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Análise da efetividade da sentença da Corte Internacional de Justiça em matéria ambiental

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*Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC); coordenadora da linha ambiental de 
pesquisa do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (GEDAI) <http://www.gedai.org/>, grupo 
de pesquisa e extensão vinculado à UFC; bolsista do programa Jovens Talentos para a Ciência da CAPES. 
** Graduando em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC); membro-pesquisador e bolsista do Grupo 
de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (GEDAI) na linha ambiental de pesquisa. 
Análise da efetividade da sentença da Corte Internacional de Justiça em 
matéria ambiental 
Analysis of the effectiveness of the sentence of the International Court of Justice 
in environmental matters 
Amanda de Sousa Lopes* 
Bernardo José Pinto de Mello e Silva Filho** 
Resumo 
O presente estudo trata da atuação da Corte Internacional de Justiça (CIJ) em casos de matéria 
ambiental. Objetiva-se com esse trabalho investigar o grau de efetividade das sentenças 
proferidas pelo referido Tribunal, bem como os possíveis empecilhos que de certa forma 
atrapalham a caracterização de uma decisão judicial como de fato efetiva. O primeiro passo 
estabelecido consiste na exposição de alguns aspectos funcionais da CIJ: organiza-se o órgão 
internacional pertencente à Organização das Nações Unidas (ONU) em 15 membros-juízes de 
nacionalidades distintas, que gozam de total independência, e em um Cartório de natureza 
administrativa; a competência da Corte diz respeito a que assuntos e sujeitos ela pode julgar e 
quais funções ela poder exercer, por conseguinte, segundo as determinações de seu Estatuto, o 
órgão judicial está autorizado a julgar praticamente qualquer pauta atinente ao Direito 
Internacional, além de que apenas Estados signatários e alguns órgãos específicos da ONU 
possuem capacidade postulatória perante à CIJ, não olvidando que cabe a este os papéis 
contencioso (decisório) e consultivo; nesse tópico, foi abordado por fim a sentença da Corte e 
suas características fundamentais: obrigatoriedade e a definitividade. A seguir, dois casos, 
selecionados segundo os critérios de nítido cunho ambiental, nível de repercussão mundial, 
contribuição para construção de uma jurisprudência em matéria de direito ambiental 
internacional e abrangência de princípios jurídicos relacionados ao meio ambiente, são 
analisados: o primeiro diz respeito à controvérsia dos testes nucleares da França na região do 
Pacífico entre o país já mencionado e a Nova Zelândia, e o segundo caso relaciona-se ao 
projeto Gabcíkovo-Nagymaro em uma lide que contrapôs Hungria e Eslováquia. Por fim, são 
abordados os problemas identificados a partir dos casos analisados anteriormente para a 
construção de uma sentença efetiva: limitação jurisdicional, relacionada ao fato do aceite 
facultativo da jurisdição da CIJ; limitação interpretativa, atinente às dificuldades de aplicação 
dos princípios ambientais; limitação na execução das decisões, relativo ao fato de que, uma 
vez pronunciada a sentença da Corte, acaba aí a sua função enquanto órgão jurisdicional. 
Palavras-chaves: CIJ; direito ambiental internacional; efetividade. 
Summary 
 This study talks about the procedure of the International Court of Justice (ICJ) in cases 
of environmental nature. This work aims to investigate the degree of effectiveness of the 
judgments by that Court as well as the possible obstacles that somehow hinder the 
characterization of a judicial decision as really effective. The first step is to set exposure of 
some functional aspects of the ICJ: the United Nation’s international body is organized on 15 
different nationalities members-judges, who shall be completely independent, and a Registry 
of administrative nature; the jurisdiction of the Court with respect to which issues and 
subjects it can judge and which it functions to exercise, therefore, according to the provisions 
of its Statute, the judicial body is authorized to judge almost any agenda pertaining to 
international law, and that only signatory States and some UN agencies have specific 
postulatory capacity before the ICJ, not forgetting its contentious (decision-making) and 
advisory functions; at last, in this topic was discussed the sentence of the Court and its 
fundamental characteristics: mandatory and definitiveness. Hereafter, two cases, selected 
according to the criteria of clear environmental nature, world repercussion level, contributing 
to building a case law on international environmental law and coverage of juridical principles 
related to the environment, are analyzed: the first concerns the controversy of the French 
nuclear testing in the Pacific region between the country already mentioned and New Zealand, 
and the second case relates to the Gabcíkovo-Nagymaro project in a litigation that countered 
Hungary and Slovakia. Finally, are addressed the problems identified from the cases 
previously analyzed to construct an effective sentence: jurisdictional limitation related to the 
fact of voluntary acceptance of the jurisdiction of the ICJ; interpretive limitation, relating to 
the difficulties of applying environmental principles; limitation on the enforcement of 
decisions on the fact that, once pronounced a sentence by the ICJ, there ends its function as a 
court. 
Key-words: ICJ; international environmental law; effectiveness. 
1 Introdução 
A preocupação com as regras de conduta que valorizam a preservação do meio 
ambiente no âmbito global faz parte de um processo repleto de fenômenos, descobertas 
científicas e fatos. Muitos são os danos ambientais decorrentes do comportamento equivocado 
de alguns Estados no tratamento dos recursos naturais. A percepção desses eventos 
influenciou o estabelecimento de pactos internacionais com a finalidade de incentivar os 
Estados a agirem de forma cooperativa. Logo, de modo geral, é após o descumprimento de 
cláusulas desses tratados por alguma das partes, e também porque os danos não obedecem aos 
limites das fronteiras, que surgem as controvérsias entre os países, as quais precisam ser 
resolvidas com o propósito de serem evitadas hostilidades maiores. 
Como afirma Mazzuoli (2011, p. 1041), os países estão “sempre na busca de meios 
jurídicos para a solução de tais controvérsias internacionais; a fim de poder estampar mais 
segurança e tranquilidade às relações internacionais”. Não se pode deixar de considerar que 
um dano ambiental causado pela ação humana em um determinado país seja relevante à 
perturbação da tranquilidade tanto no país causador quanto no seu vizinho. Visto isso, tal 
tema tem se tornado de grande ênfase no cenário internacional. 
A Corte Internacional de Justiça recebe litígios de "matérias especialmente 
contempladas na Carta das Nações Unidas ou em tratados ou em convenções em vigor”, 
segundo o art. 36 estatuto da CIJ, logo, aprecia casos sobre questões ambientais. “Vale 
sobrelevar que, no que concerne à previsão normativa, desde o preâmbulo da Carta das 
Nações Unidas, há previsão da proteção das gerações futuras que, com o tempo foi sendo 
interpretada, também, como uma proteção ambiental” (OLIVEIRA, 2010, p. 167). O presente 
estudo pretende apresentar uma síntese do funcionamento desse sistema jurídico a fim de 
demonstrar a capacidade desse órgão em resolver tais conflitos, como também seu interesse 
sobre o tema. 
 Com esse direcionamento, reservou-se uma parte do estudo especialmente para a 
análise de casos apreciados pela CIJ. Dois conflitos foram selecionados e os critérios para a 
seleção dos mesmos foram os seguintes: nítido cunho ambiental; nível de repercussão 
mundial; contribuição para construção de uma jurisprudência em matéria de direito ambiental 
internacional; abrangência de princípios jurídicos relacionadosao meio ambiente. 
Todavia, apesar da possibilidade de esse órgão sentenciar os países sob sua jurisdição, 
questiona-se a efetividade dessas determinações. Frade e Lopes (2007, p.54) ao definirem o 
conceito de efetividade mencionam Sandrine Maljean-Dubois afirmando que: 
No âmbito do Direito Internacional Ambiental, para ser efetiva, a norma jurídica 
deve ser dotada de dupla condição de eficácia e de efetividade, o que induz ao 
reconhecimento de algumas dificuldades; de um lado, empecilhos de ordem geral, 
relacionados à especificidade do Direito Internacional e, de outro, obstáculos de 
ordem particular, pertinentes ao campo do meio ambiente. 
A problemática que envolve o texto estará em analisar a opinião da autora a respeito da 
existência de empecilhos gerais e de obstáculos específicos para a efetividade das sentenças, 
baseando-se nos casos expostos e em doutrinas diversas. 
 
2 A Corte Internacional de Justiça (CIJ) 
 
“A Corte Internacional de Justiça será o principal órgão judiciário das Nações 
Unidas”, é o que afirma o art. 92 da Carta das Nações Unidas (1945). Ao lado da Assembleia 
Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e Social, Secretariado e Conselho de 
Tutela, a CIJ compõe um dos seis principais órgãos da Organização das Nações Unidas 
(ONU). Sua criação, em 1945, concomitante ao surgimento da ONU, veio a suprir a lacuna 
deixada pelo fim das atividades da Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJI), que 
durou somente de 1922 a 1946, com pouca efetividade (VARELLA, 2012). Mazzuoli (2013, 
p. 1118), inclusive, ressalta que os artigos do Estatuto da Corte são “quase que ipsis verbís 
baseados no Estatuto da antiga Corte Permanente de Justiça Internacional, conservando-se 
inclusive a mesma numeração”. 
2.2 Organização 
 
 No Estatuto da CIJ (1945), a parte correspondente à sua organização é o capítulo 
primeiro, que compreende os arts. 2º ao 33. 
 O parágrafo primeiro do art. 3º determina que “a Corte será composta de quinze 
membros, não podendo figurar entre eles dois nacionais do mesmo Estado”. Fazendo-se uso 
da doutrina de Mazzuoli (2013, p. 1118), tais magistrados serão “eleitos pela maioria absoluta 
de votos na Assembleia-Geral e no Conselho de Segurança da ONU [...] para um mandato de 
nove anos” − cabendo reeleição, como deixa claro o art. 13 do Estatuto − mediante uma lista 
de nomes elaborada pela Corte Permanente de Arbitragem Internacional a partir de nomes 
indicados pelos governos nacionais. Ainda segundo o autor, os juízes da Corte gozam de 
integral independência e não representam os países de sua nacionalidade, tanto que o fato de 
um juiz ser natural de um dos Estados litigantes não o impede de exercer suas funções no caso 
concreto, apenas permite-se que a outra parte nomeie um magistrado ad hoc de sua 
preferência para atuar na lide por questões de isonomia. 
 Convém, ainda, destacar que, além dos juízes, a CIJ também é composta pelo Cartório 
da Corte, cujo chefe – cartorário ou escrivão – ficará responsável pelos assuntos de cunho 
administrativo, “não apenas aqueles típicos de cartório judicial (como registro de 
documentos), mas também aqueles deveres de administração de órgão internacional (como 
comunicação com os outros órgãos internacionais, administração financeira e do pessoal)”, 
como bem lembram Casella e Silva (2012). 
 
2.2 Competências 
 
 Sendo competência, segundo Liebman, citado por Lima (2013, p. 314), “a medida da 
jurisdição”, cabe analisá-la sob três enfoques: as funções – contenciosa e consultiva – que são 
atribuídas ao Tribunal, as matérias que lhe compete julgar (ratione materiae) e os sujeitos de 
direito que estão submetidos à sua jurisdição (ratione personae). 
 
2.2.1 Ratione materiae 
 
 A competência da CIJ em razão da matéria pode ser encontrada no §1º do art. 36, cujo 
texto assim estabelece: “A competência da Corte abrange todas as questões que as partes lhe 
submetam, bem como todos os assuntos especialmente previstos na Carta das Nações Unidas 
ou em tratados e convenções em vigor”. Percebe-se, portanto, que a competência ratione 
materiae da Corte é deveras extensa, porquanto, praticamente qualquer pauta atinente ao 
Direito Internacional pode ser por ela apreciada. 
 
2.2.2 Ratione personae 
 
Quanto à competência ratione personae, somente os Estados possuem capacidade 
postulatória perante o Tribunal em matéria contenciosa e, se se trata de parecer consultivo, 
apenas a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança e entidades especializadas e outros 
órgãos das Nações Unidas autorizados pela Assembleia podem solicitá-lo ante a CIJ. Dessa 
forma, os particulares (pessoa físicas e jurídicas) não têm qualquer meio de acesso ao 
Tribunal. Varella (2012) ainda alerta que “apenas os Estados que ratificaram o Estatuto da 
Corte Internacional de Justiça podem apresentar seus contenciosos à Corte”. Como o Estatuto 
da CIJ é um anexo à Carta da ONU, todos os Estados-membros da ONU aceitam a 
competência do Tribunal. Nada impede, contudo, que um país não participante das Nações 
Unidas venha a ratificar apenas do Estatuto da CIJ, pois este também é considerado um 
tratado autônomo. Oliveira (2010, p. 170) observa também que os Estados litigantes precisam 
aceitar a jurisdição da Corte para que ela possa atuar, sendo que esse aceite pode ser feito de 
três maneiras: 
[P]ela demanda do Estado autor e contestação do mérito pelo Estado demandado; 
por meio de um tratado bilateral no qual há submissão das controvérsias à Corte, 
com interposição de demanda conjunta diante da CIJ; por intermédio da 
impossibilidade de recusa da jurisdição, por parte do Estado demandado, quando 
estiver obrigado a aceita-la em função de algum tratado ou por ser signatário da 
cláusula facultativa de jurisdição obrigatória. 
 
A cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, por sua vez, é um dispositivo do Estatuto da 
CIJ por meio do qual os países signatários se comprometem antecipadamente a aceitar a 
jurisdição da Corte sempre que demandados por outro Estado que também a assinou (REZEK, 
2011), diferentemente dos países não signatários, que, mesmo ratificando o Estatuto do 
Tribunal, deverão sempre externar a aceitação da jurisdição da CIJ toda vez que processados 
em virtude de uma ação ajuizada perante a Corte. 
 
2.2.3 Competência contenciosa ou decisória 
 
Relaciona-se à solução de controvérsias entre os Estados através da aplicação das 
normas do Direito Internacional, como fica explícito no §1º do art. 38 do Estatuto. Deste 
parágrafo também se apreende que restam excluídos os ordenamentos jurídicos internos dos 
Estados para fins de aplicação pela Corte, que só se valerá dos instrumentos previstos nas 
alíneas desse mesmo dispositivo normativo: convenções internacionais que constituam regras 
expressamente adotadas pelos Estados litigantes; costume internacional, como prova de uma 
prática geral reconhecida como sendo o direito; princípios gerais de direito, acolhidos pelas 
nações civilizadas; decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das 
diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. 
Uma competência contenciosa cautelar, dedicada à salvaguarda de direitos de cada 
parte no processo, também é vislumbrada por Mazzuoli (2013, p. 1120) através da leitura do 
art. 41, §1º, que assim dispõe: “A Corte terá a faculdade de indicar, se julgar que as 
circunstâncias o exigem, quaisquer medidas provisórias que devam ser tomadas para 
preservar os direitos de cada parte”. 
 
2.2.4 Competência consultiva 
 
O parecer consultivo é um procedimento unilateral, já que não se verificam partes 
antagônicas no processo, que “na prática, [...]servem para resolver uma situação 
potencialmente litigiosa”, segundo o ensinamento de Varella (2012), o qual também é 
contundente ao afirmar que “os pareceres consultivos têm um papel importante na solução de 
conflitos internacionais, pois declaram o direito sobre determinado tema polêmico”. Mazzuoli 
(2013, p.1121) faz a ressalva de que esse parecer consultivo não tem natureza obrigatória, o 
que não implica dizer, todavia, que o mesmo não possua poder persuasivo. Da mesma forma, 
o fato do parecer não ser cogente não significa que seja ignorado pelos Estados, afinal, ele 
indica qual seria a posição da Corte caso um contencioso fosse oferecido posteriormente, 
logo, na prática, acaba sendo respeitado. 
 O §1º art. 96 da Carta da ONU prescreve que somente Assembleia Geral e o Conselho 
de Segurança podem solicitar esse tipo de prestação jurisdicional da CIJ, mas o parágrafo 
seguinte do mesmo artigo permite que outros órgãos das Nações Unidas e entidades 
especializadas, desde que devidamente autorizados pela Assembleia Geral, façam o mesmo. 
 
2.3 As sentenças da CIJ 
 
 As características basilares de qualquer sentença prolatada pela Corte de Haia são a 
obrigatoriedade e a definitividade. A primeira decorre da dicção do art. 59 – “A decisão da 
Corte só será obrigatória para as partes litigantes e a respeito do caso em questão” – e a 
segunda do art. 60 – “A Sentença é definitiva e inapelável [...]”. 
 A obrigatoriedade da decisão do órgão judiciário mais importante das Nações Unidas é 
seu elemento essencial, uma vez que pouco adiantaria uma sentença que os países litigantes 
não estivessem adstritos a cumpri-la, sob pena de se estar maculando a própria efetividade da 
deliberação judicial. É importante, ainda, que se destaque que, como o próprio art. 59 acima 
referido denuncia, os demais países que não se encontram na lide não são atingidos pela 
obrigatoriedade da sentença. Se a resolução do conflito pela CIJ requer a aceitação da 
competência do órgão pelos Estados em litígio, não é razoável cogitar que países que não 
aquiesceram com essa competência venham a ter suas ambições e obrigações interferidas 
pelas determinações da Corte. Apenas em situações excepcionais, sobre as quais não é 
oportuno tratar neste estudo, é que as decisões da CIJ possuem caráter erga omnes. 
Analogamente, a sentença do supracitado órgão faz valer sua natureza obrigatória 
exclusivamente ao caso em questão, o que, de maneira prática, significa que “as decisões 
precedentes não vinculam a CIJ diante de uma nova demanda” (BRANT, 2012, p. 99). 
 Dizer que a sentença do Tribunal Internacional de Justiça é definitiva significa que ela 
é um produto acabado que não mais pode ser alterado, portanto é imutável, logo não é 
possível rediscuti-la pela Corte, ou seja, é inapelável. Além disso, a definitividade da decisão 
obriga que, tão logo solução da lide venha a ser prolatada, o Estado condenado deve iniciar a 
sua implementação. Lembra Resek (2014) que, entretanto, o “caráter irrecorrível [da 
sentença] não exclui, contudo, a possibilidade de embargos declaratórios, que ali levam o 
nome de ‘pedido de interpretação’”. 
 
3 Alguns casos resolvidos pela CIJ envolvendo direito ambiental 
 
 A seguir, tomam-se alguns casos exemplificativos – escolhidos por critério já 
mencionados anteriormente – para demonstrar a atuação da CIJ em lides de cunho ambiental. 
 
3.1 Casos relativos aos testes nucleares da França na região do Pacífico 
 
 Em decorrência dos testes de armas nucleares empreendidos pela França em ilhas da 
Oceania, alguns Estados do continente, com destaque para Austrália e Nova Zelândia, 
declaram terem sido afetados negativamente pelas experiências francesas e, por conseguinte, 
seus direitos inobservados. 
 Os governos neozelandês e australiano decidiram, então, levar o caso à Corte 
Internacional de Justiça. O representante da Nova Zelândia, na argumentação oral perante a 
Corte em 24 de Maio de 1973, advertiu que: 
O crescente recurso a testes nucleares representava um grande perigo à saúde das 
gerações futuras e presentes e que, em última instância, poderia representar uma 
ameaça à própria sobrevivência da humanidade. Ele também ressaltou a necessidade 
de minimizar o risco à saúde e a proteção das populações nativas, afirmando que 
uma atividade inerentemente prejudicial não é aceitável por medidas precautórias 
rigorosas (DIZ; ALMEIDA, 2014). 
 
 Dentre os direitos que a Nova Zelândia buscava resguardar com o pedido de medidas 
provisórias feito à Corte de Haia estava o direito à preservação do meio ambiente terrestre, 
marinho e aéreo, especialmente o da região próxima de onde os testes vinham sendo 
executados, contra a contaminação radioativa decorrente das experimentações nucleares da 
França. No mesmo documento, para fortalecer o discurso da exigibilidade e urgência das 
providências interinas, o governo neozelandês elencou, entre outros argumentos, as 
consequências dos testes franceses para o meio ambiente. Alegou que o empreendimento 
francês, em diferentes níveis, afetava o meio ambiente de todo o planeta, sendo que os efeitos 
para os países da região eram mais severos, haja vista que os recursos marinhos, ameaçados 
pela poluição radioativa, eram recursos essenciais para suas economias e subsistência; 
invocou, ainda, o Tratado de banimento de testes de armas nucleares na atmosfera, no espaço 
exterior e sob as águas para remeter ao último parágrafo do seu preâmbulo que propunha a 
continuação das negociações entre os países para interromper todos os testes com armas 
nucleares na esperança de pôr um fim na contaminação do meio ambiente humano por 
substâncias radioativas; também citou a Conferência de Estocolmo para mencionar alguns 
parágrafos, resoluções e princípios da sua Declaração especialmente relacionados com o 
embate meio ambiente versus armas nucleares (CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA, 
1973). 
 Em carta, o governo francês afirmou que considerava a Corte incompetente para julgar 
o caso, logo não acolheria sua competência, bem como solicitou que o caso fosse retirado de 
sua pauta. A CIJ, por seu turno, não atendeu à requisição feita pela França e em decisão de 
natureza provisória proferida em 22 de junho de 1973, acatou a medida cautelar proposta pela 
Nova Zelândia ao determinar que governo francês interrompesse os testes nucleares que 
resultassem no acúmulo de dejetos radioativos no território da Nova Zelândia, das Ilhas Cook, 
da Ilha Niue ou das Ilhas Tokelau. A despeito da decisão da corte, todavia, a França repetiu 
mais experiências nucleares. 
Em sentença proferida em 20 de dezembro de 1974, a Corte deliberou que a demanda 
da Nova Zelândia não mais possuía qualquer objeto e que não havia, consequentemente, lugar 
para uma decisão. A falta de objeto foi justificada através de várias declarações públicas 
feitas em 1974 pelo governo francês, através das quais anunciou sua intenção de encerrar 
a condução de seus testes atmosféricos uma vez terminada a campanha do mesmo ano. As 
declarações foram tratadas pela corte como um compromisso assumido pelo governo 
francês, sem prejuízo da sua vinculação jurídica, podendo os demais Estados confiar em 
sua eficácia. Logo, levando em conta que o objetivo inicial e final do demandante era 
obter o término dos testes nucleares atmosféricos franceses no Pacífico Sul, a CIJ 
entendeu que o escopo do governo neozelandês foi alcançado. 
Em novo desdobramento, a Nova Zelândia, presumindo estar em sintonia com o que 
estabelecia o parágrafo 63 da sentença de 1974 a respeito do caso dos Testes Nucleares (Nova 
Zelândia v. França), depositou um pedido de exame da situação perante à CIJ em decorrência 
de uma declaração feitaà mídia em 13 de junho de 1995, na qual o Presidente da República 
Francesa teria afirmado que a França conduziria uma série final de oito testes nucleares no 
Pacífico Sul, iniciando-os em setembro de 1995. Seu pedido, ao final, almejava declarar, entre 
outras requisições, que a França não tinha o direito de conduzir tais testes antes de 
empreender um estudo de impacto ambiental de acordo com os parâmetros internacionais 
reconhecidos, cujo resultado definiria o futuro das experimentações nucleares em tela. Não 
obstante, a demanda apresentada pelo país da Oceania fez menção explícita ao princípio da 
precaução entre seus parágrafos 105 e 110. De todo modo, a demanda neozelandesa foi 
descartada pela Corte por esta ter julgado que o pedido não estava de acordo com o referido 
parágrafo 63 da decisão de 1974 (CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA, 1995). 
 
3.2 Caso relativo ao projeto Gabcíkovo-Nagymaros 
 
 Por meio desse contencioso, tem-se uma importante contribuição para o direito 
internacional do meio ambiente, afinal, segundo Oliveira (2010, p. 178), “a CIJ reconheceu 
pela primeira vez a existência de regras de direito internacional ambiental geral ao comentar 
[...] que os Estados têm a obrigação de promover medidas ambientais”, ou, ainda, de acordo 
com Sands (2009, p. 208), “o conceito de ‘desenvolvimento sustentável’ foi efetivamente 
debatido pela primeira vez [...] perante a CIJ”. 
A controvérsia tem origem no tratado assinado em 1977 pela Hungria e a antiga 
Tchecoslováquia para a exploração do rio Danúbio através de investimentos conjuntos entre 
os dois países com o fim de obter energia hidrelétrica, melhorias na navegabilidade do rio e 
controlar inundações. Dentre outras construções, o acordo firmado entre os Estados previa 
duas séries de barragens, uma em Nagymaros, cidade pertencente à Hungria, e outra em 
Gabcíkovo, distrito da Tchecoslováquia (CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA, 1993). 
 Entretanto, em 1989, sob a alegação de que o projeto estava ocasionando graves riscos 
ao meio ambiente e ao abastecimento de água da capital Budapeste, a Hungria suspendeu 
trabalhos em sua parte da represa no Danúbio. Reagindo às atitudes da Hungria, a 
Tchecoslováquia, em 1991, decidiu por dar seguimento ao que chamou de “Variante C”, uma 
medida provisória que “compreendia barragem única em seu lado, porém que exigia o desvio 
para seu território de, aproximadamente, 80% das águas partilhadas” (SANDS, 2009, p. 209), 
privando, assim, a Hungria da parte admissível dos recursos do Danúbio a que tinha direito. 
Finalmente, em 1992, o governo húngaro comunicou verbalmente ao Estado tchecoslovaco o 
término unilateral do Tratado. 
 Diante do impasse, o caso foi levado à Corte Internacional de Justiça em 1993. Perante 
o Tribunal, a Hungria justificou a suspensão de suas obrigações do Tratado de 1977 e o 
posterior rompimento deste documento com base no princípio da precaução. Contudo, 
segundo a Corte, a justificativa que tornaria lícita essa medida adotada pelo país deveria ser 
com base no estado de necessidade. De qualquer forma, a Hungria não conseguiu provar um 
grau relevante de certeza e inevitabilidade do perigo grave e iminente exigido pelo referido 
instituto jurídico (SADELLER, 2009, p. 67). Além do mais, ambos os Estados, Hungria e 
Eslováquia, este agora sucessor da Tchecoslováquia no caso após a separação do país em 
1993, aludiram ao conceito de desenvolvimento sustentável para fundamentar seus pleitos, 
porém, diante da indefinição do termo, a ele foram imputados significados diferentes: a 
Eslováquia defendia que o efeito concreto do desenvolvimento sustentável no caso seria a 
continuação da construção das barragens por conta dos benefícios que isso traria à população 
da região, ao passo que para a Hungria, por em prática o desenvolvimento sustentável 
implicaria a completa eliminação do projeto, já que este representaria uma séria ameaça ao 
ecossistema local. 
 Em sua sentença, a Corte, dentre outras resoluções, destacou a “obrigação dos Estados 
de não promoverem em suas fronteiras atividades que pudessem afetar o meio ambiente de 
outros Estados, elevando essa obrigação a um costume internacional” (OLIVEIRA, 2010, p. 
179); ademais, entendeu que a Hungria não tinha o direito de suspender e em seguida 
abandonar o projeto estabelecido pelo Tratado de 1977 e que este não foi terminado, sob o 
ponto de vista jurídico, pelas notificações do governo húngaro, atitudes estas que obrigaram a 
Hungria a indenizar a outra parte pelos danos delas decorrentes; com relação à Eslováquia, 
por sua vez, não era lícita a execução da medida provisória chamada de Variante C, o que 
gerou a obrigação de indenizar a parte adversária pelos danos sofridos por conta dessa ação. 
Não obstante, o Tribunal deliberou que os dois países deveriam iniciar negociações que 
visassem a dar prosseguimento ao Tratado de 1977, assegurando o cumprimento de seus 
objetivos originais. Por conta do resultado desse julgamento, Oliveira (2010, p. 179) concluiu 
que a “CIJ preferiu julgar o caso sob a teoria da responsabilidade civil [...]. Nesse sentido, 
apesar de o princípio [da precaução] ter sido submetido a sua jurisdição, não foi interpretado 
no sentido de proteger a natureza”. 
 
4 Dificuldades para a efetividade das decisões 
 
Sendo considerado o último recurso para a resolução de conflito de forma pacífica a 
Corte Internacional de Justiça formula suas sentenças após longa análise do caso. É de 
entendimento doutrinário, porém, que “o órgão não tem meios de implementação que tragam 
segurança jurídica para os Estados que utilizem esse sistema de solução de controvérsia” 
(OLIVEIRA, 2010, P. 177). Ou seja, as decisões por ela proferidas têm tido dificuldade de 
gozar de efetividade, que será entendida aqui como a questão de a sentença “ser ou não 
seguida pelas pessoas a quem é dirigida e, no caso de violação, se ela é imposta por meios 
coercitivos pela autoridade que a evocou” (AZEVEDO; LIMA. 2009, p. 15). 
Varella (2007, p.30) considera que uma norma internacional será seguida se houver a 
existência de certos elementos jurídicos e políticos. A falha de algumas dessas condições 
tornam-se motivos para dificultar a efetividade da sentença judicial. Dentre os requisitos 
citados pelo autor serão destacados três, os quais serão explorados fazendo-se relação com os 
casos mencionados. São eles: a existência de mecanismos de solução de controvérsias entre os 
atores, com poder de sanção para suas decisões; a definição clara dos objetivos a serem 
alcançados; a existência de sanções para os casos de não cumprimento. 
4.1 Limitação jurisdicional 
 
O órgão judicial da ONU tem competência para dirimir os conflitos internacionais de 
forma pacífica ao declarar suas decisões, contudo, ainda que bem reconhecida mundialmente, 
a CIJ só atua em casos de países que estejam sob sua jurisdição. Conforme já aludido neste 
artigo, a aceitação dessa intervenção da Corte se dá antes da ocorrência de algum fato e depois 
da ocorrência deste. 
No caso contencioso em que a França recusou a jurisdição do referido Tribunal mostra-
se claro que essa falta de órgão que atue obrigatoriamente no âmbito global torna ainda mais 
árdua a efetividade do direito internacional. As questões ambientais, por conta da 
irreparabilidade dos seus danos e da extensão que eles podem alcançar, deveriam tomar para 
si uma posição de maior relevância em relação aos demais conflitos. Logo, para conflitos 
ambientais faz-se ainda mais necessária essa vinculação, de forma que os países envolvidos 
sejam julgados de modo mais rígido, independentemente de aceitação. 
 
4.2 Limitação interpretativa 
 
Os princípios do direito ambiental estão tambémdispostos nos tratados, os quais em 
relação aos outros ramos do direito são novos e, por conseguinte, pouco compreensíveis, mas 
frequentemente utilizados nas decisões da Corte. 
Segundo Sandrine Maljean-Dubois (2009, p. 100): 
Com C. de Visscher, podemos considerar como sendo “eficientes, as disposições de 
um ato internacional (...) quando consideradas em si mesmas, elas estão em 
adequação com os fins propostos”. Essa primeira condição não é facilmente 
cumprida no campo do meio ambiente; por falta de conhecimento ou de consenso, 
não é sempre que há uma formulação clara dos objetivos ambientais a serem 
alcançados ou dos métodos a serem empregados. 
 
Corroborando com a opinião da autora, lembramo-nos do caso Gabcikovo-Nagymaros, 
quando pela primeira vez o conceito de “desenvolvimento sustentável” foi efetivamente 
debatido perante à CIJ. A indefinição dos princípios do desenvolvimento sustentável e da 
precaução, principalmente, foram causas geradoras de certa contrariedade das alegações das 
partes e abstratividade da decisão final. 
A Hungria alegava que defendia o desenvolvimento sustentável ao cancelar a operação 
das obras, pois elas iriam causar impactos ao meio ambiente danificando especialmente a 
fauna, a flora e qualidade da água, e quis, portanto, atender aos rumores sociais. Já a 
Eslováquia relatava que o desenvolvimento sustentável estava sendo atendido por ela porque 
ao continuar operando as barragens proporcionaria o crescimento da economia local. Percebe-
se, dessa forma, que o primeiro país fundamentou-se em um aspecto mais ecológico do 
conceito, enquanto o outro em um aspecto mais econômico (MIRANDA, 2009, p.94). 
 Ao analisarem os argumentos das partes, os juízes internacionais entenderam, 
primeiramente, que a Hungria não poderia ter parado as obras e posteriormente tentado 
dissolver o tratado, pois ainda que o desenvolvimento sustentável fosse possível para 
fundamentar o estado de necessidade ecológica, os riscos não eram iminentes nem concretos. 
Percebe-se que o princípio da precaução foi, de certa forma, modificado e teve dirimida sua 
finalidade de evitar a ocorrência do dano. Ele está definido na Declaração do Rio de Janeiro 
(1992) no princípio 15: 
[...] Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta 
certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes 
e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. 
 
 Paulo Machado (2014, p. 107), ao comentar sobre o princípio da precaução, afirma que 
“o fato de o incerto não ser conhecido ou de não ser entendido aconselha que ele seja avaliado 
ou pesquisado”. Dessa forma, ainda que não fosse possível comprovar a existência clara de 
um dano ambiental, também não se poderia afirmar que ele é inexistente, pois se faz 
necessário priorizar a prevenção do dano e não esperar que ele aconteça para que medidas 
sejam tomadas. Ao ter acrescentado “iminência e concretude do dano”, a Corte fez uma 
leitura limitada do princípio e diminuiu sua eficácia, como também não dispôs da sua 
oportunidade de gerar novas interpretações mais concretas e protetivas, abrindo assim espaço 
para que tanto em pareceres internacionais quanto nacionais ele seja também desconsiderado. 
Dessa maneira, continuará o meio ambiente sofrendo sérios danos irreparáveis que atingem 
penosamente todo o ecossistema. 
Acerca do princípio do desenvolvimento sustentável, na tradução de Machado (2014, 
p.81) foi declarado no julgamento que: 
“(...) Graças às novas perspectivas que oferece a ciência e uma consciência crescente 
dos riscos, que essas intervenções, a um ritmo imprudente e intenso representariam 
para a humanidade – quer se trate de gerações atuais ou futuras - (…). Essas novas 
normas devem ser levadas em consideração e essas novas exigências apreciadas 
convenientemente, não somente quando os Estados prevejam novas atividades que 
começaram no passado. O conceito de desenvolvimento sustentado traduz bem esta 
necessidade de conciliar desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente.” 
 
 Philippe Sands (2009, p. 208) aponta como um dos aspectos da decisão que a Corte ao 
invocar o “desenvolvimento sustentável” teria garantindo sua legalidade e certo status no 
Direito Internacional. Contudo, “a Corte não definiu o conteúdo jurídico do princípio, seja em 
termos materiais ou procedimentais (...) nem determinou em que medida seria possível 
conciliar o direito ao desenvolvimento com a proteção do meio ambiente neste caso 
concreto.” (CASELLA; SILVA, 2012). 
A decisão, apesar de inovadora, apenas integrou os objetivos sociais contraditórios entre 
aspectos ecológicos e econômicos, não proporcionando uma precisão necessária sobre a 
maneira como alcançar a harmonização. “A ausência de conteúdo normativo preciso destes 
princípios induz à conclusão de que não é possível extrair norma definida de conduta destes, o 
que os priva do caráter normativo” (CASELLA; SILVA, 2012). 
 Como já explicitado anteriormente, a decisão da corte foi no sentido de que o tratado 
deveria permanecer e as partes poderiam atualizar os propósitos do documento em 
conformidade com as atuais normas do direito internacional ambiental. Mas o resultado disso 
é que as partes “até hoje não acordam com algumas questões e o rio Danúbio está sofrendo 
sérios efeitos relacionados às construções do projeto instituído pelo Tratado de 1977.” 
(MIRANDA, 2009, p.93). Tais resultados são, sem dúvidas, demonstram a falta de 
efetividade da decisão, que deixou de aplicar um importante princípio e de esclarecer o que 
foi utilizado. Logo, atingir a finalidade da sentença, ou seja, torná-la eficaz, é difícil quando a 
própria disposição não se faz clara ou se faz contraditória. 
 
4.3 Limitações na execução da decisão 
 
Leonardo Brant (2012, p. 213) entende que a eficácia de uma sentença da CIJ 
manifesta-se mediante comportamentos juridicamente motivados de adequação da ação das 
partes ao dispositivo jurisdicional e que a maioria das sentenças da CIJ é executada 
voluntariamente, sendo raros os exemplos de inexecução delas. Os países, em geral, cumprem 
as sentenças porque, “muitas vezes, a obrigatoriedade da norma está, apenas, no compromisso 
moral assumido pelos Estados quando da sua ratificação.” (VARELLA, 2007, P.30). 
A sentença se caracteriza pela repressividade, pois ela só é expedida depois da 
ocorrência de um fato e tem por finalidade cessar o episódio e/ou fazer com que seu autor seja 
punido, já que esse fato é resultado do descumprimento de alguma regra preestabelecida. 
No que se refere à implementação e cumprimento, nos tratados em matéria de 
proteção ambiental, aponte-se a preferência pelos meios cooperativos em detrimento 
dos meios repressivos de execução, de modo que se evite a instauração de 
antagonismos e confrontos políticos entre estados, causando o que se denomina 
efeito disruptor (CASELLA; SILVA, 2012). 
 
Ainda que os meios cooperativos sejam mais eficientes, não se pode dispensar a 
importância dos meios repressivos, visto que nem sempre os países agirão de boa vontade 
para o cumprimento da sentença. Todavia, pode-se apontar como dificuldade da CIJ em 
relação à execução de suas sentenças dois motivos: a própria Corte não pode aplicar as 
medidas repressivas, em havendo descumprimento do veredicto; e as medidas repressivas 
existentes na atualidade nem sempre são eficazes. 
A função da CIJ se encerra no momento em que ela pronuncia sua sentença obrigatória 
e imutável, assim, a implementação desta pelos Estados, ou seja, sua execução dá-se por 
meios políticos, não mais jurídicos. O parágrafo 2° da carta da ONU dispõe que: 
"Se uma das partes num caso deixar de cumpriras obrigações que lhe incumbem em 
virtude de sentença proferida pela Corte, a outra terá direito de recorrer ao Conselho 
de Segurança que poderá, se julgar necessário, fazer recomendações ou decidir sobre 
medidas a serem tomadas para o cumprimento da sentença.”. 
 
 Tal limitação funcional dificulta o trabalho da CIJ, devido à própria estruturação do 
Conselho. Ele é tido como o órgão primordial da Organização, sendo composto por cinco 
membros permanentes que possuem direito de veto, que seria "um voto negativo no interior 
do processo decisório que tem como efeito inibir e impedir a adoção de uma decisão” 
(MAZZUOLI, 2011, P. 625). Improvável é, nesta ocasião, que as maiores potências do 
mundo, não por coincidência as que mais causam danos ao meio ambiente, renunciem seus 
votos e se rendam a uma decisão, quando podem na prática optar por executá-la ou não. 
Até hoje nenhum caso ambiental chegou ao Conselho de Segurança, mas isso não 
significa que todas as sentenças foram cumpridas. No caso França x Nova Zelândia, já 
descrito em tópico anterior, o Estado réu continuou a realizar experiências nucleares mesmo 
após medida cautelar expedida pela Corte. 
 Em relação ao segundo motivo, Casella e Silva (2012) entendem que “os meios 
tradicionais de tratamento da quebra de obrigações internacionais nem sempre, nem tampouco 
são compatíveis com a proteção do meio ambiente”. Medidas como sanções econômicas e 
restrições a comércio não podem desfazer os danos que são quase sempre irreversíveis. A 
escassez de uma atenção maior a esses meios faz com que os Estados se preocupem menos 
em cumprir a decisão. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Diante do apresentado no desenvolver da pesquisa é possível afirmar que a Corte 
Internacional de Justiça é o maior órgão judiciário reconhecido mundialmente e que está 
atento aos acontecimentos que atrapalham a relação entre os países. Como uma das formas 
mais fortes de solução pacífica de controvérsias, esse meio judiciário apresenta ao mesmo 
tempo em seu Estatuto recursos e restrições. 
Foi proposto analisar a existência de empecilhos e obstáculos que atrapalhem a 
efetividade da sentença. E três foram as limitações apresentadas tomando-se por referência os 
casos dos testes nucleares desenvolvidos pela França e fortemente atacados pela Nova 
Zelândia. Como também o caso em que a Hungria descumpriu o Tratado de 1977, acerca de 
barragens do rio Danúbio, o qual havia sido firmado com a Tchecoslováquia. 
A primeira insuficiência pode ser entendida como uma dificuldade geral, pois é 
decorrente do próprio Estatuto do órgão que afirma ser parte somente quem aceitar qual 
condição. A segunda limitação é vista específica do Direito Ambiental Internacional, pois 
sendo um instituto novo, quando comparado aos demais ramos do direito, há pouca definição 
e certa relatividade dos seus conceitos, o que resulta na abstratividade da decisão tornando-a 
mais difícil de ser concretizada. Por fim, uma limitação que é ao mesmo tempo geral e 
específica, pois para qualquer tipo de matéria internacional existem dificuldades quanto à 
execução da sentença, mas para matérias ambientais é ainda mais abstrata essa forma de 
execução, porque faltam sanções próprias para tal assunto. 
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