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1 Hanseníase | Larissa Seixas Gomes A hanseníase é uma infecção crônica, granulomatosa, curável, que tem como agente etiológico o Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen (BH), um micro- organismo de elevada infectividade, porém baixa patogenicidade, isto é, poucos indivíduos infectados adoecem. • Transmissão aérea - Baixa infectividade/baixa patogenicidade - Incubação prolongada (mais extenso que a tuberculose), a média vai de 2-7 anos - Além disso, na tuberculose existe um tropismo para a porção neural e pulmonar. Já na hanseníase, os alvos são pele e nervo periférico. OBS: Então é aquele paciente que chega com lesão cutânea e que tem alteração de sensibilidade. TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE As vias aéreas superiores provavelmente constituem a principal via de inoculação e eliminação do bacilo. Soluções de continuidade na pele eventualmente podem ser porta de entrada da infecção. Secreções orgânicas como leite, esperma, suor e secreção vaginal podem eliminar bacilos, mas não possuem importância na disseminação da hanseníase. Existem marcadores imunológicos relacionados à capacidade dos macrófagos em destruir o bacilo ou simplesmente deixá- lo se multiplicar. Os fenótipos HLA-DR2 e HLA-DR3 estão relacionados à forma paucibacilar; e o fenótipo HLA-DQ-1, à forma multibacilar da doença. O período de incubação é longo, em média de dois a cinco anos, podendo ser de meses a mais de dez anos. Isso ocorre em virtude do M. leprae ser um micro-organismo “lento”, que se reproduz por divisão binária simples a cada 14 dias, sendo necessários muitos anos para que o organismo possua uma carga bacilar capaz de expressar-se clinicamente. Depois da sua entrada no organismo, não ocorrendo a sua destruição, o bacilo de Hansen irá se localizar na célula de Schwann e na pele. Sua disseminação para outros tecidos (linfonodos, olhos, testículos, fígado) pode ocorrer nas formas mais graves da doença, nas quais o agente infectante não encontra resistência contra a sua multiplicação A imunidade humoral (dependente de anticorpos) é ineficaz contra o M. leprae. A defesa é efetuada pela imunidade celular, capaz de fagocitar e destruir os bacilos, mediada por citocinas (TNF-alfa, IFN-gama) e mediadores da oxidação, fundamentais na destruição bacilar no interior dos macrófagos. Na forma paucibacilar (lesões tuberculoides), há predomínio de linfócitos Th1, produzindo IL-2 e IFN-gama, enquanto que na forma multibacilar (lesões virchowianas ou lepromatosas), o predomínio é de linfócitos T supressoras e Th2, produzindo IL-4, IL-5 e IL-10. 2 Hanseníase | Larissa Seixas Gomes Na hanseníase tuberculoide, a exacerbação da imunidade celular e a produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1 e TNF-alfa) impedem a proliferação bacilar, mas podem se tornar lesivas ao organismo, causando lesões cutâneas e neurais, pela ausência de fatores reguladores. Na hanseníase virchowiana, a produção de substâncias pelo bacilo (ex.: PGL-1), no interior do macrófago, favorece seu escape à oxidação, pois estes possuem função supressora da atividade do macrófago e favorecem a sua disseminação. CLASSIFICAÇÃO Existe alguns tipos de classificação para a Hanseníase, tais como, a de Madrid, a de Ridley e a de Jopling. ➔ A de Madrid, considera 2 polos estáveis (Virchowiano e tuberculoide). E 2 polos instáveis (indeterminada e dimorfo), onde essas, ao longo do curso da doença caminhariam para um dos polos estáveis. ➔ A classificação de Ridley e Jopling, divide a hanseníase em: forma tuberculoide (TT), casos borderline ou dimorfos que são subdivididos em Dimorfo-Tuberculoide (DT), Dimorfo- Dimorfo (DD) e Dimorfo-Virchowiano (DV), Virchowiano-Subpolar (VVs) e Virchowiano (VV). ➔ E existe ainda a classificação operacional da OMS se dá pelo número de lesões; quando até cinco lesões, é classificado como paucibacilar, e quando apresentar mais de cinco lesões, é classificado em multibacilar. QUADRO CLÍNICO A partir do momento que a pessoa tem o contato e começa a aparecer a clínica do paciente, a primeira lesão, é o que chamamos de forma indeterminada da doença. Normalmente, o paciente aparece com uma macula, hipocrômica, sem pelos no local e a baciloscopia tipicamente negativa. Muitos desses pacientes, muitas vezes, vão ter essa lesão e não vão perceber, e muitos evoluem para a cura, após essa lesão indeterminada. Já dos pacientes que evoluem com a doença, eles podem evoluir em basicamente, 2 polos específicos, que são antagônicos e isso vai depender da imunidade predisposta que o organismo de cada pessoa vai desenvolver frente a infecção de hanseníase. 1. O 1º polo é o tuberculoide ou Hanseniase tuberculoide, que é o polo que “briga” bem contra o bacilo. (imunidade celular – indivíduos que desenvolvem uma boa imunidade celular contra o bacilo, eles conseguem isolar o bacilo e fazer poucas lesões). Nesse caso, as lesões são bem delimitadas, placa eritematosa ou hipocômica e a baciloscopia é negativa. OBS: Existe um teste, chamado de reação de Mitsuda (+), que auxilia a detectar qual a forma clínica da hanseníase, não é para diagnóstico, e sim para detectar a forma clínica. 2. O 2º polo, são os pacientes que vão fazer a forma lepromatosa, também conhecida como Virchowiana, nesse caso, é usado a imunidade humoral, em que os anticorpos que vão brigar contra o bacilo (ele não tem linfócitos e celulas 3 Hanseníase | Larissa Seixas Gomes imunes suficientes para “brigar” bem contra o bacilo). Nesses casos, a baciloscopia vem positiva. OBS: existe os indivíduos que ficam entre essas duas apresentações clínicas, que é chamado de DIMORFA ou boderline, nesse caso, os pacientes desenvolvem placas eritematosas variadas, ao invés de delimitadas, e a baciloscopia dá positiva. REAÇÕES HANSÊNICAS Existe basicamente, duas reações que podem acontecer em qualquer momento da doença, e elas vão acontecer de acordo com a imunidade que o indivíduo tem. • Reação reversa TIPO 1: o paciente muitas vezes está bem, até que ele passa por um aumento de imunidade celular contra o bacilo, e com isso a lesão ou neuropatia piora. Lesão cutânea agudizada, piora da neuropatia. Tratamento: com corticoide para barrar essa resposta celular, ou seja, fazer imunossupressão nesse paciente, é usado PREDNISONA 1-2 mg/kg/dia. OBS: acontece na hanseníase tuberculoide. • TIPO 2 (eritema nodoso): aqui não é uma reação celular, é uma reação mediada por imunocomplexos e esses complexos são formados entre entigenos e anticorpos e podem se depositar em qualquer lugar da pele, causando inflamação. Nódulo eritematoso, orquite, glomerulite... OBS: acontece na hanseníase virchowiana. Tratamento: pode também ser utilizado corticoide, porém, existe outra droga que é mais preferível, que é a Talidomida. Porem, a talidomida não deve ser prescrita para pacientes em idade fértil. (e aí nos casos que não pode utilizar a talidomida usa-se o corticoide ou a pentoxifilina). OBS: SE APARECE ALGUMA DESSAS REAÇÕES (TIPO 1 OU TIPO 2), NÃO PRECISA INTERROMPER OU REINICIAR O TRATAMENTO. OBS: como essas reações podem acontecer a qualquer período, inclusive depois do tratamento, se ocorrer, não precisa reiniciar o tratamento, porque isso não é uma recidiva. DIAGNÓSTICO A mycobactéria não é uma forma fácil de fazer cultura, não precisa encontrar o agente, não precisa esperar uma baciloscopia +, para fechar o diagnóstico. Desse modo, o diagnóstico, é essencialmente clinico. Se o paciente tiver 1 dos achados, pode confirmar o diagnóstico: • Lesão de pele com alteração da sensibilidade (térmica – dolorosa – tátil). • Evidencia de acometimento de nervo periférico (espessamento, neuropatia) • Baciloscopia positiva(extraor a linfa de lóbulos e cotovelos + raspado da lesão) OBS: A baciloscopia é o exame complementar mais útil no diagnóstico; é de fácil execução e baixo custo. Deve ser feito com a linfa obtida em pelo menos quatro locais (lóbulos das orelhas direita e esquerda, cotovelos direito e esquerdo) e em lesão cutânea suspeita. Em caso de dúvida, pode-se lançar mão de provas complementares, que são o teste da 4 Hanseníase | Larissa Seixas Gomes histamina (ausência do eritema secundário) e da pilocarpina (anidrose). A reação de Mitsuda é um teste de aplicação intradérmica cuja leitura é tardia (28 dias). Utiliza-se na classificação da doença e na definição do prognóstico. Não possui valor para o diagnóstico, pois de um modo geral é encontrado de forma positiva na população sã, que já teve contato com o bacilo, porém não desenvolveu a doença por apresentar boa imunidade. O teste consiste na aplicação intradérmica – na superfície extensora do antebraço direito – de 0,1 ml de um preparado que contém 40 a 60 milhões de bacilos mortos por mililitro Após cerca de 48 a 72 horas da injeção, observa-se uma reação localizada (semelhante à reação tuberculínica), denominada reação de Fernandez, de significado incerto. Depois de 28 a 30 dias pode ocorrer uma segunda reação tardia à mitsudina ou lepromina: é a reação de Mitsuda. Esta consiste na presença de uma pápula ou nódulo, que pode ou não ulcerar. Segundo a OMS, reações até 5 mm chamamos de mitsuda negativo, e acima de 5 mm chamamos de mitsuda positivo. Na lepra de Lucio existe a leitura da chamada reação de Medina, seis horas após a inoculação intradérmica da lepromina. TRATAMENTO Existe uma classificação operacional criada pela OMS, baseada no número de lesões e que auxilia no tratamento da Hanseniase. Ela divide o paciente em 2 grupos: PAUCIBACILAR (PB): QUE TEM ATÉ 5 LESÕES Que se enquadra a forma indeterminada (inicial) e a forma tuberculoide. Esse paciente vai fazer o tratamento com duas drogas, drogas essas, com administração mensal, de forma supervisionada, além de receber cartelas com comprimidos para doses diárias. - MEDICAÇÕES: • Rifampicina (600mg 1x/mês) • Dapsona 100mg 1x/mês + 100mg/dia Esse paciente faz essas duas medicações, e a ideia é que ele faça 6 doses supervisionadas, o que dura em torno de 6 meses. Mas é permitido que ele faça essas doses em até 9 meses MULTIBACILAR (MB): QUE TEM MAIS DE 5 LESÕES. Se enquadra aqui, pacientes com a forma Virchowiana e a forma Dimorfa/boderline. - MEDICAÇÕES: • Também é utilizada rifampicina e dapsona, como na paubacilar. Mas nesse caso, também é feito a Clofazamina 300mg 1x/mês + 50mg + dia. Nesse caso, é indicado que seja feita 12 doses supervisionadas, o que dura em torno de 12 meses, porém, é permitido que esse tratamento leve até 18 meses. OBS: existe um achado que se vier positivo o paciente já vai ser caracterizado automaticamente como um dos grupos, que é a baciloscopia. Se ela vier positiva, ele é classificado como multibacilar e desse modo, fará o tratamento mais prolongado e com as 3 medicações. OBS: gravidez e HIV não altera o esquema terapêutico. 5 Hanseníase | Larissa Seixas Gomes RECIDIVA As reações hansênicas podem ocorrer em até 30% dos casos! Ou seja, ao final do tratamento o paciente deve continuar sendo avaliado e é muito importante diferenciar um deficit residual ou estado reacional de um caso de recidiva. No caso de estados reacionais, por exemplo, a pessoa deverá receber tratamento específico, sem reiniciar, porém, o tratamento PQT/OMS. No caso de suspeita de recidiva, o paciente deverá ser encaminhado para um centro de referência para confirmação e reinício do tratamento. De acordo com o MS, os critérios clínicos para o diagnóstico de recidiva, segundo a classificação operacional, são: Paucibacilares (PB) – paciente que, após alta por cura, apresentar dor no trajeto de nervos, novas áreas com alterações de sensibilidade, lesões novas e/ou exacerbação de lesões anteriores, que não respondem ao tratamento com corticosteroide, por pelo menos 90 dias. Multibacilares (MB) – paciente que, após alta por cura, apresentar: lesões cutâneas e/ou exacerbação de lesões antigas; novas alterações neurológicas, que não respondem ao tratamento com talidomida e/ou corticosteroide nas doses e prazos recomendados; baciloscopia positiva; ou quadro clínico compatível com pacientes virgens de tratamento. CONTROLE DA HANSENÍASE A proteção desses indivíduos é feita com a BCG, então é feito um exame dermatoneurológico nos contactantes. Se essa pessoa é assintomática, é administrado 1 dose de BCG para ela. Porem, se a pessoa já tiver 2 cicatrizes vacinais, não faz a BCG.
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