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GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE Eduardo Neves da Cruz de Souza Saúde preventiva nos setores públicos e privados Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os conceitos de saúde preventiva. Identificar a diferença entre prevenção de agravos e promoção da saúde. Descrever ações concretas de saúde preventiva. Introdução As vertentes de saúde sempre foram foco de muita discussão e viabili- dade para a qualidade de vida da sociedade. Dessa forma, pode-se citar o estudo da saúde coletiva como primordial no alcance de estratégias e intervenções que sejam abrangentes e resolutivas, tendo como objeto de pesquisa as necessidades de saúde e as condições requeridas não servindo apenas para evitar patologias e prolongar a vida, mas, sim, para melhorar a qualidade de vida e permitir o exercício da liberdade humana na busca pela própria felicidade. Nesse sentido, a saúde preventiva surge como estratégia para romper as ideias da Medicina curativista, a qual busca tratar o indivíduo somente na presença de sua patologia. Tratar de prevenção da saúde é acolher de forma integral e sistematizada, mesmo diante da complexidade que um histórico de saúde pode vir a ser. Prevenir é mais viável em vários aspectos do que objetivar unicamente a cura. Diante do exposto, o presente capítulo visa a discutir de forma ampla os conceitos de saúde coletiva, bem como os aspectos que envolvem a prática de saúde preventiva nos setores públicos e privados de saúde. Saúde preventiva Os primeiros conceitos de promoção da saúde foram defi nidos pelos autores Winslow e Sigerist em 1920 e 1946, respectivamente. Este dividiu a Medicina em quatro tarefas essenciais: promoção da saúde, prevenção das doenças, recuperação e reabilitação. Posteriormente, Leavell e Clark delinearam, em 1965, o modelo da história natural das doenças, que apresenta três níveis de prevenção: primária, secundária e terciária (Quadro 1). Fonte: Adaptado de Buss (2011). Prevenção primária Assistência de saúde inicial que aborda o indivíduo no contexto de educação em saúde e hábitos saudáveis que evitam doenças (ausência de patologias) Prevenção secundária Patologia existente, mas com tratamento e atendimento de um profissional especialista e educação em saúde voltada para as necessidades específicas (p. ex., hipertensão crônica e diabetes) Prevenção terciária Intervenções com educação em saúde voltadas para o tratamento e a recuperação do paciente, atenção aos pacientes pós-cirúrgicos, lesões crônicas e cuidados paliativos Quadro 1. Modelo da história nacional das doenças A saúde preventiva pode ser descrita como uma atividade dos profissionais da área envolvidos nos serviços de atenção primária que contribuem para a prevenção de doenças e a promoção da saúde (MELLO, 2015). Desse modo, as ações preventivas são definidas como intervenções orientadas que são utilizadas para evitar o surgimento de doenças específicas, reduzindo, com isso, sua incidência e prevalência nas populações. A ideia de promoção envolve o fortalecimento das capacidades individual e coletiva de lidar com a multiplicidade dos condicionantes da saúde, ou seja, ela vai além de uma aplicação técnica e normativa. A promoção da saúde é mais ampla e está destinada a promover a qualidade de vida, a desenvolver as habilidades pessoais e a autonomia do indivíduo e a criar ambientes favoráveis à saúde. As atividades educativas estão inseridas no contexto do cuidado de enfermagem, para isso, o profissional deve estar disposto a ensinar, dividir e Saúde preventiva nos setores públicos e privados2 aprender, logo, educar é interagir em determinado espaço para que se descubra como resolver os problemas e as necessidades. Pode-se afirmar que, no Brasil, o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) oportunizou a possibilidade de atuar com saúde preventiva por intermé- dio das redes de atenção primária de saúde, também conhecidas como rede de atenção básica de saúde (ABS). As redes de ABS passaram a ser definidas como as estratégias individuais e coletivas a partir do primeiro nível de assistência de saúde, sendo direcionadas principalmente apara a prevenção de agravos, a promoção da saúde, o tratamento e a reabilitação (BUSS, 2011). Com tudo isso, o serviço de saúde preventiva, com destaque para a ABS, que, como dito, reorganizou a atuação e a própria valorização dos trabalhadores e o profissional enfermeiro, tem sua prática, ao longo da história, relacionada ao trabalho do profissional médico e a ações estritamente técnicas, o que é uma visão equivocada desse processo. Salienta-se que, entre as diversas atribuições desempenhadas com autono- mia e liderança pelo enfermeiro no contexto da ABS, é um desafio, principal- mente para esse profissional, atuar nesses serviços e implementar o cuidado de enfermagem na construção de relações interpessoais com diálogo, escuta, humanização, territorialização e respeito às especificidades de cada família assistida, pois isto envolve a supervisão e a assistência direta à comunidade ao realizar intervenções de prevenção, promoção e reabilitação, mediar ações intersetoriais com o gerenciamento dos serviços e desenvolver a educação em saúde (BRASIL, 2002). Prevenção de agravos e promoção da saúde As ações de promoção e proteção da saúde são fundamentais para a reorientação dos modelos assistenciais. Trata-se de uma estratégia de articulação transversal que objetiva a melhoria da qualidade de vida e a redução dos riscos à saúde por meio da construção de políticas públicas saudáveis que proporcionem melhorias no modo de viver (MELLO, 2015). Partindo do princípio de que a saúde preventiva antecipa eventuais e futuros problemas, pode-se dizer que, quando realizada por profissionais especializados e capacitados, ela contribui para uma melhor qualidade de vida e bem-estar das pessoas que procuram esse tipo de serviço (BUSS, 2011). Nas atividades educativas, o profissional de enfermagem que atua na rede de atenção primária de saúde participa de reuniões com os grupos da comu- 3Saúde preventiva nos setores públicos e privados nidade e das atividades de supervisão, treinamento, controle e coordenação do pessoal de enfermagem (FIGUEREDO; TONINI, 2011). O enfermeiro pode ser considerado um dos principais agentes de promo- ção da saúde, sobretudo pelo fato de ser o profissional que está em contato direto com a família. Por essa razão, ele precisa ampliar a lógica racional e revisar o discurso de clínica, decodificando não só as questões biopsíquicas, mas resgatando, pensando e refletindo sobre os valores da vida, as condições sociais e as formas como as pessoas enfrentam os problemas (BRASIL, 2002). Mudar do modelo de atenção centrado nas doenças para um modelo centrado na promoção remete a inúmeros problemas, tais como a vigência de modelos assistenciais preventistas e o desconhecimento por parte da sociedade (CAR- VALHO, 2013). A população está acostumada com um tipo de situação e não se dá conta de que ela pode melhorar ou piorar, bem como que ela mesma é vigilante de sua saúde e segurança (FIGUEREDO; TONINI, 2011). Tendo em vista o perfil de morbimortalidade da população, a transição demográfica, epidemiológica e nutricional, o aumento dos custos na assistência à saúde e os potenciais impactos das ações de promoção e prevenção, torna-se de extrema relevância o desenvolvimento desses programas no setor de saúde. Ações concretas de saúde preventiva No período de 2003 a 2008, surgiu, no Brasil, o Projeto de Expansão e Con- solidação da Saúde da Família, o qual passou a ser aliado da Política Nacional de Atenção Básica em todo o território nacional, tornando-se então uma ferramenta para institucionalizar o método de avaliar as perspectivas de descentralização. Em 2006, foi aprovado o Pacto pela Saúde, surgindo como uma nova diretriz da política de favorecer a implementação de açõespolíticas prioritárias, substituindo as estratégias anteriormente adotadas (ALMEIDA; TANAKA, 2016). A Estratégia Saúde da Família (ESF) passou ser a nova característica da rede de saúde primária do SUS, a qual passou a ter um trabalho multidisci- plinar, haja vista que não se trata apenas de atendimento prestado por um médico de saúde da família, mas de uma equipe, na qual há uma definição de competências e corresponsabilidades entre seus membros. Essas equipes estão vinculadas às unidades básicas de saúde, as quais são repreparadas histórica, teórica e administrativamente para comportar esse novo processo de cuidar. Um dos integrantes da equipe multidisciplinar é o enfermeiro, o qual é des- crito como um profissional importante por apresentar uma maior identificação Saúde preventiva nos setores públicos e privados4 com a proposta da ESF (BECKER, 2010). O enfermeiro atua nas atividades assistenciais individuais e em equipe, supervisiona e coordena os auxiliares de enfermagem e os agentes comunitários de saúde, além de ser o profissional de referência dos setores de imunização e curativo (MELLO, 2015). Tendo em vista que o contexto do cuidado de enfermagem se baseia em atividades educativas, o enfermeiro deve orientar, ensinar e indicar os caminhos do cuidado à saúde, de modo a permitir que o sujeito cuide da sua própria saúde (CARVALHO, 2013). O profissional deve, portanto, desenvolver habilidades e planejar suas ações de acordo com as necessidades dos sujeitos, sendo assim, é necessário saber e conhecer a forma como o enfermeiro trabalha as questões relacionadas à promoção da saúde (FIGUEREDO; TONINI, 2011). É preciso intensificar as ações das estratégias de promoção no cotidiano dos serviços de saúde e promover a autonomia das pessoas, dos indivíduos e dos profissionais para que, em conjunto, todos possam compreender a saúde como algo que resulta das condições de vida, bem como propiciar um desen- volvimento social mais equitativo (CARVALHO, 2013). Deve-se destacar a importância de se trabalhar em conjunto com as cinco estratégias de promoção da saúde: políticas públicas, criação de ambientes saudáveis, reforço da ação comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais e reorientação dos serviços de saúde. A articulação entre esses campos de ação representa uma força maior, que poderá impulsionar transformações na realidade da saúde da população. O enfoque das ações de promoção deve procurar identificar e enfrentar os determinantes do processo-doença e as vulnerabilidades, auxiliando na tomada de decisões individuais para promover um nível de saúde melhor e condições de vida mais satisfatórias. Dessa forma, é possível notar que os enfermeiros realizam mais ações preventivas do que de promoção (BECKER, 2010). 5Saúde preventiva nos setores públicos e privados Acesse o link a seguir para ler o artigo “Uma questão masculina: conhecendo possíveis entraves para a realização dos exames de detecção do câncer de próstata”. https://qrgo.page.link/pLRtc ALMEIDA, C. A. L.; TANAKA, O. Y. Avaliação em saúde: metodologia participativa e envolvi- mento de gestores municipais. Revista de Saúde Pública, v. 50, n. 45, p. 1−10, 2016. Disponí- vel em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v50/pt_0034-8910-rsp-S1518-87872016050006251. pdf. Acesso em: 15 jun. 2019. BECKER, D. No seio da família: amamentação e promoção da saúde no Programa de Saúde da Família. 2010. 127 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) — Escola Na- cional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2001. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/5406. Acesso em: 15 jun. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. As Cartas de Promoção à Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2002. (Série B. Textos Básicos em Saúde). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartas_promocao.pdf. Acesso em: 15 jun. 2019. BUSS, P. M. Uma introdução ao conceito de saúde. In: CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. (org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões e tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2011. p. 15–38. CARVALHO, S. R. Saúde coletiva e promoção da saúde: sujeito e mudança. São Paulo: Hucitec, 2013. FIGUEREDO, N. M. A.; TONINI, T. SUS e PSF para enfermagem: práticas para o cuidado em saúde coletiva. 2. ed. São Caetano do Sul: Yendis, 2011. MELLO, D. A. Reflexões sobre promoção à saúde no contexto do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 16, n. 4, p. 1149, 2015. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/ csp/2000.v16n4/1149-1149/pt. Acesso em: 15 jun. 2019. Leitura recomendada CHIESA, A. M.; FRACOLLI, L. A.; SOUSA, M. F. Enfermeiros capacitados para atuar no Programa Saúde da Família na cidade de São Paulo: relato de experiência. Saúde em Debate, v. 28, n. 67, p. 91–99, 2014. Saúde preventiva nos setores públicos e privados6
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