Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO Apresentação do conceito de sociedade contemporânea; do processo de transformação mundial pela Revolução Industrial; da migração dos operários para os centros urbanos na contemporaneidade; das matrizes do pensamento político moderno. PROPÓSITO Apresentar a definição de mundo contemporâneo a partir da consolidação do capitalismo para a compreensão das mudanças econômicas que tanto impactam nossas relações sociais. OBJETIVOS MÓDULO 1 Examinar as condições econômicas e sociais que viabilizaram a Revolução Industrial MÓDULO 2 Descrever as características dos movimentos dos operários urbanos na formação do mundo contemporâneo MÓDULO 3 Reconhecer os fundamentos teóricos do liberalismo e do socialismo como matrizes do pensamento da formação do mundo contemporâneo INTRODUÇÃO A FORMAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO Na escola, nós aprendemos a velha linha do tempo. Ela dizia que depois da Revolução Francesa – em especial a Queda da Bastilha – iniciava-se o período contemporâneo. Na prática, precisamos entender que o criador desse modelo vivia logo após do momento emblemático na França, no seu próprio tempo, na contemporaneidade, e não sabia o que viria depois. Passados alguns anos e muitos estudos, percebemos que houve muito mais do que uma mudança política. Se a Revolução Francesa foi importante, outro evento criaria uma ideia de mundo: a Revolução Industrial. Fonte: wikipedia. Ferro e carvão, William Bell Scott, 1855-1860. Fonte: Hohum. Várias experiências surgiram a partir desse evento: A troca de produtos em larga escala As novas formas de mão de obra Os pensadores que discorreram sobre o funcionamento desse maior e mais complexo mundo financeiro. A Revolução Industrial inaugurou um período de grandes transformações socioeconômicas no mundo moderno. Em um primeiro momento, no século XVIII, ela se concentrava na Inglaterra e na produção industrial de tecidos e algodão, utilizando-se do tear mecânico. A partir do século XIX, a produção em escala industrial alcançou países de diversos continentes – como Estados Unidos, Japão e Bélgica – inserindo a energia elétrica, o motor a vapor, a utilização do aço, dentre outras fontes de energia. Podemos chamar todo esse processo de revolução porque ele possibilitou uma maior produção em menos tempo, aumentando a margem de lucro dos proprietários das máquinas industriais. Além disso, impactou diretamente no crescimento das cidades, na concentração populacional urbana e nas formas de realização do trabalho. A mecanização combinou aperfeiçoamento dos métodos produtivos e avanços tecnológicos. Daí, resultaram a invenção e o desenvolvimento de máquinas industriais capazes de fabricar milhares de produtos ao mesmo tempo. O aperfeiçoamento técnico era aplicado à produção. As novas formas de realização do trabalho tiveram como desdobramento a separação definitiva entre: Capital Representado pelos donos dos meios de produção (instrumentos de trabalho) Trabalho Representado pelos assalariados, eliminando-se a antiga organização corporativa da produção utilizada pelos artesãos Dessa forma, os trabalhadores perdiam a posse das ferramentas e máquinas, passando a trocar sua força de trabalho por um salário. Um dos principais impactos do avanço industrial foi o impulso no processo de urbanização, devido à concentração de indústrias e da grande massa de trabalhadores. A população urbana aumentou rapidamente. EXEMPLO Na Inglaterra, a população urbana deu um salto de 6,5 milhões de habitantes, em 1750, para 27,5 milhões, em 1851. Isso levou ao desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação, sem os quais seria impossível vender produtos industrializados no mercado. Os períodos de 1750 a 1780 e de 1870 a 1880, marcados pelo desenvolvimento da Revolução Industrial, inauguraram, portanto, o advento do capitalismo moderno, o que trouxe transformações profundas nas relações sociais com impacto direto no modo como enxergamos o funcionamento da estrutura social atualmente. MÓDULO 1 Examinar as condições econômicas e sociais que viabilizaram a Revolução Industrial ENTENDENDO A IMPORTÂNCIA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial inaugurou um período de grandes transformações socioeconômicas no mundo moderno. Vamos saber mais sobre isso com o Professor Daniel Pinha. Assista ao vídeo a seguir! A INGLATERRA PRÉ-REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Para melhor compreendermos os fatores que permitiram a eclosão da Revolução Industrial na Inglaterra é importante, inicialmente, retrocedermos no tempo até o século XVII. Podemos dizer que a chamada Revolução Gloriosa, encerrada em 1688, criou as condições para as transformações que viriam a acontecer no século seguinte. Vamos entender essa revolução? REVOLUÇÃO GLORIOSA Conhecida por outros nomes, como Revolução de 1688, foi um acontecimento político anterior à Revolução Industrial (1868-1869). A Inglaterra sempre teve suas bases ligadas ao protestantismo, até a entrada da dinastia Stuart, que seguia os preceitos do catolicismo. Em 1685, o monarca regente era James II, suas políticas favoreciam, obviamente, à sua religião. Portanto, esse período era uma constante ameaça ao protestantismo, não somente para a Inglaterra, mas para toda a Europa. Com a intenção de acabar com essa influência, William II e mais um grupo de nobres ingleses arquitetaram um plano para invadir a Inglaterra. E foi dessa maneira que, em 1689, o atual rei foi destituído, trazendo voz ao parlamento, limitando o poder do rei. Essa revolução serviu de base para o estabelecimento do equilíbrio nas relações políticas e econômicas. Além disso, trouxe várias consequências que ainda podem ser vistas atualmente. Uma delas foi a declaração dos direitos e outra a consolidação do poder burguês na Inglaterra. Resumindo, esse primeiro momento possibilitou uma estabilidade política: as tensões entre rei e parlamento e a criação de uma monarquia constitucional haviam terminado. Com essa estabilidade, a Inglaterra reuniu melhores condições de realização de um crescimento econômico. Isso lhe permitiria acumular os capitais necessários para a Revolução Industrial. VOCÊ SABIA A Revolução Gloriosa reposicionou o papel ocupado pela aristocracia na sociedade inglesa. Diante dos efeitos desse processo revolucionário, esse segmento social passou a desfrutar de apenas uma parte dos privilégios e imunidades legais. A distinção social passou a ser, cada vez mais, prerrogativa garantida pelo critério de riqueza, de sorte que o poder e o prestígio passassem a ser proporcionados por esta. Como ressalta o historiador Eric Hobsbawn, as condições para a industrialização já existiam na Inglaterra do século XVIII ou poderiam ser criadas por ela (HOBSBAWM, 1988, p. 47). De um lado o Estado inglês se fortalecia internamente, como representante de seu empresariado, enquanto que, externamente, impunha dificuldades para o desenvolvimento industrial de outras regiões, fixando a preponderância de seus produtos. Paredes de pedra perto de Gordale Scar, Yorkshire Dales. (Fonte: Wikipedia). Importante ressaltar, nesse contexto, a centralidade da questão da terra. No século XVIII, a terra representava a principal fonte de riqueza para todos os Estados europeus e era dela que a maior parte dos habitantes retirava seus proventos e sua subsistência. As transformações na agricultura, tanto na perspectiva da introdução de inovações tecnológicas como da composição social da população rural, foram pré-condições fundamentais para a existência da Revolução Industrial. COMENTÁRIO Combinado a esse crescimento agrícola, observa-se no contexto inglês um crescimento populacional. A população inglesa aumentara em três milhões de indivíduos de 1700 a 1800, e parte desse crescimento devia-se às transformações ocorridas no campo com a introdução de novas culturas e melhores condições de desenvolvimento da pecuária. Sobre o cercamento de terras e seus impactos para o desenvolvimentoeconômico inglês, Huberman (1986) afirma que ele permitiu melhoramentos nas ferramentas e máquinas usadas na indústria, introduzindo arados, enxadas etc. De efeitos tão danosos aos mais pobres, o cercamento de terras impulsionou melhoramentos na técnica, na ciência e ferramentas agrícolas em larga escala. ESSE DESENVOLVIMENTO TERIA SIDO IMPOSSÍVEL COM OS VELHOS SISTEMAS DE CAMPOS ABERTOS, DE TERRAS COMUNS A TODOS. (HUBERMAN, 1986, p. 160) A prática de cercamento dos campos já era recorrente desde o século XIII. No entanto, é no século XVII que esse procedimento conhece uma intensificação, em função dos enclosure acts, atos legislativos emanados do Parlamento no ano de 1760. O objetivo desses atos era transformar campos abertos em fazendas compactas, em que as novidades científicas e tecnológicas associadas ao sistema agropecuário pudessem gerar mais lucro. A política de cercamento dos campos trouxe como consequência a extinção dos pequenos proprietários e o crescimento dos gentry . GENTRY Era a nobreza da terra providos de grandes propriedades que tinha uma mentalidade burguesa. Eles haviam comprado títulos nobiliárquicos e ocupavam importantes cargos no Parlamento. Em suma, no início do século XVIII a Inglaterra já não contava com resquícios do mundo feudal, direcionando suas atividades agrícolas para uma lógica de mercado. Como explica Eric Hobsbawn: javascript:void(0) ÀS VÉSPERAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL AS ATIVIDADES AGRÍCOLAS ESTAVAM PREDOMINANTEMENTE DIRIGIDAS PARA O MERCADO; AS MANUFATURAS DE HÁ MUITO TINHAM SE DISSEMINADO POR UM INTERIOR NÃO FEUDAL. (HOBSBAWM, 1988, p. 47) Ainda segundo o historiador inglês, a agricultura já estava preparada para desempenhar suas três funções primordiais numa fase pré-industrialização, quais sejam: Aumentar a produtividade de modo a alimentar uma população não agrícola em rápido crescimento. Enviar excedente de recrutas para as cidades e indústrias. Fornecer um mecanismo para o acúmulo de capital, a ser utilizado nos setores mais modernos da economia. FUNDAMENTOS ECONÔMICOS INGLESES Em diálogo com o historiador inglês, podemos afirmar que as condições econômicas inglesas que impulsionaram a Revolução Industrial se relacionam a dois fatores preponderantes: Fonte: portaldoprofessor.mec.gov.br ACUMULAÇÃO DE CAPITAL Cabe ressaltar a importância do direcionamento do campo à produção, a obtenção do lucro sobre os trabalhos realizados e a especialização da produção vocalizada em um produto (como, por exemplo, a lã). Fonte: PopularResistance.org DESENVOLVIMENTO DA MÃO DE OBRA/TRABALHADORES Destacamos a estratégia de expansão da fronteira agrícola, as ações na América do Norte, possibilitadas pelo crescimento das Treze Colônias, além da liberação da força de trabalho no campo para desempenhar formas domésticas de artesanato. As bases para uma sociedade industrial estavam lançadas pela Inglaterra setecentista. Dois avanços ainda eram necessários: Uma indústria capaz de oferecer recompensas financeiras exponenciais aos seus fabricantes, permitindo uma expansão rápida da produção. Formação de um mercado mundial monopolizado por uma única nação produtora. Tanto um ponto quanto o outro foram obtidos com êxito pelos ingleses, transformando-os em uma das principais potências econômicas mundiais do século XIX. A INDÚSTRIA DO ALGODÃO Foi nessas condições que a indústria do algodão se desenvolveu, associada ao comércio colonial ao qual estava relacionada. Trata-se de um comércio que gerava uma expectativa de expansão rápida e imprevisível, capaz de estimular os empreendedores a investir em técnicas revolucionárias que produzissem mais em menos tempo. De acordo com Hobsbawm (1988), foi assim que a exportação inglesa de tecidos de algodão aumentou mais de dez vezes entre 1750 e 1769, o que recompensou, aos pioneiros do mercado de algodão, os riscos implicados no investimento de uma aventura tecnológica. História da fabricação de algodão na Grã-Bretanha por Sir Edward Baines. (Fonte: Wikipedia). História da fabricação de algodão na Grã-Bretanha por Sir Edward Baines. (Fonte: Wikipedia). A indústria do algodão, primeira que pode ser caracterizada nos termos de uma revolução na produção, fortaleceu-se devido aos seguintes fatores: Força da atividade mercantil, relacionada ao comércio exterior. Divisão do trabalho para o crescimento das manufaturas rurais. Sistema de crédito/bancário altamente eficiente, direcionando altos investimentos a baixas taxas de juros. Além de fatores naturais, como a abundância de carvão e minério de ferro. Nessas condições, a indústria algodoeira se expandiu, aproveitando-se da força do Estado Nacional para garantia do monopólio comercial. ATENÇÃO Por meio do Estado, era possível assegurar a qualidade dos produtos, um apoio a políticas protecionistas em relação à lã e à abertura a mercados internacionais “ilimitados”. Tal expansão se valeu de um período marcado pela desindustrialização da Índia, ocorrência de guerras, bloqueio de mercado da América colonial portuguesa e espanhola. Fonte: Corning Museum of Glass Funcionários de fábricas. (Fonte: Corning Museum of Glass) FORMAÇÃO DO PROLETARIADO A Revolução Industrial inglesa só foi possível devido à grande acumulação primitiva de capitais e pela formação de um exército industrial de reserva que forneceu mão de obra abundante e a baixos custos para as novas indústrias. Trata-se de condição imprescindível para o desenvolvimento econômico bem-sucedido a existência de oferta de trabalho em crescimento, adaptável às mais diversas circunstâncias. Como propõe o historiador Phyllis Deane sobre o alcance das mudanças: NA ESTRUTURA E NA TAXA DE CRESCIMENTO DO PRODUTO NACIONAL DE QUE SE COMPÕE UMA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, DEVE HAVER PROFUNDAS MUDANÇAS TANTO NA QUANTIDADE QUANTO NA QUALIDADE DA FORÇA DE TRABALHO. (DEANE, 1975, p. 159) Na mesma direção, aponta a análise de Falcon e Rodrigues (2006). Por um lado, os resultados positivos da atividade mercantil inglesa aceleraram o crescimento da produção interna e um volume de capitais que possibilitaram investimentos no campo e na cidade. Por outro, isso acabou produzindo impactos sociais em grande escala, mantendo “a marca constante do período do século XVI ao XVIII – a riqueza e a pobreza correm juntas. CONDIÇÕES DE TRABALHO CONDIÇÕES DE TRABALHO A rigor, numa sociedade industrial a maior parte da mão de obra é formada por trabalhadores proletários, ou seja, aqueles que dispõem apenas de sua força de trabalho para adquirir um salário que lhes sirva de sustento. No caso da Inglaterra do século XVIII, formou-se um enorme excedente de trabalhadores proletários que, em função da oferta, trabalhavam em péssimas condições e em troca de baixíssimos salários. Enquanto o crescimento demográfico permanecia elevado, a reserva de mão de obra continuava maior do que a procura, mesmo em condições de expansão industrial. Assim, os empregadores tinham uma gama de candidatos para um emprego, da qual retiravam os mais baratos (DEANE, 1975, p.165). Cabe ressaltar, inicialmente, que todo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à indústria, ou seja, em ritmo regular de jornada diária e ininterrupta, em uma lógica inteiramente diferente das oscilações provocadas pelas diferentes estações do ano vinculadas ao ritmo do trabalho agrícola, ou da intermitência autocontrolada do artesão independente. A mão de obra tinha que aprender a responder a incentivos monetários. Os empregadores britânicos daquela época constantemente reclamavam da “preguiça” do operário ou de sua tendência para trabalhar até que tivesse ganho um salário tradicional de subsistência semanal, e então parar. Como resposta, pagava-se pouco ao operário a ponto de ele ter de trabalhar incansavelmente durante toda a semana para obter uma renda mínima. Nas fábricas onde a disciplina do operariado pudesse ser umproblema, descobriu-se que era mais conveniente empregar mulheres e crianças, vistas como menos afeitas à “desobediência”: de todos os trabalhadores nos engenhos de algodão ingleses em 1834-47, a quarta parte, aproximadamente, era de homens adultos, mais da metade eram mulheres e meninas, e o restante, rapazes abaixo de 18 anos. A política de cercamento dos campos foi decisiva para o fundamental processo de transformação no campo. O antigo protecionismo dispensado pelos reis aos camponeses, impedindo os cercamentos, caíra por terra. Foram cercados os open fields (campos abertos) e as common lands (terras comuns), criando-se em seu lugar grandes propriedades nas quais se faziam investimentos capitalistas. Era uma forma de proletarizar as relações de trabalho no campo, intensificando a divisão social da produção e dinamizando os procedimentos técnicos. Esse processo rompe a famosa dualidade camponesa, baseada na identificação entre o trabalho artesanal, realizado nos campos, e o trabalho agrícola. O prejuízo social de tal medida é uma javascript:void(0) expropriação ainda mais evidente. Analisando depoimentos do século XVIII, o filósofo alemão Karl Marx afirmou: KARL MARX O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) tematizou a Revolução Industrial inglesa em diversas de suas obras, denunciando a exploração e as precárias condições de trabalho às quais o trabalhador era submetido naquele contexto. Dentre as obras mais relevantes de Marx a respeito desse tema é possível citar: Trabalho assalariado e capital (1847); Contribuição para a crítica da economia política (1859) e O capital (1867). EM MUITOS LUGARES, CENTENAS DE MORADIAS E DE FAMÍLIAS FICARAM REDUZIDAS A OITO OU DEZ. QUANDO A TERRA VAI PARAR NAS MÃOS DE UM REDUZIDO NÚMERO DE GRANDES ARRENDATÁRIOS, OS PEQUENOS ARRENDATÁRIOS SERÃO TRANSFORMADOS EM PESSOAS FORÇADAS A GANHAR O SUSTENTO TRABALHANDO PARA OUTREM E A IR COMPRAR NO MERCADO OS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA. (MARX, 1964, p.39) Nesse estágio da Revolução Industrial, a força de trabalho era, na sua maioria, não qualificada. Os homens desempenhavam as tarefas que exigiam maior força física e as mulheres e crianças se concentravam nas que exigiam maior destreza. A mão de obra era formada, em grande parte, por famílias possuidoras de suas próprias propriedades agrícolas e oficinas artesanais. javascript:void(0) SAIBA MAIS As condições de trabalho na fábrica, descritas por Marx quando analisa a grande indústria inglesa, são extraídas de relatórios de autoridades públicas que, a partir de 1845, começaram a inspecionar as fábricas periodicamente. É desse contexto que constam as numerosas investigações sobre os meios de vida e de trabalho do homem pobre empreendidos por pessoas das mais variadas condições. Na passagem abaixo, extraída do clássico livro de Friedrich Engels (1820-1895) A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, publicado pela primeira vez em 1845, é possível identificar a paisagem urbana inglesa no contexto da Revolução Industrial: FRIEDRICH ENGELS Intelectual, político e teórico inglês. Foi fundamental nos estudos sobre a Revolução Industrial, mesmo antes de seu encontro com Karl Marx e de terem inaugurado a teoria político-econômica do materialismo histórico. A SUJEIRA, OS MONTES DE ENTULHO E DE CINZAS, ASSIM COMO OS CHARCOS NAS RUAS, SÃO COMUNS (...) CONSTATAMOS AINDA UM OUTRO FATO MUITO PREJUDICIAL À HIGIENE DOS HABITANTES: O GRANDE NÚMERO DE PORCOS QUE PASSAM POR TODO O LADO NAS RUAS REMEXENDO O LIXO (...). NA MAIOR PARTE DOS BAIRROS OPERÁRIOS DE MANCHESTER OS javascript:void(0) CRIADORES ALUGAM OS PÁTIOS INSTALANDO AÍ POCILGAS; EM QUASE TODOS OS PÁTIOS HÁ UM OU MAIS RECANTOS SEPARADOS DO RESTO, ONDE OS MORADORES JOGAM O LIXO E DETRITOS. OS PORCOS ALIMENTAM-SE DISSO E A ATMOSFERA DESSES PÁTIOS, FECHADOS DE TODOS OS LADOS, FICA EMPESTEADA DEVIDO À PUTREFAÇÃO DAS MATÉRIAS ANIMAIS E VEGETAIS. (ENGELS, 1985, p. 65). Para concluir, podemos destacar como pontos centrais relacionados à formação do proletariado associada ao desenvolvimento da Revolução Industrial inglesa: A radical transformação nas relações de trabalho A imposição do modelo da fábrica e sua lógica O controle da matéria-prima, dos instrumentos de trabalho e do local de produção pelos patrões A concentração das atividades em um mesmo espaço físico A instalação em centros urbanos O efetivo surgimento do proletário industrial, concentrado e numeroso RADICAL TRANSFORMAÇÃO Quando um milhão e meio de pessoas foram empregadas diretamente na indústria do algodão PROLETÁRIO INDUSTRIAL Devido às péssimas condições às quais eram submetidos, reagiram e se organizaram das mais diversas formas, seja por meio dos sindicatos ou por meio de movimentos javascript:void(0) javascript:void(0) espontâneos. ATIVIDADE DE REFLEXÃO Considerando o trecho destacado abaixo, responda à questão indicada: “O antigo protecionismo dispensado pelos reis aos camponeses, impedindo os cercamentos, caíra por terra. Foram cercados os open fields e as common lands, criando-se em seu lugar grandes propriedades nas quais se faziam investimentos capitalistas, proletarizando as relações de trabalho no campo, intensificando a divisão social da produção, dinamizando os procedimentos técnicos. Esse processo rompe a famosa dualidade camponesa, isto é, a identificação entre o trabalho artesanal, realizado nos campos, e o trabalho agrícola. O ônus social da partilha e expropriação é mais do que evidente. O outro lado da história, seu contraponto necessário, é a modernização da agricultura, que passa a suprir a indústria com alimentos e matéria-prima, força de trabalho, terra e capital, ao mesmo tempo em que atua como mercado para os produtos industrializados, constituindo-se, no limite, num poderoso elemento de formação de capital para a economia urbana.” (CANEDO, 1987, p. 36) Explique três características associadas ao contexto político inglês que ampliaram as condições de realização da Revolução Industrial inglesa. RESPOSTA A Revolução Gloriosa, ocorrida no século XVII, permitiu um equilíbrio político capaz de garantir estabilidade política necessária a um desenvolvimento econômico em favor dos interesses dos proprietários de terras e industriais. Desse modo, a aristocracia era atravessada por valores burgueses pautados na lógica do lucro e da acumulação em padrões capitalistas. O Estado criou leis, como a lei dos cercamentos dos campos, que favoreceram o desenvolvimento agrícola e industrial, javascript:void(0) estimulando os proprietários capitalistas a investirem com mais intensidade na produção. Além disso, cumpriu um papel decisivo nas relações internacionais e no comércio externo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DENTRE AS ASSERTIVAS A SEGUIR, ASSINALE AQUELA QUE EXPRESSA CORRETAMENTE O IMPACTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA PARA AS RELAÇÕES NO “MUNDO DO TRABALHO”. A) Divisão social do trabalho, com realização de etapas bem delimitadas da produção. B) Separação entre capital e trabalho, onde o capitalista industrial é proprietário da força de trabalho e o trabalhador é o operador das máquinas. C) Estabelecimento das relações de salário como moeda econômica para mediar a relação entre proprietários e trabalhadores. D) Enriquecimento da classe trabalhadora que abandona o campo e as condições feudais de trabalho. 2. SOBRE AS CONDIÇÕES ECONÔMICAS INGLESAS QUE PERMITIRAM A CONSOLIDAÇÃO DE SUA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, PODEMOS DESTACAR: A) Concentração urbana e postos de trabalho nas cidades. B) Condições precárias de realização do trabalho nas fábricas. C) Mecanização da produção, permitindo a ampliação da escala. D) Monarquia absolutista que favorecia politicamente a produção. GABARITO 1. Dentre as assertivas a seguir, assinale aquela que expressa corretamente o impacto da Revolução Industrial inglesa para as relações no “mundo do trabalho”. A alternativa "A " está correta. As condições econômicas e políticas inglesas já indicavam trajetórias queajudariam a consolidar as condições materiais de um novo modo de produção na Inglaterra. Podemos destacar: a produção de algodão, a acumulação de capital pelas políticas mercantilistas, o incentivo à produção das máquinas. Todas essas condições modificaram a relação entre os detentores dos bens de produção, alguns em crise como as relações do campo; outros abrindo a possibilidade do uso dessa mão de obra. Dessa forma, o que observamos, na Inglaterra, foi um prenúncio de uma mudança mundial das relações políticas. 2. Sobre as condições econômicas inglesas que permitiram a consolidação de sua Revolução Industrial, podemos destacar: A alternativa "C " está correta. Não devemos confundir as decorrências, como o crescimento urbano e as relações de produção, com as condições que permitiram o processo de industrialização. O uso de máquinas e o seu desenvolvimento estimulado são fatores que favoreceram o processo da industrialização. Politicamente – apesar da Europa ser dominada por monarquias conhecidas como absolutistas –, o caso inglês, após a Revolução Inglesa, é de um comando monárquico relativo, constitucional e com grande atuação de suas câmaras. MÓDULO 2 Descrever as características dos movimentos dos operários urbanos na formação do mundo contemporâneo AS CONTRADIÇÕES DA SOCIEDADE CAPITALISTA INDUSTRIAL O historiador britânico Eric Hobsbawm realizou um balanço dos impactos da Revolução Industrial na sociedade inglesa. Ele chegou à conclusão de que, para a aristocracia e os proprietários de terra não houve grandes mudanças. E aquelas que, porventura, aconteceram, foram para melhor. O HOMEM DE NEGÓCIOS AO ESTILO ANTIGO, O GRANDE COMERCIANTE, “CONTINUOU A SER O TIPO DE EMPRESÁRIO MAIS RESPEITADO, MESMO QUANDO AS USINAS JÁ COBRIAM OS CÉUS DE FUMAÇA.” (HOBSBAWM, 1988) Ao mesmo tempo crescia, também, uma massa de homens de origem modesta que ingressava nas “classes médias”. Esse conceito se generalizou, sobretudo, a partir de 1830. Ainda de acordo com o historiador inglês: HAVIA AÍ O DINHEIRO, A CASA CONFORTÁVEL CADA VEZ MAIS DISTANTE DA FUMAÇA DA FÁBRICA E DO ESCRITÓRIO, A ESPOSA DEVOTA E RECATADA, O CÍRCULO FAMILIAR, O GOZO DAS VIAGENS, DA ARTE, DA CIÊNCIA E DA LITERATURA. ERAM BEM-SUCEDIDOS E RESPEITADOS. (HOBSBAWM, 1988) Podemos observar que a classe média britânica se empolgava com as inovações técnicas; e os empresários mais capitalizados e empreendedores corriam para garantir o pioneirismo no processo produtivo. MAS E A CLASSE OPERÁRIA? Ela se via obrigada a vender a força de trabalho de toda a família e a viver com salários que nem sempre garantiam um nível mínimo de sobrevivência. Fonte: Chialynn. Ilustração retratando o movimento ludista, autor desconhecido, 1812. Vejamos a seguir um comparativo entre o período pré-industrial e a sociedade industrial: O PERÍODO PRÉ-INDUSTRIAL A SOCIEDADE INDUSTRIAL O PERÍODO PRÉ-INDUSTRIAL A mão de obra era formada basicamente por famílias detentoras de propriedades agrícolas ou oficinas artesanais. Na antiga situação, apesar dos longos dias de trabalho e seu modesto salário, ele podia começar a tarefa e abandoná-la à vontade. Não estava preso a horas regulares, distribuindo-as como bem entendesse, ir e vir, parar um instante para repousar ou até ficar desocupado. O trabalhador não estava submetido a um regulamento inflexível, arrastado como uma engrenagem no movimento impiedoso do mecanismo da lógica industrial. A SOCIEDADE INDUSTRIAL Ela é composta fundamentalmente por “proletários”, que contam apenas com sua força de trabalho para vender. Seu único vínculo com o empregador está no recebimento de um salário. Além disso, o trabalho na indústria mecanizada impunha regularidade e rotina, sendo desenvolvido, em geral, nas aglomerações urbanas. Ao operário habituado ao trabalho em domicílio ou pequenas oficinas, a disciplina da fábrica era algo de difícil adaptação. Segundo Canedo (1987), entre o final do século XVIII e o início do XIX, grande parte dos empregadores acreditava que a única maneira de obterem lucros estava em pagar salários degradantes. E em troca disso, queriam o maior número possível de horas de trabalho e o aumento da velocidade e do ritmo. Como consequência, a jornada de trabalho subiu para 16 e até 18 horas por dia. Era comum, ainda, o sistema de dois turnos, de modo a não se deixar nunca a maquinaria ociosa. LÓGICA INDUSTRIAL “Entrar para uma fábrica era, diziam, como ir para um quartel ou para uma prisão.” (MANTOUX, 1978) javascript:void(0) Fonte: Parrot of Doom. Ilustração retratando a crise na indústria do algodão, autor desconhecido, Lancashire, 1862. ATIVIDADE DE REFLEXÃO Agora que já conhecemos a lógica do trabalho nas fábricas, responda: QUE CONDIÇÕES FAVORECIAM OS EMPREGADORES À ÉPOCA? Teste seus conhecimentos! Responda à pergunta e depois compare com as informações que você obterá ao longo deste tema. RESPOSTA O empregador contava com um exército reserva de efetivo de trabalho, ou seja, uma grande gama de candidatos para emprego da qual tinha condições de retirar os mais baratos. Levando-se em conta que a taxa de crescimento demográfico permanecia elevada, a reserva de mão de obra continuava maior do que a procura e isso fazia com que os custos com os trabalhadores permanecessem confortavelmente baixos. ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO OPERÁRIO Em resposta às precárias condições de trabalho, desde o início da Revolução Industrial, os trabalhadores buscaram reagir contra a inserção das máquinas em substituição à mão de obra humana, considerada como fator de desemprego e de supressão do trabalho. Fonte: Chialynn. Ilustração retratando o movimento Ludista, autor desconhecido, 1812. Diante de tantas pressões para produzir mais, com baixos salários e condições de vida subumanas, os operários reagiram muitas vezes contra as próprias máquinas – por meio do chamado movimento ludista. javascript:void(0) javascript:void(0) LUDISTA Ludista foi um movimento de operários que se organizavam para destruir e viam as máquinas como a razão de seu cadafalso. De acordo com Canedo (1987), elas simbolizavam a desqualificação do seu trabalho, numa fase em que a jornada de trabalho durava entre 12 e 19 horas, a disciplina era de um rigor extremado, além das multas e brutalidades serem a norma conhecida para se conseguir o acúmulo de capital necessário para a manutenção do ritmo industrial. Na Inglaterra, houve bastante luta da classe trabalhadora explorada desde os mais antigos movimentos de destruição de máquinas até o aparecimento dos primeiros sindicatos para a luta e organização operária. Todos esses movimentos se dirigiam a um conjunto de reivindicações comuns: PROTEÇÃO AO TRABALHO DAS MULHERES E DAS CRIANÇAS, REGULAMENTAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO, DIREITO À ASSISTÊNCIA MÉDICA E HOSPITALAR EM CASO DE ACIDENTES E LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE ORGANIZAÇÃO. (OLIVEIRA, 1987) Como desdobramento, é possível identificar algumas conquistas: As associações de operários se tornaram legais em 1824 na Inglaterra. A partir de meados do século XIX, com o grande crescimento econômico, a queda do desemprego e a pressão dos movimentos operários, pôde ser observada uma melhor remuneração do trabalhador britânico. Substituição, em 1867, da lei do “Senhor e Empregado” pela dos “Patrões e Operários”. Essa nova lei eliminou a prisão por quebra de contrato, convertendo patrão e operário em partes iguais de um contrato civil. Nesse mesmo eixo, podemos destacar o movimento cartista, ocorrido entre 1830 e 1840. O movimento cartista ficou conhecido por esse nome devido a uma carta escrita pelo operário William Lovett. WILLIAM LOVETT Ativista inglês, cartista, buscava mobilizar o público a partir de cartas públicas e da nova movimentação da urbanidade. javascript:void(0) Fonte: Bammesk. Reunião cartista em Kennington Common por William Edward Kilburn, 1848. A chamada Carta do Povo registrava as reivindicações queos participantes do movimento desejavam ver implementadas nas políticas trabalhistas. Apesar de ter apoio de uma grande massa, teve todas as petições rejeitadas pelo Parlamento Inglês. Mirava-se a participação por meio da democratização, do sufrágio universal, bem como: Da lei de proteção ao trabalho infantil (1833) Da lei de imprensa (1836) Da reforma do Código Penal (1837) Da regulamentação do trabalho feminino e infantil Da lei da jornada de trabalho de 10 horas Fonte: British Library. A Carta do Povo, em seu título original, 1838. ATENÇÃO É importante sinalizar que o que vimos na Inglaterra foi prenúncio das mobilizações e reivindicações que marcaram a reacomodação e a dinamização dessa sociedade contemporânea. AS REVOLUÇÕES DE 1848 Em fevereiro de 1848, uma série de revoltas começou a agitar as ruas de algumas das principais capitais da Europa, espalhando-se de Paris para outras grandes cidades de regiões diversas, como Berlim, Budapeste, Viena e Nápoles. Pintura da Revolução em Berlim, autor desconhecido, 1848. Talvez você já tenha ouvido falar sobre a “Primavera dos Povos”. Esse processo revolucionário generalizado marcaria o que o historiador Eric Hobsbawm chama de a primeira revolução potencialmente global. Tornando-se um paradigma de “revolução mundial” que alimentou rebeldes de várias gerações. Tais insurreições, apesar de assumirem formas e programas diversos, tinham em comum a participação ativa dos trabalhadores, que eram, muitas vezes, excluídos do universo da política e da cidadania. COMENTÁRIO Desde o final do século anterior, a ideia da revolução estava presente no vocabulário político europeu. Essa nova onda revolucionária parecia, então, ainda mais assustadora aos olhos daqueles que a testemunhavam. Temia-se que o impulso sedicioso reverberasse em uma insatisfação generalizada de trabalhadores pobres, concentrados nas grandes cidades em péssimas condições de vida. Quando os movimentos tiveram início, seus temores ganharam uma feição mais clara: Essa era a hora de constituir um primeiro momento de enfrentamento aberto dos trabalhadores de baixa renda contra a lógica da sociedade capitalista industrial. À França coube, mais uma vez, o papel de epicentro desse processo revolucionário. A cidade de Paris foi palco de violentas batalhas de rua que depuseram de imediato o reinado de Luís Filipe I, instaurando a República. Fonte: Shutterstock O crescimento das aspirações de participação política de diversos setores da sociedade francesa era visível. Portanto, havia sido programada para aquele mês a realização de banquetes públicos, ou seja, manifestações públicas contra o regime vigente. É óbvio que isso assustou o autoritarismo da época. O que ocasionou a proibição da realização dos banquetes. Porém, o governo monárquico, ao fazer isso, abriu caminho para o início dos distúrbios. Nos dias 22 e 23 de fevereiro, estudantes e operários tomaram as ruas de Paris em protesto. Adeptos da reforma pediam inicialmente apenas a demissão do ministério monárquico, permitindo que conseguissem o apoio dos membros da Guarda Nacional enviados para reprimi-los. As manifestações se transformariam, no entanto, em confronto aberto com as tropas do governo. Esse embate, iniciado na madrugada do dia 24 de fevereiro, fez com que, ao meio-dia, o rei Luís Filipe abdicasse do trono, sendo a República instaurada naquela mesma noite. A falta de controle das lideranças políticas de oposição sobre o fluxo desses acontecimentos deixava claro que ele era o fruto direto da insatisfação popular. Esse resultado teve sua origem em uma revolução que previa os trabalhadores como sujeito principal. SAIBA MAIS O mesmo tipo de atitude era notado no campo, onde os aldeões atacaram aqueles que tentavam restringir seu direito de uso da terra. Por meio dessas ações, desencadeadas pela revolução parisiense, era possível evidenciar o sentido que os trabalhadores atribuíam à mudança do regime. Era como uma efetivação de suas aspirações, ligada à justiça e à igualdade, que eles entendiam a proclamação da República. Veja o desenrolar dos fatos a seguir: Ainda assim, o governo provisório formado, nesse momento, excluiu novamente os trabalhadores de seu centro. Por mais que contasse com um operário entre seus 11 membros, não chegou a dar uma resposta efetiva aos anseios dos manifestantes. Limitou-se a definir políticas paliativas a respeito das aspirações dos trabalhadores, como a criação de uma comissão com o objetivo de definir projetos de legislação social e de arbitragem de conflitos de trabalho. De início, essa postura ajudou a conter a insatisfação popular. Porém, as eleições para uma nova Assembleia Constituinte foram marcadas por suspeitas de que os grupos liberais teriam promovido manobras que limitariam as chances dos possíveis representantes dos trabalhadores. Isso serviu, então, como novo estopim, incitando o reinício dos conflitos. O resultado desfavorável aos republicanos radicais e aos socialistas deixaria a Assembleia dominada por conservadores favoráveis à monarquia e outros republicanos moderados liberais. Tal fato gerou, no fim de abril, novas manifestações de rua duramente reprimidas pelas tropas do governo provisório. Confronto que causou a morte de dezenas de operários. Como podemos verificar, ficava evidente o fosso que separava as aspirações dos trabalhadores pelas ruas e os rumos do novo regime. Nas semanas seguintes, novos atos e manifestações contra as primeiras decisões da Assembleia radicalizaram os confrontos. Em junho, grupos de trabalhadores se rebelaram pelas ruas de Paris contra a tendência liberal do novo governo. Como resposta, foram novamente enviadas tropas para reprimi-los violentamente. Era o início do embate que ficou conhecido como as Jornadas de Junho. Perante a virulência com a qual o governo passou a agir contra as classes trabalhadoras, afastava-se temporariamente o perigo de uma revolução social. Era o fim de uma ameaça de revolução que, a essa altura, já se havia espalhado por toda a Europa, na esteira da crise econômica que se estendia pelo continente. A participação de trabalhadores ocorrida nas Jornadas na França podia ser notada em várias outras localidades atingidas pela chama revolucionária. No entanto, a resposta de outros governos a tais revoltas foi igualmente violenta. Assustadas com a força que os trabalhadores demonstravam pelas ruas, as classes médias e a burguesia de diferentes regiões trataram de se afastar de seus movimentos. Eram vistos como elementos de perigo. A ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES As Jornadas de 1848 representaram a derrota inquestionável dos operários e o recuo claro de suas pretensões. A força potencial demonstrada pelos trabalhadores revelou, porém, que um novo sujeito político havia aparecido na cena pública europeia. Veja mais a seguir: A revolta de junho de 1848 em Praga, 1872. Fonte: Metilsteiner. Nos anos que se seguiram ao esmagamento das insurreições, verificou-se um grande retrocesso no processo de organização da classe trabalhadora. As instituições, agremiações e partidos operários, constituídos no período anterior, foram quase completamente desmantelados pela violenta repressão. O massacre da Galícia, Jan Lewicki, séc. XVIII. Fonte: Hohum. Derrotado em sua primeira manifestação de força, o ainda desorganizado movimento operário europeu viu tolhido o processo de crescente avanço que experimentava desde o início da Revolução Industrial. Charge The Head ache, George Cruikshank, 1819. Fonte: Frank Schulenburg. A Europa entrava em um período de calmaria política, garantida no começo da década de 1850 por uma conjuntura econômica favorável. O afastamento momentâneo dos trabalhadores em relação a tais ideologias libertárias não significou, porém, que eles tivessem deixado de lado o sentido político de suas lutas. No final da década de 1850, os ideais presentesnas Jornadas de Junho se mostraram novamente presentes no processo de organização da classe trabalhadora. A vivência comum de novas dificuldades e privações concorreu para que as ideologias socialistas ganhassem, novamente, sentido na experiência dos trabalhadores, passando mais uma vez a alimentar sua organização. Essa rearticulação do movimento operário resultou, em 1864, na criação, em Londres, da Associação Internacional de Trabalhadores, posteriormente conhecida como: A PRIMEIRA INTERNACIONAL Essa instituição tinha um perfil que apontava para um diálogo com a classe trabalhadora. Eram ideias bem mais diretas, tratavam da experiência dos próprios trabalhadores e de diversas ideologias políticas forjadas por intelectuais. Fonte: Wuyouyuan. Ficha de filiação à Associação Internacional dos Trabalhadores, Jean Jaurès, 1908. Dentre as propostas promovidas, podiam ser observadas: a emancipação da classe trabalhadora como uma obra da própria classe trabalhadora. a luta pelo aniquilamento de qualquer domínio de classe. a crítica à falta de acordo entre os múltiplos ramos de trabalho de cada país. Configurava-se, assim, a força potencial da nova classe formada em meio ao processo de consolidação do capitalismo industrial. Veja a seguir um trecho de uma versão brasileira do hino da Internacional, uma das canções mais conhecidas do mundo: RECUPERANDO AS PROPOSTAS Até aqui você compreendeu que o processo de mudança da contemporaneidade se materializa pelas relações entre a política e a economia na Inglaterra com a Revolução Industrial. E pelo peso desta acaba se multiplicando pelo mundo. O novo modelo de sociedades urbanas, repleto de trabalhadores das fábricas, das obras, do cotidiano dessas cidades, passa a se organizar e pressionar para que os governos atuassem garantindo defesas, garantias e melhores condições de vida. Essa dinâmica de trabalhadores, empresários e governos foi pensada e interpretada de modo diferente no fim do século XIX e no início do XX. Esses pensamentos fazem parte da interpretação e organização do mundo contemporâneo o nos dedicaremos a ela no próximo módulo. No vídeo a seguir, conheceremos mais sobre o papel do proletariado no mundo contemporâneo. Vamos assistir! VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (UNESP 2017) NEM TODOS OS HOMENS SE RENDERAM DIANTE DAS FORÇAS IRRESISTÍVEIS DO NOVO MUNDO FABRIL. E A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO DOS QUEBRADORES DE MÁQUINA DEMONSTRA UMA INEQUÍVOCA CAPACIDADE DOS TRABALHADORES PARA DESENCADEAR UMA LUTA ABERTA CONTRA O SISTEMA DE FÁBRICA. DE UM LADO, ESSE MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA VISAVA INVESTIR CONTRA AS NOVAS RELAÇÕES HIERÁRQUICAS E AUTORITÁRIAS INTRODUZIDAS NO PROCESSO DE TRABALHO FABRIL; NESSA MEDIDA, A DESTRUIÇÃO DAS MÁQUINAS FUNCIONAVA COMO MECANISMO DE PRESSÃO CONTRA A NOVA DIREÇÃO ORGANIZATIVA DAS EMPRESAS. DE OUTRO LADO, INÚMERAS ATIVIDADES DE DESTRUIÇÃO CARREGARAM IMPLICITAMENTE UMA PROFUNDA HOSTILIDADE CONTRA AS NOVAS MÁQUINAS E CONTRA O MARCO ORGANIZADOR DA PRODUÇÃO QUE ESSA TECNOLOGIA IMPUNHA. (EDGAR DE DECCA. O NASCIMENTO DAS FÁBRICAS, 1982. ADAPTADO.) DE ACORDO COM O TEXTO, OS MOVIMENTOS DOS QUEBRADORES DE MÁQUINAS, NA INGLATERRA DO FINAL DO SÉCULO XVIII E INÍCIO DO XIX: A) Expunham a rápida e eficaz ação dos sindicatos, capazes de coordenar ações destrutivas em fábricas de diversas partes do país. B) Representavam uma reação diante da ordem e da disciplinarização do trabalho, facilitadas pelo emprego de máquinas na produção fabril. C) Indicavam o aprimoramento das condições de trabalho nas fábricas, que contavam com aparato de segurança interna contra atos de vandalismo. D) Revelavam a ingenuidade de alguns trabalhadores, que não percebiam que as máquinas auxiliavam e facilitavam seu trabalho. 2. AO DESCREVERMOS O MOVIMENTO OPERÁRIO, NÓS PERCEBEMOS TIPOS DIVERSOS DE REAÇÃO. DESDE A SUBMISSÃO, AOS MOVIMENTOS REIVINDICATÓRIOS E ATÉ OS QUE PROPUNHAM A COMPLETA DESTRUIÇÃO DAS MÁQUINAS. O CARTISMO INGLÊS FOI UM MOVIMENTO OPERÁRIO QUE SURGIU NA DÉCADA DE 1830 E REIVINDICAVA: A) O estabelecimento do socialismo na Inglaterra. B) A organização dos trabalhadores em ligas operárias exigindo direitos trabalhistas. C) A luta armada para a realização do socialismo. D) Benefícios trabalhistas e eleitorais por meio da luta de classes. GABARITO 1. (UNESP 2017) Nem todos os homens se renderam diante das forças irresistíveis do novo mundo fabril. E a experiência do movimento dos quebradores de máquina demonstra uma inequívoca capacidade dos trabalhadores para desencadear uma luta aberta contra o sistema de fábrica. De um lado, esse movimento de resistência visava investir contra as novas relações hierárquicas e autoritárias introduzidas no processo de trabalho fabril; nessa medida, a destruição das máquinas funcionava como mecanismo de pressão contra a nova direção organizativa das empresas. De outro lado, inúmeras atividades de destruição carregaram implicitamente uma profunda hostilidade contra as novas máquinas e contra o marco organizador da produção que essa tecnologia impunha. (Edgar de Decca. O nascimento das fábricas, 1982. Adaptado.) De acordo com o texto, os movimentos dos quebradores de máquinas, na Inglaterra do final do século XVIII e início do XIX: A alternativa "B " está correta. O mundo contemporâneo é marcado pela mudança das relações de trabalhos. O tempo natural fazia parte da concepção central de interpretação dos sujeitos e de relações entre os que trabalhavam e os que possuíam o meio de produção. A indústria tem outro tipo de relação entre trabalho-tempo-pessoas. Assim, o ordenamento das fábricas e a disciplina sem uma mediação por leis que estabelecessem regras dessa operação são a raiz dessa questão. 2. Ao descrevermos o movimento operário, nós percebemos tipos diversos de reação. Desde a submissão, aos movimentos reivindicatórios e até os que propunham a completa destruição das máquinas. O cartismo inglês foi um movimento operário que surgiu na década de 1830 e reivindicava: A alternativa "B " está correta. O cartismo é um movimento reivindicatório que busca, a partir da leitura pública, da disseminação de ideias e das manifestações de lideranças, chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos operários e reivindicar melhorias. MÓDULO 3 Reconhecer os fundamentos teóricos do liberalismo e do socialismo como matrizes do pensamento da formação do mundo contemporâneo LIBERALISMO, SOCIALISMO E CONSOLIDAÇÃO DO CAPITALISMO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO A Liberdade Guiando o Povo, Eugène Delacroix, 1830. Fonte: Aavindraa O século XVIII é, em geral, caracterizado como o século das luzes. Dele, brotaram tanto os ideais políticos e sociais associados à Revolução Francesa quanto os avanços científicos e econômicos decorrentes da Revolução Industrial. javascript:void(0) A Comuna de Paris, Bruno Braquehais, 1871. Fonte: Yann. O período seguinte, século XIX, testemunharia os resultados desse processo e as profundas contradições sociais dele decorrentes. Isso levou ao amadurecimento de correntes ideológicas e perspectivas que tratavam de analisar o novo mundo formado a partir de então. Revolução Francesa foi um movimento político importante e emblemático entre o século XVIII e XIX. De certa forma, rompeu com os modelos políticos do período anterior e inaugurou, mundialmente, o estabelecimento de um republicanismo. Em termos de pensamento econômico, é um movimento tributário às experiências inglesas e aos pensadores iluministas. Lógicas como o liberalismo e o socialismo aparecem e ganham força na França pós-revolucionária. RESUMINDO Em outras palavras, podemos dizer que marcou, na Europa, o momento de afirmação e consolidação de diferentes ideologias políticas. Dentre tais ideologias, no entanto, uma alcançou supremacia em relação às demais, transformando-se na marca principal do novo tempo: o liberalismo. Com ele, foi definido um sentido muito preciso para a ânsia por liberdade, constituída desde o séculoanterior. O século XIX pode ser entendido como o momento de hegemonia do liberalismo. E esse status não se deu imediatamente e sem a coexistência com outras ideologias. COMENTÁRIO O liberalismo conseguiu se firmar por meio de uma expansão que se deu tanto no tempo quanto no espaço, não só na Europa como também pelo resto do mundo. Cabe, por isso, definirmos melhor o sentido assumido pela ideologia liberal ao longo daquele período e acompanharmos o processo de amadurecimento e consolidação do capitalismo. O PENSAMENTO LIBERAL No final do século XVIII, a defesa do princípio da liberdade não chegava a constituir uma ideologia coerente e articulada, prestando-se às mais diversas causas. A partir desse processo de expansão do liberalismo, seu perfil se tornaria cada vez mais claro. Fonte: Adam sk~commonswiki. Encontro da Liga Anti-Lei do Milho (Anti-Corn Law), 1846. Nas primeiras décadas do século XIX, já era possível pensá-lo como doutrina razoavelmente coerente. Com princípios básicos que transpareciam tanto nas formas por ele assumidas em localidades diversas quanto na reflexão proposta por diferentes autores. Dentre os seus ideólogos, destaca-se Benjamin Constant (1767-1830), pensador suíço que se tornou figura de proa na França do período restaurador. Adepto do credo liberal, apresentou seu programa por meio de vários escritos, nos quais tratava de dar ao liberalismo uma tradução condizente com os desafios do tempo. javascript:void(0) Fonte: Guise. Benjamin Constant, Laderer, séc. XIX. BENJAMIN CONSTANT Henri-Benjamin Constant de Rebecque foi um pensador e ideólogo, alguém típico da sociedade em transição do chamado modelo de cortes para o modelo urbano. É dentro de tal proposta que pronuncia, em 1818, um discurso intitulado: SOBRE A LIBERDADE DOS ANTIGOS COMPARADA COM A DOS MODERNOS O título resume, em grande medida, o sentido de sua reflexão. Ele pensava que se a busca da liberdade não era uma novidade na história europeia, o modo pelo qual a liberdade deveria se expressar nas “nações modernas” seria completamente diverso de suas formas primitivas. Para ele, a confusão entre as formas diferenciadas de liberdade era a causa maior dos desvios do processo revolucionário francês. Por isso, Constant se propunha a analisar como a liberdade devia se manifestar na realidade do século XIX. COMENTÁRIO Chama a atenção na reflexão, primeiramente, o modo pelo qual ele representa a relação entre liberdade e ação política. Partindo da crítica iluminista acerca das distinções por nascimento próprias do Antigo Regime, a lógica liberal gestada em meio à Revolução do século anterior sustentara a possibilidade de participação a todos. Não havia qualquer tipo de restrição ao universo da cidadania. Mesmo sem negar a validade de tal princípio, Constant aponta para sua historicidade específica. Desse modo, reconhece que a liberdade se caracterizava para os antigos pela possibilidade generalizada de participação política. O pensador entendeu, também, que tal modelo era impossível diante da complexidade das sociedades modernas. Já que eram marcadas por aumento populacional e maior extensão territorial de domínio político. Diante da inviabilidade de manutenção do princípio antigo de liberdade, ele aponta para a necessidade de redefinição do sentido da liberdade, de modo a adequá-la aos novos tempos. SAIBA MAIS Na obra de pensadores como Constant, a iniciativa individual era o motor da história, sendo impróprias quaisquer tentativas sociais ou políticas de lhe impor um limite. Por um lado, tais autores mostravam preocupação em combater a estrutura de poder própria do antigo regime, que ainda se mantinha forte naquele momento. Por outro, tratavam de afastar novos perigos que viriam pela frente — considerando o radicalismo jacobino de memória recente, que continuava a assombrá-los. Evidencia-se, dessa forma, a feição assumida pelo pensamento liberal no início do século XIX. Por essa maneira de entender, a partir da defesa da liberdade individual, ganhava forma uma ideologia que acabava por conservar inalteradas as estruturas da sociedade constituídas ao longo do processo de industrialização. A defesa da liberdade se coloca, à primeira vista, como uma causa universal Na prática, o impulso se converteu na defesa dos interesses de uma parcela muito específica da sociedade europeia do século XIX: a burguesia De fato, o liberalismo dava aos burgueses uma justificativa moral para sua condição: Se todos fossem iguais no nascimento, contando com a mesma liberdade de ação, a explicação para a desigualdade seria dada somente pelo esforço e pela capacidade individual. O PENSAMENTO SOCIALISTA Fonte: US National Archives bot. Garotos varredores e trocadores em Lancaster Cotton Mills, Lewis Hine, 1908. A desigualdade constitutiva da nova ordem era imposta pelo capitalismo industrial. E podia ser verificada em flagrantes de miséria e exploração. Em resposta a isso, vários pensadores passaram a buscar alternativas à realidade imposta no século XIX. Capaz de englobar diferentes correntes de pensamento opostas às contradições desse novo modelo de sociedade, o socialismo se apresentava, no século XIX, como um termo amplo, capaz de dar conta dessas aspirações. De maneira quase simultânea, outros pensadores passaram, por volta da década de 1820, a tentar imaginar modelos alternativos de organização social que respondessem aos problemas que enxergavam em seus próprios mundos, como, por exemplo: Conde de Saint-Simon, autor desconhecido. Fonte: Dystopos. Conde de Saint-Simon (1760-1825) Para Saint-Simon, a alternativa para tal forma de organização seria a constituição de uma sociedade hierarquizada dirigida por cientistas. Nela, os mecanismos de produção seriam submetidos a uma administração coletiva. Por mais que a desigualdade se mantivesse presente em seu sistema, a exploração seria com ela erradicada. Afinal, toda a produção se submeteria à lógica desinteressada do bem comum e da fraternidade. Robert Owen, H.F. Helmolt, 1901. Fonte: Robbot. javascript:void(0) javascript:void(0) Robert Owen (1771-1858) Robert Owen, por sua vez, preferia apostar em um modelo de organização que privilegia o coletivismo. Sobre esse pensamento de Owen, podemos dizer que a base seria a criação de pequenas comunidades que viveriam em uma grande construção retangular na qual compartilhariam todas as dimensões da vida social. Estando incluída a produção, cujos resultados seriam igualmente aproveitados pelos membros da comunidade. Dessa forma, os conflitos e as diferenças sociais seriam apagados pelo senso geral de comunidade, constituído por meio da proliferação desses núcleos comunitários. Charles Fourier, H.F. Helmolt, 1901. Fonte: Robbot. Charles Fourier (1770-1837) Proposta semelhante foi formulada por Charles Fourier, que defendia também a criação de pequenas comunidades de moradia e produção. Para ele, seria um caminho prático de superação da desigualdade que marcava a sociedade de seu tempo. Tais comunidades, às quais deu o nome de falanstérios, teriam, porém, um perfil diverso daquele proposto por Owen. Elas, mais do que organizar a produção, rearticulariam todos os elementos da vida social, inclusive aqueles ligados à esfera do lazer. Elas constituiriam, desse modo, instituições capazes de antecipar os valores que comporiam a nova sociedade que desejava ver construída por intermédio de seu exemplo. Era assim como uma sugestão mais ampla de transformação, capaz de mudar a sociedade como um todo, que se apresentava sua proposta. javascript:void(0) ATENÇÃO É importante dizer que, ainda, com grandes diferenças, eles se colocavam de forma igualmente crítica em relação à lógica liberal. Como vimos na história, a crítica desses primeiros pensadores socialistas à ideologia liberal viria nos anos seguintes a conformar propostas já bem diversas de enfrentamento daquela realidade. E, ainda, outros autorespassariam a questionar seus pressupostos, atacando diretamente as bases de sua estruturação. Isso ocorria sem que se limitassem a propor alternativas à organização social resultante do desenvolvimento das forças capitalistas. SAIBA MAIS Era o caso, entre outros, de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Nascido em uma família de trabalhadores pobres de uma região rural da França, Proudhon se mudou em 1838 para Paris, onde teve contato com a obra dos principais autores socialistas da época. Sua perspectiva vem a público pela primeira vez em 1840, no livro O que é a propriedade? Crítico dos autores socialistas que o antecederam, cujas obras não se ocupariam em combater as causas da desigualdade para a qual buscavam alternativas, trata de atacar diretamente a própria ideologia liberal. Ele evidenciava as lacunas e contradições liberais. O próprio título do livro indica que o alvo desse esforço se centrou na crítica à noção de propriedade. Proudhon mostra que a noção de propriedade não pode ser vista como um direito natural, dado o seu caráter individualista e diferenciador. Ele também não acreditava que a propriedade pudesse ser um direito civil – que definiria de modo claro que o direito de ocupar é igual para todos. A partir dessa premissa, passou a caracterizá-la como um “roubo”, cuja consequência seria a criação da desigualdade. O MANIFESTO COMUNISTA E O SOCIALISMO DE MARX Já nesse período, no entanto, outro modelo de socialismo começava a ganhar forma. Era aquele definido pela obra de Karl Marx, cuja teoria social marcaria definitivamente o desenvolvimento do pensamento socialista a partir do final daquele século. Em 1848, Marx juntou-se a Friedrich Engels (1820-1895) – já, então, seu colaborador habitual – para publicar o Manifesto do Partido Comunista. Como indicado pelo título, não se tratava de obra teórica, mas de um panfleto político. Embora o termo “partido” colocado no título não se referisse a nenhuma agremiação que se assemelhasse ao sentido moderno da palavra, o texto foi escrito em nome da Liga dos Comunistas. Tratava-se de uma organização de artesãos alemães que sucedera à Liga dos Justos, sociedade secreta revolucionária fundada em Paris, na década de 1830. Fonte: Bulver. Manifesto do Partido Comunista, em seu título original Kommunistisches Manifest, Friedrich Engels, Karl Marx, 1848. É importante entender que naquele momento o socialismo assumia um sentido amplo. A representação da diferença que separava os adeptos da nova corrente de seus antecessores estava expressa na adoção do termo “comunista”. ATIVIDADE DE REFLEXÃO SE ESTAMOS FALANDO SOBRE SOCIALISMO, VOCÊ SABERIA DIZER O MOTIVO DA ESCOLHA DO TERMO “COMUNISTA” POR MARX E ENGELS? Teste seus conhecimentos! Responda à pergunta e depois compare com as informações que você obterá ao longo deste tema. RESPOSTA A justificativa para tal escolha foi dada pelo próprio Engels em um prefácio escrito ao Manifesto em 1889. Ele explica ali que, sendo o socialismo a forma de se identificar tanto os socialistas ditos utópicos quanto os seguidores de teorias como as de Proudhon, havia uma parcela dos operários convicta da insuficiência das meras agitações políticas. E foram esses trabalhadores que passaram a clamar por uma transformação mais radical da sociedade, a qual poderia ser chamada de comunista. Foi assim que eles se propuseram a enfrentar a realidade histórica específica de seu tempo, configurada na sociedade burguesa que combatiam. Nesse modelo, a opressão se caracterizaria pela oposição entre os interesses da burguesia e aqueles próprios dos trabalhadores. Em vista disso, cada qual teria sua função na luta: TRABALHADORES Caberia aos trabalhadores, cuja força de trabalho sustentava o desenvolvimento da sociedade liberal, tomar consciência de sua condição de exploração para enfrentar o domínio por ela exercido. javascript:void(0) javascript:void(0) INTELECTUAIS A intelectuais como o próprio Marx restava tentar dinamizar este processo, levando aos trabalhadores a consciência de que precisavam se identificar enquanto classe. O Manifesto representava, assim, o momento mais direto de exposição da concepção de sociedade que o próprio Marx vinha desenvolvendo ao longo daquela década. Havia uma força crescente que assumia, naquela época, o pensamento antiliberal. Esse processo que, ao longo do século XIX, alimentou a diversificação de correntes identificadas com o ideal socialista é um bom meio de se compreender isso. Fonte: Jklamo. Uma pequena fiandeira em Mollohan Mills, Lewis W. Hine, 1908. As ideias partiam da experiência de homens e mulheres cujas lutas e cujos desafios estavam longe de poderem ser resumidos a qualquer tipo de fórmula. Ainda que se pretendesse universal, o liberalismo tinha declarado em tais doutrinas, por formas e estratégias diversas, as suas contradições. O PENSAMENTO CONSERVADOR O socialismo e o movimento operário não constituíram as únicas ameaças à hegemonia liberal ao longo do século XIX. É fato que a tensão entre o liberalismo e as ideias socialistas moldou parte expressiva dos conflitos sociais do tempo. javascript:void(0) Porém, na segunda metade dos oitocentos, o conservadorismo ganharia forma. Era uma nova ideologia contraposta tanto aos adeptos do pensamento liberal quanto às diversas doutrinas que se formavam em torno do socialismo. Os modelos de organização do Estado e da sociedade estabelecidos pelo processo de industrialização capitalista conviviam ainda com forças sociais ligadas às tradições políticas europeias do antigo regime. Atreladas ao absolutismo e ao pensamento autoritário, tais forças pareciam adormecidas no processo que garantiu a hegemonia liberal ao longo das primeiras décadas daquele século. Era pensada, nesse processo, uma perspectiva de compreensão da sociedade de perfil nitidamente conservador. Essa nova ideologia dialogava com seu próprio tempo. Como suas novas bases, os temas: NACIONALISMO RAÇA Não estava meramente preocupada na defesa por meio de princípios ligados à tradição ou a uma visão religiosa do mundo, como no século anterior. É na obra de alguns dos teóricos do pensamento conservador que a conexão entre ciência e política pode ser apreendida de forma mais explícita. SAIBA MAIS Destaca-se, entre eles, o nome de Gustave Le Bon. Esse pensador, nascido na França em 1841, testemunhara o entusiasmo pela Ciência como forma de explicar a vida social. Alguns anos depois, com os estudos de Charles Darwin, Le Bon se sentiria ideologicamente atraído. Com a publicação, em 1859, da obra A origem das espécies, de Darwin, surgia a crença na possibilidade de aplicação das leis naturais ao mundo dos fatos sociais e políticos. Essa corrente constituiria uma linha de pensamento, conhecida, posteriormente, como darwinismo social. Adepto de tal crença, Le Bon se torna um de seus principais divulgadores. Mais do que criticar a ideia da igualdade dos indivíduos e das raças, que caracteriza como uma invenção arbitrária do final do século XVIII, ele defendia que essa teoria teria lançado o mundo em uma profunda crise, iniciada com a Revolução Francesa do século anterior. Do ponto de vista dos conservadores, as teses raciais seriam um meio de afirmar uma doutrina capaz de justificar e sustentar as próprias diferenças de classe. As desigualdades entre os homens constituiriam um dado da natureza, do qual não seria possível fugir. Os ideólogos do conservadorismo recolocaram em voga as ideias aristocráticas a respeito das distinções inatas entre os homens, tão criticadas pelo liberalismo, fazendo, dessa forma, um discurso voltado para a ordem, que tinha como alvo preferencial os trabalhadores que insistiam em apontar as contradições do pensamento liberal. HEGEMONIA LIBERAL E EXPANSÃO DO CAPITALISMO A industrialização foi um fenômeno abrangente que enredou em sua lógica de funcionamento países tradicionalmente produtores de mercadorias agrícolas.Nesse sentido, podemos dizer que o mercado capitalista “tocou”, de forma diferente, tanto os produtores de fibra na Índia como os operários têxteis de Manchester. O mercado capitalista, materializado no sistema fabril, tornou-se um fato social que marcou e ainda marca as relações sociais e econômicas em todo o planeta. A progressiva concentração da população em empregos industriais provocou o aumento da demanda de produtos agrícolas, tanto para alimentos como para matérias-primas com destino às fábricas. Assim sendo, um mercado de economias interdependentes foi sendo criado, fossem elas fabris ou agrícolas. Fonte: Margalob. Charge da pirâmide do capitalismo, IWW, 1911. ATENÇÃO Vale ressaltar que essa transformação desagregou as sociedades camponesas da Inglaterra e da França. Elas experimentaram revoltas rurais ou períodos de grande fome no campo, como na Indonésia ou no Egito. A reversão das economias rurais para o estabelecimento do sistema fabril ou sua conversão para economias agrícolas orientadas para o mercado industrial gerou, na maior parte das vezes, crises sociais profundas. Até a metade do século XIX, a Grã-Bretanha era o único país industrializado, mas esse cenário se alterou em meados do século. Os Estados Unidos, a Alemanha, a Bélgica, a França, a Rússia, a Itália e o Japão iniciaram seus processos de industrialização. Fonte: Joe Quick. Ilustração do processo de manipulação do aço, autor desconhecido, 1889. Se a primeira fase da industrialização britânica havia se baseado nos têxteis, a segunda (1840- 1895) seria nas indústrias de bens de capital, no carvão, no ferro e no aço. A revolução operada nos transportes abriu novos mercados e expandiu ainda mais os antigos. A PARTIR APROXIMADAMENTE DE 1860/1870, TENDEM A ACELERAR-SE DETERMINADAS TRANSFORMAÇÕES LIGADAS AO FUNCIONAMENTO E À PRÓPRIA ORGANIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA CAPITALISTA, ESPECIALMENTE NO CAMPO ECONÔMICO. VERIFICA-SE PROGRESSIVAMENTE, NO SISTEMA CAPITALISTA, A ALTERAÇÃO TANTO DO NÚMERO GLOBAL QUANTO DAS DIMENSÕES MÉDIAS DAS EMPRESAS – HÁ, RELATIVAMENTE, UM NÚMERO CADA VEZ MENOR DE EMPRESAS, PORÉM AGORA SÃO GRANDES EMPRESAS. MODIFICA-SE TAMBÉM A CONSTITUIÇÃO DO CAPITAL DESTAS – AS DE CARÁTER INDIVIDUAL E FAMILIAR CEDIAM TERRENO ÀS SOCIEDADES ANÔNIMAS. (FALCON, 2006) Fonte: File Upload Bot. Locomotiva produzida em Doncaster entre 1870 e 1895, Tony Hisgett, 2011. Um acelerador desse processo foi o grande e rápido avanço das estradas de ferro e da navegação a vapor. Nas últimas décadas do século XIX, o capitalismo – que até então tinha como principal característica a livre concorrência – passaria por modificações profundas, as quais teriam amplo impacto social no seu processo de transformação em capitalismo monopolista. Por fim, o novo mundo burguês produziu uma migração sem precedentes de povos. Alemães, italianos, espanhóis, japoneses, poloneses etc. deixavam suas tradicionais áreas camponesas em função das dificuldades econômicas geradas nas cidades industriais. Fonte: FastilyClone. “Do Velho para o Novo Mundo”, Harper’s Weekly, Nova Iorque, 1874. Sendo assim, saíram da Europa para recriar a “civilização” na América, na África, na Ásia ou na Oceania. Milhões de imigrantes atravessaram os oceanos em novos navios a vapor ou em ferrovias, encurtando as distâncias e fortalecendo um paradigma cultural predominantemente europeu e burguês. No vídeo a seguir, o professor Rodrigo Rainha explica o papel de progressistas e conservadores na formação do mundo contemporâneo. Vamos assistir! VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. “O PERMANENTE REVOLUCIONAR DA PRODUÇÃO, O ABALAR ININTERRUPTO DE TODAS AS CONDIÇÕES SOCIAIS, A INCERTEZA E O MOVIMENTO ETERNOS DISTINGUEM A ÉPOCA DE TODAS AS OUTRAS. TODAS AS RELAÇÕES FIXAS E ENFERRUJADAS, COM SEU CORTEJO DE REPRESENTAÇÕES E CONCEPÇÕES SÃO DISSOLVIDAS, TODAS AS RELAÇÕES RECÉM-FORMADAS ENVELHECEM ANTES DE PODEREM OSSIFICAR-SE. TUDO QUE ERA SÓLIDO SE VOLATIZA, E OS HOMENS SÃO, POR FIM, OBRIGADOS A ENCARAR COM OS OLHOS BEM ABERTOS A SUA POSIÇÃO NA VIDA.” (MARX, KARL; ENGELS, FRIEDRICH. ADAPTADO DE MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA.) EM 1848, NA DEFESA DE UMA NOVA SOCIEDADE, O MANIFESTO COMUNISTA CRITICOU AS TRANSFORMAÇÕES ADVINDAS DA MODERNIZAÇÃO CAPITALISTA NOS PAÍSES DA EUROPA OCIDENTAL. DOIS ASPECTOS DESSA MODERNIZAÇÃO, ENTÃO CRITICADOS, FORAM: A) Crescimento industrial e garantia de direitos sociais. B) Aceleração tecnológica e aumento da divisão do trabalho. C) Mecanização da produção e elevação da renda salarial média. D) Diversificação de mercados e valorização das corporações sindicais. 2. EXALTA O DIREITO DE PROPRIEDADE INDIVIDUAL E DA RIQUEZA; OPONDO- SE, CONSEQUENTEMENTE, À INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA. DEFENDE INTRANSIGENTEMENTE QUE DEVE HAVER TOTAL LIBERDADE DE PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E VENDA. CONSIDERA QUE O HOMEM, ENQUANTO INDIVÍDUO, DEVE DESFRUTAR DE TODAS AS SATISFAÇÕES, NÃO SE SUBMETENDO SENÃO AOS LIMITES DA RAZÃO. CRÊ NO PROGRESSO COMO SENDO RESULTADO DE UM FENÔMENO NATURAL E DECORRENTE DA LIVRE CONCORRÊNCIA QUE, AO ESTIMULAR AS ATIVIDADES ECONÔMICAS, É A ÚNICA MANEIRA ACEITÁVEL DE PROPORCIONAR LIBERDADE, FELICIDADE, PROSPERIDADE E IGUALDADE ENTRE TODOS OS HOMENS. O TRECHO ACIMA PODE SER CONSIDERADO UMA SÍNTESE DOS VALORES CONSTITUTIVOS DA IDEOLOGIA POLÍTICA INTITULADA: A) Socialismo utópico. B) Socialismo científico. C) Liberalismo. D) Anarquismo. GABARITO 1. “O permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época de todas as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com seu cortejo de representações e concepções são dissolvidas, todas as relações recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que era sólido se volatiza, e os homens são, por fim, obrigados a encarar com os olhos bem abertos a sua posição na vida.” (MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Adaptado de Manifesto do Partido Comunista.) Em 1848, na defesa de uma nova sociedade, o Manifesto Comunista criticou as transformações advindas da modernização capitalista nos países da Europa Ocidental. Dois aspectos dessa modernização, então criticados, foram: A alternativa "B " está correta. A ideia de que as funções do homem estavam sendo suprimidas, que o uso das máquinas de alguma forma tirava dele a capacidade de perceber o quanto valia a sua força de trabalho é a crítica à aceleração da tecnologia sem adaptação ou sem ser pelo homem. A problematização da divisão do trabalho é criticada por fomentar a alienação dos grupos e sua incapacidade de organização sendo fomentada e classificada, ampliando a pobreza. 2. Exalta o direito de propriedade individual e da riqueza; opondo-se, consequentemente, à intervenção do Estado na economia. Defende intransigentemente que deve haver total liberdade de produção, circulação e venda. Considera que o homem, enquanto indivíduo, deve desfrutar de todas as satisfações, não se submetendo senão aos limites da razão. Crê no progresso como sendo resultado de um fenômeno natural e decorrente da livre concorrência que, ao estimular as atividades econômicas, é a única maneira aceitável de proporcionar liberdade, felicidade, prosperidade e igualdade entre todos os homens. O trecho acima pode ser considerado uma síntese dos valores constitutivos da ideologia política intitulada: A alternativa "C " está correta. O ideal liberal é ponto central do pensamento burguês do século XIX, lida com aspectos da liberdade do indivíduo, de escolher o seu trabalho, suas relações de consumo e ser senhor do seu próprio corpo. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS A definição de mundo contemporâneo a partir da consolidação do capitalismo nos ajudou a compreender as mudanças econômicas que tanto impactam nossas relações sociais. Este tema foi dividido em momentos distintos, porém complementares. O primeiro módulo tratou do exame das condições econômicas e sociais quelevaram a Europa à Revolução Industrial. No módulo 2, pudemos descrever as características dos movimentos dos operários urbanos na formação do mundo contemporâneo. Já no módulo 3, reconhecemos os fundamentos teóricos do liberalismo e do socialismo como matrizes do pensamento da formação do mundo contemporâneo. Neste tema, verificamos, detalhadamente, que a Revolução Industrial iniciou uma nova dinâmica mundial. As transformações econômicas formuladas a partir de um novo mundo acabam por consolidar a ideia de uma ordem burguesa. Ao menos três consequências são visíveis nessa nova ordem econômica mundial do final do século XIX que podemos denominar de “ordem burguesa”. Em primeiro lugar, os países que se industrializavam se tornavam mais ricos do que os não industrializados. A produtividade industrial e o saber técnico necessário para a produção fabril criaram um mercado muito concentrado e assimétrico. Em países não industriais, bolsões de prosperidade transitórios foram criados para satisfazer as necessidades dos núcleos fabris, mas essa riqueza ficou restrita a poucos agentes locais e não proporcionou nenhuma prosperidade sustentável. Por outro lado, o impacto da industrialização foi experimentado por meio da difusão da tecnologia. Houve uma transferência maciça de tecnologia, de modo que médicos e engenheiros europeus ou americanos passaram a ser vistos por todo o mundo como arautos do progresso material. Além disso, centenas de cidades passaram por reformas nos seus sistemas de comunicação, iluminação e transporte e o interior dos continentes foi aberto por estradas de ferro, minas e plantations. Essas reformas propiciam aos intelectuais debater sobre as contradições do sistema, gerando bases de pensamento socialistas, liberais, marxistas e conservadores. Com isso, conseguimos apresentar a sociedade contemporânea e seu processo de transformação pela Revolução Industrial, bem como as matrizes do pensamento político moderno. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS CANEDO, L. B. A Revolução Industrial. São Paulo: Atual, 1987. DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar. 1975. ENGELS, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global, 1985. FALCON, F.; RODRIGUES, G. A formação do mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Campus, 2006. HOBSBAWM, Eric. História do marxismo. v. 1. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios. 1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: LTC, 1986. MANTOUX, P. A Revolução Industrial no século XVIII. São Paulo: Finesp, 1978. MARX, K.; ENGELS, F. Da ideologia alemã (parte I). São Paulo: Paz e Terra, 1964. MORTON, A história do povo inglês. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. MANENT, P. História intelectual do liberalismo. Rio de Janeiro: Imago, 1990. MARX, K; ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Global, 1848-2006. MAYER, A. J. A força da tradição. A persistência do Antigo Regime (1848-1914). São Paulo: Companhia das Letras, 1987. OLIVEIRA, C. R. História do trabalho. São Paulo: Ática, 1987. PROUDHON, P. O que é a propriedade. (1840) Lisboa: Estampa, 1997. RÉMOND, R. O século XIX (1815-1914). São Paulo: Cultrix, 1981. EXPLORE+ Leia o texto O liberalismo vai mudar de novo, do economista Mailson da Nóbrega, publicado na revista Veja, em 15 de maio de 2020, para compreender a atualidade do liberalismo no contexto contemporâneo e possíveis transformações operadas na doutrina liberal em função da crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19. Pesquise na internet e analise trechos do livro Costumes em comum, do historiador inglês Edward Paul Thompson, publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras, em 1998, para se aprofundar na nova fase inaugurada pela Revolução Industrial. Leia a entrevista do historiador Eric Hobsbawm concedida a Andrew Whitehead para a BBC News, em 31 de dezembro de 2011, observando as comparações tecidas por ele entre as recentes revoltas ocorridas no mundo árabe em 2011 e a primavera dos povos de 1848. Assista ao filme O jovem Marx (2017), dirigido por Raoul Peck, para entender melhor a biografia e as ideias de Karl Marx. Assista ao filme Os miseráveis (2012), baseado no romance do literato Victor Hugo, publicado em 1862, para perceber a sensibilidade de ambientação das condições dos trabalhadores franceses no contexto do século XIX e, em particular, nas revoltas de 1848. Assista ao filme Tempos Modernos(1936), um clássico de Charles Chaplin, para acompanhar o cotidiano de um trabalhador comum em contexto de industrialização, em meio às inovações tecnológicas e à exploração do trabalho. CONTEUDISTA Daniel Pinha CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
Compartilhar