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Artrite Reumatoide OBJETIVO: 1. Elucidar a artrite reumatoide. 1. ELUCIDAR A ARTRITE REUMATOIDE: → DEFINIÇÃO: ○ Sinônimo: Doença reumatoide. ○ A AR uma doença autoimune inflamatória crônica SISTÊMICA comum e é influenciada por fatores genéticos, epigenéticos e ambientais. ○ A AR apresenta como alvo primário as articulações (especialmente a membrana sinovial), cujo padrão de acometimento é insidioso, simétrico, aditivo, progressivo e periférico. ○ Apesar de acometer, predominantemente, as articulações, a AR, por ser sistêmica, pode afetar outras regiões do corpo (especialmente se FR+), como: • Pele, coração, vasos sanguíneos, pulmões, pleura, olhos, entre outros. IMPORTANTE! ○ Indivíduos que possuem alguma doença autoimune estão mais predispostos a apresentar outra(s) patologia(s) autoimune(s) associada(s). ○ Nesse sentido, ao diagnosticar um paciente com AR, é fundamental investigar a presença de outras patologias autoimunes, como LES, tireoidite de Hashimoto, esclerose sistêmica, entre outras. → EPIDEMIOLOGIA: ○ A AR é a mais comum das artropatias inflamatórias. ○ Acomete cerca de 1% da população mundial. • Uma das doenças reumáticas mais comuns. ○ Maior prevalência em indivíduos de 30-50 anos (sobe até a 5ª década, quando se estabiliza). • Mulheres de “meia-idade”. • Significativo impacto socioeconômico. ○ Prevalência entre os sexos é de 3:1, 5:1 a 6:1 (M:H). ○ As consequências da AR são: • Piora da qualidade de vida, incapacidade funcional, perda de produtividade e altos custos para a sociedade. → FATORES DE RISCO: ○ Etnias específicas. ○ História familiar (↑ 3 a 5x). ○ Regiões geográficas específicas. ○ Sexo feminino (componente hormonal). ○ Predisposição genética (p. ex., HLA-DR4). ○ Sobrepeso e obesidade. ○ Fatores ambientais: • Tabagismo ativo e passivo (principal fator de risco modificável). • Poluentes do ar (p. ex., poeiras têxteis e pelos de animais) e ocupacionais (p. ex., amianto e sílica). • Dieta (p. ex., café, carne vermelha e refrigerante - controverso). • Infecções. → FATOR DE PROTEÇÃO: ○ Anticoncepcional. ○ Atividade física e perda de peso (podem retardar ou prevenir o aparecimento da AR soropositiva). → ETIOLOGIA: ○ A AR tem origem multifatorial e é caracterizada por uma resposta imune sistêmica contra antígenos ainda não tão bem elucidados. ○ Predisposição genética. • Pode representar 60% do risco de desenvolvimento da AR. • Há associação de alelos HLA, especialmente o HLA-DR4, com maior risco de AR mais grave. • Presença do epítopo compartilhado (região do HLA composta por aminoácidos que apresentam o péptido citrulinado aos linfócitos T naive). ○ Interação ambiental (p. ex., tabagismo, poluição do ar, agentes atmosféricos e outras substâncias irritativas para o tecido pulmonar). • Os mecanismos subjacentes podem incluir inflamação sistêmica, aumento do estresse oxidativo e danos nas vias aéreas, levando a respostas imunes. • Resultam na alteração da citrulinização de proteínas da mucosa. ○ Mucosa pulmonar lesada: • AR está fortemente associada à ASMA, uma vez que a inflamação e o dano das vias aéreas asmáticas podem levar à citrulinação de proteínas, bem como a outros fatores de risco, como modificações pós-traducionais. ○ Componente hormonal: • Favorece o surgimento de AR em mulheres. ○ Microbiota e infecções: Guilherme Rios - M1 - P7 • Parece que tanto vírus quanto bactérias podem induzir processos de citrulinação (autoimunidade), necessários para a produção de ACPA. • A exposição a alguns vírus e patógenos (p. ex., Epstein Barr, parvovírus B-19, M. tuberculosis, E. coli e P. mirabilis) pode induzir à formação de FATOR REUMATOIDE - anticorpo de alta afinidade com a porção Fc da imunoglobulina G. • Vários componentes da microbiota intestinal também parecem estar envolvidos de maneira diferente na etiologia da AR. Por exemplo, a Prevotella spp fecal foi encontrada em indivíduos com AR em estágios pré-clínicos. • Um outro mecanismo envolvido na etiologia da AR consiste no mimetismo molecular que resulta na produção de autoanticorpos. • Estudos recentes sugeriram uma correlação significativa entre vírus como parainfluenza, coronavírus e metapneumovírus e a ocorrência da doença foi relatada, sugerindo que infecções virais respiratórias podem ser novos fatores de risco para desenvolver AR. ○ Periodontite: • É uma infecção bacteriana dos tecidos, ligamentos e ossos específicos que envolvem e sustentam os dentes. • Infecção pela bactéria Porphyromonas gingivalis (fator desencadeante). • Observa uma associação entre anticorpos anti-P. gingivalis e os anticorpos antipeptídeos citrulinados em pacientes com AR e seus familiares. • Induz autoimunidade (citrulinização de peptídeos). ○ Eventos estressantes: • Podem alterar o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, o qual está associado à produção de citocinas. → FISIOPATOLOGIA: ○ ARTICULAÇÃO SAUDÁVEL: • Uma articulação saudável, normalmente, possui dois ossos cobertos com cartilagem articular nas extremidades. ♦ A cartilagem articular é um tipo de tecido conjuntivo que atua como uma almofada protetora - uma superfície lubrificada para os ossos deslizarem suavemente. • Uma articulação sinovial conecta dois ossos com uma cápsula articular fibrosa que é contínua com o periósteo ou a camada externa de ambos os ossos. • A cápsula fibrosa é revestida internamente por uma membrana sinovial que possui células que produzem líquido sinovial e removem detritos. ♦ O líquido sinovial é normalmente viscoso, como a parte gelatinosa de um ovo de galinha, e ajuda a lubrificar a articulação. • Para ajudar e nutrir essas células sinoviais, a membrana sinovial também apresenta vasos sanguíneos e linfáticos passando por ela. Guilherme Rios - M1 - P7 • Juntos, a membrana sinovial e a cartilagem articular formam o revestimento interno do espaço articular. ○ ARTRITE REUMATOIDE: • Na AR ocorre um desequilíbrio entre as citocinas pró-inflamatórias e as anti-inflamatórias. ♦ Interleucinas e fatores de crescimento promovem a diferenciação de células Th17, suprimindo a diferenciação de células T reguladoras (Treg) - as quais regulam a resposta inflamatória. ♦ Isso gera um status pró-inflamatório que contribui para a manutenção da autoimunidade e destruição articular. • A AR é um processo autoimune que normalmente é desencadeado pela interação entre um fator genético e o meio ambiente. ♦ Fatores genéticos: Antígeno leucocitário humano → HLA-DR1 e HLA-DR4, por exemplo. ♦ Fatores ambientais: Fumaça de cigarro e/ou patógeno específico, por exemplo. • Dessa forma, um indivíduo com um determinado gene para uma proteína imunológica, como o antígeno leucocitário humano (HLA), pode desenvolver AR após ser exposto a determinados fatores ambientais. • Esses fatores ambientais podem causar modificações em nossos próprios antígenos (SELF), como anticorpos IgG ou outras proteínas como COLÁGENO TIPO II ou VIMENTINA (componentes da matriz de diversos tecidos, como a cartilagem, por exemplo). • O colágeno tipo II e a vimentina podem ser modificados através de um processo chamado CITRULINAÇÃO. ♦ A citrulinação ocorre quando o aminoácido arginina encontrado nessas proteínas é convertido em outro aminoácido, a citrulina (não é comum para nossas proteínas). ♦ Esse processo não altera as características funcionais desses componentes. • Enquanto isso, devido aos genes de suscetibilidade (HLA-DR1 e HLA-DR4), as células imunes não reconhecem mais essas proteínas como autoantígenos (SELF). • Os autoantígenos são captados pelas células apresentadoras de antígenos e são transportados para os linfonodos, onde irão ativar as células T auxiliares CD4+. IMPORTANTE! • Apenas a ligação do HLA da célula apresentadora de antígeno (APC) com o receptor da célula naive não é suficiente para a ativação do linfócito TCD4. • Existe a necessidade de uma segunda ligação (coativação) realizada entre as proteínas CD80/86 (APC) com o seu receptor CD28 (Naive) → Importante para a função do MMCDbio abatacepte. Guilherme Rios - M1- P7 • As células TCD4+ estimulam os linfócitos B que começam a se proliferar e a se diferenciar em plasmócitos, que iniciam a produção de autoanticorpos específicos contra esses autoantígenos. • Na AR, as células TCD4+ e os autoanticorpos entram na circulação e atingem, então, as articulações. • Ao chegarem nas articulações, ricas em proteínas que sofreram citrulinação, as células TCD4+ secretam citocinas (p. ex., interferon gama e IL-17), para recrutar mais células inflamatórias, como macrófagos, para o espaço articular. (MECANISMO INFLAMATÓRIO) • Os macrófagos, bem como as outras células imunológicas recém chegadas na articulação, também produzirão citocinas inflamatórias (p. ex., TNF-alfa, IL-1 e IL-6 - principais responsáveis pela inflamação crônica da AR), que juntamente com as citocinas das células TCD4 estimulam a proliferação das células sinoviais. (MECANISMO INFLAMATÓRIO) ♦ O aumento de sinoviócitos e células imunes (linfo-hematopoiéticas) leva à formação do PANNUS, que é uma membrana sinovial espessa e edemaciada, com tecido granulomatoso ou tecido cicatricial, células gigantes, fibroblastos, miofibroblastos e células inflamatórias (p. ex., histiócitos). ♦ Com o tempo, o pannus pode danificar a cartilagem e outros tecidos moles e também corroer o osso. • As células sinoviais ativadas também secretam proteases que quebram as proteínas da cartilagem articular. Sem a cartilagem protetora, os ossos subjacentes ficam expostos e podem atritar diretamente um no outro. • Ocorre aumento de volume e celularidade do líquido sinovial, com abundância de PMN (dificilmente encontrados no líquido sinovial normal), bem como células T, macrófagos, células dendríticas e células B. • Além disso, as citocinas inflamatórias ↑ a expressão de uma proteína na superfície das células TCD4+, conhecida como RANKL ou receptor ativador do fator nuclear kappa-B. • O RANKL permite que as células TCD4+ se liguem ao RANK, uma proteína na superfície dos osteoclastos. Isso gera um aumento da sobrevida dessas células e uma maior reabsorção óssea. • Concomitantemente, os autoanticorpos produzidos na AR adentram o espaço articular. ♦ Um autoanticorpo é chamado FATOR REUMATÓIDE (FR), que é um anticorpo IgM que tem como alvo o domínio Fc, constante, de anticorpos IgG alterados. ♦ Outro anticorpo é o ANTICORPO ANTIPEPTÍDEO CITRULINADO (ACPA / Anti-CCP), que tem como alvo as proteínas citrulinadas (em [ ] ↑ na articulação). • Quando esses anticorpos se ligam aos seus alvos, eles formam complexos imunes que se acumulam no líquido sinovial. (MECANISMO INFLAMATÓRIO) Guilherme Rios - M1 - P7 ♦ Na articulação, esse complexo imune ativa o sistema complemento o que resulta em mais inflamação e lesão nas articulações. • Finalmente, a inflamação crônica resulta em hiperplasia e NEOANGIOGÊNESE ao redor da articulação, o que resulta em aumento do aporte sanguíneo para a articulação, levando a uma maior quantidade de células inflamatórias no local - infiltrado inflamatório intenso. (MECANISMO INFLAMATÓRIO) • A medida que a doença progride, várias articulações em ambos os lados do corpo ficam inflamadas e são gradualmente destruídas. • As citocinas inflamatórias produzidas pela AR não ficam contidas apenas dentro do espaço articular. Em vez disso, se distribuem pela corrente sanguínea e atingem vários sistemas de órgãos, o que resulta em problemas extra-articulares. ♦ IL-1 e IL-6 → Deslocamento para o cérebro → Atuação no termostato hipotalâmico induzindo a febre. ♦ Músculo esquelético → Quebra de proteínas. ♦ Pele e órgãos viscerais → Formação de nódulos reumatoides. → Nódulos reumatóides são coleções arredondadas de macrófagos e linfócitos com uma área central de necrose ou morte celular. ♦ Vasos sanguíneos → Pode resultar em inflamação das paredes vasculares (vasculite), as quais se tornam mais propensas ao desenvolvimento de placas ateromatosas ou fibrogordurosas. ♦ Fígado → Produção de grande quantidade de hepcidina. → Hepcidina é uma proteína que diminui os níveis séricos de ferro, inibindo sua absorção intestinal e aprisionando-o em macrófagos ou células hepáticas. ♦ Interstício pulmonar → Ativação e proliferação dos fibroblastos → Formação de tecido fibrótico ou cicatricial que dificulta a troca gasosa alveolar. ♦ Cavidades pleurais dos pulmões → Inflamam, podendo resultar em derrame pleural que atrapalhe a expansão pulmonar. • Células do sistema imune inato exercem papel fundamental na inflamação: ♦ Macrófagos, mastócitos e células NK são encontradas na membrana sinovial, enquanto neutrófilos são encontrados, principalmente, no fluido sinovial. ♦ Os macrófagos são os efetores principais da sinovite. Eles liberam citocinas, intermediários reativos de oxigênio e nitrogênio, produzem enzimas que degradam a MEC, além de fazerem fagocitose e apresentação de antígenos. São ativados por receptores toll-like e citocinas. ♦ Os neutrófilos contribuem para a sinovite por meio da síntese de prostaglandinas, proteases e reativos intermediários de oxigênio. ♦ Os mastócitos produzem altos níveis de aminas vasoativas, citocinas, quimiocinas e proteases. Guilherme Rios - M1 - P7 → QUADRO CLÍNICO: ○ Caracteriza-se por poliartrite simétrica e aditiva das articulações periféricas. • Qualquer articulação sinovial (diartrose) pode ser acometida pela AR. • Mãos (MCF e IFP) e punhos são os mais acometidos. ○ Geralmente, as articulações afetadas podem apresentar sinais flogísticos. ○ Os sintomas são mais intensos pela manhã logo ao acordar e após longos períodos de inatividade. • Normalmente, melhora após a realização de exercícios físicos. ○ A rigidez matinal é prolongada (>1h). • A duração da rigidez, normalmente, é proporcional ao grau de inflamação articular. ○ Normalmente, as menores articulações são as primeiras acometidas, podendo ser seguidas do acometimento dos joelhos, cotovelos, tornozelos, quadris e ombros (aproximadamente nessa ordem). ♦ As articulações temporomandibulares, cricoaritenoides e esternoclaviculares também podem ser acometidas pela AR, mas são casos menos frequentes e em uma fase tardia da doença. ♦ A coluna vertebral, especificamente as articulações C1-C2 (processo odontóide do áxis) também pode ser acometida. ○ As articulações das mãos são as mais afetadas. Dentre elas: • Metacarpofalangeanas (MCF), interfalangeanas proximais (IFP) e punho - mais afetadas. OBS: As articulações interfalangeanas distais (IFD) são raramente afetadas pela AR. Seu acometimento deve levar suspeita de outros diagnósticos diferenciais (p. ex., artrite psoriática e OA). ○ A articulação metatarsofalangeana também é frequentemente acometida pela AR. ALTERAÇÕES RADIOGRÁFICAS GERAIS DA AR: • Osteopenia peri-articular. • Aumento das partes moles. • Diminuição simétrica do espaço articular. • Erosões ósseas periféricas. • Desvio ulnar e subluxações. • Deformidades ósseas. • Anquilose óssea. ○ MANIFESTAÇÕES ARTICULARES: • MÃOS: ♦ Principal local de acometimento. ♦ Normalmente, inicia com edema das MCF’s e IFP’s. ♦ As deformidades ósseas surgem em graus mais avançado da doença. → Pescoço de cisne: Hiperextensão da articulação interfalângica proximal (IFP) e da flexão, com incapacidade de extensão, da interfalângica distal (IFD). Guilherme Rios - M1 - P7 → Dedos em ventania: Desvio ulnar dos dedos → Sinal da botoeira (boutonière): Flexão da IFP com hiperextensão da IFD. → “Mãos em dorso de camelo”: Aumento de volume do punho e das articulações MCF com atrofia interóssea dorsal. ♦ Em casos mais avançados também podem ocorrer ruptura de tendões e/ou ligamentos, a qual podem gerar sintomas abruptos de perda de função, além de da diminuição da estabilidade articular, favorecendo deformidades. • PÉS: ♦ As articulações MTF’s, normalmente, são acometidas no início da doença. → Observa-se erosões radiográficas surgindo antes ou concomitante às das mãos. ♦ Pode ocorrer subluxação dos artelhos, com posterior ruptura e ulceração cutânea. ♦ Devido à perda dos coxins gordurosos que protege as MTF’s,o paciente pode referir dor ao deambular. ♦ Hálux valgo: Desvio lateral do hálux (joanete). ♦ “Dedos em martelo”: Hiperextensão das articulações MTF e extensão das IFD. ♦“Dedos em crista de galo”: Deslocamento dorsal das falanges proximais com exposição da cabeça dos metatarsianos. ♦ Pés planos: Arco longitudinal achatado. • PUNHO: ♦ Também é um frequente local de acometimento da AR. ♦ Com frequência, cursa com desvio radial. ♦ Pode surgir uma síndrome do túnel do carpo secundária à compressão do nervo mediano pelo edema articular. • GRANDES ARTICULAÇÕES (p. ex., joelho, tornozelos, ombros e quadris): ♦ O acometimento é simétrico, ou seja, tanto a articulação quanto a superfície articular são acometidas simetricamente. ♦ Joelhos valgo: Desvio medial. ♦ Tornozelos valgos: Eversão da articulação subtalar. OBS: Na OA, o comprometimento, normalmente, é unilateral. CISTOS SINOVIAIS: ○ São causados pelo acúmulo de líquido sinovial e podem ocorrer em qualquer articulação desse tipo. ○ Quando eles surgem no joelho, mais especificamente na região poplítea, esse cisto sinovial é chamado de Cisto de Baker (raro) e sua ruptura pode imitar um quadro de tromboflebite, sendo por isso também chamado de pseudotromboflebite. Guilherme Rios - M1 - P7 • COLUNA VERTEBRAL: ♦ Em geral, costuma não ser afetada pela AR, com exceção das articulações C1-C2, nas quais pode haver uma AR na articulação atlanto-axial. ♦ A subluxação pode ocorrer e costuma ser assintomática, entretanto, a depender do comprometimento (em especial do processo odontoide do áxis), pode resultar em compressão nervosa e até levar a óbito. • ARTICULAÇÃO CRICOARITENÓIDEA: ♦ Pode cursar com sensação de plenitude, globus faríngeo, rouquidão e, em casos graves, obstrução respiratória aguda alta. ○ MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES: • A AR, normalmente cursa com sintomas sistêmicos inespecíficos, como: ♦ Perda ponderal, fadiga e febre baixa. • PELE: ♦ Em cerca de 20% dos pacientes com AR (quase exclusivamente naqueles com FR+) é possível identificar a presença de nódulos subcutâneos. → Sua origem está relacionada à vasculite de pequenos vasos. → Tais lesões apresentam consistência firme à palpação e, normalmente, são indolores. ♦ O pioderma gangrenoso é outra possível lesão de pele encontrada nos pacientes portadores de AR. • CORAÇÃO: ♦ É pouco comum, entretanto os pacientes com AR, devido à inflamação sistêmica crônica, têm RCV aumentado. ♦ Pacientes apresentam, devido ao processo inflamatório crônico, maior chance de desenvolver aterosclerose (aterosclerose acelerada). ♦ Os derrames pericárdicos são comuns, entretanto, assintomáticos na maioria dos casos. ♦ Mais raramente, pode ocorrer pericardite, doença valvar e nódulos nos anéis valvares. • PULMÕES: ♦ Derrames pleurais e serosite (devido ao processo inflamatório). → O líquido pleural na AR é um exsudato linfocítico com baixa taxa de glicose. ♦ Nódulos reumatóides. Guilherme Rios - M1 - P7 → Em geral, são sólidos, mas podem se calcificar, gerando infecções ou cavitações. ♦ Doença parenquimatosa pulmonar. → Pode cursar com dispneia progressiva. ♦ Fibrose intersticial. ♦ Bronquiolite obliterante (mais raramente). • OLHOS: ♦ Ceratoconjuntivite seca - olho seco (manifestação ocular mais comum). → Devido à síndrome de Sjögren secundária. ♦ Episclerite e esclerite. ♦ Escleromalacia perforans: → Forma grave e rara da esclerite necrotizante (manchas azuladas na esclera). → Ocorre um adelgaçamento da esclera. → É um sinal de atividade da AR e indica uma maior morbidade. ♦ Ceratopatia ulcerativa. • NEUROLÓGICO: ♦ Síndromes compressivas dos nervos periféricos (p. ex., síndrome do túnel do carpo ou do tarso). ♦ Neuropatia em bota ou em luva decorrentes das vasculites. ♦ A mielopatia pode ser causada pela subluxação da articulação atlanto-axial. SÍNDROME DE FELTY (raro) ○ É composta pela tríade: • AR. • Esplenomegalia. • Neutropenia. ○ Acontece em pacientes com AR grave e FR/ACPA positivo. ○ Os pacientes com essa síndrome estão mais suscetíveis a infecções (maior causa de óbito). ○ Associado a tais sintomas, o paciente pode cursar, ainda, com: • Hepatomegalia, trombocitopenia, linfadenopatia, entre outros. → DIAGNÓSTICO: ○ O diagnóstico é eminentemente CLÍNICO (história clínica + exame físico detalhado) associada a exames laboratoriais para fechar o diagnóstico e prever prognóstico. ○ Alguns exames de imagem também podem ser utilizados para firmar o diagnóstico. OBS: Preconiza-se, cada vez mais, o diagnóstico precoce, uma vez que as drogas modificadoras da Guilherme Rios - M1 - P7 doença (MASMDs) utilizadas conferem menores chances de progressão clínica e radiológica. ○ ANTIGOS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS (1987) - DESUSO • Eram necessários, ao menos, 4 dos 7 critérios abaixo: 1) Rigidez matinal prolongada (>1h). 2) Artrite/edema de 3 ou mais áreas articulares - vista por um médico - em IFP, MCF, punhos, cotovelos, joelhos, tornozelos e/ou MTF. 3) Artrite/edema das articulações das mãos (MCF, IFP ou punho). 4) Edema simétrico. 5) Nódulos subcutâneos. 6) Fator reumatóide positivo. 7) Erosões e/ou osteopenia periarticular em articulações da mão ou punho na radiografia. • Os quatro primeiros critérios precisam estar presentes por, pelo menos, 6 semanas (afastar doenças autolimitadas). • Esses critérios foram reformulados, uma vez que consideram AR apenas na doença já estabelecida/grave. ○ CRITÉRIO DIAGNÓSTICO DO COLÉGIO AMERICANO DE REUMATOLOGIA E LIGA EUROPEIA CONTRA O REUMATISMO (NOVOS - 2010): • Não requer, necessariamente, 6 semanas de duração. • Dão ênfase à presença de anticorpos FR ou ACPA. • São necessários, ao menos, 6 pontos para firmar o diagnóstico de AR. OBS: O anticorpo anti-CCP positivo, mesmo antes de 6 semanas, é altamente sugestivo de AR. ○ ACHADOS LABORATORIAIS - GERAIS: • A anemia de doença crônica (normo-normo) está presente na maioria dos pacientes com AR e é proporcional à atividade da doença. • O VHS e PCR (marcadores inflamatórios de fase aguda) - Também acompanham a atividade da doença e sua elevação indica pior prognóstico (em dano articular e em mortalidade). • Nos casos de Síndrome de Felty, o paciente cursa com leucopenia (às custas de neutrófilos). Guilherme Rios - M1 - P7 • O líquido sinovial, quando analisado, apresenta leucograma entre 5000 a 100000/mm3, predominando PMN. ○ ACHADOS LABORATORIAIS - ANTICORPOS: • Cerca de 15% dos pacientes com AR possuem fator reumatoide (FR) e anticorpo antipeptídeo citrulinado (ACPA / anti-CCP) negativos (soronegativos). OBS: Não existe marcador patognomônico. • FATOR REUMATOIDE (FR): → O FR positivo é a anormalidade laboratorial mais característica da AR. → Possui elevada sensibilidade na AR (80%). → Pouco específico (presente em outras doenças). → Não é útil para o monitoramento. → Está associado a manifestações extra-articulares. → Se positivo, sugere pior prognóstico. • Anticorpo antipeptídeo citrulinado (ACPA ou ANTI-CCP): → Apresenta menor sensibilidade em relação ao FR (75%). → Possui elevada especificidade (93-98%). → Não é útil para o monitoramento. → Se positivo, sugere pior prognóstico. OBS: Esses anticorpos, além de valor diagnóstico, apresentam valor prognóstico, uma vez que sua presença está associada a doença mais grave (especialmente o anti-CCP, pois indica doença erosiva grave). • Outros anticorpos associados à AR: → Anticorpo antinuclear (FAN): 30% dos pacientes. → Anticorpo anticitoplasma de neutrófilos do tipo perinuclear (ANCA): 30% dos pacientes. ○ EXAME DE IMAGEM: • RADIOGRAFIA: ♦ Principal técnica utilizada no contexto de diagnóstico e acompanhamento da AR. ♦ As principais alterações são: → Aumento das partes moles periarticulares. → Osteopenia periarticular (vista como uma imagem mais escura/radiotransparente dos ossos adjacentes à articulação afetada) → Progride, se não tratada. → Redução dos espaços articulares → Devido à destruição óssea e cartilaginosa. → Erosões marginais. → Subluxação e luxação articular. → Anquiloseóssea. Guilherme Rios - M1 - P7 OBS: Em uma fase inicial da doença, quando ainda não passou a ter destruição das estruturas da articulação, o edema gerado pelo derrame articular causa um aumento do espaço articular, o qual pode ser visualizado pelo RX e ser levantada a suspeita de AR em fase inicial. ♦ A coluna cervical deve ser avaliada periodicamente nas incidências perfil neutro, flexão e extensão máximas (descartar subluxações). • RM: ♦ Apresenta alta sensibilidade e boa capacidade de dar valor prognóstico às lesões, uma vez que permite a avaliação do edema ósseo, o qual prediz evolução para lesão óssea. • ULTRASSOM REUMATOLÓGICO: ♦ Destaca-se pelo valor, praticidade e disponibilidade. Entretanto, é operador dependente. ♦ Utilizado em caso de dúvida diagnóstica. ♦ USG com doppler é muito utilizado para avaliar angiogênese. ♦ Auxilia a distinção entre a atividade subclínica da doença e a remissão. ♦ Auxilia na infiltração (guiada). OBS: A USG e RM identificam precocemente erosões e sinovites. ACOMPANHAMENTO DO PACIENTE COM AR: ○ Se bem controlado, deve ser avaliado de 3 em 3 meses. ○ Deve ser realizada uma radiografia inicial, repetindo-se 6 meses após (avaliar se houve agravamento do quadro). Não tendo alterações, recomenda-se radiografias anuais. ○ O PCR e VHS são rotina para a avaliação da atividade da doença. ○ Hemograma, metabolismo ósseo, marcadores de função renal e hepática → Avaliar a toxicidade do tratamento. ○ A atividade da doença pode ser avaliada por algumas ferramentas, como: DAS28, CDAI e SDAI. → DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Guilherme Rios - M1 - P7 → TRATAMENTO: ○ Visa a remissão ou a baixa atividade da doença em pacientes com AR. ○ NÃO FARMACOLÓGICO: • O tratamento da doença consiste em, inicialmente, orientar a MEV: ♦ Cessar tabagismo, realizar exercício físico, reduzir uso de álcool e reduzir o peso, além de monitorar e tratar comorbidades (p. ex., HAS, DM, dislipidemia e osteoporose). ♦ Orientar quanto à importância da vacinação e da contracepção em mulheres candidatas ao uso de Medicamentos Antirreumáticos Modificadores de Doenças (MARMD). ♦ Fisioterapia (cinesioterapia e crioterapia). ♦ Psicoterapia. OBS: Remover os fatores que elevam o RCV, uma vez que os pacientes com AR já apresentam um alto RCV. ○ FARMACOLÓGICO: 1. PRIMEIRA ETAPA: • A primeira linha de tratamento da AR é o uso de medicamentos antirreumáticos modificadores de doenças (MARMD) / medicamento modificador do curso da doença (MMCD), como o metotrexato, hidroxicloroquina e sulfassalazina, que podem ajudar a suprimir a inflamação. • METOTREXATO (MTX): primeira escolha por via oral. ♦ Normalmente, é a droga de primeira escolha. ♦ Inibidor da dihidrofolato redutase: Inibe a síntese de Ácido Desoxirribonucleico (DNA) e, consequentemente, a proliferação celular. ♦ Se houver intolerância, pode-se dividir a administração por via oral ou empregar metotrexato injetável (subcutâneo). ♦ A dose do metotrexato varia entre 7,5 a 25 mg por semana. ♦ EFEITOS ADVERSOS: → O MTX está associado à hepatotoxicidade e a efeitos gastrintestinais. → Ulcerações orais. Guilherme Rios - M1 - P7 → Piora de nodulose. → Mielotoxicidade. ♦ É recomendado o uso de ácido fólico durante o tratamento (5mg, 1x por semana em 24-36h após a tomada do MTX). ♦ CONTRAINDICAÇÕES: → Gestação (efeito teratogênico), insuficiência renal, hepática e/ou medular. ♦ Após 3 meses, caso haja falha em atingir as metas, recomenda-se terapia dupla ou tripla de MARMD. • Caso não seja possível o uso de MTX ou caso não haja melhora com o seu uso, administrar, preferencialmente, leflunomida (LEF), sulfassalazina (SSZ) ou Hidroxicloroquina (HCQ). OBS: A HCQ não é recomendada em monoterapia, a não ser para aqueles casos extremamente leves com fatores negativos e sem fator de pior prognóstico. • Em caso de falha da monoterapia inicial (MTX, LEF, SSZ, HCQ/cloroquina), isto é, de persistência da atividade de doença (de acordo com a meta terapêutica) após 3 meses de tratamento otimizado (dose máxima tolerada e adesão adequada) do medicamento usado na 1ª linha, passa-se para: ♦ Troca simples de MMCD sintético (MTX, LEF, SSZ, HCQ/cloroquina) ou ♦ Terapia com a combinação dupla ou tripla de MMCD. • As associações de MMCD mais comumente recomendadas são MTX ou LEF + HCQ/cloroquina ou MTX ou LEF + SSZ. • A tripla terapia pode ser realizada com a combinação de MTX + HCQ/cloroquina + SSZ. 2. SEGUNDA ETAPA: • A segunda linha de tratamento é constituída pelos fármacos modificadores de resposta biológica ou biológicos (MMCDbio). • O MMCDbio deve ser usado em associação com o MTX, exceto no caso de contraindicação, podendo, nesse caso, ser considerada a associação com outro MMCD (p. ex., LEF e SSZ). • Os MMCDbio que podem ser usados são os anti-TNF (p. ex., certolizumabe pegol, golimumabe, infliximabe, etanercepte e adalimumabe) e os não anti-TNF (p. ex., abatacepte e tocilizumabe). OBS: O uso do rituximabe deve ser reservado somente aos indivíduos com contraindicação absoluta, toxicidade ou falha terapêutica a todos os MMCDbio anti-TNF e também ao abatacepte e tocilizumabe, bem como aos MMCDsae (modificadores do curso da doneça sintéticos alvo específico - baricitinibe, tofacitinibe ou upadacitinibe). OBS: Deve-se realizar PPD para afastar a tuberculose antes de iniciar o uso desses medicamentos. Guilherme Rios - M1 - P7 Mecanismo de ação dos MMCDbio: ♦ Abatacept → Supressão da atividade das células T (impede a coativação da célula naive) ♦ Rituximab → Supressão da atividade das células B, ANTI-CD20. ♦ Adalimumabe, etanercepte e infliximabe → Bloqueio das quimiocinas (fator de necrose tumoral). ♦ Anakinra → Bloqueio da IL-1. ♦ Tocilizumab → Bloqueio da IL-6. 3. TERCEIRA ETAPA: • Já a terceira linha é usada em falha terapêutica ou toxicidade da segunda linha, após 3 meses de MMCDbio (em monoterapia ou combinada com MMCDsintéticos), havendo persistência da atividade da doença, deve-se usar: ♦ Outro esquema de MMCDbio (anti-TNF ou não anti-TNF) ou Tofacitinibe (modificador do curso da doença sintético alvo especifico). Se possível, associar a um MMCD sintético (preferencialmente MTX). ○ IMUNOSSUPRESSORES: • O uso de imunossupressores, como azatioprina e ciclofosfamida, embora possam ser utilizados para tratar AR, possuem mais efeitos adversos. • Com o advento dos medicamentos biológicos, esses imunossupressores estão caindo em desuso para essa patologia. ○ TRATAMENTO SINTOMÁTICO: • Servem como ponte até o efeito dos MMCD atingirem seus efeitos. • O tratamento de crises agudas ou tratamento sintomatológico pode ser feito com medicamentos anti inflamatórios como os AINES, bem como o uso de glicocorticóides a curto prazo. • AINES: ♦ Por exemplo: Ibuprofeno e naproxeno. ♦ O uso crônico desses medicamentos indica que a atividade da AR não está adequadamente controlada com os MMCD sintéticos ou biológicos sendo assim, é preciso reavaliar o tratamento. ♦ Esses medicamentos estão associados a sintomas do trato gastrointestinal, incluindo náusea, gastrite e dispepsia, podendo-se também observar hemorragia digestiva com seu uso prolongado (associar a um protetor gástrico). ♦ Seu uso deve ser reservado para alívio sintomático enquanto são aguardados os efeitos dos MMCD sintéticos ou biológicos. • Glicocorticóides: Guilherme Rios - M1 - P7 ♦ Tanto a prednisona quanto a prednisolona estão disponíveis no SUS, sendo o uso da prednisona mais convincente pela sua apresentação em comprimidos. ♦ Doses altas de glicocorticóides (pulsoterapia) só são recomendadas para o tratamento de manifestações extra-articulares ameaçadoras (p. ex., vasculite e neurite). ♦ Realizar profilaxia da osteoporose induzida por glicocorticoide: Cálcio e Vit. D. → TRATAMENTO COM IMUNOBIOLÓGICO COM PACIENTE COM TUBERCULOSE LATENTE: ○ Na investigação de um paciente com artrite reumatoide e plano de início de terapia anti-TNF, se o exame de PPD (derivado proteico purificado) estiver acima de 5 mm, entretanto o paciente estiver assintomático e com radiografiade tórax normal, a terapia anti-TNF poderá ser iniciada após pelo menos 1 mês de tratamento com isoniazida profilática durante 6-9 meses. → PROGNÓSTICO: ○ Fatores de mau prognóstico: A presença de alguns desses fatores requer acompanhamento e reavaliação mais frequente. • Sexo feminino, tabagismo, baixo nível socioeconômico. • Início da doença em idade mais precoce. • FR ou anti-CCP em títulos elevados. • Níveis elevados de PCR ou VHS. • Manifestações extra-articulares. • Grande número de articulações edemaciadas. • Elevada atividade inflamatória da doença. • Presença precoce de erosões na evolução da doença (nos primeiros 2 anos). • Presença de epitopo compartilhado. Guilherme Rios - M1 - P7 Guilherme Rios - M1 - P7 Guilherme Rios - M1 - P7
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