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Artrite reumatoide Referência: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2°ed + aula UFR + PCDT AR 2020 Imagens: https://hugoboin.com/doencaseartigos/deformidade-em-pescoco-de-cisne/ https://ftp.medicina.ufmg.br/alo/bancoimagens/Artrite.pdf (possui boas imagens) Conceito A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória sistêmica, autoimune, crônica e progressiva, caracterizada primariamente pelo acometimento da membrana sinovial (preferencialmente de articulação periférica), podendo levar a destruição óssea e cartilaginosa. Pode ocorrer acometimento de outros sistemas. A AR é caracterizada por poliartrite periférica, pela simetria, pelas deformidades que pode causar e pelo desenvolvimento progressivo que pode destruir uma articulação. OBS: a AR tem preferência por articulações pequenas e pela interfalangiana proximal em detrimento da distal. Epidemiologia É a doença autoimune mais comum da reumato. Acomete mais mulheres do que homens. Mais frequente em grupos etários maiores de 65 anos. Trata-se de uma doença de cunho genético, mas não é hereditária. Pacientes com AR têm sua expectativa de vida significantemente diminuída quando comparada com a população em geral, a acredita-se que aproximadamente 50% dos pacientes com AR ficam impossibilitados de trabalhar em 10 anos. Etiologia e fisiopatologia da artrite reumatoide Tem um caráter autoimune, ou seja, apresenta características de uma resposta imune exacerbada e disfuncional contra antígenos próprios, afetando células e tecidos. Até o momento não foram identificados autoantígenos correspondentes, um autoanticorpo específico contra um autoantígeno ou um clone patogênico de linfócitos T autorreativos capaz de transferir a doença reumatoide. Existem três fatores fundamentais para o desenvolvimento da AR: quebra da tolerância imunológica, fatores ambientais (tabagismo e interação com microbioma), variantes genéticas em moléculas que controlam a resposta imune. Basicamente, ocorre perda da autotolerância em indivíduos geneticamente predispostos resulta em ativação aberrante de respostas imune inata e adaptativa, o que resulta em hiperplasia sinovial e destruição óssea. Enquanto fatores ambientais, como o tabagismo, são gatilho para o aparecimento da autoimunidade, características genéticas, principalmente a presença do epítopo compartilhado, se relacionam a títulos mais elevados de autoanticorpos e à maior diversidade de epítopos reconhecidos por esses anticorpos. A AR pode ser subdividida de acordo com a presença ou ausência de anticorpos contra proteínas/peptídeos citrulinados (do inglês antibodies to citrullinated protein/peptide antigens – ACPA) e do fator reumatoide (FR), e a qual a presença de um ou de ambos os autoanticorpos define doença soropositiva. Entre essas diferenças está, por exemplo, o fato da imunidade dependente do MHC de classe II estar predominantemente restrita à forma soropositiva da AR. Apesar da doença soropositiva estar relacionada a curso mais agressivo, diferentes mecanismos etiopatogênicos podem resultar em quadros clínicos igualmente graves, com destruição articular e manifestações extra-articulares. AR E GENÉTICA A predisposição genética explica 15% da suscetibilidade a AR. Os principais fatores genéticos de risco para a AR são as variantes alélicas no gene que codifica a cadeia beta do HLA-DR (HLA-DRB1). O HLA-DR é um receptor da família de moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (major histocompatibility complex – MHC) de classe II, presente nas células apresentadoras de antígenos (macrófagos, células dendríticas e linfócitos B), e responsável por apresentar epítopos antigênicos às células T (via receptor de células T – TCR). As variantes gênicas do HLA-DRB1 associadas a AR codificam uma sequência de aminoácidos, conhecida como epítopo compartilhado (EC). A presença do EC nas células apresentadoras de antígeno se relaciona à seleção de linfócitos T autorreativos, à apresentação antigênica, à alteração da afinidade peptídica, à mímica molecular com antígenos microbianos e à aceleração da apoptose linfocitária. Polimorfismos de nucleotídeos únicos (SNPs) não relacionados ao sistema HLA concentrados em genes das respostas imunes adaptativas e inatas também contribuem para a suscetibilidade à AR, embora com influência menor. Um exemplo é o PTPN22, que é uma tirosina fosfatase que regula negativamente o limiar de ativação de linfócitos T CD4+ e a menor seleção negativa das células B, com consequente aumento no repertório de células T reativas a autoantígenos e mais células B aptas à autoimunidade. A associação genética HLA-DR e PTPN22 é sinérgica em relação ao risco para AR; o primeiro favorece a apresentação de antígenos citrulinados e o segundo se relaciona à ativação de células T reativas a esses autoantígenos. Na anamnese é preciso questionar se há parentes porrtadores de AR, uma vez que a ocorrência familiar de AR é relativamente comum. AUTOIMUNIDADE NA AR – FENÔMENO LOCAL Achados recentes que demonstraram a presença de inflamação em mucosas e produção local de ACPA em indivíduos ACPA positivos sem artrite (ACPA+ em risco para AR) e a proeminente persistência de resposta por IgA (FR IgA e anti-CCP IgA) em indivíduos com AR sugerem a estimulação do sistema imune no nível das mucosas. O desencadeamento da autoimunidade a autoantígenos citrulinados ocorre nos pulmões e em outras superfícies mucosas após a exposição a agentes ambientais nocivos que impulsionam tanto modificações pós-translacionais dos autoantígenos quanto o acúmulo local e a ativação de células apresentadoras. Tabagismo, infecções, periodontite ou alterações do microbioma intestinal podem induzir a produção de enzimas como a peptidil arginina deiminase tipo IV (PAD4). Essas enzimas são responsáveis por alterar peptídeos próprios ao transformar resíduos de arginina em citrulina, o que resulta no aparecimento de neoepítopos, não encontrados pelo timo durante o desenvolvimento inicial e, consequentemente, o aparecimento de ACPA. Peptídeos citrulinados se adaptam avidamente ao sulco de ligação da molécula de HLA-DR e são apresentados aos linfócitos T CD4+, ativando-os de forma muito mais eficiente do que a proteína nativa. À ativação das células T se segue a ativação de linfócitos B, com consequente produção de anticorpos contra peptídeos citrulinados das proteínas, como alfaenolase, fibrinogênio, histona, colágeno, vimentina e fibronectina. Estes anticorpos podem ser patogênicos por si só, ou podem levar à ativação de macrófagos (via Toll-like receptor ou receptor Fc), ou ainda ativar os osteoclastos. Modificações epigenéticas são modificações no DNA que não implicam em alteração da sequência genética, mas contribuem para a regulação da expressão gênica. Foram identificadas modificações epigenéticas que alteram a função celular permanente de algumas linhagens, principalmente os sinoviócitos fibroblasto-símiles (FLS, do inglês fibroblast-like synoviocytes), aumentando o risco para o aparecimento da AR. PROGRESSÃO PARA A AUTOIMUNIDADE SISTÊMICA Com base em tudo o que já foi dito sobre a AR, já deu para perceber que antes de a doença em si começar ocorre ativação dos linfócitos TCD4+ (e migração para órgãos linfoides secundários) e produção de autoanticorpos, como o ACPA ou o Fator reumatoide. Acontece que ocorre uma progressão da perda de tolerância do sistema imune, uma vez que ocorre aumento dos títulos de autoanticorpos e ainda ocorre uma expansão dos epítopos reconhecidos pelo sistema imune, além daqueles reconhecidos inicialmente pelas células T e B. Nesse sentido, diz-se que ocorre uma progressão para a autoimunidade sistêmica. PROGRESSÃO PARA A DOENÇA CLÍNICA Na progressão para a doença clínica ocorre algum sinal (que não se sabe o que é) que faz com que os linfócitos T ativados que estavamnos órgãos linfoides secundários migrem para a membrana sinovial. Além disso, os ACPAs ativam os osteoclastos, que levam a produção de IL8. Essa Il8, por sua vez, irá aturar induzindo e maturando os osteoclastos, de modo que ocorre erosão óssea. A IL8 é também responsável por atrair e estimular a diferenciação de neutrófilos para o estado de formação de NET (do inglês neutrophil extracelular traps – NET), que são armadilhas extracelulares dos neutrófilos. Essas fibras são filamentos desdobrados de cromatina, compostos de DNA e histonas e revestidos com grânulos antimicrobianos. A citrulinização de histonas (via PAD4) parece ser um fenômeno importante na formação das NETs e na perda da tolerância imunológica. Além disso, os neutrófilos no ambiente inflamatório da AR adquirem plasticidade e alterações na expressão gênica, que lhes conferem resistência à apoptose. Alem disso, induzem a geração de autoantígenos modificados (proteínas citrulinadas podem atuar como neoepítopos), influenciando as respostas de células T específicas, especialmente em indivíduos geneticamente suscetíveis à AR (portadores do epítopo compartilhado). Na sinóvia, os neutrófilos interagem com os sinoviócitos residentes semelhantes a fibroblastos (FSL) para dotá-los da capacidade de apresentação de antígenos e de um fenótipo inflamatório. A compreensão adicional de como os neutrófilos modulam a autoimunidade e os danos teciduais aos tecidos na AR pode levar ao desenvolvimento de novas terapias. Nessa sequência de autoimunidade–ativação linfocitária–sinovite, outros diversos fatores estão relacionados à AR, como infecções, estado hormonal e hábitos dietéticos. Admite-se que durante a infecção por bactérias e vírus, entre eles os vírus parvovírus e Epstein-Barr, o micoplasma, o Mycobacterium e bactérias da microbiota intestinal, a formação de imunocomplexos pode determinar o aparecimento do fator reumatoide. Infecções articulares, como pelo vírus Epstein-Barr, poderiam contribuir com a formação de imunocomplexos e engajamento da porção Fc das imunoglobulinas à membrana sinovial. Obesidade, amamentação, deficiência de vitamina D, consumo excessivo de café e sal determinam maior risco de desenvolvimento de AR, enquanto o consumo de frutas, vegetais e ômega 3 teria papel protetor. INFLAMAÇÃO DA MEMBRANA SINOVIAL NA DOENÇA ESTABELECIDA A inflamação da membrana sinovial é caracterizada pela infiltração de células que compõem a resposta imune inata (monócitos, células dendríticas, mastócitos, neutrófilos e células linfoides inatas) e células da resposta imune adaptativa (células T helper 1, T helper 17, células B e plasmócitos). Ocorre ampla destruição da articulação, por conta da ativação do FLS, do aumento do catabolismo do condrócito e da maior osteoclastogenese sinovial. A ativação de células como sinoviócitos fibroblasto-símiles (FLS), monócitos, macrófagos, linfócitos T e B, resultam em aumento na osteoclastogenese, induzindo lise óssea. A cartilagem poderá ser degradada pela atividade catabólica dos condrócitos induzida por citocinas pró-inflamatórias e pelas ações das metaloproteinases e das quimiocinas. A sinovia inflamada cheia de células imunes é chamada de Pannus. Quadro clínico MANIFESTAÇÕES ARTICULARES -Sinovite: é uma característica básica das manifestações articulares da AR; pode acometer qualquer diartrose do corpo; a queixa clínica é de dor, edema e limitação de movimentos; faz acometimento poliarticular, geralmente mais de quatro articulações estão envolvidas; acomete frequentemente punhos, metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais; a artrite é simétrica, embora nos casos de metacarpofalangeana e metatarsofalangeana a simetria não necessita ser completa; se trata sempre de um fenômeno cumulativo, não deixa de inflamar as que já estão afetadas, apenas progride para inflamar outras articulações; é caracterizada por rigidez matinal prolongada, com duração de mais de 1h, sendo que a duração da rigidez correlaciona com o grau de inflamação, por isso precisa ser documentada Obs: é muito importante entender que na AR das falanges, o acometimento é mais comum em interfalangeana proximal, e o acometimento de interfalangeana distal é raro. Quando o paciente chega com acometimento de interfalangeana distal devemos pensar em outras condições como, por exemplo, osteoartrite e artrite psoriática. Obs: mulheres gestantes, por mecanismos hormonais, param de ter os sintomas da AR, porém depois da gestação os sintomas voltam Obs: a AR inicialmente se assemelha com uma gripe, depois inicia com o sintomas articulares (se a artrite for mantida, inicia com sintomas extra-articulares) Obs: diagnóstico e tratamento precoce fazem com que ocorra menos dano articular, logo menos perda funcional para o paciente – por isso é importante que o médico generalista saiba diagnosticar e já iniciar o tratamento da AR *Manifestações em articulações específicas: -Mãos: mãos e punhos são acometidos em quase todos os pacientes com AR; ocorre alargamento e edema das articulações afetadas, e posteriormente, atrofia dos músculos interósseos, o que configura a “mão reumatoide”; podem acontecer deformidades com o avançar da doença, como desvio ulnar da metacarpofalangeana, desvio radial dos punhos, dedo em pescoço de cisne, dedo em casa de botão (boutonnière); com a compressão dos nervos periférios por conta do edema causado pela sinovite nos tendões, pode ocorrer ainda síndrome do túnel do carpo e síndrome do canal de Guyton. Ocorre desvio radial do puho e ulnar dos dedos da mão. -Coluna cervical: é comum o envolvimento da coluna cervical; manifesta com cervicalgia e rigidez ao exame físico -Quadris: envolvimento é comum; sinais inflamatórios são difíceis de perceber por conta da profundidade da articulação, porém o paciente irá se queixar de dor e limitação de movimentos para calçar sapatos; com a evolução da doença pode ocorrer bloqueio completo dos quadris e limitação à deambulação -Joelhos: frequentemente acometidos; nota-se edema e derrame; pode ocorrer herniação posterior da capsula, formando o que é chamado de cisto poplíteo ou cisto de Baker -Pés e Tornozelos: acomete mais metatarsofalangeana, talonavicular e tornozelo -Articulação temporomandibular: pode causar cefaleia, dor referida no ouvido e dificuldade de mastigação -Articulação cricoaritenóidea: dor local, disfonia e dor a deglutição -Articulação esternoclavicular: dor e edema MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES As manifestações extra-articulares são mais frequentes em pacientes com doença grave e poliarticular, FR positivo e com nódulos reumatoides. Há também uma possível predisposição genética (HLA-DRB1*0401). *Manifestações cutâneas: Nódulos reumatoides: presentes em cerca de 30% dos pacientes com AR (95% são FR positivo), os nódulos reumatoides são nodulações subcutâneas de tamanhos variados (mm a cm). São mais frequentemente observados em zonas de atrito, nas faces extensoras do antebraço, tendão do calcâneo, ísquio, metatarsofalangeanas e superfícies flexoras dos dedos. Já foram descritos em vísceras. Guardam relação com a atividade da doença, tendendo a desaparecer com a remissão do quadro articular. Podem, no entanto, persistir mesmo após melhora dos demais sintomas. Outras manifestações cutâneas incluem púrpura palpável, úlceras isquêmicas e equimoses. Vasculite reumatoide: pequenos infartos nas unhas e polpas digitais, que aparecem sobre a forma de lasca. *Manifestações oculares: ceratoconjuntivite sicca (associada à síndrome de Sjögren, uma superposição comum com a AR); episclerite (de curso geralmente benigno); esclerite (de evolução mais grave, podendo levar à erosão da esclera em direção à coroide, causando escleromalácia perfurante). *Manifestações respiratórias: os quadros pulmonares podem ser decorrentes da própria ARou da terapia utilizada (metotrexato, sais de ouro e penicilamina) que causam doença intersticial semelhante à AR; as manifestações características incluem: fibrose intersticial, nódulos pulmonares, derrame pleural e bronquiolite obliterante. *Manifestações cardíacas: efusão pericárdica assintomática ocorre em até 50% dos casos, mas pericardite sintomática é rara, estando relacionada a episódios de atividade da doença. *TGI: xerostomia (associada à síndrome de Sjögren) e complicações vasculares intestinais por vasculite; diversos sintomas dispépticos, sobretudo gastrite e úlcera péptica, são eventos frequentes e de alta morbimortalidade, estando associados principalmente à terapia com AINE e esteroides. *Renal: glomerulonefrite mesangial, geralmente sem expressão clínica. *Hemato: anemia hipocrômica e microcítica com ferritina sérica reduzida e saturação da transferrina normal ou baixa é achado frequente (até 70% dos pacientes); apesar de sua fisiopatogenia ser ainda incerta, é considerada como uma variante da anemia da doença crônica; trombocitose é frequente por conta do processo inflamatório crônico; em até 10% dos casos têm-se linfoadenopatia local ou generalizada *Neuro: mielopatia cervical decorrente de instabilidade cervical; neuropatias compressivas periféricas (túnel do carpo, canal de Guyon, túnel do tarso). *Psiqui: a dor crônica, as deformidades e as limitações de movimento contribuem para que o paciente com AR desenvolva depressão ou altere seu comportamento normal. Exames complementares *Marcadores inflamatórios: Os exames laboratoriais na AR são úteis para a elaboração diagnóstica e para monitoramento da atividade de doença, enquanto os exames de imagem também permitem avaliação do dano articular. Para a avaliação da atividade inflamatória, a velocidade de hemossedimentação (VHS) e a proteína C-reativa (PCR) são os testes mais empregados e estão incluídos no cálculo de índices compostos de atividade de doença. A VHS é a distância percorrida pelas hemácias sedimentadas em uma pipeta (unidade: mm/primeira hora) e pode ser afetada por diversas variáveis como sexo, idade, anemia e gestação, além de depender de adequada manipulação pré-analítica da amostra. A PCR, dosada por métodos quantitativos (unidade: mg/dL ou mg/L), é mais estável e varia mais rapidamente com a alteração do estado inflamatório. Porém, também pode estar mais elevada em indivíduos obesos. Em decorrência da ampla variação individual que se observa na prática clínica, recomenda-se o uso inicial de ambos os testes para avaliar qual se relaciona melhor com a atividade inflamatória do paciente. Esse poderá ser então empregado isoladamente no acompanhamento. *Anticorpos: -Fator reumatoide (FR): autoanticorpo direcionado contra a fração Fc da imunoglobulina G (IgG) humana; pode estar presente em situações diversas e estímulo crônico do sistema imune, como diversas doenças autoimunes e infecções crônicas, assim como em idosos sadios (geralmente em baixos títulos); na AR, os títulos mais altos correlacionam-se com doença de pior prognóstico, erosões ósseas e manifestações extra-articulares. -Anticorpos antiproteínas citrulinadas (anti-CCP): possui alta especificidade (acima de 90%), sendo portanto útil em situações de diagnóstico diferencial de poliartrites e outras situações que apresentem fator reumatoide positivo (p. ex., pacientes com hepatite viral); também apresenta valor prognóstico, sendo preditor do desenvolvimento de doença erosiva e de pior prognóstico. *Metodos de imagem: -Radiografia: por ser barata e de fácil acesso, acaba sendo muito utilizada. -Ultrassonografia: apresenta maior sensibilidade do que o exame físico de detecção de sinovite e do que a radiografia para evidenciar erosões, e complementa o exame físico em situações de dúvidas. -Ressonância magnética (RM): método muito sensível para demonstrar alterações sugestivas de AR, como edema ósseo, tenossinovite, erosões e dano da cartilagem, porém é caro e o paciente tem desconforto na realização do exame. Diagnóstico Existem escores que medem o grau de progressão da doença, eles podem ser usados para estabelecer metas de tratamento: Tratamento O objetivo do tratamento é a remissão completa da doença, mas isso é bem raro. Inicialmente, no tratamento, deve-se explicar para o paciente e seus familiares o que é a doença e quais os riscos do tratamento. É fundamental o acompanhamento multidisciplinar, uma vez que o paciente com AR muitas vezes possui outras patologias, por isso deve ter todas as suas comorbidades destrinchadas por outros especialistas. O tratamento não medicamentoso consiste no fortalecimento de músculos periarticulares, manutenção da mobilidade articular e perda de peso (pq ai pesa menos na articulação). O uso de sapatos adequados e bengala é fundamental para poupar a articulação. Não devemos deixar o paciente pegar peso, analisar a profissão dele e o cotidiano. Tratamento medicamentoso: - Medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD) sintéticos convencionais: metotrexato, leflunomida, antimaláricos (difosfato de cloroquina e hidroxicloroquina) e sulfassalazina. -Medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD) biológicos: anti- TNF (adalimumabe, certolizumabe pegol, etanercepte, golimumabe, infliximabe), bloqueador da coestimulação do linfócito T (abatacepte), antirreceptor IL-6 (tocilizumabe), anti-CD20 (rituximabe). -Medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD) sintéticos alvo- específicos (são inibidores da jak): tofacitinibe, baricitinibe e upadacitinibe. (reduz tnf alfa; bloqueia il7, altera il6) -Corticoides e anti-inflamatórios podem ser utilizados em associação aos medicamentos específicos, por curto intervalo de tempo (fases iniciais do tratamento, períodos de agudização/recidiva); se usar corticoide por tempo prolongado precisa repor cálcio e vitamina D (se tiver osteoporose usa drogas anti-reabsortivas) – são prescritos para controle sintomático -Imunossupresores: ciclosporina; ciclofosfamida; azatioprina (esses aqui podem ser usados no caso das manifestações extra articulares) 1° etapa: MEDICAMENTOS MODIFICADORES DO CURSO DA DOENÇA SINTÉTICOS (MMCDs) - Metotrexato, leflunomida, sulfassalazina, cloroquina e hidroxicloroquina. 1° linha: MTX está associado à alta taxa de toxicidade hepática e gastrointestinal, podendo levar à suspensão do tratamento em aproximadamente 30% dos casos. Para diminuir o risco de toxicidade, deve-se fazer uso de ácido fólico, sendo sugerida a dose de 5 mg, uma vez por semana, 36 horas após o tratamento com MTX. Sempre que possível, a hidroxicloroquina deve ser usada preferencialmente à cloroquina, uma vez que possui melhor perfil de eficácia e segurança. 2° linha: Em caso de falha da monoterapia inicial (MTX, LEF, SSZ, HCQ/cloroquina), isto é, de persistência da atividade de doença (de acordo com a meta terapêutica) após 3 meses de 17 tratamento otimizado (dose máxima tolerada e adesão adequada) do medicamento usado na 1ª linha, passa-se para a terapia com a combinação dupla ou tripla de MMCDs. As associações de medicamentos modificadores do curso da doença sintéticos (MMCDs) mais comumente recomendadas são MTX ou LEF com HCQ/cloroquina ou MTX ou LEF com SSZ. A tripla terapia pode ser realizada com a combinação de metotrexato com HCQ/cloroquina e sulfassalazina. Após o uso de pelo menos dois esquemas terapêuticos na primeira etapa por no mínimo 3 meses cada um e havendo persistência da atividade da doença conforme avaliação por meio do CDAI, utiliza-se um MMCDbio, ou um MMCDsae (baricitinibe ou tofacitinibe). 2° etapa: MEDICAMENTOS MODIFICADORES DO CURSO DA DOENÇA BIOLÓGICOS (MMCDbio) - Abatacepte, adalimumabe, certolizumabepegol, etanercepte, golimumabe, infliximabe, rituximabe, tocilizumabe – MEDICAMENTOS MODIFICADORES DO CURSO DA DOENÇASINTÉTICOS ALVO ESPECÍFICO (MMCDsae) -Baricitinibe ou tofacitinibe O MMCDbio deve ser usado em associação com o MTX, exceto no caso de contraindicação; neste caso, pode ser considerada a associação com outro MMCDs (LEF eSSZ). Os MMCDbio que podem ser usados são os antifator de necrose tumoral - anti-TNF (certolizumabepegol, golimumabe, infliximabe, etanercepte e adalimumabe) e os não anti-TNF (abatacepte e tocilizumabe). O uso do rituximabe deve ser reservado somente aos indivíduos com contraindicação absoluta a todos os MMCDbio anti-TNF e também ao abatacepte e tocilizumabe. Esses medicamentos possuem perfis de eficácia e segurança semelhantes, não havendo, em geral, predileção por uma alternativa frente às demais. Para os casos de pacientes já em tratamento com MMCDbio e com resposta adequada, o uso do mesmo fármaco deve ser mantido, não sendo recomendada sua troca por outro MMCDbio. O MMCDsae pode ser usado alternativamente ao uso de um MMCDbio. O tofacitinibe e o baricitibe têm como vantagens a possibilidade de ser usado por via oral e não necessitar de refrigeração para armazenamento. O tofacitinibe deve ser usado em associação com o MTX, 18 exceto no caso de contraindicação O baricitinibe pode ser usado em monoterapia ou em combinação com MTX. 3° etapa: MEDICAMENTOS MODIFICADORES DO CURSO DA DOENÇA BIOLÓGICOS (MMCDbio) - Abatacepte, adalimumabe, certolizumabepegol, etanercepte, golimumabe, infliximabe, rituximabe, tocilizumabe – MEDICAMENTOS MODIFICADORES DO CURSO DA DOENÇA SINTÉTICOS ALVO ESPECÍFICO (MMCDsae) – Baricitinibe ou tofacitinibe. Após pelo menos 3 meses da segunda etapa terapêutica, e havendo persistência da atividade da doença conforme avaliação por meio do ICAD, ou toxicidade inaceitável ao medicamento utilizado nessa etapa, pode-se prescrever outro MMCDbio (anti-TNF ou não anti-TNF) ou MMCDsae (baricitinibe ou tofacitinibe), desde que o medicamento selecionado não tenha sido usado anteriormente. Se possível, o medicamento selecionado deve ser associado a um MMCDs (preferencialmente o MTX).
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