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Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria ASPECTOS GERAIS: → O uso para fins recreacionais, obtenção de prazer e euforia ou para alívio de ansiedade, dor e privações vem se difundindo na sociedade, e a prática contínua do uso, atrelada a fatores de risco, contribui para o desenvolvimento do transtorno por uso de substâncias → Caracterizado por uma dependência de natureza comportamental, física e psicológica → Os transtornos relacionados a substâncias abrangem 10 classes distintas de drogas: álcool, cafeína, alucinógenos, inalantes, opioides, sedativos, hipnóticos e ansiolíticos, estimulantes, tabaco e outras substâncias desconhecidas → De modo geral: as substancias produzem sensações de prazer ou excitação • Ativação direta e intensa do sistema de recompensa do cérebro → envolvido no reforço de comportamentos e na produção de memória • Principais estruturas: Nucleus accumbens, área tegumentar ventral e a amígdala • Principal neurotransmissor envolvido: dopamina → Os transtornos relacionados a substancias dividem-se em: • Transtorno por uso de substância • Transtorno induzido por substancia → intoxicação e abstinência → ↑ prevalência e crescimento do uso de drogas pela população mundial. Em 2017, cerca de 271 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos haviam consumido drogas (UNODC, 2019) → Uma pesquisa realizada com mais de 120 mil pessoas de 35 países e divulgada pela Global Drug Survey (2019) revelou que no ranking de consumo de drogas no último ano, com exceção de álcool, nicotina e cafeína, a cannabis é mais consumida (63,85%), seguida de ecstasy (33%) e cocaína (29,1%). → No Brasil, cerca de 15 milhões de indivíduos já fizeram o uso de alguma substância ilícita na vida, sendo esse uso mais frequentemente reportado em homens (15%) que mulheres (5,2%) (BASTOS et al., 2017). Dentre as drogas ilícitas, o uso da cannabis aparece em primeiro lugar (7,7%), seguido de cocaína (3,1%), solventes (2,8%) e crack (2,9%) ETIOLOGIA – DEPENDÊNCIA: → A dependência é uma doença crônica recidivante caracterizada pela busca e uso compulsivo da droga, perda de controle e aparecimento de efeitos negativos com a interrupção do uso → De acordo com o DSM-5, o transtorno por uso de substancias é descrito como um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos que indicam que o indivíduo faz uso de forma continua da droga, embora apresente sinais de problemas significativos devido ao uso ou a busca pela substância → Os sintomas variam de acordo com a classe de droga utilizada → O contato inicial, geralmente, é voluntario e impulsivo → individuo experimenta efeito gratificante e recompensador da substancia, sem avaliar as consequências → Uso recorrente → neuroadaptações a longo prazo → prejuízo dos circuitos cerebrais de recompensa, controle executivo e estresse • ↑ sensibilidade aos efeitos negativos por conta da ausência da droga → contribui para formação do habito de uso compulsivo → Esse transtorno é resultado da interação de múltiplos fatores que influenciam o comportamento do uso de droga e a perda do discernimento em relação a decisões sobre a utilização de uma determinada substancias → Diferentes fatores são mais ou menos importantes em diferentes estágios do processo → disponibilidade da droga, sua aceitação social e a pressão dos pares podem ser os determinantes principais da experimentação inicial, aliados à personalidade e biologia individual → Na interação de fatores • O comportamento de uso é o elemento central • Situação social e psicológica + história remota → decisão de usar • Uso da droga → consequências recompensadoras ou aversivas → processo de aprendizado → ↑ ou ↓ probabilidade de repetição do comportamento → O uso de algumas drogas pode iniciar o processo de tolerância, dependência física e sensibilização Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria • A tolerância pode reduzir efeitos adversos da droga → uso de doses maiores (acelera/intensifica o desenvolvimento de dependência física) • → Fatores psicodinâmicos: extensão das teorias psicodinâmicas sobre abuso de substância reflete as diversas teorias que gozaram de popularidade durante os últimos cem anos. De acordo com as teorias clássicas, o abuso de substância é um equivalente masturbatório (alguns usuários de heroína descrevem o “barato” inicial como semelhante a um orgasmo sexual prolongado), uma defesa contra impulsos de ansiedade ou uma manifestação de regressão oral (i.e., dependência). → Hipóteses psicodinâmicas recentes relacionam o uso de substância como uma expressão das funções de um ego perturbado (i.e., a incapacidade de lidar com a realidade). Como forma de automedicação, o álcool pode ser usado para controlar o pânico; os opioides, para diminuir a raiva; e anfetaminas, para aliviar a depressão. Alguns aditos apresentam grande dificuldade em reconhecer seus estados emocionais internos, uma condição denominada alexitimia (i.e., ser incapaz de encontrar palavras para descrever os próprios sentimentos). • Aprendizado e condicionamento. O uso de drogas, seja eventual, seja compulsivo, pode ser encarado como um comportamento mantido por suas consequências. As drogas podem reforçar comportamentos anteriores ao interromper um estado nocivo ou aversivo como dor, ansiedade ou depressão. Em algumas situações sociais, o uso de drogas, além de seus efeitos farmacológicos, pode funcionar como reforço se resulta em status especial ou aprovação de amigos. − Cada uso da droga evoca reforço positivo rápido, seja como resultado do “barato” (a euforia induzida pela droga), seja como alívio da perturbação do afeto, alívio dos sintomas de abstinência ou uma combinação desses efeitos. − Algumas drogas podem sensibilizar sistemas neurais quanto a seus efeitos de reforço. − a parafernália (agulhas, garrafas, maços de cigarro) e os comportamentos associados ao uso da substância podem se tornar reforços secundários, bem como indícios da disponibilidade da substância, e, na sua presença, aumentar a fissura ou o desejo de sentir seus efeitos. − O desejo de consumo mais intenso é despertado por condições associadas à disponibilidade ou ao uso da substância, como observar outra pessoa usar heroína ou acender um cigarro ou receber a oferta de drogas de um amigo. Esses fenômenos de aprendizado e condicionamento podem estar superpostos em todo tipo de psicopatologia preexistente, mas dificuldades preexistentes não são requisitos para o desenvolvimento de comportamento de busca pela substância intensamente reforçado. → FATORES GENÉTICOS: Fortes evidências de estudos com gêmeos, indivíduos adotados e irmãos que foram criados separadamente indicam que a causa do abuso de álcool tem um componente genético. Muitos dados menos conclusivos mostram que outros tipos de abuso ou de dependência de substância apresentam um padrão genético em seu desenvolvimento. Pesquisadores recentemente usaram Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria polimorfismo no comprimento de fragmentos de restrição (RFLP) no estudo de abuso e dependência de substância e propuseram associações a genes que afetam a produção de dopamina. → FATORES NEUROQUÍMICOS: • Receptores e sistemas de receptores. Com exceção do álcool, pesquisadores identificaram neurotransmissores específicos ou receptores de neurotransmissores envolvidos com a maioria das substâncias de abuso. • Mesmo em um indivíduo com funcionamento normal de receptores endógenos e concentração de neurotransmissores, o uso prolongado de uma substância de abuso específica pode, por fim, modular sistemas de receptores no cérebro de forma que a presença da substância exógena é necessária para manter a homeostase. Um processo de nível de receptor dessa natureza pode ser o mecanismo para o desenvolvimento de tolerância no SNC. Contudo, tem sido difícil demonstrar modulação de liberação de neurotransmissor e funcionamento de receptores deneurotransmissores, e pesquisas recentes se concentram nos efeitos das substâncias sobre o sistema de segundo mensageiro e sobre a regulação de genes. • Vias e neurotransmissores Os principais neurotransmissores possivelmente envolvidos no desenvolvimento de abuso e dependência de substância são os sistemas opioides, de catecolamina (particularmente dopamina) e de ácido γ-aminobutírico (GABA). Os neurônios dopaminérgicos na área tegmentar ventral são particularmente importantes. Esses neurônios se projetam para as regiões cortical e límbica, especialmente para o nucleus accumbens. Essa via provavelmente está envolvida com a sensação de recompensa e pode ser o mediador principal dos efeitos de substâncias como anfetamina e cocaína. O locus ceruleus, o maior grupo de neurônios adrenérgicos, provavelmente medeia os efeitos dos opiatos e dos opioides. Essas vias foram chamadas coletivamente de circuito de recompensa do cérebro. CRITÉRIO DIAGNÓSTICO (GERAL): → Há quatro categorias principais na 5a edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5): (1) transtorno por uso de substância, (2) intoxicação por uso de substância, (3) abstinência de substância, (4) transtorno mental induzido por substância. → Transtorno por uso de substância: → Transtorno por uso de substância é o termo diagnóstico aplicado à substância específica de abuso (p. ex., transtorno por uso de álcool, transtorno por uso de opioides) e que resulta de seu uso prolongado. Os pontos a seguir devem ser considerados ao realizar esse diagnóstico. → Esses critérios se aplicam a todas as substâncias de abuso. → Um padrão problemático de uso da substância, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. Uso recorrente da substância, resultando no fracasso em desempenhar papéis relevantes no trabalho, na escola ou em casa (p. ex., ausências repetidas ao trabalho ou baixo desempenho profissional relacionados ao uso da substância; ausências, suspensões ou expulsões da escola relacionadas à substância; negligência dos filhos ou dos afazeres domésticos). 2. Uso recorrente da substância em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física (p. ex., condução de veículos ou operação de máquinas durante prejuízo de julgamento decorrente do uso da substância). 3. Uso continuado da substância apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados por seus efeitos (p. ex., discussões com o cônjuge sobre as consequências da intoxicação; agressões físicas). 4. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para atingir a intoxicação ou o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade da substância. 5. Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Síndrome de abstinência característica da substância. b. A mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. 6. A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 7. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância. Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria 8. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância, na sua utilização ou na recuperação de seus efeitos. 9. Importantes atividades sociais, profissionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância. 10. O uso da substância é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância. 11. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar uma substância específica. → Intoxicação por substância: → Intoxicação por substância é o diagnóstico usado para descrever uma síndrome (p. ex., intoxicação por álcool ou embriaguez simples) caracterizada por sinais e sintomas específicos resultantes da ingestão ou exposição recente à substância. Uma descrição geral de intoxicação por substância inclui os seguintes pontos: • O desenvolvimento de uma síndrome reversível específica de determinada substância que ocorreu devido a seu consumo (ou exposição) recente. Nota: substâncias diferentes podem produzir síndromes semelhantes ou idênticas. • Mudanças comportamentais ou psicológicas clinicamente significativas decorrentes do efeito da substância sobre o SNC (p. ex., beligerância, labilidade do humor, prejuízo na cognição, julgamento prejudicado, prejuízo no funcionamento social ou ocupacional) que se desenvolvem durante ou logo após o uso da substância. • Os sintomas não são atribuíveis a outra condição médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental. → Abstinência de substância: → Abstinência de substância é o diagnóstico usado para descrever uma síndrome específica que resulta da interrupção abrupta do uso intenso e prolongado de uma substância (p. ex., abstinência de opioides). → Uma descrição geral de abstinência de substância requer que os seguintes critérios sejam satisfeitos: • O desenvolvimento de uma síndrome específica da substância devido à interrupção (ou redução) de seu uso intenso e prolongado. • A síndrome específica da substância causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. • Os sintomas não se devem a uma condição médica geral nem são mais bem explicados por outro transtorno mental. → Na abordagem de cada substância nas seções a seguir, pode-se aplicar as tabelas genéricas listadas, adaptadas do DSM-5. Assim, em vez da palavra “substância”, o médico deve indicar a substância ou droga específica que é usada ou que causou intoxicação ou abstinência. TRANSTORNO RELACIONADO A CANNABIS → Indivíduos que usam Cannabis regularmente costumam relatar que a consomem para lidar com o humor, sono, dor ou outros problemas fisiológicos e psicológicos, e as pessoas diagnosticadas com transtorno por uso de Cannabis frequentemente apresentam outros transtornos mentais concomitantes. → Os canabinoides agem sobre os receptores CB1 e CB2 no SNC → O principio ativo mais importante para o transtorno por uso de maconha é o delta-9-tetrahidrocanabinol (delta-9-THC) → O receptor canabinoide está ligado a uma proteína G inibitória (ligada a adenilciclase) → Os canabinoides afetam os neurônios de monoamina e ácido-gama-aminobutírico (GABA) → Ao se fumar cannabis, os efeitos de euforia surgem em minutos e atingem o pico em 30 minutos, durando de 2 a 4 horas → alguns efeitos motores e cognitivos podem durar de 5 a 12 horas → Muitas variáveis afetam suas propriedades psicoativas, incluindo a potência do tipo de Cannabis usado, a rota de administração,a técnica de fumo, os efeitos de pirólise sobre o conteúdo canabinoide a dose, o local e a experiência anterior do usuário, suas expectativas e a vulnerabilidade biológica própria aos efeitos dos canabinoides → Efeitos mais comuns: relaxamento, sensação de prazer, risos espontâneos sem motivos e fome • Pode haver também distorções da percepção do tempo e do espaço leves a moderadas, dificuldade na atenção e na concentração, sensação de que os sentidos estão aguçados, hiperemia da mucosa conjuntival e boca seca. • Doses elevadas podem levar a hipotensão ortostática Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: A. Um padrão problemático de uso de Cannabis, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses:1. Cannabis é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 2. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de Cannabis. 3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção de Cannabis, na utilização de Cannabis ou na recuperação de seus efeitos. 4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar Cannabis. 5. Uso recorrente de Cannabis, resultando em fracasso em desempenhar papéis importantes no trabalho, na escola ou em casa. 6. Uso continuado de Cannabis, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos da substância. 7. Importantes atividades sociais, profissionais ou recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de Cannabis. 8. Uso recorrente de Cannabis em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física. 9. O uso de Cannabis é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância. 10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores de Cannabis para atingir a intoxicação ou o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade de Cannabis. 11. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a. Síndrome de abstinência característica de Cannabis (consultar os Critérios A e B do conjunto → de critérios para abstinência de Cannabis, p. 517-518). b. Cannabis (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Especificar se: Em remissão inicial: Após todos os critérios para transtorno por uso de Cannabis terem sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critérios para transtorno por uso de Cannabis foi preenchido durante um período mínimo de três meses, porém inferior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar Cannabis”, ainda pode ocorrer). Em remissão sustentada: Após todos os critérios para transtorno por uso de Cannabis terem sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critérios para transtorno por uso de Cannabis foi preenchido em nenhum momento durante um período igual ou superior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar Cannabis ”, ainda pode ocorrer). Especificar se: Em ambiente protegido: Este especificador adicional é usado se o indivíduo se encontra em um ambiente no qual o acesso a Cannabis é restrito. Especificar a gravidade atual: Leve: Presença de 2 ou 3 sintomas. Moderada: Presença de 4 ou 5 sintomas. Grave: Presença de 6 ou mais sintomas COMORBIDADES: → Intoxicação por cannabis: característica principal é a presença de alterações comportamentais ou psicológicas problemáticas e clinicamente significativas que se desenvolvem durante ou logo após o uso da substância → Geralmente inicia com: sensação de prazer, seguida de euforia, risos inadequados, ideias de grandeza, sedação letargia, comprometimento da memoria de curto prazo, dificuldade na execução de processos mentais complexos, julgamento prejudicado, percepções sensoriais distorcidas, prejuízo no desempenho motor e sensação de lentidão do tempo. Às vezes ocorrem ansiedade, disforia ou retraimento social → Delirium por intoxicação por Cannabis: prejuízo acentuado da cognição e de desempenho de tarefas, alterações de memória, tempo de reação, percepção, coordenação motora, atenção. Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria → Abstinência de cannabis: A característica essencial da abstinência de Cannabis é a presença de uma síndrome de abstinência típica que se desenvolve após a cessação ou redução substancial do uso pesa- do e prolongado da substância • Sintomas de abstinência incluem irritabilidade, fissura por Cannabis, nervosismo, ansiedade, insônia, sonhos vívidos ou perturbadores, apetite reduzido, perda de peso, humor deprimido, inquietação, cefaleia, calafrios, dor estomacal, sudorese e tremores. → Transtorno de ansiedade induzido por cannabis: diagnóstico comum em intoxicação por Cannabis aguda que, em diversos indivíduos, induz estados de ansiedade breves frequentemente provocados por pensamentos paranoides. Ataques de pânico podem ocorrer, com presença de temores mal definidos e desorganizados. O surgimento de sintomas de ansiedade está relacionado à dose e constitui a reação adversa mais frequente ao uso moderado da substância TRANSTORNO RELACIONADO A ESTIMULANTES: → Padrão de uso de substancias tipo anfetamina, cocaína e outros estimulantes que levam a o comprometimento e sofrimento clinico significativo → As anfetaminas e a cocaína possuem efeito semelhante → estimulantes do SNC com efeitos psicoativos e simpatomiméticos → A cocaína pode ser consumida de por diferentes preparações: folha da coca, pasta da coca, cloridrato de cocaína e alcaloides de cocaína – cocaína freebase e crack • As formas diferem em potência devido aos vários níveis de pureza e ao tempo para inicio dos sintomas → Indivíduos expostos à estimulantes podem desenvolver transtorno por uso em apenas uma semana → O crack é uma forma de cocaína de base livre, extremamente potente | vendido em pequenas quantidades (“pedras”) | Extremamente aditivo → 1 ou 2 experiencias podem causar fissura intensa por mais consumo • Usuários apelam a comportamentos extremos para obterem dinheiro para a compra → alta associação com casos extremos de violência NEUROFARMACOLOGIA: → Principal ação farmacodinâmica relacionada aos efeitos comportamentais → bloqueio competitivo da recaptação de dopamina pelo transportador dopaminérgico → Esse bloqueio aumenta a concentração de dopamina na fenda sináptica → ↑ ativação de ambos os receptores dopaminérgicos – D1 e D2 → Pode ocorrer bloqueio da recaptação de norepinefrina e serotonina → Estudos sugerem que a cocaína esta associada a ↓ do fluxo sanguíneo cerebral e ao desenvolvimento de algumas áreas de redução do uso de glicose → Os efeitos comportamentais são sentidos quase imediatamente após o uso e duram um tempo curto (30 a 60 min) → uso de doses repetidas da droga para manutenção das sensações provocadas CRITÉRIOS DIAGNOSTICOS: A. Um padrão de uso de substância tipo anfetamina, cocaína ou outro estimulante levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. O estimulante é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 2. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de estimulantes. 3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção do estimulante, em utilização, ou na recuperação de seus efeitos. 4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar o estimulante. 5. Uso recorrente de estimulantes resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes no trabalho, na escola ou em casa. 6. Uso continuado de estimulantes apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos do estimulante. Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria 7. Importantes atividades sociais, profissionais ou recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de estimulantes. 8. Uso recorrente de estimulantes em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física. 9. O uso de estimulantes é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pelo estimulante. 10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores do estimulantepara atingir a intoxicação ou o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade do estimulante. Nota: Este critério não é considerado em indivíduos cujo uso de medicamentos estimulantes se dá unicamente sob supervisão médica adequada, como no caso de medicação para transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ou narcolepsia. 11. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a. Síndrome de abstinência característica para o estimulante (consultar os Critérios A e B do conjunto de critérios para abstinência de estimulantes, p. 569). b. O estimulante (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumido para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Nota: Este critério é desconsiderado em indivíduos cujo uso de medicamentos estimulantes se dá unicamente sob supervisão médica adequada, como no caso de medicação para → transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ou narcolepsia. Especificar se: Em remissão inicial: Após todos os critérios para transtorno por uso de estimulantes terem sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critérios para transtorno por uso de estimulantes foi preenchido durante um período mínimo de três meses, porém inferior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar o estimulante”, ainda pode ocorrer). Em remissão sustentada: Após todos os critérios para transtorno por uso de estimulantes terem sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critérios para transtorno por uso de estimulantes foi preenchido em nenhum momento durante um período igual ou superior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar o estimulante”, ainda pode ocorrer). Especificar se: Em ambiente protegido: Este especificador adicional é usado se o indivíduo se encontra em um ambiente no qual o acesso a estimulantes é restrito. Especificar a gravidade atual: Leve: Presença de 2 ou 3 sintomas. Moderada: Presença de 4 ou 5 sintomas. Grave: Presença de 6 ou mais sintomas. COMORBIDADES: → INTOXICAÇÃO POR ESTIMULANTES: alterações comportamentais ou psicológicas se desenvolvem durante ou logo após o uso; alucinações auditivas podem ser intensas, ideação paranoide → deve-se distinguir esses sintomas de transtorno psicótico independente, como a esquizofrenia → Geralmente começa com sensação de prazer, incluindo: euforia com aumento do vigor, sociabilidade, hiperatividade, inquietação, hipervigilancia, sensibilidade interpessoal, loquacidade, ansiedade, grandiosidade, comportamento estereotipado e repetitivo, raiva, etc. → No caso de intoxicação crônica → embotamento afetivo com fadiga ou tristeza e retraimento social • Acompanhadas taqui ou bradicardia, dilatação pupilar, ↑ ou ↓ da PA, transpiração ou calafrios, náuseas ou vomito, perda de peso, alteração psicomotora, depressão respiratória, dor torácica ou arritmias cardíacas, convulsões, discinesias, coma, etc. → Intoxicação grave: convulsões, arritmias cardíacas, hiperpirexia e morte → ABSTINÊNCIA DE ESTIMULANTE: após a intoxicação, ocorre um colapso, com sintomas de ansiedade, tremor, humor disfórico, letargia, fadiga, pesadelos, cefaleia, sudorese, caibras, cólicas e fome insaciável → Os sintomas de abstinência atingem o ápice em 2 a 4 dias → Sintoma mais grave é a depressão → Indivíduos em abstinência pode apresentar forte fissura pela cocaína → geralmente se automedicam com álcool, sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria TRANSTORNO RELACIONADO A INALANTES → Drogas inalantes (substancias voláteis ou solventes) são hidrocarbonetos voláteis que se tornam vapores gasosos em temperatura ambiente e são inalados pelo nariz ou boca → Inalantes estão associados a vários efeitos adversos potencialmente graves. O mais grave de todos é a morte, que pode resultar de depressão respiratória, arritmias cardíacas, asfixia, aspiração de vômito ou acidente ou lesão → Encontrados em vários produtos de uso domestico e se dividem em 4 classes comerciais: 1. Solventes para colas e adesivos 2. Propelentes (a ex.: latas de tinta em aerossol, creme de barbear) 3. Diluentes (a exemplo: diluentes para tintas) 4. Combustíveis (gasolina, propano) NEUROFARMACOLOGIA: → Agem como depressores do SNC → Os indivíduos podem desenvolver tolerância → aumento de doses | sintomas de abstinência são leves → Os inalantes são absorvidos pelos pulmões e conduzidos ao cérebro, os efeitos surgem em 5 minutos e podem durar de 30 min até horas → As concentrações aumentam quando usadas em combinação com álcool → Pesquisas sugerem que funcionam por meio de fluidificação das membranas → efeito semelhante ao do etanol CRITÉRIO DIAGNÓSTICO A. Exposição breve e recente, intencional ou não, a altas doses de substâncias inalantes, incluindo hidrocarbonetos voláteis como tolueno ou gasolina B. Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente significativas e problemáticas (p. ex., beligerância, agressividade, apatia, julgamento prejudicado) desenvolvidas durante ou logo após o uso ou a exposição a inalantes. C. Dois (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, desenvolvidos durante ou logo após o uso ou a exposição a inalantes: 1. Tontura. 2. Nistagmo. 3. Incoordenação. 4. Fala arrastada. 5. Instabilidade de marcha. 6. Letargia. 7. Reflexos deprimidos. 8. Retardo psicomotor. 9. Tremor. 10. Fraqueza muscular generalizada. 11. Visão borrada ou diplopia. 12. Estupor ou coma. 13. Euforia. D. Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, incluindo intoxicação por outra substância COMORBIDADES: → Intoxicação por inalantes: para o diagnóstico, presença de alterações comportamentais desadaptativas e pelo menos dois sintomas físicos → Se caracteriza por: apatia, redução do funcionamento social e ocupacional, julgamento prejudicado e comportamento impulsivo ou agressivo → Náuseas, anorexia, nistagmo, reflexo diminuído, diplopia → Nos casos de doses elevadas e exposições prolongadas, o estado neurológico do usuário pode progredir para estupor e perda de sentidos e posteriormente pode desenvolver amnesia por intoxicação → Transtorno psicótico induzido por inalantes: predomínio de sintomas de alucinações ou delírios. Geralmente ocorrem durante a intoxicação Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria TRATAMENTO DO TRANSTORNO RELACIONADO A SPA: → O tratamento se baseia no princípio da abstinência e apoio. A abstinência pode ser alcançada por meio de intervenções diretas, como hospitalização, ou mediante monitoramento atento de base ambulatorial por meio de exames de urina → Apoio: psicoterapia individual, familiar e de grupo → Esclarecimento e informação devem ser o alicerce para a abstinência e para os programas de apoio, uma vez que o paciente quando não compreende os motivos lógicos para enfrentar um problema de abuso de substância tem pouca motivação para saná-lo → No caso de alguns indivíduos, pode-se utilizar fármacos ansiolíticos para alivio de curto prazo dos sintomas de abstinência (no caso de uso de cannabis) → Em contrapartida, fármacos ansiolíticos e antidepressivos não são uteis na fase aguda de tratamento por uso de inalantes, mas podem ser uteis caso haja preexistência de TAG ou Transtorno depressivo → Alguns indivíduos que desenvolvem problemas relacionados a substâncias se recuperam sem tratamento formal, especialmente quando vão ficando mais velhos. → No caso de pacientes com transtornos menos graves, como adição de nicotina, intervenções relativamente breves costumam ser tão eficazes quanto tratamentos mais intensivos. Como essas intervenções breves não mudam o ambiente, não alteram mudanças cerebrais induzidas por drogas nem fornecem novas habilidades, uma mudança na motivação do paciente (alteração cognitiva) provavelmentetem o melhor impacto sobre o comportamento de uso de drogas. → Caso não haja motivação para mudança ou caso a dependência seja mais grave → procedimentos ou técnicas específicas (terapia individual, terapia familiar, terapia em grupo, prevenção de recaída e farmacoterapia) e programas de tratamento → A maioria dos programas utiliza uma quantidade específica de procedimentos e envolve várias especialidades profissionais, bem como indivíduos não profissionais que têm habilidades especiais ou experiência pessoal com o problema com substância que está sendo tratado • Combinam procedimentos e disciplinas específicos que satisfazem as necessidades de cada paciente após uma avaliação criteriosa. Nenhum sistema de classificação é geralmente aceito, seja para os procedimentos específicos usados em tratamento, seja para programas que usam uma variedade de combinações de procedimentos → Órgãos governamentais de financiamento público recentemente categorizaram programas de tratamento para dependência de drogas como (1) manutenção com metadona (principalmente ambulatorial); (2) programas ambulatoriais sem fármacos; (3) comunidades terapêuticas; ou (4) programas de internação de curta duração. → Seleção do tratamento: Nem todas as intervenções são aplicáveis a todos os tipos de uso ou dependência de substâncias, e algumas das intervenções mais coercitivas usadas para drogas ilícitas não podem ser aplicadas a substâncias disponíveis legalmente, como o tabaco. → Comportamentos aditivos não mudam abruptamente, e sim por meio de uma série de estágios → 5 estágios nesse processo gradual: pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção → Agente farmacológico específico — por exemplo, dissulfiram, naltrexona ou acamprosato para alcoolismo; metadona, acetato de levometadil ou buprenorfina para adição de heroína; e dispositivos de liberação de nicotina ou bupropiona para dependência de tabaco. Nem todas as intervenções podem ser úteis para profissionais de assistência médica → Detenção em instalações especiais (fazendas disciplinares); outros programas para infratores (e às vezes para funcionários) valem-se quase exclusivamente do efeito intimidador de testes de urina frequentes; e um terceiro grupo baseia-se em conversão religiosa ou recomprometimento com um culto ou denominação religiosa específica. → De modo geral, intervenções breves (p. ex., algumas semanas de desintoxicação, com ou sem internação hospitalar) usadas para indivíduos que são gravemente dependentes de opioides ilícitos têm efeitos limitados sobre o resultado medido alguns meses mais tarde. → Reduções substanciais no uso de drogas ilícitas, em comportamentos antissociais e no sofrimento psiquiátrico entre pacientes dependentes de cocaína ou heroína têm probabilidade muito maior de ocorrer após o tratamento com duração mínima de três meses. Esse efeito de permanência em tratamento é observado em diversas modalidades, desde comunidades terapêuticas residenciais até programas ambulatoriais de manutenção com metadona. Embora alguns pacientes pareçam se beneficiar de alguns dias ou semanas de tratamento, um percentual representativo de usuários de drogas ilícitas abandona o tratamento (ou é dispensado dele) antes que tenha obtido benefícios significativos Leticia S. Cordeiro | Med18 | Psiquiatria → Programas com equipes com treinamento profissional que proporcionam serviços mais abrangentes para pacientes com dificuldades psiquiátricas mais severas têm mais chances de manter esses pacientes em tratamento e ajudá-los a fazer mudanças positivas. → Cannabis não complicados pelo uso intenso → períodos relativamente breves de aconselhamento individual ou em grupo podem produzir reduções duradouras no uso de drogas. Os resultados normalmente considerados em programas que lidam com drogas ilícitas em geral incluem medidas de funcionamento social, emprego e atividade criminosa, bem como redução do comportamento de uso de drogas. → Tratamento de comorbidade: O tratamento dos indivíduos com doenças mentais que também são dependentes de drogas continua a apresentar problemas para os clínicos. Apesar da criação de algumas instalações especiais que usam tanto fármacos antipsicóticos quanto princípios de comunidade terapêutica → De modo geral, o tratamento integrado em que a mesma equipe pode tratar tanto o transtorno psiquiátrico como a adição é mais eficaz do que qualquer um dos tratamentos em paralelo (um programa de saúde mental e um programa voltado para adição fornecendo cuidados ao mesmo tempo) ou que tratamento sequencial (tratar ou a adição, ou o transtorno psiquiátrico primeiro e, então, lidar com a condição comórbida).
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