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Lara Mendonça P6 1. Definir a dependência química e citar as principais drogas envolvidas (dependência como transtorno, Critérios diagnósticos do DSM-V, álcool, tabaco, cocaína , crack e maconha). → A síndrome de dependência é um quadro grave, com vários níveis de prejuízos social, físico e psíquico. Nesse processo, fenômenos comuns às dependências são observados. Entre eles: • Fissura – desejo intenso de usar a substância. • Binge – episódios de uso compulsivo da substância. • Lapso – distinto da recaída, o lapso acontece quando há o uso da substância em contexto de tratamento, mas não ocorre mudança nas atitudes do paciente (não segue as orientações médicas, não evita a companhia de amigos usuários). • Recaída – propriamente dita, quando após período de abstinência e de mudança de atitude, o paciente volta a usar a substância. • Tolerância – por processos de neuroadaptação, para se obter o efeito desejado, a dose da substância é aumentada, ou seja, uma dose menor já não faz efeito e para obtê-la há o escalonamento da dose. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a dependência química como uma doença crônica e progressiva, ou seja, que piora com o passar do tempo, além de gerar outras doenças e ser fatal. É um transtorno mental caracterizado por um grupo de sinais e sintomas decorrentes do uso de drogas. Todas as drogas que são consumidas em excesso têm em comum a ativação direta do sistema de recompensa do cérebro, o qual está envolvido no reforço de comportamentos e na produção de memórias. A ativação do sistema de recompensa é intensa a ponto de fazer atividades normais serem negligenciadas. Em vez de atingir a ativação do sistema de recompensa por meio de comportamentos adaptativos, as drogas de abuso ativam diretamente as vias de recompensa. Os mecanismos farmacológicos pelos quais cada classe de drogas produz recompensa são diferentes, mas geralmente ativam o sistema e produzem sensações de prazer, frequentemente denominadas de “barato” ou “viagem”. Além disso, indivíduos com baixo nível de autocontrole, o que pode ser reflexo de deficiências nos mecanismos cerebrais de inibição, podem ser particularmente predispostos a desenvolver transtornos por uso de substância, sugerindo que, no caso de determinadas pessoas, a origem dos transtornos por uso de substância pode ser observada em seus comportamentos muito antes do início do uso atual de substância propriamente dito. Os transtornos relacionados a substâncias dividem-se em dois grupos: transtornos por uso de substância e transtornos induzidos por Lara Mendonça P6 substância. As condições a seguir podem ser classificadas como induzidas por substância: intoxicação, abstinência e outros transtornos mentais induzidos por substância/medicamento (transtornos psicóticos, transtorno bipolar e transtornos relacionados, transtornos depressivos, transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados, transtornos do sono, disfunções sexuais, delirium e transtornos neurocognitivos). Transtorno por uso de álcool Além do quadro do uso nocivo e dependência, outros transtornos mentais devem ser especificados, pois são de grande importância nos transtornos relacionados ao álcool. A abstinência ao álcool pode ser dividida em dois tipos: não- complicada e complicada. Em geral, nos dois quadros, a abstinência inicia-se após 6 a 12 horas da última dose de álcool, resultado de up-regulation exacerbada. No quadro não-complicado, existe ansiedade, taquicardia, alterações da pressão arterial e sudorese, que caracterizam reforço negativo que leva muitos pacientes a não procurar tratamento e a voltar a beber para aliviar os sintomas. A abstinência complicada é quadro com sintomas proeminentes. Os sintomas autonômicos são marcantes, com hipertensão arterial, sudorese e inquietação. A abstinência complicada, segundo a classificação da CID-10, é complicada por convulsões. Pode haver presença de transtornos sensoriais e perceptivos. Critérios diagnósticos A. Um padrão problemático de uso de álcool, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. Álcool é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 2. Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de álcool. 3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção de álcool, na utilização de álcool ou na recuperação de seus efeitos. 4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar álcool. 5. Uso recorrente de álcool, resultando no fracasso em desempenhar papéis importantes no trabalho, na escola ou em casa. 6. Uso continuado de álcool, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados por seus efeitos. 7. Importantes atividades sociais, profissionais ou recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de álcool. 8. Uso recorrente de álcool em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física. 9. O uso de álcool é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pelo álcool. 10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores de álcool para alcançar a intoxicação ou o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade de álcool. 11. Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Síndrome de abstinência característica de álcool (consultar os Critérios A e B do conjunto de critérios para abstinência de álcool, p. 499-500). b. Álcool (ou uma substância estreitamente relacionada, como benzodiazepínicos) é consumido Lara Mendonça P6 para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Especificar se: Em remissão inicial: Após todos os critérios para transtorno por uso de álcool terem sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critérios para transtorno por uso de álcool foi preenchido durante um período mínimo de três meses, porém inferior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar álcool”, ainda pode ocorrer). Em remissão sustentada: Após todos os critérios para transtorno por uso de álcool terem sido satisfeitos anteriormente, nenhum dos critérios para transtorno por uso de álcool foi satisfeito em qualquer momento durante um período igual ou superior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar álcool”, ainda pode ocorrer). Transtorno por uso de Cannabis Critérios diagnósticos A. Um padrão problemático de uso de Cannabis, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. Cannabis é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 2. Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de Cannabis. 3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção de Cannabis, na utilização de Cannabis ou na recuperação de seus efeitos. 4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar Cannabis. 5. Uso recorrente de Cannabis, resultando em fracasso em desempenhar papéis importantes no trabalho, na escola ou em casa. 6. Uso continuado de Cannabis, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos da substância. 7. Importantes atividades sociais, profissionais ou recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de Cannabis. 8. Uso recorrente de Cannabis em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física. 9. O uso de Cannabis é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbadopela substância. 10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores de Cannabis para atingir a intoxicação ou o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade de Cannabis. Especificar se: Em remissão inicial: Após todos os critérios para transtorno por uso de Cannabis terem sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critérios para transtorno por uso de Cannabis foi preenchido durante um período mínimo de três meses, porém inferior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar Cannabis”, ainda pode ocorrer). Em remissão sustentada: Após todos os critérios para transtorno por uso de Cannabis terem sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critérios para transtorno por uso de Cannabis foi preenchido em nenhum momento durante um período igual ou superior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar Cannabis ”, ainda pode ocorrer). Especificar se: Em ambiente protegido: Este especificador adicional é usado se o indivíduo encontra-se em um ambiente no qual o acesso a Cannabis é restrito. Lara Mendonça P6 Transtornos relacionados a estimulantes Critérios diagnósticos A. Um padrão de uso de substância tipo anfetamina, cocaína ou outro estimulante levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. O estimulante é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 2. Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de estimulantes. 3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção do estimulante, em utilização, ou na recuperação de seus efeitos. 4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar o estimulante. 5. Uso recorrente de estimulantes resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes no trabalho, na escola ou em casa. 6. Uso continuado de estimulantes apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos do estimulante. 7. Importantes atividades sociais, profissionais ou recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de estimulantes. 8. Uso recorrente de estimulantes em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física. 9. O uso de estimulantes é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pelo estimulante. 10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores do estimulante para atingir a intoxicação ou o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade do estimulante. Nota: Este critério não é considerado em indivíduos cujo uso de medicamentos estimulantes se dá unicamente sob supervisão médica adequada, como no caso de medicação para transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ou narcolepsia. 11. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a. Síndrome de abstinência característica para o estimulante (consultar os Critérios A e B do conjunto de critérios para abstinência de estimulantes, p. 569). b. O estimulante (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumido para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Nota: Este critério é desconsiderado em indivíduos cujo uso de medicamentos estimulantes se dá unicamente sob supervisão médica adequada, como no caso de medicação para transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ou narcolepsia. Transtorno por uso de tabaco Critério diagnóstico A. Um padrão problemático de uso de tabaco, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. Tabaco é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 2. Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de tabaco. 3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção ou uso de tabaco. 4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar tabaco. 5. Uso recorrente de tabaco resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes no trabalho, na escola ou em casa (p. ex., interferência no trabalho). 6. Uso continuado de tabaco apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes Lara Mendonça P6 ou recorrentes causados ou exacerbados pelos seus efeitos (p. ex., discussões com os outros sobre o uso de tabaco). 7. Importantes atividades sociais, profissional ou recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de tabaco. 8. Uso recorrente de tabaco em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física (p. ex., fumar na cama). 9. O uso de tabaco é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado por ele. 10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores de tabaco para atingir o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade de tabaco. 11. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a. Síndrome de abstinência característica de tabaco (consultar os Critérios A e B do conjunto de critérios para abstinência de tabaco). b. Tabaco (ou uma substância estreitamente relacionada, como nicotina) é consumido para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. O transtorno por uso de tabaco é comum entre indivíduos que fazem uso de cigarros e outras formas de tabaco diariamente e incomum entre os que não fazem uso diário ou que usam medicamentos com nicotina. A tolerância ao tabaco é exemplificada pelo desaparecimento da náusea e da tontura após o consumo repetido e com um efeito mais intenso do tabaco na primeira utilização do dia. A interrupção do uso de tabaco pode produzir uma síndrome de abstinência bem definida. Muitos indivíduos com transtorno por uso de tabaco utilizam-no para aliviar ou para evitar os sintomas de abstinência (p. ex., ao saírem de uma situação na qual o uso é restrito). Muitos que usam tabaco apresentam doenças ou sintomas físicos relacionados à substância e continuam a fumar. A grande maioria relata fissura pela substância quando deixam de fumar por várias horas. Gastar uma grande quantidade de tempo usando o tabaco pode ser exemplificado por fumar um cigarro atrás do outro, sem intervalos. Como as fontes de tabaco são de fácil acesso e lícitas, e como a intoxicação por nicotina é muito rara, gastar muito tempo na tentativa de obter tabaco ou de recuperar se de seus efeitos é incomum. 2. Compreender o mecanismo de ação das principais drogas psicotrópicas e conhecer os efeitos imediatos causados por elas. Álcool É a principal substância lícita responsável por abuso ou dependência. Em geral, seus efeitos são devastadores sobre o organismo como um todo, pois além de sua ação sobre o sistema nervoso central (SNC) age sobre os sistemas nervoso periférico, cardiovascular e outros. O álcool é metabolizado principalmente pelo fígado em duas etapas. Na primeira, a ação da Lara Mendonça P6 álcool desidrogenase converte o ál- cool a acetaldeído; na segunda, esse acetaldeído é convertido a acetato pela aldeído desidrogenase. A taxa de metabolização do álcool é de 7 g por hora. Neurobiologia Age sobre múltiplos sistemas de neurotransmissores no SNC, predominantemente GABA (principal sistema inibidor do cérebro), NMDA (principal sistema excitatório do cérebro), serotonina e dopamina. O paciente dependente de álcool desenvolve cronicamente deficiência das vitaminas do complexo B, sobretudo de tiamina. Em quadro de abstinência, é fundamental que a tiamina seja reposta por viaintramuscular para se evitar agravamento da condição Cocaína Inibe a recaptação de dopamina, noradrenalina e serotonina na fenda sináptica. A substância apresenta distintas vias de uso e diferentes apresentações. Suas principais vias de utilização são: 1. Injetável (o pó ou a pedra são diluídos em algum sol- vente e consumidos endovenosamente) 2. Inalada (é utilizado o pó, que apresenta pureza variável). 3. Fumada (é utilizada a pedra de crack ou a pasta). 4. Ingerida Tem alto potencial adictivo e dentre os efeitos que os pacientes relatam, quando em pequenas doses, destacam-se: → Intensa sensação de bem-estar → Euforia → Taquicardia → Redução do apetite → Ideação grandiosa → Aumento da autoconfiança → Aumento da libido O aumento da dose leva a quadros de intoxicação mais graves e a sintomas de outra ordem, como, por exemplo, ideação persecutória, ansiedade, irritabilidade e confusão mental. Quando a cocaína é utilizada em associação com o álcool, a hidrólise normal da cocaína para o seu subproduto, a benzoilecgonina, é inibida. Uma parte da cocaína passa por transesterificação microssomal e é convertida ao cocaetileno (Andrews, 1997), subs- tância com ação muito semelhante à cocaína, mas com potencial cardiotóxico maior, porque promove o aumento da vasoconstrição (O’Leary, 2002). Cabe destacar que o uso de cocaína pode ser responsável por até 25% dos casos de infarto agudo do miocárdio entre pacientes na faixa etária de 18 a 45 anos (Weber et al., 2003), sendo essa a princi- pal complicação cardiovascular do uso da substância (Vandhuick et al., 2004). Outras complicações relacionadas ao uso crônico dizem respeito a quadros convulsivos, perda de peso, deficiências vitamínicas, descuido pessoal importante. No Brasil, a forma fumada (crack) é a causa de grande preocupação. O crack leva a níveis séricos da substância ativa mais rápidos do que a forma injetável, por evitar a circulação pulmonar, produzindo efeito em poucos segundos. Sua associação com a crimina- lidade é alta, e a sobrevida média de um usuário de crack é de cerca de quatro anos Maconha O princípio ativo da maconha é o Δ-9 tetraidrocanabinol, um dos sessenta canabinóides existentes na planta. Há dois tipos de receptores para canabinóides, o CB-1, localizado no SNC e o CB-2, localizado no sistema imune. O Δ-9 tetraidrocanabinol se liga a receptores tipo CB-1 e produz seus efei- tos via inibição da liberação de neurotransmissores, por reduzir o influxo de Ca2+ pré-sináptico. Os efeitos descritos pelo usuário de maconha são: → Discreta elação → Sensação de relaxamento Lara Mendonça P6 → Alterações perceptivas e sensoriais (particularmente a sons e cores) → Desintegração temporal (o tempo parece se tornar mais lento) → Aumento do apetite → Boca seca. O uso em grande quantidade, sobretudo em usuários pesados que interrompem o consumo por algum tempo, pode precipitar crises de pânico. Apesar de o DSM-IV não caracterizar síndrome de abstinência, os usuários pesados descrevem intensa sensação de mal-estar, insônia, dores musculares e inquietação, quando param de usar a cannabis, quadro que poderia vir a caracterizar síndrome de abstinência à substância. Ainda não há tratamento plenamente aceito para tal síndrome (Hart, 2005). É importante salientar que a maconha, apesar do baixo potencial adictivo, pode causar dependência, chegando a preencher critérios tanto da CID-10 como do DSM-IV. Parece que a maconha pode reagudizar quadros psicóticos em pacientes em tratamento por transtornos esquizofrênicos (Tre�ert, 1978), contudo, não há evidências de que a maconha possa precipitar quadros psicóticos em indivíduos suscetíveis. Outro transtorno mental relacionado ao uso de maconha, no entanto controverso, é a síndrome amotivacional. Nicotina Neurobiologia A principal substância responsável pela dependência do tabaco é a nicotina, que age ativando receptores colinérgicos, liberando acetilcolina, dopamina, serotonina, noradrenalina e β- endorfina. Geralmente, o hábito de fumar inicia-se em idade precoce, por pressão do grupo social ou curiosidade (Lynch; Bonnie, 1994). Cerca de um terço dos indivíduos que experimentam o tabaco se torna dependente (McNeil, 1991), o que indica o altíssimo potencial de desenvolvimento de dependência da substância. Uma vez estabelecida a síndrome de dependência, seu tratamento requer abordagens medicamentosas e psicoterápicas específicas. Entre os problemas secundários associados ao uso do tabaco podemos destacar: • Aumento da incidência de câncer pulmonar • Aumento da incidência de câncer de orofaringe • Aumento da incidência de câncer de bexiga • Fator de risco para doenças vasculares em geral (infarto agudo do miocárdio, AVC, vasculites) • Aumento da incidência de doença pulmonar obstrutiva crônica, em particular, o enfisema pulmonar. 3. Discutir fatores epidemiológicos e o impacto social do uso de crack no brasil e no mundo (ver dependência como problema de saúde) 4. Conhecer o tratamento farmacológico e não farmacológico da dependência química Tratamento álcool O tratamento consiste em reposição vitamínica (particularmente tiamina injetável) e hirdreletrolítica e uso de benzodiazepínicos (diazepam ou lorazepam) por via oral. Na maior parte das vezes, o tratamento da síndrome de abstinência não-complicada é ambulatorial. A síndrome de Wernicke é o quadro neurológico composto por oftalmoplegia, confusão mental, ataxia e nistagmo. Se não for tratada, seu índice de mortalidade é de 15%. O tratamento consiste, basicamente, em doses altas de tiamina intramuscular e por via oral. A síndrome de Wernicke e o Lara Mendonça P6 delirium tremens são condições que exigem intervenção de emergência e necessitam de internação imediata. Caso não seja abordada adequadamente, a síndrome de Wernicke pode evoluir para quadro amnéstico de intensa gravidade, a síndrome de Korsako�. A síndrome de Korsako� é caracterizada por amnésia anterógrada (impossibilidade de formar novas memórias), amnésia retrógrada (perda de memórias previamente formadas), déficits cognitivos e distração. Entretanto, contrariamente a outros transtornos amnésticos, a função intelectual está preservada. Há ainda outro tipo de demência induzida por álcool, que não se relaciona às deficiências vitamínicas, que incide em cerca de 9% dos pacientes (Evert; Oscar-Beman, 1995). Trata-se de déficit de memória combinado com afasia, apraxia, agnosia e prejuízo das funções executivas. Alterações da personalidade, irritabilidade e leve transtorno amnéstico em indivíduo com história de alcoolismo, porém abstinente, são sintomas precoces sugestivos deste transtorno amnéstico persistente relacionado ao álcool. Tratamentos específicos para a dependência Hoje em dia existem várias formas de tratamentos farmacológicos específicos para a dependência de álcool. Dentre as novas modalidades terapêuticas, cabem ser citadas: O naltrexona, antagonista opióide com ação em receptores μ, mostrou-se eficaz no controle da fissura de pacientes com dependência de álcool. Contudo, apresenta melhor resposta inicial e resposta um pouco ruim na manutenção da abstinência. O acamprosato, que tem ação sobre o glutamato, é particularmente eficaz em pacientes que apresentam fissura intensa e voltam a beber devido a reforço negativo (Adolorato et al., 2005). A associação entre naltrexona e acamprosato mostra bons índices de redução da fissura e manutenção da abstinência. O topiramato, anticonvulsivante com ação em GABA e glutamato, apresenta boa resposta no tratamento da fissura (Volkow; Li, 2005). O dissulfiram é hoje considerado uma substância de segunda linha no tratamento do alcoolismo. Seu mecanismo de ação está relacionado ao bloqueio do álcool desidrogenase, levando ao acúmulo de acetaldeído, substância extremamente tóxica, subproduto da metabolização do álcool. O acetaldeído provoca rapidamente rubor facial, náusea, vômito, taquicardia; em casos mais graves, podem ocorrer infarto do miocárdio, depressão respiratória, convulsões e morte. Pode ser utilizado em situações nas quais o pacienteesteja mobilizado em relação a seu tratamento, bem informado sobre o risco do uso de álcool na presença do dissulfiram e bem assistido por sua família. Dentre as substâncias em fase de teste para o tratamento da dependência de álcool, cabe citar o ondansentron, antagonista 5-HT3, que parece promissor. Tratamento cocaína Não há tratamento universalmente aceito para a dependência de cocaína. Contudo, os avanços nos campos de pesquisa são promissores. Classicamente, os antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina podem reduzir a fissura dos pacientes, Lara Mendonça P6 com resultados não muito consistentes. A bupropiona e a trazodona, também antidepressivos, podem reduzir os sintomas de abstinência. Os novos estudos indicam que o baclofen, agonista de GABA- B, parece ser útil, por reduzir a liberação de dopamina induzida pela cocaína na concha do NAc (Volkow; Li, 2005). γ Vinyl GABA (GVG), ainda em estudos preliminares, parece ser promissor, com eficácia terapêutica no tratamento da depen- dência de cocaína. A BP 897, um ligante D3 específico, que ainda se encontra em fase de testes, necessitando de estudos em humanos, aparentemente apresentou eficácia em roedores e macacos. O modafinil também poderá ser uma substância promissora no futuro (Volkow; Li, 2005). Tratamento de maconha Até há pouco tempo não havia tratamento específico para a síndrome de dependência de cannabis, contudo, novas pesquisas tendem a modificar esse perfil. Ainda em fase experimental para o tratamento desta dependência, o SA141716A (Rimonabant), antagonista seletivo de receptores CB-1 (De Vries et al., 2005), parece ser promissor na manu- tenção da abstinência da maconha (Volkow; Li, 2005). Estudos realizados com topiramato também indicam que este seja um fármaco promissor no tratamento da dependência de maconha. Tratamento de nicotina O tratamento da dependência de nicotina inclui o uso de adesivos de nicotina, com o objetivo de redução da fissura, e a utilização do antidepressivo bupropiona, que, por sua ação no sistema nervoso central, mimetiza a ação da nicotina, reduzindo ainda mais a fissura e permitindo a manutenção da abstinência. Reações de despersonalização e angústia intensa não são raras quando da suspensão do fumo, o que pode requerer associação de outros antidepressivos para tratar até mesmo quadros depressivos associados. O manejo psicoterápico de suporte é importante no processo de manutenção da abstinência. Aparentemente o Rimonabant (De Vries; Scho�elmeer, 2005) reduz a fissura na abstinência de nicotina, mas seu uso para o tratamento dessa dependência ainda não foi aprovado pela FDA. 5. Caracterizar os transtornos de personalidade e os critérios diagnósticos pelo DSM- V ( CITAR TODOS E aprofundar NO BORDERLINE). Este capítulo inicia-se com uma definição geral de transtorno da personalidade que se aplica a cada um dos 10 transtornos da personalidade específicos. Um transtorno da personalidade é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo. O DSM-IV descreve os transtornos de personalidade em três agrupamentos (clusters), contendo dez transtornos específicos da personalidade. O primeiro compreende as personalidades paranóide, esquizóide e esquizotípica, caracterizadas por apresentarem comportamentos estranhos ou excêntricos (Cluster A). As personalidades anti-social, borderline, histriônica e narcisista são agrupadas devido à dramaticidade, labilidade e instabilidade (Cluster B). Por fim, o terceiro cluster Lara Mendonça P6 é formado pelas personalidades ansiosas e temerosas, tais como personalidade dependente, esquiva e obsessivo-compulsiva (Cluster C). O grupo de transtornos de persona- lidade sem outra especificação inclui o transtorno de personalida- de depressiva e o de personalidade passivo-agressiva assim como transtornos de personalidade que não satisfazem critérios para trans- torno de personalidade específico • Transtorno da personalidade paranoide é um padrão de desconfiança e de suspeita tamanhas que as motivações dos outros são interpretadas como malévolas. • Transtorno da personalidade esquizoide é um padrão de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão emocional. • Transtorno da personalidade esquizotípica é um padrão de desconforto agudo nas relações íntimas, distorções cognitivas ou perceptivas e excentricidades do comportamento. • Transtorno da personalidade antissocial é um padrão de desrespeito e violação dos direitos dos outros. • Transtorno da personalidade borderline é um padrão de instabilidade nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos, com impulsividade acentuada. • Transtorno da personalidade histriônica é um padrão de emocionalidade e busca de atenção em excesso. • Transtorno da personalidade narcisista é um padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. • Transtorno da personalidade evitativa é um padrão de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa. • Transtorno da personalidade dependente é um padrão de comportamento submisso e apegado relacionado a uma necessidade excessiva de ser cuidado. • Transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva é um padrão de preocupação com ordem, perfeccionismo e controle. • Mudança de personalidade devido a outra condição médica é uma perturbação persistente da personalidade entendida como decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica (p. ex., lesão no lobo frontal). • Outro transtorno da personalidade especificado e transtorno da personalidade não especificado são categorias utilizadas para duas situações: 1) o padrão da personalidade do indivíduo atende aos critérios gerais para um transtorno da personalidade, estando presentes traços de vários transtornos da personalidade distintos, mas os critérios para qualquer um desses transtornos específicos não são preenchidos; ou 2) o padrão da personalidade do indivíduo atende aos critérios gerais para um transtorno da personalidade, mas considera-se que ele tenha um transtorno da personalidade que não faz parte da classificação do DSM-5 (p. ex., transtorno da personalidade passivo-agressiva). Transtorno da personalidade Borderline Critérios diagnósticos Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.) Lara Mendonça P6 2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização. 3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo. 4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar). (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.) 5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante. 6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias). 7. Sentimentos crônicos de vazio. 8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes). 9. Ideação paranóide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos
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