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AN02FREV001/ REV 3.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE QUIMIOTERÁPICOS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/ REV 3.0 2 CURSO DE QUIMIOTERÁPICOS MÓDULO ÚNICO Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/ REV 3.0 3 SUMÁRIO 1 QUIMIOTERAPIA E AS ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO ONCOLÓGICO 1.1 ATENDIMENTO ÀS PRESCRIÇÕES MÉDICAS 1.2 CENTRAL DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS 1.3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS 1.4 SEGURANÇA NA MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA 1.5 CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS 1.6 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/ REV 3.0 4 MÓDULO ÚNICO 1 QUIMIOTERAPIA E AS ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO ONCOLÓGICO Nos Estados Unidos, depois da doença cardíaca, o câncer constitui a principal causa de morte. Aproximadamente um em cada cinco pessoas no mundo desenvolvido poderá morrer de câncer nas próximas décadas. De acordo com estatísticas apresentadas em todo mundo, o aumento crescente da incidência do câncer é consequência do crescimento demográfico, da longevidade e provavelmente da entrada de novos fatores cancerígenos causais ou concausais cuja natureza é pouco conhecida. O câncer é um distúrbio celular caracterizado por alterações no processo de duplicação do DNA, resultado em proliferação celular alterada, de forma desordenada. A terapia oncológica consiste no tratamento dos pacientes portadores de câncer, por meio de qualquer das modalidades disponíveis à prática médica. Atualmente o recurso mais empregado é o da quimioterapia, o qual utiliza os medicamentos antineoplásicos, por intermédio de protocolos de um ou mais medicamentos, dependendo do tipo e do estágio do tumor. 1.1 ATENDIMENTO ÀS PRESCRIÇÕES MÉDICAS Conjunto de solicitações escritas pelo médico ao farmacêutico, para a preparação e entrega de um ou mais medicamentos, a prescrição ou receituário médico é redigida contendo informações direcionadas ao farmacêutico, visando ao atendimento do doente. Um receituário médico contém partes imprescindíveis que o torna, personificado e específico para cada paciente: AN02FREV001/ REV 3.0 5 Nome do paciente; Fármacos; Vias de administração; Forma farmacêutica; Indicações de uso; Forma de administração do medicamento. O farmacêutico ao receber uma prescrição deve se certificar de que todas as informações, necessárias a dispensação do medicamento, estão claras e de acordo com o protocolo predefinido pelo médico. Os fármacos devem ser prescritos pelo médico em letra legível de forma explícita, indicando as concentrações desejadas para o tratamento. Cabe ao farmacêutico conferir as doses prescritas de acordo com a superfície corporal do paciente. Caso as doses estejam aparentemente elevadas, o médico deverá sublinhar a dose desejada, demonstrando consistência do fato. Em se tratando de agentes antineoplásicos, estes dados devem ser cuidadosamente avaliados devido às suas características citotóxicas. O atendimento da prescrição médica inclui a confecção de rótulo, o qual deve conter todas as informações necessárias à identificação do paciente, características referentes à reformulação preparada a orientação para a enfermagem na assistência ao paciente. Seguindo o protocolo de cada paciente, o esquema posológico deve estar claro na prescrição médica. Formulado pelo médico, o protocolo quimioterápico, combina diversos medicamentos antineoplásicos destinado ao paciente oncológico e enviado ao farmacêutico para execução das diluições. O tratamento é repetido a um dado intervalo de tempo, denominado ciclo, de acordo com a evolução do paciente. O protocolo deve expressar com clareza: Os fármacos; O veículo; A concentração; A posologia; Via de administração; Tempo de infusão; Informações sobre sequência e duração do tratamento; AN02FREV001/ REV 3.0 6 Periodicidade dos ciclos; Altura; Peso; Superfície corporal; Diagnóstico do paciente. Para os esquemas de altas doses, é importante que o farmacêutico certifique-se junto ao médico de que a dose prescrita é a desejada. A via endovenosa é a mais utilizada, no entanto outras vias podem ser utilizadas, como tópica, oral, muscular, intratecal, intraperitoneal, intrapleural, intravesical e intrarretal. 1.2 CENTRAL DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS Setor onde são realizadas todas as atividades envolvendo a operação farmacêutica de preparo das soluções parenterais destinadas ao tratamento do câncer. As soluções são manipuladas de acordo com a prescrição médica destinada a cada paciente, de forma individual e personalizada. São extremamente complexas as técnicas empregadas para diluir os antineoplásicos, tornando-se aconselhável a centralização das atividades de manipulação desses fármacos. A manipulação centralizada apresenta as seguintes vantagens: Melhor controle dos riscos decorrentes da exposição dos trabalhadores envolvidos com agentes antineoplásicos e meio ambiente; Garantia de qualidade das soluções parenterais e dos serviços prestados aos pacientes oncológicos; Redução dos cistos com recursos humanos, fármacos e material utilizado na manipulação dos antineoplásicos; Melhor gerenciamento do setor, visando a alcançar eficácia, eficiência e efetividade nos serviços prestados. É necessária a elaboração de um projeto claro, conciso e coerente com a realidade de cada hospital ou clínica, para a implementação de uma Central de AN02FREV001/ REV 3.0 7 Manipulação de Antineoplásicos. Cada parte do projeto deve ser explicada com argumentos técnicos para justificar os equipamentos, a área física e os recursos humanos apresentados. A central de manipulação deve ser bem planejada, buscando atender a característica de cada hospital e visando a proporcionar segurança ao trabalhador. Em linhas gerais, deve possuir os seguintes espaços físicos: Área de limpeza do material a ser utilizado: Este espaço destina-se ao armazenamento de limpeza de todo material utilizado na manipulação (Figura 1). FIGURA 1- SALA DE LAVAGEM DE MATERIAL FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Área destinada a paramentação do trabalhador: Esta sala é composta por duas áreas separadas por um banco corrido ou por uma porta. Na primeira parte são deixadas as vestes, sapatos, joias e outros acompanhamentos de uso pessoal. Na segunda área o trabalhador faz a antissepsia das mãos com água e sabão neutro e se equipa com os equipamentos de proteção individual (EPI) (Figura 2). AN02FREV001/ REV 3.0 8 FIGURA 2- SALA DE PARAMENTAÇÃO DO TRABALHADOR FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Sala contendo a câmara de segurança biológica: nesta área, além da câmara de segurança biológica classe II tipo B2, instalam-se as bancadas onde são colocados os materiais necessários as atividades de manipulação farmacêutica (Figura 3). São também colocadas nas bancadas as soluções já preparadas para processar a rotulagem. As paredes devem ser laváveis, com as bordas arredondadas e pelo menosuma das divisórias deve ser de vidro para manter contato visual com a área externa. O ar de dentro da sala deve ser filtrado. AN02FREV001/ REV 3.0 9 FIGURA 3 - SALA DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Área de transferência: após a limpeza, o material é colocado nesta área de onde é transferido para a sala de manipulação e para receber dessas as soluções já preparadas para serem conduzidas as clínicas. Na divisória de vidro que separa as duas salas há uma janela com sistema corrediço por onde é feita a transferência dos produtos. É uma sala que impede a formação de correntes de ar que irão influenciar decisivamente na estabilidade do fluxo de ar da câmara. Esta sala tem contato com a sala de limpeza por meio de uma porta. Deve ainda fazer parte do planejamento de implantação e reestruturação das centrais de manipulação de antineoplásicos um espaço destinado a recepção, cálculos e análises das prescrições. Nesta área devem-se localizar as estantes com as fichas dos pacientes oncológicos, o registro com a lista dos agentes desativadores de cada antineoplásico, as normas e procedimentos adotados em caso de acidentes, cópia dos certificados de manutenção da câmara e fichas contendo os dados de cada trabalhador, tais como dados pessoais e exames do AN02FREV001/ REV 3.0 10 programa de controle médico e saúde ocupacional (PCMSO), cadastro de cada paciente e um terminal de computador para processamento de dados. Câmara de segurança biológica As câmaras de segurança biológica (CSB), classe II B 2, são sistemas eletromecânicos, com pressão negativa de exaustão e filtragem absoluta do ar descendente e ou ascendente capaz de criar ambiente de fluxo laminar vertical, em pequenas áreas de trabalho, independentemente das condições do meio. A câmara de ar classe II são as que possuem fluxo laminar vertical. As CSB são desenhadas especificamente para o trabalho com agentes de risco biológico e adaptadas para o manuseio de agentes antineoplásicos. Portanto, é de suma importância a obediência rigorosa de técnicas de manipulação a fim de minimizar os riscos de exposição a esses agentes. A ventilação, a temperatura do ambiente e o controle microbiológico, dentro da área de manipulação da câmara, devem ser rigorosamente monitorados. Para limpeza dos equipamentos devem- se utilizar agentes adequados e em intervalos regulares de tempo, observando-se as técnicas de procedimentos recomendadas pelo fabricante. Os desinfetantes devem ser trocados periodicamente para não devolver formas de microrganismos resistentes. A limpeza da câmara deve ser feita por pessoal devidamente treinado e conhecedor do risco a que está expondo seguindo as instruções do fabricante. O certificado contendo o laudo de manutenção da câmara deve ser fornecido por empresa idônea. A câmara deve ser instalada em uma área sem turbulência e sem frequente tráfego de pessoas. A movimentação excessiva das mãos, o excesso de materiais, ou objetos de grandes volumes distribuídos no espaço destinado à manipulação dos fármacos, dificulta a circulação do ar e gera um ambiente de ventilação instável, que prejudica a eficiência da câmara. AN02FREV001/ REV 3.0 11 1.3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS Os antineoplásicos para uso oral não são prescritos com muita frequência, e muito embora os fármacos nesta apresentação já estejam prontos para a dispensação, são necessários alguns cuidados ao manuseá-los. A operação mecânica de fracionamento dos comprimidos ou individualização das cápsulas para dispensação faz liberar pó, cuja composição é semelhante a das formas farmacêuticas que lhes deram origem. Quando o fracionamento requer ajuste da dose, a operação farmacêutica envolve atividades minuciosas, como pulverização, pesagem e/ou dissolução de fármaco. É conveniente que se tenha um local exclusivo, com ventilação natural adequada para esta operação, dotado de um sistema exaustão de tal forma que as partículas não contaminem o ambiente de trabalho. É indispensável que o trabalhador esteja equipado com o EPI adequado. Na execução das atividades de manipulação de quimioterapia é aconselhável que o farmacêutico tenha auxiliares, tendo como atribuições: Ligar e preparar CSB; Separar o material; Suprir a sala de manipulação com todos os materiais necessários ao preparo das soluções, rotulá-las e acondicioná-las adequadamente; Limpar e desligar a câmara; Adicionar adequadamente todos os resíduos de antineoplásicos. Essas atribuições possibilitam maior segurança ao manipulador, uma vez que este não precisa se levantar ou se movimentar muito enquanto manipula podendo desenvolver sua atividade com destreza e a rapidez que a técnica exige. Além disso, viabiliza um trabalho mais racional, evitando erros, desperdícios e diminuindo custos. São necessárias algumas precauções para minimizar a formação de aerossol no ambiente de trabalho, tais como: a diluição deve ser rápida, cuidadosa e com rigorosa técnica asséptica; deve-se ter cuidado de não deixar ar dentro da AN02FREV001/ REV 3.0 12 seringa, colocando o bisel em contato com o líquido de dentro do frasco-ampola, afim de não aspirar o ar existente; a seringa deve ser selecionada de acordo com o volume a aspirar. A sequência para a manipulação dos antineoplásicos segue, em linhas gerais, os seguintes passos: Análise das prescrições, realização dos cálculos e confecção dos rótulos; Separação e limpeza do fármaco e da bolsa de diluente. Conduzi-los à sala de transferência e desta à sala de manipulação; Após se desfazer de todos os adornos pessoais, faz-se a antissepsia das mãos e antebraço. Segue-se a paramentação com os EPI; Cubra a bancada com um campo de plástico e sobre este outro campo de papel absorvente, ambos estéreis; O auxiliar vai distribuindo o material sobre a bancada à medida que forem sendo desenvolvidas as atividades de manipulação; Posicionar-se junto à câmara e calçar as luvas cirúrgicas; Proceder à reconstituição do fármaco e à sua diluição de acordo com as técnicas de manipulação farmacêutica, observando a dose prescrita pelo médico; Conectar o equipo e verificar a ocorrência de vazamento; Entregar ao auxiliar para a rotulagem; A utilização de gazes estéreis é sempre recomendada para dar mais segurança, no momento de quebrar a ampola, aspirar à solução do frasco-ampola e ao adicionar o medicamento reconstituído à bolsa de sistema fechado, contendo soro fisiológico, glicosado ou outro diluente. 1.4 SEGURANÇA NA MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA Diante da evidência do risco de exposição ocupacional em que ocorre a possibilidade dos antineoplásicos causarem mutação e câncer em trabalhadores expostos, muitos países têm elaborado recomendações para a manipulação segura destes agentes. AN02FREV001/ REV 3.0 13 Alguns trabalhadores se expõem desnecessariamente a esses agentes, porque não são devidamente treinados educados para trabalhar com agentes potencialmente tóxicos. FIGURA 4 - MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERÁPICOS FONTE: Arquivo pessoal (manipulação realizada no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Técnicas perfeitas de manipulação são muito difíceis de serem executadas, os equipamentos de manipulação não são absolutamente infalíveis. Por isso, é muito importante que seja adotado um programa bem estruturado para a proteção do meio ambiente e do trabalhador que manuseia antineoplásicos. Os agentes antineoplásicos devem ser preparados em CSB classe II, tipo B2, de uso exclusivo, obtida de empresa idônea, instalada por pessoaldevidamente habilitado e treinado. Deve ser instalada em uma área sem turbulência, com ar filtrado, devendo ser ligada de 15 a 30 minutos antes de iniciar os trabalhos e desligada 15 a 30 minutos após terminá-los , ou conforme orientação do fabricante. Deve incluir na manutenção da câmara a troca de pré-filtro e do filtro HEPA, seguindo rigorosamente as orientações do fabricante, de forma a garantir a AN02FREV001/ REV 3.0 14 eficiência operacional e a integridade dos processos eletromecânicos. O tempo de duração dos filtros de alta eficiência (HEPA) é em medida de três anos, dependendo dos cuidados utilizados na técnica de manipulação dos produtos. A limpeza da área crítica deve ser feita com produto apropriado, antes do trabalho e após o término das atividades, em concordância com as boas práticas da farmácia. A parte externa da câmara deve ser limpa com detergente suave e a parte interna com álcool 70%, lembrando que este produto em excesso pode danificar as borrachas de vedação. O trabalhador deve utilizar capote de tyvec com gorro e botas, fechado na frente, com mangas longas e punhos. Deve usar ainda luvas cirúrgicas, óculos panorâmico de segurança e respirador classe P3. As soluções preparadas devem ser colocadas em recipientes impermeáveis rígidos, com, tampa, e transportados até o local de administração em carrinhos, de modo a prevenir quebra e/ou vazamentos. O trabalhador deve estar adequadamente equipado. O lixo contendo antineoplásicos deve ser coletado em lixos resistentes à perfuração e a vazamentos de líquidos ou vapores, os quais são colocados em sacos de plástico grosso, identificados como lixo tóxico e conduzidos à incineração. O lixo contaminado com esses agentes não deve ser misturado com outro material a ser descartado. A desativação química, do material contendo resíduos de antineoplásicos só deve ser feita por pessoal habilitado e devidamente treinado. A estocagem deve ser feita em prateleiras com proteção frontal, desenhadas especificamente para produtos perigosos, para prevenir quebras e vazamentos. Os agentes termolábeis devem ser guardados em geladeira, separados dos demais medicamentos e devidamente identificados. As normas escritas de manipulação e procedimentos técnicos de segurança devem ser colocadas em local de fácil acesso aos trabalhadores de antineoplásicos e sempre que houver dúvidas, as mesmas devem ser dirimidas. Deve-se desenvolver uma política de aderência dos trabalhadores ao programa de segurança do trabalho. A farmácia deve possuir documentos que contenham informações sobre a toxicidade aguda, tratamento em caso de exposição acidental, inativadores químicos e características fisioquímicas dos antineoplásicos manuseados. AN02FREV001/ REV 3.0 15 Desenvolver atividades de treinamento e educação de todos os trabalhadores envolvidos com antineoplásicos. Os trabalhadores expostos devem relatar, em fichas individuais, os acidentes de trabalho, nomeando os antineoplásicos envolvidos e a forma de exposição. 1.5 CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS Agentes químicos usados no tratamento do câncer para inibir o crescimento celular, atuando sobre as moléculas que controlam a divisão e o desenvolvimento das células. O grupo farmacológico dos antineoplásicos inclui diversos agentes que atuam por mecanismos complexos, por meio de interações desses com o ácido desoxirribonucleico (DNA), ácido ribonucleico (RNA) e proteínas. Apesar do processo de interação não estar bem esclarecido, sabe-se que os agentes antineoplásicos atuam de forma semelhante à irradiação ionizante. Eles não destroem diretamente as células cancerígenas, porém impedem e/ou diminuem a habilidade de replicação do DNA, não possuindo ação seletiva sobre os tecidos neoplásicos e apresentando efeitos cumulativos. O efeito antineoplásico é dependente da ação citotóxica, afetando indistintamente tanto as células normais quanto as células alteradas, especialmente aquelas que se dividem rapidamente, como as da medula óssea, epitélio gastrointestinal, pele folículo piloso, epitélio germinativo das gônadas e as estruturas embrionárias. Os pacientes terapeuticamente expostos a esses agentes podem apresentar reações adversas, como náuseas, vômitos, alopecia, hiperpigmentação, reações cutâneas e efeitos tóxicos em diversos órgãos: coração, rins e pulmões. A classificação dos antineoplásicos é feita de forma empírica, com base no mecanismo de ação sobre o ciclo de reprodução celular. Estão distribuídos entre os grupos: AN02FREV001/ REV 3.0 16 Agentes Alquilantes Constituem um grupo de várias substâncias químicas, cuja característica comum é a alquilação do DNA. As células expostas a um agente alquilante têm átomos de hidrogênio substituídos por um radical alquil, resultando em ligação cruzada e formação de bases anormais nas moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA). Entre esses está à mostarda nitrogenada, ciclofosfamida, ifosfamida, bussulfano, carmustina, estreptozocin, dacarbazina. Todos os antineoplásicos da classe dos alquilantes apresentam reações adversas sobre o sistema reprodutivo, causando amenorreia muitas vezes permanente, particularmente em mulheres com idade próxima a menopausa e no homem pode causar azospemia irreversível e oligospermia. Podem causar efeitos irritantes por contato direto com a pele e dependendo da intensidade da lesão, podem produzir efeitos sistêmicos. São agentes de atuação inespecífica, isto é, atuam em qualquer fase do ciclo de reprodução celular. Agentes antimetabólicos Constituído por fármacos que interferem em diversos processos metabólicos celulares, resultando em interrupção da síntese de ácidos nucleicos. Podem agir por duas maneiras: por incorporação do fármaco em substituição a um constituinte normal da célula ou por inibição de uma enzima do metabolismo celular. Os efeitos tóxicos originados da ação dos antimetabólitos se manifestam por meio de náuseas, mielossupressão grave, estomatite e alopecia moderada. Entre os agentes antimetabólicos estão o metotrexate, 5-fluorouracil, citarabina, tioguanina, mercaptopurina. Estes agentes são tóxicos para todas as células normais, especialmente as que se dividem rapidamente, com potencial teratogênico e mutagênico, e quando administrados por tempo prolongado pode levar à cirrose e a fibrose hepática. AN02FREV001/ REV 3.0 17 Antineoplásicos naturais O grupo dos antineoplásicos naturais é formado por alcaloides derivados da vinca, etoposido e teniposido, antibióticos e paclitáxel. Estas substâncias são agentes ciclocelulares específicos que bloqueiam as células em mitose. As atividades biológicas desses fármacos estão na capacidade de ligar-se tubulina, interferindo no funcionamento dado pelo sistema de microtúbulos, que é um dos componentes do fuso mitótico. Por meio da destruição dos microtúbulos a divisão celular é detida na metástase. A ação tóxica mais importante é a mielossupressão e toxicidade neurológica. O etoposido e o teniposido estão classificados dentro do grupo dos agentes antineoplásicos naturais, por ser fármacos semissintéticos derivados da podofilotoxina. Esses agentes ligam-se à tubulina em locais diferentes daqueles usados para interação com os alcaloides da vinca. Seu mecanismo de ação parece estar relacionado com a ruptura da alça dupla do DNA. Seu efeito principal ocorre na fase terminal S e inicial G2 do ciclo de reprodução celular. Foram observadas duas diferentes respostas em função da dose: Em altas concentrações – foi observado lise das células entrando em mitose. Em baixas concentrações – foi observado que as células são inibidas ao iniciar a fase de prófase. O etoposido e o teniposido têm a sua ação citotóxica manifestada por leucopenia, trombocitopenia, neurotoxicidade,toxicidade hepática, febre, flebite, dermatite e reações alérgicas. Os antineoplásicos classificados como antibióticos resultaram da triagem de produtos antimicrobianos, que levaram a descoberta de diversos inibidores de crescimento celular, os quais se mostraram úteis no tratamento do câncer. Todos os antibióticos antineoplásicos, clinicamente úteis, são produtos semissintéticos, derivados de várias cepas, do fungo streptomyces. Os antibióticos antineoplásicos dactininicina-D, daunorrubicina, doxorrubicina, bleomicina e mitomicina se ligam fortemente a dupla hélice do DNA, através da intercalação entre as bases púricas e pirimidínicas, interrompendo o AN02FREV001/ REV 3.0 18 prolongamento da cadeia de DNA e causando graves distorções cromossômicas. Essas distorções bloqueiam a síntese de novo RNA, do DNA ou ambos, provocando a ruptura das fitas de DNA e impedindo a duplicação celular. Os efeitos tóxicos são imunossupressão, cardiotoxicidade, (aguda e acumulativa), alopecia e são vesicantes ao entrar em contato direto com a pele. Outros efeitos adversos são náuseas, estomatite e nefrotoxicidade. O paclitaxel promove formação e agrupamento anormal e a instabilização dos microtúbulos formados. Liga-se à subunidade beta-tubulina antagonizando a desmontagem dessa proteína, fazendo com que estruturas aberrantes apareçam nas células. Segue-se a parada da mitose podendo ocorrer morte celular. A ação citotóxica é manifestada por reações de hipersensibilidade ao fármaco, como rubor, dispneia, hipotensão, taquicardia, neurotoxicidade, cardiotoxicidade e hepatixicidade. Agentes diversos O grupo de agentes diversos é composto pelos antineoplásticos cisplatina, carboplatina, hidroxiureia, procarbazina, dacarbazina e mitutano, L-asparaginási. Esses compostos possuem um mecanismo de ação variado e pouco elucidado, agindo em fase inespecífica do ciclo celular. Interferem na duplicação do DNA, inibindo a multiplicação das células por meio de alterações cromossômicas em tecidos neoplásicos e em tecidos normais. Podem causar toxicidade neurológica, com efeitos cumulativos, como formigamento e entorpecimento das extremidades, náuseas, vômitos, anorexia, hiperuricemia, granulocitopenia, nefrotoxicidade, desequilíbrio eletrolítico e neutropenia. Inclui ainda leucopenia e trombocitopenia e imunossupressão. A procarbazina é altamente carcinogênica, mutagênica e teratogênica. Tem sido relacionada também infertilidade, particularmente em homens. O agente antineoplástico L-asparaginasi é uma enzima que, ao catalisar a hidrólise da asparagina circulante, priva essas células da asparagina necessária à síntese de proteína, podendo levar a morte celular. Os efeitos tóxicos mais significantes são de hipersensibilidade, hiperglicemia, anormalidades de coagulação e supressão da função imune. AN02FREV001/ REV 3.0 19 1.6 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO A eficácia dos fármacos antineoplásicos é alcançada mediante o seu potencial citotóxico, indicando que pequenas variações nas doses podem gerar graves danos ao paciente. Se forem preparadas doses ligeiramente menores do que as prescritas poderão não produzir o efeito esperado, se as doses forem ligeiramente maiores poderão gerar um quadro de toxicidade, que pode ser letal. As doses prescritas devem ser rigorosamente atendidas. Deve-se ainda considerar que os doentes portadores de câncer são imunossuprimidos, quer pela doença de base, quer pelo fármaco que lhe está sendo administrado. É necessário, portanto, a utilização de uma técnica rigorosamente asséptica para o preparo das soluções parenterais, contribuindo dessa maneira para evitar quadros de infecção e septicemia. O farmacêutico que atende ao paciente oncológico ajuda na detecção de sintomas indicativos de sobreposição de toxicidades. É aconselhável que o farmacêutico sugira a diminuição das doses de pelo menos um dos componentes do esquema terapêutico. É também aconselhável que o farmacêutico em qualquer situação acompanhe a evolução clínica do paciente se inteirando das reações colaterais significantes, verificar se o medicamento está sendo administrado no tempo prescrito pelo médico e a forma como está sendo acondicionado na clínica. AN02FREV001/ REV 3.0 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Portaria 3.616/MS/GM, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Política Nacional de Medicamentos. ______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Institui normas para licitações e contratos de administração pública. ______. Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002. Institui a modalidade de licitação denominada pregão, para a aquisição de bens e serviços comuns. GOODMAN & GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. Rio de Janeiro: Mcgraw-Hill Interamericana, 2007. GOMES, M. J. V. M.; REIS, A. M. M. Ciências Farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar. São Paulo: Atheneu, 2006. NETO, J. F. M.; Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde. São Paulo: RX, 2005. FIM DO CURSO!
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