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Módulo 4: Tecnologia de Produção de açúcar 1. Introdução O açúcar ou sacarose é um produto obtido da cana-de-açúcar ou beterraba açucareira ou sacarina. Outros açúcares devem ser relacionado a origem, como por exemplo o açúcar de coco ou açúcar de milho. O açúcar é utilizado como matéria prima para fabricação de balas, biscoitos, bolos, refrigerantes, doces, geleias, sorvetes, chocolates e gomas de mascar. Figura 1. Planta da cana-de-açúcar (esquerda) e beterraba açucareira (direita). Fonte: Pixabay e freepik Açúcar é a sacarose obtida a partir do caldo de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) ou de beterraba (Beta alba L.). São também considerados açúcares os monossacarídeos e demais dissacarídeos, podendo se apresentar em diversas granulometrias e formas de apresentação. Os produtos devem ser designados de acordo com definição legal ou por denominações consagradas pelo uso. A designação pode ser seguida de expressões relativas ao processo de obtenção e ou forma de apresentação e ou finalidade de uso e ou característica(s) específica(s). Para açúcar deve ser designado pelo nome do mono e ou dissacarídeo usado(s), exceto a sacarose que deve ser designada de açúcar (BRASIL, 2005). O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar de cana-de-açúcar e a Europa utiliza a beterraba açucareira como matéria-prima para a produção de seu açúcar. A Região Sudeste é maior produtora nacional, sendo responsável por 69% do açúcar produzido no país, seguido da Região Centro-Oeste (10,3%), Nordeste (8,2%), Sul (7,3%) e Norte (0,2%). São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás foram os maiores produtores de açúcar, no ano de 2019. A elaboração do produto segue várias operações unitárias até obtenção de um alimento cristalino, solúvel e de sabor adocicado. A legislação brasileira define açúcar como o produto obtido a partir da cana-de-açúcar pertencente às cultivares provenientes da espécie Saccharum officinarum L. através de processos adequados; é constituído por cristais, com exceção do açúcar líquido (BRASIL, 2018). Além da produção de açúcar e seus derivados, a cana-de-açúcar também é utilizada para a produção de etanol, energia elétrica, bioplástico e fermento biológico. Os produtos alimentícios derivados de cana-de-açúcar são ricos em minerais (Tabela 1) e carboidratos (sacarose). Tabela 1. Composição nutricional em relação aos minerais, em produtos derivados de cana-de-açúcar. (Fonte: Jeronimo et al., 2020, tabela obtida do Nepa, 2011). A fabricação de produtos como açúcar mascavo, rapadura, bala puxa-puxa e caldo de cana são alimentos minimamente processados pois envolvem equipamentos e operações que podem ser executadas de forma segura e simples. O consumo destes produtos em relação ao açúcar cristal e refinado deve ser incentivado, tanto para obtenção da qualidade alimentar como para desenvolvimento local e rural. 2. Etapas do processo de fabricação de açúcar utilizando cana-de-açúcar A cana-de-açúcar deve ser colhida madura e com teor de aproximadamente 15 ºBrix (unidade de medida do teor de sólidos solúveis, lida por refratometria). O processo para obtenção do açúcar branco ou bruto envolve extração e tratamento do caldo, remoção da água e cristalização, conforme pode ser observado na Figura 2. Figura 2. Representação das etapas de processo de fabricação de açúcar a partir da cana-de-açúcar (Lopes, 2016). 2.1 Extração do caldo A cana-de-açúcar, quando chega na indústria, passa pela etapa de recepção, limpeza, corte, quebra e moagem. Na recepção a carga é pesada e retira-se amostras para avaliação do teor de sacarose, açúcares totais (ATR) e açúcares redutores (AR) e o grau de polarização (Pol). A etapa de corte e quebra consiste em picar e desintegrar a cana, rompendo as células que contêm o caldo, rico em açúcar. A moagem consiste no processo físico de separação do caldo da fibra (bagaço), utilizando três a doze moinhos consecutivos chamados de moendas ou terno. Após o segundo moinho o bagaço é lavado para facilitar a remoção do açúcar, porém o produto obtido (caldo misto) é utilizado para produção de etanol. Polarização é definida pela quantidade de sacarose aparente medida por polarimetria, em condições padronizadas, utilizando o peso normal de 26 g (vinte e seis gramas) em 100 ml (cem mililitros) de água a 20°C (vinte graus Celsius), e expressa em °Z (grau Zucker). Açúcares redutores são compostos redutores da cana-de-açúcar e seus produtos, constituídos principalmente por glicose e frutose, que tem a propriedade de reduzir o cobre em solução cúprica (Licor de Fehling), expresso em porcentagem (%). A composição química do caldo pode ser visualizada na Tabela 2. Nesta tabela é possível avaliar os principais componentes presentes no vegetal e caldo de cana-de- açúcar. Tabela 2. Composição nutricional da cana-de-açúcar. Fonte: Hamerski, 2009. 2.2 Tratamento do caldo O tratamento do caldo envolve operações físico-químicas destinadas a eliminar impurezas solúveis (glicose, minerais e ácidos orgânicos), suspensões grosseiras (areia, terra e bagacilho) e coloides (cera, gorduras, proteínas, gomas, corantes, dextranas, amido) do caldo de cana durante o processo de fabricação do açúcar. Esta etapa envolve os processos de peneiramento, tratamento químico (sulfitação e calagem), aquecimento, decantação e filtração. a) Peneiramento Operação unitária que tem por objetivo a remoção das impurezas como bagaço, pedaços de cana, folhas, areia e pedra presentes no caldo. Utiliza-se peneiras vibratórias ou rotativas. b) Tratamento químico: Para remoção das partículas solúveis, indesejáveis e muito pequenas como pigmentos, minerais, proteínas, pectinas e outros carboidratos, o caldo passa pelos processos químicos chamados de sulfitação e calagem, que tem por objetivo a coagulação, floculação e precipitação das mesmas. A sulfitação consiste na utilização de dióxido de enxofre (SO2) em forma de gás, para obter ação precipitante, coagulante, purificante, descolorante e fluidizante. Nesta etapa ocorre a formação de sulfito de cálcio, composto pouco solúvel. A adição de SO2 gasoso ao caldo é realizada a temperatura de 60 ºC, até atingir pH 3,8-4,2, para que ocorra a coagulação das proteínas. Para que não ocorra a inversão da sacarose na etapa de aquecimento, o caldo passa pelo processo de calagem corrigindo o pH de 3,8 para 6,2. Na calagem ou caleagem utiliza-se hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), também chamado de cal hidratada, na forma de leite de cal. Ácido fosfórico é utilizado quando se deseja maior eficiência na clarificação. Nesta etapa ocorre a floculação de coloides e agrupamento do material em suspensão. b) Aquecimento Para facilitar o processo de remoção dos compostos formados na etapa anterior, o caldo é aquecido a temperatura de 105 °C. Nesta temperatura ocorre a diminuição da viscosidade do fluido e a eliminação dos microrganismos presentes no caldo. c) Decantação e Filtração Os compostos formados na precipitação, coagulação e floculação são removidos no processo de decantação e filtração. O caldo clarificado (pH = 6,9 a 7,6) passa para o setor de evaporação. 2.3. Remoção da água O líquido obtido na etapa de tratamento do caldo é composto basicamente por água, sais minerais e açúcares e precisa ser concentrado para a produção do açúcar em forma de cristal. As etapas para remoção da água envolve operações de evaporação, cozimento, cristalização, centrifugação e secagem. a) Concentração do caldo A concentração do caldo ocorre por evaporação e cozimento. Na etapa de evaporação utiliza-se evaporadores de múltiplos efeitos onde o caldo entra com 14 a 20º Brix e se transforma em um xarope viscoso com 55 a 65º Brix. Na etapa de cozimentoo xarope é concentrado até supersaturação (85º-92ºBrix) e aparecimento de cristais. O processo a vácuo permite o uso de baixas temperaturas de processo (65-70ºC) e impede degradação da sacarose. Ao final do processo obtém-se uma massa cozida contendo cristais de sacarose e um líquido muito viscoso chamado de 'mel'. b) Cristalização e Centrifugação Nesta etapa ocorre a separação do 'mel' que envolve os cristais de açúcar de uma massa cozida. O processo ocorre pelo uso da força centrífuga, na rotação de 1200- 1500 rpm durante 5 a 10min. Os cristais de açúcar são lavados com jatos de água quente e vapor para torná-lo mais claro e com o teor de sacarose mais elevado (açúcar mais puro). Novo aquecimento do 'mel' leva a cristalização e recuperação de 80% a 85% da sacarose que estão no xarope, e dá origem a uma massa com os grãos de açúcar. O subproduto obtido é utilizado para produção de etanol. A umidade residual presente nos cristais formados são removidos na etapa de secagem. c) Secagem: A umidade contida no açúcar é retirado em secadores rotativos e o produto é resfriado. Após essa etapa o produto pode ser peneirado, envasado e estocado, com umidade final de no máximo 1,2%. 2.4 Embalagem O produto final pode ser embalado em Big Bags ou sacos de 25 kg que são destinados às indústrias de alimentos ou em embalagens para o consumidor final, como embalagens plásticas flexíveis de 5 kg, 2 kg e 1 kg, potes (açúcar em cubos) ou sachês. 3. Tipos de açúcares Açúcar branco: aquele obtido por fabricação direta nas usinas através do processo de extração e clarificação do caldo da cana-de-açúcar por tratamentos físico-químicos com branqueamento, seguidos de evaporação, cristalização, centrifugação e secagem do produto final, destinado para as indústrias alimentícias e outras finalidades de uso. Açúcar bruto: aquele obtido por fabricação direta nas usinas através do processo de extração e clarificação do caldo da cana-de-açúcar por tratamentos físico-químicos, seguidos de evaporação, cristalização, centrifugação e secagem do produto final, destinado para as indústrias alimentícias e outras finalidades de uso. Açúcar cristal branco: aquele obtido por fabricação direta nas usinas através do processo de extração e clarificação do caldo da cana-de-açúcar por tratamentos físico-químicos com branqueamento, seguidos de evaporação, cristalização, centrifugação e secagem do produto final, destinado à alimentação humana através de venda direta ao consumidor final. Açúcar cristal bruto: aquele obtido por fabricação direta nas usinas através do processo de extração e clarificação do caldo da cana-de-açúcar por tratamentos físico-químicos, seguidos de evaporação, cristalização, centrifugação e secagem do produto final, destinado à alimentação humana através de venda direta ao consumidor final. Açúcar cristal: aquele obtido por fabricação direta através do processo de extração e clarificação do caldo da cana-de-açúcar por tratamentos físico-químicos com branqueamento, seguidos de evaporação, cristalização, centrifugação, secagem, resfriamento e peneiramento do produto final e podendo ser comercializado na forma moída ou triturada. Açúcar de confeiteiro: aquele obtido através do processo de peneiramento ou extração do pó do açúcar cristal ou refinado amorfo. Açúcar demerara: o açúcar bruto, cuja polarização é maior que 96,0 °Z (noventa e seis graus Zucker). Açúcar impalpável: mistura de açúcar de confeiteiro com amido, sendo o mais utilizado o amido de milho. Açúcar light : É constituído pela mistura de açúcar refinado e edulcorantes. Tem proporcionalmente menor conteúdo calórico e maior poder adoçante do que o açúcar refinado. Açúcar líquido invertido: aquele obtido através do processo de dissolução do açúcar cristal ou refinado, purificação e inversão da calda. Açúcar líquido: aquele obtido através do processo de dissolução do açúcar cristal ou refinado e purificação da calda, podendo sofrer inversão da calda. Açúcar mascavo: possui elevada umidade, cor amarronzada e sabor mais forte, assim como o melaço. É um açúcar pouco processado, pois não passa pelo processo de branqueamento, cristalização e refino. Açúcar orgânico: granulação uniforme, produzido sem qualquer aditivo químico desde a fase agrícola até a industrial, devendo seguir padrões internacionais e obtenção certificação por órgãos competentes. Açúcar refinado amorfo ou refinado: aquele obtido através do processo de dissolução do açúcar branco ou bruto, purificação da calda, evaporação, concentração da calda, batimento, secagem, resfriamento e peneiramento do produto final. Açúcar refinado granulado: aquele obtido através do processo de dissolução do açúcar branco ou bruto, purificação da calda, evaporação, cristalização da calda, centrifugação, secagem, resfriamento e peneiramento do produto final. Açúcar Very High Polarization (VHP): açúcar bruto cuja polarização é maior que 99,0 °Z (noventa e nove graus Zucker). Açúcar Very Very High Polarization (VVHP): açúcar bruto cuja polarização é maior que 99,49 °Z (noventa e nove vírgula quarenta e nove graus Zucker). 4. Classificação do açúcar A Instrução Normativa nº 47 (BRASIL, 2018) estabelece o Regulamento Técnico do Açúcar, definindo o seu padrão oficial de classificação, com os requisitos de identidade e qualidade, a amostragem, o modo de apresentação e a marcação ou rotulagem, nos aspectos referentes à classificação do produto. As tabelas abaixo apresentam como o açúcar é classificado no Brasil (Tabela 3), com seus respectivos padrões de identidade e qualidade (Tabelas 4 e 5). Tabela 3. Classificação do açúcar em grupos, classes e tipos, conforme legislação brasileira (BRASIL, 2018). GRUPO CLASSE TIPO Grupo I Alimentação Humana, venda direta ao consumidor Cristal Branco Cristal Refinado amorfo ou refinado Refinado granulado Açúcar confeiteiro Cristal Bruto Demerara VHP (Very High Polarization) VVHP (Very Very High Polarization) Grupo II Indústria Alimentícia e outras finalidades de uso Branco Cristal Refinado amorfo ou refinado Refinado granulado Açúcar confeiteiro Bruto Demerara VHP (Very High Polarization) VVHP (Very Very High Polarization) Líquido Líquido Líquido invertido Tabela 4. Parâmetros de qualidade do açúcar destinado ao consumidor final (BRASIL, 2018). Tabela 5. Parâmetros de qualidade do açúcar destinado às indústrias alimentícias(BRASIL, 2018). Leitura/Vídeo Complementar: Produção de açúcar: https://www.youtube.com/watch?v=qD0w3HEFc1A https://www.youtube.com/watch?v=HS-mNXkOTeY https://www.youtube.com/watch?v=Ghr98yLVoiY https://www.youtube.com/watch?v=z1XMK314NWQ 5. Referências BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Regulamento Técnico do Açúcar. Instrução Normativa nº 47, de 30 de agosto de 2018. BRASIL, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).Regulamento técnico para açúcares e produtos para adoçar. Resolução de Diretoria Colegiada - RDC n° 271, de 22 de setembro de 2005. Diário Oficial da União (DOU) nº 184, de 23 de setembro de 2005. CONAB. Acompanhamento da safra brasileira de cana-de-açúcar: safra 2019/20, Brasília, n. 1 , v. 6, 2019. Disponível em: file:///C:/Users/Administrativo/Downloads/BoletimZCanaZ1ZLevantamentoZ19-20_1.pdf FELLOWS, P. Tecnologia do Processamento de Alimentos: princípios e prática. Porto Alegre: Artmed, 2006. GISSLEN, Wayne. 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