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1 Khilver Doanne Sousa Soares Complicações Crônicas da DM & Pé Diabético Complicações Crônicas da DM O diabetes melito é um grupo de distúrbios metabólicos que compartilham a característica subjacente comum da hiperglicemia. A hiperglicemia no diabetes resulta de um defeito na secreção de insulina, na ação da insulina ou, mais comumente, de ambas. O diabetes do tipo 1 é uma doença autoimune caracterizada pela destruição das células β e por deficiência absoluta de insulina. O diabetes do tipo 2 é causado pela combinação de resistência periférica à ação da insulina e resposta secretória inadequada das células β pancreáticas (“deficiência relativa de insulina”). Diabetes Mellitus Tipo 1 Diabetes Mellitus Tipo 2 Clínica Início em geral na infância e na adolescência Início em geral no adulto, aumentando a incidência na infância e na adolescência Peso normal ou perda de peso anterior ao diagnóstico A maioria é de obesos (80%) Diminuição progressiva dos níveis de insulina Aumento da insulina no sangue (precoce), diminuição normal ou moderada da insulina (tardio) Autoanticorpos circulantes da ilhota (anti-insulina, anti- GAD, anti-ICA512) Nenhum autoanticorpos das ilhotas A cetoacidose diabética na ausência de terapia com insulina Coma hiperosmolar não cetótico mais comum Genética Maior ligação à classe de genes MHC II, também ligada aos polimorfismos em CTLA4 e PTPN22, e ao gene da insulina VNTRs Nenhuma ligação HLA, ligação com candidato diabetogênico e genes relacionados à obesidade (TCF7L2, PPARG, FTO, etc.) Patogenia Disfunção na seleção de células T e regulação que leva ao colapso da autotolerância aos autoantígenos da ilhota Resistência à insulina nos tecidos periféricos, falha de compensação pelas células β Múltiplos fatores associados à obesidade (ácidos graxos circulantes não esterificados, mediadores inflamatórios, adipocitocinas) ligados à patogênese da resistência à insulina Patologia Insulite (infiltrado inflamatório de célula T e macrófagos) Nenhuma insulite, deposição de amiloide nas ilhotas Depleção de células β, atrofia das ilhotas Depleção leve de células β A forma mais frequente da doença, o DM tipo 2 ou DM do adulto é uma doença crônica silenciosa no início responsável por uma série de complicações. Estima-se que um nível global, a prevalência do DM, seja em torno de 120 milhões de indivíduos e que, de 4 a 10% desenvolvam lesões nos pés. É uma complicação que ocorre em média, após 10 anos de evolução da doença, tornando-se a causa mais comum de amputações não traumáticas. O DM é a principal causa de cegueira entre 20 e 74 anos de idade a principal causa de amputações e a principal causa de insuficiência renal, sendo responsável por 44% dos casos de hemodiálise. Uma das complicações que merece destaque diz respeito ao Pé Diabético, que se 2 Khilver Doanne Sousa Soares trata de uma das mais graves e numerosas complicações do DM, é uma amputação de extremidades inferior ou parte dela e geralmente consequência de uma úlcera no pé. O diagnóstico correto é precoce do DM do tipo 2 permite que sejam adotadas medidas terapêuticas que podem evitar e ou retardar o aparecimento das complicações crônicas, principalmente as cardiovasculares nos pacientes diagnosticados com diabetes. Quando o diagnóstico de DM é estabelecido os 60 anos de idade, o indivíduo poderá ainda viver o bastante para que uma complicação crônica se instale, considerando que muitas vezes, não se sabe com exatidão o tempo de diagnóstico da doença. DIABETES MELLITUS TIPO 1 Geralmente, a primeira manifestação da doença é a cetoacidose, principalmente em crianças e adolescentes, e expressa diretamente à deficiência de insulina, mas também pode estar associada à presença de estresse infeccioso ou uso inadequado de insulina. DIABETES MELLITUS TIPO 2 Geralmente seu desenvolvimento é lento, principalmente nas fases iniciais da doença, o que faz com que essa forma de diabetes permaneça por muitos anos sem diagnóstico, devido ao desenvolvimento gradativo da hiperglicemia e a ausência de sintomas característicos. Isso potencializa as chances de agravamento da doença, uma vez que o diagnóstico geralmente é tardio. A cetoacidose é uma complicação característica da DM tipo 1, mas pode acometer portadores de DM tipo 2 em situações de estresse para o organismo. ----------------------------------------- Visto isso, é de extrema importância o controle dos níveis glicêmicos, uma vez que a persistência dessa hiperglicemia pode culminar em complicações agudas, como, cetoacidose diabética, coma hiperosmolar não-cetótico e hipoglicemia, quanto complicações crônicas, como as microvasculares (neuropatia periférica, retinopatia e nefropatia) e macrovasculares (doença arterial coronariana, doença cerebrovascular e vascular periférica). Ambas as complicações estão relacionadas ao tempo da doença, onde a aguda tem a manifestação de seus sintomas de forma mais imediata, e a crônica provém de uma manifestação dos seus sintomas após anos de evolução da doença, e que se relacionam diretamente a um controle glicêmico inadequado. NEUROPATIA AUTONÔMICA DIABÉTICA A neuropatia autonômica diabética (NAD) possui maior prevalência para complicação crônica, podendo atingir cerca de 40% dos pacientes com DM. Não é considerada causa de morte, porém, na fase avançada da doença, contribui muito para uma incapacitação do indivíduo. A NAD afeta sistemas como o cardiovascular, urogenital, digestivo, glandular, e ainda compromete a motricidade pupilar. Na sua grande maioria, os pacientes com NAD geralmente apresentam retinopatia. RETINOPATIA DIABÉTICA A retinopatia diabética é uma complicação ocular severa, que em estados avançados, se torna uma das principais causas de cegueira irreversível. Na maioria das vezes, se manifesta de forma tardia, aumentando progressivamente com o decorrer da doença, em especial em pacientes com DM tipo 1, que após cerca de 20 anos de duração da DM, apresentam um risco maior de desenvolver algum grau de retinopatia. Por ser irreversível, a retinopatia não tem cura, e os esforços terapêuticos baseiam-se na observação e prevenção dos fatores de risco para o aparecimento e agravamento da retinopatia. 3 Khilver Doanne Sousa Soares NEFROPATIA DIABÉTICA A nefropatia diabética ocorre tanto no DM tipo 1, quanto no DM tipo 2, sendo mais prevalente em pacientes com DM tipo 2. Nesta complicação, o processo de filtração glomerular é inadequado, levando a excreção de moléculas de proteínas com baixo peso molecular pela urina, tornando-se um marcador importante para o diagnóstico desse tipo de complicação. A nefropatia diabética é uma das principais causas de insuficiência renal em pacientes que estão realizando diálise e é caracterizado por albuminúria, HAS e um declínio progressivo da função renal. MIOCARDIOPATIA DIABÉTICA A miocardiopatia diabética é desencadeada pela diabetes, sendo uma doença que provoca necrose, apoptose e hipertrofia do músculo cardíaco, devido às anormalidades metabólicas causadas pela diabetes, como hiperinsulinemia nas fases mais precoces e hiperglicemia após a falência das células beta pancreáticas. Essas alterações podem aumentar o estresse oxidativo e levar a perda celular. O diagnóstico se torna difícil de ser estabelecido, uma vez que os sintomas e achados de exames são inespecíficos. DISLIPIDEMIA A dislipidemia é caracterizada pela Hiperglicemia e resistência à insulina, a qual favorece o desenvolvimento de aterosclerose por uma disfunção no endotélio devido à diminuição do colesterol HDL e aumento do LDL e triglicerídeos. Esse fator leva o indivíduo ao risco doença cardiovascular. O Diabetes Mellitus ocorre pelo aumento da glicemia com alterações na metabolização da glicose. Na presença de complicações, ocorre a inversão metabólica, com a degradação da proteínae dos lipídeos, decorrente da falta da insulina, podendo acometer órgãos importantes reduzindo a qualidade de vida do indivíduo. Pé diabético O pé diabético é uma das complicações crônicas causada pelo mau controle da diabetes que mais causa internações, caracterizada por lesões nos pés desencadeadas devido a alterações vasculares periféricas e/ou neurológicas, em decorrência da diabetes mellitus, baseada na tríade: neuropatia, doença vascular periférica e infecção. Obs.: o fator mais importante que leva a formação de úlceras nos membros inferiores é a neuropatia diabética Alguns fatores contribuem para a ocorrência do pé diabético, como idade, controle inadequado de glicemia, tipo e tempo de diagnóstico, obesidade, HAS e falta de hábitos de higiene e cuidados com os pés. É importante ressaltar que a neuropatia diabética leva a uma perda da sensibilidade dos membros inferiores, o que torna susceptível o acontecimento de lesões, sendo uma porta de entrada para infecções, que caso não tratadas precocemente, podem levar a amputação do membro. Dentre as complicações incapacitantes do diabetes mellitus, destaca-se a neuropatia diabética periférica que é a complicação mais frequente e também chamada de pé diabético, quando associada com vasculopatia nos membros inferiores. A neuropatia, cujo mecanismo patogênico mais aceito é o da via poliol, pode apresentar-se sob três formas: 1) motora, caracterizada por alteração da arquitetura do pé que desloca os sítios de pressão plantar e por alterações do colágeno, queratina e coxim adiposo; 2) autonômica, em que há disfunção simpática, resultando em redução da sudorese e alteração da microcirculação; 3) sensorial, a mais comum, na qual se observa perda da sensação protetora de pressão, calor e propriocepção, de modo que traumas menores repetitivos e, até mesmo, danos maiores, não são percebidos pelos paciente. 4 Khilver Doanne Sousa Soares Quanto à vasculopatia diabética, estudos observaram que a idade e a duração do diabetes melito, assim como na neuropatia, também estavam correlacionadas com a sua prevalência. A vasculopatia pode apresentar-se sob duas formas: 1) microangiopatia não é considerada um fator importante na patogênese das lesões, pois, apesar do espessamento da membrana basal capilar, não compromete a redução do fluxo sanguíneo para o pé no diabético; 2) macroangiopatia, que resulta em processo aterosclerótico que, no diabético, é mais frequente, prematuro, progressivo e mais distal, portanto, mais grave. Há ainda a forma mista (neuroisquêmica), em que tanto a neuropatia como a angiopatia contribuem para o desenvolvimento de lesões no pé. Além disso, a perda da sensibilidade nos membros inferiores pode resultar na formação da osteoartropatia neurogênica (neuroartropatia diabética ou artropatia de Charcot). Uma complicação que afeta aproximadamente 0,2% dos diabéticos, em geral entre 50 e 60 anos de idade, com patologia de pelo menos 10 anos de duração. Resulta em fraturas agudas, subluxações ou deslocamento que geram deformidade permanente no pé, esta geralmente associada a redução ou perda da sensação protetora e seletiva da sensação térmica e vibratória, apresentando curso clínico assintomático, com progressiva degeneração óssea e articular. Quanto ao desenvolvimento de ulceração no pé diabético, a neuropatia e a vasculopatia periféricas são os fatores mais importantes, contudo, o comprometimento neural é a principal causa da maioria das lesões no pé diabético. O fato mais importante da neuropatia periférica sobre o pé diabético é a perda da sensibilidade, que o torna vulnerável aos traumas triviais, é porta de entrada das bactérias, e ocasiona infecções silenciosas e graves, caso não sejam tratadas precocemente. As pessoas com diabetes têm maior dificuldade de cicatrização sim, por serem pessoas com microangiopatias, isto é, que já tem lesão de pequenos vasos e problemas de irrigação. Além disso, mais propensas a contrair infecções. Entretanto, a dificuldade de cicatrização não é um problema que contraindique qualquer procedimento no diabético. A presença de infecção também deve ser investigada precocemente através do exame do pé (localização de sinais flogísticos) ou na vigência de desordem sistêmica (como febre e mau controle glicêmico), pois constitui um fator importante de morbidade e mortalidade em pacientes com úlceras. A maior suscetibilidade do diabético à infecção é decorrente do prejuízo da resposta inflamatória e do sistema antioxidante, da alteração da migração, fagocitose e quimiotaxia de leucócitos e da menor produção de citocinas. A hiperglicemia é o sinal mais precoce de infecção, enquanto que a febre, a leucocitose, os calafrios e os sinais de inflamação podem estar ausentes em até 2/3 dos casos, devido à presença concomitante de alterações neuropáticas e/ou vasculares. Para a avaliação vascular, o nível anatômico da estenose arterial pode ser obtido através da palpação de pulsos em membros inferiores. A arteriografia com contraste é considerada o padrão-ouro, mas a medida do índice de pressão tornozelo/braquial permanece um instrumento essencial para avaliação, exceto na presença de calcificação de artérias do membro inferior. Quanto à avaliação da neuropatia, a biópsia do nervo inteiro ou a punção de pele associada à imuno-histoquímica, e os testes eletrofisiológicos e de sensibilidade vibratória e tátil são alguns dos métodos existentes, porém, na prática clínica diária, o exame físico com monofilamento e o diapasão são os métodos mais utilizados. O tratamento do pé diabético é baseado na redução da pressão tecidual do pé, controle da infecção, correção isquêmica e cuidados com a lesão. O repouso e a elevação do membro devem ser iniciados imediatamente, sendo ideal a retirada de todo peso nos membros inferiores. Quanto à infecção, apesar da cultura e do antibiograma ajudarem na escolha de regimes 5 Khilver Doanne Sousa Soares antimicrobianos, na maioria das vezes, a terapia empírica com drogas de largo espectro é necessária antes dos resultados da cultura estarem disponíveis. Comprometimento vascular deve ser investigado no exame físico inicial e também na vigência de uma má resposta terapêutica, tornando a correção da doença oclusiva vascular necessária, já que dificulta o fornecimento de nutrientes e antibióticos à área lesada. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ REFERÊNCIAS BRASILEIRO, José Lacerda. et. al. Pé diabético: aspectos clínicos. Jornal Vascular Brasileiro, Campo Grande, v.4, n.1, p.11-21, 2005. FONSECA, Kathlem Pereira1; RACHED, Chennyfer Dobbins Abi. Complicações do Diabetes Melittus. International Journal of Health Management, Distrito Federal, v.1, n.1, p.1-13, 2019. KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; ASTER, J.C. Bases Patológicas das Doenças. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
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