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Alice Bastos Pênfigo foliáceo Diagnóstico Para confirmar o diagnóstico desta doença bolhosa autoimune, necessita-se de: → Critérios clínicos; → Critérios histopatológicos; → Critérios imunológicos; Exame clínico Deve-se valorizar as lesões bolhosas e erosivas e suas localizações preferenciais, o sinal de Nikolsky e a procedência do doente; As lesões características estão representadas por bolhas de teto frouxo que rapidamente se rompem para deixar áreas erosadas, inicialmente eritematosas e que se tornam escamo-crostosas; É frequente o doente não perceber a existência de bolhas íntegras, mas, apenas o aparecimento das áreas erosadas, que determinam a sensação de prurido e ardência; As lesões podem permanecer localizadas por longo tempo, ou podem evoluir e invadir parte, ou mesmo, todo o tegumento (eritrodermia); É frequente a ocorrência de infecção secundária sobre estas lesões, exalando odor característico; As lesões iniciais distribuem-se preferencialmente pelas áreas ditas seborreicas, como couro cabeludo, face, região pré-esternal e interescapular; O sinal de Nikolsky é precoce e de grande utilidade, e deve ser pesquisado em pele aparentemente sã, fazendo-se pressão digital e movimento de deslizamento; → É positivo quando há erosão da área pesquisada; Epidemiologicamente, a procedência do paciente de áreas reconhecidamente endêmicas é um dado muito importante para o diagnóstico. Histopatologia Observa-se clivagem abaixo do estrato córneo com a presença de queratinócitos acantolíticos dentro ou adjacente à camada granulosa, e são vistos neutrófilos ocasionais; Na derme, observa-se infiltrado inflamatório misto com eosinófilos e neutrófilos; A biópsia para histopatologia deve ser realizada na borda de vesicobolha ou de erosão recente, com punch de 4 mm. Imunofluorescência direta (IFD) A biópsia deve ser coletada da pele perilesional aparentemente normal; Verifica-se depósito de IgG e C3 na superfície dos queratinócitos em toda a extensão da epiderme, embora possa se concentrar nas camadas mais superiores em alguns casos. Imunofluorescência indireta (IFI) Mais de 80% dos pacientes apresentam autoanticorpos IgG detectáveis por IFI, que se correlacionam com a atividade e extensão da doença; Importante! Tanto a IFD quanto a IFI não permitem distinguir pênfigo foliáceo (PF) de pênfigo vulgar (PV). ELISA Como fonte de antígeno utiliza-se Dsg-1 recombinante, que apresenta alta sensibilidade e especificidade, maior que a IFI; Auxilia na monitorização da atividade da doença e resposta ao tratamento. Tratamento Está indicado desde o início do quadro de PF, mesmo quando de manifestação clínica leve; Objetivo: induzir o controle rápido e remissão completa da doença, minimizando os efeitos adversos relacionados ao tratamento; Alice Bastos Antes do início da terapia, deve-se solicitar hemograma completo, creatinina, sódio, potássio, transaminases, gama-glutamil transferase (gGT), fosfatase alcalina, proteínas totais e frações, glicemia de jejum, sorologias para hepatites B e C e para HIV, radiografia de tórax; Na tomada de decisão a respeito de qual esquema deve-se prescrever para um paciente com PF, recomenda-se avaliar a extensão corporal do pênfigo; → Leve: até 1% de acometimento; → Moderada: até 10% de acometimento; → Grave: acima de 10%. Corticoides Nas formas localizadas, com limitado número de lesões (até 1% da área corporal), utiliza-se corticoterapia tópica (de moderada a alta potência) ou intralesional (acetonida de triamcinolona 2 a 3 mg/ml); → Associada à terapêutica tópica, pode-se prescrever dapsona 50 a 100 mg por dia; • Em pacientes não responsivos, baixas doses de prednisona (até 0,25 mg/kg por dia) podem ser empregadas; A corticoterapia sistêmica (prednisona/prednisolona) é prescrita quando o tratamento tópico não controla a doença ou ainda se houver piora do quadro cutâneo, com aumento do número de lesões; → Dose utilizada: 0,5 mg/kg/dia; • Nas formas disseminadas graves (acima de 10% da área corporal), a dose de prednisona/prednisolona é de 1 mg/kg/dia; Estatisticamente, não há diferença significativa no tempo para controle da doença entre doses mais altas ou mais baixas de corticoide sistêmico; Assim, inicia-se o tratamento com doses menores, aumentando a dose da medicação até que se alcance controle clínico da doença; → Se não surgirem novas lesões em duas semanas, sugere-se redução do corticoide de 0,25 mg/kg a cada duas semanas até a dose de 30 mg/dia, com posterior redução de 5 mg a cada duas semanas até se atingir a dose de 10 mg/dia; • A partir daí, diminui-se 2,5 mg por semana até zerar, mantendo-se a terapia coadjuvante; Importante! Complicações decorrentes da corticoterapia sistêmica devem ser monitoradas, como osteoporose, hipertensão arterial, diabetes melito, gastrite, úlceras gástrica e duodenal e catarata. Importante! Todo doente de fogo selvagem deve ser tratado, profilaticamente, pelo menos duas vezes, para estrongiloidase, mesmo com exame de fezes negativo, pois uma das causas de morte desses enfermos sob corticoterapia é a estrongiloidase disseminada. Adjuvantes: imunossupressores Considerando-se que o uso prolongado e em altas doses de corticoterapia sistêmica pode levar a efeitos adversos graves ou mesmo fatais, impõe-se, nos pacientes com doença disseminada, a associação precoce de drogas poupadoras de corticoide (adjuvante), dentre as quais destacam-se: → Metotrexato; → Azatioprina; → Micofenolato de mofetila. Azatioprina: Usada na dose de 1-3 mg/kg/dia (início com doses de 50 mg/dia, com aumento progressivo até que se atinja a dose total diária); A atividade da enzima tiopurina-metil-transferase deve ser verificada, se possível, antes do início do tratamento, pois se a mesma estiver em níveis baixos, a medicação pode comprometer a medula óssea; Micofenolato de mofetila (ou ácido micofenólico): Administrado na dose de 2 g/dia (início com doses de 1 g/dia, com aumento progressivo de 500 mg por semana para melhorar a tolerância gástrica); Pode ter como efeito colateral a pancitopenia; É uma excelente opção, porém de custo elevado; Metrotexato: É uma opção com baixo custo e de fácil disponibilidade; É usado na dose de 7,5 a 25 mg por semana, administrado em um ou dois dias consecutivos; Alice Bastos → Após 24 horas, deve-se prescrever ácido fólico na dose de 5 mg; Efeito adverso: hepatotoxicidade; O paciente em uso deste medicamento não deve consumir bebidas alcoólicas, derivados sulfamídicos e alopurinol; Dapsona: Seu uso é controverso; Utilizada em formas pouco extensas; Deve-se avaliar previamente a atividade da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD); Dose: 100 mg/dia ou até 1,5 mg/kg/dia; Ciclofosfamida: Dose: 500 mg EV em bolus ou 2 mg/kg/dia; Tem efeito poupador de corticoide, mas possui efeitos adversos como esterilidade, cistite hemorrágica e neoplasia maligna secundária. Importante! O maior benefício no uso dos adjuvantes está no efeito poupador de corticoide e não na modificação do curso da doença; → Além disso, diminuem o risco de recidiva sem alterar as taxas de remissão. Terapias mais novas Rituximabe (anticorpo monoclonal anti-CD20): Está indicado quando o paciente é refratário à terapêutica convencional ou se necessita de prednisona em doses superiores a 10 mg/dia associada à imunossupressor por mais de 6 meses; → Também é indicado para pacientes com graves efeitos colaterais aos tratamentos imunossupressores convencionais É administrado em serviços de pulsoterapia, preferencialmente na dose de 1 g EV, repetida após 15 dias, ou ainda na dose de 375 mg/m2/semana em 4 sessões; → Doses mais baixas são ineficazes; → Se necessário, repetir em 6 meses; Podeser associado com prednisona, em esquema regressivo de até quatro meses, ou com imunossupressor (até 12 meses); Efeitos adversos: infecções (até 10%) e as reações durante a infusão, síndrome de Stevens-Johnson (mais raramente) e leucoencefalopatia multifocal progressiva (complicação potencialmente fatal); Em alguns centros especializados no tratamento de pênfigo, nas formas clínicas moderadas e graves, tem sido empregado, como tratamento inicial e de manutenção, rituximabe em combinação sistêmica em todos os pacientes; → Esta combinação é efetiva, permitindo o uso de doses reduzidas de prednisona; → Além disso, a combinação associa-se com menores taxas de efeitos colaterais quando comparadas a altas e prolongadas doses de monoterapia corticoide; Imunoglobulina endovenosa: Indicada para pacientes muito graves, refratários, ou que estejam apresentando efeitos adversos importantes, e também para formas graves e disseminadas de pênfigo que necessitem de resposta clínica mais rápida; A imunoglobulina infundida parece acelerar o catabolismo patogênico dos autoanticorpos IgG; Recomendam-se doses de 2 a 3 g/kg/ciclo (ciclo de quatro a cinco dias consecutivos), a cada 30 dias; Mantêm-se a corticoterapia sistêmica e drogas adjuvantes, e tem sido usado em associação com rituximabe; Efeitos colaterais: cefaleia, urticária, febre, artralgias, mal-estar; → Bem raramente, insuficiência renal, meningite asséptica, acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio; Deve-se excluir deficiência de IgA antes do início deste tratamento. Manutenção após a fase de consolidação Realizar redução progressiva da corticoterapia sistêmica após controle da doença ou fim da fase de consolidação, diminuindo a dose de corticoterapia ao redor de 25% a cada duas semanas, até atingir a dose de 20 mg/dia, e, depois, lentamente; Alice Bastos Se surgirem mais que três lesões, voltar para a dose anterior; Se houver recidiva da doença, voltar à dose de duas fases anteriores; Se não estabilizar-se em duas semanas, retornar para a dose inicial; Se o tratamento estiver associado a imunossupressor, substituí-lo, ou usar rituximabe, IgEV ou imunoadsorção; Níveis altos de ELISA anti-Dsg-1 indicam possibilidade de recidivas cutâneas. Monitoração clínica e laboratorial Realizar reavaliações clínicas (pele e mucosas) a cada duas semanas e, após controle, mensalmente; Detectar possíveis efeitos adversos: diabete melito, hipertensão arterial sistêmica e insuficiência cardíaca pela corticoterapia, distúrbios respiratórios, anemia, hepatite, infecções respiratórias, distúrbios mentais, miopatia, osteoporose. Monitoração sorológica Realizar sorologia (IFI e/ou ELISA) no início do tratamento, após 3 meses e, depois, de acordo com a evolução. Descontinuação do tratamento É baseada primariamente nos sinais clínicos, podendo ser acompanhada de ELISA anti-Dsg e IFI; → Em alguns serviços recomenda-se a negativação da IFD; Descontinuar corticoide em pacientes com remissão completa e terapia mínima e suspender os adjuvantes seis a 12 meses depois.
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