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DEFINIÇÃO Conceitos básicos sobre os princípios e as propriedades físicas da água, associados à hidrostática e à hidrodinâmica. Relação de efeitos sobre o corpo imerso. Situações relacionadas à prática da natação. PROPÓSITO Apresentar os princípios e as propriedades da água, bem como seus efeitos sobre os corpos imersos e suas relações com a prática da natação. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a relação dos princípios e das propriedades físicas da água com a prática da natação, a partir da definição de hidrostática MÓDULO 2 Identificar a relação dos princípios e das propriedades físicas da água com a prática da natação, a partir da definição de hidrodinâmica INTRODUÇÃO A água é o meio de ação para diversos esportes, entre os quais se inclui a natação. Os diversos ambientes, como o mar, as piscinas ou outro ambiente aquático natural, são muito ricos de propriedades. Assim, a permanência e ação no meio aéreo não é a mesma do meio aquático. Há vários fenômenos que interferem na ação direta e indireta, não só no corpo, mas em todo nosso universo vital. Apesar do ser humano permanecer cerca de nove meses no meio líquido, ao nascer, passando para o meio terrestre, muitas ações se transformam, a começar pela respiração, tal como as ações de forças sobre o corpo, entre elas a da gravidade, causando transformações no organismo humano. Desse modo, tornam-se importante alguns esclarecimentos sobre os princípios e propriedades físicas da água, para facilitar o conhecimento e explicar o que ocorre conosco quando imergimos nela, além de possíveis interferências sobre a prática da Natação. MÓDULO 1 Identificar a relação dos princípios e das propriedades físicas da água com a prática da natação, a partir da definição de hidrostática HIDROSTÁTICA É a disciplina da mecânica que se encarrega do estudo dos fluidos em repouso e envolve o conhecimento de duas grandezas fundamentais (MASSAUD, 2008 a): DENSIDADE PRESSÃO DENSIDADE A densidade de um fluido se define como a razão/relação entre sua massa total e seu volume. Como substância-padrão emprega-se a água, à qual atribui-se o valor de um grama por centímetro cúbico. PRESSÃO A pressão do fluido, força que sua massa exerce por unidade de superfície, é variável em pontos diferentes e aumenta com a profundidade. O conteúdo de hidrostática que se afigura como importante para a natação baseia-se principalmente em duas leis: o princípio de Arquimedes e a lei de Pascal. O PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES Arquimedes, matemático grego, foi considerado o grande descobridor dos fundamentos da flutuação. Um dia, em sua banheira, começou a pensar sobre flutuabilidade, porque, quando se deitava na água, esta sustentava o seu peso e ele flutuava? javascript:void(0) A resposta veio repentinamente: “Eureca!” (“Eu encontrei!”), ele gritou e saiu correndo pela estrada, nu, conforme os relatos sobre a descoberta. Seu raciocínio foi resumido assim: quando entrou na água e percebeu que ela aumentava nas laterais da banheira, notou que esse aumento em profundidade se devia ao volume ou massa de seu corpo, deslocando uma determinada quantidade de água. Com isso, ele percebeu que esta quantidade de água deslocada era igual à porção de seu corpo que estava submersa no momento. À medida que afundava na banheira, a água deslocava-se mais para cima, até que, repentinamente, ele flutuou e a água parou de se elevar. Fonte: Wikipedia ARQUIMEDES DE SIRACUSA Um dos grandes gênios da Engenharia e um dos maiores matemáticos da Grécia Antiga. Viveu entre 287 a.C. e 212 a.C., ou seja, mais de um século depois de Aristóteles. Ele soube aplicar os conhecimentos de mecânica da época em projetos práticos, tais como um parafuso sem fim para extração de água, alavancas e catapultas. Existem algumas lendas acerca da vida de Arquimedes. Uma das mais conhecidas é a que nos conta que Arquimedes utilizou imensos espelhos para, com a luz do Sol, atear fogo nos barcos romanos invasores. O peso do volume da água deslocada era igual ao peso do corpo que flutuava nela (relacionado à parte imersa do corpo). Surge, então, a força de Empuxo, também chamada de força de Flutuação, que atua na vertical. Esta é a teoria que fundamenta a flutuabilidade e a flutuação que analisaremos a seguir (MAZALI, 2010; MASSAUD, 2008 b). A LEI DE PASCAL A lei de Pascal emprega o princípio da variação da pressão com a profundidade para explicar o chamado paradoxo hidrostático, fenômeno no qual a pressão que uma coluna de líquido exerce sobre o fundo de um recipiente independe da forma do mesmo. A pressão exercida sobre um corpo imerso no fluido varia na razão direta da profundidade, de acordo com um fator de proporcionalidade igual ao produto da densidade do fluido pela aceleração da gravidade (BARSA, 2006). Dessa forma, a lei de Pascal aponta que a pressão hidrostática é igual a multiplicação entre densidade, aceleração da gravidade e altura. Essa pressão, quando exercida sobre o corpo imerso, à mesma profundidade, é a mesma ao redor de toda a circunferência. BLAISE PASCAL (1623-1662) Notável cientista, filósofo e teólogo do século XVII. EXEMPLO Associando esse conhecimento ao nosso dia a dia, um aluno de pé na piscina estará submetido a uma pressão maior nos pés do que junto à parte corporal que está próxima à superfície. Quanto mais elevada a coluna de água (superfície) estiver em relação ao seu corpo, javascript:void(0) maior será a pressão junto aos seus pés. Dessa forma, obtém-se um incremento, ou seja, um favorecimento para o retorno sanguíneo venoso, beneficiando a circulação sanguínea e gerando um efeito similar às meias elásticas, que possuem uma pressão maior junto aos pés do que ao longo da perna. Essa é uma prática muito utilizada por pessoas que foram submetidas a intervenções cirúrgicas cardíacas e retiraram vasos sanguíneos da coxa para ativação da circulação sanguínea. A Hidrostática está relacionada à flutuabilidade. Assim, a capacidade de flutuar pode interferir no aprendizado da natação, ou seja, se uma pessoa (criança, adulto ou idoso) possui uma flutuabilidade positiva, deverá flutuar bem na água; caso contrário, tende a afundar imediatamente para baixo da superfície, o que indica que possui uma flutuabilidade negativa (MAGLISCHO, 2010). Na prática, a flutuação na natação associa-se ao posicionamento estático, similar ao que chamamos, no dia a dia, de “boiar”. O aluno flutuando, de forma ventral, dorsal ou grupada, deverá permanecer em posição estática, sob os efeitos do princípio de Arquimedes, no qual as forças de gravidade e empuxo agirão verticalmente sobre seu corpo em sentidos opostos. Com isso, a força de gravidade agirá sobre o centro de gravidade, localizado próximo à região umbilical, e a força de empuxo atuará sobre o centro de empuxo, também denominado centro de flutuação. Para que o corpo permaneça em equilíbrio estático, essas forças deverão estar alinhadas, caso contrário, será produzida uma força de torque, que ocasionará um abaixamento das pernas até o seu alinhamento. ATENÇÃO É importante que compreendamos que esses efeitos estarão relacionados à prática da Natação quando um aluno estiver flutuando (posicionamento estático), à diferença de quando estiver nadando, uma vez que o ato de nadar é uma ação dinâmica, por meio das ações dos membros superiores, inferiores e tronco, gerando forças propulsivas e de sustentação, e relacionando-se com a Hidrodinâmica, que veremos mais detalhadamente no próximo módulo. O fato de o nadador obter uma flutuação facilitada, ou não, dependerá das magnitudes relativas dessas forças opostamente direcionadas e do posicionamento de suas ações sobre o corpo (SOUZA, 2016). Outro fator que influencia na flutuação é a densidade corporal, uma vez que está associada à composição corporal do ser humano, composta por três grandes massas: óssea, magra e gorda, que possuem densidades diferentes, que interferirão na capacidade de flutuação. Isso será expostomais detalhadamente no tópico sobre densidade (MANSOLDO, 2014). CENTRO DE GRAVIDADE E FLUTUAÇÃO HUMANA Existem diferenças anatômicas entre homens e mulheres que contribuem para o posicionamento dos centros de gravidade relativos em diferentes regiões do corpo (MAGLISCHO, 2010). Por exemplo, os ossos das mulheres são geralmente menores e mais delgados, e o quadril, mais largo, enquanto o tronco dos homens tende a ser maior, seus ombros, mais largos, e as pernas e pés, geralmente, maiores e mais pesados (KATCH; KATCH; McARDLE, 2016). A partir desses aspectos, é possível estabelecer um padrão pelo qual o centro de gravidade tende a ser, proporcionalmente, um pouco mais alto no corpo dos homens do que no das mulheres. EXEMPLO Em um homem de constituição média, de aproximadamente 68kg, o centro de gravidade de seu corpo estará próximo à segunda vértebra sacra; já para uma mulher de peso semelhante, o centro de gravidade estará, aproximadamente, 25mm abaixo da segunda vértebra sacra. É provável que os respectivos centros de flutuação tendam a influenciar mais as características de flutuação humana do que os centros de gravidade. Assim, os homens, com o centro de flutuação mais alto do que a mulher, com tronco pequeno e quadris arredondados, tenderão a experimentar um efeito maior de abaixamento/aprofundamento dos membros inferiores (KATCH; KATCH; McARDLE, 2016). Fonte: Shutterstock A nadadora, com centro de flutuação baixo, tende a flutuar naturalmente na posição horizontal. O nadador, porém, com suas pernas mais pesadas, quadris mais estreitos e centro de empuxo mais alto, tende a flutuar mais verticalmente. Destarte, torna-se imperioso que professores reconheçam esses aspectos físicos e façam as concessões necessárias quando solicitarmos que nossos alunos/nadadores executem tarefas que requeiram a flutuação. ATENÇÃO Manter-se flutuando horizontalmente junto à superfície da água não está relacionado diretamente com um treinamento, mas com as características da composição corporal humana e a incidência das forças de gravidade e empuxo sobre os centros de atuação. EQUILÍBRIO De acordo com Massaud (2008 a), equilíbrio é o estado de um corpo cuja situação de repouso ou movimento permanece inalterada em relação a um sistema de eixos de referência. Na natação, podemos observar uma situação de equilíbrio quando o aluno, ao flutuar em posição dorsal ou ventral, mantém-se na posição sem a necessidade de auxílio, seja de materiais flutuantes, do professor ou de outro aluno de turma. Fonte: Shutterstock Em síntes, flutuar é a ação de manter um corpo na superfície de um fluido, no caso, a água, que requer uma relação das densidades favoráveis e um alinhamento entre as forças de gravidade e empuxo sobre os respectivos centros de incidência dessas forças. Fonte: Shutterstock Para além do aprendizado da natação, também é possível observarmos um nadador de nível avançado realizando uma prova. Assim, podemos verificar que ele está em equilíbrio, pois mantém um padrão de movimentos em relação aos eixos longitudinal e transversal, mas, nesse caso, o equilíbrio é dinâmico, e no caso das flutuações, é estático. PESO Todo objeto, inclusive nosso corpo, possui características de peso, que pode ser definido como o produto da massa do corpo pela força da gravidade. No caso da Terra, o valor da gravidade é de 9,8 m/s². O PESO DE UM OBJETO É A FORÇA GRAVITACIONAL SOFRIDA POR ELE EM VIRTUDE DA ATRAÇÃO GRAVITACIONAL NELE EXERCIDA POR UM OUTRO CORPO COM MASSA. (MASSAUD, 2008 a) Um estudo clássico realizado por Kruel (1994), sobre a verificação do peso hidrostático em pessoas submetidas a diversas profundidades, identificou que a redução percentual aproximada sobre o peso total/real foi: Fonte: Shutterstock Com isso, uma pessoa com 100 Kg, estando de pé na piscina com água à altura do pescoço, terá uma redução do peso total em 84%, ou seja, estará na piscina com um peso relativo de 16 Kg, o que proporciona alívio da sobrecarga nos membros inferiores, beneficiando pessoas obesas com restrições de mobilidade por hipotrofia nos membros inferiores, no que diz respeito à realização de exercícios. Cabe ressaltar que isso ocorre pela ação da força de empuxo/flutuação sobre o corpo imerso, relacionado ao Princípio de Arquimedes. MASSA Apesar de ser frequentemente associada ao peso dos objetos, esta associação, na maioria das vezes, não se revela elucidativa. Logo, a massa de um corpo é a propriedade que relaciona uma força que age sobre o corpo com a aceleração resultante, ou seja, a massa de um objeto resulta da interação, por exemplo, entre a massa de determinado objeto e a força da gravidade. Desse modo, a massa é parte integrante da explicação para o peso, uma vez que ela sozinha não constitui a explicação completa (HALLIDAY; WALKER, 2016). DENSIDADE É a relação entre a massa total e o volume de um objeto que define sua densidade e determina suas características específicas de flutuabilidade no fluido em que precisa flutuar. A densidade de um objeto é obtida por meio da divisão do peso pelo volume (MASSAUD, 2008 b). A densidade também varia de acordo com a temperatura da água. A densidade da água natural em unidades atuais é de 1000 Kg/m3 ou 1g/cm3. Se um objeto tem uma densidade menor que essa, ele flutuará; se for maior, afundará; e se for igual à da água, flutuará logo abaixo da superfície, ou seja, junto à mesma. EXEMPLO A água do mar é mais densa (1,03 g/cm3) que a água natural (1,0 g/cm3) e, portanto, oferecerá uma maior flutuabilidade (MASSAUD, 2008 a). Por exemplo, no Mar Morto, no Oriente, a água é bem mais salgada, D=1,2 g/cm3, e com isso, a capacidade de flutuar é bem maior. Dessa forma, é possível estabelecer a flutuabilidade comparando a densidade de um material com a da água. Da mesma forma, é possível estabelecer a densidade relativa, que é igual a densidade de um dado volume de substância dividido pela densidade da água. Ou seja, A densidade relativa da água natural é igual a 1. Se a densidade relativa de um objeto for maior que 1, ele afundará, e se for menor, ele flutuará, reforçando o que foi apresentado. De acordo com Massaud (2008 a): Densidade = Massa total V olume A DENSIDADE TAMBÉM SOFRE VARIAÇÕES ENTRE AS PESSOAS. TEMOS OS MAIS DENSOS QUE A ÁGUA, COM MASSA MUSCULAR CONSIDERÁVEL (1 G/CM3) E OSSOS COMPACTOS (1,5 G/CM3), E OS MENOS DENSOS, COM TECIDO ADIPOSO CONSIDERÁVEL (0,8 G/CM3), OSSOS ESPONJOSOS E QUANTIDADE DE AR NOS PULMÕES (DENSIDADE DO AR 0,001 G/CM3). A idade também influência: 0,86 para crianças, 0,97 para adolescentes e adultos jovens, decrescendo novamente para os adultos e idosos, em função de alterações na composição corporal, tais como: aumento do tecido adiposo e ossos tornando-se esponjosos. A densidade também varia de acordo com a mudança de temperatura. Neste vídeo, entenderemos como funciona a flutuabilidade dos corpos no meio líquido. CALOR E TEMPERATURA DA ÁGUA CONCEITO DE CALOR Calor é a energia transferida entre dois ou mais sistemas devido a uma diferença de temperatura entre eles. O calor só é transferido enquanto os corpos possuírem temperaturas diferentes entre si, isso porque uma vez atingido o equilíbrio térmico, os corpos adquirem a mesma temperatura e deixa de ocorrer o fluxo/troca de energia, ou seja, de calor. Por exemplo, quando pegamos um copo com café quente, a energia é transferida do objeto para a nossa mão, e quando pegamos um copo com bebida gelada, a energia é transferida da nossa mão para o objeto. Ou seja, quando dois corpos estão em contato, a energia é transferida do que tem maior temperatura para o de menor temperatura (HALLIDAY; WALKER, 2012). CONCEITO DE TEMPERATURA Temperatura é a grandeza que caracteriza o estado térmico de um corpo ou sistema. Na prática da natação, exerce interferência em vários aspectos. Desse modo, a água relativamente fria coloca o nadador em estresse térmico (KATCH; KATCH; McARDLE, 2016). A nataçãoem água fria induz ajustes metabólicos e cardiovasculares diferentes dos observados na prática em água quente. Essas respostas mantêm uma temperatura central estável, pois permitem compensar a considerável perda de calor sofrida pelo corpo, particularmente com temperaturas abaixo de 25°C. A perda de calor corporal ocorre mais rapidamente em nadadores magros, que são menos beneficiados pelos efeitos do isolamento proporcionado pela gordura subcutânea. Essa condição interfere no interesse de participação dos alunos e nas respostas musculares, ou seja: Fonte:Shutterstock A água quente (28 ºC a 31 ºC), para os hipertônicos, teria um efeito dilatador e auxiliaria no relaxamento ou descontração muscular. Fonte:Shutterstock Já a água fria (24 ºC a 27 ºC), para os hipotônicos, teria um efeito constritor, o que tenderia a promover algum grau de tensão ou contração muscular. No entanto, precisamos considerar que se trata de uma questão individual. Há pessoas que possuem um bom desempenho em água quente, outras preferem água fria. É importante ressaltar que existem algumas particularidades em relação a determinados grupos de praticantes: BEBÊS E PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS FÍSICAS E MENTAIS São mais perceptíveis e sensíveis a nível tátil e sinestésico com a água, e o seu desempenho motor nas atividades aquáticas está relacionado diretamente a esse fator. IDOSOS Este grupo tem a tendência de realizar atividades menos dinâmicas, de modo que precisaríamos de água a uma temperatura em torno de 28 ºC a 31 ºC, para gerar maior conforto na realização das aulas. JOVENS/ATLETAS Por suportarem aulas mais dinâmicas, a temperatura da água mais elevada dificultaria a homeostasia (regulação térmica corporal), pois, com uma atividade mais intensa, gerando calor corporal, e a água com alta temperatura, estaria interferindo na troca de calor para o ambiente (água), tornando-a menos intensa e ocasionando uma sensação de abafamento. OBESOS Dispõem de composição corporal com maior percentual de tecido adiposo, de modo que costumam suportar melhor as atividades em água com temperatura mais baixa. Segundo Varella (2020), a temperatura corpórea considerada ideal varia entre 36 ºC e 36,7 ºC. Logo, piscinas com água a temperaturas inferiores a essa desencadearão a transferência de calor do corpo para a água, enquanto as com temperaturas superiores estarão promovendo a ação inversa. Daí a importância de atentarmos para as adequações apresentadas anteriormente em relação à temperatura da água e às características dos alunos. CONDUTIBILIDADE TÉRMICA DA ÁGUA A condutibilidade da água produz um processo de desgaste térmico no corpo do nadador. A queda da temperatura do corpo na água é 25 vezes maior que no ar, por isso, um corpo quente se refrigera com muito mais rapidez. Nadar em água abaixo de 20 ºC aumenta consideravelmente o gasto energético (KATCH; KATCH; McARDLE, 2016). Cabe lembrar a situação do professor que ministra aulas de natação, principalmente para bebês de zero a dois anos e para os grupos de adaptação ao meio aquático, em que a sua presença, em geral, faz-se necessária junto ao aluno. A importância de uma piscina aquecida, com a temperatura a aproximadamente 30 ºC, para o desenvolvimento de aulas nas quais o professor chega a ficar horas dentro d’água, é imprescindível para lhe oferecer condições de manter a temperatura orgânica no exercício do seu ofício. Fonte:Shutterstock TENSÃO SUPERFICIAL De forma bem simplificada, a tensão superficial da água relaciona-se com a maior atração que as suas moléculas sofrem junto à superfície, resultando na formação de uma membrana elástica, o ponto de transição entre os meios ar e água, que consiste em uma película ou camada com determinada resistência, a ponto de sustentar uma agulha até pequenos animais (ALMEIDA et al., 2011). Observe as imagens relacionadas à tensão superficial, e como os insetos e pequenos animais conseguem deslocar-se sobre a superfície da água. Fonte:Shutterstock Fonte:Shutterstock As moléculas situadas no interior de um líquido são atraídas em todas as direções pelas moléculas vizinhas e, por isso, a resultante das forças que atuam sobre cada molécula é praticamente nula. Elas só não “grudam” (o que transformaria o líquido em sólido) porque a agitação/vibração intensa (de cada molécula) não o permite. As moléculas da superfície do líquido, entretanto, sofrem apenas atração lateral e inferior. Esta força para o lado e para baixo cria a tensão na superfície, que a faz comportar-se como uma película elástica. Em relação à prática da natação, devemos atentar para ações de nossos alunos que sejam realizadas do meio ar para o meio água, como, por exemplo, a introdução dos braços na água no momento da entrada da braçada, nos nados Crawl, Costas e Borboleta, em que, caso sejam realizados de forma muito vigorosa, fugindo dos padrões técnicos, poderão acarretar sobrecarga nos ombros e futuras lesões. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COMO SE DENOMINA A FORÇA VERTICAL PARA CIMA, QUE AGE SOBRE UM CORPO IMERSO? A) Gravidade. B) Pressão Hidrostática. C) Empuxo. D) Peso. 2. A HIDROSTÁTICA ENVOLVE O CONHECIMENTO DE DUAS GRANDEZAS FUNDAMENTAIS. QUAIS SÃO ELAS? A) Gravidade e pressão. B) Densidade e pressão. C) Empuxo e gravidade. D) Densidade e massa. GABARITO 1. Como se denomina a força vertical para cima, que age sobre um corpo imerso? A alternativa "C " está correta. De acordo com o Princípio de Arquimedes, o peso do volume da água deslocada é igual ao peso do corpo que flutuava nela (relacionado à parte imersa do corpo). Essa força atua na vertical de baixo para cima, também intitulada força de flutuação. 2. A Hidrostática envolve o conhecimento de duas grandezas fundamentais. Quais são elas? A alternativa "B " está correta. A Hidrostática é a área da Física que estuda as propriedades dos fluidos em repouso. Entendemos como fluidos as substâncias capazes de assumir o formato de seu recipiente, mudando de forma sob a ação de alguma força externa. As propriedades físicas dos fluidos que se destacam como as grandezas mais importantes são densidade e pressão. MÓDULO 2 Identificar a relação dos princípios e das propriedades físicas da água com a prática da natação, a partir da definição de Hidrodinâmica HIDRODINÂMICA É a disciplina da mecânica dos fluidos que estuda as propriedades e o comportamento dos líquidos e gases em movimento (SANTOS, 2010). Essa ciência emprega os conceitos de densidade, pressão e viscosidade, e considera os fenômenos de turbulência no interior dos fluidos (MASSAUD, 2008 a). VISCOSIDADE DA ÁGUA Viscosidade ou resistência interna de um líquido é a propriedade que oferece resistência à separação de suas moléculas. O corpo arrasta consigo “capas/massas” de água a distintas velocidades. Se as capas/massas de água em movimento que se encontram atrás do corpo tocam nas bordas ou no fundo (viscosidade dinâmica), então a resistência de atrito (resistência de contato) aumenta. Assim, a viscosidade é a propriedade dos fluidos que permite equilibrar, dinamicamente, forças tangenciais externas quando os fluidos estão em movimento (BRUNETTI, 2008). Na prática, nadar nas raias próximas da parede faz diminuir a velocidade. No início do século XIX, ainda percebíamos esse tipo de interferência nas competições de natação, pois não havia exigências da FINA (Federação Internacional de Natação) sobre a estrutura das piscinas que minimizasse o problema. Ao longo do tempo, foram implantados espaços de, no mínimo, 1,5m nas raias laterais 1 e 8, raias anti-marola, nas piscinas com dimensão de 50 m x 25 m x 3 m, com bordas denominadas praianas, em que a movimentação da água (propagação de ondas) não encontra paredes laterais ao longo da dimensão do comprimento da piscina. Fonte:Shutterstock Outro fator que interfere na velocidade é a profundidade da piscina. De acordo com Ramos et al. (2012), é importante que os nadadores tenhamuma preocupação em ajustar a profundidade, principalmente do deslize subaquático, para diminuir a resistência ao avanço e otimizar as distâncias alcançadas após as saídas e viradas. Segundo Brunetti (2008), sobre a viscosidade de um fluido, no caso da natação, a água possui valores diferentes e varia de um fluido para outro, principalmente com relação à temperatura, ou seja, nos líquidios, a viscosidade diminui com o aumento da temperatura. A prática da natação em água com temperatura entre 25 e 28 ºC favorece a obtenção de melhores tempos do que em água fria. Devido a isso, a FINA estabeleceu essa faixa de temperatura para as competições oficiais, como uma das exigências para a homologação um recorde. A viscosidade da água a 25 ºC é, aproximadamente, 30% inferior à mesma a 10 ºC. Viscosidade é a propriedade que indica maior ou menor dificuldade de o fluido escoar/escorrer (BRUNETTI, 2008). Nessa perspectiva, a água não acelera a uma velocidade infinita porque tem viscosidade ou, simplesmente, uma qualidade pegajosa ou elástica. Se a água não tivesse viscosidade, os rios do mundo, correndo até os vales pela ação da gravidade, fluiriam com velocidade cada vez maior, atingindo centenas de quilômetros por hora, com resultados desastrosos. COMENTÁRIO Para um nadador, a viscosidade é a capacidade que lhe permite “agarrar” a água a partir da separação do fluxo. Essa separação do fluxo provoca uma diferença no padrão da pressão ao redor da mão. Sob certas condições, esse diferencial da pressão promove a resistência contra a qual a propulsão pode ser aplicada. Paradoxalmente, apesar de ajudar na propulsão do nadador, a viscosidade também resulta na resistência que impede o movimento de avanço do corpo. Por causa da viscosidade, quando um corpo se move por meio de um fluido, os elementos deste, que estão em contato com o limiar sólido, prendem-se ao corpo e não deslizam ao longo dele como esperaríamos. Os elementos próximos ao limiar passam pelos que estão presos, ou seja, as moléculas de água que estão junto ao corpo do nadador. Esse movimento relativo coloca em ação as forças de resistência da viscosidade que se opõem ao movimento e causam fricção ou rompimento. Você pode detectar, facilmente, a resistência em um meio viscoso quando tenta tirar uma colher do interior de um pote de mel. Parte da substância gruda no vidro e a parte intermediária sofre um movimento de distorção ao qual ela se opõe e, então, resiste. Quanto mais rápido o movimento, maior a resistência (COLWIN, 2000). FLUXOS DA ÁGUA A água é formada por moléculas de hidrogênio e oxigênio que, ao se movimentarem de maneira homogênea e uniforme, tendem a se amontoar umas sobre as outras, como folhas laminadas, daí a referência ao fluxo laminar. Segundo Maglischo (2010), a água consiste em moléculas de hidrogênio e oxigênio que tendem a flutuar em correntes regulares e contínuas até encontrar algum objeto sólido que quebre o seu movimento. Essas correntes são compactadas umas sobre as outras, surgindo assim o que denominamos fluxo laminar, que oferece menor resistência ao deslocamento dos nadadores em suas práticas. Fonte: Shutterstock Os nadadores, ao adentrarem a piscina e começarem a se movimentar, ocupam um espaço no meio aquático, quebrando as lâminas que promovem um estado de estabilidade da água e criando o fluxo turbulento. Quando as correntes regulares, vistas no fluxo laminar, são interrompidas, observa-se o surgimento do fluxo turbulento. Há uma separação das moléculas de água de suas correntes regulares, repicando umas nas outras em direções aleatórias. A turbulência gera uma redução da pressão pela movimentação da água, mas, em função da movimentação circular e rápida de suas moléculas, a resistência ao deslocamento dos nadadores tende a aumentar. O grau de turbulência depende da velocidade do movimento, e a forma do corpo influencia na produção da turbulência (MAGLISCHO, 2010). Fonte:Shutterstock A pressão aumenta com a profundidade e com a densidade da água. Para a execução dos movimentos tornar-se mais fácil, é necessário que o corpo se encontre em posição horizontal. Quando o corpo não está nessa posição, em contato com a água, os movimentos passam a ser mais difíceis, o que pode ser superado com alongamento dos segmentos corporais ou com acréscimo de materiais que auxiliem na melhora do posicionamento (SOUZA, 2016). TIPOS DE ARRASTO ‒ RESISTÊNCIA Professores e/ou treinadores de natação fixam-se nas técnicas dos nados, saídas e viradas por meio de exercícios que muitos denominam “educativos”, na busca de melhorias das ações de seus alunos. No entanto, é importante ressaltar que a devida atenção às forças de resistência que o corpo encontrará em seus deslocamentos no meio aquático também possui considerável importância. Quando um corpo ou objeto desloca-se na água, ele encontra resistência, que se subdivide em: Positiva (ação) É a onda ascendente, a pressão positiva na frente do corpo ou objeto. Negativa (reação) É a onda descendente, a pressão negativa, que foi criada diretamente atrás do corpo ou objeto. Forma-se uma área de baixa pressão que cria turbulência e suga o corpo para baixo. Devido à densidade, a água oferece uma considerável resistência ao deslocamento. O termo utilizado para a resistência da água aos movimentos dos nadadores é “arrasto”. As forças de arrasto sempre atuam em oposição ao sentido de deslocamento do nadador. Fonte:Shutterstock É importante identificar ações ou posicionamentos dos alunos/nadadores que possam estar elevando o arrasto, para que, logo a seguir, mediante a intervenção do professor, isso possa ser revertido, gerando um ganho imediato no deslocamento. Outra forma de fazer com que o nosso aluno/nadador venha a apresentar uma melhora em seu deslocamento é por meio da melhoria da técnica do nado ou do condicionamento orgânico, o que pode levar algumas semanas. A seguir, veremos os tipos de resistência e suas consequências em relação à prática. ARRASTO DE FORMA É causado pela forma (posicionamento) dos corpos dos nadadores em seus deslocamentos através dos nados. COMENTÁRIO Destarte, os objetos mais afilados (“finos”), ao serem submetidos a deslocamentos no meio aquático, encontram menor resistência ao avanço do que objetos com formas quadradas/retangulares, de maior área de contato transversal ao fluxo de água. Nessa lógica, os peixes, por sua natureza, possuem formatos que lhes favorecem a obtenção do deslocamento facilitado, se comparados aos seres humanos (MAGLISCHO, 2010). Na prática, quanto à interferência causada pelo posicionamento do nadador, poderíamos ilustrar a seguinte situação: Se um(a) aluno(a) e/ou atleta estivesse executando o nado Crawl com os membros inferiores consideravelmente em profundidade, isso acarretaria em aumento de resistência ao deslocamento, uma vez que aumentaria a coluna de água transversal em contato com o corpo do nadador, gerando acréscimo significativo de resistência. É bom lembrar que não só o desalinhamento horizontal em relação à superfície da água promove o aumento do arrasto de forma, desalinhamentos laterais, como deslocamento dos quadris para os lados, também gerarão acréscimo. ARRASTO DE ONDA É causado pela movimentação da água nos nadadores, gerada pelo próprio nadador ou outro que esteja próximo. No caso de ondas causadas devido à característica física da piscina ou por falta de raias anti-marola, todos os nadadores estarão submetidos à mesma condição negativa de acréscimo de resistência, o que não interferiria na classificação de uma prova, mas, com certeza, geraria uma piora no tempo de todos. Essa movimentação não pode ser evitada pelos nadadores. Fonte:Shutterstock Quando ocorre o movimento na água, as ondas são geradas pela ação inadequada do nadador, como, por exemplo, o posicionamento muito vigoroso do braço (entrada) na água, nos nados Crawl e Borboleta. Desse modo, ele deverá realizar alguns exercícioseducativos para minimizar essa interferência. Cabe ressaltar o potente efeito de acréscimo de arrasto de onda, relacionado à pressão da cabeça contra a água, gerando a onda que surge à frente do nadador, diretamente relacionada com a velocidade de deslocamento dele. Ao dobrar sua velocidade, o nadador produz um aumento de resistência a um fator de 8 (MAGLISCHO, 2010). ARRASTO DE FRICÇÃO Relaciona-se com uma resistência de contato causada pela fricção (atrito) entre a pele dos nadadores e as moléculas da água. A fricção da pele na água é 790 vezes maior do que no ar, fator que dificulta os movimentos e requer um gasto maior de energia comparado aos mesmos movimentos fora da água. Isso significa que o ritmo de realização dos movimentos é mais lento na água (MASSAUD, 2008 a). Nos Jogos Olímpicos de Sidney, realizados no ano 2000, as empresas de materiais esportivos, com a autorização da FINA, investiram na confecção dos trajes denominados “pele de tubarão” ou fast skin (“pele rápida”), com a intenção de minimizar o arrasto de fricção. No entanto, o meio científico, à época, não considerava que houvesse uma interferência expressiva desse tipo de resistência ao avanço dos nadadores, o que pode ter levado à FINA a autorizá-lo, tendo voltado atrás em 2009, proibindo a sua utilização e restringindo seu uso a uma bermuda, para homens e mulheres, de forma a não ultrapassar a linha dos joelhos e ombros. Veja os trajes dos nadadores nas imagens selecionadas. Fonte:Shutterstock Fonte:Shutterstock ARRASTO DE EMPUXO É a expressão utilizada para identificar uma forma de movimentação da água produzida pelo próprio nadador, mas com uma característica diferenciada, associada às que se originam por meio dos movimentos realizados na execução dos nados. Nesse caso, o nadador sofre o efeito da Terceira Lei de Newton, ação e reação, ao empurrar água com o intuito de produzir a força propulsiva. Por exemplo, quando um nadador realiza uma flexão exagerada nos quadris, durante a pernada de costas, ele promoverá um deslocamento de água no sentido do tronco e, consequentemente, aumentará o arrasto de empuxo (MAGLISCHO, 2010). Fonte:Shutterstock Neste vídeo, conceituaremos o arrasto e estabeleceremos seus tipos, além de conhecermos o arrasto de empuxo de forma detalhada. PROPULSÃO A propulsão é o ato de impulsionar ou empurrar para frente. Está, necessariamente, relacionada à superação da resistência natural de um fluido, como a água. Ou seja, é o movimento gerado a partir de uma força que impele um corpo para frente. Nos seres humanos, os ossos e músculos devem estar em harmonia para criar propulsão para andar, correr e nadar (BARBOSA et al., 2015). Quando o nadador realiza uma ação na água, por meio de movimentos de membros inferiores, superiores e tronco, obterá, de imediato, uma reação de deslocamento, envolvendo diversos fatores e gerando a força propulsiva. Daí ocorre o deslocamento horizontal na água. VOCÊ SABIA As primeiras tentativas de descrever os movimentos natatórios do ser humano foi associando- os a remos e rodas de pás, mecanismos propulsores das embarcações utilizados na antiguidade. Os nadadores eram ensinados a manter seus braços esticados, movimentando-os em um padrão semicircular, durante a fase aquática da braçada, com o intuito de gerar a força propulsiva para o deslocamento do nadador (MAGLISCHO, 2010). Após esse processo, na passagem entre as décadas de 60 e 70 do século passado, surgem as Teorias do Arrasto Propulsivo, baseadas em observações da parte submersa das braçadas, identificando que, nas competições, os nadadores flexionavam seus braços na ação submersa e não os mantinham esticados, como remos ou rodas de pás. Essas observações levaram às primeiras tentativas modernas de aplicação dos princípios científicos da propulsão à natação. Em 1968 e 1970, respectivamente, James Counsilman e Charles Silvia realizaram estudos clássicos que até hoje servem de referência. A primeira Teoria do Arrasto Propulsivo, denominada, Empurrar Direto para Trás para ir para Frente, fundamentada na Terceira Lei de Newton, Ação e Reação, traz a interpretação de que a ação se relacionava com o deslocamento dos braços para trás, para obter a reação do deslocamento corporal à frente. Nessa época, havia uma crença que qualquer desvio lateral dos membros acarretaria, posteriormente, na perda da trajetória do nadador. Apesar dessas teorias serem amplamente aceitas à época, Counsilman, ao utilizar a fotografia submersa, observou que a mão não se deslocava retilineamente para trás, por baixo do corpo, mas seguia um trajeto sinuoso. Assim, ele deduziu que procedendo desse modo, com ligeiras mudanças, os nadadores poderiam encontrar uma água mais estabilizada, conseguindo deslocar uma maior massa d’água por curtas distâncias, ao invés de um pequeno volume de água por longa distância. Essa observação provocou uma alteração da teoria anterior, fazendo surgir a Teoria do Movimento Sinuoso, relacionada à famosa braçada em “S” do Nado Crawl. Essa teoria, segundo os pesquisadores, auxiliava na preservação energética e aumentava a amplitude na trajetória aquática das braçadas, favorecendo a propulsão (MAGLISCHO, 2010). VOCÊ SABIA Counsilman, foi o treinador do famoso nadador Mark Spitz, detentor do recorde olímpico e que obteve o maior número de medalhas de ouro (sete) em uma mesma edição dos jogos olímpicos, ocorrida em Munique, em 1972. Esse recorde só veio a ser superado em 2008, nos jogos olímpicos de Pequim, por Michael Phelps, que obteve oito medalhas de ouro. Counsilman e Brown, em busca da “verdadeira” natureza da propulsão humana, continuaram suas pesquisas de hidrodinâmica e, em 1971, publicaram os resultados de uma pesquisa em que filmaram os nadadores em uma piscina totalmente escura, com lâmpadas acopladas às suas mãos, obtendo o efeito estroboscópio dos raios luminosos. Essa pesquisa é considerada como um marco divisório da biomecânica da natação (MAGLISCHO, 1999, 2010). Os pesquisadores identificaram que os movimentos propulsivos das mãos e dos braços dos nadadores realizavam-se, em sua maioria, nas direções lateral e vertical, e não para trás, como se pensava. A partir daí, inicia-se a indicação da importância dos palmateios na prática da natação, visando a propulsão. Fonte:Shutterstock Os pesquisadores perceberam que a ênfase dos movimentos das braçadas não eram efetivamente para trás, e, com isso, buscaram um novo referencial teórico, que, de imediato, foi o Teorema de Bernoulli. O seu autor, Daniel Bernoulli, foi um cientista suíço que descobriu a relação inversa entre a velocidade e a pressão nos fluidos, princípio da produção da força de sustentação gerada para as aeronaves. Assim, Counsilman e Brown perceberam uma ênfase nos movimentos laterais e verticais nas braçadas, gerando diversos fluxos de água pelas mãos, como, por exemplo, ao afastar os braços na execução de uma braçada, onde o fluxo principal será do lado da mão onde localiza-se o dedo mínimo para o lado do dedo polegar, logo, denomina-se fluxo ulnar (MAGLISCHO, 1999, 2010). COMENTÁRIO Essa passagem exemplificada assemelha-se à passagem do ar pela asa do avião e produz a força. Os pesquisadores perceberam a semelhança no formato da mão humana ao corte transversal da asa, ou seja, o dorso da mão é curvo e a planta é plana, proporcionando um efeito similar ao da asa. Surge, dessa forma, a Teoria da Sustentação. O esforço para vencer a resistência da água é um excelente trabalho muscular para o corpo, seja dos membros inferiores, mediante a propulsão das pernas ou dos membros superiores (braços e tronco). Tais movimentos não sobrecarregam as articulações, ajudando a melhorar a flexibilidade/mobilidade articular, a condição cardiorrespiratória, a resistência muscular, além de várias outras qualidades físicas (MASSAUD, 2008 a). REFRAÇÃO A Refração não está diretamente relacionada com a Hidrodinâmica, tampouco com a Hidrostática,mas consideramos importante abordá-la devido à sua possível interferência na análise qualitativa dos movimentos executados pelos alunos no meio aquático, com o professor a observá-los de fora d’água. Fonte:Shutterstock Segundo Araújo (2011), a refração é a relação entre as velocidades de propagação da luz. Ou seja, quando a luz atravessa um meio transparente, sua velocidade se altera, ocorrendo um desvio quando muda o meio de propagação. Na prática, em relação às nossas ações pedagógicas, precisaremos dar atenção a esse fenômeno para não incorrermos em erros nas nossas análises qualitativas dos movimentos realizados junto aos alunos. Para Souza (2016), a análise cinemática em duplo-meio, com presença de dois fluidos, o ar e a água, fica condicionada a tratar do problema dos diferentes índices de refração envolvidos. Assim, o professor, enquanto ministra sua aula, do lado de fora da piscina, estará submetido a distorções na captura das imagens das execuções dos exercícios e nados dos alunos, realizados no interior do meio aquático. De acordo com Barbosa et al. (2015), essa posição não é totalmente satisfatória, pois haverá distorção e refração da imagem dos nadadores, o que torna a análise não conclusiva. Podemos constatar que quanto mais distante o aluno estiver da borda em que o professor está posicionado, maior será a distorção da imagem captada, decorrente da refração, ocasionando possíveis equívocos na análise do movimento realizado. Dessa forma, o professor poderá sugerir ao aluno que realize possíveis alterações em seus movimentos, quando, na verdade, esses movimentos se afigurariam satisfatórios dentro dos padrões biomecânicos. A base teórica para a situação-problema dentro da dinâmica pedagógica apresentada relaciona-se à segunda lei da refração, também conhecida como lei de Snell-Descartes, usada para calcular o desvio angular sofrido pelo raio de luz refratado. A reta normal, por sua vez, é usada como referência para as medidas dos ângulos de incidência e refração, como mostramos na figura a seguir: Fonte:Shutterstock PARTICULARIDADES DAS ATIVIDADES NO MEIO AQUÁTICO Algumas alterações fisiológicas do corpo humano relacionam-se com propriedades físicas vistas ao longo dos módulos. Tomemos como exemplo específico a pressão hidrostática, por alterar-se em função da profundidade. O simples fato de um aluno entrar na piscina promoverá um redirecionamento do volume de sangue dos membros inferiores para a cavidade torácica, provocando aumento do débito cardíaco (YOO, 2014). Esse fenômeno é conhecido como hipovolemia. Dessa forma, é possível que a natação produza reações fisiológicas diferentes das que ocorrem no meio terrestre, devido tanto ao efeito hidrostático da água nos sistemas cardiorrespiratórios como a sua capacidade de intensificar a perda de calor comparada ao ar, que abordamos nos tópicos calor e condutibilidade térmica da água. HIPOVOLEMIA Ou seja, um aumento do volume sanguíneo no centro do corpo. A translocação de sangue pode afetar a pressão arterial e a carga de trabalho cardíaco, gerando adaptações fisiológicas, entre elas a diminuição da frequência cardíaca durante o exercício (KRUEL, 2013). Segundo Egli (2015): A NATAÇÃO E AS ATIVIDADES AQUÁTICAS, EM GERAL, APRESENTAM UMA TENDÊNCIA MENOR A PROVOCAR LESÕES E TRAUMATISMOS EM RELAÇÃO ÀS ATIVIDADES TERRESTRES, COMO CONSEQUÊNCIA DO EFEITO DA FLUTUAÇÃO DO CORPO, OU SEJA, A AÇÃO DA FORÇA DE EMPUXO javascript:void(0) PROMOVENDO UMA REDUÇÃO DO PESO REAL, FACILITANDO, DESSA FORMA, A PARTICIPAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COMPROMETIMENTOS FÍSICOS EM SUA MOBILIDADE. Cabe ainda ressaltar que o exercício aquático promove o fortalecimento da musculatura enfraquecida, desenvolvendo força e resistência, e permitindo a obtenção de avanços na amplitude de movimento nas articulações. McGinnis (2015) ressalta que a força dinâmica no fluido está relacionada ao produto das seguintes variáveis: Densidade do meio, que se apresenta de forma constante, considerando que o praticante da atividade estivesse na piscina; Área transversal ao fluido, quando utilizados, por exemplo, um palmar ou nadadeiras. Velocidade da ação. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM NADADOR EXTREMAMENTE PELUDO DECIDE RASPAR-SE AO PARTICIPAR DE UMA COMPETIÇÃO. SUA ATITUDE ESTÁ RELACIONADA COM A INTENÇÃO DE MINIMIZAR QUE TIPO DE ARRASTO? A) Forma. B) Onda. C) Empuxo. D) Fricção. 2. UM EVENTO DE NATAÇÃO FOI REALIZADO EM UMA PISCINA QUE DISPUNHA DOS BLOCOS DE PARTIDA, DAS LINHAS DE FUNDO DEMARCATÓRIAS DAS RAIAS, MAS NÃO TINHA AS RAIAS PARA FAZER AS SEPARAÇÕES DO ESPAÇO DE CADA NADADOR JUNTO À SUPERFÍCIE DA ÁGUA. CONSIDERANDO ESSA REALIDADE, E QUE HOUVE O EVENTO NESSAS CONDIÇÕES, OS NADADORES FICARAM PREJUDICADOS EM SUAS PERFORMANCES EM RELAÇÃO À INTERFERÊNCIA DE QUE TIPO DE ARRASTO? A) Forma. B) Onda. C) Empuxo. D) Fricção. GABARITO 1. Um nadador extremamente peludo decide raspar-se ao participar de uma competição. Sua atitude está relacionada com a intenção de minimizar que tipo de arrasto? A alternativa "D " está correta. O arrasto de fricção está relacionado com a aderência das moléculas de água junto ao corpo do nadador e o estado do fluxo da água. Sendo assim, uma pessoa com maior quantidade de pelos irá gerar uma maior turbulência da água, aumentando o nível de resistência, considerando que os pelos a produzirão. 2. Um evento de Natação foi realizado em uma piscina que dispunha dos blocos de partida, das linhas de fundo demarcatórias das raias, mas não tinha as raias para fazer as separações do espaço de cada nadador junto à superfície da água. Considerando essa realidade, e que houve o evento nessas condições, os nadadores ficaram prejudicados em suas performances em relação à interferência de que tipo de arrasto? A alternativa "B " está correta. A ausência das raias anti-marola, apresentada na situação hipotética da questão, incrementaria a movimentação da água, gerando mais ondas pelos próprios deslocamentos dos nadadores envolvidos na disputa e, consequentemente, haveria o aumento do arrasto de onda. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS No primeiro módulo, em Hidrostática, você pôde perceber como princípios e leis físicas da água, como os do Arquimedes e Pascal, interferem no contato do ser humano com a água, como, por exemplo, no equilíbrio, nas forças exercidas sobre o corpo, nas diversas interferências causadas na flutuabilidade humana e outras propriedades, como calor, massa e peso. No segundo módulo, houve uma maior aproximação com a dinâmica da Natação, uma vez que começamos a verificar a viscosidade da água, seus fluxos, interferências causadas pelos arrastos nos deslocamentos dos nadadores e a propulsão. Esses dois últimos tópicos são de importância fundamental para otimizar o deslocamento dos atletas, considerando que quanto menor for o arrasto gerado e maior a produção da força propulsiva, maior será velocidade de deslocamento, que é a meta dos nadadores em suas provas competitivas. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. F. et al. Tensão superficial: será que a agulha afunda? In: Sociedade Brasileira de Química (Org.). In: A química perto de você: experimentos de baixo custo para a sala de aula do ensino fundamental e médio. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química, 2011. p. 111-116. ARAÚJO, M. A. C. Medidas interferométricas do índice de refração de líquido. Dissertação (Mestrado em Física) – Programa de Pós-Graduação em Física, Universidade Federal da Paraíba, 2011. BARBOSA, T. et al. Manual de referência FPN para o Ensino e Aperfeiçoamento Técnico em Natação. 2015. BRUNETTI, F. Mecânica dos fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. COLWIN, C. Nadando para o século XXI. Trad. Maria de Lourdes Giannini. São Paulo: Manole, 2000. EGLI, Cory N. The Effects of Land vs. Aquatic HIIT Treadmill Running on Aerobic and Anaerobic Performance – A Pilot Study. Honors Research Projects. 2015. GOMES, L. E. Forças propulsivas durante o movimentode palmateio: contribuições para natação. 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Outra boa leitura sobre o tema abordado é o livro Hidrostática & calor ‒ integração, experimento, teoria, cotidiano, de Hélio Bonadiman, publicado pela Editora Unijuí. Recomendamos também o volume 18 da coleção Pesquisa em Educação Física: Efeito de um treinamento e natação de curto período sobre a eficiência propulsiva em jovens universitários, publicado pela Editora Várzea Paulista. CONTEUDISTA Marcelo Garcia Massaud CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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