um cenário de violência, injustiça, desamor entre ou- tros. Isto tudo faz com que as pessoas se afastem umas das outras. Parece que esta si- tuação se tornou normal, segundo Moscovici (2000). Mesmo com tanta dificuldade, alguns avanços já podem ser observados no cenário da PCD que já executam tarefas profissionais de maneira majestosa, estudam, se especializam e transformam suas vidas nas mais diversas áreas das organizações desempenhando funções e galgando mais seu espaço. (BUSCAGLIA, 1993). Para conseguir um emprego ou se manter empregada a PCD assim como qualquer outro profissional deve se qualificar e superar as expectativas organizacio- nais propostas. À luz da teoria de Chiavenato (2004), a pessoa precisa se enquadrar nas exigências para o cargo, passar no processo seletivo e se mostrar apto para a reali- zação das tarefas. 3. MÉTODO O estudo de caso foi realizado no Posto de Gasolina, em São Sebastião, Litoral Norte Paulista. Nesta organização estão inseridas PCD num ambiente de atendimento ao cliente sob a gestão do proprietário Marcelo Sobrinho. Inserção da Pessoa com Deficiência no mercado de trabalho: caso de sucesso em São Sebastião, SP. Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 6 Com o método de abordagem hipotético-dedutiva, confrontou-se a realidade social, caracterizada por meio do procedimento funcionalista sob a evolução do tema juntamente com o estudo de caso para melhor conhecer seis sujeitos da pesquisa. Seguiram-se, os preceitos da Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), mantendo o anonimato dos seis pesquisados (dois do gênero feminino e quatro do gênero masculino, os quais foram nomeados de maneira fictícia por vocábu- los pertinentes ao tema estudado: Superação e Esperança (mulheres) e Respeito, Cora- gem, Liberdade e Desafio (homens). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa indica que grande parte dos sujeitos (n=4) é casada e com filhos (Figura 1). 2 4 0 1 2 3 4 Solteiro Casado Figura 1. Amostra de profissionais com deficiências, referente ao estado civil (n=6). Fonte=autor Os resultados revelam, na figura 2, que o maior desafio destas PCD foi supe- rar os preconceitos sociais (33,6%). 2 1 1 1 1 0 0,5 1 1,5 2 Superar preconceitos Terminar Estudos Trabalhar Voltar a andar Reintegração Figura 2. Amostra de profissionais com deficiências, referente ao maior desafio da vida (n=6). Fonte=autor Emerson José de Almeida Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 7 Dentre as respostas apresentadas quanto ao conhecimento de inclusão digital, 16,66% não tem conhecimento do assunto e a maioria defende que inclusão está dire- tamente ligada com a aceitação das pessoas ou na escola ou no ambiente de trabalho. 5 1 0 2 4 6 sim Não Figura 3. Amostra de profissionais com deficiências sobre o conhecimento de inclusão social (n=6). Fonte=autor Como se pode perceber na próxima figura, 66,64% dos entrevistados apontam que a sociedade faz a inclusão da PCD no meio em que vivem ao contrário do restante que julga o preconceito a grande barreira para que isto de fato aconteça. 4 2 0 1 2 3 4 Sim Não Figura 4. Amostra de profissionais com deficiências referente a prática da inclusão da (n=6). Fonte=autor É bem explícito que as pessoas traçam objetivos na vida, que almejam melho- res condições de vida e boa colocação profissional. Logo abaixo, a figura representa, de Inserção da Pessoa com Deficiência no mercado de trabalho: caso de sucesso em São Sebastião, SP. Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 8 forma unânime o quanto a oportunidade de emprego contribui para o projeto de vida das pessoas. 6 00 2 4 6 Sim Não Figura 5. Percepção da amostra de profissionais com deficiências referente à oportunidade de emprego como realização pessoal e profissional (n=6). Fonte=autor Dentre PCD que fizeram parte da amostra, encontram-se pais e mães, jovens diferentes que vivenciaram obstáculos para a inserção no trabalho. Em relato, Esperança, muito emocionada, conta que antes conseguir oportu- nidade laboral, a vida era repleta de amarguras. Um das limitações era mobilidade porque as condições não eram favoráveis para a compra de um equipamento para se locomover – a cadeira de rodas transformaria a vida. Em casa, a movimentação era fei- ta sem auxilio de equipamentos. Arrastar-se pela casa, foi a única maneira de atender ao papel de mãe e esposa. Moça jovem, nunca havia se preocupado com beleza e tão pouco pela vaidade. Eis que surge uma interseção. Marcelo Sobrinho, ao tomar conhecimento do assunto, providenciou-lhe uma cadeira de rodas e já a contratou para trabalho no Posto de Gasolina. A partir desta in- serção laboral, nascia uma nova mulher – trabalhar trouxe-lhe efetividade.Dois casos dos colaboradores com deficiência são destacados devido às situa- ções distintas. Em uma delas, a deficiência adquirida atingiu os membros inferiores, impedindo Superação de andar. Casada e com filhos enfrenta a sociedade movida de preconceitos não foi a- gradável para Superação que comenta “a visão que se tem de uma pessoa com cadeira de rodas é de muita dificuldade”. Entretanto, o carinho dos familiares a fortalece para encarar limitações. Emerson José de Almeida Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 9 Ao contrário de Superação, a realidade de Desafio é diferente. A deficiência congênita atingiu o crescimento. Diz Desafio, “imagine um homem de baixa estatura casado com uma mulher de padrão normal, o que se enfrenta?”. O Posto de Gasolina analisado neste estudo de caso está localizado na Praia das Cigarras, em São Sebastião no Litoral Norte Paulista. Sob a direção de Marcelo So- brinho, esta empresa visa melhor condição de vida favorável ao ser humano não im- portando com as limitações. O jovem empreendedor abraçou a causa após abandonar a vida de luxo, ri- queza e status na Capital Paulista para se dedicar ao trabalho social. A ideia era inte- grar PCD em atendimento ao cliente – serviços front of, adotando como inserção 50%+1 de PCD, ação condizente com a missão corporativa. O trabalho não foi nada fácil, porque este empreendedor não teve preparação para receber PCD, as quais são seres humanos que vislumbram por melhores condi- ções de vida, que lutam por ideais próprios e buscam pela felicidade, como dito por Marcelo Sobrinho. Um dos questionamentos feitos ao empreendedor foi: Como os demais cola- boradores aceitaram estas condições? Marcelo Sobrinho respondeu que aos poucos conseguiu diminuir a distancia entre elas, que, hoje, são frutos do sucesso do negócio. A clientela do Posto de Gasolina, num fluxo intenso diariamente, é atraída pelo bom atendimento prestado por PCD. A gestão destas pessoas tem a ajuda da gerente do Posto de Gasolina que a- grega valor trabalho de inserção no mercado de trabalho. Baseando-se nos axiomas de Daft (2005), talvez a maior vantagem da inclusão no trabalho seja a autoestima e a realização, como comprovado pela atitude de Marce- lo Sobrinho, proprietário do Posto de Gasolina, objeto deste estudo, que com atitude e boa vontade para a dignidade de PCD que não tinham perspectiva. À luz da teoria de Cordeiro (2009), a atitude deste empreendedor condiz com a relação entre a noção de participação e igualdade. É a inserção de PCD na sociedade com participação e se vale dos direitos. Os maiores desafios destas pessoas são os preconceitos sofridos diariamente na sociedade e no mercado de trabalho. Os empregadores não dão oportunidades para que ingres- sem numa carreira profissional com o medo de não conseguir atingir as metas e obje- tivos corporativos. Inserção da Pessoa com Deficiência no mercado de trabalho: caso de sucesso em São Sebastião, SP. Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 10 Um equívoco, uma vez que o caso apresentado é reflexo de sucesso no Estado de São Paulo. O diferencial para este auge implica, na visão do gestor, a abordagem com os subordinados. Marcelo Sobrinho enfatizou no depoimento que todos os cola- boradores têm tratamento de igual. O time do Posto de Gasolina, objeto de estudo, não tem separação, e sim, um todo que contribui para os bons resultados organizacionais. Ao abraçar a causa de in- serção de PCD no mercado de trabalho, Marcelo Sobrinho possibilita a transformação da vida de PCD, por meio de autonomia e dignidade. Mas, quem seguirá o modelo de Marcelo Sobrinho? A sociedade inclusiva de- ve propiciar condições de trabalho para todos os sujeitos dela pertencentes, não admi- tindo preconceitos, discriminações, barreiras sociais, culturais ou pessoais. Advoga Violante e Leite (2011), a inclusão da PCD deve, inicialmente, reco- nhecer as necessidades individuais próprias da condição de cada individuo e, então, possibilitar o acesso a todas as instâncias do desenvolvimento social. E neste cenário, é desafio para o gestor lidar com estas pessoas. No ambiente em que elas estão inseridas, o gerente se depara com profissionais ditos normais e também da PCD. Lidar com as diferenças não é tarefa fácil e para que o ambiente laboral, no Posto de Gasolina obtivesse resultado favorável, o relacionamento interpessoal foi a fortaleza. O acolhimento constitui etapa primordial do processo de trabalho, favorecen- do a dinâmica dos processos e os critérios de acessibilidade, como apontado por Trad e Esperidião (2010). Sob a perspectiva da Gestão de Pessoas, os empecilhos do trabalho com a PCD, como mobilidade humana, adequação das bombas de combustíveis e acessibili- dade não foram fatores para interferência no Posto de Gasolina analisado. Lidar com estas pessoas, conhecendo e respeitando a limitação de cada uma, contribui para um relacionamento de igual para igual e também não gerar sentimento de compaixão. Atualmente, são tantas informações, propagandas, Lei de Cotas, dentre ou- tras. Isto significa que o assunto é de conhecimento comum (BRASIL, 1991). Todavia, é Emerson José de Almeida Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 11 fácil olhar com indiferença, o difícil é se colocar no lugar do outro. Por isso, a filosofia faz a distinção de ser humano e ser pessoa, como fundamentado por Morin (2003). Nesse contexto, indaga-se: porque ainda há empresas que apenas cumprem com a Lei de Cotas? Certamente algo não é de conformidade como se deveria. Ter uma PCD inserida em um quadro de colaboradores significa aumento nos custos organiza- cionais. Nem todas estão dispostas a adequar o ambiente para a necessidade destas pessoas. A priori, as organizações necessitam de um capital pensante para atingir os objetivos. A intelectualidade é um ativo muito valioso na empresa, mas nem todas es- tão dispostas a dar oportunidades para a pessoa com deficiência. Não se entende o que impede a deficiência de contribuir com os objetivos empresariais. A deficiência não é motivo para sentimento de pena e sim um desafio. Embo- ra, existam cotas, a concorrência por uma vaga é grande já que poucos empregadores que se dispõem a acolher profissionais com deficiências. Em alguns casos, revela Bus- caglia (1993), é perceptível a PCD ser a última a ser contratada, mediante a exigências incabíveis, relativas à mínima deficiência perceptível e é também o primeiro a ser de- mitido, sem falar na faixa salarial, que é em média, menor que a dos demais colegas de profissão. Sob os pensamentos de Carvalho-Freitas e Marques (2010), a diversidade humana deve, por início, praticar a inserção, porque aceitar esta diferença na socieda- de contribuirá futuramente para o desenvolvimento pessoal de este ser humano. Momento que se deixa de lado o Governo e as Empresas Públicas e Privadas para tratar a inserção como competência social, visto que estes órgãos podem propici- ar apenas incentivos para que a prática assertiva da inserção seja disseminada pela população, mas, a responsabilidade é de cada cidadão. Inserção da Pessoa com Deficiência no mercado de trabalho: caso de sucesso em São Sebastião, SP. Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 12 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo de caso é relevante para a relação de desafios enfrentados por PCD e gestor empresarial, haja vista que a inserção no mercado de trabalho já é práti- ca, entretanto as diversas barreiras são obstáculos constantes perante limitações que geram constrangimentos, tarefas incompatíveis. Contudo, um novo horizonte é traçado na vida da PCD, por meio do magní- fico trabalho de Marcelo Sobrinho, proprietário do Posto de Gasolina na Praia das Ci- garras, em São Sebastião, SP, ao abrir as portas para acolher PCD e lhes propiciar a dignidade do trabalho. Recomenda-se,aos gestores que o modelo de inserção de PCD ao mercado de trabalho aplicado por este jovem empreendedor deveria ser disseminado às demais empresas, as quais, simplesmente, faz cumprir a Lei de Cotas e nem sempre a Lei de Acessibilidade por equívocos rotineiros em práticas de gestão de pessoas. Àqueles que lidam com a deficiência sugere-se a interação sobre o assunto. Inserir não é apenas empregar a PCD, mas, oferecer-lhe acolhimento e acessibilidade, integração aos demais colaboradores, subsídios para que permaneça na organização e que possa construir a carreira profissional como qualquer ser humano. AGRADECIMENTOS Agradeço este trabalho a Deus, que acolhe a qualquer condição humana e que nos concede forças para lutar com a exclusão. Agradeço toda minha família pelo apoio e confiança. Agradeço o Diretor Executivo Giuliani Paulini Garbi pelo comando desta u- nidade e os professores que contribuíram para este trabalho seja por sua orientação quanto pela disseminação do conhecimento. Agradeço mais uma vez ao proprietário do posto de gasolina SOLIDAR, Mar- celo Sobrinho Pirez pelo sucesso do seu trabalho. Agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente neste artigo. Emerson José de Almeida Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 13 REFERÊNCIAS BERSH, R.; MACHADO, R. Conhecendo o aluno com deficiência física. In: BRASIL. Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria da Educação Especial. BRASIL. Lei de cotas nº 8213, de 24 de julho de 1991, dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. 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Emerson José de Almeida Pós graduando no MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela Anhanguera Educacional de São José dos Campos Bacharel em Administração de Empresas pela Anhanguera Educacional de São José dos Campos Participante no INIC UNIVAP em 2011, com o trabalho intitulado: Inserção da Pessoa com deficiência no mercado de trabalho: vislumbrando a prática da efetividade. Professor no Colégio técnico e médio Joseense Emerson José de Almeida Inserção Vol. I, Nº. 1, Ano 2013 p. 1-15 15 Professor no Colégio técnico Opção Professor na Ecompo Contato: 12 - 91791075