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Dos contratos em geral

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DIREITO CIVIL: ANALISTA DO MPU – DIREITO 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 
 
AULA 06 
 
 
DOS CONTRATOS EM GERAL 
 
 
���Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→ 
Dos Contratos em Geral. Contratos em geral. Preliminares e formação 
dos contratos. Transmissão das obrigações. Adimplemento das obrigações. 
 
���Legislação a ser consultada, seguindo a ordem do edital →→→ 
Código Civil: Dos Contratos em Geral (arts. 421 até 480). Transmissão 
das Obrigações (arts. 286 até 303). Adimplemento das Obrigações (arts. 
304 até 388). 
 
ÍNDICE 
 
Introdução e conceito .................................................................... 02 
Elementos constitutivos ................................................................. 03 
Princípios fundamentais ................................................................ 04 
Formação do contrato .................................................................... 09 
 Proposta .................................................................................... 10 
 Aceitação ................................................................................... 11 
 Momento da conclusão .............................................................. 12 
 Lugar da celebração .................................................................. 13 
 Contrato preliminar ................................................................... 14 
Classificação geral dos contratos ................................................... 14 
Efeitos jurídicos da obrigatoriedade do contrato ............................ 21 
 Exceção de contrato não cumprido ............................................ 21 
 Direito de retenção .................................................................... 22 
 Revisão. Resolução por onerosidade excessiva .......................... 23 
 Regra dos contratos gratuitos ................................................... 25 
 Arras ou sinal ............................................................................ 25 
 Estipulação em favor de terceiros .............................................. 27 
 Promessa de fato de terceiro ..................................................... 27 
 Vício redibitório ......................................................................... 28 
 Evicção ...................................................................................... 32 
DIREITO CIVIL: ANALISTA DO MPU – DIREITO 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
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 Contrato com pessoa a declarar ................................................. 35 
Transmissão das Obrigações – Cessão ........................................... 35 
Adimplemento das Obrigações ....................................................... 39 
RESUMO DA AULA ........................................................................... 58 
Bibliografia básica .......................................................................... 62 
EXERCÍCIOS COMENTADOS ............................................................ 62 
 
INTRODUÇÃO E CONCEITO 
Meus amigos. Esta é a nossa última aula, completando, rigorosamente, 
o edital publicado no dia 21 de março de 2013, referente ao concurso para 
ANALISTA DO MPU (Direito). Mais uma vez desejo tudo de bom para vocês. 
Muitas ALEGRIAS e SUCESSO nesta empreitada que vocês se propuseram. 
Primeiro um aviso. Este é um novo ponto inserido pelo edital aual. Ou 
seja, os editais anteriores do MPU exigiam apenas até a aula anterior (ato 
ilícito e responsabilidade). Em um curso regular de Direito Civil agora teríamos 
uma aula introdutória sobre “obrigações” e a seguir a parte geral dos 
contratos. Pois bem... nosso examinador não exigiu toda parte sobre 
obrigações.... ele já entra direto nos contratos e pede apenas a transmissão e 
o adimplemento das obrigações. Portanto, esta aula falará sobre contratos, 
sem se referir às obrigações. Assim, é possível que surjam algumas dúvidas 
referentes a esse “vácuo” de matéria que não foi mencionada no edital. 
Qualquer dúvida que tiverem, utilizem o nosso fórum de dúvidas... Irei 
responder às indagações até a véspera da prova. Ok? 
Bem vamos começar esse último ponto do edital... 
Já vimos que o negócio jurídico pode ser unilateral ou bilateral. O 
negócio jurídico unilateral é o que depende, para a sua formação, de 
apenas uma vontade (ex: renúncia, testamento, etc.). Já o negócio jurídico 
bilateral é o que necessita, para a sua formação, de um encontro de 
vontades. As partes acordam que devem se conduzir de determinado modo, 
uma em face da outra, combinando seus interesses, constituindo, modificando 
ou extinguindo obrigações. 
Portanto, contrato é o acordo de duas ou mais vontades que visa à 
aquisição, resguardo, transformação, modificação ou extinção de relações 
jurídicas de natureza patrimonial. É negócio jurídico bilateral ou plurilateral em 
que as partem perseguem interesses patrimoniais lícitos. Costuma-se dizer 
que “um contrato faz lei entre as partes”. No entanto as cláusulas contratuais 
não podem contrariar normas de direito público ou impositivas, sob pena 
nulidade. A doutrina costuma fornecer um conceito mais completo de contrato, 
afirmando ser um “vínculo jurídico entre dois ou mais sujeitos de direito 
correspondido pela vontade, da responsabilidade do ato firmado, resguardado 
pela segurança jurídica em seu equilíbrio social”. 
Pelo conceito fornecido, percebemos que para que haja um contrato são 
necessários dois polos: o ativo e o passivo. Mas, discute-se na doutrina a 
existência do chamado autocontrato, que é o nome dado ao contrato em que 
DIREITO CIVIL: ANALISTA DO MPU – DIREITO 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
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a mesma pessoa age, simultaneamente, revestida nas duas qualidades 
jurídicas diferentes: ora por si, e ora representando um terceiro. Ex.: no 
mandato em causa própria “A” confere poderes para “B” para vender seu 
apartamento, com autorização para que “B” venda o imóvel para ele mesmo 
(“B”). Neste caso, quando for feita a escritura, “B” intervirá, ora representando 
“A” (como mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o imóvel). 
É interessante mencionar que a expressão “contrato” tanto pode ser 
usada para designar o negócio jurídico bilateral, como também a própria 
formalização do instrumento (seja ele público ou particular). Finalizando este 
tópico convém lembrar (falaremos sobre isso melhor mais adiante) que vigora 
para os contratos o princípio da liberdade das formas (art. 107, CC), mas 
excepcionalmente a forma pode ser exigida como requisito de validade (art. 
108, CC) ou para efeito de prova (art. 227, CC). 
ELEMENTOS 
Um contrato, sendo um negócio jurídico, tem como elementos 
essenciais: agentes capazes, objeto lícito, possível, determinado ou 
determinável, consentimento válido e finalmente forma prescrita ou não defesa 
em lei. É interessante acrescentar que muitos pensam que um contrato 
somente existe se for escrito. No entanto, sem que percebamos, durante o dia 
celebramos vários contratos. E a maioria deles é verbal. Quando tomamos um 
café na padaria, quando tomamos uma condução para trabalhar etc. Já 
analisamos cada um dos elementos acima na aula sobre fatos e atos jurídicos. 
Vamos ver agora, reforçando o aprendizado, os elementos específicos, 
relativos ao contrato. São eles: 
1. Existência de duas ou mais pessoas (naturais e/ou jurídicas). 
2. Capacidade plena das partes para contratar. Se as partes não forem 
capazes o contrato poderá ser nulo (absolutamente incapaz que não foi 
representado) ou anulável (relativamente incapaz que não foi assistido). 
3. Consentimento:vontades livres e isentas de vícios (erro, dolo, coação, 
etc.). Lembrando que em um contrato as vontades correspondem a 
interesses contrapostos (ex.: na compra e venda uma parte quer vender 
e a outra quer comprar). 
4. Objeto do contrato (prestação). Não confundir objeto com a coisa sobre 
a qual incide a obrigação. O objeto é a atuação das partes no contrato. 
Ex.: no contrato de compra e venda de um relógio, o objeto não é o relógio. 
O relógio é a coisa sobre a qual a prestação se especializa. O objeto de 
quem compra é pagar o preço e de quem vende entregar a coisa. A análise 
do objeto possui algumas subdivisões: 
a) Licitude: o objeto não pode ser contrário à lei, à moral, aos princípios 
da ordem pública e aos bons costumes. Ex.: não posso contratar uma 
pessoa para matar outra. Se o objeto for ilícito, o contrato será 
considerado nulo. 
b) Possibilidade física e jurídica: temos a impossibilidade física quando 
contratamos um mudo para cantar. Ocorre a impossibilidade jurídica 
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quando encontramos algum obstáculo no próprio ordenamento jurídico. A 
inobservância deste preceito também gera nulidade absoluta do contrato. 
c) Certo, determinado, ou, pelo menos, determinável (ou seja, deve 
conter os elementos necessários para que possa ser determinado: gênero, 
espécie, quantidade e características individuais). Se o objeto for 
indeterminado, o contrato será considerado inválido. 
d) Economicamente apreciável: deverá versar sobre o interesse capaz 
de se converter, direta ou indiretamente, em dinheiro. 
5. Forma prescrita ou não defesa em lei. A regra é que a forma é livre. 
Pode ser verbal, por meio de um simples gesto (ex: em leilões de arte, basta 
levantar um dedo para significar um lance), ou por um documento 
particular. No entanto em algumas circunstâncias exigem-se maiores 
formalidades e solenidades. Ex.: escritura de compra e venda de imóvel 
superior a certa quantia. Este é o instrumento essencial para a validade do 
negócio jurídico (art. 109, CC). Quando a lei exigir que um contrato tenha 
uma determinada forma especial é desta forma que ele deve ser feito (não 
pode ser feito de outra maneira). Somente quando não se exigir uma forma 
especial é que ele pode ter forma livre, apenas não utilizando alguma outra 
forma que seja expressamente proibida pela lei. Daí dizer-se forma prescrita 
(determinada) ou não defesa (proibida) em lei. Qualquer vício referente à 
forma torna o contrato nulo. 
 O casamento é um contrato? Existem várias teorias a respeito. A 
primeira afirma que o casamento é instituto de direito público, portanto não é 
contrato. Outra teoria diz que o casamento é de direito privado, mas é uma 
instituição e não um contrato. A corrente mais forte no Brasil considera o 
casamento como um contrato especial de direito de família. Isto porque 
seu elemento fundamental é o consentimento das partes. 
 
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
 Princípio da Autonomia da Vontade (princípio do consensualismo ou da 
autonomia privada)  Inicialmente as pessoas têm liberdade para praticar 
um ato ou simplesmente abster-se do mesmo não assumindo obrigações, 
pactuando ou não um contrato. Ex.: tenho dois imóveis; resido em um 
deles; não sou obrigado a alugar o outro; se eu quiser posso deixá-lo 
fechado. Além disso, decidindo realizar um contrato, a pessoa tem liberdade 
de escolher quem será o outro contratante. E, vencidas estas etapas os 
contratantes têm liberdade para estipular a espécie contratual, mesmo 
que não prevista em lei (contrato inominado) e o conteúdo das 
estipulações como melhor lhes convier. Em tese, pode-se contratar sobre 
o que quiser. Mas é evidente que há muitas restrições para essa 
autonomia, conforme veremos adiante. Vigora a máxima: “é lícito tudo o 
que não for proibido”. 
 Princípio da Observância (ou supremacia) das Normas de Ordem 
Pública  Trata-se de um limite do princípio anterior, pois a liberdade de 
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contratar encontra restrições inicialmente na própria lei, ou seja, na ordem 
pública, que são as normas impositivas e que visam o interesse coletivo, 
tanto imperativas (de ordenam algum comportamento), como proibitivas 
(que vedam alguma conduta), além de princípios baseados na moral e nos 
bons costumes. Ex.: proibição de contrato envolvendo herança de pessoa 
viva (pacta corvina – art. 426, CC). 
 Princípio da Obrigatoriedade das Convenções (pacta sunt servanda: os 
acordos devem ser cumpridos)  Como vimos, ninguém é obrigado a 
contratar. Mas se as partes assim procederem, devem cumprir fielmente o 
pactuado, sob pena de execução patrimonial, pois ”o contrato faz lei entre 
as partes”. Em regra o simples acordo de duas ou mais vontades já é 
suficiente para gerar um contrato válido, independentemente da entrega do 
objeto (princípio do consensualismo). E não se pode alterar o seu 
conteúdo unilateralmente. Esse princípio possui dois fundamentos: a) 
necessidade de segurança nos negócios; b) imutabilidade das estipulações. 
Se o contrato não for cumprido, pode ocorrer a pena de execução 
patrimonial contra o inadimplente (pessoa que não cumpriu as 
obrigações contratuais), salvo algumas hipóteses excepcionais (ambas as 
partes resolvem rescindi-lo voluntariamente, se houver previsão de 
arrependimento ou ocorrência de caso fortuito ou força maior, etc.). Esse 
princípio, cada vez mais vem sendo abrandado, atenuando-se a força 
vinculante das convenções, ante o equilíbrio contratual que deve prevalecer. 
Exemplo disso é a chamada teoria da imprevisão, que veremos mais 
aditante. 
 Princípio da Equivalência Material das Prestações  impõe que os 
direitos e deveres entre os contraentes devem guardar equilíbrio entre si. 
 Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato  Em regra, um 
contrato vincula somente as partes que nele intervêm, não aproveitando 
nem prejudicando terceiros. O contrato tem efeito inter partes (e não erga 
omnes) A exemplo do princípio anterior, este também não é um princípio 
absoluto. A exceção no Direito Civil é a “estipulação em favor de terceiros” 
(que veremos mais adiante), onde pode haver o favorecimento de terceiros. 
No Direito do Trabalho temos a convenção coletiva de trabalho, que é um 
acordo feito pelo sindicato que beneficia toda uma categoria. 
 Princípio da Boa-fé Objetiva  Trata-se de um novo princípio inserido 
pelo atual Código Civil. É uma cláusula geral de natureza principiológica, 
amparada pelo art. 421, CC, que tem função ou finalidade limitativa da 
autonomia privada, em respeito a valores constitucionalmente consagrados. 
A expressão “boa-fé” deriva do latim "bona fide", que significa boa 
confiança, ou seja, a convicção de alguém de estar agindo de acordo com a 
lei e a ética. Podemos afirmar que a boa-fé objetiva é um padrão de 
conduta (ética). Segundo ele as partes devem agir com lealdade, 
probidade (honestidade) e confiança recíprocas (art. 422, CC), com o 
dever de cuidado, cooperação, informando o conteúdo do negócio e agindo 
com equidade e razoabilidade (usam-se os termos transparência, 
veracidade, diligência e assistência). Impede-se, assim, o exercício abusivo 
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de direito por parte de algum dos contratantes. A observância deste 
princípio deve estar presente não só no momento da elaboração, 
como também na conclusão e execução do contrato, que além da 
função econômica de circulação de riquezas, serve, também, de mecanismo 
para se atingir a justiça social, solidariedade, dignidadeda pessoa humana, 
que são objetivos primordiais de nossa sociedade, estabelecidos na 
Constituição Federal. Portanto, é um roteiro a ser seguido pelas partes. No 
entanto, a socialização do contrato não significa a sua estatização, ou seja, 
atender à função social não significa suprir o interesse do Estado. 
 Observação. A doutrina ainda vai mais adiante, afirmando que a boa-fé 
deve ser observada também nas fases pré e pós-contratual (ex: mesmo 
que o sócio já tenha se retirado da sociedade, não poderá utilizar dados 
sigilosos da antiga empresa numa eventual contratação da empresa 
concorrente). 
Funções da boa-fé objetiva: 
a) Função interpretativa: orienta o Juiz na interpretação do 
contrato; o juiz deve extrair eticidade do contrato. Consagrado no art. 113, 
CC: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os 
usos do lugar de sua celebração”. 
b) Função constitutiva de deveres anexos ou de proteção: a 
boa-fé objetiva cria os chamados “deveres anexos implícitos” em qualquer 
contrato. Isto é, além da obrigação de dar, fazer, ou não fazer, ainda 
existem alguns deveres implícitos e invisíveis de proteção, que quando 
descumpridos, podem gerar responsabilidade civil. Enunciado n° 24 da I 
Jornada de Direito Civil do STJ: “Em virtude do princípio da boa-fé, 
positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos 
constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa” (ou 
seja, responsabilidade objetiva). Ex.: dever de guarda dos automóveis 
nos estacionamentos de supermercados, shoppings, etc.; dever do 
advogado em dar ao seu cliente ciência do risco do processo; dever de sigilo 
ou confidencialidade entre as partes do contrato; etc. O descumprimento 
desses deveres anexos é denominado pela doutrina de violação 
positiva do contrato. 
Funções Reativas da Boa-Fé Objetiva 
Havendo violação ou ameaça de violação à norma segundo a qual todos 
devem agir em consonância com a boa-fé objetiva, surgem situações em que 
podem ser invocadas as chamadas figuras parcelares ou desdobramentos 
da boa-fé objetiva. São elas: a) nemo potest venire contra factum proprium; 
b) surrectio; c) supressio; e d) tu quoque. Vejamos. 
 Nemo potest venire contra factum proprium (proibição ao 
comportamento contraditório). O comportamento de cada uma das partes 
deve apresentar coerência de modo a não surpreender o outro 
contratante com uma mudança repentina, acarretando, com isso, 
prejuízos inaceitáveis. Ou seja, não é razoável que uma pessoa pratique 
determinado ato ou conjunto de atos e, em seguida, adote conduta 
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diametralmente oposta. Ex.: se os contratantes estipularem que os 
pagamentos de uma determinada prestação de trato sucessivo devem se 
dar em determinado lugar e, apesar disto, o pagamento, com a 
aquiescência tácita do credor, vier a ser reiteradamente feito em outro 
local, não poderá o credor recusar-se a receber com base no argumento 
de que o pagamento deveria se dar no local contratualmente estipulado. 
Uma exigência desta ordem afrontaria o princípio da confiança, pois se 
trata de conduta contrária à que o próprio credor vinha adotando. É o que 
estabelece o art. 330, CC: “o pagamento reiteradamente feito em outro 
local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no 
contrato”. O STJ já se manifestou no sentido de reprovar o 
comportamento contraditório, por sua flagrante afronta à boa-fé. A esse 
respeito o Enunciado n° 362, da IV Jornada de Direito Civil do STJ: “A 
vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) 
funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 
do Código Civil”. Desta situação decorrem as duas próximas figuras: 
supressio e surrectio, que são as duas faces da mesma moeda. 
 Supressio. Consiste na perda (supressão) de um direito pela falta de seu 
exercício por razoável lapso temporal. Para usar o exemplo acima, seria a 
hipótese em que o credor reiteradamente aceita receber a prestação em 
local diverso do que foi contratado, sem fazer qualquer ressalva, e, com 
isso, perde o direito de exigir que o devedor pague no local inicialmente 
eleito. 
 Surrectio. Se a supressio consiste na perda de um direito, a surrectio 
corresponde ao surgimento de um direito exigível pelo outro sujeito da 
mesma relação jurídica. Se de um lado o credor perdeu o direito de 
receber os valores no local pactuado, por outro lado o devedor se tornou 
titular do direito de pagar naquele local diverso, que a princípio fora não 
pactuado. 
 Tu quoque (até tu). Deriva da célebre frase historicamente atribuída ao 
grande general romano Caio Júlio César, ao constatar que foi traído por 
seu próprio filho Brutus (“Tu quoque, Brutus, fili mi!”). A aplicação do tu 
quoque se dá nas situações em que em que uma das partes adota 
comportamento oposto ao seu próprio, quando imputa ao outro, conduta 
contratual inadequada, valendo-se assim de dois pesos e duas medidas, 
colocando a outra parte em situação de injusta desvantagem. Em outras 
palavras, o que se quer é impedir o ineditismo indesejável, irrazoável e 
perturbador causando um equilíbrio nas relações jurídicas. Ex.: um dos 
contratantes, antes de cumprir a sua parte no contrato, exige o 
cumprimento da prestação do outro contratante (veremos adiante no 
tópico exceção de contrato não cumprido). 
 Observação Atual 
Uma figura que foi desenvolvida no direito norte-americano e 
ultimamente vem ganhando adeptos no Brasil (inclusive do STJ, como 
decorrência do princípio da boa-fé, é o chamado duty to mitigate the 
loss, ou seja, o dever de mitigar (evitar o agravamento) do próprio prejuízo. 
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Por este princípio o titular de um direito (credor) deve, sempre que possível, 
atuar para minimizar a extensão do dano, mitigando, assim, a gravidade 
da situação do devedor. O exemplo clássico é o seguinte. Imagine que “A”, 
negligentemente, bateu o carro em “B”. “A” sai para buscar ajuda. “B”, que é a 
vítima, fica esperando e percebe que está saindo uma pequena chama do 
motor de seu carro. Nesse momento “B” poderia perfeitamente apagar a 
chama, minimizando a extensão do dano. Mas, em afronta ao princípio da boa-
fé pensa: “quero mais é que o carro exploda, assim eu receberei um novo”. 
Neste caso, se ficar demonstrado que o credor poderia ter atuado para 
minimizar o dano evitável, não fará jus a um carro novo; apenas receberá o 
valor correspondente à colisão inicial. 
 Para complementar o tema é interessante mencionar e distinguir a boa-fé 
subjetiva. Esta diz respeito a situações psicológicas internas do agente; é um 
estado de espírito ou de ânimo do sujeito que realiza algo, sem ter noção do 
vício que o inquina. Deriva da ignorância do agente a respeito de 
determinada circunstância (estado psicológico de inocência), ou seja, uma 
pessoa que realiza um determinado ato sem ter ciência de eventual vício. 
Levam-se em conta os deveres de diligência que se espera de um “homem 
médio”. O exemplo clássico da boa-fé subjetiva é o do possuidor que 
desconhece o vício que macula a sua posse, previsto no art. 1.201, CC: “É de 
boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a 
aquisição da coisa”. Nesse caso a lei ampara esse possuidor de boa-fé, não 
fazendo o mesmo se o possuidor está de má-fé. 
 Princípio da Função Social do Contrato (art. 421, CC)  Trata-se de 
outra novidade introduzida pelo atual Código Civil. Explicando: a liberdade 
de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do 
contrato, que na prática é uma tentativa de se reduzir as desigualdadessubstanciais entre os contratantes (equilíbrio contratual). Compatibiliza-se 
as pretensões dos particulares com os anseios da coletividade, ou seja, o 
contrato não pode ser mais visto somente pela ótica individualista, uma vez 
que possui um sentido social para toda a comunidade. Há uma 
prevalência do interesse coletivo sobre o individual dos 
contratantes. Na verdade trata-se de um dispositivo genérico que deve ser 
preenchido pelo Juiz dependendo de uma hipótese concreta que lhe é 
apresentada. Leva-se em consideração a presença de outros subprincípios 
tais como: a) dignidade da pessoa humana: decorrente da aplicação de 
dispositivos constitucionais no Direito Civil, garantindo-se o direito de se 
viver sem intervenção ilegítima do Estado ou de outros particulares; o ser 
humano é sujeito de direito e não objeto de direito. b) Na interpretação 
do contrato, deve-se atender mais à intenção do que ao sentido literal das 
disposições escritas. c) Justiça Contratual (arts. 317 e 478, CC): 
protegida por institutos como o da onerosidade excessiva (para dar maior 
equilíbrio às partes e ao contrato), estado de perigo, lesão, etc. 
Tal princípio tem como funções básicas: a) abrandar a força 
obrigatória do contrato; b) coibir cláusulas abusivas, gerando nulidade 
absoluta das mesmas; c) possibilitar, sempre que possível, a conservação do 
contrato e o seu equilíbrio; d) possibilitar a revisão do contrato quando o 
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mesmo contiver alguma onerosidade excessiva. Observem que não foi 
eliminada a autonomia contratual ou a sua obrigatoriedade, mas 
apenas se atenuou ou reduziu o seu alcance quando presentes 
interesses individuais. Considera-se violado o princípio da função social dos 
contratos quando os efeitos externos do pacto prejudicarem injustamente os 
interesses da sociedade ou de terceiros não ligados ao que foi pactuado. 
Portanto, a autonomia da vontade (ou autonomia privada) e a 
obrigatoriedade contratual, princípios anteriormente quase que absolutos, 
perderam muito a importância que tinham. Apesar do Direito Civil fazer parte 
do Direito Privado, disciplinando a atividade dos particulares entre si, onde 
prevalecem os interesses de ordem particulares, não podemos negar que 
também neste ramo do Direito “sentimos a presença do Estado”. Em outras 
palavras: identificamos muitas normas de Direito Público no Direito Civil. 
Podemos dizer que atualmente há uma constante intervenção do Estado nas 
relações de Direito Privado e até mesmo nos contratos. Justifica-se esta 
interferência, pois ao contrário do que sustentava a ideologia do liberalismo, a 
desigualdade entre os homens é um fato inegável e o Estado moderno deve 
agir para tentar buscar um reequilíbrio de forças entre as pessoas, dando 
proteção jurídica à parte mais frágil de uma relação, como os consumidores, 
inquilinos, empregados, devedores, etc. Isto é chamado pela doutrina de 
Dirigismo Contratual. Relembre-se aqui a inesquecível frase usada por Rui 
Barbosa em sua imortal Oração aos Moços: “A regra da igualdade não consiste 
senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se 
desigualam”. 
 
FORMAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
Como vimos, o contrato é fonte de obrigações. Ele nasce da conjunção 
entre duas ou mais vontades coincidentes e contrapostas. De um lado temos 
o proponente ou policitante. De outro lado temos o aceitante ou 
oblato. Sem este mútuo consenso, não haverá contrato. 
Negociações Preliminares – Fase Pré-Contratual 
Antes de se estabelecer o acordo final, é possível que ocorram algumas 
negociações preliminares, que são as sondagens, os estudos, as conversas 
prévias e debates sobre os interesses de cada um, tendo em vista um contrato 
futuro. É a chamada fase das tratativas (ou puntuação), sem que haja uma 
vinculação jurídica entre os participantes, não se criando ainda obrigações 
(há apenas uma expectativa de direito). Somente no momento em que ambas 
as partes manifestam a sua concordância é que se formará o contrato, criando 
obrigações. No entanto, defende a doutrina que também nesta fase é 
obrigatória a observância dos princípios da boa-fé e probidade estampados no 
art. 422, CC, podendo haver responsabilidade civil (extracontratual) caso 
sejam desrespeitados. Aliás, neste sentido é o Enunciado 25 da I Jornada de 
Direito Civil do STJ: “O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo 
julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual”. 
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Os contratos possuem basicamente duas fases: 1) Proposta ou Oferta; 
2) Aceitação. A declaração inicial é a proposta, feita pelo proponente ou 
policitante. A segunda é a aceitação feita pelo aceitante ou obato. O vínculo 
contratual nasce quando se integram a proposta e a aceitação, oportunidade 
em que as partes concordam com as condições, preço e entrega da coisa ou do 
serviço. Vejamos cada um desses itens. 
1) PROPOSTA 
Também é chamada de oferta, solicitação, policitação ou oblação. É a 
manifestação da vontade de contratar, por uma das partes, solicitando a 
concordância da outra. Trata-se de declaração unilateral por parte do 
proponente. A proposta é receptícia, ou seja, ela somente produz efeitos ao 
ser recebida pela outra parte. A proposta deve ser séria, inequívoca, precisa e 
completa para se revestir de força vinculante, já contendo todos os elementos 
essenciais do negócio jurídico. 
Regra: feita a proposta, vincula-se o proponente; caso ela não seja 
mantida, obriga a perdas e danos. 
Há duas espécies de proposta: 
 Entre ausentes: é a que não há possibilidade de aceitação direta e 
imediata; ou seja, o contrato é celebrado em declarações intervaladas 
(ex.: carta enviada para proposta e carta posterior respondendo com 
aceitação). 
 Entre presentes: é aquela em que as partes podem se comunicar direta 
e simultaneamente, havendo possibilidade de aceitação imediata. Por 
este motivo, os contratos celebrados por telefone, fax, etc., são reputados 
“entre presentes”. 
���Atenção ��� como se percebe, a noção de presença e ausência nada tem a 
ver com distância ou espaço físico, mas sim com a possibilidade de 
aceitação imediata. 
 Observação: há dúvida quanto aos contratos celebrados pela internet. A 
posição majoritária da doutrina (e isso já caiu em alguns concursos) é no 
sentido de que se trata de contrato entre ausentes, pois quando a proposta é 
enviada por e-mail nem sempre a aceitação pode ser imediata. No entanto há 
a ressalva de que quando ambos os usuários estiverem conectados em tempo 
real e estiverem travando um contato direto e simultâneo, estaremos diante de 
um contrato entre presentes, já que a contratação estará sendo realizada 
direta e imediatamente pelas partes (ex.: skype, msn, etc.). Portanto, 
fiquem atentos com a que questão foi redigida!!! 
Regra: feita a proposta, ela vincula o proponente; caso a proposta 
não seja mantida, obriga a perdas e danos. 
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Estabelece o art. 427, CC que a proposta de contrato obriga o 
proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do 
negócio ou das circunstâncias do caso. 
Exceções à obrigatoriedade da proposta. A proposta deixa de obrigar, se 
(art. 428, CC): 
• o contrário não resultar dos termos da proposta. Ex.: cláusula expressa que 
lhe retire a força vinculativa; ou seja, o próprio contrato possui uma 
cláusula de não obrigatoriedade, etc. 
• feita sem prazo determinado a pessoa presente, não foi imediatamente 
aceita.Ou seja, feita uma proposta entre presentes, a mesma deve ser 
imediatamente aceita. Se não o for, a proposta já não vincula mais. 
• feita sem prazo a pessoa ausente (não foi possível a comunicação imediata 
ou direta), deve-se aguardar um lapso de tempo suficiente para que a 
oferta chegue ao destinatário e a resposta retorne ao conhecimento do 
proponente, calculando-se o tempo conforme o meio de comunicação (ex.: 
cartas). Ultrapassado este “prazo razoável”, também não vincula mais. 
• feita a pessoa ausente, com prazo determinado, não tiver sido expedida a 
resposta dentro do prazo estipulado. 
• antes da proposta ou juntamente com ela, chegar ao conhecimento da 
outra parte a retratação do proponente. 
 Observações 
01) Proposta ou Oferta ao Público: é a propaganda de supermercados, 
lojas de magazine, drogarias, etc. feitos em panfletos, folhetos, jornais, 
outdoors, etc. Ela equivale a uma proposta normal de contrato quando 
contem os requisitos essenciais do contrato, salvo se o contrário resultar das 
circunstâncias ou dos usos. A oferta pode ser corrigida, revogada ou cancelada 
pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na 
oferta realizada (art. 429 e seu parágrafo único, CC); são as famosas frases: 
“enquanto durar nosso estoque”, “somente 100 unidades”, “oferta somente até 
o dia X”, etc. 
02) A morte ou a superveniente incapacidade (e interdição) do 
proponente não retira a força vinculante da proposta; esta continua a vincular 
seus herdeiros ou responsáveis pelas consequências jurídicas do negócio (salvo 
se se tratar de um contrato personalíssimo). 
2) ACEITAÇÃO 
É a manifestação da vontade do destinatário (também chamado de 
oblato ou aceitante), anuindo com a proposta e tornando o contrato 
definitivamente concluído. Requisitos: a) não se exige obediência a 
determinada forma (salvo nos contratos solenes), podendo ser expressa ou 
tácita; b) deve ser oportuna; c) deve corresponder a uma adesão integral à 
oferta; d) deve ser coerente e conclusiva. 
 
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Regras: 
• se o negócio for entre presentes, a proposta ou oferta pode estipular ou 
não prazo para a aceitação. Se não contiver prazo a aceitação deverá ser 
manifestada imediatamente. Se houver prazo deverá ser pronunciada até 
o termo concedido. 
• se o contrato for entre ausentes, havendo um prazo determinado, a 
aceitação deve chegar a tempo, isto é, dentro do prazo marcado. Se a 
aceitação chegar após o prazo, sem culpa do aceitante (ex.: atraso no 
correio), o proponente deverá avisar o aceitante, sob pena de responder por 
perdas e danos, sobre a não conclusão do contrato, pois é possível que o 
aceitante imagine que o contrato está perfeito e já comece a realizar 
despesas necessárias ao cumprimento. Se o ofertante (ou policitante) não 
estipulou qualquer prazo, a aceitação deverá ser manifestada dentro de 
tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente. 
• aceitação fora do prazo, ou com adições, restrições, modificações, 
corresponde a uma nova proposta (ou contraproposta: art. 431, CC). Ex.: 
pessoa oferece R$ 20 mil pelo meu carro. Peço R$ 25 mil. Este meu pedido 
representa uma nova proposta. 
• a aceitação admite retratação ou arrependimento se, antes da aceitação 
ou com ela, chegar ao proponente a retratação do aceitante (art. 433, CC: 
inexistência da aceitação). 
• O silêncio (falta de resposta) não configura aceitação tácita (a 
aceitação deve ser expressa). No entanto há duas exceções: a) quando 
se tratar de negócios em que não se costuma exigir a aceitação expressa 
(art. 432, CC). Ex: uma loja de calçados faz uma programação de pedidos 
para o ano inteiro, com entrega mensais programadas; cria-se uma praxe 
comercial; caso o comerciante queira interromper este ciclo, deverá avisar 
ao fornecedor a recusa com antecedência; b) quando o proponente a tiver 
dispensado. 
MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO. Reputa-se concluído um 
contrato: 
 Entre Presentes: momento da aceitação da proposta. Aqui a situação 
é simples, pois estando as partes presentes, no instante que a proposta é 
aceita, cruzam-se as vontades e o contrato começa a produzir seus efeitos. 
Vigora a chamada teoria da recepção: as partes estarão vinculadas no 
mesmo instante que o oblato aceitar a oferta. 
 Entre Ausentes (ex.: correspondência epistolar ou carta). Aqui a situação 
se complica um pouco. Quando o negócio está concluído? No momento em 
que o oblato escreve sua aceitação? No momento que ele expede a 
aceitação? Ou somente no momento em que o ofertante toma 
conhecimento da aceitação? Para responder isso precisamos entrar um 
pouco no plano doutrinário. Inicialmente temos que esclarecer que há duas 
correntes (principais) sobre o tema: 
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1) Teoria da cognição (ou da informação): o contrato só se aperfeiçoa 
no momento em que o policitante (ofertante) toma conhecimento da 
resposta (aceitação). 
2) Teoria da declaração (ou da agnição): o contrato se aperfeiçoa com 
a simples anuência do aceitante (dispensa-se que o proponente tome 
conhecimento da resposta). Todavia aqui se formam três subteorias: 
2.1) Subteoria da declaração propriamente dita: o contrato se 
aperfeiçoa-se no momento em que o aceitante escreve a carta, 
aceitando. Embora isso seja lógico (pois é nesse instante que o 
consentimento é externado) essa teoria não foi adotada por nenhuma 
legislação. 
2.2) Subteoria da expedição: não basta apenas formular a 
resposta; é necessário enviá-la (expedi-la). Entende-se que nesse o 
momento ocorreu o aperfeiçoamento do contrato, pois é nesse 
instante que o aceitante perde o comando sobre a sua vontade, não 
podendo mais se arrepender. 
2.3) Subteoria da recepção: não basta formular a resposta e 
enviá-la; é necessário que a resposta chegue materialmente (não é 
necessário que ele a leia) às mãos do policitante. 
Sobre o tema, estabelece o art. 434, CC, que os contratos entre 
ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida (teoria da 
expedição). No entanto esta regra foi mitigada pelos incisos do art. 434, CC (I. 
no caso do artigo antecedente (retratação); II. se o proponente se houver 
comprometido a esperar resposta; III. se ela não chegar no prazo 
convencionado) e pelo art. 430, CC (a aceitação chegou fora do prazo). 
���DIRETO AO PONTO. Teorias adotadas pelo nosso Código. 
a) Entre presentes →→→ Teoria da Recepção (momento da aceitação da 
proposta). 
b) Entre ausentes: regra adotada pela corrente majoritária (admite 
exceções) →→→ Teoria da Agnição na forma da Subteoria da Expedição, 
ou seja, no momento em que a aceitação é expedida (colocada no correio), 
real ou virtual (e-mail). No entanto há ferrenhos defensores da Subteoria 
da recepção. 
���O núcleo do contrato é o consentimento. 
Consentimento = Proposta + Aceitação. 
LUGAR DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO 
O negócio jurídico reputa-se celebrado no lugar em que foi proposto 
(art. 435, CC). Esta é uma regra dispositiva, isto é, as partes podem dispor 
de modo diverso. Regra: o contrato é celebrado no lugar onde foi proposto. No 
entanto admite-se previsão em contrário, desde que expressa no contrato. 
Devemos lembrar que o art. 9°, §2° da LINDB, aplicável no direito 
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internacional privado, a obrigação resultante do contrato considerar-se-á 
constituída no lugar onde residir o proponente. Seja como for, se a obrigação 
houver de ser cumprida no Brasil, a competência serádo Judiciário brasileiro, 
nos termos do art. 88, II, do CPC. 
CONTRATO PRELIMINAR (arts. 462 a 466, CC) 
Às vezes não é conveniente às partes celebrar, desde logo, o contrato 
definitivo; assim podem firmar um contrato-promessa (pactum in 
contrahendo), sendo que as partes se comprometem a celebrar o contrato 
definitivo posteriormente (o exemplo clássico é o compromisso irretratável 
de compra e venda). Assim, pode-se dizer que o objeto do contrato preliminar 
é exatamente a celebração do contrato definitivo. As partes se denominam 
promitentes (na compra e venda: promitente-comprador e promitente-
vendedor). 
���Atenção ��� Não confundir esse contrato preliminar (pacto in contrahendo) 
com as negociações preliminares (que vimos mais acima) que é somente uma 
fase pré-contratual, ainda sem vínculo obrigacional. 
O contrato preliminar é autônomo, devendo ser registrado e 
presumindo-se irretratável (art. 463, CC). Há quem sustente que o registro 
é somente uma condição de sua eficácia, porém recomenda-se a realização do 
registro para que a tutela específica seja efetivamente assegurada. Há 
dispositivos específicos no Código Civil sobre a promessa de compra e venda 
de imóvel e seu registro no Registro de Imóveis. 
Se uma das partes desistir do negócio sem justa causa e não havendo 
cláusula que permita o arrependimento, a outra parte poderá exigir-lhe, 
coercitivamente, a celebração do contrato definitivo, sob pena de multa diária, 
fixada no contrato ou pelo Juiz. Esgotado o prazo estipulado, o Juiz, a pedido 
do interessado, poderá suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo 
caráter definitivo ao contrato preliminar (adjudicação compulsória). No entanto 
a parte lesada pelo inadimplemento pode simplesmente considerar o contrato 
desfeito e requerer perdas e danos. 
 Observação O contrato preliminar deve conter todos os requisitos do 
contrato principal a ser celebrado, exceto quanto à forma. Ou seja, pode-se 
firmar um contrato de promessa e compra e venda de um imóvel de alto valor 
por um instrumento particular. No entanto, nesse caso, o contrato definitivo 
somente poderá ser feito por instrumento público (art. 108, CC). 
 
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
1) CONTRATOS UNILATERAIS OU BILATERAIS 
Já vimos que o negócio jurídico pode ser classificado em unilateral 
(ex.: testamento) ou bilateral (ex.: contratos). Portanto podemos afirmar que 
o contrato é sempre um negócio jurídico bilateral, uma vez que necessita 
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da participação de duas vontades para que fique perfeito. No entanto, o 
contrato também pode ser classificado em unilateral ou bilateral. 
O contrato será unilateral quando apenas um dos contratantes 
assume obrigações em face do outro. É o que ocorre na doação pura e 
simples. Inicialmente, por ser um contrato, temos duas vontades: a do 
doador (que irá entregar o bem) e a do donatário (que irá receber o bem). Mas 
neste concurso de vontades nascem obrigações apenas para o doador. O 
donatário, por sua vez irá apenas auferir as vantagens. Outros exemplos: 
mútuo, comodato, etc. Os contratos unilaterais, apesar de exigirem duas 
vontades, colocam só uma delas na posição de devedora. 
O contrato será bilateral quando os contratantes são simultânea e 
reciprocamente credores e devedores uns dos outros, produzindo direitos e 
obrigações para ambos. O contrato bilateral também é conhecido como 
sinalagmático. A compra e venda é o exemplo clássico: o vendedor deve 
entregar a coisa, mas por outro lado tem o direito ao preço; já o comprador 
deve pagar o preço, mas, por outro lado tem o direito de receber o objeto que 
comprou. Outros exemplos: troca, locação, etc. 
Fala-se também em contratos plurilaterais, que são aqueles que 
apresentam mais de duas partes (ex.: contratos de consórcio e de sociedade). 
���ATENÇÃO! ��� CUIDADO! ��� Reforçando. Não devemos confundir 
“negócio jurídico” (que por sua vez é uma espécie de ato jurídico) com 
“contrato”. Este é um erro muito comum. Muitas vezes pergunto em sala de 
aula: Gostaria que alguém me desse um exemplo de negócio jurídico 
unilateral... E o primeiro exemplo que me costumam fornecer é a doação... 
Este exemplo está... errado!! Quem assim respondeu confundiu negócio 
jurídico com contrato. Doação é um contrato unilateral e não um negócio 
jurídico unilateral. Explicando melhor: no negócio jurídico unilateral há apenas 
uma manifestação de vontade. Exemplo: a renúncia é ato jurídico unilateral, 
pois se eu renuncio a um crédito, a outra parte não será consultada para que 
aceite ou não a minha renúncia. Eu apenas renunciei a um direito de forma 
unilateral... e pronto. Nada mais é necessário para que o ato (a renúncia) seja 
válido e produza os efeitos legais. Observem que há a manifestação de 
vontade de apenas uma pessoa. O mesmo ocorre com o testamento. Eu faço 
meu testamento. Ponto. Esse testamento já é válido (lógico que as suas 
cláusulas somente serão cumpridas quando eu morrer). Já a doação é exemplo 
de negócio jurídico bilateral. E por que isso? - Porque há duas (daí bilateral) 
manifestações de vontade. Primeiro a do doador. É necessário que uma pessoa 
queira doar o bem. Mas depois se consulta também o donatário, que é a 
pessoa que irá receber o bem doado. Se essa pessoa não aceitar, não houve a 
doação. O contrato não se aperfeiçoou. Havendo a aceitação da outra parte o 
negócio está perfeito. Portanto a doação é um negócio jurídico bilateral. 
Necessita de duas manifestações de vontade. No entanto os negócios jurídicos 
bilaterais (contratos) se dividem em: unilaterais e bilaterais. E é isso que 
confunde um pouco. Resumindo: a doação é um negócio jurídico bilateral 
(contrato). No entanto é um contrato unilateral, pois apenas um dos 
contratantes (doador) assume obrigações em face do outro (donatário). 
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Apresento o seguinte “esqueminha” para nunca mais esquecerem esta espécie 
de classificação. 
A) Negócio jurídico unilateral: possui apenas uma manifestação de 
vontade (ex: renúncia, testamento, promessa de recompensa, etc.). 
B) Negócio jurídico bilateral: possui duas manifestações de vontade (ex: 
perdão, pois precisa ser aceito para produzir efeito; casamento; todos os 
contratos; etc.). Já um contrato, por sua vez, se subdivide em: 
• Contrato unilateral: duas manifestações de vontade, sendo que 
apenas uma se obriga (ex: doação pura e simples, comodato, mútuo 
gratuito, etc.). 
• Contrato bilateral: duas manifestações de vontade, havendo 
obrigações e vantagens recíprocas (ex: compra e venda, locação, etc.). 
2) CONTRATOS ONEROSOS OU GRATUITOS 
● Contratos onerosos: trazem vantagens para ambos os contratantes, 
pois estes sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito 
desejado (ex.: locação – locatário paga aluguel, mas tem o direito de usar o 
bem; já o locador recebe o dinheiro do aluguel, mas deve entregar a coisa 
para que seja usada por outrem). Em outras palavras: ambas as partes 
assumem ônus e obrigações recíprocas. 
● Contratos gratuitos (ou benéficos): oneram somente uma das 
partes, proporcionando à outra uma vantagem, sem qualquer contraprestação 
(ex.: doação pura e simples, depósito, comodato, etc.). 
Importância da Distinção. Nos contratos gratuitos, como na doação, o 
doador não responde pela evicção e nem pelos vícios redibitórios (falaremos 
sobre estes temais mais adiante), salvo nas doações com encargos; já nos 
contratos onerosos os contratantes respondem por ambos. Além disso, nos 
contratos gratuitos a interpretação será sempre restritiva, sendo que se 
houver erro quanto à pessoa ele será maisgrave, situações que não ocorrem 
nos contratos onerosos. 
� Discussão Doutrinária � Pergunta: na realidade o comodato é um 
contrato bilateral (pois gera obrigações também para o comodante, como a 
indenização em caso de danos causados ao comodatário) ou um contrato 
unilateral, pois só gera obrigações para o comodatário (as eventuais 
obrigações do comodante decorrem, não do comodato em si, mas sim de todo 
e qualquer contrato)?? 
Resposta: parte da doutrina costuma chamar esta espécie de contrato de 
bilateral imperfeito. Na realidade ele seria um contrato unilateral, mas que, 
por uma circunstância ocorrida no curso da execução do contrato, geraria uma 
obrigação para o contratante que não havia se comprometido. Assim, ele se 
subordina inicialmente ao regime dos contratos unilaterais porque não há uma 
contraprestação inicial (esta não nasce com o contrato). Ocorrendo um fato 
eventual, posterior à formação do contrato (dano ocorrido na coisa), surgiria a 
obrigação da outra parte em indenizar. Ocorre que para outra corrente não 
existe a classificação de “contrato bilateral imperfeito”. O contrato nasce e 
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morre unilateral ou bilateral. O que pode variar é o contrato ser gratuito ou 
oneroso. O bilateral é sempre oneroso. Já o unilateral pode ser gratuito 
(doação simples) ou oneroso (doação com encargo, depósito remunerado, 
etc.). Assim, o fato de haver uma retribuição ou algum dever não transforma a 
natureza do contrato. Portanto o comodato seria um contrato unilateral. Em 
regra gratuito. Mas pode se transformar em oneroso. Outro exemplo: mútuo 
sujeito a juros. O mútuo é um empréstimo de coisa fungível (ex: um saco de 
arroz, uma resma de papel, um milheiro de tijolos, etc.). Se for empréstimo de 
dinheiro, além da obrigação de restituir a quantia emprestada (contrato 
unilateral), geralmente deve-se pagar juros (contrato oneroso). Portanto, 
segundo a doutrina, este caso seria um exemplo de contrato que é ao mesmo 
tempo unilateral e oneroso. 
3) CONTRATOS COMUTATIVOS OU ALEATÓRIOS 
O contrato é comutativo (ou pré-estimado) quando as prestações de 
ambas as partes são conhecidas e guardam relação de equivalência. Ex.: 
compra e venda (como regra). A coisa a ser entregue por uma das partes e a 
quantia a ser paga pela outra geralmente são conhecidas no momento da 
realização do contrato e guardam uma relação de equivalência. Por serem as 
prestações conhecidas, pode-se apreciar de imediato essa equivalência. 
Ou seja, eu sei o quanto eu vou pagar pela coisa e sei qual o bem que me será 
entregue. E entre a prestação e a contraprestação há uma equivalência. 
Já o contrato aleatório é aquele em que a prestação de uma das partes 
(ou de ambas) não é conhecida com exatidão no momento da celebração do 
contrato. Depende de uma álea (incerteza, risco). O contrato depende de um 
risco futuro e incerto, capaz de provocar uma variação e, 
consequentemente, um desequilíbrio entre as prestações, não se podendo 
antecipar exatamente o seu montante. 
Alguns contratos são aleatórios devido à sua natureza (ex.: rifa, bilhete 
de loteria, o jogo e a aposta de uma forma geral, o seguro de vida, de um 
carro ou uma casa, etc.), enquanto outros são acidentais, por terem por objeto 
coisa incerta ou de valor incerto (ex.: contrato de garimpo, venda de colheita 
futura, ou dos peixes que vierem na rede do pescador, etc.). O exemplo 
clássico é o contrato de seguro de um carro. Eu sei o quanto eu vou pagar 
pelo seguro! Mas... será que eu vou usá-lo algum dia? Quando? Qual o valor 
da indenização? Eu ainda não tenho estas respostas. Portanto, uma das 
prestações não é conhecida de antemão. Depende de um fato futuro e incerto. 
E pode haver uma não-equivalência entre o valor que eu paguei e aquilo que 
eu receberei. 
Os contratos aleatórios podem ser divididos em: 
A) Coisas Futuras 
1. Emptio spei (“venda da esperança”). Trata-se do art. 458, CC: um 
dos contratantes assume o risco da existência da própria coisa, ajustando um 
preço, que será devido integralmente, mesmo que nada se produza, sem que 
haja culpa do alienante. Ex.: contrato um pescador dizendo que pago “X” por 
tudo que ele pescar hoje... se ele pescar 100, 10, 1 quilo ou nada pescar, eu 
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deverei para a ele o preço “X” que combinamos. O pescador terá direito ao 
preço integral, ainda que o objeto futuro não venha a existir (outros exemplos 
da doutrina: colheita de uma fazenda, tesouros de um navio afundado, 
ninhada de uma cadela, etc.). 
2. Emptio rei speratae (“venda de coisa esperada”). Trata-se do art. 
459 e seu parágrafo único, CC: se o risco versar sobre a quantidade maior ou 
menor da coisa esperada (e não da existência). Ex.: contrato um pescador 
dizendo que compro tudo o que ele pescar e pago “X” pelo quilo de peixe. 
Neste caso o preço poderá ser maior ou menor dependendo da quantidade 
peixe pescado. Aí está a álea. Percebam que o risco contratado é parcial. E se 
nada for pescado não serei obrigado a pagar importância alguma. E se a 
quantia foi paga com antecedência, haverá a devolução da mesma. 
Apenas para reforçar: a primeira situação (art. 458, CC) se refere ao risco 
da coisa em si, à existência da coisa objeto do negócio; já a segunda situação 
(art. 459, CC) refere-se à maior ou menor quantidade da coisa e não sobre a 
existência dela. 
B) Coisas Existentes 
 O art. 460, CC trata do contrato sobre coisas já existentes, mas que 
estão sujeitas ao risco de se perderem, danificarem ou, ainda, sofrerem 
depreciação. Ex.: determinada mercadoria é vendida, mas a mesma será 
transportada de navio até o seu destino final. O comprador então assume o 
risco de ela chegar ou não ao seu destino; se o navio afundar a venda será 
válida e o vendedor terá direito ao preço. Este dispositivo possui uma ressalva, 
pois a venda poderá ser anulada se a pessoa sabia que o risco já havia sido 
consumado (ou seja, quando houve a celebração do contrato a parte já sabia 
que o navio havia afundado). 
4) CONTRATOS QUANTO AO NOME 
● Típicos (ou nominados): são os contratos que têm denominação, 
previsão e regulamentação previstas em lei (Código Civil ou leis especiais), 
formando espécies contratuais legalmente definidas. Ex.: compra e venda, 
locação, comodato, etc. 
● Atípicos (ou inominados): são os contratos criados pelas partes, 
dentro do princípio da liberdade contratual e que não correspondem a nenhum 
tipo contratual previsto em lei; não têm denominação ou tipificação legal. Ex.: 
cessão de clientela, factoring, etc. O art. 425, CC permite às partes estipular 
contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas no Código Civil. Obs.: 
alguns autores não gostam da expressão “contratos inominados”, pois, muitas 
vezes, a espécie contratual possui nome (é nominada), todavia, não se 
encontra regulamentada na lei (não possui tipicidade legal). 
5) CONTRATOS PARITÁRIOS OU DE ADESÃO 
● Paritários: são aqueles em que ambos os interessados são colocados 
em pé de igualdade e podem (ao menos em tese) discutir e negociar as 
cláusulas contratuais, uma a uma, eliminando os pontos divergentes mediante 
transigência mútua. 
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● de Adesão (ou por adesão): são aqueles em que a manifestação de 
vontade de uma das partes se reduz a mera anuência a uma proposta da 
outra. Uma das partes elabora o contrato e a outra parte apenas adere às 
cláusulas já estabelecidas, não sendo possível a discussão ou modificação 
dessas cláusulas. Exemplo:contratos bancários. Quando você abre uma conta 
em um banco, o contrato já está pronto. Ou você assina da maneira como ele 
foi elaborado ou o contrato não sai. Será que alguém já ficou discutindo 
alguma cláusula de um contrato de abertura de conta com um gerente de 
Banco? - Não!! Por isso é considerado como um contrato de adesão. Outros 
exemplos: contrato de transporte, convênio médico, seguro de vida ou de 
veículos, sistema financeiro de habitação, etc. Partes envolvidas: proponente 
e aderente (que adere às cláusulas apresentadas; é a parte mais fraca do 
contrato – não obrigatoriamente a “mais pobre”). O art. 54, CDC admite 
expressamente esta espécie de contrato, acrescentando que a eventual 
inserção de uma cláusula no formulário a pedido de uma das partes não 
desfigura a natureza de adesão do contrato (esta cláusula pode é considerada 
como “uma apertada margem reservada à negociação”). 
O contrato de adesão deve ser sempre escrito com letras grandes e 
legíveis. Portanto são proibidas as famosas “letrinhas miúdas” nesta espécie de contrato. Ele também não pode ser 
impresso com redação confusa, utilizando terminologia vaga e ambígua, nem 
com cláusulas desvantajosas para um dos contratantes. A cláusula que 
implicar limitação ao direito do consumidor deverá ser redigida com destaque 
(letras maiores), permitindo sua imediata e fácil compreensão. Nestes 
contratos os contratantes não podem criar regras próprias de interpretação; ao 
contrário, devem obedecer o estabelecido nos arts. 423 e 424, CC (além das 
regras do CDC). Vejamos. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão 
cláusulas ambíguas (que dão ensejo a várias interpretações) ou contraditórias, 
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Art. 424. 
Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia 
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio (ex.: 
“caso o objeto adquirido esteja com algum problema, o aderente abre mão de 
pedir a substituição do produto”). 
6) CONTRATOS CONSENSUAIS OU FORMAIS 
● Consensuais ou não solenes: são aqueles que independem de uma 
forma especial; em geral se perfazem pelo simples acordo ou consenso das 
partes (proposta e aceitação). Podem ser celebrados inclusive de forma verbal. 
Exemplo: eu digo que quero vender meu relógio; uma pessoa diz que quer 
comprá-lo. Pactuamos o preço da venda. Pronto. Em tese o contrato já está 
celebrado. Daí para diante é cada um cumprir o que ficou estabelecido. 
● Solenes ou formais: são aqueles em que a lei exige uma forma 
especial. A falta desta formalidade levará à nulidade do negócio. Ex.: a 
compra e venda de bens imóveis exige escritura pública e registro. 
7) CONTRATOS REAIS  São os que se aperfeiçoam com a entrega da 
coisa. Exemplo: o depósito somente será concretizado quando a coisa for 
realmente entregue, depositada. Antes disso tem-se apenas uma promessa 
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de contratar e não um contrato perfeito e acabado. Outros exemplos: 
comodato, mútuo, penhor, etc. 
8) CONTRATOS DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA, DIFERIDA E 
CONTINUADA  Esta classificação leva em consideração o momento em que 
os contratos devem ser cumpridos. 
● Execução instantânea (ou imediata): são aqueles que se esgotam 
em um só momento, imediatamente após sua celebração, mediante uma 
única prestação; o nascimento e a execução do contrato ocorrem no mesmo 
momento (ex: compra e venda à vista). 
● Execução diferida: também cumpridos em um só ato, mas em um 
momento posterior à celebração do contrato (ex: compra e venda à vista, 
mas com a entrega da mercadoria em 30 dias). 
● Contratos de trato sucessivo (de execução continuada ou 
periódica): são os que se prolongam no tempo, são cumpridos por meio de 
atos reiterados (soluções periódicas), resolvendo-se em intervalos de tempo 
(regulares ou não). Quando uma parcela é paga a obrigação está quitada. Mas 
neste instante inicia-se a formação de outra prestação que deverá ser paga no 
fim do próximo período. Ex.: prestação de serviços, fornecimento de 
mercadorias, etc. Observem a locação: o pagamento do aluguel de um mês 
não libera o contratante, senão da dívida relativa àquele período, de modo que 
o vínculo contratual perdura até o final do prazo convencionado para o término 
do contrato. 
9) CONTRATOS PRINCIPAIS OU ACESSÓRIOS 
● Principais: são os que existem por si, exercendo sua função e 
finalidade independente de outro. Ex.: contrato de compra e venda, de 
locação, etc. 
● Acessórios: são aqueles cuja existência supõe a do principal, pois 
visam assegurar sua execução. Ex.: a fiança é contrato acessório, 
estabelecida para garantir a locação, que é o principal; logo, a fiança não 
poderá existir sem a locação. Lembrem-se da regra “o acessório acompanha o 
principal”. Havendo nulidade no principal, esta atinge o acessório, que também 
será considerado nulo. No entanto, havendo nulidade do acessório, esta atinge 
somente o acessório, não contaminando o contrato principal. 
10) CONTRATOS PESSOAIS OU IMPESSOAIS 
 ● Pessoais (personalíssimos ou intuitu personae): são aqueles em que a 
pessoa do contratante é considerada pelo outro como elemento determinante 
de sua conclusão. Ex.: Desejo que o advogado “Y” me defenda no Tribunal do 
Júri. Quero que o cirurgião “X” me opere. Quero comprar um quadro do 
famoso pintor “Z”. Contrato um show com a banda “WW”. Somente o devedor 
pode realizar, não se aceitando o cumprimento por terceiros. Se o devedor não 
honrar o contrato, haverá perdas e danos; se ocorreu caso fortuito ou força 
maior estará desobrigado. 
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 ● Impessoais: são os que a pessoa do contratante é juridicamente 
indiferente para a conclusão do negócio. Contrato uma empresa para pintar 
minha casa. Tanto faz que o serviço seja realizado pelo pintor “A” ou “B”. 
Exemplo comum é a contração de “pessoal de limpeza ou manutenção” em 
realizado por uma empresa terceirizada. 
 
EFEITOS DOS CONTRATOS 
 
O contrato válido estabelece um vínculo jurídico entre as partes, 
sendo que, em princípio, é irretratável unilateralmente. Ou seja, depois de 
celebrado, como regra, uma das partes não pode simplesmente desistir do 
cumprimento do contrato. Ao contrário, deve ser observado como se fosse 
uma “lei entre as partes”. Trata-se da aplicação do princípio pacta sunt 
servanda. Depois de celebrado um contrato e assumidas as obrigações, 
passamos ao cumprimento do seu conteúdo. Porém, um contrato pode 
produzir diversos efeitos. Vejamos: 
A) EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO (arts. 476/477, CC) Também 
chamado de exceptio non adimpleti contractus. 
Inicialmente é necessário esclarecer que este instituto não se aplica nos 
contratos unilaterais (doação pura, comodato, etc.), uma vez que nestes não 
há contraprestação para uma das partes. Já nos contratos bilaterais (ou 
sinalagmáticos) a regra é que nenhum dos contratantes poderá, antes de 
cumprir a sua obrigação, exigir a do outro (art. 476, CC). Isso porque há uma 
dependência recíproca das prestações que, por serem simultâneas, são 
exigíveis ao mesmo tempo (interdependência, reciprocidade e simultaneidade). 
Num contrato as partes devem cumprir exatamente aquilo que combinaram. 
Por isso eu não posso alterar algo que combinamos, de forma unilateral. Cada 
um deve cumprir a sua parte no contrato. Eu não posso exigir o cumprimento 
da outra parte, se eu ainda não cumpri com a minha, pois foi assim que nós 
combinamos. 
Exemplo: contratei um pintor para pintar toda minha casa. Acertamos um 
determinado valor. E combinamos que o pagamento seria feito em duas 
etapas: metadedo valor seria entregue no início dos trabalhos e o restante 
somente após o término do serviço. Eu cumpri a minha parte. Paguei ao pintor 
o valor referente à metade do serviço e ele começou a pintar a casa. Após 
alguns dias o pintor exige o pagamento da parcela restante. Ele está 
descumprindo o combinado. Somente faria jus à parcela restante no final do 
serviço, mas está exigindo tudo agora. O que eu diria ao pintor? – Só vou lhe 
pagar o restante após a conclusão do serviço; cumpra a sua parte que depois 
eu cumpro com a minha, pois foi assim que nós combinamos. Assim, para que 
eu não pague a segunda parcela antes do serviço completo alego em minha 
defesa a exceção de contrato não cumprido. 
A mesma regra é aplicada no caso de cumprimento incompleto, 
defeituoso e inexato da prestação por um dos contraentes. Trata-se de uma 
variação da regra anterior. Ex.: o pintor realmente executou a obra, mas não 
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da forma que nós combinamos (deixou de pintar alguns cômodos ou pintou 
com a cor errada ou deixou buracos na parede, etc.). A doutrina chama isso de 
exceptio non rite adimpleti contractus. Neste caso eu também posso me 
recusar a cumprir com a minha obrigação (pagar o restante do dinheiro) até 
que a prestação (a pintura da casa) seja realizada exatamente da forma como 
nós combinamos. 
���ATENÇÃO ��� Excepcionalmente será permitido, a quem incumbe cumprir a 
prestação em primeiro lugar, recusar-se ao seu cumprimento, até que a outra 
parte satisfaça a prestação que lhe compete ou dê alguma garantia de que 
ela será cumprida. No entanto, isso somente é admissível quando, depois de 
concluído o contrato, sobrevier diminuição em seu patrimônio que 
comprometa ou torne duvidosa a prestação a que se obrigou. Usando o 
mesmo exemplo anterior: digamos que durante a execução do serviço (a 
pintura da casa), haja uma diminuição do meu patrimônio e haja uma 
presunção de que eu não possa cumprir com a minha parte na obrigação 
(pagar o restante da prestação). O pintor, sabendo deste fato, poderia então 
pedir que eu pague primeiro (invertendo a ordem no cumprimento da 
obrigação) ou poderia exigir, pelo menos, que eu forneça uma garantia de que 
eu tenho dinheiro para pagar o combinado. Chamamos isso de “garantia de 
solvabilidade”. Desta forma, para dar essa garantia, eu coloco a quantia 
devida em uma “conta-poupança”, dando mostras de que eu tenho o dinheiro 
e que o mesmo está disponível para o saque, assim que o serviço for 
concluído. Procedendo desta forma eu provo que tenho condições de honrar o 
meu compromisso. 
Cláusula solve et repete  A “exceptio” não poderá ser arguida se 
houver renúncia, impossibilidade da prestação ou se o contrato contiver a 
cláusula solve et repete, que torne a exigibilidade da prestação imune a 
qualquer pretensão contrária do devedor. Isto é, o contrato pode conter uma 
cláusula (na realidade fazer isso é muito perigoso, pois a parte fica sem 
garantia) de que o contratante renuncia, abre mão da exceptio. Isso quer dizer 
que a qualquer momento a outra parte (que seria o pintor no exemplo que 
estamos dando) pode exigir o pagamento integral, mesmo que ele ainda não 
tenha cumprido com a sua parte no contrato. Não se deve pactuar esta 
cláusula na prática (mas é possível, sem que seja considerado como abusivo). 
Rescisão  A parte lesada pelo inadimplemento (não cumprimento) da 
obrigação pela outra parte pode pedir rescisão do contrato, acrescido de 
perdas e danos. 
B) DIREITO DE RETENÇÃO 
É a permissão concedida pela norma ao credor de conservar em seu 
poder coisa alheia, já que detém legitimamente, além do momento em que 
deveria restituir, até o pagamento do que lhe é devido. Digamos que uma 
pessoa foi possuidora de boa-fé de uma casa, durante quatro anos. Nesse 
tempo realizou benfeitorias necessárias. No entanto o verdadeiro proprietário 
moveu uma ação de reintegração de posse e acabou ganhando a ação. O 
possuidor, embora estivesse de boa-fé, perdeu a ação; deve sair do imóvel. No 
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entanto, tem o direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias que 
realizou no imóvel. E se a pessoa que ganhou a ação não quiser indenizar? 
Ora, enquanto o possuidor não for indenizado pela benfeitoria necessária que 
realizou, ele tem o direito de reter o imóvel até que seja ressarcido ou até o 
tempo calculado sobre o valor da benfeitoria. 
Devem estar presentes os seguintes requisitos: a) detenção da coisa 
alheia; b) conservação dessa detenção; c) crédito líquido, certo e exigível do 
retentor, em relação de conexidade com a coisa retida. Esse direito está 
assegurado a todo possuidor de boa-fé que tem direito à indenização por 
benfeitorias necessárias ou úteis (art. 1.219, CC). 
C) REVISÃO DOS CONTRATOS – RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE 
EXCESSIVA (art. 478/480, CC) 
Como já falamos, em princípio os contratos devem ser cumpridos 
exatamente como foram estipulados (pacta sunt servanda). No entanto, a 
obrigatoriedade das convenções não é absoluta. Admite-se, 
excepcionalmente, a revisão judicial dos contratos de cumprimento a prazo 
ou em prestações sucessivas, quando uma das partes vem a ser prejudicada 
sensivelmente por uma alteração imprevista da conjuntura econômica. 
Notem que o direito atual prioriza o justo equilíbrio entre as partes de um 
contrato (função social do contrato). A finalidade é restabelecer o equilíbrio 
econômico-financeiro entre os contratantes, lastreada na chamada Teoria da 
Imprevisão. Segundo ela, somente permanece o vínculo obrigatório gerado 
pelo contrato enquanto ficar inalterado o estado de fato vigente à época da 
estipulação. No entanto, é possível a revisão ou até rescisão do contrato, caso 
ocorram, no momento da execução do contrato, fatos supervenientes e 
imprevisíveis, desequilibrando a base econômica do negócio, impondo a uma 
das partes uma onerosidade excessiva, ficando a parte liberada dos encargos 
originários. Trata-se de humanizar a relação contratual. 
Esta cláusula implícita é conhecida pela expressão rebus sic stantibus 
(tentando fazer uma tradução literal teríamos: “o mesmo estado das coisas”; 
“as coisas ficam como estão”; “pelas coisas como se acham”). Esta expressão 
em latim costuma cair muito em concursos. A princípio, a tradução literal da 
expressão parece dizer exatamente o contrário do que realmente se afirma. No 
entanto, este termo em latim corresponde somente a três palavras de uma 
expressão muito maior (contractus qui habent tractum sucessivum et 
dependentiam de futuro rebus sic stantibus intelliguntur), que defende a 
permanência do equilíbrio contratual durante todo o período em que 
estiver vigorando e produzindo efeitos. Trata-se de uma flexibilização do 
princípio da força obrigatória das convenções. 
Atualmente o instituto se encontra previsto nos arts. 478 a 480, do CC. 
Art. 478, CC: Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a 
prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com 
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos 
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução 
(extinção) do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à 
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data da citação. Art. 479, CC: A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se 
o réu a modificar equitativamente as condições do contrato. 
É importante reforçar que não é toda e qualquer alteração no estado de 
fato originário que autoriza a revisão ou rescisão contratual (pois todocontrato 
possui certo risco, chamado de álea contratual ordinária). A disposição 
somente se aplica quando ocorrer um fato absolutamente imprevisível, 
extraordinário e extracontratual (chamado de álea extraordinária) e, além 
disso, ainda precisa ficar comprovado um enorme desequilíbrio contratual ou a 
total impossibilidade de seu cumprimento. Costumo sempre dizer que um 
contrato (especialmente os bilaterais) não foi feito para uma pessoa ficar rica e 
a outra pobre. Deve haver um equilíbrio entre as partes. E quando este 
equilíbrio se romper de forma desproporcional, a lei permite a revisão de suas 
condições ou simplesmente a extinção desse contrato. Exemplo: contrata-se 
uma obra, sendo que no curso desta houve um plano econômico do governo 
que redundou num aumento sensível no custo do material, aumento este 
totalmente imprevisível, tornando a obra inviável pelo preço combinado. Para 
se tornar viável a extinção ou a revisão do contrato por onerosidade excessiva, 
o Juiz, em cada caso, sempre deve verificar a ocorrência dos seguintes 
elementos: 
• vigência de um contrato comutativo (as prestações são conhecidas e 
equivalentes entre si) de execução continuada ou de trato sucessivo. 
• ocorrência de alteração das condições econômicas após a celebração do 
contrato. 
• a alteração da situação foi imprevisível e extraordinária. 
• desequilíbrio na base econômica do contrato, causando uma 
onerosidade excessiva para uma das partes na execução do contrato, 
nas condições originalmente estabelecidas. 
Como regra, a resolução por onerosidade excessiva cabe nos contratos 
bilaterais (ou sinalagmáticos), como na compra e venda. Porém o art. 480, CC 
dispõe que se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, 
poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de 
executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. 
Direito do Consumidor. Para favorecer o consumidor, facilitando a aplicação 
da teori, o CDC não exigiu a imprevisibilidade do acontecimento. Art. 6°, 
V, 2ª parte, CDC: “a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam 
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes 
que as tornem excessivamente onerosas”. Além disso, o não necessita provar 
a imprevisibilidade do evento. 
Caso de não aplicação pelo STJ. Nos contratos agrícolas de venda para 
entrega futura, o risco é inerente ao negócio. Nele não se cogita em 
imprevisão. 
 
 Diferença entre a Teoria da Imprevisão e a Lesão 
Na teoria da imprevisão há um contrato válido que se desequilibra no 
curso de sua execução, justificando sua revisão ou resolução. Ou seja, a 
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primeira diferença está no momento do desequilíbrio. Além disso, a lesão é um 
vício de consentimento (art. 157, CC) que nasce com o próprio contrato sendo 
causa de anulação (enquanto a teoria da imprevisão está no campo da 
eficácia, a lesão está no campo da validade). 
D) REGRAS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS GRATUITOS 
a) O Código Civil estabelece que os contratos gratuitos devem ser 
interpretados restritivamente. 
b) Os contratos gratuitos que reduzirem o alienante à condição de 
insolvência (passivo maior que o ativo) são anuláveis pelos credores 
quirografários. 
E) ARRAS OU SINAL (arts. 417/420, CC) 
Arras ou Sinal é um adiantamento para indicar que as partes 
chegaram a um acordo final e que o contrato está celebrado. Trata-se de uma 
quantia em dinheiro ou outra coisa móvel, fungível (que pode ser substituída 
por outra igual), entregue por um dos contratantes ao outro, como prova de 
conclusão do contrato (confirmação do acordo entre as partes) e para 
assegurar o cumprimento da obrigação, e, consequentemente, o não 
prejuízo de uma das partes. É um pacto acessório (depende da existência de 
um contrato principal) que cabe apenas nos contratos bilaterais, sendo 
necessária a efetiva entrega. Portanto, configura-se como princípio de 
pagamento e garantia para o cumprimento do contrato. 
Dadas as arras ou sinal, a questão que se põe é quanto à possibilidade 
de arrependimento. Como já dissemos, um contrato foi feito para ser 
cumprido (pacta sunt servanda). Mas às vezes um contrato pode conter uma 
cláusula de arrependimento. Resumindo: 
a) Se o arrependimento não estiver previsto no contrato (você assina 
um contrato e este nada prevê sobre a possibilidade de arrependimento): 
• as arras são chamadas de confirmatórias; é a regra em nosso 
direito →→→ não havendo estipulação em contrário as arras são 
confirmatórias. Isto porque a regra é de que o contrato deve ser 
cumprido da forma em que foi elaborado. 
• não é possível o arrependimento unilateral; o contrato torna-se 
obrigatório, fazendo lei entre as partes. 
• as arras são uma forma de antecipar parte do pagamento do preço; o 
seu quantum será descontado do preço; a quantia entregue é tida como 
adiantamento do preço. 
• as arras determinam, previamente, as perdas e danos pelo não-
cumprimento das obrigações a que tem direito o contraente que não deu 
causa ao inadimplemento. De acordo com o art. 418, CC, se a parte que 
deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, 
retendo-as. Se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem 
as deu haver o contrato por desfeito e exigir sua devolução mais o 
equivalente, com atualização monetária, juros e honorários de advogado. 
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• A parte inocente pode exigir uma indenização suplementar se provar 
que sofreu um prejuízo maior. Nesse caso as arras seriam o mínimo do 
valor da indenização. Mas como não há possibilidade de arrependimento, 
pode a parte inocente optar por exigir a execução do contrato, 
acrescida das perdas e danos, valendo as arras, novamente, como o 
mínimo da indenização (art. 419, CC). 
b) Se o arrependimento estiver previsto no contrato (art. 420, CC) (você 
assina um contrato e este prevê a possibilidade de arrependimento): 
• as arras, neste caso, são chamadas de penitenciais, que é a sua função 
secundária (a primária é a garantia do cumprimento da obrigação), 
funcionando apenas como indenização (não se confunde com a multa). 
A inclusão expressa desse tipo de arras no compromisso de compra e 
venda de bem imóvel gera o direito potestativo de arrependimento na 
avença. O contrato é resolúvel (pode ser extinto), atenuando-lhe a força 
obrigatória (mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade dos 
contratos). Desta forma, as arras, nesta hipótese agem para resguardar 
o direito de arrependimento das partes, podendo a parte infratora 
optar por liberar o seu valor à outra, ao invés de cumprir a obrigação. O 
objetivo não é ressarcir eventuais prejuízos da parte afetada, mas sim 
representar uma pequena punição pelo descumprimento da outra. 
• se quem deu as arras se arrepende do contrato, perde-as em benefício 
da outra parte. 
• se quem se arrependeu foi a pessoa que as recebeu, ficará obrigado a 
devolvê-las acrescido do equivalente (em outras palavras: quem recebeu 
as arras deve devolvê-las em dobro). Isso porque se ela simplesmente 
devolvesse o valor, estaria-se apenas restabelecendo a situação anterior, 
sem nenhuma punição à parte que descumpriu a obrigação, daí porque a 
devolução é em dobro. 
• nas arras penitenciais não haverá indenização suplementar. Ou 
seja, se forem estipuladas as arras penitenciais, não se pode cumular 
isso com nenhuma outra vantagem, mesmo que o prejuízo tenha sido 
superior que o valor das arras. O contrato simplesmente se desfaz e 
perde-se o sinal ou o mesmo é devolvido em dobro. Nada mais. Nada de 
perdas e danos, juros

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