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Amanda Rocha 1 • A lesão renal aguda (LRA), anteriormente, era definida como insuficiência renal aguda; • Caracteriza-se pela redução abrupta (em horas a dias) da taxa de filtração glomerular, resultando na inabilidade do rim exercer suas funções básicas de excreção das escórias nitrogenadas e manutenção da homeostase hidroeletrolíGca do organismo; • A LRA não é uma única doença, mas é o termo usado para descrever um grupo heterogêneo de distúrbios que têm em comum alguns elementos diagnósGcos; • A incidência da LRA em pacientes internados vem crescendo, sendo mais alta entre os pacientes graves; • 5-7% das internações hospitalares é decorrendo de LRA e até 30% das admissões nas UTI; • Nos EUA, esGma-se que a incidência anual de LRA é de 500 por 100.000 habitantes; • Pacientes graves, internados na UTI, as taxas de mortalidade podem passar de 50%; APG 17 – “Fim da picada” Amanda Rocha 1. Entender a epidemiologia e a eGologia da lesão renal aguda; 2. Compreender a fisiopatologia, fatores de risco, manifestações clínicas e complicações da lesão renal aguda; è Abordar as causas pré, intra e pós-renais; 3. Explicar o diagnósGco e tratamento da lesão renal aguda; Lesao Renal Aguda Introdução Epidemiologia Amanda Rocha 2 • Nos países em desenvolvimento, a epidemiologia da LRA é muito diferente dos países desenvolvidos; • Principalmente porque muitas eGologias da LRA são específicas de cada região como, inclusive envenenamentos por serpentes, aranhas, lagartas e abelhas, além de outras causas infecciosas; • Normalmente, as eGologias da LRA são subdivididas em 3 grupos gerais: ∞ Azotemia pré-renal; ∞ Intrínseca (ou renal); ∞ Pós-renal; n Azotemia Pré-Renal: • É o Gpo mais comum de LRA; • O termo azotemia significa “azo” ➝ nitrogênio e “emia” ➝ sanguínea. • Esse termo é usado para descrever a elevação da concentração da ureia ou da creaGnina sérica em consequência do fluxo plasmáGco renal inadequado e da pressão hidrostáGca intraglomerular insuficiente para manter a filtração glomerular normal; • Os distúrbios associados mais comumente à azotemia pré-renal são: ∞ Hipovolemia; ∞ Redução do débito cardíaco; ∞ Fármacos que interferem com as respostas autorreguladoras renais; • A azotemia pré-renal pode coexisGr com outros Gpos de LRA intrínseca; • Os períodos prolongados de azotemia podem causar lesão isquêmica ➝ necrose tubular aguda; • A azotemia pré-renal não inclui lesão do parênquima renal e pode ser reverGda rapidamente quando a hemodinâmica intraglomerular é normalizada; E3ologia Fisiopatologia Amanda Rocha 3 • A TFG normal é manGda, em parte pelas resistências relaGvas das arteríolas aferentes e eferentes, que determinam o fluxo plasmáGco glomerular e o gradiente de pressão hidráulica transcapilar responsáveis pela ultrafiltração glomerular; • Os graus brandos de hipovolemia e as reduções do débito cardíaco desencadeiam alterações fisiológicas renais compensatórias; • Como o fluxo renal representa 20% do DC, a vasoconstrição renal e a reabsorção de sódio e água ocorrem como reposta homeostáGca à diminuição do volume circulante efeGvo ou do DC, em prol de manter a PA e aumentar o volume intravascular para preservar a perfusão dos vasos sanguíneos cerebrais e coronarianos. Os mediadores dessa resposta são: ∞ Angiotensina II; ∞ Norepinefrina; ∞ Vasopressina; • Então a filtração glomerular pode ser manGda pela vasoconstrição eferente renal mediada pela angiotensina II, que mantém a pressão hidrostáGca dos capilares glomerulares mais próxima do normal, impedindo as reduções profundas da TFG, desde que a redução do fluxo sanguíneo renal não seja excessiva; • Além disso, um reflexo miogênico intrínseco à arteríola aferente causa dilatação quando há diminuição da pressão de perfusão, mantendo a perfusão glomerular; • A síntese intrarrenal das prostaglandinas vasodilatadoras (prostaciclina, NO, cininas etc.) também aumenta em resposta à redução da pressão de perfusão renal; • A autorregulação também é realizada pelo feedback tubuloblomerular, no qual as reduções das quanGdades de solutos apresentados à mácula densa provocam dilatação da arteríola aferente justaposta, de forma a manter a perfusão glomerular ➝ esse mecanismo é mediado, em parte, pelo NO; • No entanto, existe um limite à capacidade de manter a TFG por esses mecanismos contrarreguladores quando a hipotensão sistêmica persiste; • Mesmo nos adultos saudáveis, a autorregulação falha quando a PAS diminui a menos de 80mmHg; Amanda Rocha 4 • Alguns fatores determinam a intensidade da resposta autorreguladora e o risco de desenvolver azotemia pré-renal, como: ∞ Aterosclerose; ∞ Hipertensão crônica; ∞ Idade avançada; ∞ Fármacos; • Com doença renal crônica, a vasodilatação aferente renal pode estar operando em sua capacidade máxima para aumentar a TFG em resposta à diminuição da massa renal funcionante; • Os AINEs inibem a síntese das prostaglandinas renais e dificultam a vasodilatação aferente renal; os IECAs e os BRAs limitam a vasoconstrição eferente renal; • O uso simultâneo dos AINEs e IECAs ou BRAs acarreta riscos altos de desenvolver azotemia pré-renal; n LRA Intrínseca: • As causas mais comuns de LRA intrínseca são: ∞ Sepse; ∞ Isquemia; ∞ Nefrotoxinas endógenas e exógenas; • Em muitos casos a azotemia pré- renal progride para lesão tubular; • Processos como: inflamação, apoptose e alteração da perfusão regional são importantes do ponto de vista fisiopatológico; è Sepse: • As reduções da TFG associadas à sepse podem ocorrer mesmo quando não há hipotensão detectável; • Porém, a maioria dos casos de LRA grave geralmente ocorre em presença de colapso hemodinâmico que requer supor vasopressor; • Os mecanismos envolvidos nesses efeitos são: ∞ Vasodilatação arteriolar eferente excessiva – principalmente nos estágios iniciais da sepse; ∞ Vasoconstrição renal – causada pela aGvação do sistema nervoso simpáGco, do sistema renina- angiotensina-aldosterona, da vasopressina e da endotelina; • A sepse pode causar lesão endotelial, que acarreta trombose da microcirculação, aGvação das espécies reaGvas de oxigênio e adesão e migração dos leucócitos ➝ todas essas alterações podem lesar as células dos túbulos renais; Amanda Rocha 5 è Isquêmica: • Os rins normais recebem 20% do DC e são responsáveis por 10% do consumo de O2 em repouso; • Os rins também possuem uma das regiões mais sujeitas à hipoxia do organismo ➝ a medula renal (que é vulnerável à lesão isquêmica em razão da arquitetura dos vasos sanguíneos que fornecem irrigam e nutrem os túbulos); • A intensificação das interações entre os leucócitos e as células endoteliais dos pequenos vasos causa inflamação e diminui o fluxo sanguíneo do túbulo proximal; • A vasoconstrição pré-glomerular persistente pode ser uma causa comum da redução da TFG associada à LRA, e os fatores implicados nessa vasoconstrição incluem: ∞ AGvação do feedback tubuloblomerular em consequência do aumento do fornecimento de solutos à mácula densa depois da lesão dos túbulos proximais; ∞ Aumento do tono vascular basal e da reaGvidade aos agentes vasoconstritores; ∞ Diminuição da responsividade aos vasodilatadores; • Outros fatores que contribuem para a diminuição da TFG incluem: ∞ Refluxo do filtrado pelos epitélios tubulares isquêmicos e desnudados; ∞ Obstrução mecânica dos túbulos pelos debris necróGcos;Amanda Rocha 6 è Nefrotoxinas: • Os rins são muito susceoveis à nefrotoxicidade devido à perfusão sanguíneo ser extremamente alta e da concentração das substâncias que circulam nos néfrons (onde a água é reabsorvida) e no intersocio medular ➝ isso acarreta exposição das células às toxinas; • Diversos agentes podem causar nefrotoxicidade, como: ∞ Contrastes – uGlizados em exames de imagem; ∞ AnGbióGcos; ∞ Agentes quimioterápicos; ∞ Substâncias tóxicas ingeridas; ∞ Toxinas endógenas – como mioglobina; n Lesão Pós- Renal • Ocorre quando o fluxo unidirecional da urina é bloqueado repenGnamente (parcial ou totalmente), resultando no aumento retrógrado da pressão hidrostáGca e interferindo na filtração glomerular; • A obstrução pode ser causada por distúrbios funcionais ou estruturais de qualquer estrutura desde a pelve renal até a extremidade da uretra; • Um fluxo urinário normal não exclui a existência de obstrução parcial, porque a TFG normalmente é cerca de 2X maior que o fluxo urinário; • Para que ocorra LRA em indivíduos normais, a obstrução deve envolver os dois rins; • A obstrução unilateral pode causar LRA quando há DRC coexistente significaGva; • A obstrução do colo vesical é uma causa comum de LRA pós-renal e pode ser causada por doenças da próstata (hipertrofia), bexiga neurogênica ou tratamento com anGcolinérgicos; • Outras causas de obstrução das vias urinárias inferiores são: ∞ Trombos; ∞ Cálculos; ∞ Estenoses uretrais; Amanda Rocha 7 • A fisiopatologia da LRA pós-renal inclui alterações hemodinâmicas desencadeadas pelo aumento súbito das pressões intratubulares; • O período inicial da hiperemia causada pela dilatação das arteríolas aferentes é seguido de vasoconstrição intrarrenal secundária às sínteses de angiotensina II, tromboxano A2, e vasopressina e à redução de NO; • A redução da TFG é atribuída à hipoperfusão dos glomérulos; • O curso clínico da LRA subdivide-se em 4 fases: ∞ Inicial; ∞ Oligúria; ∞ Poliúrica; ∞ Recuperação funcional; n Fase inicial: • Começa a parGr do momento de exposição à agressão, isquêmico ou tóxico; • Tem duração variável e depende do tempo de exposição ao agente agressor; • Nessa fase, o volume urinário pode estar normal ou diminuído, porém o rim começa a perder a capacidade excretora adequada; n Fase Oligúrica: • Também pode ter grau e duração variáveis; • Um volume urinário inferior a 500ml/dia é insuficiente para excretar as quanGdades necessárias de soluto, já que a produção de produtos osmoGcamente aGvos se dá ao redor de 600 mOsm/dia e a capacidade máxima de concentração urinária é de 1.200 m0sm/dia; • Assim, o débito urinário inferior a 500mL/dia caracteriza oligúria; • A maioria dos pacientes que se recuperam de uma LRA desenvolve aumento da diurese após 10 a 14 dias do início da oligúria; • Às vezes, não ocorre a fase de oligúria, caracterizando a LRA não oligúrica; n Fase poliúrica: • Rápida elevação do volume urinário; • A intensidade da diurese independe do estado de hidratação do paciente e, geralmente, representa a incapacidade dos túbulos regenerados em reabsorver sal e água; • No entanto, a excreção urinária dos compostos nitrogenados não acompanha o aumento da excreção de sal e água, de modo que a concentração plasmáGca de creaGnina e ureia conGnua aumentando e os sintomas podem persisGr; Apresentação Clínica Amanda Rocha 8 n Fase de Recuperação Funcional • É a úlGma fase e ocorre após vários dias de diurese normal, com redução gradaGva da ureia e creaGnina; • Do ponto de vista renal, a LRA manifesta-se com uremia, pelo acúmulo dos compostos nitrogenados, e alterações hidroeletrolíGcas; • Portanto, são observadas: ∞ Alteração no balanço de água; ∞ Alteração no balanço de sódio; ∞ Alteração no balanço de potássio; ∞ Hipocalemia; Alterações comuns • Desidratação • Letargia • Cefaleia • Contrações musculares • Convulsões n Anamnese e Exame Csico: • A história clínica detalhada e o exame usico completo favorecem o diagnósGco das diferentes eGologias da LRA; n Exames Laboratoriais: • Dosagem de ureia e creaGnina para avaliar função renal; • Os critérios de KDIGO de 2012 uGlizam somente alterações da creaGnina sérica e a diurese, mas não mudanças na TFG para estadiamento; • A elevação da creaGnina é marcador tardio para LRA, pois é muito específica, mas pouco sensível; • A dosagem de sódio, creaGnina, ureia e osmolaridade, coletados simultaneamente na urina e no sangue, pode ser úGl na disGnção eGológica da LRA; • A análise do sedimento urinário também pode ser úGl na avaliação da LRA; Manifestações Renais Diagnós3co Amanda Rocha 9 n DiagnósFco por Imagem: • USG de rins e vias urinárias – procedimento simples e que permite avaliar o tamanho dos rins (reduzido e a ecogenicidade aumentada com perda da diferenciação corGcomedular podem indicar doença renal preexistente, e podem evidenciar obstrução das vias urinárias); • TC com contraste – pode ser usada no caso de evidência de obstrução sem fator causal visível (sem contraste pois pode agravar o quadro); n Biópsia Renal: • Indica-se biópsia renal precoce (primeiros 5 dias) quando há suspeita de glomerulonefrite rapidamente progressiva, de nefrite intersGcial aguda, de necrose corGcal bilateral ou não ausência de diagnósGco clínico provável; • A biópsia fornecerá informações para uma terapêuGca mais agressiva, bem como indicação prognósGca, pela avaliação histológica de componentes inflamatórios e fibróGcos; • A abordagem dos pacientes que se encontram sob risco de desenvolver ou já desenvolveram LRA depende da eGologia subjacente; • Além disso, o manejo da LRA deve ser baseado no seu estágio; Tratamento Amanda Rocha 10 n LRA Pré-renal: • Nesse caso, a profilaxia e o tratamento dependem da melhoria da perfusão renal; • Indica-se realizar uma expansão volêmica rápida, com cristaloides; • Em casos de pacientes com cirrose hepáGca deve-se dar preferência à albumina; n LRA intrínseca: • Incluem-se todas as formas de lesões de parênquima renal recentes; • Nesse caso, deve-se monitorizar a diurese do paciente e manter a estabilização hemodinâmica; • Além disso, as drogas nefrotóxicas devem ser suspensas e a glicemia do paciente deve ser manGda entre 110-180mg/gl; è Medidas gerais: è Medidas específicas: Amanda Rocha 11 n LRA pós-renal: • O local da obstrução define a abordagem terapêuGca; • A cateterizarão transuretral ou suprapúbica da bexiga pode ser a única medida necessária inicialmente para tratar estenoses uretrais ou colocação de um tubo de nefrostomia percutânea ou stent ureteral; n Diálise: • A diálise está indicada quando o tratamento clínico não consegue controlar a sobrecarga de volume, a hiperpotassemia e a acidose, e quando acontece complicações graves de uremia; • As modalidades disponíveis são: ∞ Diálise peritoneal; ∞ Hemodiálise; ∞ Sangramento; ∞ Infecções; ∞ Complicações cardíacas – arritmias, pericardite e derrame pericárdico; Complicações