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1 Khilver Doanne Sousa Soares Anticoagulantes e Antiplaquetários Introdução Os fármacos a serem discutidos tratam dos distúrbios da hemostasia. Trombose, a formação de um coágulo indesejado dentro dos vasos sanguíneos, é a anormalidade mais comum da hemostasia. Os distúrbios trombóticos incluem infarto agudo do miocárdio (IAM), trombose venosa profunda (TVP), embolia pulmonar (EP) e acidente vascular encefálico isquêmico agudo. Essas condições são tratadas com anticoagulantes e fibrinolíticos. Os distúrbios de sangramento envolvendo falhas da hemostasia, como a hemofilia e a deficiência de vitamina K, são menos comuns do que as doenças tromboembólicas. Antes de mais nada é necessário entender a diferença entre um êmbolo e um trombo. Um coágulo que adere a uma parede vascular é denominado trombo, e um coágulo intravascular que flutua no sangue é denominado êmbolo. Assim, um trombo destacado se torna um êmbolo. Tanto o trombo quanto o êmbolo são perigosos, pois podem ocluir o vaso e privar os tecidos de oxigênio e nutrientes. A trombose arterial, em geral, consiste em um coágulo rico em plaquetas. Em contraste, a trombose venosa é iniciada pela estase sanguínea ou pela ativação imprópria da cascata da coagulação. Em geral, a trombose venosa envolve um coágulo que é rico em fibrina, com menos plaquetas do que as observadas no coágulo arterial. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Resumo dos fármacos usados no tratamento das disfunções da hemostasia. Porto Alegre: Artmed, 2016. Resposta Plaquetária à Lesão Vascular O traumatismo físico ao sistema vascular, como uma punção ou um corte, inicia uma série complexa de interações entre plaquetas, células endoteliais e a cascata da coagulação. Essas interações levam à hemostasia ou à interrupção na perda de sangue por vasos sanguíneos danificados. Inicialmente, ocorre um vasoespasmo no vaso danificado para prevenir perda de sangue adicional. A etapa seguinte envolve a formação de tampão de fibrina e plaquetas no local da punção. A criação de um trombo indesejado envolve várias das mesmas etapas da coagulação 2 Khilver Doanne Sousa Soares normal, exceto que o estímulo disparador é uma condição patológica no sistema vascular, em vez de um traumatismo físico externo. As plaquetas atuam como sentinelas vasculares, monitorando a integridade do endotélio. Na ausência de lesão, as plaquetas em repouso circulam livremente, pois a sinalização química indica que o sistema vascular não está lesado. (Continua) Formação do coágulo hemostático (parte1/2) 3 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Formação do coágulo hemostático (parte 2/2). Porto Alegre: Artmed, 2016. Mediadores Químicos (células endoteliais). Mediadores químicos, como prostaciclinas e óxido nítrico, são sintetizados pelas células endoteliais intactas e atuam como inibidores da aglutinação das plaquetas. As prostaciclinas (prostaglandina I2) atuam ligando-se a receptores de membrana plaquetários que estão acoplados à síntese de monofosfato cíclico de adenosina (AMPc), um 4 Khilver Doanne Sousa Soares mensageiro intracelular. Níveis elevados de AMPc estão associados à diminuição no cálcio intracelular. Isso evita a aglutinação das plaquetas e a subsequente liberação de fatores de agregação plaquetária. As células endoteliais lesadas sintetizam menos prostaciclina do que as células saudáveis, resultando em níveis mais baixos de prostaciclina. Como há menos prostaciclina para ligar receptores de plaquetas, menos AMPc intracelular é sintetizado, o que leva à aglutinação das plaquetas. Trombina, Tromboxano e Colágeno. A membrana da plaqueta contém também receptores que podem fixar trombina, tromboxanos e colágeno exposto. No vaso intacto, normal, os níveis de trombina e tromboxano circulantes são baixos, e o endotélio intacto cobre o colágeno nas camadas subendoteliais. Os receptores das plaquetas correspondentes estão, portanto, desocupados e, como resultado, não ocorre ativação ou agregação de plaquetas. Contudo, quando ocupados, cada um desses tipos de receptores inicia uma série de reações que leva à liberação de grânulos intracelulares pelas plaquetas na circulação. Por fim, isso estimula a aglutinação das plaquetas. (Continuação - Resposta Plaquetária à Lesão Vascular – pág. 2) Os receptores na superfície das plaquetas aderentes são ativados pelo colágeno do tecido conectivo subjacente. Isso causa alterações morfológicas nas plaquetas e a liberação de grânulos de plaquetas contendo mediadores químicos, como difosfato de adenosina (ADP), tromboxano A2, serotonina, fator de ativação plaquetária e trombina. Essas moléculas sinalizadoras se ligam aos receptores na membrana externa das plaquetas em repouso circulantes vizinhas. Esses receptores funcionam como sensores, que são ativados pelos sinais enviados das plaquetas aderentes. As plaquetas previamente dormentes se tornam ativadas e iniciam a aglutinação. Essas ações são mediadas por vários sistemas mensageiros que, no final, resultam na elevação dos níveis de cálcio e na diminuição da concentração de AMPc dentro da plaqueta. O aumento do cálcio citosólico que acompanha a ativação decorre da liberação de estoques armazenados no interior da plaqueta. Isso leva 1) à liberação de grânulos de plaquetas contendo mediadores, como ADP e serotonina, que ativam outras plaquetas; 2) à ativação da síntese de tromboxano A2; e 3) à ativação dos receptores de glicoproteínas (GPs) IIb/IIIa que ligam fibrinogênio e, finalmente, regulam as interações plaquetas-plaquetas e a formação do trombo. O fibrinogênio, uma GP plasmática solúvel, liga-se simultaneamente aos receptores de GP IIb/IIIa de duas plaquetas vizinhas, resultando na ligação cruzada entre plaquetas e na sua aglutinação. Isso leva a uma avalanche de aglutinação plaquetária, pois cada plaqueta ativada pode recrutar outras plaquetas Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Micrografias por escaneio eletrônico de plaquetas. Porto Alegre: Artmed, 2016. A estimulação local da cascata de coagulação pelos fatores teciduais liberados dos tecidos lesados e pelos mediadores da superfície das plaquetas resulta na formação de trombina (fator IIA). A trombina, por sua vez, catalisa a hidrólise do fibrinogênio em fibrina, que é incorporada no coágulo. Ligações cruzadas 5 Khilver Doanne Sousa Soares subsequentes das tiras de fibrina estabilizam o coágulo e formam um tampão fibrina-plaquetas hemostático. Durante a formação do tampão, a via fibrinolítica é ativada localmente. O plasminogênio é processado à plasmina (fibrinolisina) enzimaticamente pelos ativadores de plasminogênio nos tecidos. A plasmina limita o crescimento do coágulo e dissolve a rede de fibrina à medida que ocorre a cicatrização. INIBIDORES PLAQUETÁRIOS Fonte: BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Locais de ação dos fármacos antiplaquetários. O ácido acetilsalicílico inibe a síntese do tromboxano A2 (TxA2) ao acetilar de forma irreversível a ciclo-oxigenase-1 (COX-1). A liberaçãoreduzida de TxA2 atenua a ativação e o recrutamento de plaquetas para o local da lesão vascular. A Ticlopidina, clopidogrel e prasugrel bloqueiam de forma irreversível P2Y12, um receptor importante do ADP na superfície das plaquetas; cangrelor e ticagrelor são inibidores reversíveis do P2Y12. Abciximabe, eptifibatida e tirofibana inibem a via final comum da agregação plaquetária ao bloquear o fibrinogênio e o fator de von Willebrand (FvW) de se ligarem à glicoproteína (GP) IIb/IIIa ativada. SCH530348 e E5555 inibem a ativação plaquetária mediada pela trombina ao atuarem sobre o receptor ativado por protease (PAR-1), o principal receptor de trombina nas plaquetas. Os inibidores da aglutinação plaquetária diminuem a formação de um coágulo rico em plaquetas ou diminuem a ação dos sinais químicos promotores da aglutinação. Os inibidores da aglutinação de plaquetas descritos a seguir inibem a cicloxigenase-1 (COX-1) ou bloqueiam os receptores de GP IIb/IIIa ou ADP, interferindo, assim, no sinal que promove a aglutinação plaquetária. Ácido Acetilsalicílico A estimulação das plaquetas por trombina, colágeno e ADP resulta na ativação das fosfolipases de membrana das plaquetas que liberam ácido araquidônico dos fosfolipídeos da membrana. O ácido araquidônico é convertido inicialmente em prostaglandina H2 pela COX-1. A prostaglandina H2 é metabolizada a tromboxano A2, que é liberado no plasma. O tromboxanos A2 promove o processo de aglutinação, que é essencial para a rápida formação do tampão hemostático. O ácido acetilsalicílico (AAS) inibe a síntese do tromboxano A2 por acetilação do resíduo serina no centro ativo da COX-1, inativando irreversivelmente a enzima. O efeito inibitório é rápido, e a supressão da tromboxano A2 e a consequente supressão da aglutinação das plaquetas induzida pelo AAS persistem por toda a vida da plaqueta, que é 7 a 10 dias aproximadamente. Obs.: a administração repetida do AAS tem efeito acumulativo na função das plaquetas. Por via oral, o AAS é absorvido por difusão passiva e rapidamente hidrolisado a ácido salicílico no fígado. O ácido salicílico é biotransformado no fígado, e parte é excretada inalterada com a urina. 6 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Acetilação da COX-1 pelo AAS. Porto Alegre: Artmed, 2016. Ticlopidina, Clopidogrel, Prasugrel e Ticagrelor Ticlopidina, clopidogrel, prasugrel e ticagrelor são inibidores do receptor P2Y12 ADP, o que também bloqueia a aglutinação das plaquetas, mas por mecanismo distinto do AAS. Esses fármacos inibem a ligação do ADP aos seus receptores nas plaquetas e, assim, inibem a ativação dos receptores de GP IIb/IIIa necessários para que as plaquetas se liguem ao fibrinogênio e umas às outras. O ticagrelor se liga reversivelmente ao receptor P2Y12 ADP. Os demais ligam-se irreversivelmente. Estes fármacos requerem doses de carga para efeito antiplaquetário mais rápido. Após ingestão oral, os fármacos são extensamente ligados às proteínas plasmáticas. Eles sofrem biotransformação hepática pelo sistema CYP450 a metabólitos ativos. A eliminação dos fármacos e seus metabólitos ocorrem por via renal e fecal. O clopidogrel é um pró-fármaco, e sua eficácia terapêutica depende totalmente do metabólito ativo produzido via biotransformação pela CYP2C19. Alguns fármacos inibem a CYP2C19, como omeprazol e esomeprazol e, portanto, não devem ser administrados junto com o clopidogrel. Abciximabe, Eptifibatida e Tirofibana O receptor GP IIb/IIIa desempenha papel fundamental na estimulação da aglutinação das plaquetas. O anticorpo monoclonal quimérico abciximabe inibe o complexo receptor GP IIb/IIIa. Ligando-se ao GP IIb/IIIa, o abciximabe bloqueia a ligação do fibrinogênio e do fator de von Willebrand e, consequentemente, não acontece a aglutinação. Eptifibatida e tirofibana atuam de modo similar ao abciximabe bloqueando o receptor GP IIb/IIIa. O eptifibatida é um peptídeo cíclico que se liga ao GP IIb/IIIa no local que interage com a sequência arginina-glicina-ácido aspártico do fibrinogênio. O tirofibana não é um peptídeo, mas bloqueia o mesmo local que a eptifibatida. O abciximabe é administrado em bólus intravenoso (IV), seguido de infusão IV, alcançando o pico de inibição das plaquetas em 30 minutos. O mecanismo de ação do abciximabe é desconhecido. Dipiridamol O dipiridamol, um vasodilatador coronário, aumenta os níveis intracelulares de AMPc inibindo o nucleotídeo cíclico fosfodiesterase, resultando, assim, em diminuição da síntese de tromboxano A2. Ele pode potencializar o efeito da prostaciclina no antagonismo da adesividade das plaquetas e, assim, diminuir sua aderência às superfícies trombogênicas O dipiridamol tem biodisponibilidade variável por administração oral e liga-se extensamente às proteínas. Sofre biotransformação hepática, por glicuronidação, e é excretado principalmente com as fezes. 7 Khilver Doanne Sousa Soares Cilostazol O cilostazol é um antiplaquetário de uso oral que tem também atividade vasodilatadora. O cilostazol e seus metabólitos ativos inibem a fosfodiesterase tipo III que previne a degradação do AMPc, aumentando, assim, os seus níveis nas plaquetas e nos tecidos vasculares. O aumento nos níveis de AMPc nas plaquetas e nos vasos previne a aglutinação das plaquetas e promove a vasodilatação, respectivamente. O cilostazol altera de modo favorável o perfil lipídico, causando diminuição nos triglicerídeos plasmáticos e aumentando a lipoproteína de alta densidade colesterol (HDL). O cilostazol é extensamente biotransformado no fígado pelas isoenzimas CYP3A4, CYP2C19 e CYP1A2. A via primária de eliminação é renal. COAGULAÇÃO DO SANGUE O processo de coagulação que gera trombina consiste em duas vias inter- relacionadas: os sistemas extrínseco e intrínseco. O sistema extrínseco inicia com ativação do fator de coagulação VII pelo fator tecidual (também denominado tromboplastina). O fator tecidual é uma proteína de membrana que normalmente é separada do sangue pelas células endoteliais que revestem os vasos. Contudo, em resposta a uma lesão no vaso, o fator tecidual fica exposto ao sangue. Ali, ele pode se ligar e ativar o fator VII, iniciando a via extrínseca. O sistema intrínseco é iniciado pela ativação do fator de coagulação XII, e isso acontece quando o sangue entra em contato com o colágeno na parede lesada de um vaso sanguíneo. COAGULAÇÃO DO SANGUE: formação da fibrina O sistema extrínseco e o intrínseco envolvem uma cascata de reações enzimáticas que transformam sequencialmente vários fatores plasmáticos (pró-enzimas) em suas formas ativas (enzimas). Ao final, é produzido o fator Xa, o qual converte protrombina (fator II) em trombina (fator IIa) A trombina tem função central na coagulação porque é responsável pela produção de fibrina que forma a malha matriz do coágulo. Se não se forma trombina ou se sua função é impedida (p. ex., pela antitrombina III), a coagulação é inibida. Obs.: existem vários inibidores endógenos dos fatores de coagulação como a proteína C, S, antitrombina III e inibidor tissular. Anticoagulantes como heparina e seus derivados envolvem a ativação desses inibidores endógenos. Anticoagulantes Heparina e Heparinas de Baixo Peso Molecular (HBPM) A heparina é um anticoagulante injetável de ação rápida, usado com frequência para interferir agudamente na formação de trombos. A heparina normalmente ocorre como uma macromolécula complexada com histamina nos mastócitos, onde sua função fisiológica é desconhecida. A heparina não fracionada é uma mistura de glicosaminoglicanos aniônicos de cadeias retas, com uma ampla faixa de massas moleculares. Ela é muito ácida devido à presença de sulfato e grupos de ácido carboxílico. As HBPMs são compostos heterogêneos com cerca de um terço do tamanho da heparina não fracionada.A heparina atua em inúmeros alvos moleculares, mas seu efeito anticoagulante é consequência da ligação à antitrombina III, com a rápida inativação subsequente dos fatores de coagulação. A antitrombina III é uma α- globulina que inibe serinoproteases da trombina (fator IIa) e fator Xa. Na ausência de heparina, a antitrombina III interage lentamente com a trombina e o fator Xa. Quando a heparina se liga à antitrombina III, ocorre uma alteração conformacional que catalisa a inibição da trombina cerca de mil vezes. As 8 Khilver Doanne Sousa Soares HBPMs complexam com a antitrombina III e inativam o fator Xa (incluindo o localizado nas superfícies das plaquetas), mas não se ligam tão avidamente à trombina. A sequência singular de pentassacarídeo presente na heparina e nas HBPMs permite sua ligação à antitrombina III A heparina precisa ser administrada por via subcutânea (SC) ou IV, pois não atravessa membranas com facilidade. As HBPMs são administradas por via SC. A heparina com frequência é administrada por via IV em bólus para obter anticoagulação imediata. Isso é seguido de doses menores ou infusão contínua de heparina, titulando a dose de forma que o tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) seja 1,5-2,5 vezes o do controle normal. Normalmente, não é preciso monitorar os valores de coagulação com as HBPMs, pois os níveis plasmáticos e sua farmacocinética são previsíveis. Contudo, é recomendado monitorar os níveis do fator Xa em pacientes obesos, gestantes ou com insuficiência renal tratados com HBPM. No sangue, a heparina se fixa em várias proteínas que neutralizam sua atividade, causando farmacocinética imprevisível. A ligação da heparina às proteínas plasmáticas é variável em pacientes com doença tromboembólica. Embora geralmente restrita à circulação, a heparina é captada pelo sistema monócitos/macrófagos e sofre despolimerização e dessulfatação a produtos inativos. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. A heparina acelera a inativação dos fatores de coagulação pela antitrombina. Porto Alegre: Artmed, 2016. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. A heparina e a HBPM intermedeiam a inativação da trombina ou do fator Xa. Porto Alegre: Artmed, 2016. 9 Khilver Doanne Sousa Soares Argatrobana A argatrobana é um anticoagulante sintético parenteral derivado da L-arginina. É um inibidor direto da trombina. A argatrobana é usada preventivamente no tratamento da trombose em pacientes com TIH e aprovada para uso durante ICP em pacientes que apresentam ou estão sob risco de TIH. Bivalirudina e Desirudina Esses fármacos são inibidores diretos seletivos da trombina e inibem reversivelmente o centro catalítico da trombina livre e da ligada ao coágulo. A bivalirudina é uma alternativa à heparina em pacientes que serão submetidos a ICP que têm ou poderão ter risco de desenvolver TIH, e também pacientes com angina instável a ser submetidos a angioplastia. Fondaparinux Esse fármaco inibe seletivamente apenas o fator Xa. Ligando-se seletivamente à antitrombina III, o fondaparinux potencializa (300- 1.000 vezes) a neutralização inata do fator Xa pela antitrombina III. Ele é bem absorvido pela via SC com perfil farmacocinético previsível e, por isso, exige menos monitoramento do que a heparina. É eliminado com a urina principalmente inalterado, com meia-vida de eliminação entre 17 a 21 horas. Etexilato de Dabigatrana O etexilato de dabigatrana é o pró-fármaco da molécula ativa dabigatrana, que é um inibidor direto de trombina de uso oral. A trombina livre e a ligada ao coágulo são inibidas por dabigatrana. O etexilato de dabigatrana é administrado por via oral. Devido à hidrólise do produto e à redução da potência quando exposto à umidade, as cápsulas devem ser armazenadas na embalagem original e ingeridas inteiras. Ele é hidrolisado ao fármaco ativo, dabigatrana, pelas várias esterases do plasma. O sistema CYP450 não tem função na biotransformação da dabigatrana. Rivaroxabana e Apixabana Rivaroxabana e apixabana são inibidores do fator Xa, de uso oral. Ambos se ligam ao centro ativo do fator Xa, prevenindo, assim, sua habilidade de converter protrombina em trombina. Rivaroxabana é aprovado para o tratamento e a prevenção da TVP, do EP e do acidente vascular em fibrilação atrial não valvar. Ambos os fármacos são adequadamente absorvidos por administração oral e amplamente ligados a proteínas. O alimento pode aumentar a absorção de rivaroxabana, que é biotransformada principalmente pelas isoenzimas CYP3A4/5 e CYP2J2 a metabólitos inativos. A apixabana é biotransformada primariamente pela CYP3A4, ao passo que as enzimas CYP1A2, CYP2C8, CYP2C9, CYP2C19 e CYP2J2 são vias metabólicas menores – aproximadamente 27% é excretado por via renal. Rivaroxabana e apixabana são substratos da gpP. Comparados com a varfarina, rivaroxabana e apixabana têm menos interações farmacológicas. Varfarina Os anticoagulantes cumarínicos devem sua ação à habilidade de antagonizar a função de cofator da vitamina K. O único anticoagulante cumarínico terapeuticamente relevante é a varfarina. Inicialmente usada como raticida, a varfarina hoje é largamente usada clinicamente como anticoagulante oral. O objetivo do tratamento com varfarina é uma INR de 2-3 para a maioria das indicações e INR de 2,5-3,5 para algumas válvulas mecânicas e outras indicações. 10 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Mecanismos de ação da varfarina. NADP+, forma oxidada do fosfato de nicotinamida-adenina dinucleotídeo; NADPH, forma reduzida do fosfato de nicotinamida-adenina dinucleotídeo. Porto Alegre: Artmed, 2016. Os fatores II, VII, IX e X precisam da vitamina K como um cofator para sua síntese pelo fígado. Esses fatores sofrem uma modificação pós-translacional dependente de vitamina K, na qual alguns de seus resíduos de ácido glutâmico são carboxilados para formar resíduos de ácido γ-carboxiglutâmico. Os resíduos de γ-carboxiglutamil ligam íons cálcio, que são essenciais para a interação entre os fatores de coagulação e as membranas das plaquetas. Nas reações de carboxilação, a carboxilase dependente de vitamina K fixa CO2 para formar os novos grupos COOH no ácido glutâmico. O cofator vitamina K reduzido é convertido em epóxido de vitamina K durante a reação. A vitamina K é regenerada do epóxido pela vitamina K epóxido redutase, a enzima que é inibida pela varfarina. O tratamento com varfarina resulta na produção de fatores de coagulação menos ativos (de 10 a 40% do normal), pois lhes faltam suficientes cadeias laterais γ-carboxiglutamil. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Fármacos que afetam o efeito anticoagulante da varfarina. Porto Alegre: Artmed, 2016. A varfarina é rapidamente absorvida após administração via oral (100% de biodisponibilidade com pouca variação individual). Ela é extensamente ligada à albumina plasmática, o que evita sua difusão para o líquido cerebrospinal, para a urina e para o leite materno. Contudo, fármacos que tenham maior afinidade pelo local de ligação da albumina, como as sulfonamidas, podem deslocar os anticoagulantes e levar a um aumento transitório da atividade. A varfarina atravessa facilmente a placenta. A varfarina é biotransformada pela CYP450 (incluindo as isoenzimas 2C9, 2C19, 2C8, 2C18, 1A2 e 3A4) a compostos inativos. Após conjugação ao 11 Khilver Doanne Sousa Soares ácido glicurônico, os metabólitos inativos são excretados na urina e nas fezes. Trombolíticos A doença tromboembólica aguda em determinados pacientes pode ser tratada com a administração de fármacos que ativam a conversão de plasminogênio em plasmina, uma serinoprotease que hidrolisa fibrina e, assim, dissolve coágulos. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada.6ed. Ativação do plasminogênio pelos trombolíticos. A estreptoquinase, um dos primeiros desses fármacos aprovados, causa um estado fibrinolítico sistêmico que pode levar a problemas de sangramento. A alteplase atua mais localizadamente na fibrina trombótica para produzir fibrinólise. A uroquinase é produzida naturalmente nos rins humanos e converte diretamente plasminogênio em plasmina ativa. Porto Alegre: Artmed, 2016. Os trombolíticos apresentam algumas características comuns. Todos atuam direta ou indiretamente convertendo plasminogênio em plasmina, que, então, hidrolisa a fibrina, hidrolisando, assim, os trombos. A dissolução do coágulo e a reperfusão ocorrem com maior frequência quando o tratamento é iniciado logo após a formação do trombo, pois ele se torna mais resistente à lise à medida que envelhece. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Degradação de um trombo indesejado e um tampão hemostático útil pelos ativadores de plasminogênio. Porto Alegre: Artmed, 2016. Alteplase, Reteplase e Tenecteplase Reteplase é um derivado menor de APt recombinante, engenhado geneticamente. Tenecteplase é outro APt recombinante com meia-vida mais longa e maior afinidade pela fibrina do que a alteplase. A alteplase tem baixa afinidade pelo plasminogênio livre no plasma, mas ativa rapidamente o plasminogênio que está ligado a fibrina em um trombo ou um tampão hemostático. A alteplase é aprovada para o tratamento de IAM, EP massiva e AVE isquêmico agudo. Reteplase e tenecteplase são aprovados somente para uso em IAM, embora reteplase possa ser usada extrabula na TVP e na EP massiva. Estreptoquinase A estreptoquinase é uma proteína extracelular purificada de caldos de cultura de estreptococos β-hemolíticos do grupo C. Ela 12 Khilver Doanne Sousa Soares forma um complexo ativo um-a-um com plasminogênio. Esse complexo é enzimaticamente ativo e converte o plasminogênio não complexado na enzima ativa plasmina. Além da hidrólise dos tampões de fibrina, o complexo também catalisa a degradação do fibrinogênio, bem como dos fatores V e VII de coagulação. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Mecanismo de ação da Estreptoquinase. Porto Alegre: Artmed, 2016. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. A estreptoquinase degrada a fibrina e o fibrinogênio. Porto Alegre: Artmed, 2016. Uroquinase A uroquinase hidrolisa diretamente a ligação arginina-valina do plasminogênio, formando plasmina. A uroquinase só está aprovada para a lise de êmbolos pulmonares. Usos extrabula incluem o tratamento de IAM, tromboembolismo arterial, trombose artéria coronária e TVP. Seu uso foi amplamente superado por outros fármacos com relação risco/benefício mais favorável. Anti-Hemorrágicos O uso de anticoagulantes também pode originar hemorragias. Certas proteínas naturais e a vitamina K, bem como antagonistas sintéticos, são eficazes no controle de sangramentos. Ác. Aminocaproico e Ác. Tranexâmico Os estados fibrinolíticos podem ser controlados pela administração de ácido aminocaproico ou ácido tranexâmico. Ambos são fármacos sintéticos, ativos por via oral, excretados na urina, e que inibem a ativação do plasminogênio. O ácido tranexâmico é dez vezes mais potente do que o ácido aminocaproico. O efeito adverso potencial é trombose intravascular. Sulfato de Protamina O sulfato de protamina antagoniza o efeito anticoagulante da heparina. Essa proteína é derivada do esperma ou dos testículos de peixes e é rica em arginina, o que explica seu caráter básico. A protamina de cargas positivas interage com a heparina de cargas negativas, formando um complexo estável sem atividade anticoagulante. Vitamina K A administração de vitamina K1 (fitonadiona) pode interromper o sangramento devido a varfarina, aumentando a oferta de vitamina K1 ativa e inibindo, assim, o efeito da varfarina. A vitamina K1 pode ser administrada por via oral, SC ou IV. Para o tratamento de sangramentos, a vitamina K por via SC não é tão eficaz quanto pelas vias oral ou IV. A resposta à vitamina K é lenta, requerendo cerca de 24 horas para reduzir a INR (tempo 13 Khilver Doanne Sousa Soares para sintetizar novos fatores de coagulação). Assim, se for necessária hemostasia imediata, deve ser transfundido plasma congelado fresco. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Resumo de fármacos usados contra sangramentos HC, hemograma completo; AVE, acidente vascular encefálico; TP, tempo de protrombina; RNI, relação normalizada internacional. Porto Alegre: Artmed, 2016. 14 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Ciclo da vitamina K e mecanismo de ação da varfarina. Na mistura racêmica dos enantiômeros S e R, a S-varfarina é mais ativa. Ao bloquear a vitamina K epóxido redutase codificada pelo gene VKORC1, a varfarina inibe a conversão do epóxido da vitamina K oxidase na sua forma reduzida hidroquinona da vitamina K. Isto inibe a y- glutamil carboxilase que catalisa o processo de y-carboxilação, convertendo os pró-zimogênios a zimogênios capazes de se ligar ao Ca2+ e interagir com superfícies de fosfolipídeos aniônicos. A S-varfarina é metabolizada pela CYP2C9. Os polimorfismos genéticos, comuns nesta enzima, podem influenciar o metabolismo da varfarina. Os polimorfismos na subunidade C1 da vitamina K redutase (VKORC1) também podem afetar a suscetibilidade da enzima à inibição induzida pela varfarina, influenciando as exigências de dose da varfarina. São Paulo: AMGH, 2012. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas a.; WHALEN, Karen. Farmacologia Ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 12.ed. São Paulo: AMGH, 2012.