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– Doença Renal Crônica • Os rins são capazes de se adaptar à perda crônica de néfrons e mesmo em fase avançadas da DRC, a homeostase é mantida • Na DRC há uma grande variação de taxas de filtração por néfron nas unidades remanescentes • A atividade tubular dos néfrons remanescentes atende as necessidades do organismo variando com a ingestão de sódio e potássio. • Em um contexto de perda crônica de néfrons a TFG por néfron aumenta até onde é fisicamente possível enquanto a função TUBULAR aumenta na medida exata necessária para atender as necessidades do organismo, ou seja, até atingir o limite permitido pela capacidade funcional de suas células. • Diabetes mellitus e hipertensão arterial são as principais causas de DRC no Brasil e no mundo. Existe a DRC quando: TFG< 60ml/min e/ou albuminúria ≥ 30mg/d por >3 meses De modo geral, as causas da DRC são processo patológicos lentamente progressivos, porém IRREVERSÍVEL. OBS: em dois casos a DRC pode se manifestar na fase aguda → necrose cortical aguda e glomerulonefrite rapidamente progressiva. Todas as nefropatias crônicas, após um período variável (geralmente entre 3 a 20 anos), podem evoluir para a chamada Doença Renal em Fase Terminal (DRFT), em que se observam níveis residuais de TFG (<15% do normal). Neste momento, a histopatologia renal perde as características específicas da nefropatia inicial, apresentando uma alteração universal: fibrose glomerular e intersticial, aliada à atrofia dos túbulos (ou seja, "perda total" dos néfrons). Nesse caso adota-se a terapia de substituição renal, diálise e transplante renal. À medida que a perda de néfrons progride, os néfrons remanescentes vão sendo "sobrecarregados", isto é, eles tentam excretar – além de sua carga básica de solutos – os solutos que os néfrons perdidos excretariam, um processo conhecido como hiperfiltração adaptativa. Essa hiperfiltração adaptativa acaba induzindo a lesão glomerular focal (GESF), que justifica a proteinúria crescente, evoluindo com o tempo para a glomeruloesclerose global (DRFT). • A hiperfiltração adaptativa inicialmente é benéfica porém acaba sendo deletéria a longo prazo. Assim, após certo grau de injúria renal ter se instalado com uma perda de grande número de néfrons, mesmo que a doença inicialmente responsável pela lesão seja controlada ou eliminada, a DRC continuará. O que pode prevenir ou atrasar essa evolução? BLOQUEIO DO SISTEMA RENINA ANGIOTENSINA O uso de inibidores da ECA ou bloqueadores do receptor de angiotensina II produz uma redução no grau de proteinúria bem acima do esperado – somente pela queda dos níveis tensionais (fato relacionado à dilatação da arteríola eferente e redução da hipertensão intraglomerular). Logo, além de reduzir a hiperfiltração e a proteinúria, tais drogas tem efeito antifibrótico e anti-inflamatório no rim, retardando a progressão da nefropatia por outros mecanismos. Obs: a associação das duas classes podem reduzir a proteinúria de forma intensa, porém não é recomendada devido a piora da função renal e hipercalemia. LOGO, um dos principais alvos terapêuticos para evitar ou atrasar a evolução para DRFT é o CONTROLE DA PROTEINÚRIA PARA NÍVEIS INFERIORES A 0,5-1g/dia OU QUEDA SUPERIOR A 50-60% EM RELAÇÃO AO VALOR INICIAL. O controle da hipertensão arterial é imprescindível para proteger os néfrons remanescentes da sobrecarga pressórica e evitar a perda adicional desses néfrons. Algumas referências adotam PA<130x80mmHg e outras PA<140x90mmHg. O tratamento genérico da DRC tem como principal meta terapêutica o controle da proteinúria e da pressão arterial. Drogas de primeira linha são IECA ou os BRA, mas podem ser usados outros anti-hipertensivos a fim de atingir esses objetivos. A PA deve obrigatoriamente ser mantida abaixo de 140 x 90 mmHg em todos os pacientes (uma vez que isso é importante para reduzir o risco cardiovascular global)e, se possível (isto é, desde que a intensificação do tratamento não acarrete muitos efeitos colaterais), o ideal é mantê-la abaixo de 130x 80 mmHg em nefropatas, particularmente nos portadores de DRC proteinúrica. O estadiamento da DRC utiliza o sistema proposto pela KDIGO, 2013 que classifica o paciente quanto ao risco de complicações da DRC. Avalia-se a TFG e albuminúria e a classificação final é composta pela combinação dos estágios G + A com acréscimo da letra D se o paciente estiver em diálise. Ex: G1A2 (TFG normal, sem presença de dano renal), G3aA1 (DRC leve a moderada). O G3 é subdividido em G3a e G3b devido a perda fisiológica da taxa de filtração glomerular, logo, idoso tem uma TFG naturalmente reduzida. G1, G2 e A1 são pacientes que não tem necessariamente DRC. Glomérulo normal: Glomérulo com GESF: Lesão e perda dos podócitos (extravasamento de substâncias) → mesângio aumenta produção de matriz extracelular depositando material amorfo → aumenta fibrose periglomerular Paciente evolui para glomeruloesclerose global com desestruturação arquitetônica do tufo – glomerular com fibrose generalizada e perda do néfron: As principais causas de DRFT são: A Glomeruloesclerose Diabética e a Nefroesclerose Hipertensiva são as principais etiologias de doença renal em fase terminal, tanto nos EUA quanto no Brasil. Independentemente da causa básica de injúria renal ocorre uma resposta adaptativa dos néfrons remanescentes, que passam a "hiperfiltrar". Por isso que os pacientes com doença renal leve podem apresentar creatininemia normal, sem hipervolemia ou alterações eletrolíticas. A fisiopatologia da DRC caracteriza-se por dois amplos grupos gerais de mecanismos lesivos: 1) mecanismos desencadeantes específicos da etiologia subjacente, por exemplo anormalidades do desenvolvimento ou da integridade renal determinadas geneticamente, deposição de imunocomplexos e inflamação em alguns tipos de glomerulonefrite, ou exposição a toxinas em algumas doenças dos túbulos e do interstício renais. 2) um conjunto de mecanismos progressivos que envolvem hiperfiltração e hipertrofia dos néfrons viáveis remanescentes, que são consequências comuns da redução prolongada da massa renal, independentemente da etiologia primária. As respostas à redução da quantidade de néfrons são mediadas por hormônios vasoativos, citocinas e fatores de crescimento. Por fim, essas adap- tações de curto prazo (hiperfiltração e hipertrofia) tornam-se mal adaptativas à medida que as elevações da pressão e do fluxo sanguíneos dentro do néfron predispõem à distorção da arquitetura dos glomérulos, função anormal dos podócitos e rompimento da barreira de filtração, levando a esclerose e destruição dos néfrons remanescen- tes. O aumento da atividade intrarrenal do sistema renina-angiotensina (SRA) parece contribuir para a hiperfiltração adaptativa inicial e para a subsequente hipertrofia mal adaptativa e esclerose. Esse processo explica por que a redução da massa renal secundária a uma lesão isolada pode causar declínio progressivo da função renal ao longo de muitos anos. EM SÍNTESE: INSULTO → perda IRREVERSÍVEL dos néfrons + atividade intrarrenal do SRA → aumento da pressão → aumento do FLUXO GLOMERULAR HIPERFILTRAÇÃO ADAPTATIVA → proteinúria → fibrose renal --> glomeruloesclerose segmentar difusa Dentro da fisiopatologia da DRC há a Síndrome Urêmica, que é responsável pelo quadro clínico do paciente. OBS: SÍNDROME URÊMICA = acúmulo de escórias nitrogenadas + hipervolemia + desiquilíbrio hidroeletrolítico ácido-básico – Os principais mecanismos da síndrome urêmica são: • TOXINAS DIALISÁVEIS (PERDA DA FUNÇÃO DE FILTRO) A disfunção renal grave leva ao acúmulo de substâncias tóxicas endógenas, algumas das quais podem ser filtradas pela membrana da diálise. As moléculas “filtráveis” são as que tem peso molecular inferior a 500d e passam pelos poros do filtro de diálise. A primeirasubstância incriminada foi a ureia, de 60d, que tem seus níveis aumentados no soro dos pacientes. A ureia é a substância de maior concentração urinária, e representa 80% de todo o nitrogênio eliminado na urina. Entretanto, foi observado que, ao se fazer diálise acrescentando ureia na solução dialítica (para manter inalterados seus elevados níveis séricos),mesmo assim havia melhora importante dos sinais e sintomas da síndrome urêmica. Além disso, a infusão de ureia em cobaias não produzia efeitos tóxicos significativos, somente quando em níveis extremamente elevados. Logo, percebeu-se que não era a ureia a grande "vilã" da síndrome urêmica, e ainda era preciso encontrar as supostas toxinas dialisáveis implicadas nesta síndrome. As principais toxinas nitrogenadas supostamente implicadas na síndrome urêmica são: O ácido guanidinosuccínico inibe a atividade plaquetária, sendo, portanto, um dos fatores implicados no sangramento urêmico. As guanidinas também parecem se associar às alterações do estado mental, e se acumulam no fluido cerebroespinhal de pacientes urêmicos. Os compostos aromáticos podem ser ácidos ou aminas. A ureia apresenta efeito tóxico apenas quando em altas concentrações (> 380 mg/dl). Sua toxicidade é primariamente gastrointestinal (anorexia, náuseas e vômitos) e hematológica(sangramento). É importante ressaltar que, apesar da baixa toxicidade, seus níveis elevam-se juntamente com os de outras substâncias nitrogenadas tóxicas e, por conseguinte, ela pode ser usada como "marcador substituto" da síndrome urêmica (sendo, inclusive, de fácil dosagem laboratorial, ao contrário das demais toxinas) Os sinais e sintomas da síndrome urêmica costumam ocorrer com ureia sérica > 180 mg/dl, em não diabéticos, e > 140 mg/dl, em diabéticos. Na falência renal crônica lentamente progressiva, esses níveis podem cursar sem sintomas importantes, devido aos mecanismos de adaptação. Apesar de a diálise tratar os sintomas graves da uremia – que podem levar o paciente ao óbito em curto prazo – a uremia parcialmente tratada, os efeitos adversos do próprio tratamento dialítico (ex.: flutuações agudas da volemia e exposição a materiais bioincompatíveis) e os distúrbios hidroeletrolíticos residuais são responsáveis por uma importante queda na qualidade de vida dos pacientes em programa de diálise. Devido a isso, há a SÍNDROME RESIDUAL. Com frequência, pacientes em programa de diálise apresentam sintomas como astenia, falta de energia, distúrbios do sono e cognição, alterações – psiquiátricas, disfunção sexual e déficit de crescimento e maturação sexual em crianças e adolescentes. A hipótese de que o tratamento dialítico não é inteiramente capaz de depurar todas as toxinas que deveriam ser eliminadas e/ou metabolizadas no rim, causando seu acúmulo e o surgimento da síndrome residual, é corroborada pelo fato de que, estes pacientes, quando transplantados, evoluem com melhora importante dos referidos sintomas. • DISTÚRBIOS HORMONAIS (PERDA DA FUNÇÃO ENDÓCRINA) Vários sinais e sintomas da síndrome urêmica são causados por desequilíbrios hormonais. O principal parece ser a elevação dos níveis de paratormônio (PTH), devido ao hiperparatireoidismo secundário. O PTH é considerado uma verdadeira "toxina urêmica" e contribui para quase todos os sinais e sintomas da síndrome. Lembre-se que o rim possui função endócrina, produzindo eritropoetina e calcitriol (1,25 di- hidroxivitamina D). A deficiência de eritropoetina é o principal fator patogênico da anemia urêmica. A deficiência de calcitriol, por sua vez, está implicada na osteodistrofia renal e na miopatia urêmica, sendo ainda uma das causas do hiperparatireoidismo secundário. A deficiência na produção de amônia (NH3) pelo parênquima renal contribui para a acidose metabólica da uremia. Um déficit na produção de óxido nítrico renal contribui para a hipertensão arterial. A síndrome urêmica ao conjunto de sinais e sintomas que aparece na insuficiência renal grave, quando a filtração glomerular está < 30 ml/min. Algumas manifestações da síndrome urêmica respondem bem à diálise, enquanto outras não, necessitando de tratamento específico(ou melhorando somente após transplante renal). Manifestações que respondem à diálise: • Desequilíbrio hidroeletrolítico – hipervolemia, hipercalemia e hiponatremia. • Desequilíbrio acidobásico – acidose metabólica. • Sintomas gastrointestinais (anorexia, náuseas, vômitos, diarreia). • Sintomas neurológicos (encefalopatia, neuropatia periférica). • Hipertensão arterial sistêmica. • Sintomas cardíacos (pericardite, edema pulmonar cardiogênico). • Sintomas pulmonares e pleurais (edema pulmonar não cardiogênico, derrame pleural). • Disfunção plaquetária (predisposição à hemorragia). • Intolerância à glicose (resistência à insulina). Em resumo: acúmulo de toxinas + deficiências endócrinas + alterações iônicas Manifestações que não respondem à diálise: • Anemia. • Osteodistrofia renal. • Distúrbios do cálcio e fosfato (hipocalcemia, hiperfosfatemia). • Prurido cutâneo. • Alterações articulares (artrite, periartrite, tenossinovite). • Aterosclerose acelerada (doença coronariana). • Dislipidemia (hipertrigliceridemia com HDL-C baixo). • Estado de hipercatabolismo – desnutrição proteico calórica. • Depressão imunológica – predisposição à infecção – 1) DESIQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO O rim é responsável pelo equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico do corpo logo ele mantem o conteúdo de água, eletrólitos e H+ constantes em relação a variação de ingesta. Na IRC, à medida que a filtração glomerular reduz, um mecanismo de adaptação faz aumentar a fração excretória de cada néfron remanescente, de forma a manter a excreção renal total e manter o equilíbrio hidroeletrolítico. Enquanto a TFG for maior que 20ml/min, o equilíbrio será mantido, mas se a filtração for muito baixa, a regulação hidroeletrolítica ficará limitada. Da mesma forma que o rim doente tem dificuldade para eliminar os "excessos", também não é capaz de lidar com a "falta" nos estados de privação. Os néfrons do paciente urêmico não mais conseguem reduzir a fração excretória para níveis normais, isto é, não são capazes de se "desadaptar" totalmente. Isso significa que o paciente urêmico pode ter uma perda mínima obrigatória de água e eletrólitos maior do que indivíduos normais. - BALANÇO DE SÓDIO: A retenção de Na+ causa hipervolemia e ocorre em situações que a TFG está abaixo de 10ml/min (10% da função renal), na ausência de uma restrição adequada na dieta. Nesses pacientes, uma ingestão acima de 100 mEq/dia de sódio já pode ser suficiente para causar hipervolemia e suas consequências clínicas: (1) hipertensão arterial sistêmica; (2) edema generalizado. O edema, denominado edema renal, distribui-se não só pelas áreas dependentes de gravidade (membros inferiores, bolsa escrotal), mas também na face e região periorbitária. O edema frequentemente atinge as serosas, sendo comuns a ascite, o derrame pleural e o derrame pericárdico. Obs: se hipervolemia piorar subitamente, como ocorre após uma carga salina aguda, o paciente pode evoluir com edema agudo de pulmão, apresentando ritmo de galope (B3) e insuficiência respiratória. O tratamento da hipervolemia é a retirada de sódio e água (fluido isotônico) na diálise → ULTRAFILTRAÇÃO. - BALANÇO DE ÁGUA Em uma pessoa saudável, os rins podem eliminar até 18 L de água por dia. Quando a filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min (10% da função renal), um consumo de água acima de 2-3 L/dia já pode ser suficiente para promover retenção de água livre, diluindo o sódio plasmático – hiponatremia. - BALANÇO DE POTÁSSIO A retenção de potássio na insuficiência renal crônica é comum apenas quando a filtração glomerular está < 5-10 ml/min (menos de5-10% da função renal). Retenção de água → hiponatremiaRetenção de K+ → hipercalemia 2) DESIQUILÍBRIO ÁCIDOBÁSICO Na insuficiência renal crônica, quando a filtração glomerular está abaixo de 20 ml/min (20% da função renal), a produção renal de amônia começa a cair. Com isso, a eliminação urinária de H+ torna- se prejudicada. Nesse momento, começa a surgir uma acidose metabólica hiperclorêmica (ânion- gap normal). O aumento do cloreto é para compensar a queda de bicarbonato a fim de manter o equilíbrio eletroquímico do plasma. A acidose metabólica crônica promove desmineralização óssea, pois o H+ é tamponado no osso, em troca da liberação de cálcio e fosfato. Um dos grandes problemas da acidose metabólica na uremia crônica, mesmo em suas fases iniciais (ex.: acidose hiperclorêmica) é a aceleração do catabolismo proteico, que contribui para a perda de massa muscular típica desses pacientes. 3) MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS O TGI é muito afetado na uremia. Em geral, a anorexia é o sintoma mais precoce. Seguem-se náuseas, plenitude abdominal e vômitos (intolerância gástrica). Estes podem ser explicados – por dois fatores: (1) gastrite urêmica; (2) gastroparesia urêmica. A mucosa gastroduodenal, além de enantema e edema, pode apresentar petéquias. A disfunção plaquetária contribui para esses achados. A disgeusia(percepção de gosto amargo na boca) é decorrente da transformação da ureia, por bactérias presentes na saliva, em amônia. O comprometimento da mucosa intestinal, tanto no delgado como no cólon, pode levar a um quadro de diarreia urêmica, bem como ao íleo urêmico (distensão abdominal e cólicas). São causados pela inflamação mucosa, com redução no tamanho das vilosidades, acrescida de uma série de outros fatores, como disautonomia, supercrescimento bacteriano e deficiência de vitamina D. Uma forma de colite ulcerativa urêmica era comum na era pré-diálise. Hemorragia digestiva, tanto alta (hematêmese ou melena) quanto baixa (hematoquezia ou enterorragia), pode ocorrer como complicação da uremia. É explicada pela inflamação urêmica da mucosa gastrointestinal, que pode evoluir com erosões ou ulcerações, e pelo distúrbio plaquetário da uremia. 4) INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA Pacientes com uremia crônica apresentam comprometimento do miocárdio, seja por hipertrofia ventricular esquerda, seja por cardiomiopatia dilatada com disfunção ventricular sistólica. 5) PERICARDIOPATIA O derrame pericárdico é visto em 50% dos pacientes urêmicos, muitas vezes associado a derrame pleural e ascite, fazendo parte do quadro de anasarca da uremia. Geralmente é leve a moderado e não está relacionado a sintomas de pericardite ou tamponamento cardíaco. Quando é consequência de inflamação pericárdica (pericardite urêmica), o aspecto do líquido é de exsudato hemorrágico. : 1) ANEMIA: A anemia é uma das primeiras manifestações da síndrome urêmica. Em geral, se instala quando a filtração glomerular cai abaixo de 30-40ml/min (creatinina sérica > 2,0-3,0 mg/dl). Na doença renal em fase terminal, a anemia é um achado universal. A anemia urêmica é normocítica e normocrômica. É responsável por uma série de sintomas atribuídos à síndrome urêmica, tais como astenia, indisposição física e mental, depressão, deficit cognitivo, insônia, cefaleia, diminuição da libido, anorexia e tendência ao sangramento. Pode exacerbar o comprometimento cardiovascular, com angina, hipertrofia ventricular esquerda e insuficiência cardíaca congestiva. O principal fator implicado na gênese da anemia urêmica é a deficiência relativa de eritropoetina, hormônio produzido por uma subpopulação de fibroblastos no interstício renal, em resposta à hipóxia tecidual, e que age na medula óssea estimulando a diferenciação de células-tronco em células progenitoras da série eritroide. Além destes fatores relacionados à própria síndrome urêmica, possíveis agravantes da anemia em renais crônicos são carência de ferro, carência de vitaminas (ácido fólico, B12) e intoxicação pelo alumínio. 2) DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DE CÁLCIO E FOSFATO As principais complicações dos distúrbios do metabolismo do cálcio e fosfato associados à DRC ocorrem nos ossos e vasos sanguíneos, com envolvimento ocasionalmente grave dos tecidos moles extraósseos. As manifestações ósseas da DRC podem ser classificadas em dois tipos: alterações associadas ao turnover ósseo elevado com níveis altos de PTH (como a osteíte fibrose cística, uma lesão clássica do hiperparatireoidismo secundário); e anormalidades atribuídas ao turnover ósseo reduzido com níveis normais ou baixos de PTH (doença óssea adinâmica e osteomalacia). – A fisiopatologia do hiperparatireoidismo secundário e da doença óssea consequente ao turnover elevado está relacionada com o meta- bolismo mineral anormal em razão dos seguintes fatores: (1) a TFG declinante diminui a excreção de fosfato e, desse modo, causa retenção deste elemento; (2) o fosfato retido estimula o aumento da síntese tanto de FGF- 23 por osteócitos quanto de PTH e estimula o crescimento das paratireoides; e (3) os níveis baixos de cálcio ionizado, resultantes da supressão da síntese de calcitriol pelo FGF-23 e pelos rins insuficientes, assim como a retenção de fosfato, também estimulam a produção de PTH. Os níveis baixos de calcitriol contribuem para o hiperparatireoidismo porque causam hipocalcemia e, também, por um efeito direto na transcrição dos genes do PTH. Essas alterações co- meçam quando a TFG diminui para menos de 60 mL/min. O FGF-23 faz parte de uma família de fosfatoninas que promovem a excreção renal do fosfato, esse pode manter os níveis séricos normais do fosfato por no mínimo três mecanismos: (1) aumento da excreção renal de fosfato; (2) estimulação do PTH, que também aumenta a excreção renal de fosfato; e (3) supressão da síntese de 1,25(OH)2D3 , que diminui a absorção do fósforo no trato GI. Curiosamente, os níveis altos do FGF-23 também são um dos fatores de risco independentes para hipertrofia do ventrículo esquerdo e mortalidade dos pacientes com DRC, em diálise e transplantados renais. Assim, o hi- perparatireoidismo estimula o turnover ósseo e causa osteíte fibrose cística. As manifestações clínicas do hiperparatireoidismo grave consistem em dor e fragilidade ósseas, tumores marrons, síndromes compressivas e resistência à eritropoetina, em parte relacionada com a fibrose da medula óssea. Além disso, o PTH é considerado uma toxina urêmica intrínseca, e níveis altos estão associados a fraqueza muscular, fibrose do músculo cardíaco e sintomas constitucionais inespecíficos. Já doença óssea com turnover reduzido pode ser classificada em dois subtipos – doença óssea adinâmica e osteomalácia. A prevalência da doença óssea adinâmica está aumentando, principalmente entre os diabéticos e os pacientes idosos. Essa doença caracteriza-se por volume e mineralização ósseos reduzidos e pode ser causada pela supressão excessiva da síntese do PTH, pela inflamação crônica, ou ambas. A supressão do PTH pode ser causada pela utilização de preparações de vitamina D ou exposição excessiva ao cálcio na forma de quelantes de fosfato à base de cálcio ou soluções dialíticas ricas em cálcio. As complicações da doença óssea adinâmica incluem incidência alta de fraturas e dor óssea e incidência mais alta de calcificações vasculares e cardíacas. Algumas vezes o cálcio precipitará nos tecidos moles formando concreções grandes chamadas de “calcinose tumoral”. Para o diagnóstico de DRC há alguns MARCADORES DE ANORMALIDADE que devem ser avaliados, são eles: • Albuminúria > 30mg/dia • Sedimento urinário alterado • Distúrbio eletrolítico • Histologia alterada • Alteração de imagem O Diagnóstico da doença renal crônica é mais bem identificado com o ritmo de filtração glomerular – (RFG). Essa é a melhor medida do funcionamento renal em indivíduos normaisou pacientes com doença renal. Na prática clínica, a RFG pode ser determinada pela dosagem da creatinina sérica e/ou pela depuração desta pelo rim. A depuração da creatinina pode ser realizada em urina coletada no período de 24 horas, porém a coleta urinária inadequada, seja por falta de compreensão do procedimento ou tipo de atividade do paciente, é um limitador do método. Mais recentemente, as diretrizes preconizam que a FG pode ser estimada a partir da dosagem sérica da creatinina (Crs), aliada a variáveis demo- gráficas, tais como: idade, sexo, raça e tamanho corporal. As duas equações mais frequentemente utilizadas encontram-se a seguir: 1. Equação de Cockcroft-Gault: Filtração glomerular (mL/min)= 140 - idade (em anos) x peso (kg) / 72 x Creatinina sérica (x 0,85 se mulher) 2. Equação abreviada do estudo Modification of Diet in Renal Disease (MDRD): Filtração glomerular (mL/min/1,73m2) = 186 x (Creatinina sérica)-1,154 x (idade)-0,203 X (0,742 se mulher) X 1,210 se negro A DRC pode ser diagnosticada sem o conhecimento da sua causa. Geralmente, o comprometimento do parênquima renal é confirmado por marcadores de lesão em vez da biópsia renal. De acordo com as Diretrizes do K/DOQI1, a proteinúria (albuminúria) persistente é o principal marcador de lesão renal. Outros marcadores de lesão renal incluem anormalidades no sedimento urinário (principalmente hematúria e leucocitúria), alterações de parâmetros bioquímicos no sangue e na urina e alterações nos exames de imagem. Pacientes com RFG normal, mas com marcador(es) de lesão renal apresentam risco aumentado para evolução da DRC. O sumário de urina é um dos principais exames a serem feitos na ava liação inicial do paciente com DRC, devendo-se analisar os sedimentos urinários e suas anormalidades e a microscopia do sedimento (pesquisar células, cilindros e cristais). • Hematúria: presença anormal de eritrócitos na urina (> de 3 a 5 eri- trócitos/campo ou até 3000 hemácias por mililitro) - Presença de hemácias disfórmicas indicam glomerulonefrite proliferativa ou nefrites he- reditárias. • Leucócitos: piúria é definida como acima de 10 leucócitos/campo ou 10.000/ml, sendo indicativa de inflamação do trato urinário. Piúria pode ser indicativa de infecção, porém quando associada a cultura estéril pode indicar: tuberculose de trato urinário, infecção por clamídia, doença glomerular proliferativa difusa, litíase renal, nefrite intersticial aguda (linfomononucleares e eosinófilos) e doença renal ateroembólica (eosinófilos). • Cilindrúria: excreção aumentada de cilindros na urina. - Excreção de cilindros céreos, celulares, gordurosos e pigmentados indicam patologia renal. - Excreção de cilindros hialinos e granulosos podem não indicar doença renal • Situações que levam à cilindrúria transitória: desidratação, exercício extenuante, uso de diurético e febre, que podem remitir em 24-48h após desaparecimento do estímulo inicial. • Cristais: a presença de cristais na urina como de ácido úrico, fosfato ou oxalato de cálcio nem sempre significam alguma patologia. Indivíduos normais excretam pequena quantidade de proteína na urina diariamente, numa faixa considerada como fisiológica. No entanto, a excreção de quantidade aumentada de proteína na urina é um marcador sensível para DRC secundária a diabetes (doença renal diabética), glomerulopatias primárias e secundárias e hipertensão arterial. Já as proteínas de baixo peso molecular, quando em quantidade anormal na urina, sugerem a ocorrência de doenças túbulo-intersticiais. – OBS: proteinúria é um termo genérico que engloba a excreção urinária de albumina e qualquer outro tipo de proteína. Já a palavra albuminúria refere-se única e exclusivamente à eliminação urinária de albumina, um marcador de lesão glomerular. Como avaliar a proteinúria em indivíduos de grupo de risco e sem doença renal evidente? A ocorrência de uma ou mais cruzes de proteinúria determina a necessidade de quantificação, que pode ser feita em amostra urinária isolada (relação proteína/creatinina) ou na urina de 24 horas. Valores superiores 200 mg implicam em avaliação diagnóstica e tratamento. A ultrassonografia renal pode ser utilizada para definir o diagnóstico de doença renal policística autossômica dominante, obstrução do trato urinário, refluxo vesicoureteral, diferenciação entre tumores sólidos e cistos renais. Pacientes com perda de função renal no início da doença podem apresentar nefropatia crônica à imagem do ultrassom, com perda da diferenciação córtico medular, redução do córtex renal e aumento da ecogenicidade do parênquima renal. EXAMES COMPLEMENTARES: • Ur e Cr • BQ completa (c/Ca e P) • Hem, Cin-Fe, B12/folato • PTH, Vitamina D • Eletroforese (pct mais de 35 anos com DRC sem causa aparente) • FAN, sorologias (GN) • Urina IMAGEM: USG Biopsia não é mandatória em todos os casos.
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