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REFORMA PSIQUIÁTRICA Professoras: MSc.Arina Lebrego MSc.Bárbara Sordi Unidade da Amazônia Curso de Psicologia Disciplina: Psicopatologia O que é Reforma Psiquiátrica? • Processo político de Transformação da assistência pública ofertada aos portadores de sofrimento mental. Um processo crítico que propõe a superação do manicômio ou do hospital psiquiátrico como respostas às questões postas pela loucura, por meio da criação de novos lugares de atendimento- os serviços substitutivos, que se constituem como espaço de convívio, sociabilidade e cuidado e ferramentas de mudanças da percepção social sobre a experiência da loucura e o cidadão e o sofrimento mental (CRP, 2013). Breve histórico da Reforma Psiquiátrica Hospital: “uma instituição para loucos, doentes e sãos (Amarante, 2007) • Idade Média: instituição de caridade Asilo na ótica de Van Gogh (18953- 1890) internado em 1888 com o l lobo da orelha amputado. Hospital: “uma instituição para loucos, doentes e saos (Amarante, 2007) “Destinava-se aos pobres de todos os sexos, lugares e idades, de qualquer qualidade de nascimento, e seja qual for sua condição, válidos ou inválidos, doentes ou convalescentes, curáveis ou incuráveis” (Foucault, 1978, p: 49) • Século XVII: • Hospital Geral (1956) • “O Grande Enclausaramento” (Foucault, 1978) Nova ordem social: Grande Enclausuramento (Foucault, 1978) • Sociedade industrial: cidades encheram- se de pessoas que não encontravam lugar nesta nova ordem social. • Multiplicam-se nas ruas os desocupados, os mendigos e os vagabundos – os loucos dentre eles. A grande internação • os desocupados, os mendigos e os vagabundos – os loucos dentre eles - internadas nas casas de correção, de trabalho e hospitais gerais. • Instituições: origem religiosa, não se propunham a ter função curativa – limitando-se à punição do pecado da ociosidade. Hospital: “uma instituição para loucos, doentes e sãos (Amarante, 2007) • Século XVII: • internação- Autoridades reais e judiciárias. • Metamorfose de instituição de caridade/controle social à principal instituição médica. Internação – Século XVIII • Instala-se, uma forma universal de abordagem dos transtornos mentais: sua internação em instituições psiquiátricas. • Como se dá essa passagem? Nascimento dos Manicômios • Periculosidade X Não circula • Pecadores X doentes. • Nasceu o manicômio: curá-lo. Tratamento Moral • Nos manicômios ou hospitais psiquiátricos, realizava-se então o chamado “tratamento moral”. • Doença: bem e o mal (cura= reaprendê- la). • Ato indevido- advertido e punido. • -Punição parte do tratamento (Foucault, 1978) Nascimento da Psiquiatria • Essa reclusão dos loucos nos manicômios possibilitou o • nascimento da psiquiatria Descrição e de agrupamento dos diferentes tipos dos sintomas Século XX, horror no Manicômio • O isolamento, o abandono, os maus-tratos, as péssimas condições de alimentação e de hospedagem, agravaram-se progressivamente. • Ao final da II Guerra Mundial- Situação dramática, que mobilizou comoção • Surgiram, então, os primeiros movimentos de Reforma Psiquiátrica. Fatores que influenciaram na eclosão da Reforma Psiquiátrica • Manoel Desviat, essa situação era incompatível com os projetos democráticos de reconstrução nacional da Europa; • Guerra- danos psíquicos a um enorme contingente de homens jovens (força de trabalho era preciso recuperar) Movimentos de Reforma psiquiátrica (pós- 2ª Guerra) • Joel Birmam e Jurandir Costa: 1- Restritas ao âmbito dos hospitais psiquiátricos: Psicoterapia institucional e as comunidades terapêuticas. 2- As que buscam acoplar serviços extra-hospitalares ao hospital: psiquiatria de setor e a psiquiatria preventiva. 3-Questionando saberes e de práticas da psiquiatria vigente/Ruptura: antipsiquiatria e a psiquiatria democrática. Psicoterapia institucional – França (pós- 2ª Guerra) • Mantém a instituição Psiquiátrica- Transformação Radical; • Pacientes e instituição- estão doentes e devem ser tratados em seu conjunto. • Objetivo: alterar as relações estabelecidas, horizontalizar as relações e transformar a instituição num espaço de acolhimento e valorização do sujeito. Comunidades Terapêuticas- Grã- Betanha (Pós- 2ª Guerra) • Surgiram na Inglaterra • O funcionamento dos hospitais psiquiátricos como comunidades terapêuticas. • Nas comunidades terapêuticas, a responsabilidade pelo tratamento não é apenas do corpo técnico, mas também da comunidade e do usuário. • Ambiente de co-responsabilidade • Prática de reuniões, de assembleias nas quais os pacientes pudessem ter voz na instituição. Psiquiatria de setor –França (Anos 50) • Hospital x Territorialização da assistência; • Equipe- mesma em diferentes momentos do tratamento. • Objetivo: evitar que o hospital seja a centro da atenção em saúde mental, devendo o usuário ser tratado nos serviços extra-hospitalares. Psiquiatria Comunitária ou Preventiva EUA (Anos 50) • Sistema de saúde- Seguradoras; • Centros de Saúde – 24 horas: sem suporte de um sistema de saúde. Conceito de Prevenção • Estimulava 3 níveis de prevenção • Primário: intervir nas condições individuais e ambientais de formação da doença mental; Psiquiatria Preventiva (Anos 50) • Secundário: diagnosticar precocemente essas doenças; • Terciário: readaptar o paciente à vida social após a sua melhora. • internação psiquiátrica: esgotadas outras possibilidades/curtos períodos de tempo. Psiquiatria Democrática (Itália- anos 60) • Psiquiatra- Franco Basaglia; • Desmontagem de Hospitais- instituição de violência e violadora dos direitos humanos; • Pressupõe o modelo territorializado; • Acompanhamento por uma mesma equipe Antipsiquiatria (Anos 60) • Reflexão sobre a loucura. • Essas ideias surgiram a partir de algumas experiências ousadas em comunidades terapêuticas, que acabaram por ultrapassar esse marco institucional. • Pensava-se na loucura não mais como doença, mas como uma reação aos desequilíbrios familiares e à alienação social. Impacto dos movimentos • Afirmou-se a importância da extinção do hospital psiquiátrico (Desinstitucionalização); • Denunciou-se a pretensa neutralidade da ciência: relações de poder; • Reformas psiquiátricas evoluem melhor quando realizadas juntamente com as reformas sanitárias de cada país. • As Reformas sofrem reflexões das políticas mais amplas dos governos em relação à constituição de seus sistemas de saúde. Breve Histórico da Reforma Psiquiátrica Brasileira Processo de Reforma Psiquiátrica • Interlocução com os movimentos de outros países – Europa e EUA. • SUS é referência para a organização da Política de Saúde Mental; Institucionalização da Loucura no Brasil SÉCULO XIX • Chegada da Família Real ao Brasil (1808)/Modernização/Consolidação da Nação Brasileira; • Instalação de práticas higienistas/Conceito de loucura: “Loucos resíduos da humanidade e ameaça à ordem pública”. Institucionalização da Loucura no Brasil (Brasil imperial) • 1852- RJ- Marco da assistência psiquiátrica brasileira: Hospício D. Pedro II • Reedita a grande internação (Europa)- Recolhimento daqueles que representavam a desordem Institucionalização da Loucura no Brasil (1ª Fase da República) • Hospício D. Pedro II – Passa a se chamar Hospital Nacional de Alienados- 1980 é transformado em instituição pública. • Natureza assistencial e caráter religioso perdem espaço para o projeto médicocurativo. Institucionalização da Loucura no Brasil (2ª fase da República) • 2a Fase da República (1930-1945) • 1934- Lei Federal de Assistência aos Doentes Mentais; • Internação reforçada como principal tratamento. • Afirma a suspensão da cidadania do doente mental. Institucionalização da Loucura no Brasil (3ª fase da República) • Experiências de Contestação: Nise da Silveira • 1950- Instituto de Aposentadorias e Pensões incorporam a assistência Psiquiátrica em sua cobertura assistencial- utilizando a rede privada Institucionalização da Loucura no Brasil (4ª fase da República/1964- 1985)) • Ditadura • Industria da loucura (leitos privados crescem 10 x mais que os públicos); • Trabalhadores urbanos acometidos por sofrimentos em decorrência do trabalho- neuroses, alcoolismos- psiquiatrização dos problemas sociais. • Pespectiva preventiva-polatização rede hospitalar x serviços ambulatoriais. Institucionalização da Loucura no Brasil (4ª fase da República/1964- 1985) • Grave situação nos hospitais psiquiátricos: • Superlotação; • Deficiência de pessoal; • Maus tratos; • Falta de vestuários; • Alimentação; • Péssima estrutura Institucionalização da Loucura no Brasil (5ª fase da República/1985- Atual)) • Efervescência de movimentos sociais • Visibilidade do movimento da Reforma Psiquiátrica (1970- Recuo e retomada em 1970); Por uma Sociedade sem Manicomios (Anos 70) • Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental- MTSM (1978): • Trabalhadores organizados apontam graves problemas do sistema de assistência psiquiátrica do país • Propondo a desistitucionalização. • Técnico-científica - movimento social • Lema “Por uma Sociedade Sem Manicômios” • Envolve a Sociedade na discussão e encaminhamentos. Por uma sociedade sem Manicômios • Brasil: Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental (incisiva), cujo II Encontro, em Bauru, 1987; • Criou a famosa palavra de ordem Por uma sociedade sem manicômios. O que é desinstitucionalização? • Significa deslocar o centro da atenção da instituição (hospício, manicômio) para a comunidade, distrito, território. • Este termo tem sua origem no movimento italiano de reforma psiquiátrica. (HIRDES, 2009) Encontro Nacional de Luta Antimanicomial (1993) • Salvador; • Organizar o movimento; Lei Paulo Delgado 10.216/2001 • Propõe a substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos por outras modalidades de assistência. Diminuição de Leitos Psiquiátricos (1991-1995) • Leitos psiquiátricos- dos 86 mil para 72 mil (-14 mil). • No mesmo período foram criados 2.065 leitos psiquiátricos em hospitais gerais e mais de 100 núcleos e centros de atenção psicossocial. A rede de serviço • CAPS/Núcleos de Atenção Psicossocial (CAPS/NAPS): serviços da rede pública de saúde que visam, como parte de uma rede comunitária, à substituição dos hospitais psiquiátricos. • Instituídos – Portaria /SNAS No 224- 29 de janeiros de 1992 • A expectativa dos profissionais desta instituição era oferecer um cuidado personalizado aos pacientes, com a complexidade que cada caso requer (GOLDBERG, 1998). A rede de serviço: Composição • CAPS: Destinadas a acolher pessoas com sofrimento psíquico grave e persistene, estimulando sua integração social e familiar, apoiando em suas iniciativas de busca de autonomia. • Característica principal: busca da integração dos usuários a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu território. A rede de serviço • Serviço de atenção à saúde mental em municípios • CAPS I- Pop. de 20 mil até 70 mil hab. Atendimento diário de 2ª a 6ª feira em pelo menos 1 período/dia. • CAPS II – Pop. de 70 mil a 200 mil hab. Atendimento diário de 2ª a 6ª feira em 2 períodos/dia. • CAPS III – Pop. acima de 200 mil hab. Atendimento em período integral/24h. A rede de serviço • CAPS ad – Serviço especializado para usuários de álcool e outras drogas em municípios de 70 mil a 200 mil habitantes. • CAPS ad III – Serviço especializado para usuários de álcool e outras drogas em municípios com população acima de 200 mil • CAPS i - Serviço especializado para crianças, adolescentes e • jovens (até 25 anos) em municípios com população acima de 200 mil habitantes. A rede de serviço • Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT): casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas com sofrimento psíquico graves, egressas de hospitais psiquiátricos/ou de custódia, que perderam vínculos familiares e comunitários. • Brasil: 625 casas. A rede de serviço • Programa de Volta para Casa – PVC: assistência, o acompanhamento e a integração social, fora da unidade hospitalar, de pessoas com sofrimento psíquico, com história de longa internação psiquiátrica/ hospitais de custódia (02 anos ou mais de internação ininterruptos). • Instituído: Lei Federal 10708 de 31 de julho de 2003 • Auxílio-reabilitação, pago ao próprio beneficiário durante 1 ano, podendo ser renovado, caso necessário. • Beneficiários: São 3.961 A rede de serviços • Serviço Hospitalar de Referência para atenção a pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso de álcool, crack e outras: leitos de retaguarda em hospital geral. • Escola de Redutores de Danos (ERD): qualifica profissionais de saúde. A rede de serviços • Consultório de rua: Profissionais que atuam de forma itinerante, ofertando cuidados a pessoas em situação de rua. • Unidade básica de saúde: Ações de promoção de saúde mental, prevenção e cuidados de transtornos mentais, ações de redução de danos. Considerações • Reforma psiquiátrica ainda está em curso; • Profissional psicólogo deve empreender formação continuada; • Profissional deve conhecer e articular a rede de serviços; • Conhecer a história da reforma psiquiátrica e do SUS é uma premissa para se elaborar novas estratégias interventivas; • Considerar os aspectos individuais, biológicos e os psicossociais; • Saber atuar em equipe interdisciplinar. • Dominar técnicas para além do atendimento individual: grupos, oficinas terapêuticas. Referências de Teorização e pensamento • Manicômios, conventos e prisões- do sociólogo americano Goffman; • A ordem psiquiátrica: a idade de ouro do alienismo- sociólogo francês Robert Castel. • História da loucura na Idade Clássica- Michel Foucault; • Anti-Édipo- dos filósofos franceses Giles Deleuze e Félix Guattari; • Instituição Negada- do psiquiatra italiano Franco Basaglia. Referências bibliográficas • AMARANTE P. O homem e a serpente: outras histórias para a loucura e a psiquiatria. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1996. • CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA. Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) no CAPS-Centro de Atenção psicossocial. Brasília, 2013. • http://causasperdidas.literatortura.com/2014/05/26/reforma-psiquiatrica-no-brasil- ou-louco-tambem-e-gente/ • AMARANTE, Paulo. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. • BRASIL, FIOCRUZ. http://www.ensp.fiocruz.br/portal- ensp/judicializacao/pdfs/introducao.pdf
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