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Strongyloides stercoralis A estrongiloidose é uma parasitose conhecida há longo tempo, porém apenas nas últimas décadas sua morbidade e mortalidade se tornaram relevantes em áreas tropicais e subtropicais, principalmente em indivíduos imunossuprimidos. Obs.: NEMATODAS TRANSMITIDOS POR LARVAS Problema de Saúde Pública: o OMS – 2005 – Parasite Control; o 2005 – PNVCP (Plano Nacional de Vigilância e Controle das Parasitoses); o 2007 – PAC (Plano de Aceleração do Crescimento); MORFOLOGIA: 1. Fêmea partenogenética parasita: Corpo cilíndrico, aspecto filiforme longo ( 1,7- 2,5mm de comprimento x 0,03-0,04 mm de largura); Extremidade anterior arredondada e extremidade posterior afilada; Cutícula fina e transparente, levemente estriada no sentido transversal; Boca com três lábios e esôfago longo (25% do comprimento) tipo filarioide; A fêmea que coloca 30-40 ovos/dia é ovovivípara, pois elimina na mucosa intestinal o ovo já larvado; 2. Fêmea de vida livre ou estercoral: Aspecto fusiforme (0,8-1,2mm de comprimento x 0,05-0,07 mm de largura); Cutícula fina e transparente com finas estriações; Boca com três lábios e esôfago curto (aspecto rabditoide) – o esôfago divide-se em 3 porções: corpo (anterior, cilíndrica e alongada); istmo (intermediária estreitada) e bulbo (posterior globosa); 3. Macho de vida livre: Aspecto fusiforme, com extremidade anterior arredondada e extremidade posterior recurvada ventralmente; 0,07 mm de comprimento x 0,04 mm de largura; Boca com três lábios; esôfago tipo rabditoide; Apresenta 2 pequenos espículos, auxiliares na cópula (esses espículos deslocam-se sustentados por uma estrutura quitinizada chamada de gubernáculo); 4. Ovos: Elípticos, parede fina e transparente; Os originários de: o Fêmeas parasitas: 0,05mm de comprimento x 0,03mm de largura; o Fêmeas de vida livre: 0,07mm de comprimento x 0,04mm de largura; Excepcionalmente podem ser encontrados nas fezes (diarreia grave ou após uso de laxantes); 5. Larvas Rabditoides: Esôfago do tipo rabditoide (com dilatações nas extremidades e constrição na porção mediana); Cutícula fina e hialina; 0,2-0,3mm comprimento x 0,015mm largura; Apresentam vestíbulo bucal curto, cuja profundidade é sempre inferior ao diâmetro da larva; O intestino termina em ânus, afastado da extremidade posterior; Apresentam primórdio genital nítido; Terminam em cauda pontiaguda; 6. Larvas Filarioides: Esôfago filarioide (longo, corresponde à metade do comprimento da larva); Cutícula fina e hialina; 0,35-0,5mm comprimento x 0,01-0,03mm largura; Vestíbulo bucal curto; Intestino termina em ânus, um pouco distante da extremidade posterior; A porção anterior é ligeiramente afilada e a posterior afina-se gradualmente terminando em duas pontas (cauda entalhada); É a forma infectante do parasito (L3); BIOLOGIA: HABITAT: as fêmeas partenogenéticas localizam-se na parede do intestino, nas criptas da mucosa duodenal, e na porção superior do jejuno, onde fazem as posturas. Nas formas graves, são encontradas do piloro (estômago) até o IG. CICLO BIOLÓGICO: as larvas rabditoides eliminadas nas fezes do indivíduo parasitado podem seguir dois ciclos (ambos monoxênicos): • Direto/partenogenético; • Indireto/sexuado/vida livre; Família: Strongyloididae Nematoides de vida livre que vivem em geral no solo ou na água. CICLO DIRETO: em que as larvas rabditoides eliminadas com as fezes transformam-se após 24 a 72 horas, no meio exterior (solo ou sobre a pele da região perianal), em larvas filarioides capazes de infectar diretamente as pessoas; - Obs.: fases do ciclo que se passam no solo: exigem condições como solo arenoso, umidade alta, temperatura entre 25 e 30º.C e ausência de luz solar direta. As fêmeas partenogéticas são 3n, o que possibilita a produção de 3 tipos de ovos (e consequentemente de 3 larvas): Larvas rabditoides 3n > diferenciam-se em larvas filarioides 3n infectantes, completando o ciclo direto (obs.: as larvas filarioides não se alimentam e devido à ausência de bainha são menos resistentes que as larvas filarioides dos ancilostomídeos) Larvas rabditoides 2n > originam as fêmeas de vida livre; Larvas rabditoides 1n > originam machos de vida livre; - Os ciclos direto e indireto completam-se pela penetração ativa das larvas L3 na pele ou mucosa (oral, gástrica, esofágica) do hospedeiro. Estas larvas secretam metaloproteases que auxiliam na penetração e na migração através dos tecidos. - Algumas morrem no local, mas outras larvas conseguem atingir a circulação venosa e/ou linfática, chegando então ao coração e aos pulmões. - Nos capilares pulmonares transformam-se em L4, migram pela árvore brônquica e alcançam a faringe, de onde podem ser expectoradas ou deglutidas. - Quando deglutidas chegam ao ID, onde se transformam em fêmeas partenogenéticas que depositam poucos ovos por dia na mucosa intestinal. Neste local, as larvas rabditoides maturam, alcançam a luz intestinal e são eliminadas com as fezes do paciente. Obs.: Período pré-patente: 15-25 dias; TRANSMISSÃO: CICLO INDIRETO: larvas rabditoides formam, no solo, machos e fêmeas que produzem ovos; estes eclodem produzindo larvas rabditoides que evoluem para filarioides que por sua vez infectam aqueles que andam descalços ou põem alguma região cutânea em contato com o solo. Hetero ou Primoinfecção: larvas filarioides infectantes (L3) penetram usualmente através da pele ou, ocasionalmente, através das mucosas (boca ou esôfago). Autoinfecção externa ou exógena: larvas rabdtoides presentes na região perianal de indivíduos infectados transformam-se em larvas filarioides infectantes e aí penetram, completando o ciclo direto. Pode ocorrer em crianças, idosos ou pacientes internados que utilizam fraldas, ou ainda, em indivíduos que por falta de higiene deixam permanecer restos de fezes na região perianal. Autoinfecção interna ou endógena: larvas rabditoides, ainda na luz intestinal, transformam-se em larvas filarioides , que penetram na mucosa intestinal. Este mecanismo pode cronificar a doença por meses ou anos. Esta modalidade pode ocorrer em indivíduos com estrongiloidose e constipação intestinal; em pacientes com baixa imunidade (HIV, uso de drogas imunossupressoras, idosos, TB, alcoolismo, gravidez). A autoinfecção interna pode acelerar-se, provocando a elevação do número de parasitos no intestino e nos pulmões (hiperinfecção); ou disseminar-se por vários órgãos do paciente (forma disseminada). Ambas são consideradas graves e potencialmente fatais em indivíduos imunossuprimidos. PATOGENIA, PATOLOGIA E SINTOMATOLOGIA: A apresentação da infecção é determinada pela interação entre o parasito e o hospedeiro. Indivíduos portadores de pequeno número de parasitos no intestino geralmente são assintomáticos ou oligossintomáticos. Formas graves, às vezes fatais, relacionam-se com fatores extrínsecos (cargaparasitária) e com fatores intrínsecos (subalimentação, alcoolismo crônico, infecções secundárias). As principais alterações são devidas à ação mecânica, traumática, irritativa, tóxica e antigênica decorrente não só das fêmeas partenogenéticas, mas também das larvas e dos ovos. Estas ações podem ser estudadas, acompanhando as suas localizações no hospedeiro: NA PELE, costumam ser discretas ou formar placas de eritema nos pontos de penetração das larvas; lesões urticariformes aparecem em torno do ânus na autoinfecção externa. No início, a penetração larvária pode ser assintomática ou, em pacientes sensibilizados, acompanhar-se de eritema, de prurido ou de manifestações urticariformes. Durante o CICLO PULMONAR, são produzidas pequenas hemorragias no parênquima quando as larvas invadem os alvéolos e aí fazem suas mudas. Podem causar uma pneumonite difusa (Síndrome de Loeffler); pode surgir tosse e expectoração com a presença de larvas no escarro e ligeira febre. Em alguns casos, uma crise de asma. NO DUODENO E NO JEJUNO as lesões são produzidas na mucosa pela presença das fêmeas partenogenéticas, dos ovos que eclodem e das larvas filarioides que migram para a luz intestinal, produzindo lesões mecânicas, histolíticas e inflamatórias. o Inflamação catarral, pontos hemorrágicos e ulcerações, em função da carga parasitária. O edema pode estender-se à submucosa. o Desconforto abdominal, cólicas, dores vagas ou imitando úlcera péptica, surtos diarreicos, anorexia, náuseas e vômitos. o Em consequência da duodeno-jejunite, aumenta o peristaltismo, causando diarreia e evacuações mucossanguinolentas. o Fibrose e atrofia da mucosa vão transformando o duodeno e o jejuno em um tubo quase rígido. Na fase aguda, há leucocitose – o leucograma raramente é patognomônico, mas pode ser útil para o diagnóstico diferencial, na avaliação da gravidade da doença e o fornecimento do prognóstico. As infecções podem assumir um curso crônico devido à autoinfecção, tanto externa como interna, persistindo por 20 ou 30 anos. O paciente com estrongiloidose crônica pode apresentar: anemia, eosinofilia, sudorese, incontinência urinária, palpitações, tonturas, alterações no ECG, astenia, irritabilidade, depressão, insônia e emagrecimento. Outras manifestações podem aparecer, mas são incomuns: ascite, perfuração intestinal e artrites; Também sucede de a doença evoluir de forma grave ou fatal com ulcerações extensas ou uma síndrome de suboclusão intestinal alta. Pode produzir um quadro grave e fatal nos pacientes que usam corticoides; FORMA DISSEMINADA: observada em pacientes imunocomprometidos, ou pacientes com megacólon, diverticulite, íleo paralítico, uso de antidiarreicos ou com constipação intestinal – a autoinfecção é favorecida, de modo que há uma grande produção de larvas rabditoides e filarioides no intestino, às quais alcançam a circulação e se disseminam para múltiplos órgãos (rins, fígado, vesícula biliar, coração, pâncreas, tireoide adrenais, próstata, glândulas mamárias, linfonodos, cérebro). Este quadro pode complicar-se com infecções bacterianas secundárias (as bactérias intestinais podem ser transportadas pelas larvas ou a presença de lesões na mucosa intestinal pode favorecer a penetração das enterobactérias na circulação). Ocorrem: dor abdominal, vômitos, diarreia intensa, pneumonia hemorrágica, broncopneumonia bacteriana, insuficiência respiratória e óbito. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico deve ser suspeitado sempre que houver eosinofilia não explicada por outras causas, ou deve ser procurado em pacientes que vão tomar ou estão tomando corticoides. Mas, devido ao caráter inespecífico do quadro clínico, ele deve ser confirmado pelos exames de laboratório. Exame de fezes: comum encontro de LARVAS RABDITOIDES (L1), e não de ovos. Como as larvas são escassas, deve-se usar uma das técnicas coproscópicas de enriquecimento para a pesquisa de larvas nas fezes, como: - Método de Rugai - Método de Baerman - Coprocultura de Harada-Mori Obs.: Ocasionalmente, podem ser visualizadas larvas filarioides em fezes envelhecidas ou em casos com ritmo intestinal lento; ou em fezes frescas de indivíduos hiperinfectados. A identificação morfológica correta das larvas é fundamental devido à semelhança com ancilostomídeos. EPIDEMIOLOGIA: Os fatores que influenciam no aparecimento, manutenção e propagação da doença são: (a) presença de fezes de humanos ou de animais infectados, contaminando o solo; (b) presença de larvas infectantes originárias dos ciclos direto e de vida livre, no solo; (c) solo arenoso ou areno-argiloso, úmido, com ausência de luz solar direta; (d) T=25-30º.C; (e) condições sanitárias e hábitos higiênicos inadequados; (f) contato com alimento contaminado por água de irrigação poluída com fezes; (g) não utilização de calçados. TRATAMENTO: Os medicamentos atualmente recomendados são os seguintes: Ivermectina - contraindicada durante a gestação e o aleitamento. Albendazol Tiabendazol- é recomendado nos casos de hiperinfecção. A taxa de cura é de 70 a 90%, e como os medicamentos não matam as larvas, convém repetir o tratamento para evitar reinfecções externas ou internas. CONTROLE: A estrongiloidíase é cosmopolita, com distribuição semelhante à da ancilostomíase, mas com menores prevalências (<10%). As únicas fontes de infecção são as pessoas parasitadas. A transmissão é facilitada onde o microclima é quente e úmido, em solos porosos e ricos de matéria orgânica. Em geral, no peridomicílio, onde as crianças e os adultos têm o hábito de defecar no chão e andar descalços. As larvas tornam-se infectantes nas fezes logo após a defecação. Mas, as larvas rabditoides morrem abaixo de 8ºC. As medidas de controle são as mesmas recomendadas para as demais geo- helmintíases. Os corticoides produzem metabólitos que se assemelham à hidroxiecdisona (que controla as ecdises nos insetos e que poderia atuar sobre os helmintos). Com isso, os corticoides acentuariam a transformação de larvas rabditoides em larvas filarioides, que invadiriam a mucosa intestinal em uma autoinfecção interna. Além disso, os corticoides atuam na resposta inflamatória diminuindo o número de eosinófilos, células sanguíneas que conferem proteção contra o parasito. O ciclo parasitário fecha-se então com grande produção de fêmeas partenogenéticas e invasão larvária de todo o organismo, levando o paciente ao óbito. Baseiam-se no hidro- e termotropismo das larvas. Necessitam de 3-5 amostras de fezes colhidas em dias alternados.
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