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Psicologia Institucional O ensino e a atuação do psicólogo, ao longo dos anos, foi expandindo o limite dado antes pelas reflexões filosóficas e sociológicas, feitas nas salas de aula, ou à margem de ações políticas das agremiações estudantis e dos movimentos sociais e comunitários em geral, e ganhando espaço no trabalho junto a instituições (aqui entendidas como organizações onde um conjunto de relações sociais que se repetem e, nessa repetição, legitima-se, sobretudo as de saúde, educação e promoção social. Por conta disso, a diversidade, no limite da indiferenciação, apresentou uma vantagem para o exercício da psicologia: multiplicaram-se (e se multiplicam) iniciativas e tentativas de alargar os horizontes do pensamento e do fazer concreto, extrapolando os já distantes limites legais e provocando os psicólogos a abandonar determinadas certezas cristalizadas em suas modalidades de atuação, para abraçar desafios ainda muito tensos e informes, mas extremamente positivos. A psicologia institucional, não se limita apenas a uma área de atuação profissional, ao lado daquelas já conhecidas (clínica, social e do trabalho, escolar, experimental), mas abrange modo de fazer concretamente a psicologia; um modo de produzi-la na interface com outras modalidades do conhecimento humano. Para Bleger, a Psicologia Institucional se caracteriza como uma forma de intervenção psicológica com significação social, que para ele ainda é um terreno novo, fato que exigirá a postura permanentemente investigadora que ele postula, para que surjam instrumentos que o viabilizem. Logo, a prática da Psicologia Institucional não será uma simples aplicação da ciência da Psicologia, mas sim integrá-las, sendo o método clínico, a proposta do autor para que se dê tanto a intervenção quanto a investigação. Partindo de dois pressupostos centrais na configuração da Psicologia Institucional: A Instituição enquanto totalidade e a estratégia clínica, esta forma de atuação é diferente de trabalho psicológico em instituição porque deve-se lidar a instituição enquanto totalidade. Bleger, então, definiu a atuação do psicólogo, de maneira a evidenciar suas preocupações Políticas e técnicas: contrapondo a ênfase na função social deste profissional e as considerações a respeito do enquadre psicanalítico. Definindo parâmetros técnicos com base em sua perspectiva política e teórica que supõem um duplo movimento – a saída dos psicólogos do âmbito privilegiado dos consultórios e o trabalho com as instituições enquanto totalidade. Ao se deter na apresentação da Psicologia Institucional e situar a questão do enquadre, Bleger aproxima a compreensão dos processos à intervenção, conforme os cânones da Psicanálise, e atribui tanto uma quanto outra ao terreno de trabalho do psicólogo. Tendo em vista que o método será sempre o clínico, marcado como se encontra pelo enquadramento da técnica psicanalítica. Deverá, no entanto, estar adaptado às necessidades deste âmbito e aos problemas que aqui temos que enfrentar. Diante disso, Bleger propôs que para o psicólogo: “O objetivo geral deverá ser o da psico-higiene, ou seja, o de promover saúde e bem-estar dos integrantes da instituição. Ele será um técnico da relação interpessoal, dos vínculos humanos, da explicitação do implícito” Atuando na Observação, que não é apenas um registro detalhado e completo dos dados, mas uma indagação operativa: a observação dos acontecimentos na ordem mesma em que se dão, a compreensão do seu significado e da relação entre eles, a interpretação, o assinalamento ou reflexão, no momento oportuno em que se dão. Além disso, a ação do psicólogo deve seguir um conjunto de princípios denominado de Enquadramento. Tais princípios são: 1. Atitude Clínica 2. Esclarecimento da função profissional do psicólogo como consultor ou assessor 3. Esclarecimento dos limites e do caráter de sua tarefa profissional, em todos os níveis ou grupos nos quais for atuar 4. Esclarecimento sobre a informação dos resultados bem como a quem serão dirigidos; 5. O que diz respeito a um determinado grupo será tratado apenas com ele; 6. Quanto aos contatos extraprofissionais, limitá-los ou excluí-los totalmente; 7. Quanto à relação entre os grupos, ser abstinente e não tomar partido por nenhum setor nem posição da instituição; 8. Quanto ao lugar ou a natureza da atividade profissional do psicólogo “O psicólogo não dirige, não educa, não decide, não executa decisões; ajuda a compreender os problemas que existem e ajuda a problematizar as situações. Não transforma uma instituição em uma clínica de conduta” 9. Quanto à dependência em relação ao seu trabalho, não fomentá-la, pelo contrário, facilitar a solução 10. Quanto à postura frente ao grupo, controle dos traços da própria onipotência em não agir como alguém que pode tudo; 11. Quanto ao sucesso do trabalho e a saúde da instituição “Uma instituição não deve ser considerada sadia ou normal quando nela não existem conflitos, e sim, quando a instituição pode estar em condições de explicar seus conflitos e possuir os meios e possibilidades de arbitrar medidas para sua resolução” 12. Quanto ao manejo da informação, é necessário fazer compreender os fatores em jogos – tomada de insight; 13. Quanto à resistência, investiga-la é parte fundamental da tarefa profissional e, ao investiga-lo, o psicólogo constitui-se infalivelmente e só por este fato, em um agente de mudança, que pode incrementar ou promover resistências; Dessa forma, o enquadre serve então como um esquema referencial para a tarefa da psicologia institucional: permitir situar papéis ou lugares nas relações grupais; sendo um referencial para o reestabelecimento de limites às inclusões, no fito de anular as diferenças e as especificidades necessárias em determinados momentos, na consecução de determinadas tarefas, na relação com o psicólogo e no conjunto das relações institucionais. Então, enquanto a Psicologia Institucional se caracteriza como uma forma de intervenção psicológica com significação social a Análise Institucional, por sua vez, é o nome dado a um movimento que supõe um modo específico de compreender as relações sociais, um conceito de instituição e um modo de inserção do profissional psicólogo que é de natureza imediatamente política, não estando no lugar de intérprete dos movimentos grupais ou interpessoais, ele não se delega a tarefa diferenciada da interpretação ou de assinalamentos; ele é, acima de tudo, um instigador da autogestão dos grupos nas organizações, um favorecedor da revelação dos níveis institucionais, desconhecidos e determinantes do que se passa nesses grupos. Idealizada por Georges Lapassade, a Análise Institucional propõe uma forma de agir e pensar que deveria mobilizar todos os níveis institucionais ao mesmo tempo; e isto seria justificável por finalidades políticas (supostamente) óbvias (e) que todo leitor deveria ter! Funciona quase como uma convocação à militância. São de Lapassade distinções conceituais importantes que parecem frequentar o discurso de institucionalistas e de psicólogos afeitos a essa perspectiva de trabalho. Nem sempre citada a fonte, alguns desses termos parecem ter ganhado um sentido muito próximo ao de sua origem nesses outros discursos. A primeira delas é a distinção instituinte/instituído. O instituinte é uma dimensão ou momento do processo de institucionalização em que os sentidos, as ações ainda estão em movimento e constituição; é o caráter mais produtivo da instituição. O instituído é a cristalização disso tudo; é o que, na verdade, se confunde com a própria instituição. A segunda é a distinção entre dois outros termos: organização e instituição. Organização é um nível da realidade social em que as relações são regidas por estatutos e acontecem no interior deestabelecimentos, espaços físicos determinados. Ainda, segundo Lapassade, a instituição pode ser considerada o brique-braque das determinações daquilo que atravessa os grupos de relação face a face numa organização social. A sala de aula é exemplar nesse sentido: a relação entre as pessoas é regida por normas que, em última instância, estão apoiadas no que prevê a lei maior para o ensino; nesse contexto, o professor poderá ser considerado um representante do Estado frente a seus alunos. A nomeação Análise Institucional estendeu-se a uma variedade de compreensões e modos de atuação, sobretudo os psicanalíticos. De tal forma que, hoje, a referência tem sido o fato de se tratar de trabalhos institucionais e/ou junto a instituições. Em geral, quando conduzidos na forma de supervisão do trabalho de profissionais de ação direta À luz, diante do conceito de instituição abordados anteriormente, podemos considerar a psicologia como instituição do conhecimento e da prática profissional. Com o conceito de discurso como dispositivo-ato-instituição, podemos tomar o exercício da psicologia como discurso que produz e reproduz verdades, num jogo de forças poder-resistência. Fazemos, portanto, desses termos, que não se estranham, o quadro referencial, a estratégia de pensamento, para dizer do que se faz quando se diz fazer psicologia. Pensar a psicologia como instituição exige a configuração de um objeto, algo (imaterial, impalpável) em nome de que ela se exerce e sobre que reivindica monopólio de legitimidade. Para tanto, deve ter a ideia de que a psicologia institucional não seria uma área da psicologia, ao lado de outras como a escolar, a organizacional, a clínica, a experimental, a comunitária, para se conceber uma estratégia para pensar o que pode a psicologia produzir em seu exercício. Tomar, portanto, a Psicologia Institucional como método, como estratégia de pensamento, ao invés de tomá-la como mais uma área de atuação com métodos próprios. Acompanhando a distribuição de tempos e espaços/atividades na rotina diária (ou semanal); as relações seus conflitos e tensões, incluindo aquelas de que faz parte o próprio psicólogo. Não para desenvolver paranoias, auto-centramentos e onipotências, mas para configurar o jogo de expectativas criadas nas relações imediatas, como se responde a elas e a orientação que então se segue. Com atenções assim aparentemente prosaicas, podemos nos dar conta do desenho dos procedimentos e dispositivos discursivos em jogo. Referências Bleger, J. (1981). Temas da psicologia (R. M. M. Moraes & L. L. Rivera, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1979) Bleger, J. (1984). Psicohigiene e psicologia institucional (E. Diehl & M. Flag, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Original pu blicado em 1973) Bleger, J. (1987). Simbiose e ambiguidade. (M. L. X. A. Borges, Trad.) Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Original publicado em 1977) Freud, S. (1981a). A dinâmica da transferência (J. Salomão, Trad.). Em J. Strachey (Org), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12, pp. 131-143). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1912) Guirado, M. (2000). A clínica psicanalítica na sombra do discurso. São Paulo: Casa do Psicólogo. Guirado, M. (2004). Psicologia institucional (2ª ed.). São Paulo: EPU. (Original publicado em 1987) Guirado, M. (2006). Psicanálise e análise do discurso: Matrizes institucionais do sujeito psíquico. São Paulo: EPU. (Original publicado em 1986) Guirado, M., & Lerner, R. (2007). Psicologia, pesquisa e clínica: Por uma análise do discurso. São Paulo: FAPESP-Annablume Lapassade, G. (1977). Grupos, organizações e instituições (H. A. Mesquita, Trad.). Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Original publicado em 1974) Maingueneau, D. (1989). Novas tendências na análise do discurso (F. Indursky, Trad.). Campinas: Pontes. (Original publicado em 1987) Maingueneau, D. (2000). Sobre o discurso e a análise do discurso. Em M. Guirado (Org.), A clínica psicanalítica na sombra do discurso (pp. 21-31). São Paulo: Casa do Psicólogo.
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