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AULA 03 - DIR FAMÍLIAS

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AULA 03 – CAUSAS SUSPENSIVAS E HABILITAÇÃO 
1. Oposição de impedimentos:
Trata-se do ato em que o juiz e/ou padre questiona se alguém sabe de algo que contrarie o casamento. Consiste em uma situação extremamente rara.
É mais comum pleitear-se a nulidade do casamento posteriormente. 
Os sete impedimentos estudados na aula passada são chamados de Numerus clausus (rol taxativo/fechado). 
Nesse sentido, uma amante grávida do noivo não pode alegar tal motivo para impedir o casamento, já que a gravidez da amante não é cláusula de impedimento. Da mesma forma não há como impedir o casamento entre primos (parentes colaterais de 4º grau). 
2. Hipóteses de causas suspensivas:
OBS: Não pode casar (regra – casamento nulo) x não deve casar (recomendação/conselho – adota-se o regime de separação de bens). 
	BENS DE A
	BENS COMUNS DE A E DE B
	BENS DE B
A família é a base da sociedade (o que se encontra positivado nas Constituições contemporâneas). O Estado interfere nessas hipóteses (de não devem casar), criando mecanismos para obrigar o casamento por meio do regime de separação de bens. O Estado mexe – seja de forma mais forte (nulidade) ou mais branda (questões patrimoniais) – nos casamentos. 
Causas suspensivas são as situações de fato e/ou de direito, previstas em lei, derivadas da dissolução de casamento anterior ou de relação de possível subjugação de interesses patrimoniais decorrentes da tutela ou curatela, as quais, enquanto não superadas, ensejam o dever relativo de não casar, ou caso haja o matrimônio, acarretam a obrigatoriedade de adoção do regime de separação de bens. 
Art. 1.523 – CC: Não devem casar:
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
O (a) viúvo (a), se quiser, pode se casar imediatamente após a morte do antigo cônjuge. 
O ordenamento jurídico aconselha, todavia, antes disso, a realização da partilha dos bens do falecido entre os herdeiros com o intuito de não gerar uma confusão patrimonial. Tem-se em vista, portanto, a proteção do patrimônio dos herdeiros. 
Herança de A: bens particulares de A + meação de A.
Em virtude da obrigação do casamento pelo regime de separação de bens, após a partilha do inventário do ex-cônjuge o Código Civil concede às partes o direito de alterar o regime de bens (só quando há a superação da condição suspensiva). 
Art. 1.639 – CC: 
§ 2º É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
Hoje é mais comum a utilização do disposto no parágrafo segundo do artigo transcrito para realizar a transição da comunhão parcial de bens para o regime de separação de bens, uma vez que este permite maior estabilidade na relação conjugal (reduz a probabilidade de eventuais conflitos). 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;
A viúva pode estar grávida do marido falecido. Neste sentido, visa-se a garantir os direitos do nascituro, entre esses, o direito à herança. O direito de herança somente será concretizado, verdadeiramente, se o feto nascer com vida, mas desde a concepção (possibilidade de nascer), o Direito se dedica à proteção dos direitos do nascituro. 
Art. 2º - CC: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 
Art. 1597 – CC: Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos 
II – nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; 
Art. 1798 – CC: Legitima-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. 
OBS: Turbatio sanguinis (confundir o sangue) – dúvida acerca da paternidade do nascituro (hipossuficiente na relação). 
 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;
A partilha de bens, sobretudo no que tange aos bens imóveis e animais, tende a levar um tempo significativo – podendo durar meses e até anos – para resolver o impasse. Por isso, o Código aconselha, mas não proíbe o casamento do divorciado enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal. Ademais, os cônjuges que pretendem se divorciar não mais permanecem casados contra a sua vontade até a partilha dos bens, já que o juiz decreta o divórcio previamente. Destarte, o divórcio é um direito potestativo – exercício unilateral de vontade. 
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. 
Esse é o inciso mais fácil de se compreender. O tutor/curador e parentes próximos não podem se casar com o tutelado/curatelado enquanto durar a tutela/curatela. 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. 
Dessa forma, é permitido aos noivos contratar um advogado para que este entre com uma petição ao juiz em prol da não aplicação do regime de separação de bens. Deve-se constatar a não ocorrência de prejuízo a terceiros interessados no casamento (herdeiros, ex-cônjuge, tutelado, curatelado).
3. Oposição de causas suspensivas: 
Art. 1.524 – CC: As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser argüidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangüíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consangüíneos ou afins. 
Colateral de segundo grau = irmãos. 
Observa-se que o Código limita aqueles que podem arguir causas suspensivas de casamento: parentes em linha reta de um dos nubentes – sejam consanguíneos ou afins – e pelos colaterais em segundo grau – sejam também consanguíneos ou afins. 
4. Formalidades matrimoniais: 
Art. 104 – CC: A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Já trabalhamos a capacidade para o casamento e as hipóteses em que não podem haver casamento. Agora, vamos analisar o inciso III do art. 104 – a forma prescrita ou não defesa (proibida) em lei – para a validade do casamento. 
A forma prescrita para o casamento compõe as formalidades matrimoniais. 
Denomina-se formalidades do casamento à sequência de procedimentos exigidos pela Lei (Código Civil – arts. 1525 a 1542 e Lei de Registros Públicos, Lei nº 6.015/73, - arts. 67 a 70). 
· Habilitação: Ocorre no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais. Trata-se do pedido de expedição de certidão de habilitação para se casar, formulado pelo casal interessado ao oficial do registro do distrito de residência de um dos nubentes, devidamente instruído com os documentos indicados no art. 1525 do novo Código Civil. A habilitação serve para publicitar o casamento com o fito de encontrar alguém que se oponha a tal casamento (o que é uma medida anacrônica, tendo em vista o avanço das redes sociais). 
Art. 1.525 – CC: O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos:
I - certidão de nascimento ou documento equivalente;
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra;
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento queos iniba de casar;
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos;
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.
A certidão de nascimento é importante para constatar a capacidade e mostrar quem são os parentes do indivíduo. 
No caso de menores de idade, aplica-se o inciso II (autorização dos representantes legais – pais). 
Ademais, é necessária a presença de duas testemunhas maiores (18+ anos), parentes ou não para atestar a presença ou não dos incisos do art. 1521 do Código Civil. Tal disposição normativa é ineficaz, já que a nulidade do casamento pode ser decretada posteriormente e as testemunhas, geralmente, não são detentoras de conhecimento da área do Direito de Família. 
O inciso IV é importante pois somente podem casar: solteiros, viúvos e divorciados. Deve-se, portanto, analisar o estado civil dos que se pretendem se casar. 
Art. 1.526 – CC:  A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 12.133, de 2009) Vigência
Parágrafo único.  Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação será submetida ao juiz. (Incluído pela Lei nº 12.133, de 2009) Vigência
A audiência aqui não apresenta sentido processual. Todo processo de habilitação passa por um promotor de justiça. A habilitação só vai para o juiz caso haja impugnação do oficial – a constatação de alguma irregularidade. 
Art. 1.527 – CC: Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver.
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação.
Edital era o jeito antigo de se colocar por escrito em um mural na porta da Igreja que A e B pretendem se casar, bem como explicitando informações sobre os futuros cônjuges. O sentido é, portanto, de dar publicidade ao casamento. Tal edital é anacrônico e perdeu o sentido na contemporaneidade.
Art. 1.528 – CC: É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens.
É raro na prática, mas é dever do oficial do registro esclarecer os aspectos jurídicos vinculados ao casamento. 
Art. 1.529 – CC: Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas.
Art. 1.530 – CC: O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu.
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados, e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé.
Art. 1.531 – CC: Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a inexistência de fato obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação.
Art. 1.532 – CC: A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o certificado.
Após a habilitação, os indivíduos têm 90 dias para se casar. Caso contrário, ter-se-á que conseguir uma nova habilitação.

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