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Fernanda Bortolazzo Também chamada de urolitíase, cálculo renal, pedra nos rins ou litíase renal, é a principal causa de morbidade do trato urinário. Características Gerais - acomete ambos os sexos; - não distingue entre raças; - risco de 12% em homens e 6% em mulheres; - 50% têm recidiva em 5-10 anos; - 75% sofrem recidiva em 20 anos; Cólica Renal - ocorre com a passagem do cálculo da pelve para o ureter, podendo causar obstrução parcial / total; - dor tipo cólica típica com algumas exacerbações; - pode ser acompanhada de náuseas e vômitos; OBS: importante ressaltar que a cólica renal só ocorre quando o cálculo chega ao ureter, “dentro dos rins” não há manifestação de cólica renal. - o padrão da dor ocorre de acordo com o local da pedra: ureter superior (irradia para abdome anterior), ureter inferior (irradia para testículos ou lábios) ou junção uretero-vesical (frequência e urgência miccional); OBS: pode ocorrer de forma incomum, com hematúria macroscópica (visível a olho nu) sem dor. MECANISMO DA DOR - uma obstrução súbita do ureter (podendo ser parcial ou completa) a pressão intra-luminal e causa distensão do sistema coletor = isso estimula os terminais nervosos da lâmina própria causando a contração e espasmos do músculo liso do ureter = por conta dessas contrações ocorre a produção de ácido láctico, estimulação das vias aferentes da dor e, por fim, uma dor referida a outros órgãos ou dermátomos cutâneos. CARACTERÍSTICAS DAS CÓLICAS RENAIS - diagnóstico é feito pela história e exame físico; - Sinal de Giordano presente (sensibilidade costo-vertebral ipsi-lateral, punho percussão); - paciente não tem uma posição confortável; - se infecção = sinais e sintomas de sepse; - função renal geralmente normal (exceção: se a obstrução foi bilateral ou em rim único); - urina I com hematúria, leucocitúria e cristais; - em casos de sinais e sintomas inespecíficos, realizar exames de imagem para confirmação; DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE CÓLICA RENAL - junção uretero-vesical = pode ser cistite; - junção uretro-pélvica D = colecistite aguda; - 1/3 inferior do ureter D = apendicite aguda; - 1/3 inferior do ureter E = diverticulite; OBS: se houver infecção associada à obstrução é caso de emergência médica., pois requer drenagem imediata por cateter ou cirúrgica. Nefrolitiase Nefrolitiase Fernanda Bortolazzo - outros diagnósticos diferenciais podem ser: dor muscular ou óssea, herpes zoster, úlcera duodenal, aneurisma de aorta abdominal, causa ginecológica, obstrução ureteral por coágulo ou necrose de papila, estreitamento ureteral, etc. Obstrução Ureteral Completa - após algumas semanas de obstrução ureteral completa causa lesão renal irreversível; - a recuperação da função depende de fatores como: o tempo e o grau de obstrução, idade do paciente e sua função renal de base (basal); Cálculo Renal EXAMES REALIZADOS - raio X simples de abdome sem preparo intestinal: usa radiação, pode camuflar os cálculos se não houver preparo e não aparecem os cálculos de ácido úrico, porque são radio-transparentes; - ultrassonografia: não usa radiação, possibilita a visualização de cálculos de ácido úrico, é de fácil realização, porém examinador-dependente, é limitado para 1/3 médio de ureter e também tem limitação com distensão gasosa de alças intestinais; - urografia excretora: usa radiação e contraste radiológico, pode camuflar pequenos cálculos, porém define melhor o tamanho do cálculo e avalia todo o trajeto dos ureteres; - tomografia computadorizada helicoidal: usa radiação, pode necessitar de contraste, é um método sofisticado e caro, porém permite diagnosticar cálculos de 1mm e visualiza cálculos que são radio-transparentes (padrão ouro) Patogênese - da concentração urinária de solutos - Ca, Na e oxalato - ↓ [] de substâncias inibidoras de cristalização - ↓ citrato (inibidor de cristalização urinária) OBS: o citrato é como um quelante de cálcio no sangue que reage com cálcio livre formando sais insolúveis, ou seja, ↓ cálcio disponível para ligar-se com fosfato ou oxalato. - o excesso de substâncias como oxalato e fosfato de cálcio na urina promove uma supersaturação, a qual predispõe o processo de formação de cristais na urina; OBS: a ↓ do débito urinário por conta de baixa ingestão líquida aumenta a permanência das partículas de cristais no sistema urinário e não dilui os componentes da urina de maneira adequada = supersaturação e cristalização. - RESUMIDAMENTE: supersaturação da urina = formação de cristais = crescimento e agregação = cálculos renais. Tipos de Cálculos CISTINA - corresponde a 1% dos cálculos renais; - cistinúria = doença autoimune recessiva; ÁCIDO ÚRICO - em urina ácida com ou sem hiperuricemia; - 10 a 15% dos casos (predomina em homens); - são cálculos radio-transparentes; - podem ser puros ou abrigar qtd. de CA; - associados a gota, obesidade, DM ou diarreias; OBS: níveis elevados de AU podem contribuir para formação de cálculos de oxalato de Ca. JUNÇÃO URETEROPÉLVICA JUNÇÃO URETEROVESCIAL CRUZAMENTO DOS VASOS ILÍACOS Fernanda Bortolazzo (patogênese da litíase por ácido úrico) ESTRUVITA - são cálculos formados por fosfato amoníaco magnésio e representam ≈ 5-10% dos cálculos; - são pouco radiodensos, grandes e coraliformes; - predominância em mulheres; - infecção bacteriana produtora de urease; - infecção do trato urinário superior (pielonefrite); - infecção urinária recorrente; - alteração anatômica do trato urinário; (patogênese do cálculo de estruvita) DEPOSIÇÃO DE CÁLCIO - os cálculos formados por deposição de cálcio são os mais comuns (70-80% dos casos); - na maioria das vezes são compostos por oxalato de cálcio, mas podem ser também de fosfato de cálcio (apatita ou brushita); - são, em geral, cálculos arredondados, radiodensos e não costumam ser coraliformes; - os cálculos de oxalato de cálcio são mais predominantes em homens, enquanto os de fosfato de cálcio predominam em mulheres; - os cálculos de oxalato de cálcio geralmente têm núcleo de fosfato de cálcio; - os cálculos de fosfato de cálcio podem estar associados ao HPT (hiperparatireoidismo) e à ATR (acidose tubular renal); (fatores de risco para cálculo de oxalato de cálcio) MEDICAMENTOS - alguns medicamentos podem causar “pedras nos rins”, como aciclovir, indinavir, suplementos de cálcio e de vitamina D, vitamina C em altas doses, furosemida, etc. Avaliação Metabólica - investigar os “formadores de cálculos”; - procurar por: ATR (acidose tubular renal), hiperparatireoidismo (HPT), hipercalciúria, hipocitratúria, natriurese elevada (excesso de sódio na urina); Fernanda Bortolazzo OBS: ATR e HPT são causas comuns de nefrocalcinose (depósito de oxalato ou fosfato de cálcio no parênquima ou túbulo renal). OBS: hiperparatireoidismo primário pode estar associado à hipercalciúria hipercalcêmica, bem como ATR que também pode estar associada à hipercalciúria além de causar hipocitratúria acentuada e cursar com urina persistentemente alcalina, o que pode levar a nefrolitíase de repetição, nefrocalcinose e insuficiência renal. - dosagem em sangue: ácido úrico, Ca, P, paratormônio, gasometria venosa e creatinina; - urina I: avaliação do pH e de cristais; - dosagem em urina de 24h: Ca, P, Mg, Na, K, ácido úrico, oxalato, citrato, creatinina; Tratamento RECOMENDAÇÕES DIETÉTICAS TERAPIA EXPULSIVA CLÍNICA - cálculos em ureter distal: se for ≤ 5mm tem entre 50-70% de chance de eliminação espontânea; se for entre 5-10mm tem <50%; - medicamentos: bloqueadores de canais de sódio (EX: Nifedipina) = inibe a contração da musculatura ureteral = ↓ espasmos ureterais; ou bloqueadores do receptor α-1D adrenérgico(EX: Tansulosina) = ↓ o tônus da musculatura lisa ureteral e ↓ a frequência/força do peristaltismo; TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO - água: suficiente para gerar pelo menos 2.000mL de diurese (ou seja, 2L de urina); - dieta com pouco sódio e com menos açúcares ( sacarose e frutose refinados – induz a obesidade, efeitos renais da frutose: da resistência insulínica, ↓ pH e excreção urinária de Ca, oxalato e ácido úrico); - ↓ ingestão de carnes (vermelhas princip.); TRATAMENTO MEDICAMENTOSO - hipercalciúria: hidroclortiazida (12,5 a 25mg, 2x ao dia), clortalidona (12, 5 a 50mg, 1x ao dia), indapamida (1,25 a 2,5mg, 1x ao dia); - hipocitratúria: citrato de potássio (10 a 20mEq, 2 a 3x ao dia) – para manter o pH urinário; - hiperuricemia: alopurinol (100 a 300mg, 1x ao dia) – inibe a enzima responsável pela conversão de xantina em ácido úrico; - hipomagnesemia: óxido de magnésio (150mg, 2x ao dia) – para correção; CIRURGIA - aguardar alguns dias após a crise aguda; - tomar cuidado com infecção associada; - é indicada para cálculo >6mm por raio X; - dor de difícil controle; - cálculo obstrutivo; - anormalidade anatômica; - litotripsia extra corpórea; - nefrolitotomia percutânea; - ureterolitotomia; - nefrolitotomia; OBS: Unidades Hounsfield = medição do coeficiente de atenuação de um feixe de raios X ao atravessar o corpo humano e varia de acordo com a quantidade de fótons de raios X absorvida por cada tecido humano. Fernanda Bortolazzo OBS 2: para a litotripsia extra corpórea, de acordo com as Unidades Hounsfield – por tomografia: < 500 UH há um sucesso de 80 a 90%, de 500 a 1.000 UH chance de sucesso de 50% e > 1.000 UH a chance de sucesso é < que 10%. Investigação Diagnóstica - além de caracterizar o episódio aguda, são importantes dados da história mórbida pregressa, além de condições e hábitos do paciente; - investigar ocorrências prévias, idade das crises, consequências e intervenções, como hidronefrose, hospitalização, remoção de cálculos (EX: litotripsia, cirurgia) ou passagem espontânea dos mesmos; - diagnósticos com importância na doença litiásica: bexiga neurogênica, infecções urinárias de repetição (por cálculos de estruvita ou fosfato), diarreia crônica ou gota (cálculos de AU); - questionar se há baixa ingestão de líquidos, restrição de leite e derivados, história familiar, uso de medicamentos sem prescrição, etc.; - hematúria micro ou macroscópica é uma regra na cólica nefrética (que ocorre 80-90% do casos); - creatinina normal, exceto em situações como obstrução ureteral bilateral ou de rim único; - cristais de cistina (hexagonais) e de estruvita (“tampa de caixão”) são diagnóstico, enquanto a presença de cristais de oxalato de cálcio e AU em grande quantidade sugere doença litiásica; A. OXALATO DE CÁLCIO B. ÁCIDO ÚRICO C. CISTINA D. ESTRUVITA