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unid_1 - Cuidados à Pessoa e Família na Saúde Mental e Psiquiátrica

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Autora: Profa. Cely de Oliveira
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo
 Profa. Raquel Machado Coutinho
 Profa. Romilda Iyakemi Ribeiro
Cuidados a Pessoa 
 e Família na Saúde 
Mental e Psiquiátrica
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Professora conteudista: Cely de Oliveira
Professora adjunta do curso de Enfermagem da Universidade Paulista (UNIP), é enfermeira graduada pela 
Faculdade de Enfermagem do Hospital israelita Albert Einstein (1998), mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem 
da Universidade de São Paulo (2011) e doutora em Patologia Ambiental e Experimental pela Universidade Paulista 
(2016). Possui ainda especializações em Enfermagem Psiquiátrica e de Saúde Mental pela Fundap–CAP–HCFMUSP 
(2003) e em Administração Hospitalar pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) (2001).
Atualmente, coordena as disciplinas de Primeiros Socorros e Cuidados a Pessoa e Família na Saúde Mental e 
Psiquiátrica, bem como colabora na elaboração de conteúdos e gravações para a UNIP interativa.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
O48p Oliveira, Cely de.
Cuidados a Pessoa e Família na Saúde Mental e Psiquiátrica. / 
Cely de Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2017.
128 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-068/17, ISSN 1517-9230.
1. Cuidados à família. 2. Saúde mental. 3. Saúde psiquiátrica. 
I. Título.
CDU 616.89
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Fernanda Pereira
 Juliana Mendes
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Sumário
Cuidados a Pessoa e Família na Saúde 
Mental e Psiquiátrica
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9
Unidade I
1 INSERÇÃO HISTÓRICA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL E NO MUNDO OCIDENTAL ................... 11
1.1 A psiquiatria no período colonial brasileiro............................................................................... 15
2 A PSIQUIATRIA NO PERÍODO REPUBLICANO BRASILEIRO .............................................................. 16
2.1 A psiquiatria no século XX ................................................................................................................ 16
2.2 A psiquiatria brasileira no início do século XXI ........................................................................ 20
3 PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA ......................... 22
3.1 Prática assistencial ao portador de transtorno mental ........................................................ 22
3.2 A evolução histórica do processo de ensino-aprendizagem para os 
níveis médio e superior ............................................................................................................................. 23
4 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS NA ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA ......... 27
4.1 Breve contexto internacional .......................................................................................................... 27
4.2 Princípios básicos e direitos do portador de transtorno mental ...................................... 28
Unidade II
5 PAPEL DO ENFERMEIRO EM ENFERMAGEM DA SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA .............. 32
5.1 Serviços de atendimento em saúde mental e psiquiatria ................................................... 34
5.1.1 Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) ...................................................................................... 36
5.1.2 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ....................................................................................... 37
5.1.3 Centros de Atenção Psicossocial – Álcool a Outras Drogas (CAPS-AD) ........................... 37
5.1.4 Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPS-i) .................................................................... 37
5.1.5 Internação hospitalar (hospital-geral e hospital especializado) ......................................... 38
5.1.6 Comunidades terapêuticas ................................................................................................................. 38
5.2 Correntes psiquiátricas e tratamento dos transtornos mentais ....................................... 38
5.2.1 Antiguidade e pensamento mágico ................................................................................................ 38
5.2.2 Séculos XVII a XIX ................................................................................................................................... 39
5.2.3 Séculos XIX e XX – Período de grandes descobertas ................................................................ 40
5.3 Avanços do conhecimento em saúde mental e psiquiatria ................................................ 41
5.3.1 A contribuição dos estudos de genética ....................................................................................... 41
5.3.2 Farmacogenética ..................................................................................................................................... 42
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5.3.3 Neuroimagem ........................................................................................................................................... 43
5.3.4 Avanços epidemiológicos .................................................................................................................... 45
5.4 Estudos determinantes dos transtornos mentais ................................................................... 46
5.5 Avanços terapêuticos.......................................................................................................................... 47
5.5.1 Psicofarmacologia .................................................................................................................................. 47
5.5.2 Estimulação magnética transcraniana ........................................................................................... 48
6 FUNÇÕES PSIQUÍCAS – PSICOPATOLOGIA ............................................................................................ 48
6.1 Funções psíquicas .................................................................................................................................50
6.1.1 Consciência ............................................................................................................................................... 50
6.1.2 Memória ..................................................................................................................................................... 52
6.1.3 Pensamento ............................................................................................................................................... 53
6.1.4 Alterações mais comuns de autopreservação ............................................................................. 56
6.1.5 Alterações do funcionamento sexual ............................................................................................. 57
6.1.6 Outros distúrbios quantitativos e qualitativos ........................................................................... 58
6.1.7 Distúrbios quantitativos e qualitativos associados a atividades ......................................... 59
6.1.8 Distúrbios quantitativos e qualitativos associados à vontade ............................................. 60
6.1.9 Distúrbios quantitativos e qualitativos associados ao sono ................................................. 61
6.1.10 Distúrbios quantitativos e qualitativos associados à inteligência 
e ao julgamento ................................................................................................................................................. 61
6.2 Avaliação das funções psíquicas .................................................................................................... 62
7 PADRÕES DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E O PROCESSO DE ENFERMAGEM 
EM SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA .......................................................................................................... 63
7.1 Condições essenciais para a implementação de padrões .................................................... 64
7.2 Padrões de cuidado ............................................................................................................................. 64
7.2.1 Padrão I – Avaliação inicial ................................................................................................................. 64
7.2.2 Padrão II – Diagnóstico de enfermagem....................................................................................... 65
7.2.3 Padrão III – Identificação dos resultados (objetivos) ............................................................... 66
7.2.4 Padrão IV – Intervenções (planejamento)..................................................................................... 67
7.2.5 Padrão V – Implementação................................................................................................................. 67
7.2.6 Padrão VI – Avaliação final ................................................................................................................. 68
7.3 Mapa de conceitos no cuidado e no processo de enfermagem ....................................... 70
7.3.1 Documentação do processo de enfermagem ............................................................................. 71
7.4 Padrões de desempenho profissional ........................................................................................... 74
8 TRANSTORNOS MENTAIS E ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ........................................................ 75
8.1 Transtornos do pensamento e do humor e assistência de enfermagem....................... 75
8.1.1 Sintomas positivos ................................................................................................................................. 76
8.1.2 Sintomas negativos................................................................................................................................ 76
8.1.3 Intervenções de enfermagem ............................................................................................................ 77
8.2 Transtorno do humor e assistência de enfermagem ............................................................. 77
8.2.1 Caracterização geral dos TH ............................................................................................................... 78
8.3 Transtornos ansiosos, somatoformes e dissociativos ............................................................ 79
8.3.1 Transtornos somatoformes ................................................................................................................. 80
8.3.2 Transtornos dissociativos ..................................................................................................................... 81
8.4 Transtornos de personalidade e alimentares ............................................................................. 82
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8.4.1 Transtornos de personalidade ............................................................................................................ 82
8.4.2 Transtornos alimentares ....................................................................................................................... 84
8.5 Fenômeno das drogas lícitas e ilícitas e emergências psiquiátricas ................................ 85
8.5.1 Padrões de risco à saúde ...................................................................................................................... 85
8.5.2 Abuso de substância .............................................................................................................................. 86
8.5.3 Síndrome de dependência ................................................................................................................... 86
8.5.4 Intoxicação por substâncias ............................................................................................................... 87
8.5.5 Abstinência de substâncias ................................................................................................................. 88
8.6 Assistência de enfermagem a pessoas com problemas decorrentes do 
uso de drogas lícitas e ilícitas ................................................................................................................. 88
8.7 Emergências psiquiátricas ................................................................................................................ 89
8.7.1 Características de uma crise ............................................................................................................... 89
8.7.2 Fatores no desenvolvimento de uma crise ................................................................................... 90
8.7.3 Tipos de crises........................................................................................................................................... 91
8.7.4 Assistência de enfermagem em emergências psiquiátricas .................................................. 93
8.7.5 Fases de intervenção em crise: papel do enfermeiro e avaliação inicial ......................... 93
8.8 Estratégias de comunicação terapêutica .................................................................................... 98
8.8.1 Valores, atitudes e crenças na comunicação ............................................................................... 98
8.8.2 Comunicação não verbal ...................................................................................................................100
8.8.3 Conceito de comunicação terapêutica (CT) ...............................................................................103
8.8.4 Grupamentos das estratégias de comunicação terapêutica ...............................................104
8.8.5 Técnicas de comunicação não terapêuticas ..............................................................................106
8.8.6 Registro de processos ..........................................................................................................................1098.8.7 Retroalimentação ................................................................................................................................. 112
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APRESENTAÇÃO
Caro(a) estudante,
A abordagem do tema saúde mental e psiquiatria é bastante complexa. Para entendermos melhor o 
assunto, este livro-texto reúne informações de grande utilidade para quem pretende cuidar de pessoas 
com transtornos mentais. Pela abrangência dos assuntos abordados, é de interesse não apenas do 
enfermeiro especialista em saúde mental, mas também dos profissionais e estudantes da área.
Seu amplo conteúdo abarca a diversidade e a complexidade das temáticas relativas ao processo de 
atenção à saúde mental de indivíduos e familiares. No domínio da clínica psiquiátrica, cada capítulo 
está organizado com base nos critérios diagnósticos do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais (DSM-IV-TR). A assistência de enfermagem utiliza uma linha coerente de pensamento e ação, 
segundo um método de trabalho voltado para operacionalização e implantação do cuidado.
Para o esclarecimento desses métodos e critérios, estabelecemos alguns objetivos gerais no 
presente estudo:
• Evidenciar o atendimento ao portador de transtorno mental em nosso País que nas últimas 
décadas tornou-se mais complexo devido ao constante aumento (ainda longe do ideal) dos 
cenários extra-hospitalares.
• Contribuir para que os enfermeiros e graduandos de Enfermagem tenham mais ferramentas de 
avaliação dos resultados de seu plano de cuidados.
• Promover estudos sobre a assistência de enfermagem ao portador de transtorno mental no 
contexto nacional e melhorar a qualidade desta.
Boa leitura!
INTRODUÇÃO
Para compreendermos a situação atual do atendimento ao portador de transtorno mental e a inserção 
da Enfermagem nesse processo, diante das inúmeras transformações técnico-científicas e das políticas de 
atendimento ao portador de transtorno mental, resgataremos a história da Psiquiatria no País.
Apresentaremos, inicialmente, dados históricos a partir do século XVIII e, em especial, do século XIX, 
quando surgiram os primeiros locais destinados à assistência do doente mental. Observaremos que, 
entre o fim do século XIX e o início do XX, ocorreu, no Brasil, uma explosão de leitos psiquiátricos.
Analisaremos um painel da história da psiquiatria brasileira: o seu surgimento nos porões das 
Santas Casas de Misericórdia; a construção de hospitais psiquiátricos em todo o território nacional; 
e os eventos do século XX que culminaram na reforma psiquiátrica e nas leis que legitimam esse 
processo até os dias atuais.
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Paralelamente, veremos como a enfermagem foi inserida profissionalmente no contexto 
histórico-social, assim como seu processo de aprendizagem.
Destacaremos, por fim, o surgimento – no final do século XX – de propostas de atendimento com 
caráter extra-hospitalar e a consequente criação de serviços, a saber: hospitais-dia; Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS); e os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS).
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CUIDADOS A PESSOA E FAMÍLIA NA SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
Unidade I
1 INSERÇÃO HISTÓRICA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL E NO MUNDO OCIDENTAL
Para melhor compreender a inserção histórica da Psiquiatria no Brasil se faz necessário conhecer 
fatos que contribuíram para sua evolução.
Antigamente não se pensava em transtorno ou doença mental. Não havia a psiquiatria, o que não 
quer dizer que não houvesse perturbações, ou que as pessoas não sofressem com elas e recebessem a 
devida atenção e alívio, no entanto as explicações para essas perturbações eram de outra ordem.
Esse cenário mostra a influência da cultura sobre as formas de sentir, pensar, explicar e tratar o sofrimento. 
Todas as sociedades tiveram suas ideias sobre os distúrbios que mais tarde foram considerados mentais ou 
psíquicos. Esses problemas, especialmente quando a conduta se apresentava agressiva ou insensata, eram 
atribuídos a forças obscuras ao ser humano: maus espíritos, almas perdidas, deuses, magos, demônios etc. 
Entendidos dessa maneira, tais distúrbios eram tratados com práticas consideradas mágicas e rituais religiosos.
Hipócrates, na Grécia do século V a.C., rejeitou as explicações que apontavam os deuses como 
causadores dessas perturbações e estabeleceu uma classificação que incluía a mania, a histeria e a 
psicose pós-parto, entre outras, como possíveis causas de transtornos mentais. Já filósofo Empédocles 
tratou das emoções, afirmando que amor e ódio tinham grande importância na determinação do 
comportamento humano.
Galeno, no mundo romano do século II d.C., estudou a anatomia e a fisiologia do sistema nervoso e 
concluiu que este era a sede da alma. Criou a teoria da alma racional, que era dividida em uma parte 
externa (os cinco sentidos) e outra interna (imaginação, percepção e capacidade de julgamento).
Na Idade Média, ou Idade das Trevas, predominava a crença de que as pessoas que apresentavam 
comportamentos que fugiam ao esperado estivessem possuídas pelo demônio; eram então usadas 
práticas de exorcismo para expulsá-lo. Grandes grupos, sobretudo de camponeses, que se acreditavam 
possuídos, dançavam pelas ruas, relatando suas visões e gritando nomes do demônio.
Estes eram tratados de forma igualmente fantástica, por meio de exorcismos, ou condenados à 
fogueira. O estudo do comportamento desses grupos levou às primeiras concepções sobre a influência 
de aspectos sociais no surgimento de perturbações mentais.
Consta que tinha sido construído, por solicitação de um monge e com fundos fornecidos pelos 
habitantes, um estabelecimento reservado exclusivamente para os “loucos” na cidade de Valência, na 
Espanha. Em 1410, o papa Benedito XIII deu a benção apostólica a esse asilo, que recebeu o nome de 
Papa Benedito XIII.
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Unidade I
Acredita-se que essa iniciativa cristã de criação do que veio a ser o primeiro hospital psiquiátrico 
do mundo ocidental tenha sido inspirada em instituições semelhantes da Espanha muçulmana — e, 
de maneira mais geral, da civilização muçulmana —, as quais recebiam os “desviantes sociais”. Foi uma 
iniciativa isolada e não se tem nenhuma outra notícia sobre ela. Mais tarde, a psiquiatria espanhola se 
desenvolveu sob influência absoluta da psiquiatria francesa de Philippe Pinel (França, 1745-1826).
No século XVII, na Europa, foram criadas casas de internação com a finalidade de confinar o chamado 
“desatino”, ou seja, os vários tipos de “desviantes sociais”: loucos, mendigos, libertinos, doentes pobres, 
moribundos, religiosos infratores etc. Eram instituições legais ou religiosas que ofereciam abrigo a esses 
incapazes, visando apenas à segregação; desse modo, o médico não era uma figura necessária.
Pessoas despreparadas e mal remuneradas faziam os serviços domésticos (relacionados a higiene 
e alimentação), muitas vezes, sob as ordens de irmãs de caridade. Na França, por determinação real, 
foi criada uma espécie de abrigo (ou hospital-geral) com essa finalidade, em cada cidade do país. 
Esses abrigos causavam muita aversão devido à crença de contágio físico e moral, com isso eles eram 
instalados nas periferias das cidades.
Ainda na Europa, mas no século seguinte, começaram a surgir casas de internação específicas para 
os loucos que, apresentando condutas caracterizadas por insensatez, furor e imbecilidade (termosentão 
usados), colocavam em risco os demais desviantes.
O único objetivo da criação dessas casas para loucos era a sua exclusão: a preocupação era com a 
segurança da sociedade. Eles eram isolados em celas ou masmorras, pois considerava-se que haviam 
perdido sua condição humana e, dessa maneira, e para a segurança de todos, eles eram acorrentados, 
além de expostos ao frio e à má alimentação.
Circulavam notícias, no entanto, de que na Inglaterra havia instituições, como o Hospital of St. Mary 
of Bethlem (também conhecido como Bedlam e criado em 1246) e St Luke’s Hospital for Lunatics (1751), 
que não tinham só a função de exclusão, mas desempenhavam o papel de local remediador.
Isso ocorreu sobretudo com finalidade filantrópica, por iniciativa dos ricos negociantes da época. 
Eles pertenciam à seita dos quakers, que se dedicava a atividades sociais como ajuda aos pobres, 
melhoria da educação, reforma das prisões e luta contra o alcoolismo, entre outras iniciativas. Diz-se 
que tendo a mulher de um quaker falecido no asilo de St. Luke, os irmãos Tuke criaram um hospital 
para os membros da seita que pudessem apresentar problemas mentais, o qual à época foi chamado de 
Retiro. Considera-se que essa iniciativa, de caráter mais social do que sanitário, influenciou a psiquiatria 
inglesa, que durante algum tempo desenvolveu-se prioritariamente com finalidades sociais – nos asilos 
– e não com propósitos científicos – nas universidades –, a exemplo da Alemanha.
Da mesma forma, na Itália, na cidade de Florença, foi criado o Hospital Bonifácio, e seu regulamento, 
publicado em 1789, dizia que era dever e obrigação respeitar como pessoa o indivíduo com problemas 
mentais. Esse regulamento proibia qualquer brutalidade em relação aos internos, reduzia ao mínimo os 
meios de contenção e preconizava medidas higiênicas a serem aplicadas por atendentes, sob orientação 
dos médicos. Isso se deu por influência do médico Vicenzo Chiarugi, que em 1793-1794 havia publicado 
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CUIDADOS A PESSOA E FAMÍLIA NA SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
um tratado médico-analítico no qual apresentava cem observações clínicas sobre loucos e propunha 
métodos próximos ao tratamento moral, mais tarde também descrito pelo francês Philippe Pinel.
As reformas políticas e sociais que ocorreram na Europa, especialmente na França, no final do século 
XVIII, inspiraram Philippe Pinel, que aderira aos ideais da Revolução Francesa, a ocupar-se dos loucos. 
Nessa época, as casas de internação, ou hospitais-gerais, já tinham a perspectiva de tratamento e 
contavam com médicos.
Pinel foi fundamental na mudança do estatuto do louco e autor de uma obra regional. Para ele, a 
alienação não aniquilava o indivíduo inteiramente, ou seja, sempre restava ao doente mental uma parte 
de razão; daí a ideia de que a loucura seria uma doença, passível de tratamento e cura.
Essa ideia partiu de seus estudos sobre a mania intermitente, na qual o louco apresentava acessos 
periódicos de mania (antes descrita por Hipócrates) e períodos de remissão. Pinel era médico e tinha por 
objetivo criar uma ciência da doença mental. Foi nomeado para o hospital de Bicêtre (para homens), 
em Paris, em 1793. Reza a lenda que, como médico-chefe, libertou os loucos das correntes. Hoje se 
sabe que essa versão foi narrada por seu filho quando Pinel, vítima de um acidente vascular encefálico, 
afastou-se de suas atividades.
Estudos mais recentes sobre essa época mostram que o trabalho de Pinel foi, em grande parte, inspirado 
em Jean-Baptiste Pussin, que ele conheceu em Bicêtre, uma figura até pouco tempo desconhecida.
Pussin, acometido de escrófula (tuberculose ganglionar), havia permanecido internado por muitos 
anos e, recuperado, decidiu ficar trabalhando no hospital. Depois de algum tempo, foi nomeado atendente 
do pavilhão dos loucos em Bicêtre, que contava com uma população de 250 internos. Excetuando o 
atendimento médico em situações de doença física, o restante ficava a cargo de Pussin, ajudado por sua 
esposa, que dirigia alguns atendentes (na maioria, antigos internos). Sensível observador, utilizando sua 
experiência de quase uma década como doente internado, Pussin deixou escritos sobre a organização 
da vida dos internos e os cuidados que recomendava para sua recuperação. Valorizava a bondade e a 
humanidade, pois havia observado que maltratar os loucos os induzia à violência e à agressão; entendia 
que maus-tratos e castigos não poderiam reverter as ideias afetadas e afastava de suas funções os 
atendentes que não cumprissem essa norma.
Em seus escritos, mostrava também acreditar que o sofrimento fosse a causa das enfermidades e 
estimulava, entre os pacientes, o trabalho, a distração, a confiança, a liberdade possível e a imaginação 
de um futuro feliz. Contrário ao tratamento por sangria (utilizado na época), que considerava perigoso, 
e valorizando a alimentação, Pussin fez pesquisas sobre outros tipos de tratamento, por exemplo, 
cozimentos à base de chicória. Defendia a criação de estabelecimentos somente para alienados, em 
razão de suas particularidades. Foi considerado por historiadores o primeiro enfermeiro psiquiátrico. 
Ao ser nomeado médico-chefe de Bicêtre, Pinel interessou-se pelo pavilhão administrado por Pussin, 
passando a ouvi-lo e a observar o seu trabalho. Posteriormente, na função de médico-chefe de La 
Salpetrière, grande hospital parisiense, Pinel insistiu em transferir Pussin para lá; após seis anos, 
conseguiu a transferência.
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Unidade I
Pinel realçou a importância da rigorosa observação empírica na convivência com os alienados, 
alicerçada na medicina e na filosofia. Com ele surge a psiquiatria, e o louco começa a ser visto como um 
doente a ser tratado com os dispositivos do tratamento moral, na medida em que haveria uma parte de 
sua mente não atingida pela alienação.
A partir daí os doentes mentais passaram a ser internados em espaços especialmente concebidos. 
Jean Esquirol, discípulo preferido de Pinel, trouxe a ideia da “paixão que desorganiza” e dedicava muita 
importância ao espaço reservado aos doentes; nele, tendo sua vida toda organizada (eliminando qualquer 
foco de desordem), o doente era observado e disciplinado, para que seus “desvios” fossem corrigidos. A 
psiquiatria, na sua origem, estabelecia relações de tutela, de dependência, não de troca.
A Lei francesa de 1838 foi a primeira grande medida social que reconheceu direito à assistência para 
uma categoria de doentes: os doentes mentais. Ela criou um espaço especialmente concebido para eles 
(o asilo), o primeiro corpo de médicos funcionários civis e constituiu uma área de estudo.
No final do século XIX, sob influência de Bénédict Morel (1809-1873), homem profundamente 
religioso, diretor de La Salpetrière, a psiquiatria francesa sofreu uma grande mudança. A etiologia das 
doenças mentais foi concebida por ele a partir de um modelo biológico baseado na hereditariedade 
(transferência de um tecido) e nas condições do meio (solo, atmosfera, costumes e alimentação).
Dessa forma, a doença mental instalou-se no corpo. Para Morel, a doença mental decorria da 
degenerescência, transmitida e progressivamente agravada. Assim, um indivíduo de temperamento 
nervoso, após algumas gerações, daria origem a um doente mental. Com Morel, na década de 1850, 
surgiu a possibilidade de atuação do “higienista” realizando intervenções não só no hospital, mas também 
em seu exterior. A finalidade era inculcar os bons valores da classe burguesa na classe trabalhadora em 
formação (na medida em que esta é que era percebida como vivendo na promiscuidade, na devassidão, 
com elevado consumo de álcoole, assim, passível de degenerescência).
A teoria de Morel não se sustentou. Paralelamente, naquela época – em 1880 –, havia apenas uma 
cátedra de Psiquiatria na Universidade de Paris, enquanto na Alemanha existiam dezenove, com ênfase 
no ensino teórico. Foi o momento em que a psiquiatria alemã passou a predominar no mundo. Seu 
maior expoente, Emil Kraepelin (1856-1936), realizou a descrição e classificação da doença mental.
Nesse período, a medicina fazia muitos progressos na Europa, graças à descoberta de agentes 
etiológicos de várias doenças e do tratamento de algumas delas. Assim, a atenção da sociedade 
psiquiátrica voltou-se para o sintoma, buscando suas origens físicas, a exemplo do que ocorria com as 
outras doenças (o que era também uma maneira de valorizar a psiquiatria, que passaria a ter um status 
semelhante ao de outras áreas médicas). Entendendo que os distúrbios mentais constituíam entidades 
nosológicas definidas, Kraepelin, a partir do emaranhado de informações disponíveis na época, criou um 
sistema de classificação com descrições das doenças, bem como de seus sintomas e prognóstico, o que 
se tornou a base dos sistemas classificatórios oficiais (CID-10 e DSM-IV).
Ainda no final do século XIX, nos Estados Unidos, foram construídos muitos hospitais psiquiátricos 
públicos, no entanto as condições nesses hospitais eram deploráveis. Foi uma professora primária, 
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Dorothea Lynde Dix, de Massachusetts, quem as denunciou, passando a arrecadar fundos para a 
construção de hospitais apropriados. Muito empreendedora, ela posteriormente orientou a abertura 
de instituições no Canadá e reformou o sistema de asilos na Escócia. Também organizou as forças de 
enfermagem nas corporações militares do Norte durante a guerra civil norte-americana.
Em traços breves, essa foi a trajetória da Psiquiatria no mundo ocidental, em especial em seu 
início. Como se poderá observar a seguir, o desenvolvimento da Psiquiatria no Brasil foi inteiramente 
influenciado pelo modelo europeu. Apesar de os nossos aborígenes e os escravos negros brasileiros terem 
seus próprios saberes para lidar com problemas nessa área, esses conhecimentos foram desconsiderados 
na construção da história da psiquiatria brasileira.
1.1 A psiquiatria no período colonial brasileiro
Raros são os dados sobre os cuidados destinados aos doentes mentais durante o período colonial 
brasileiro. Até o século XVIII, os chamados “loucos” que viviam nas ruas eram recolhidos às prisões 
ou confinados em aposentos-prisões construídos nos fundos de suas casas, sendo, posteriormente, 
enviados à Europa. As diferenças sociais e econômicas marcavam nitidamente as formas de lidar com a 
loucura (OLIVEIRA, 2000).
A instituição hospitalar assentava-se, desde seus primórdios, como um espaço para doentes e 
abrigo de desvalidos, atendendo à estratégia de um projeto social. Assim, surgiram as Santas Casas de 
Misericórdia: a primeira na cidade de Santos (1543), depois em Salvador (1549), Olinda (1560), Rio de 
Janeiro (1567), São Paulo (1599), Paraíba (1602), Belém (1619) e São Luís (1657) (MEDEIROS,1993).
No Brasil, a institucionalização da psiquiatria ocorreu com o surgimento das Santas Casas, nas 
quais os doentes mentais eram recolhidos, sem que qualquer tratamento fosse oferecido. Os espaços de 
atendimento aos portadores de transtornos mentais eram os porões, sendo comum o uso de castigos 
físicos como forma de “contenção” de comportamentos inapropriados.
Após a criação da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, as queixas de maus-tratos sofridos por 
essa população aumentaram significativamente, e por solicitação de alguns de seus médicos higienistas, 
pleiteou-se a criação de um hospital cuja finalidade era a atenção a esse público, o que deu origem ao 
Hospício Pedro II.
Por meio do Decreto no 82/1841, do Imperador Dom Pedro II, foi instalada a primeira instituição 
psiquiátrica brasileira: o Hospício Pedro II na Praia Vermelha (à época uma região remota do centro 
da cidade do Rio de Janeiro), subordinado à Santa Casa de Misericórdia, cuja inauguração se deu 
em 1852, como parte da comemoração da Declaração da Maioridade do monarca. Concebido com 
um conceito moderno, seguiu o recém-instituído modelo francês, servindo de modelo para todos os 
demais, com a assistência aos doentes mentais realizada por freiras, auxiliadas por funcionários leigos 
que receberam a designação de “enfermeiros”, mesmo sem nenhuma formação (MIRANDA-SÁ JÚNIOR, 
2007; MEDEIROS,1993).
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Unidade I
Em 1852, em São Paulo, foi criado o Asilo Provisório do Largo dos Curros (na atual Praça da 
República), depois transferido para a Ladeira da Tabatinguera, na Várzea do Carmo (atual Parque 
Dom Pedro) (BASTOS, 2007; CUNHA, 1988). Esse serviço funcionou até a inauguração definitiva do 
Hospital do Juquery, cuja capacidade foi superada rapidamente: 534 pacientes em 1895 para 823 
em 1904 (CUNHA,1988).
A partir da experiência do Rio de Janeiro e de São Paulo, iniciou-se o processo de criação dos 
hospitais psiquiátricos públicos em todo o País, obedecendo à sequência: Hospital Psiquiátrico 
Juliano Moreira (1874), em Salvador (BA); Hospital Psiquiátrico São Pedro (1884), em Porto Alegre 
(RS); Asilo de Alienados de São Vicente de Paula (1886), em Fortaleza (CE); Asilo Santa Leopoldina 
(1891), em Maceió (AL); Asilo do Hospital Santa Ana (1893), em Cruz do Peixe (PB); Hospício Eduardo 
Ribeiro (1894), em Manaus (AM); Hospital do Juquery (1895), em São Paulo (SP); Centro Hospitalar 
Psiquiátrico (1903), em Barbacena (MG); e Instituto de Psiquiatria da USP (1945), em São Paulo (SP) 
(KIRSCHBAUM, 1997; BASTOS, 2007).
2 A PSIQUIATRIA NO PERÍODO REPUBLICANO BRASILEIRO
A Proclamação da República gerou um rompimento entre Estado e Clero, o que refletiu no Hospício 
Pedro II, cujo controle, em 1890, passou da Santa Casa para o governo republicano, com o nome de 
Hospício Nacional de Alienados, pelo Decreto nº 147-A. Isso gerou uma crise, culminando no abandono 
da administração interna do hospital por partes das irmãs de caridade, excluídas do trabalho na seção 
masculina, a qual foi entregue aos “enfermeiros” e guardas após a entrada da figura do médico, que 
passou a dominar, hierarquicamente, todos os setores em que atuava. Para remediar a falta de pessoal, 
o governo criou a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, nos moldes da escola existente em 
Salpêtrière (França), por meio do Decreto nº 791 (MELO, 1986; CARVALHO, 1972).
Em 1898, o Hospital do Juquery, em São Paulo, já contava com 80 pacientes internados (CUNHA, 
1988). Nesse ínterim e até o século XX, o enfermeiro não detinha um papel terapêutico, pois exigia-se 
apenas alguma experiência com os enfermos, e sua atuação era voltada à manutenção da ordem do 
local (e não, como veremos décadas depois, à estruturação do ambiente terapêutico).
2.1 A psiquiatria no século XX
Duas guerras mundiais, o surgimento das armas nucleares, a Revolução Russa, a queda do comunismo 
e do muro de Berlim, inúmeros avanços tecnológicos, a corrida espacial, a disponibilidade em massa do 
telefone, computador e internet, o crescimento da expectativa de vida, entre outros eventos, marcaram 
a passagem do último século. Estes, tão significativos para a humanidade, foram acompanhados por 
diversos marcos na atenção à psiquiatria mundial, os quais refletiram naquela adotada no Brasil.
A primeira metade do século XX foi fortemente marcada pelo surgimento da insulinoterapia, da 
eletroconvulsioterapia, da psicocirurgia (década de 1930), dos medicamentos psicotrópicos (década de1950) e pela fundação das comunidades terapêuticas.
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CUIDADOS A PESSOA E FAMÍLIA NA SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, observam-se vários movimentos de contestação das práticas 
psiquiátricas no cenário mundial, entre os quais a Psiquiatria de Setor, na França, as Comunidades 
Terapêuticas, na Inglaterra, e a Psiquiatria Preventiva, nos EUA. Eram todos a favor de uma reforma 
da assistência psiquiátrica, que apontava para um rearranjo técnico, científico e administrativo da 
psiquiatria, sem a desinstitucionalização proposta pelo movimento italiano, a partir de 1960 
(OLIVEIRA; ALESSI, 2003).
No Brasil do século XX, incialmente, a psiquiatria foi regulamentada por diversos decretos, que 
visavam à institucionalização da loucura, com o espaço dividido entre os denominados “loucos” e os 
“loucos delinquentes”.
Em 1901, o Hospital do Juquery, em São Paulo, já contava com 590 pacientes, número que 
gradativamente subiu para 1.250 (em 1912), 1.500 (em 1916) e 19.000 internos (em 1928) (CUNHA,1988).
Esse enorme aumento, após pouco mais 30 anos de sua instalação, confirmou a institucionalização 
como única via de tratamento ao portador de transtorno mental.
O Decreto nº 1.132/1903 legalizou a reclusão e concedeu amplos poderes aos psiquiatras, a despeito 
do Poder Judiciário, cuja atuação restringiu-se somente à fiscalização da saúde mental. O ato proibiu 
que alienados fossem mantidos em cadeia pública e determinou a extinção dos manicômios criminais. 
Desse modo, os alienados delinquentes – condenados – apenas poderiam permanecer em asilos públicos 
nos pavilhões especializados para tais pacientes (SILVA; SILVA JÚNIOR, 2006).
Em 1921, foi criado o Manicômio Judiciário no Rio de Janeiro visando à detenção e correção 
dos internos considerados perigosos e incuráveis (SILVA; SILVA JÚNIOR, 2006). Com o surgimento 
do Decreto-Lei no 5.148, em 1927, determinou-se a legalidade da prática da prisão de um portador 
de transtorno mental em cela de delegacia com presos comuns. Porém, por meio da publicação do 
Decreto-Lei no 5.148a, em 1927, determinou-se a ilegalidade dessa mesma prática (XAVIER, 2007).
A partir dos anos 1950, observou-se o surgimento de novos serviços ao atendimento do paciente 
psiquiátrico, como leitos em hospitais-gerais, emergências e ambulatórios.
Em 1954, na Bahia, foi criada a primeira Unidade de Internação Psiquiátrica em Hospital-geral 
(UIPHG), logo implantada em São Paulo, no mesmo ano, com expansão progressiva para todo 
o País (MACHADO; COLVERO, 2003). No ano seguinte, no Rio de Janeiro, inaugurou-se o 
primeiro serviço de emergência psiquiátrica, denominado Pronto-Socorro Psiquiátrico do Centro 
Psiquiátrico (XAVIER, 2007).
Já os anos 1960 foram marcados pelo golpe militar (1964) e trouxeram a medicina preventiva e a 
psiquiatria de massa.
A unificação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (após 1965) gerou um acréscimo expressivo 
de leitos na rede hospitalar privada, esta última financiada pelo Instituto Nacional de Previdência Social 
(INPS), que, devido à posterior crise econômica do órgão, na mesma década, trouxe a necessidade de 
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Unidade I
respostas à demanda social por menores custos, o que promoveu a ampliação da rede ambulatorial de 
assistência psiquiátrica (PEREIRA; LABATE; FARIAS, 1998).
Já os anos 1970 foram marcados pelas manifestações dos profissionais de saúde mental contra 
a denominada “indústria da loucura”. No final desse período, iniciou-se lentamente o processo 
de redemocratização, durante o qual surgiu o Movimento da Reforma Psiquiátrica. Tal projeto 
fundamentou-se não apenas no questionamento ao subsistema nacional de saúde mental, mas também, 
e principalmente, na crítica estrutural ao saber e às instituições psiquiátricas clássicas, processo histórico 
de formulação crítica e prática, que tem como objetivo a elaboração de propostas de transformação do 
modelo clássico e do paradigma da psiquiatria (AMARANTE, 1995).
O Congresso de Psiquiatria em Camboriú (SC), em 1978, o Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores 
em Saúde Mental e o Terceiro Congresso Mineiro de Psiquiatria, ambos em 1979, foram acontecimentos 
marcantes que conscientizaram sobre a necessidade de um processo de mudança da assistência ao 
doente mental por parte dos profissionais da área (LUCCHESE, 2005).
A década subsequente foi marcada pela intensa movimentação por parte das organizações públicas 
estaduais e municipais e dos trabalhadores de saúde mental, por conta de propostas de ampliação da 
rede ambulatorial. Para diminuir a hospitalização psiquiátrica, o modelo unicamente medicamentoso foi 
questionado, propondo-se a introdução de formas psicodinâmicas de tratamento, embora a assistência 
psiquiátrica se mantivesse, prioritariamente, hospitalocêntrica (COLVERO,1994).
 Observação
O já citado Movimento pela Reforma Psiquiátrica teve como ponto de 
virada dois eventos do ano de 1987: a Primeira Conferência Nacional de Saúde 
Mental e o Segundo Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental.
O ano de 1987 foi um marco e representou o fim da trajetória sanitarista e o início da trajetória 
de desconstrução, no cotidiano das instituições e da sociedade, das arraigadas formas de lidar com 
a loucura (a chamada desinstitucionalização). O encontro trouxe o lema: “Por uma Sociedade sem 
Manicômios” (TENÓRIO, 2002).
A ação na cultura passou a ocupar um lugar estratégico no denominado Movimento da Luta 
Antimanicomial, convocando a sociedade para discutir e reconstruir sua relação com a loucura. A 
participação dos agora chamados “usuários” dos serviços de saúde mental (em lugar do até então 
“pacientes”) e de seus familiares em discussões, encontros e conferências tornou-se uma característica 
marcante do processo. Com a perspectiva da ampliação do movimento, institui-se o dia 18 de maio 
como Dia Nacional da Luta Antimanicomial, visando à própria questão das estruturas de cuidado, não 
se tratando do aperfeiçoamento das estruturas tradicionais (ambulatório e internação), mas da criação 
de novos dispositivos e tecnologias para esse fim. Substituir a psiquiatria baseada no hospital por uma 
sustentada em dispositivos diversificados, abertos e de natureza comunitária foi a principal meta da 
reforma psiquiátrica (TENÓRIO, 2002).
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CUIDADOS A PESSOA E FAMÍLIA NA SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
Em São Paulo, em 1987, foi criado o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do País e, 
simultaneamente, em Santos (SP), iniciou-se a intervenção na Casa de Saúde Anchieta, fato de repercussão 
nacional que propiciou a construção da rede extra-hospitalar, com a criação dos NAPS (1989), e que 
transformou a cidade santista em referência para a reforma psiquiátrica brasileira (MOREIRA et al., 2008).
Tal intervenção, em 1989, pode ser considerada a primeira experiência concreta de desconstrução 
do aparato manicomial no Brasil e de construção de estruturas substitutivas. A partir dela, passou-se 
a privilegiar a criação desses serviços ao uso do hospital psiquiátrico, como redes de atenção à saúde 
mental, CAPS, leitos psiquiátricos em hospitais-gerais, oficinas e residências terapêuticas, com respeito 
às particularidades e necessidades de cada local. As iniciativas dos municípios passaram a ser ressarcidas 
por meio de portarias ministeriais, “objetivando o deslocamento dos recursos para modalidades 
alternativas à internação psiquiátrica e compatibilizando os procedimentos das ações de saúde mental 
como o modeloassistencial” (HIRDES, 2009, p. 298).
Em 1989, no âmbito legislativo, foi encaminhado ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 
3.657/1989, de autoria do deputado federal Paulo Delgado, que propôs a extinção progressiva dos leitos 
em hospitais psiquiátricos – com a implantação de unidades psiquiátricas em hospital-geral e recursos 
extra-hospitalares de atenção, a saber: hospital-dia, hospital-noite, pensões e centros de convivência 
– em substituição aos hospitais psiquiátricos por outras modalidades e práticas assistenciais. Depois de 
aprovado na Câmara dos Deputados, tal projeto enfrentou muitas dificuldades no Senado que, em seu 
lugar, aprovou, mais de dez anos depois, um substitutivo muito mais tímido quanto à substituição asilar 
(TENÓRIO, 2002; OLIVEIRA, 2000).
A partir dos anos 1990, iniciou-se uma extensa legislação do Ministério da Saúde sobre o tratamento 
apropriado aos portadores de transtornos mentais. No Rio Grande do Sul, um marco político importante 
foi a aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei Estadual nº 9.716/1992), que tratou da reforma 
psiquiátrica em âmbito estadual (HIRDES, 2009).
As Portarias nº 189/1991 e 224/1992, do Ministério da Saúde, institucionalizaram a reforma 
psiquiátrica, regulamentando nacionalmente os CAPS e os NAPS.
Desde 1992, foram oito as leis estaduais a vigorar, inspiradas no Projeto de Lei do deputado federal 
Paulo Delgado: Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do 
Norte e Rio Grande do Sul estão entre os estados participantes. Em todas elas, previram-se a substituição 
progressiva da assistência no hospital psiquiátrico por outros dispositivos ou serviços, os incentivos aos 
CAPS, a utilização de leitos em hospitais-gerais, a notificação de internação involuntária e a definição 
dos direitos das pessoas com transtornos mentais (BERLINCK, MAGTAZ; TEIXEIRA, 2008).
 Observação
No ano de 1996, já existiam cerca de 72.514 leitos em hospitais 
psiquiátricos e 145 CAPS em atividade.
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Unidade I
A Portaria nº 1.077/1999 dispôs sobre a assistência farmacêutica na atenção psiquiátrica e garantiu 
medicação básica destinada à saúde mental para usuários de serviços ambulatoriais públicos de saúde 
que dispusessem de atenção em saúde mental em seus municípios.
A psiquiatria brasileira, no século XX, sofreu mudanças radicais em seu histórico social, 
influenciada pelas experiências americana e europeia (italiana, em especial), descobrindo e criando 
modalidades de atendimento substitutivas ao modelo asilar e discutindo novas tecnologias, como 
as oficinas terapêuticas e de trabalho e as residências terapêuticas, para o cuidado do portador 
de transtorno mental.
As transformações na prática da enfermagem psiquiátrica brasileira ocorreram simultaneamente à 
evolução da assistência nos manicômios e asilos (BRUSAMARELLO et al., 2009).
Esse novo modelo de atendimento levou à reconstrução do processo de trabalho dos profissionais de 
saúde mental e do enfermeiro, em especial, que passou a atuar na equipe multidisciplinar e (re)construiu 
sua prática e seus saberes.
 Saiba mais
O significado dessas mudanças pode ficar mais claro quando observamos 
os dados do Ministério da Saúde sobre a cobertura de Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS) no País e o número de leitos psiquiátricos. Consulte a 
seguinte publicação:
BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação Geral de Saúde Mental, 
Álcool e Outras Drogas. Saúde mental em dados, Brasília, jun. 2009. ano 
IV, n. 6. Disponível em: <http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/
smdados/2008_smd_06.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.
2.2 A psiquiatria brasileira no início do século XXI
O século atual é marcado por legislações que solidificam a reforma psiquiátrica, como veremos a seguir.
A Portaria GM/MS nº 106/2000 criou as residências terapêuticas, e em 6 de abril de 2001, foi sancionada 
a Lei nº 10.216, “que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais 
e redireciona o modelo assistencial em saúde mental” (BRASIL, 2001).
A Terceira Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em 2001 e denominada “Cuidar sim, 
excluir não”, reforçou a rede de atenção integral em saúde mental, a inclusão social e a desmistificação 
(STEFANELLI; FUKUDA; ARANTES, 2008).
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CUIDADOS A PESSOA E FAMÍLIA NA SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
Em decorrência da instituição da mencionada lei, houve a necessidade de atualização da Portaria 
nº 224 do Ministério da Saúde, que publicou a Portaria nº 336/2002, classificando os CAPS em 
CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi (infantil) e CAPSad (álcool e drogas), de acordo com a complexidade, 
abrangência e características do território, definindo tais serviços como ambulatoriais de atenção 
diária e possibilitando o crescimento da rede substitutiva (BRASIL, 2004).
Criou-se também a Portaria SAS/MS nº 345/2002, que estabeleceu um protocolo único e as diretrizes 
terapêuticas para o tratamento da esquizofrenia refratária.
No mesmo ano, instituiu-se o Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares 
(PNASH/Psiquiátricos), um dos instrumentos de gestão criados para reestruturar a assistência 
hospitalar psiquiátrica. No PNASH/Psiquiátricos a avaliação passou a contar com dois 
componentes: a técnica (saúde mental e vigilância sanitária) e os usuários (pesquisa de satisfação). 
O programa realizou vistorias de 2002 a 2007, com resultados alarmantes e um cenário geral de 
grande precariedade assistencial, pois 71% dos hospitais não foram bem avaliados na questão 
dos recursos humanos (LOYOLA; PORTO; ROCHA, 2009).
Em 2003, instaurou-se a Lei nº 10.708 sobre o auxílio-reabilitação psicossocial para pacientes com 
transtornos mentais, egressos de internações. Conhecida como “Lei do Programa de Volta para a Casa”, 
estabeleceu um novo patamar na história do processo da reforma psiquiátrica brasileira, impulsionando 
a desinstitucionalização de pacientes com longo tempo de permanência em hospitais psiquiátricos pela 
concessão de auxílio-reabilitação psicossocial e inclusão em programas extra-hospitalares de atenção 
em saúde mental (BERLINCK; MAGTAZ; TEIXEIRA, 2008).
Foi publicada a Portaria GM nº 1.612/2005, que preconizou a criação de leitos em hospitais-gerais, 
nos quais se pretendia que ocorressem os atendimentos de crises. Passada a crise, os usuários 
deveriam ser assistidos na rede de saúde local, sob responsabilidade dos CAPSad, pois a política 
de assistência aos dependentes de álcool e outras drogas reiterou igualmente a necessidade 
de tratar as pessoas sem excluí-las da comunidade, ou seja, sem interná-las além do período 
mínimo necessário para atender à situação clínica, quando grave, derivada da abstinência ou da 
dependência (BRASIL, 2005).
A Lei 11.343/2006, por sua vez, supriu a pena de prisão para os usuários de drogas, garantindo o 
direito dessas pessoas. Dados obtidos em junho de 2009 estimaram a qualidade da cobertura em saúde 
mental, concluindo que seis estados já tinham cobertura “muito boa” e 11 apresentavam cobertura 
“boa”; atualmente 25 estados já contam com CAPSad.
Em 2009, o País possuía 1.394 CAPS e, em funcionamento, 533 serviços residenciais terapêuticos, 
208 hospitais psiquiátricos e 35.426 leitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), numa relação de 0,189 
leito/1.000 habitantes. Eram 415 hospitais-gerais com leitos psiquiátricos, com quase 46% dos leitos 
disponíveis em hospitais de pequeno porte (BRASIL, 2009).
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Unidade I3 PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA
3.1 Prática assistencial ao portador de transtorno mental
Durante muito tempo, a prática assistencial ao portador de transtorno mental constituiu-se como 
asilar no Brasil, sendo questionada pelo processo de ensino-aprendizagem. A disciplina de enfermagem 
psiquiátrica tornou-se obrigatória nos currículos das escolas de enfermagem a partir dos anos 1950.
Como vimos anteriormente, o Hospício Pedro II, ao ser transferido para o controle do Estado, com o 
nome de Hospício Nacional de Alienados, proporcionou a criação da Escola Profissional de Enfermeiros 
e Enfermeiras, pelo Decreto nº 791, fato que marcou o início oficial da profissão no País.
A instituição capacitou mão de obra para atuação no serviço de enfermagem de hospícios, bem 
como de hospitais civis e militares. Tal ensino passou a ser difundido, incialmente, como um curso de 
dois anos, em cuja admissão o candidato deveria contar com idade mínima de 14 anos, apresentar boa 
leitura, escrita e conhecimento elementar de aritmética, além de atestado de bons costumes. As aulas 
eram ministradas três vezes por semana e lecionadas pelos “internos e inspetoras, sob a fiscalização do 
médico da superintendência do diretor-geral” (MELO, 1986; SILVA; SILVA JÚNIOR, 2006; CARVALHO,1972). 
A formação consistia na aquisição de noções práticas de propedêutica clínica, anatomia, fisiologia, 
higiene hospitalar, curativos, pequenas cirurgias, cuidados especiais para certas categorias de enfermos, 
aplicações balneoterápicas, noções gerais de administração interna e escrituração do serviço sanitário e 
econômico das enfermarias (MELO, 1986; SILVA; SILVA JÚNIOR, 2006; CARVALHO,1972).
Os alunos podiam ser submetidos a regime interno ou externo, tinham direito ao alojamento, à 
alimentação e a uma gratificação de 20$ (réis) mensais, no primeiro ano, e de 25$ (réis) no segundo, 
devendo, entretanto, ajudar os empregados no serviço hospitalar, recebendo bonificação ao se 
destacarem em exames presenciados pelo diretor-geral (SILVA; SILVA JÚNIOR, 2006).
A Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras promovia a instrução e a profissionalização 
de mulheres pobres. Disso decorriam algumas vantagens: a incorporação e o disciplinamento de um 
segmento da população excluído e considerado inseguro (os setores abandonados, em especial), a 
subordinação garantida deste aos médicos, evitando conflitos como os anteriormente enfrentados pelas 
religiosas, e o estabelecimento do hospício como instrumento do médico para intervenção, sob sua 
direção. A opção pelo modelo francês, portanto, não foi casual nem ocorreu por desconhecimento de 
outros padrões. Tal processo se deu similarmente em Porto Alegre, no Hospital São Pedro, enquanto 
em outros locais não houve sequer formação especializada, com essa capacitação sendo adquirida no 
próprio andamento do trabalho (OLIVEIRA; ALESSI, 2003).
A motivação do pessoal da enfermagem para o trabalho nos estabelecimentos psiquiátricos do Rio 
de Janeiro e a rigidez no ingresso na Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras transformaram 
a enfermagem em profissão, que passou a adquirir valorização social, tornando-se uma alternativa de 
profissionalização, principalmente para as mulheres carentes. Para estas, o trabalho de enfermagem, 
embora manual, significou uma possibilidade de ascensão social, cuja realização exige uma formação 
específica. Para as alunas da Escola Alfredo Pinto (denominação posterior da Escola Profissional de 
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Enfermeiros e Enfermeiras), a profissão de enfermeira foi uma oportunidade de galgar degraus na 
escada da hierarquia das ocupações femininas (OLIVEIRA; ALESSI, 2003).
Ressalta-se que os pré-requisitos na seleção dos alunos da Escola Profissional de Enfermeiros 
e Enfermeiras eram muito rigorosos para a época, dado o alto índice de analfabetismo naquele 
momento histórico. A exigência de atestados de bons costumes, firmados por pessoa idônea, 
comprovou a preocupação na formação de profissionais com uma boa imagem perante a sociedade 
(SILVA; SILVA JÚNIOR, 2006).
No Brasil, o ensino da enfermagem psiquiátrica e da saúde mental passou por inúmeras transformações, 
em particular no século XIX, graças ao acompanhamento das modalidades de tratamento e de intervenções. 
Até o final do citado século, o ensino era voltado, basicamente, ao modelo hospitalocêntrico, e só a partir 
da passagem para os anos 2000 notaram-se a tendência da inserção do processo de ensino-aprendizagem 
nos demais campos de assistência ao portador de transtorno mental e, em especial, a inclusão dos serviços 
extra-hospitalares como conteúdo programático em campos de estágio.
 Lembrete
As transformações vivenciadas pela enfermagem psiquiátrica refletiram 
no processo ensino-aprendizagem.
3.2 A evolução histórica do processo de ensino-aprendizagem para os 
níveis médio e superior
Podemos citar que o ensino da enfermagem voltado à saúde mental e psiquiátrica, como reprodutor 
do modelo de assistência asilar, ocorreu de forma não sistematizada, na primeira metade do século XX, 
em que apenas determinadas escolas de enfermagem incluíram tal disciplina no programa curricular.
O trabalho na enfermagem psiquiátrica, em seus meios e instrumentos, apresentava uma escassez 
de equipamentos para o profissional, conquanto exigisse muito do conhecimento na formação e na 
atualização dos recursos humanos, bem como da organização e divisão do trabalho. Os movimentos 
histórico-sociais que influenciaram o atendimento ao portador de transtorno mental atingiram 
significativamente a prática da enfermagem, que foi se transformando ao longo de todo o período.
Não havia conhecimento ou ensino que orientasse a prática desses “enfermeiros”. O conhecimento 
que tinham sobre os alienados era o do senso comum: vistos como ameaçadores, eram merecedores de 
reclusão. O ensino da enfermagem, desde seus primórdios, deu-se em moldes asilares, com ênfase no 
confinamento e na vigilância, legitimando, assim, a destinação social do hospital psiquiátrico (BARROS; 
EGRY, 2001).
Em 1923, foi inaugurada a Escola de Enfermagem Anna Nery, no Rio de Janeiro, o que proporcionou 
a institucionalização do ensino da profissão no País, embora adotasse o modelo nightingaliano, que não 
oferecia mérito à prática da enfermagem psiquiátrica.
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Esse dado, aparentemente insignificante, influenciou diretamente o ensino e, posteriormente, a 
atuação da enfermagem psiquiátrica, pois até os dias atuais há profissionais de saúde e de enfermagem 
que desmerecem o conteúdo do ensino da enfermagem psiquiátrica para os níveis médio e superior.
As escolas de enfermagem surgiram em virtude da necessidade de “docilizar” os corpos docentes 
mentais, com os quais, até então, as enfermeiras aprendiam a praticar a vigilância, o isolamento e a 
reprodução do modelo organicista. Foi somente no fim da década de 1940 e começo da de 1950 que 
surgiram os primeiros estudos enfatizando a importância do conhecimento científico da Psicologia, 
da Psiquiatria e do relacionamento enfermeira-paciente, acenando com a possibilidade futura da 
formulação de teorias próprias da enfermagem psiquiátrica (SOARES; BUENO, 2005).
Em 1949, foi promulgada a Lei nº 775, que especificou o ensino da enfermagem, sendo regulamentada 
pelo Decreto nº 27.426/1949, que ampliou o currículo em sua parte teórica incluindo novas 29 disciplinas, 
entre as quais se destaca, no art. 5°: Enfermagem e Clínica Neurológica e Psiquiátrica; bem como a 
adoção do estágio obrigatório (GROSS; CASAGRANDE,1987).No fim dos anos 1950, a situação da assistência psiquiátrica era caótica, com deficiência quantitativa 
e qualitativa de profissionais, superlotação das instituições e um modelo que não acompanhava os 
progressos ocorridos na Europa e nos EUA (STEFANELLI; FUKUDA; ARANTES, 2008).
O relacionamento terapêutico enfermeira-paciente foi o primeiro modelo teórico sistematizado para 
a enfermagem psiquiátrica desenvolvido pela enfermeira americana Hildegard Peplau, na década de 
1950. Seu pressuposto foi o respeito mútuo entre enfermeira e assistidos, modelo que exerceu grande 
influência no ensino da enfermagem psiquiátrica brasileira (CAMPOS; BARROS, 2000).
Figura 1 – Enfermeira americana Hildegard E. Peplau (1909-1990).
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Essa dinâmica se constitui, ao longo da história, como um saber-fazer da enfermagem psiquiátrica, 
na busca contínua da humanização do atendimento ao portador de sofrimento psíquico. Criou-se um 
contrato de envolvimento entre terapeuta e paciente/família que particularizava nuanças, permitia 
reconhecer as singularidades de cada ser humano, suas relações sociais, perspectivas, fragilidades e 
viabilidades, bem como possibilitava o resgate da autoconfiança, da autovalorização e da reinserção no 
mundo externo (KANTORSKI et al., 2005).
A situação da graduação em enfermagem psiquiátrica, em Escolas de Enfermagem no País nos anos 
1960, era deficitária; embora a disciplina fizesse parte do currículo de todas as 33 escolas de enfermagem 
existentes, em quatro delas o curso era apenas teórico. A situação do ensino nos cursos para auxiliares 
de enfermagem não era muito diferente: a maioria (58%) dos cinquenta cursos existentes não incluía a 
enfermagem psiquiátrica em sua grade curricular (MINZONI, 1966).
Em 1961, expirou o prazo para a admissão de candidatos com escolaridade apenas de primeiro grau. A 
vigência da obrigatoriedade do segundo grau completo como requisito de admissão posicionou, definitivamente, 
as escolas de enfermagem no nível superior. Isso coincidiu com a determinação de currículos mínimos para os 
cursos superiores pelo Conselho Federal de Educação (CFE). O Parecer CFE nº 271/1962 fixou o de enfermagem, 
estabelecendo oito matérias obrigatórias, dentre as quais a enfermagem psiquiátrica (CARVALHO,1972).
Na metade da década de 1960, criaram-se os primeiros cursos de pós-graduação, objetivando a 
especialização de enfermeiros nas áreas assistenciais, inclusive a da psiquiatria (TAVARES,1997).
Ainda nessa década, os objetivos dos programas de ensino de enfermagem psiquiátrica foram 
direcionados ao desenvolvimento de habilidades para prestação de assistência de enfermagem 
psiquiátrica, com enfoque no homem como ser biológico. Somente em 1969 surgiu uma preocupação 
com programas que dessem ênfase ao relacionamento terapêutico (PEREIRA; LABATE; FARIAS, 1998).
Em 1970, o ensino da enfermagem psiquiátrica passou a ser chamado, em algumas instituições, 
de ensino de enfermagem na área da saúde mental, sofrendo certas mudanças em suas características 
tradicionais, passando a abordar aspectos da relação familiar, técnicas grupais e relacionamento 
interpessoal. O relacionamento terapêutico enfermeira-paciente tornou-se a base do ensino da 
assistência de enfermagem (BARROS; EGRY, 2001).
Na mesma época surgiram no Rio de Janeiro e em São Paulo os primeiros cursos de pós-graduação 
stricto sensu e lato sensu, voltados para a área de enfermagem psiquiátrica (GROSS; CASAGRANDE, 1987).
Em 1977, a Resolução n° 7, do Conselho Federal de Educação, instituiu a habilitação do técnico 
e do auxiliar de enfermagem no nível de segundo grau e dispôs que o currículo mínimo de matérias 
profissionalizantes deveria conter a disciplina de Enfermagem Neuropsiquiátrica.
Na década de 1970 (e até hoje), conteúdos como a relação interpessoal e a comunicação 
mantiveram-se nos currículos, tanto quanto noções de preventivismo de Caplan, de saúde mental, de 
crises acidentais e do desenvolvimento. Na década seguinte, iniciaram-se discussões sobre a reforma 
psiquiátrica (SOUZA; ALENCASTRE, 1999).
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Atualmente, observamos o predomínio, tanto na assistência quanto no ensino, de práticas asilares, 
que têm um avanço no conteúdo teórico, contemplando a reforma psiquiátrica e a reabilitação 
psicossocial. Os estágios, no entanto, seguem sendo realizados em instituições asilares.
O ensino de enfermagem psiquiátrica e de saúde mental nos anos 1990 foi influenciado pelas diretrizes 
da Reforma Psiquiátrica e pela transformação nacional de assistência à saúde mental, direcionando-se 
esforços para a qualificação profissional (LUCCHESE, 2005).
Os conteúdos abordados na disciplina de enfermagem psiquiátrica, saúde mental, álcool e outras 
drogas consideram, atualmente, questões referentes à história da enfermagem psiquiátrica e seus 
desdobramentos na formação do profissional, passando pela reforma psiquiátrica e pela influência no 
modo de compreender a saúde e a doença mental como um processo, até as questões ligadas à clínica, 
à prática e aos referenciais teóricos (REINALDO; PILLON, 2007).
A seguir, destaca-se o que é necessário para manter a enfermagem em saúde mental e psiquiátrica 
no mesmo patamar das outras especialidades de enfermagem (VARCAROLIS; CARSON; SHOEMAKER, 
2006; STEFANELLI, 2005; TOWNSEND, 2012) ou na vanguarda destas, como já foi no passado.
• Trabalhar em equipe interdisciplinar com respeito mútuo em relação ao fulcro do papel de cada 
profissional, considerando a coerência e a complementaridade dos seus papéis, que coexistem nos 
diferentes níveis de assistência.
• Zelar pela qualificação do enfermeiro.
• Manter-se em processo de atualização contínua do conhecimento específico da área. Para tal, 
adquirir ou desenvolver o hábito de manter-se atualizado, ou seja, o hábito de leitura da produção 
científica na área e, também, sobre cultura geral.
• Lutar pela extinção de instituições que primam em continuar a ser “depósito” de pessoas 
com transtorno mental, em prol de cuidado humanitário e competente, acreditando no 
potencial do outro.
Agora, cabe relembrar alguns conceitos a respeito da saúde e doença mental.
Saúde mental é o estado de funcionamento harmônico que as pessoas desenvolvem e mantêm a fim 
de viver em sociedade, em constante interação com seus semelhantes e meio ambiente, valendo-se de 
sua capacidade para descobrir e potencializar suas aspirações e possibilidades e, inclusive, de provocar 
mudanças, quando estas são necessárias, face à diversidade do mundo em que vivem, sendo, porém, 
capazes de reconhecerem suas limitações (OMS, 2001).
Doença mental é o estado que surge quando as pessoas não conseguem desenvolver ou manter-se 
em funcionamento harmônico para viver com seu grupo cultural ou em sociedade, não conseguindo 
transformar suas possibilidades em realidade (OMS, 2001).
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CUIDADOS A PESSOA E FAMÍLIA NA SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
4 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS NA ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL E 
PSIQUIATRIA
As(os) enfermeiras(os) deparam-se constantemente com o desafio de tomarem decisões difíceis 
relacionadas com o bem e o mal ou com a vida e a morte. Com frequência, surgem situações complexas 
nos cuidados de indivíduos com doença mental, e estes profissionais têm de se manter no nível mais alto 
de princípios legais e éticos na prática profissional.
4.1 Breve contexto internacional
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com oConselho Internacional de 
Enfermeiros, propôs, em 2007, um atlas denominado “Enfermeiros em saúde mental”. De acordo 
com esse atlas, reconhece-se que o cuidado em enfermagem em saúde mental é parte integrante 
e fundamental na assistência à saúde. Sendo o enfermeiro o líder da equipe de enfermagem e 
responsável principal por assegurar cuidados à saúde mental, deve ser habilitado para contribuir 
efetivamente nesses serviços. Entretanto, no levantamento incluído nesse atlas, constatou-se que 
nos países de baixo ou médio desenvolvimento (em termos de produto interno bruto) não existe 
número adequado de profissionais e que em sua formação não eram incluídos os conhecimentos 
necessários e habilidades para a assistência em saúde mental e psiquiátrica. O achado mais 
consistente nesse trabalho foi a grave insuficiência de enfermeiros em saúde mental, nos países 
em desenvolvimento, de nível baixo ou médio, em termos de produto interno bruto (OGUISSO; 
SCHMIDT, 2007).
Nessa área, a tecnologia mais refinada refere-se àquela pertinente ao próprio profissional e que pode 
ser representada, dentre outras, pelas habilidades de compreensão, aceitação, respeito, comunicação e 
relacionamento interpessoal.
O enfermeiro em saúde mental tem papel extremamente relevante não só na assistência 
efetiva às pessoas portadoras de transtornos mentais, como também na salvaguarda dos seus 
direitos aos tratamentos nas instituições e, até mesmo, no contexto social em que vivem. A própria 
OMS apresenta, na mencionada publicação, três recomendações dirigidas aos países-membros, 
referentes a essa temática:
• Reconhecer enfermeiros como recurso humano essencial à assistência em saúde mental.
• Assegurar que um número adequado de enfermeiros capacitados seja disponibilizado para a 
provisão de cuidados em saúde mental.
• Incorporar o componente sobre saúde mental nos programas de formação e de aperfeiçoamento 
para enfermeiros e todos os profissionais de enfermagem, até mesmo aqueles que irão atuar em 
instituições de serviços gerais, e não apenas especializados em saúde mental.
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4.2 Princípios básicos e direitos do portador de transtorno mental
Há mais de uma década, a Organização Mundial da Saúde propugnou uma Carta de Princípios para 
fundamentar as ações de governos e parlamentares, além de regulamentar a legislação sobre saúde 
mental e proteger os direitos de pessoas acometidas por transtornos mentais. Passamos a destacar 
alguns desses princípios básicos e direitos.
O respeito pelos valores individuais, sociais, culturais, étnicos, religiosos e filosóficos, e as necessidades 
individuais das pessoas afetadas por problemas mentais devem ser efetivamente considerados.
A assistência e o tratamento devem ser providos em ambientes com menor restrição pessoal possível. 
Para isso, a internação involuntária deve ser o recurso final e o último a ser utilizado, devendo ser 
claramente definidos: as condições e circunstâncias em que pode ocorrer, os procedimentos a serem 
usados, a obrigação de dar alta quando cessarem aquelas condições e circunstâncias e uma reavaliação, 
independentemente de decisões tomadas sobre a internação involuntária.
A assistência e o tratamento devem promover a autodeterminação e a responsabilidade de cada 
indivíduo. Para tanto, as pessoas devem ter a oportunidade de escolher e tomar decisões sobre o tipo de 
assistência e tratamento que devem receber.
A legislação deve, por fim, assegurar que o tratamento somente será imposto em casos muito 
limitados e em circunstâncias claramente definidas e sempre como última alternativa. Se as pessoas 
estiverem inabilitadas a tomar decisão por si, os passos subsequentes deverão ser seguidos para atender 
seus possíveis desejos e sentimentos.
A provisão de cuidados e tratamentos será oferecida para que a pessoa possa atingir seu mais 
alto nível de saúde e bem-estar. Além disso, no tocante a qualidade e continuidade da assistência, 
esse princípio engloba a questão do direito ao tratamento, o que pressupõe ambiente seguro, em que 
as únicas restrições sejam a proteção da saúde e segurança, ou a segurança de terceiros. Não deve 
haver restrições para o paciente contatar amigos e parentes, exceto em raras situações bem definidas, e 
deve-se garantir a salvaguarda contra abusos, exploração e negligências.
 Lembrete
Por meio da Carta de Princípios, a OMS estabeleceu que os portadores 
de transtorno mental têm o direito à preservação e ao respeito de seus 
valores individuais, sociais, culturais, étnicos, religiosos e filosóficos.
Apesar de se reconhecer que o processo de tomada de decisão é complexo e que nem sempre o 
paciente, mesmo de doença física, pode escolher e tomar uma decisão correta sobre o tipo de assistência 
e tratamento sem o aconselhamento profissional, é de se supor que a dificuldade para o portador de 
transtorno mental seja maior (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). Entretanto, em qualquer situação, o profissional 
de saúde tem a obrigação de informar, de forma clara e compreensível, no nível de entendimento da 
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CUIDADOS A PESSOA E FAMÍLIA NA SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA
pessoa, sem jamais decidir por ela ou por seu responsável legal. Por vezes, havendo litígio ou conflito 
de interesses (inclusive de familiares e/ou responsáveis legais), o Estado, por meio do Ministério Público, 
é chamado a se manifestar, suprimindo a vontade da pessoa que está, temporária ou definitivamente, 
incapaz de fazê-lo ou de tomar decisão por conta própria, manifestando sua anuência ou não aceitação 
quanto à assistência proposta.
Aos familiares e/ou responsáveis legais deve ser assegurado o direito de se manifestarem em situações 
em que o paciente esteja impossibilitado de decidir.
 Saiba mais
Para melhor conhecer o papel do enfermeiro em saúde mental e 
psiquiátrica, consulte a seguinte publicação do Ministério da Saúde:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde 
mental e atenção básica: o vínculo e o diálogo necessários. Brasília, 
2003. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/
imagem/1734.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2017.
 Resumo
Nesta unidade foi possível observar que estamos diante de um dilema 
em face das posições assumidas pelos defensores de diferentes paradigmas 
para a assistência em saúde mental e psiquiátrica. Há de se agregar esforços, 
consideração e respeito aos cidadãos envolvidos nesta área em prol de um 
bem comum.
Com todas as mudanças na área de enfermagem em saúde mental 
e psiquiátrica, abre-se um leque de opções para o seu desenvolvimento 
de modo que os enfermeiros possam lutar por melhor assistência a seus 
assistidos, em todos os níveis de atendimento.
Analisamos, ainda, que é responsabilidade desse profissional oferecer 
cuidado competente àqueles que se encontram carentes de assistência para 
promover, manter ou recuperar sua saúde mental, bem como reintegrá-los 
à comunidade como cidadãos capacitados.
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Unidade I
 Exercícios
Questão 1. Entre os eventos determinantes da Reforma Psiquiátrica, particularmente importante, 
encontra(m)-se:
I – A I Conferência Nacional de Saúde Mental
II – O II Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental
III – A União dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
IV – A Rede de Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS).
Está correto o enunciado:
A) Somente em I.
B) Somente em II.
C) Somente em I e II.
D) Somente em II e IV.
E) Somente em III.
Resposta correta:

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