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História do Brasil Colônia América Pré-Colombiana Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Anderson Luis Venâncio Revisão Textual: Profa. Esp.Vera Lídia de Sá Cicarone 5 • Introdução • As Origens • Expansão Ultramarina Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. · Nesta unidade, vamos aprofundar um pouco mais nossos conhecimentos sobre a América pré-colombiana, e focaremos bastante na situação do Brasil pré-Cabral. Assim, vamos expor - brevemente – o que a historiografia convencionou chamar de “Grandes Navegações”. América Pré-Colombiana 6 Unidade: América Pré-Colombiana Contextualização A antropofagia é um tema recorrente quando tratamos do passado do pré cabralino do Brasil. Aqui você encontra um uma gravura interessante sobre os rituais antropofágicos. Fonte: Wikimedia Commons 7 Introdução ‘ Quem foram os primeiros habitantes que os portugueses encontraram ao desembarcarem em terras americanas? Essa reflexão é importante na medida em que esses foram os principais atingidos pelo movimento de expansão europeia do século XVI. Sendo assim, antes de prosseguirmos com a temática das grandes navegações, convém dedicarmos um pouco de nossa atenção ao exame do Brasil pré-cabralino. Estima-se que o atual Brasil já fosse ocupado há, pelo menos, 10.0000 anos. Os arqueólogos ainda não chegaram a um consenso sobre essa datação nem mesmo sobre o número total de habitantes que ocupavam estas terras antes de os europeus aqui chegarem. Estimativas apontam um número próximo a 5 milhões de habitantes, mas devemos ressaltar que tais dados não são exatos, variando esse número e a data de acordo com o pesquisador e o método adotado por ele. Costuma-se dividir as populações silvícolas de acordo com o tronco linguístico. O termo silvícola é o correto para se designar os primeiros habitantes da América. A palavra “índio” vem de um engano praticado por Colombo, que, ao chegar à América, acreditava estar nas Índias, daí ter chamado os habitantes do local de índios. Para nosso estudo, vamos nos ater ao grupo que primeiro conviveu com os portugueses, ou seja, o grupo tupi. Tal grupo adotou uma atitude amistosa em relação aos conquistadores. Estes, ao perceberem que eles falavam entre si línguas parecidas e tinham certos hábitos semelhantes, chamaram os silvícolas de tupis. Os portugueses não sabiam, no entanto, que os tupis não eram um só grupo, mas englobavam numerosos povos com grande diversidade cultural e religiosa. Foi exatamente com esses indígenas do litoral que os portugueses mantiveram maior contato e aprenderam as primeiras regras de sobrevivência no continente que, então, começavam a explorar. No interior do território, viviam também diversos outros povos, chamados pelos conquistadores de tapuias. Estes eram mais hostis, falavam uma língua difícil de ser compreendida e rejeitavam qualquer tipo de aproximação. Por isso, o contato que os portugueses mantiveram com eles foi bem menor. Fonte: Kyle Simourd/Wikimedia Common Fonte: Wikimedia Common 8 Unidade: América Pré-Colombiana As Origens Existem diferentes explicações para a procedência dos tupis que povoaram extensas regiões da América conquistadas pelos portugueses. No início do primeiro milênio a.C., provavelmente, eles habitavam o sudoeste da Amazônia, entre os atuais territórios de Rondônia, da Amazônia e da Bolívia. Daí teriam iniciado um lento movimento migratório em várias direções. Outra versão dos estudiosos sugere que os tupis eram, possivelmente, originários dos contrafortes dos Andes ou do planalto do trecho médio dos rios Paraguai e Paraná, de onde se deslocaram para o litoral atlântico, seguindo para o norte. Sabe-se, porém, que eles englobavam vários povos, como os tupinambás, os tamoios, os tabajaras, os carijós, os potiguaras e os guaranis, estes nas regiões meridionais. Os tupis organizavam-se em tribos compostas de unidades menores, as aldeias, que mantinham entre si interesses comuns. Nas aldeias, havia, normalmente, de 500 a 600 pessoas, que viviam em grandes habitações ou malocas coletivas, cuja estrutura de madeira recebia uma cobertura de folhas de palmeira. Em geral, o número de habitações variava de 4 a 7 por aldeia, cada uma delas abrigando um grande grupo familiar. A poligamia era prática comum entre os chefes e os guerreiros mais destacados. A divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. As mulheres, além dos afazeres domésticos, ocupavam-se da agricultura e colaboravam na pesca. Encarregavam-se da preparação do cauim – bebida fermentada à base de mandioca – e de muitas atividades artesanais, como tecer redes, trançar cestos, fazer tapetes etc. Além da derrubada da mata e da preparação da terra para o plantio, os homens ocupavam-se da caça, da pesca e do fabrico de canoas, armas de guerra e instrumentos de trabalho. Deviam erguer as habitações, defender a aldeia, tomar parte na guerra e executar os prisioneiros nos casos em que a tribo praticava a antropofagia. Também eram os homens que exerciam a função de curandeiros. As crianças ajudavam os pais em algumas atividades e realizavam tarefas correspondentes à sua idade, como cuidar dos irmãos menores ou espantar os pássaros das plantações no período que antecedia a colheita. Organização Econômica e Formas de Poder Os tupis viviam da coleta, da caça e da pesca, dominavam a fabricação de cerâmica e praticavam uma agricultura rudimentar. Essas atividades implicavam a exploração dos recursos do meio ocupado por eles até o esgotamento. Por isso, de tempos em tempos (geralmente de três a cinco anos), os grupos indígenas eram forçados a se deslocar para outra região em busca de melhores condições de vida. Cerâmica produzida por antigas sociedades complexas que viviam na região da Santarém, no Pará. Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. A agricultura era uma atividade predominantemente feminina, excetuando-se a derrubada das árvores e a preparação da terra para o plantio, tarefa que cabia aos homens da tribo. A limpeza do terreno era feita por meio da queimada, prática denominada Fonte: Wikimedia Commons 9 coivara, que, mais tarde, seria adotada também pelos colonizadores. Os principais produtos da lavoura indígena eram a mandioca, o milho e a batata-doce. Mas sua dieta alimentar, variando de uma região para outra, incluía feijão, amendoim, pimenta, caju, banana e outros vegetais. Os tupis não conheciam os metais. Em certas atividades, usavam machados de pedra e utensílios de madeira, de dentes, conchas etc. Suas armas de guerra eram marcos, flechas, lanças e escudos feitos de madeira. Alguns povos faziam uso da zarabatana, um tubo longo por meio do qual disparavam dardos envenenados. Para obter fogo, friccionavam uma peça de madeira dura contra outra, mais macia. Construíam suas canoas com troncos ou cascas de árvores e não utilizavam nenhum animal para transporte ou tração. Segundo o historiador Júlio César Melatti, a maior unidade política entre os tupis consistia na aldeia. Cada aldeia era politicamente independente, só reconhecendo a autoridade de seu chefe. Por isso, às vezes ocorriam conflitos armados entre aldeias de uma mesma tribo. Toda aldeia tinha um chefe, geralmente chamado de morubixaba. Para desempenhar essa função, os membros da comunidade escolhiam quem tivesse uma grande parentela e revelasse coragem, ponderação e dotes oratórios, entre outras qualidades. Nos períodos de normalidade, o chefe tinha poucas atribuições, mas, durante as guerras, esperava-se que demonstrasse valentia e capacidade de comando, sob pena de ser afastado da função. No entanto, o poder político não estava concentrado no morubixaba. Na verdade, a instituição política mais importante entre os tupis consistia no “conselho dos principais”, formadopelos chefes das grandes famílias e pelos homens mais respeitados da aldeia, como os guerreiros. Esse conselho tomava as principais decisões, como a mudança de seu povo para outro território, as estratégias empregadas em caso de guerra e definição de alianças com outros grupos. O processo de escolha do chefe e de determinação de suas obrigações variava de um grupo para outro. Mas um aspecto era comum às diversas sociedades indígenas: a condição de chefes não lhe conferia privilégios. O Cotidiano Religioso Do ponto de vista religioso, os tupis tinham crenças que combinavam traços do animismo e do politeísmo. Acreditavam, por exemplo, que, além do ser humano, todos os outros seres da natureza – como árvores, animais etc. – também eram dotados de alma. Adoravam alguns deuses, como Tupã, identificado com o raio e com o trovão, e cultuavam heróis ou antepassados remotos, em torno dos quais criaram mitos ou narrativas fantásticas. Um cronista europeu do século XVI, André Thevet, assim registrou o mito de Monan, um ancestral heroico dos tupinambás do Rio de Janeiro: “Dizem que ele não teve começo nem fim, existindo o tempo todo, e que foi ele que criou o céu, a Terra e as aves e animais que estão neles”. Os tupis acreditavam na existência da vida após a morte e na reencarnação; temiam os gênios, os demônios e os espíritos dos mortos causadores de catástrofes, que precisavam ser apaziguados por meio de oferendas. O pajé, ou xamã, espécie de mago e sacerdote, presidia as cerimônias e era capaz de entrar em contato com forças invisíveis, adivinhar o futuro e curar as doenças. 10 Unidade: América Pré-Colombiana Fonte: Victor/Wikimedia Commons É impossível saber, hoje, com precisão, quantos índios havia no Brasil por ocasião da chegada dos portugueses. As estimativas variam de um milhão a seis milhões. Uma coisa, porém é certa: seja qual for esse número, ele baixou continuamente até chegar a cerca de 70 ou 80 mil, em 1957, conforme cálculos do antropólogo Darcy Ribeiro. Nas últimas décadas do século XX, a população indígena voltou a crescer, aproximando-se, hoje, de 345 mil pessoas. Expansão Ultramarina Podemos afirmar que a expansão ultramarina europeia contribuiu para o processo de intensificação da revolução comercial que caracterizou os séculos XV, XVI e XVII. Por meio das grandes navegações, regiões antes inexploradas passaram a ser alvo da cobiça dos Estados absolutistas. A revolução comercial foi o resultado da falência dos valores feudais, bem como do próprio renascimento cultural e urbano. Apenas os Estados efetivamente centralizados tinham condições de levar adiante tal empreendimento, dada a necessidade de um grande investimento e, principalmente, de uma figura que atuasse como coordenador – no caso, o rei. Nisso também, a participação da burguesia era mais que necessária. Cabiam a esse grupo a vanguarda dos investimentos e o próprio processo de modernização que estava em curso. Além de formar um acúmulo prévio de capitais, pela cobrança direta de impostos, o rei disciplinava os investimentos da burguesia, canalizando-os para esse grande empreendimento de caráter estatal, que se tornou um instrumento de riqueza e poder para as monarquias absolutas. 11 Portugal – O Gigante dos Mares A primeira pergunta que passa pela cabeça de qualquer estudante é: por que coube a Portugal o pioneirismo na conquista ultramar? Estamos acostumados com a ideia de supremacia inglesa ou estadunidense, mas raramente pensaríamos que um Estado tão minúsculo e aparentemente frágil, como Portugal, poderia fazer tanto. A verdade é que os lusitanos reuniram uma série de vantagens que lhes permitiram a supremacia durante quase um século no Atlântico. Esses fatores são: precoce centralização política; domínio das técnicas de navegação – muito se fala da “Escola de Sagres”, local onde se reuniam muitos navegadores que, provavelmente, trocavam experiências entre si – recursos financeiros e posição geográfica muito confortável em relação ao Mediterrâneo e ao Atlântico. Outro elemento que muito contribuiu para o sucesso nessa empreitada foi o uso da caravela. Esta possuía um casco estreito e fundo, que lhe dava uma grande estabilidade. Por baixo do convés havia um espaço que servia para transportar os mantimentos, entretanto a grande novidade desse navio foi a utilização das velas triangulares em mar aberto, as quais permitiam que a caravela avançasse com grande mobilidade, mesmo com ventos contrários. As caravelas não possuíam os mesmos tamanhos; as pequenas levavam entre vinte e cinco e trinta homens e as maiores chegavam a levar mais de cem homens a bordo. Você Sabia ? A caravela foi aperfeiçoada durante os séculos XV e XVI. Admitia, inicialmente, pouco mais de 20 tripulantes. Era uma embarcação rápida, de fácil manobra, daí sua popularidade na época. Os objetivos dessa expansão eram claros: obter metais preciosos, ampliar os mercados consumidores, conseguir uma nova rota para o lucrativo comércio de especiarias, ampliar as terras da Coroa e, claro, levar novos fiéis para a Igreja Católica. A Espanha Com a entrada da Espanha no ciclo das grandes navegações, criou-se uma polêmica, entre essa nação e Portugal, pela posse das terras recém-descobertas na América. Essa questão passou pelo papa, que escreveu a Bula Inter Coetera, segundo a qual as terras da América seriam divididas por uma linha a 100 léguas das Ilhas de Cabo Verde, de modo que Portugal ficaria com as terras orientais e a Espanha ficaria com as terras ocidentais. Portugal ficou insatisfeito e Fonte: Caravela latina (detalhe de pintura, 1520), Museu de Arte Antiga de Lisboa. Crê-se que é a mais fidedigna representação da caravela latina. 12 Unidade: América Pré-Colombiana recorreu ao papa – o resultado foi o Tratado de Tordesilhas. As viagens ibéricas prosseguiram até que a descoberta de ouro na América, pelos espanhóis, aguçou a cobiça de outras nações europeias que procuravam completar seu processo de centralização monárquica. Passaram a contestar o tratado ao mesmo tempo em que tentavam abrir novas rotas para a Ásia através do hemisfério norte e utilizavam a prática da pirataria. Afirmavam, ainda, que a posse da terra descoberta só se concretizava quando a nação a reivindicasse e a ocupasse efetivamente; o princípio do uti possidetis (usucapião). França foi uma das nações que mais utilizou esse pretexto. O “Theatrum Orbis Terrarum” (“Teatro do Globo Terrestre”), de Abraham Ortelius, publicado em 1570 em Antuérpia, considerado o primeiro atlas moderno, resultado das intensas explorações marítimas. Teve 31 edições, em sete idiomas :Latim, holandês (1571), alemão (1572), francês (1572), castelhano (1588), inglês(1606) e italiano (1608) O primeiro europeu a chegar à América foi Cristóvão Colombo. Viajando a serviço da Espanha, o navegador genovês aportou numa ilha do Caribe, que denominou de San Salvador. Eram 12 de outubro de 1492. Em seguida, Colombo explorou outras ilhas da região. Em uma delas, batizada por ele de Hispaniola – Haiti e República Dominicana atuais –, fundou uma fortaleza. Assim tinha início a ocupação da América pelos europeus. Já em 1509, o governo de Madri criou o Conselho das Índias, destinado a administrar as colônias espanholas no novo continente. Depois da viagem inaugural de Colombo, outros navegadores espanhóis começaram a chegar à América, entre os quais Vicente Pizón, que, ao que parece, percorreu parte do litoral atual da América do Sul, em janeiro de 1500. Três anos depois, foi a vez de Vasco Nuñes Balboa atravessar o atual istmo do Panamá e deparar-se com o oceano Pacífico. Em 1515, João Dias de Solis encontrou o rio da Prata, ao sul. Mais quatro anos se passaram até que Fernão de Magalhães, um português a serviço da Espanha, e Sebastião d’Elcano dessem início à primeira viagem de circunavegação. 13 Material Complementar Aqui você tem acesso a alguns links que abrem artigos interessantes, capazes de complementarsua formação. Links: • http://www.sohistoria.com.br/ef2/navegacoes/p2.php • http://www.sohistoria.com.br/ef2/astecas/ • http://www.suapesquisa.com/pesquisa/maias.htm • http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/historia-indigena/modos-de- vida-dos-tupinamba-ou-tupis http://www.sohistoria.com.br/ef2/navegacoes/p2.php http://www.sohistoria.com.br/ef2/astecas/ http://www.suapesquisa.com/pesquisa/maias.htm http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/historia-indigena/modos-de-vida-dos-tupinamba-ou-tupis http://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/historia-indigena/modos-de-vida-dos-tupinamba-ou-tupis 14 Unidade: América Pré-Colombiana Referências DIAS, M. N. O descobrimento do Brasil: subsídio para o estudo da integração do Atlântico Sul. São Paulo: Pioneira / Ed. da Univ. de São Paulo, 1967. HELM, M. C. V. Laudo antropológico / povos indígenas da Bacia do Rio Tibagi, Kaingang e Guarani e os projetos das UHS Cebolão e São Jerônimo. [S.I.]. COPEL, 1999. MELLO, W. J. de. História do Brasil. v. 1. São Paulo: Centrais Impressoras Brasileiras Ltda., 1980. MENEZES, M. L. P. Parque indígena do Xingu – a construção de um território estatal. Campinas: Ed. UNICAMP, 2000. POVOS indígenas do alto e médio Rio Negro. Uma introdução à diversidade cultural e ambiental do Noroeste da Amazônia brasileira: mapa-livro. [S.I.]. FOIRN, 2000. POVOS indígenas no sul da Bahia. Posto Indígena Caramuru-Paraguaçu, 1910-1967. [S.I.]. Museu do Índio, 2002. PUNTONI, P. A guerra dos bárbaros. Povos indígenas e a colonização do sertão Nordeste do Brasil – 1650-1720. FAPESP: Hucitec, 2002. TRANSFORMANDO os deuses. Os múltiplos sentidos da conversão entre os povos indígenas no Brasil. FAPESP: Ed. UNICAMP, 1999. 15 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 http://www.cruzeirodosulvirtual.com.br
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