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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA DEFINIÇÃO DAC é caracterizada por uma reversível demanda aumentada e suprimento inadequado de sangue para o miocárdio, resultando em uma isquemia. ANGINA NO PEITO É a forma clínica mais comum de apresentação da DAC -> dor ou desconforto em tórax, epigástrio, mandíbula, membro, dorso ou MMSS. ❖ É tipicamente desencadeada ou agravada por estresse físico ou emocional e atenuada por repouso ou pelo uso de nitroglicerina e derivados. Pode ser normalmente reproduzida em exames indutores de isquemia em geral e ocorre em portadores de DAC com acometimento em pelo menos uma artéria epicárdica. FISIOPATOLOGIA DAC estável pode apresentar-se clinicamente associada a diferentes mecanismos fisiopatológicos, que incluem: ❖ Obstrução de artérias epicárdicas por placas ateromatosas. ❖ Espasmo focal ou difuso de vaso com ou sem doença aterosclerótica. ❖ Disfunção ventricular causada por lesão aguda prévia ou músculo hibernado. ❖ Disfunção microvascular. Esses mecanismos podem atuar isoladamente ou combinados. A isquemia miocárdica é causada por desbalanço entre a oferta de O2 para o tecido e sua demanda, e as consequências dessa isquemia ocorrem em uma sequência temporal: 01- Aumento das concentrações de H+ e K+ na circulação venosa que drena o território isquêmico. 02- Sinais de disfunção diastólica e posteriormente sistólica com anormalidades regionais de movimentação da parede ventricular. 03- Aparecimento de alterações eletrocardiográficas nos segmentos ST-T. 04- Dor torácica anginosa. Isquemia miocárdica por obstrução arteriolar é decorrente de disfunção endotelial e da presença de placa de ateroma em si. A disfunção endotelial reduz a reserva coronariana, acarretando redução das substâncias vasodilatadoras produzidas pelo endotélio e aumento das vasoconstritoras. A disfunção endotelial também atrai para a camada íntima monócitos e linfócitos T circulantes, miócitos da camada média e as plaquetas, que produzem substâncias proliferativas. ❖ Assim inicia-se a formação das placas de ateroma que acomete a íntima dos vasos e constitui-se de células espumosas e CML secretoras de colágeno. Com a proliferação de CMLs, há crescimento da placa e obstrução vascular insidiosa ou formação de uma placa instável. Ambos podem levar à redução da perfusão miocárdica e alterações reversíveis ou não da função cardíaca. IMPORTANTE! IAM SEM ELEVAÇÃO DE S T Processo mais lento que desencadeou de uma angina estável ao IAM, não necessariamente está vinculado a uma aterosclerose, podendo ser desencadeado por: ❖ Diminuição do suprimento de O2 ❖ Taquicardia ❖ Hipertensão IAM COM ELEVAÇÃO DE ST Caracterizado pela morte isquêmica do tecido associado a aterosclerose. Geralmente é um estado abrupto ou progressão sem elevação. FATORES DE RISCO Fatores de risco tradicionais para DAC -> HA, hipercolesterolemia (LDL alto e HDL baixo), DM, sedentarismo, obesidade, tabagismo e história familiar. DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO História clínica é o primeiro ponto a ser avaliado em pacientes com dor torácica ou com história de DAC. Deve ter uma avaliação detalhada dos sintomas, incluindo: APG 08 - doença arterial coronariana Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Caráter da dor ❖ Localização ❖ Duração ❖ Intensidade ! Os pacientes, sobretudo mulheres, podem apresentar sintomas atípicos como náuseas, vômitos, desconforto epigástrico, “pontada”, “facada” e dispneia. A história de um paciente com angina pode ser típica e importante para o diagnóstico de DAC, porém, outros diagnósticos diferenciais devem ser lembrados. Após avaliação da dor, a angina necessita ser classificada como estável ou instável. Após definição da dor, o paciente deve ser arguido sobre fatores de risco e fatores agravantes de doença coronariana e classificado de acordo com o risco para a presença de DAC. ! O exame físico costuma ser normal ou não específico em pacientes com angina estável, porém, pode mostrar condições como IC, doença valvar e cardiomiopatia hipertrófica. PA elevada e presença de xantomas (tumor benigno composto de lipídios) apontam a presença de fatores de risco para DAC. ELETROCARDIOGRAMA DE REPOUSO Alterações eletrocardiográficas em repouso podem estar ausentes em 50% dos pacientes com angina do peito típica. Podem ser encontrados em sinais de IAM (fibrose miocárdica) e, ainda, achados inespecíficos -> hipertrófica VE e anormalidades da condução intraventricular sugestivas de cardiopatia isquêmica. Alterações de ST-T em vigência da angina tem importante valor diagnóstico e prognóstico. ❖ Angina variante/de Prinzmetal -> caracterizada por elevação do ST durante crises anginosas. Tem como fisiopatologia o aumento do tônus ou espasmo de artérias epicárdicas com ou sem aterosclerose. ❖ Síndrome X -> caracterizada por depressão de ST, com ou sem comprometimento das artérias epicárdicas, resultante de comprometimento da microcirculação. ! Pacientes com angina estável que apresentam qualquer uma das duas alterações estão sob risco maior do que os que apresentam ECG normal. RADIOGRAFIA DE TÓRAX A principal finalidade é avaliação de diagnósticos diferenciais. Pode orientar para outras patologias -> pneumotórax, pneumomediastino, fraturas de costela, infecções agudas, aneurisma e dissecção de aorta e tromboembolismo pulmonar. Pode ajudar a identificar sinais de IC esquerda, cardiomegalia ou aneurisma do VE -> pior prognóstico nos pacientes com DAC. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ECOCARDIOGRAMA DE REPOUSO Exame não invasivo que avalia as dimensões das cavidades cardíacas, válvulas e vasos cardíacos e movimentação das paredes. Deve ser realizado em todos os pacientes com suspeita de DAC, com objetivo de: ❖ Excluir diferenciais diagnósticos. ❖ Identificar movimentações anormais de parede sugestivas de DAC. ❖ Identificar pacientes com função ventricular reduzida. ❖ Avaliação da função diastólica. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC) Detecta e quantifica a calcificação da artéria coronariana (CAC), um marcador da presença e extensão da aterosclerose. Recomenda-se TC em pacientes assintomáticos e com risco intermediário pelos critérios de Framingham ou em pacientes assintomáticos com histórico de DAC precoce na família. TESTES DE ESTRESSE MIOCÁRDICO Trazem informações úteis e indispensáveis para estabelecer o diagnóstico e estimar o prognóstico em pacientes com DAC. ❖ Não devem ser usados de forma indiscriminada. TESTE ERGOMÉTRICO (TE) TE é um método não invasivo, de fácil acessibilidade e pouco dispendioso. Usado para diagnosticar cardiopatia isquêmica, orientar tratamento e estimar prognóstico. ! Deve ser realizado em todos os pacientes com dor torácica típica ou atípica. Contraindicações -> angina em repouso nas últimas 48hs, arritmias ventriculares graves, estenose aórtica grave, miocardite aguda, IC descompensada e endocardite infecciosa ativa e portadores de comorbidades. Para interpretação, devem ser consideradas as respostas clínicas relacionadas com os sinais e sintomas, a capacidade funcional e as respostas eletrocardiográficas e hemodinâmicas. TESTE CARDIOPULMONAR (TCP) Possibilita a obtenção de valores do consumo de oxigênio (VO2), da produção de CO2 e da ventilação por minuto -> a partir da relação entre essas variáveis e de outros hemodinâmicos, é possível obter informações complementares mais precisas. CINTILOGRAFIA MIOCÁRDICA Exame de imagem para capturar a perfusão miocárdica em relouco ou com uma combinação de repouso e estresse físico ou farmacológico. Pode avaliar a presença de isquemia e a existência de diminuição da perfusão fixa (pode significar área de fibrose). Indicações: ❖ Detecção de isquemia miocárdica. ❖ Avaliaçãofuncional da lesão. ❖ Avaliação da presença e extensão da isquemia. ❖ Estratificação de risco. ❖ Determinação do prognóstico. ❖ Impossibilidade para o TE. ❖ Avaliação da terapêutica medicamentosa. ECOCARDIOGRAMA COM ESTRESSE Realizado sob estresse físico ou farmacológico. Custo menor quando comparado à cintilografia, além de apresentar menor sensibilidade para DAC, mas maior valor preditivo positivo. CINEANGIOCORONARIOGRAFIA Padrão-ouro para diagnóstico de DAC. Possibilita o estudo do interior das coronárias, avaliando a extensão e gravidade das lesões arteriais. Não fornece informações sobre a parede – aterosclerose que invade a luz vascular pode passar despercebida. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA BIOMARCADORES DE NECROSE ! Só tem biomarcador alterado se tiver IAM, angina não é IAM. Em tese, quando as células do miocárdio começam a necrosar, o conteúdo intracelular das células começa a migrar para a corrente sanguínea, sendo possível verificar a lesão pelo sangue. TROPONINAS Teste padrão-ouro. São os marcadores mais sensíveis para o diagnóstico de uma lesão no miocárdio -> se elevam quando a lesão já é irreversível, permanecendo alta entre 3-10 dias. ❖ Dosa 12hs após o início do sintoma, pico máximo de 10-12hs. MIOGLOBINA Proteína carregadora de O2. Se o paciente infarta, teremos menos sangue no coração e, consequentemente, menos O2, como a mioglobina carrega O2 em um coração infartado, ela levará O2 mais rápido possível, tentando suprir o déficit -> mioglobina aumentada na corrente sanguínea. ❖ Aumenta consideravelmente após o infarto e normaliza por volta de 24hs. CREATINA QUINASE (CK-MB) Presente no músculo cardíaco, logo, se o paciente está com esse músculo lesado, o aparecimento de CK-MB no sangue é diagnosticado como um IAM -> quanto mais CK-MB, maior foi a lesão. TRATAMENTO BETABLOQUEADORES (BB) Impedem a ligação de catecolaminas ao receptor B-adrenérgico. Em tese, diminuem a FC e o DC (receptores B1), diminuindo a liberação de renina, logo, diminui SRAA -> com essa adaptação, há redução das catecolaminas (receptores B2). NÃO SELETIVOS Eles não são seletivos, ou seja, não selecionam apenas um receptor, logo, bloqueia B1 e B2, vasos sanguíneos e outros órgãos. ❖ Propranolol ❖ Nadolol ❖ Pindolol CARDIOSSELETIVOS Bloqueiam preferencialmente B1 adrenérgicos. ❖ Atenolol ❖ Metoprolol ❖ Bisoprolol ❖ Nebivolol (o mais cardiosseletivo) AÇÕES VASODILATADORAS B1-adrenérgicos: cardiosseletivas, exercendo sua função sobre o coração. B2-adrenérgicos: broncodilatadora, exercendo sua função sobre a dilatação dos vasos sanguíneos esqueléticos. ! Os BB diminuem a FC, consequentemente diminui os batimentos, aumentando a diástole. Se temos uma diástole aumentada, teremos maior perfusão de O2 nos ventrículos, e esse é o objetivo. ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS Nas síndromes isquêmicas, há uma agregação plaquetária e trombose coronariana -> exposição do sangue circulante a uma superfície trombogênica, levando à liberação de substâncias agregantes e vasoconstritoras. Endotélio vascular lesado ativa receptores plaquetários que são glicoproteínas de membrana -> isso permite a ligação das plaquetas ao fator de von Willebrand, ao colágeno subendotelial ou ao fibrinogênio -> maior adesão e agregação plaquetária. Durante e após a agregação, as plaquetas liberam agentes vasoconstritores (serotonina e tromboxano A2). Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O mecanismo de coagulação é ativado através de fatores procoagulantes, derivados de plaquetas e de fator tissular oriundo da placa, com a liberação de trombina, que catalisa a conversão enzimática do fibrinogênio em fibrina. ❖ Fibrina polimerizada permite ao trombo arterial resistir à força do fluxo sanguíneo. AGENTES ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS - ASPIRINA Aspirina (ácido acetilsalicílico) inativa a enzima ciclo-oxigenasse, presente nas plaquetas e no endotélio vascular, resultando no bloqueio da síntese de tromboxano A2 (vasoconstritor e agregante plaquetário). NITRATOS Têm como ação básica o relaxamento da musculatura lisa da parede vascular, secundário à interação nitrato-metabolismo intracelular. Após alcançarem a camada média muscular da parede dos vasos, são convertidos em óxido nítrico, que estimula o guanilato ciclase a produzir guanosina monofosfato cíclico (GMP). ❖ GMP produz vasodilatação pela queda do cálcio celular. A principal ação sistêmica dos nitratos decorre de uma diminuição do tônus venoso, com armazenamento de sangue na periferia e redução na pré-carga -> menor volume diastólico contribui na redução da tensão sistólica -> redução do MVO2 -> menor pressão diastólica -> aumento do fluxo sanguíneo coronariano. Os nitratos aumentam o fluxo sanguíneo coronariano em áreas isquêmicas, agindo sobre as artérias coronárias epimiocárdicas, aliviando o espasmo coronário e aumentando o fluxo colateral. Menor MVO2 tende a dirigir o fluxo sanguíneo para as regiões isquêmicas, onde a RVP permanece baixa. Alguns nitratos: ❖ Nitroglicerina ❖ Dinitrato de isossorbida ❖ Propanilnitrato ❖ 5-mononitrato de isossorbida TROMBOLÍTICOS (ANTITROMBINAS/ANTICOAGULANTES) Utilizados em todos os pacientes com síndrome coronariana aguda. Ajuda a evitar a formação de placa de ateroma + plaquetas = junção de coágulos de fibrina -> tentando evitar essa formação trombótica de gerar uma trombose venosa profunda, êmbolos pulmonares e embolização cerebral. Drogas fibrinolíticas dissolvem os coágulos sanguíneos e os de plaquetas, tentando reduzir o tamanho do infarto. Basicamente, o plasminogênio gera a plasmina que quebra os coágulos de fibrina e digere a protrombina e o fibrinogênio. Alguns trombolíticos: ❖ Heparina ❖ Femprocumona VASODILATADORES – BCC Bloqueiam os canais de cálcio na membrana das células musculares das arteríolas, o que irá reduzir a disponibilidade desse cálcio no meio intracelular, diminuindo a resistência vascular periférica por vasodilatação. Em tese, eles inibem o movimento de cálcio para dentro das células cardíacas, como sugere o próprio nome. ! Cálcio entra nas células através dos canais de cálcio de voltagem. Os BCC bloqueiam a entrada de cálcio, logo, isso causa um relaxamento do músculo liso vascular, dilatando principalmente as arteríolas. ❖ BCC não dilatam veias! Di-hidropiridínicos -> atuam como vasodilatador predominante sem alterar com tanta força a FC. ❖ Alguns di-hidropiridínicos -> anlodipino, nifedipino, fenodipino, manidipino, levanlodipino, lercanidipino, lacidipino. ! Todos os di-hidropiridínicos apresentam muito mais afinidade pelos canais de cálcio vasculares do que pelos canais de cálcio do coração, sendo assim, são benéficos para o tratamento da HA. Não di-hidropiridínicos -> possuem um efeito vasodilatador menor, diminui consideravelmente a FC tendo possíveis causas de arritimias. ❖ Alguns não di-hidropiridínidos -> benzodiazepinas. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ESTATINAS A utilização das estatinas baseia-se na redução das taxas sanguíneas de LDL-colesterol, por estas representarem importante fator de risco independente para DAC -> reduzir LDL-c diminui o risco de eventos clínicos em pacientes com DAC. As estatinas atuam por meio da inibição da enzima HMG-CoA redutase, a qual é a enzima limitante na síntese do colesterol. A inibição ocorre porque existe um componente na estrutura das estatinas que é análogo à enzima, possuindo alta afinidade por ela e se tornando capaz de inibi-la. Devido à grande excreção hepática de primeira passagem, o efeito principal acontece no fígado. Sendo assim, ocorre a inibição do colesterol dentro dos hepatócitos, diminuindo as reservas intracelulares de colesterol, desencadeando algumas medidas, como a síntese de maior número dereceptores e maior atividade do receptor de LDL na membrana celular), causando a retirada rápida dessa lipoproteína da circulação, fazendo com que o conteúdo de colesterol retorne para dentro do hepatócito. Além disso, é importante você saber que as estatinas podem reduzir modestamente os níveis de TG, mediado pela produção diminuída de VLDL e depuração aumentada de lipoproteínas remanescentes pelo fígado, e também produzir um pequeno aumento nos níveis de HDL.
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