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@poli.canuto Trombose venosa profunda (TVP) Revisão O sistema venoso periférico apresenta a função de reservatório sanguíneo e, também, serve como um conduto que transporta o sangue da periferia até o coração e pulmões. (SOCESP) As veias são vasos de baixa pressão e com paredes finas, que dependem da ação auxiliar de bombas do músculo esquelético e de alterações nas pressões abdominal e intratorácica, para promover o retorno do sangue ao coração. (PORTH) Quando uma pessoa caminha, a ação dos músculos da perna aumenta o fluxo nas veias profundas e retorna o sangue venoso para o coração Essa função dos músculos da perna (gatrocnêmios e sóleos dos membros inferiores) pode ser comparada à ação de bombeamento do coração, sendo por isso denominada bomba muscular esquelética. . Durante a contração muscular, que é semelhante à sístole, as válvulas nas veias comunicantes se fecham para evitar o fluxo retrógrado do sangue para o sistema superficial, conforme o sangue nas veias profundas é movido adiante pela ação dos músculos que se contraem. Durante o relaxamento muscular, que é semelhante à diástole, as válvulas comunicantes se abrem, possibilitando que o sangue nas veias superficiais se movimente até as veias profundas. (PORTH) O funcionamento adequado das veias depende de um sistema complexo de válvulas que permite o fluxo em um sentido único, além do auxílio do sistema muscular, que contribui para o retorno venoso através da compressão e descompressão muscular sobre as veias (SOCESP) O sistema venoso é dividido em dois: o sistema venoso superficial e o sistema venoso profundo. (SOCESP) As veias do sistema venoso superficial se comunicam, por sua vez, com o sistema venoso profundo através de veias perfurantes (SOCESP) O sistema venoso superficial é formado por veias de menor calibre, suprafasciais, de paredes finas e cercadas por tecido adiposo no tecido celular subcutâneo. Elas são suscetíveis à distensão e dilatação em situações em que seja necessário (veia safena magna e parva) O sistema venoso profundo apresenta veias com paredes mais espessas e menos distensíveis, localizadas subfascialmente, cercadas por estruturas musculares. O sistema venoso profundo dos membros inferiores pode ser dividido em sua porção distal (abaixo do joelho) e proximal (acima do joelho, incluindo a veia poplítea) Introdução Trombose: Um mecanismo de defesa fisiológico do hospedeiro, a hemostasia objetiva a interrupção do sangramento, formando tampões hemostáticos compostos de plaquetas e fibrina nos locais de dano vascular. Em contraste, a trombose reflete um processo patológico associado a trombos intravasculares que obstruem o lúmen de artérias ou veias. (BRAUNWALD) A trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar (EP) são manifestações de uma única entidade denominada tromboembolismo venoso (TEV). (SOCESP) O termo trombose venosa, ou tromboflebite, descreve a presença de trombos em uma veia e a respectiva resposta inflamatória na parede vascular. Os trombos podem se desenvolver em veias superficiais ou profundas. A trombose venosa superficial (TVS) pode ocorrer em qualquer veia superficial e, antigamente, era considerada uma doença benigna. (PORTH) Classificação A TVP nos membros inferiores é dividida, simplificadamente, segundo sua localização: (DIRETRIZES) Proximal - quando acomete veia ilíaca e/ou femoral e/ou poplítea. Distal - quando acomete as veias localizadas abaixo da poplítea Epidemiologia A trombose venosa profunda (TVP) é doença de alta incidência e grave problema de saúde visto a grande morbidade se não reconhecida e tratada de forma eficaz e precoce. (SOCESP) A TVP é um dos problemas médicos mais prevalentes da atualidade, com uma incidência anual de 80 casos a cada 100.000 habitantes. Nos Estados Unidos, mais de 500.000 pessoas apresentam quadro de TVP anualmente, sendo 20% em pacientes hospitalizados e, destas pessoas, 50.000 casos apresentam EP como complicação. (SOCESP) A TVP é a terceira causa de doença vascular mais prevalente no mundo, atingindo 2/1000 indivíduos a cada ano, com taxa de recorrência de 25%. O local mais comum é nos membros inferiores (80-95% dos casos). (DIRETRIZES) Estes números e o fato de a trombose venosa afetar pacientes desde os mais jovens, sem doenças prévias, até os mais idosos faz com que ela constitua um problema sócio-econômico com grandes ônus tanto pelas internações quanto pelo absenteísmo em pacientes em idade produtiva. A TVP tem alta incidência em pacientes hospitalizados, politraumatizados, pós-operados de cirurgias de grande porte, idosos, gestantes pós-parto, portadores de doenças neoplásicas malignas, @poli.canuto inflamatórias, infecciosas e degenerativas e pode levar à morte súbita por embolia pulmonar. A TVP pós-operatória é uma complicação que sempre deve ser considerada e todos os esforços são empregados com o objetivo de se preveni-la. Cascata de coagulação A coagulação consiste em uma cascata complexa de reações enzimáticas na qual cada fator de coagulação ativa várias moléculas do fator seguinte em uma sequência fixa. Por fim, forma-se a proteína insolúvel fibrina. A coagulação pode ser dividida em três estágios: (TORTORA.) Duas vias, chamadas de via extrínseca e intrínseca, levam à formação de protrombinase. Uma vez formada a protrombinase, as etapas envolvidas nas duas fases seguintes da coagulação são as mesmas tanto na via intrínseca quanto na extrínseca e, juntas, essas duas fases são chamadas de via comum. (TORTORA) Via extrínseca que começa com o trauma da parede vascular e dos tecidos vizinhos Via intrínseca que começa no sangue. A protrombinase converte a protrombina (uma proteína plasmática formada pelo fígado) na enzima trombina. (TROMBINA) A trombina converte fibrinogênio solúvel (outra proteína plasmática formada pelo fígado) em fibrina insolúvel. A fibrina forma os filamentos do coágulo. (TORTORA) Via intrínseca Via intrínseca Etiologia e fatores de risco As causas da trombose venosa incluem aquelas associadas à hipercoagulabilidade, que podem ser genéticas ou adquiridas, e os fatores de risco principais, como idade avançada, obesidade ou câncer, que estão associados à imobilidade (BRAUNWALD) Fatores desencadeantes sobrepostos, como cirurgia, gravidez ou tratamento hormonal, modificam esse risco, e a trombose ocorre quando a combinação de forças genéticas, adquiridas e desencadeantes excede um limite crítico (BRAUNWALD) Estados de hipercoagulabilidade hereditários Os estados de hipercoagulabilidade hereditários dividem-se em duas categorias. (BRAUNWALD) Mutações de ganho de função nas vias pró-coagulantes, como o fator V de Leiden, a mutação do gene da protrombina e níveis aumentados das proteínas pró-coagulantes; @poli.canuto Mutações do tipo “perda de função” das proteínas anticoagulantes endógenas, como deficiências da antitrombina, proteína C e proteína S Fator V de Leiden A mutação do fator V de Leiden, presente em torno de 5% das pessoas de raça branca, é a trombofilia hereditária mais comum (BRAUNWALD) Causada por uma mutação pontual no gene do fator V, o defeito resulta na síntese de uma molécula do fator V com um resíduo Gln no lugar de um resíduo Arg— um dos três locais no qual a proteína C ativada cliva o fator Va para inativá-lo. Consequentemente, o fator V de Leiden resiste à rápida proteólise e persiste por um período dez vezes mais longo na presença da proteína C ativada do que o fator V nativo (BRAUWALD) Mutação do gene da protrombina A segunda desordem trombofílica mais comum, a mutação do gene da protrombina, reflete uma transição do nucleotídeo G para A. Essa mutação causa elevação dos níveis de protrombina, aumentando a geração de trombina e podendo limitara inativação do fator Va pela proteína C ativada. (BRAUNWALD) Níveis elevados de proteínas pró-coagulantes Níveis elevados de fator VIII e de outros fatores de coagulação, incluindo fibrinogênio, fatores IX e XI, parecem ser fatores de risco independentes para trombose venosa (BRAUNWALD) Deficiência de antitrombina A deficiência adquirida de antitrombina resulta da diminuição de síntese, aumento do consumo ou do clearance. A diminuição de síntese pode ocorrer em pacientes com doença hepática grave, particularmente cirrose, ou naqueles que recebem L-asparaginase (BRAUNWALD) Deficiência da proteína C A proteína C ativada então se dissocia do complexo de ativação e diminui a geração de trombina através da inativação dos fatores Va e VIIIa na superfície da plaqueta ativada (BROUNWALD) A deficiência da proteína C hereditária pode ser causada por uma reduzida síntese de proteína normal ou síntese normal das formas disfuncionais da proteína C A deficiência adquirida da proteína C pode ocorrer por diminuição de sua síntese ou aumento de seu consumo Deficiência da proteína S A proteína S serve como cofator para a proteína C ativada Além disso, a proteína S pode inibir diretamente a ativação da protrombina devido à sua capacidade de se ligar ao fator Va e/ou ao fator Xa, que são componentes do complexo de protrombinase. (BRAUNWALD) A deficiência hereditária da proteína S pode resultar da síntese reduzida da proteína ou da síntese da proteína disfuncional. A deficiência adquirida de proteína S pode ocorrer em razão de redução de síntese, aumento do consumo, perda ou deslocamento da forma livre da proteína S para a forma ligada. Estados de hipercoagubilidade adquiridas Cirurgia e imobilização A cirurgia pode danificar diretamente as veias, e a imobilização após a cirurgia leva à estase nas veias profundas da perna (BRAUNWALD) Idade Predominantemente uma doença de idade mais avançada, o TEV em indivíduos com menos de 50 anos tem uma incidência de 1/10.000 e aumenta em dez vezes a cada década subsequentemente. (BRAUNWALD) Existem vários mecanismos potenciais para o aumento da incidência do TEV com a idade avançada, incluindo a redução da mobilidade, doenças intercorrentes e um endotélio vascular que é menos resistente à trombose. Os níveis de proteínas prócoagulantes também aumentam com a idade. (BRAUWNWALD) Gênero Os homens têm uma taxa de incidência ajustada para idade em torno de 1,2 vez maior do que as mulheres. Apesar de as taxas de incidência serem maiores em mulheres durante os anos reprodutivos, após os 45 anos os homens têm uma incidência maior. (BRAUNWALD) Obesidade Obesidade leva à imobilidade; além disso, o tecido adiposo, particularmente a gordura visceral, expressa citocinas pró- inflamatórias e adipocinas, que podem levar à coagulação pelo aumento dos níveis de proteínas pró-coagulantes ou pelo prejuízo à fibrinólise pela elevação dos níveis de PAI-1 (BRAUNWALD) Câncer Muitos tipos de células tumorais expressam fatores teciduais ou outros fatores pró-coagulantes que podem iniciar a coagulação. (BRAUNWALD) Gravidez O aumento do útero reduz o fluxo sanguíneo venoso das extremidades inferiores. Contudo, este não é o único fator responsável pela estase venosa porque o fluxo sanguíneo das extremidades inferiores começa a diminuir no final do primeiro trimestre, provavelmente como resultado da dilatação venosa induzida por hormônio. (BRAUNWALD) Fatores sistêmicos também contribuem para a hipercoagulabilidade. Então, os níveis de proteínas pró-coagulantes, como fator VIII, fibrinogênio e vWF, aumentam no terceiro trimestre de gestação. Coincidentemente, ocorre a supressão das vias anticoagulantes naturais (BRAUNWALD) Reposição hormonal Os anticoncepcionais atuam no organismo feminino aumentando os fatores de coagulação e reduzindo seus inibidores. Além disso, mulheres usuárias de contraceptivos apresentam de 2 a 6 vezes mais chance de desenvolver a doença em comparação às não usuárias (BRAUNWALD) @poli.canuto Fisiopatologia Rudolf Virchow, no ano de 1856, descreveu a tríade (tríade de Virchow) responsável pela formação da trombose venosa. Estase sanguínea O paciente em repouso fica com a musculatura relaxada, permitindo um maior volume sanguíneo acumulado nos membros inferiores, além da própria dilatação da parede venosa. Estes itens, associados à redução do débito cardíaco no repouso e a não utilização dos mecanismos de retorno venoso da contração da panturrilha, causam uma queda da velocidade de fluxo local e consequente instalação da estase sanguínea local (SOCESP) A diminuição de fluxo causaria uma alteração do fluxo laminar local nas veias, em especial nas válvulas venosas, criando um turbilhonamento de sangue neste local (SOCESP) Este turbilhonamento local nos seios valvulares causando um acúmulo de hemácias e plaquetas que, em condições normais, seria “lavado” pelo fluxo venoso . A estase promovida pelo repouso prolongado é responsável pela ativação da agregação plaquetária e, consequentemente, pela ativação da cascata de coagulação neste local. Este mecanismo causaria uma rede de fibrina que, por sua vez, seria responsável pelo aprisionamento de hemácias nos seios das válvulas venosas e, através da agregação plaquetária local com liberação de ADP e tromboxano A2, causaria progressão da coagulação local e do trombo na luz do vaso (SOCESP) Lesão endotelial A lesão endotelial é trombogênica pela própria ativação da cascata da coagulação. (SOCESP) O endotelio vascular impede a formação de trombos, mantendo o sangue em sua forma líquida através da produção de óxido nítrico (NO), prostaglandina, (prostaciclina), ADP-defosfatase. Essas substâncias impedem a adesão plaquetária local ao inativar os receptores da plaqueta (NO e prostaciclina) e causar quebra do ADP (ADP-defosfatase). Além disso, o endotélio impede a adesão plaquetária, uma vez que constitui uma barreira entre o sangue e a matriz extracelular (SOCESP) O endotélio vascular também evita a coagulação local ao impedir a presença de fatores pró-coagulantes ativados. (SOCESP) O complexo sulfato de heparano-antitrombina III, que inativa moléculas de trombina, fator X ativado (Xa) e fator IX ativado (IXa). A trombomodulina forma um complexo com a trombina após modular sua função e ativa a proteína C que, por sua vez, inativa o fator V ativado (Va) e o fator VIII ativado (VIIIa). O ativador do plasminogênio tecidual (t-PA) converte o plasminogênio em plasmina, uma enzima fibrinolítica responsável pela degradação da fibrina Diversos fatores, como traumas (iatrogênicos ou não), radiação, infecção, drogas, lesões térmicas, citocinas e anticorpos, além de outros, podem ser responsáveis pela lesão do endotélio vascular saudável, causando exposição da matriz extracelular, produção de tromboxano A2 e ADP, adesão e agregação plaquetária, com formação de trombina (que estimula a agregação) e, por sua vez, a ativação da cascata de coagulação, com formação de fibrina através da ativação dos fatores VII, IX e X. (SOCESP) O próprio trauma cirúrgico e a reação inflamatória com leucocitose podem ser suficientes para lesão do endotélio e pela consequente formação de trombos em pacientes pós-operatórios. (SOCESP) Trombofilias A hipercoagulabilidade sanguínea, ou trombofilia pode ser de origem genética ou adquirida (SOCESP) Na origem genética podemos encontrar uma deficiência de fatores que impedem a coagulação, como a antitrombina, a proteína C e a proteína S. Podemos também encontrar resistência à proteína C ativada causada por mutação no fator V, encontrada em 20 a 50% dos pacientes com TVP, sendo a trombofilia mais comum nos pacientes com TEV (SOCESP) Constituem também causas genéticas, alterações no gene da protrombina, que é encontradaem 6 a 18% dos pacientes com TVP, e a hiper-homocisteinemia, que encontra sua origem na mutação do gene da metilenotetra-hidrofolato redutase (MTHFR) (SOCESP,) Além de causas adquiridas, como deficiências de vitamina B12, B6 e folato. Na origem adquirida temos fatores teoricamente temporários como a gravidez, uso de anticoncepcionais orais (em especial os combinados com estrogênio e progestágenos), cirurgias, tabagismo, obesidade e infecções. Temos, também, doenças adquiridas como a síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF), neoplasias, vasculites, poliglobulias e outras (SOCESP.). @poli.canuto Manifestações clínicas Muitas pessoas com trombose venosa são assintomáticas, e até 50% das pessoas com TVP não manifestam sintomas. Provavelmente, a ausência de sinais e sintomas é devida à obstrução apenas parcial da veia ou à presença de circulação colateral (PORTH) Há 3 tipos clínicos: Indeterminado: No tipo indeterminado, o paciente não apresenta qualquer sintoma característico. Geralmente o paciente é acamado, podendo apresentar taquicardia, taquipneia e mal-estar geral Localizado: além dos sintomas gerais, iguais aos do tipo indeterminado, surgem, no local da trombose ou no território drenado pela veia comprometida, dor, edema, alteração da temperatura e da cor da pele e ingurgitamento das veias superficiais. Tromboembólico: No tipo tromboembólico, fragmentos do trombo se desprendem e se alojam no pulmão, ocasionando a embolia pulmonar. Dor: A dor é de intensidade variável e súbita, que piora com a movimentação e melhora com repouso e elevação do membro comprometido. Edema: O edema é o sinal mais característico da trombose venosa aguda, aparecendo na maioria dos casos. Localiza-se na região imediatamente abaixo da trombose, e, quando esta acomete ambas as veias ilíacas ou a veia cava inferior, o edema chega ao períneo, à região glútea e aos membros inferiores Nas primeiras horas após a instalação da trombose, ocorre diminuição da temperatura da pele em virtude de vasoespasmo reflexo; no entanto, com o desaparecimento deste e o desenvolvimento de processo inflamatório no local do trombo há aumento da temperatura no membro ou no local comprometido A alteração de cor mais frequente é a cianose, em razão da estase venosa. Quando ocorre trombose em veias profundas, o retorno venoso passa a ser feito pelas veias superficiais, as quais ficam muito ingurgitadas. Diagnóstico da TVP Escore de wells É um modelo de predição clínica, baseado em sinais e sintomas, fatores de risco e diagnósticos alternativos, estimando a probabilidade pré-teste para TVPEscore de wells (DIRETRIZES) -2 A 0: baixa probabilidade; 1 a 2: média probabilidade > 3: alta probabilidade OBS: O escore de Wells apresenta melhor resultado para avaliação de pacientes jovens sem comorbidades ou história prévia de tromboembolismo venoso, que em outros pacientes. (DIRETRIZES) Anamnese Neste ponto é importante que seja feita a investigação de comorbidades que podem estar relacionadas com o quadro. Nos pacientes idosos devemos suspeitar de uma possível neoplasia associada, e devemos investigar os hábitos alimentares, intestinais, se há acompanhamento urológico e ginecológico adequado, bem como outras alterações que levantem a suspeita de doença maligna. (SOCESP) Nos pacientes jovens é importante que seja pesquisado antecedentes trombóticos na família (componentes genéticos) e, nas pacientes, deve ser questionado histórico de gravidez mal sucedida ou abortos repetidos (SAAF). (SOCESP) É importante também investigar o uso de anticoncepcionais orais combinados ou de terapia de reposição hormonal. (SOCESP) Exame físico O exame físico não deve se restringir somente ao membro acometido, ele deve ser completo, uma vez que pode conter informações importantes para o quadro clínico em geral. (SOCESP) A tireoide e os linfonodos palpáveis podem sugerir processo neoplásico ou infecção. (SOCESP) O sistema cardiorrespiratório pode apresentar alterações consequentes de uma complicação por TEP. (SOCESP) A palpação abdominal pode revelar alterações sugestivas de doença inflamatória ou maligna. (SOCESP) O membro acometido é, em geral, o membro inferior. Ao examiná- lo devemos, avaliar a perfusão distal com tempo de enchimento capilar, pulsos e, se possível, avaliação de fluxo com Doppler contínuo. (SOCESP) O edema é geralmente importante, unilateral, variando de acordo com a extensão da trombose e pode ser avaliado comparando-o ao membro contralateral com a medida da circunfência da perna. O edema ocorre tanto no tecido celular subcutâneo, como na musculatura, o que causa um edema depressível (sinal de Godet) e empastamento da musculatura da panturrilha ao palpá-la com o paciente em decúbito dorsal e membro em semiflexão (sinal da bandeira). O paciente também pode apresentar dor à palpação da panturrilha (sinal de Bancroft) e ao realizar a dorsoflexão forçada do tornozelo com o joelho estendido (sinal de Homans). Sinal de Homans – caracterizado por dor ou desconforto na panturrilha após dorsiflexão passiva do pé @poli.canuto Sinal da Bandeira – menor mobilidade da panturrilha quando comparada com o outro membro. Sinal de bandeira Sinal de Bancroft – dor à palpação da panturrilha contra estrutura óssea. Exames complementares Exame laboratorial – D-dímero Na presença de trombose, a plasmina circulante quebra a fibrina insolúvel e um dos produtos de degradação dela é o dímero D. Apresenta alta sensibilidade, mas pouca especificidade para o diagnóstico da TVP. (SOCESP) Pacientes acamados, com traumas ou no pós operatório, geralmente apresentam um D-dímero positivo, e isso não confirma a presença de trombose. (SOCESP) Exames de imagem Flebografia: É considerado o exame padrão-ouro. É realizado com contraste e indicado apenas quando os outros testes são incapazes de definir o diagnóstico, pois possui custo elevado, risco de reações adversas ao contraste, é desconfortável para o paciente e contraindicado para pacientes com insuficiência renal. (SOCESP) Ultrassom venoso (US) hoje é, sem dúvida, o método de escolha na maioria dos casos de suspeita clínica de TVP. Este método é não invasivo, praticamente sem contraindicações, disponível na maioria dos hospitais de referência e, apesar de ser examinador dependente, não apresenta dificuldade técnica para um médico treinado em ecografia vascular. Mostram as estruturas anatômicas e os vasos do tecido celular subcutâneo e abaixo da fáscia muscular. Uma vez ajustada a profundidade e o foco, é realizada compressão leve sobre a veia a ser examinada. Caso esta veia não esteja compressível, identificamos conteúdo sólido em seu interior e o diagnóstico de TVP é feito. (SOCESP) Angiografia: A angiotomografia é um método parcialmente invasivo devido à necessidade de uso de contraste intravenoso, e apresenta suas desvantagens por ter um custo elevado, uso de contraste (contraindicados em pacientes com alteração de função renal e histórico de alergia à iodo) e a exposição à radiação. As vantagens do método são que ele possibilita melhor avaliação de veias abdominais e torácicas, como as veias ilíacas, cava, supra- hepáticas etc. Tratamento farmacológico Medicamentos antiplaquetários Ácido acetilsalicílico O agente antiplaquetário mais amplamente usado no mundo é o ácido acetilsalicílico. Visto que é um fármaco pouco dispendioso e efetivo, o ácido acetilsalicílico serve como alicerce da maioria das estratégias antiplaquetárias. (BRAUNWALD) O ácido acetilsalicílico produz seu efeito antiplaquetário acetilando irreversivelmente e inibindo a COX-1 plaquetária, uma enzima fundamental na biossíntese de trombaxano A2 (BRAUNWALD) Em elevadas doses (em torno de 1 g/dia), o ácido acetilsalicílico também inibe a COX-2, uma isoforma daCOX induzível encontrada em células endoteliais e em células inflamatórias. Em células endoteliais, a COX-2 inicia a síntese de prostacilina, um potente vasodilatador e inibidor da ativação plaquetária que antagoniza os efeitos do tromboxano A2 (BRAUNWALD) Os efeitos colaterais mais comuns são gastrointestinais e variam de dispepsia a gastrite erosiva ou úlcera péptica com sangramento e perfuração. (BRAUNWALD) Medicamento anticoagulantes Existem anticoagulantes orais e parenterais. (BRAUNWALD) Atualmente, os anticoagulantes parenterais disponíveis são a heparina, a HBPM e o fondaparinux, um pentassacarídeo sintético. Os anticoagulantes orais atualmente disponíveis incluem a varfarina; o etexilato de dabigatrana, um inibidor oral da trombina; a rivaroxabana e a apixabana, inibidores orais do fator Xa (BRAUNWALD) Heparina A heparina atua como um anticoagulante ao se ligar à antitrombina III e inativar a trombina, o fator IXa e o fator Xa, podendo ser usada de maneira subcutânea e endovenosa. (SOESP) A heparina tem a vantagem de não atravessar a barreira placentária ou ter efeito no leite materno, constituindo, deste modo, o tratamento de escolha na TVP gestacional (SOCESP) O efeito colateral mais comum da heparina é o sangramento. Outras complicações incluem trombocitopenia, osteoporose e níveis elevados de transaminases. (SOCESP) Medicamentos fibrinolíticos Dentre os agentes fibrinolíticos disponíveis, estreptoquinase e ativador tecidual de plasminogênio são os mais usados para lisar trombos recentes @poli.canuto Todos esses agentes agem convertendo a pró-enzima, plasminogênio, em plasmina, a enzima ativa. (BRAUNWALD) Existem dois pools de plasminogênio: o plasminogênio circulante e o plasminogênio ligado à fibrina Os ativadores do plasminogênio que preferencialmente ativam o plasminogênio ligado à fibrina são fibrino- específicos. (BRAUNWALD) Em contrapartida, os ativadores não específicos do plasminogênio não discriminam o plasminogênio ligado à fibrina do circulante. (BRAUNWALD) A ativação do plasminogênio circulante resulta na geração de plasmina, que pode desencadear um estado lítico sistêmico. (BRAUNWALD) Os ativadores de plasminogênio com pequena ou sem afinidade pela fibrina não distinguem entre o plasminogênio ligado à fibrina e o circulante. A ativação do plasminogênio circulante resulta em plasminemia sistêmica e subsequente degradação do fibrinogênio e outros fatores de coagulação. (BRAUNWALD) Complicações da TVP As principais complicações decorrentes dessa doença são: insuficiência venosa crônica/síndrome pós-trombótica (edema e/ou dor em membros inferiores, mudança na pigmentação, ulcerações na pele) e embolia pulmonar (EP). (DIRETRIZES) Tromboembolismo pulmonar A embolia pulmonar se desenvolve quando uma substância transmitida pelo sangue se aloja em um ramo da artéria pulmonar e obstrui o fluxo sanguíneo. (PORTH) A embolia pode consistir em um trombo, ar acidentalmente injetado durante uma infusão intravenosa, gordura mobilizada a partir da medula óssea por ocasião de uma fratura ou a partir de um depósito traumático de gordura, ou líquido amniótico que entrou na circulação materna com a ruptura das membranas no momento do parto. (PORTH) Etiologia e fisiopatologia Embolias pulmonares resultam de trombos que geralmente ocorrem a partir de trombose venosa profunda (TVP) nos membros inferiores ou superiores. (PORTH) Quanto mais proximal o trombo estiver nas veias profundas da perna, mais provável é a sua embolização e a ocorrência de embolia pulmonar aguda (BRAUNWALD) A trombose nas veias profundas das pernas ou da pelve muitas vezes permanece insuspeita até o evento de uma embolia. Os efeitos da embolia na circulação pulmonar estão relacionados com a obstrução mecânica da circulação pulmonar e os reflexos neuro- humorais que causam vasoconstrição. (PORTH) Quando os trombos venosos se separam dos seus locais de formação, eles viajam através do sistema venoso em direção à veia cava. Eles atravessam o átrio direito e o ventrículo direito e, em seguida, entram na circulação arterial pulmonar (PORTH) A obstrução do fluxo sanguíneo pulmonar provoca broncoconstrição reflexa na área afetada do pulmão, perda de ventilação, comprometimento das trocas gasosas e perda de surfactante alveolar. (PORTH) Podem se desenvolver hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca direita quando sucede vasoconstrição maciça por causa de um grande êmbolo. Embora possam ser observadas pequenas áreas de infarto, é incomum um infarto pulmonar total. (PORTH) Manifestações clínicas Dor no tórax, dispneia e aumento da frequência respiratória são os sinais e sintomas mais frequentes de embolia pulmonar. (PORTH) Um infarto pulmonar muitas vezes causa uma dor pleurítica que muda com a respiração, sendo mais grave na inspiração e mais branda na expiração. (PORTH) Ocorre hipoxemia moderada, sem retenção de dióxido de carbono, como resultado do comprometimento das trocas gasosas. (PORTH) Pequenos êmbolos que se alojam nos ramos periféricos da artéria pulmonar podem passar despercebidos, a não ser quando a pessoa já tem algum comprometimento, como ocorre com idosos ou indivíduos gravemente enfermos. (PORTH) A existência repetida de pequenos êmbolos reduz gradualmente o tamanho do leito capilar pulmonar, o que resulta em hipertensão pulmonar. (PORTH) Pessoas com embolia moderada frequentemente apresentam dificuldade respiratória acompanhada de dor pleurítica, apreensão, febre baixa e tosse produtiva com expectoração de sangue. Muitas vezes se manifesta uma taquicardia para compensar a diminuição da oxigenação e o padrão de respiração é rápido e superficial. (PORTH) Pessoas com embolia maciça geralmente apresentam colapso repentino, dor subesternal no tórax, choque e, às vezes, perda de consciência. O pulso é rápido e fraco, a pressão arterial é baixa, as veias do pescoço se mostram distendidas e a pele se apresenta @poli.canuto cianótica e diaforética. Uma embolia pulmonar maciça frequentemente é fatal. (PORTH) Diagnóstico O diagnóstico clínico é feito com critérios baseados no Escore de Wells que leva em consideração os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença, sem utilização de exames complementares (PORTH) O diagnóstico de embolia pulmonar deve se basear em sinais e sintomas clínicos, determinações de gasometria sanguínea, estudos de trombose venosa, teste da troponina, dímero D, radiografias do pulmão e TC helicoidais do tórax. (PORTH) Uma vez que êmbolos podem causar um aumento da resistência vascular pulmonar, o ECG pode ser usado para detectar sinais de tensão cardíaca direita (PORTH) Ultrassonografia com compreensão do MMII Como a maioria dos êmbolos pulmonares se origina de uma TVP, estudos venosos como ultrassonografia com compressão do membro inferior, pletismografia de impedância e venografia com contraste muitas vezes são utilizados como procedimentos diagnósticos iniciais. (PORTH) Troponina Os níveis de troponina podem se mostrar mais altos, devido ao estiramento do ventrículo direito por um grande infarto pulmonar (PORTH) Teste D-dímero: Os testes com dímero D envolvem a medição da concentração plasmática do dímero D, um produto de degradação de fatores de coagulação que foram ativados como resultado de um evento tromboembólico (PORTH) Cntigrafia de ventilação-perfusão usa albumina radiomarcada, injetada por via intravenosa, e um gás radiomarcado, que é inalado. A câmara (gama) de cintilação é usada para digitalizar os vários segmentos do pulmão para verificar o fluxo sanguíneo e a distribuição do gás radiomarcado. O exame de ventilação-perfusão é útil somente quando os seus resultados são normais ou indicam uma alta probabilidade de embolia pulmonar (PORTH) Angiotomografia computadorizadahelicoidal (espiral) requer a administração de um agente de contraste radiológico por via intravenosa. É sensível para a detecção de êmbolos nas artérias pulmonares proximais e representa outra modalidade de diagnóstico (PORTH) Angiografia pulmonar envolve a passagem de um cateter venoso através do coração direito e na artéria pulmonar sob fluoroscopia. Embora continue sendo o método de diagnóstico de maior precisão, raramente é realizado por ser um procedimento tão invasivo. Por vezes, uma embolectomia é realizada durante esse procedimento. (PORTH) Gasometria arterial pode realizar a gasometria arterial, pois pode haver hipoxemia no TEP em até 80% dos casos, mas as alterações mais frequentes são a alcalose respiratória e a hipocapnia, pelo aumento da frequência respiratória Insuficiência venosa crônica Definição Insuficiência venosa crônica (IVC) pode ser definida como o conjunto de manifestações clínicas causadas pela anormalidade (refluxo, obstrução ou ambos) do sistema venoso periférico (superficial, profundo ou ambos), geralmente acometendo os membros inferiores (DIRETRIZES) É a incapacidade de manutenção do equilíbrio entre o fluxo de sangue arterial que chega ao membro inferior e o fluxo venoso que retorna ao átrio direito, decorrente da incompetência do sistema venoso superficial e/ou profundo. Esta incapacidade acarreta um regime de hipertensão venosa que crônica e tardiamente leva as alterações de pele e subcutâneo características da IVC. (JÚNIOR,2003) Dois mecanismos são importantes no aparecimento da IVC: (JÚNIOR,2003) Obstrução ao fluxo venoso de retorno (trombose venosa profunda) Refluxo do sangue venoso através de um sistema valvular venoso incompetente. Entre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença podemos citar: o aumento da idade, o sexo feminino, o número de gestações, obesidade e histórico familiar. Os dados quanto a participação do fumo, dos contraceptivos orais e da terapia de reposição hormonal na origem da doença venosa permanecem controversos (DIRETRIZES) Epidemiologia Cerca de 10 a 20% da população do mundo desenvolvido possui veias varicosas ou algum grau de insuficiência venosa superficial ou profunda dos membros inferiores (JUNIOR,2003) Nas mulheres, o quadro clínico costuma surgir de forma mais precoce, a partir dos 40 anos, enquanto que na população masculina é mais comum a ocorrência a partir dos 70 anos. Etiologia A causa é multifatorial, incluindo fatores como aumento da pressão venosa hidrostática (p. ex., na permanência em pé por longos períodos), insuficiência das válvulas nas veias, obstruções venosas profundas (p. ex., TVP), diminuição da função das bombas musculares esqueléticas, processos inflamatórios e disfunção endotelial. (PORTH) Fisiopatologia Na IVC a ocorrência de varizes primarias com disfunção da parede venosa, focal ou generalizada, parece causar a insuficiência das válvulas por afastamento de suas cúspides secundariamente a essa dilatação. (DIRETRIZES) A coluna de sangue formada gera uma pressão hidrostática progressivamente maior, que, com ou sem a participação de veias perfurantes insuficientes termina por transmitir-se aos capilares sanguíneos. (DIRETRIZES) @poli.canuto Num primeiro momento, ocorre apenas o aumento da saída de líquido e pequenas proteínas para o espaço extra-vasal. Nesta fase, isto é compensado pela reabsorção dos mesmos pelo próprio capilar durante o repouso, bem como pela capacidade de absorção do sistema linfático o que evita alterações maiores como o edema (DIRETRIZES) Com a continuidade ou piora do quadro de hipertensão venosa, a entrada de líquido e proteínas no interstício ultrapassa a capacidade de captação capilar e linfática ocorrendo o edema (DIRETRIZES) Estas alterações de fluxo sangüíneo causam extravasamento de fluidos e acúmulo pericapilar de depósitos de fibrina (manguitos de fibrina) que alteram o metabolismo entre os compartimentos extra e intravascular. Os capilares encontram-se dilatados, alongados, tortuosos e com as paredes afiladas e o endotélio apresenta superfície irregular e alargamento dos espaços interendoteliais. Pelo prolongado e aumentado extravasamento ocorre alargamento dos espaços pericapilares e edema (JUNIOR,2003) Neste ponto, apesar de ainda não totalmente elucidado se como causa ou consequência, mas de maneira muito importante na fisiopatologia da doença, soma-se ao processo a participação do sistema imunológico. Mediada pelas: (DIRETRIZES) Moléculas de adesão intercelular (ICAM-1); Citoquinas como interleucina (IL-6 e 8) Fator de necrose tumoral (TNFβ), ocorre um estímulo local a resposta inflamatória através de macrófagos e neutrófilos Paradoxalmente, a presença destes fatores determina localmente um aumento da permeabilidade capilar com aumento do extravasamento que agora passa a ser acompanhado de macromoléculas e mesmo de elementos figurados do sangue como as hemácias. (DIRETRIZES) Os fagócitos na tentativa de absorver estes elementos aumentam a produção de grânulos citoplasmáticos contendo radicais livres de oxigênio potencializando ainda mais a resposta inflamatória local (DIRETRIZES) O ambiente tecidual nas regiões mais acometidas começa a se tornar deletério as próprias células e paralelamente a isso o progressivo aumento da pressão no interstício passa a causar a diminuição de fluxo na microcirculação com consequente diminuição de oxigenação e trocas metabólicas. (DIRETRIZES) A lise das hemácias libera hemoglobina que no espaço extracelular é degradada a um subproduto, a hemossiderina, extremamente irritante aos tecidos. (DIRETRIZES) A somatória de hipoperfusão tecidual relativa e agressão celular com depósito de hemossiderina culminam nas características que incluem o eczema de estase com ressecamento, descamação, adelgaçamento e prurido na pele, sinais inequívocos da alteração inflamatória. Uma dermatite “ocre” também é observada sendo o resultado dos depósitos dérmicos e subcutâneos de hemossiderina. (DIRETRIZES) Por fim ocorre um processo de dermatolipoesclerose secundário a grande concentração de líquido e principalmente proteínas que ficaram retidas no interstício celular, levando primeiro ao endurecimento e aumento do poder oncótico intersticial e posterior a fibrose da pele e principalmente do tecido celular subcutâneo. Quando o agravamento da condição tecidual é tal que proporciona a destruição da pele e solução de continuidade com os tecidos mais profundos, a denominada “úlcera de estase” ou “úlcera varicosa”. (DIRETRIZES) OBS: Medindo-se a pressão venosa superficial distal nos membros inferiores de indivíduos normais encontramos valores de aproximadamente 80 a 90mmHg no repouso. Durante o exercício esta pressão decresce, chegando a valores como 30-40mmHg. Já indivíduos que apresentam IVC, apesar da pressão inicial ser idêntica durante o repouso, a mesma diminui significantemente menos (para algo como 70mmHg) ou mesmo aumenta, como na ocorrência de veias perfurantes insuficientes onde a pressão do compartimento muscular pode ser transmitida à superfície (DIRETRIZES) Manifestações clínicas A gravidade da doença tende a se correlacionar com o grau de incompetência das válvulas e da obstrução venosa. Algumas características especiais, decorrentes da hipertensão venosa, devem ser lembradas: (BRITO) A sintomatologia é mais acentuada no final do dia, após a atividade rotineira do dia. Sendo que pela manhã os sintomas são ausentes ou muito discretos. Temperaturas elevadas exarcerbam a sintomatologia, havendo piora no verão; A ação hormonal também influencia no quadro, com maior número de queixas durante o período pré-menstrual e na vigência de tratamento de reposição hormonal ou uso de contraceptivos orais. Câimbras Podem ocorrer em portadoresde insuficiência venosa crônica, à noite, após períodos prolongados de ortostatismo. Podem ser ocasionadas, também, por múltiplos outros fatores, não sendo um sintoma típico. (BRITO) Dor O principal sintoma referido pelos pacientes é o desconforto na região dos membros inferiores, que pode ser referido como dor ou sensação de peso. A dor geralmente é caracterizada como pulsátil ou em queimação, e pode ser generalizada ou localizada em veias específicas. Nos casos mais graves, esse sintoma pode dificultar a deambulação ou até mesmo impedi--la. @poli.canuto A dor da doença venosa costuma piorar quando o paciente se mantém em posição supina por períodos prolongados, e melhora com a elevação dos membros e com a deambulação Edema O edema dos membros inferiores também é um sinal que costuma estar presente nos pacientes sintomáticos, estando relacionado ao refluxo venoso. Nos estágios iniciais, costuma ser unilateral, limitado a região do tornozelo e aparece ao final do dia. Entretanto, com a evolução da doença, o edema pode ser tornar persistente, bilateral, progredindo para a região da panturrilha e permanecer ao longo de todo o dia. Nas mulheres, o inchaço pode ainda piorar durante o período menstrual e durante a gestação. O edema costuma melhorar com a elevação dos membros e com a deambulação, e se exacerbar quando o paciente se mantém em pé por um período de tempo prolongado (PORTH) Fadiga e cansaço A fadiga e o prurido, que são ocasionados pela congestão venosa e pela liberação de histamina devido ao processo inflamatório local Telagiectasias O principal achado são as telangiectasias, que correspondem ao conjunto de vênulas dilatadas com menos de 1 mm de diâmetro, sendo mais comum em mulheres Varizes Quando essas veias dilatadas ultrapassam 3 mm de diâmetro passam a ser chamadas de varizes e costumam ter uma aparência tortuosa Alterações da pele São mais frequentemente encontradas no tornozelo, mas podem progredir para o pé e para a perna. A coloração alterada é devido a presença de hemossiderina, que é resultante da destruição dos glóbulos vermelhos extravasados através dos capilares Seu aparecimento se dá nas áreas em que os efeitos da hipertensão venosa são mais acentuados, ou seja, região maleolar e terço distal da perna, sendo também conhecida por hiperpigmentação em botas ou dermatite ocre. (BRITO) Pode ocorrer também em forma linear sobre trajeto venoso subcutâneo, após episódio de trombose venosa superficial. (BRITO) Dermatite por estase Corresponde a um processo inflamatório que se manifesta como uma erupção cutânea eczematosa caracterizada por sinais como prurido, eritema e descamação. A dermatite por estase é caracterizada pela presença de uma pele fina, brilhante, marrom-azulada, com pigmentação irregular e descamação, sem suporte de tecidos subcutâneos subjacentes. (PORTH) @poli.canuto Lipodermatosclerose Inflamação crônica associada a fibrose do tecido subcutâneo. Geralmente se inicia no tornozelo, mas pode envolver a perna circunferencialmente. A região acometida se apresenta endurecida e a pele é tipicamente pigmentada. Nos estágios mais avançados, a fibrose pode ser tão extensa que estrangula a perna, impedindo o fluxo linfático e venoso. Assim, os pacientes podem apresentar um edema importante acima e abaixo da região fibrosada. A atrofia branca pode surgir espontaneamente e consiste em áreas maculares brancas, indicando perda de fluxo sanguíneo, sendo, portanto, um sinal de gravidade. Úlceras A doença venosa crônica também pode levar a formação de úlceras, que são feridas associadas a um regime de hipertensão venosa. Essas lesões aparecem principalmente nas regiões mais distais da perna, sobretudo a nível do maléolo medial, não surgindo em regiões de antepé e acima do nível do joelho. Elas são caracterizadas por serem indolores, exsudativas, com base de tecido de granulação (bastante hiperemiado), bordas irregulares, mas não comprometidas, e podem ser múltiplas ou únicas. As ulcerações venosas, em geral, não cicatrizam espontaneamente, necessitando, portanto, de tratamento adequado. OBS: As características das úlceras venosas permitem diferenciá-las de outros tipos de úlceras que aparecem nos membros inferiores. Por exemplo, as úlceras arteriais costumam ser dolorosas e aparecem comumente no pé sobre os pontos de pressão. As úlceras diabéticas, por sua vez, costumam ser indolores, apresentam bordas comprometidas e também surgem nas regiões de aumento de pressão, como em proeminências ósseas. Tratamento não farmacológico Existe uma enorme variedade de curativos e técnicas utilizados para o tratamento local da úlcera venosa. Independente da técnica ou do material empregado, podemos considerar atualmente a compressão como a peça chave do tratamento conservador, agindo diretamente sobre os mecanismos da fisiopatologia que levam ao aparecimento das úlceras e agravamento da doença. (DIRETRIZES) Nesse tópico dispõe-se de uma série de modalidades de compressão que incluem as meias de compressão gradual, bandagens elásticas e inelásticas e compressão intermitente. (DIRETRIZES) A explicação sobre a ação na fisiopatologia da doença venosa parece semelhante entre os métodos induzindo uma menor dilatação das veias superficiais e profundas, melhora da ação da bomba da panturrilha e uma ação anti inflamatória que em conjunto determinam um menor edema e a diminuição da pressão venosa ambulatorial. (DIRETRIZES) Essas meias fornecem um gradiente de pressão ao longo do seu comprimento, ampliando a velocidade do fluxo sanguíneo (a pressão é aplicada no tornozelo - em torno de 30-50mmHg -, e vai decrescendo proximalmente). Os pacientes com varizes frequentemente relatam uma rápida melhora sintomática com o uso dessa terapia. Elevação dos membros: elevar os pés acima do nível do coração, por cerca 30 minutos, 3 a 4 vezes por dia, pode diminuir a sintomatologia dos pacientes, bem como ajudar no processo de cicatrização das úlceras venosas Cuidados com a pele: Importante manter o cuidado adequado da pele, que inclui a limpeza e o uso de emolientes para ajudar a manter a barreira intacta. Exercícios: a contração da musculatura da perna é um dos principais determinantes do fluxo venoso. Pacientes com insuficiência venosa comumente apresentam essa bomba venosa prejudicada. Assim, caminhadas diárias e exercícios simples, como a flexão do tornozelo enquanto estão sentados, são medidas acessíveis que podem melhorar os parâmetros hemodinâmicos dos pacientes e favorecer a cicatrização das úlceras Tratamento farmacológico Medicações flebotônicas ou venoativas Podem ser dividas em: (DIRETRIZES) Naturais (alfa ou gama benzopironas, escinas) Sintéticas (dobesilato de cálcio e aminaftona) A ação destas drogas inclui a diminuição da permeabilidade capilar, efeito linfocinético, menor apoptose das células endoteliais e uma ação anti inflamatória por diminuição da adesividade de células de defesa (DIRETRIZES) @poli.canuto Atualmente as drogas venoativas ou flebotônicas não podem ser consideradas um tratamento no sentido da cura ou mudança da evolução natural da doença, porem, os estudos disponíveis, indicam que pelo menos em dois pontos a utilização dos flebotônicos pode contribuir no tratamento da doença venosa, são eles a diminuição do edema e o controle dos sintomas relacionados a presença da insuficiência venosa crônica em seus diversos graus de apresentação clínica (DIRETRIZES) Referências NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 202 DO PROJETO DIRETRIZES, Calógero Presti-Responsável et al. INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO. BONOW, Bonow. Braunwald - Tratado de Doenças Cardiovasculares. Grupo GEN, 2017 BRAUNWALD – TRATADO DE DOENCAS CARDIOVASCULARES,10ª EDIÇÃO, by Elsevier. Diretrizes de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Cardiologia. MERLO et. al. Insuficiência Venosa Crônica: diagnóstico e tratamento. Diretriz da Sociedade Brasileira de An JATENE, I.B.; FERREIRA, J.F.M.; DRAGER, L.F.; AL., E. Tratado de cardiologia SOCESP.
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