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a criança e o brincar

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A CRIANÇA E O BRINCAR: UMA ANALISE ANTROPOLOGICA NO ENTORNO DO LAGO DO MACURANY.
Joycimara da Silva Fonseca[footnoteRef:0] [0: Acadêmicos do curso de Pedagogia da Disciplina Antropologia e Educação na Amazônia- UEA/CESP. Brasil.] 
Gracy Kelly Monteiro Dutra Teixeira[footnoteRef:1] [1: Professora da Disciplina Antropologia e Educação na Amazônia- UEA/CESP. Brasil.
] 
Resumo: O presente artigo tem por objetivo demonstrar a importância das brincadeiras praticadas no entorno do lado do Macurany pelo ser criança que habitam o Bairro União, Parintins. Pesquisa realizada com crianças entre 04 e 13 anos. Utilizamos como abordagem metodológica observação direta, entrevista com crianças, pais e moradores do bairro. A partir das observações e materiais coletados, pudemos concluir que as brincadeiras ali desenvolvidas perpassam o simples ato de brincar, pois as crianças se apropriam de suas brincadeiras para interagirem entre sim, conhecerem ambientes novos e fazerem novas explorações, assim conhecendo mais o ambiente em que vivem e sua real situação, seja ela cultural, econômica e social. 
Palavras chaves: Crianças, Brincadeiras, Vulnerabilidade Social.
INTRODUÇÃO
 Nos últimos anos, Parintins expandiu a sua área geográfica significativamente, na maioria das vezes, expansão está, oriunda de apropriações de terras indevidas. Com o Bairro União não foi diferente, constituído basicamente de pessoas advindas de outras cidades e do campo com um único objetivo, solidificar-se em terra própria para a construção de moradia. O crescimento desordenado não só da cidade mas também do bairro; precisamente, traz consigo inúmeros problemas, como a falta de infraestrutura, saneamento, escolas, postos de saúde e áreas de esporte e lazer.
Este trabalho é fruto de uma pesquisa de campo realizado no entorno do Lago do Macurany, mais precisamente na orla do Bairro União entre os dias 22 de maio a 05 de Junho de 2018, com o objetivo de demonstrar as práticas de brincadeiras desenvolvidas pelas crianças do bairro. 
A escolha desta temática partiu das discursões na disciplina Antropologia e Educação na Amazônia e da vivência de um dos autores desta pesquisa, onde discutimos as relações sociais das crianças, a situação vulnerável na qual as mesmas se encontram por não disponibilizarem de uma área de lazer apropriado para o desenvolvimento de suas brincadeiras e jogos recorrendo assim ao Lago do Macurany como opção de lazer. O método utilizado foi a observação direta e entrevistas com crianças entre 04 e 13 anos. Como apoio bibliográfico utilizamos alguns teóricos como: Borba (2007), Kramer (2002), Winnicott (1975), Leitão e Duarte (2015). As técnicas de coleta de dados deram-se através de relatórios sobre o objeto da pesquisa, além das entrevistas com crianças e moradores.
 
A CRIANÇA E O BRINCAR
Brincar é uma das maneiras mais naturais e divertidas de formar conhecimento, é por meio das brincadeiras que a criança emerge no processo de aprendizagem, facilitando a sua construção da autonomia, reflexão e criatividade.
A brincadeira não é algo já dado na vida do ser humano, ou seja, aprende-se a brincar desde cedo, nas relações que os sujeitos estabelecem uns com os outros e com a cultura. Brincar é uma atividade que ao mesmo tempo identifica e diversifica uma criança das outras em diferentes tempos e espaços. É também uma forma de ação que contribui para uma vida social e cultural. 
Para as crianças as brincadeiras são oportunidades de interação com outros sujeitos, adultos ou crianças e com objetos da natureza a sua volta. Brincando elas se apropriam criativamente de formas tipicamente humanas e de práticas sociais especificas dos grupos aos quais pertencem aprendendo sobre si mesmas e sobre o mundo em que vivem. A brincadeira por sua vez cria laços de solidariedade e comunhão entre os sujeitos que dela participam e também assume importância fundamental como forma de participação social. Segundo Borba (2007, p.12):
Se entendermos que a infância é um período em que o ser humano está se constituindo culturalmente, a brincadeira assume importância fundamental como forma de participação social e como atividade que possibilita a apropriação a ressignificação e a reelaboração da cultura pelas crianças. 
Brincar é portanto, uma importante experiência de cultura e um complexo processo interativo e reflexivo que amplia os conhecimentos da criança sobre o mundo e sobre si mesma.
AS PRÁTICAS DE BRINCADEIRAS
O Bairro União, marcado pelo grande desenvolvimento do mundo contemporâneo, assim como nossa cidade de Parintins; pela falta de espaço; acaba por influenciar nas práticas das brincadeiras da criança. Porém, essas mudanças trazem como pano de fundo a realidade da classe social econômica dos moradores do referido bairro, que é constituído basicamente por pessoas que dependem de bolsas do governo para sobreviverem. A partir daí, geram-se novos modos de brincar no qual as próprias crianças fazem as suas adaptações com base nos recursos naturais e materiais disponíveis. Segundo Winnicott (1975, p.79) “É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança e ou adulto fluem a sua liberdade de criação”. 
Com base nas nossas observações, podemos perceber que as brincadeiras mais frequentes desenvolvidas pelas crianças são as seguintes descritas:
· Brincadeiras de pescaria de linha cumprida: Consiste em lançar uma linha de mica enrolada em um carretel no qual possui um anzol (quase sempre feito pelos mesmos) e uma isca de pão ou minhoca. Os peixes pescados são soltos ou levados para suas casas para servirem de alimentos.
· Andar de bicicleta levando o outro na garupa: Uma brincadeira que parece tão simples, mas na verdade se tem como um desafio, as crianças levam umas às outras nas bicicletas e ver quem consegue pedalar mais, quem aguentar mais tempo é o vencedor.
· Jogar bola na rua: Por não disponibilizarem de uma area adequada de esporte, as crianças se dirigem as ruas de suas casas para brincarem de jogar bola. Improvisam o espaço da rua, uma bola, delimitam a área com um carvão (marcando o asfalto) e à área do gol é marcada por duas latas velhas ou um pedaços de tijolo.
· Jogar bola na orla: Na orla há campos construídos pelas próprias crianças, onde as traves são feitas com pedaços de madeiras velhas e malhadeiras. 
· Brincadeira de manja dentro das águas do Lago do Macurany: As crianças utilizam o Lago do Macurany não só para pescar ou nadar, mas também para brincar de outras formas como a manja pega dentro do lago, uma brincadeira no entanto perigosa mais que também se torna um desafio para as crianças.
Portanto, as brincadeiras desenvolvidas pelas crianças em grupo ou isoladamente, proporcionam as reais capacidades de interação social, pelo fato de compreender e compartilhar emoções uns com os outros.
A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS E JOGOS DESENVOLVIDOS PELAS CRIANÇAS
A infância na sua parcialidade é marcada por suas brincadeiras, mais ainda quando as crianças mesmo as criam, partindo assim de sua imaginação a construção de brinquedos ou desenvolvimento de brincadeiras e jogos. Com as crianças do Bairro União não é diferente, pois as mesmas possuem poucos recursos para a compra de brinquedos ou possibilidade de idas à ambientes de lazer como parques ou praças.
A partir do que foi observado durante a pesquisa, podemos perceber que as crianças do Bairro União se divertem e brincam da maneira mais simples possível, utilizando o ambiente da orla para pescar ou nadar; brincadeiras mais praticadas por eles. No dia 28 de maio nos dirigimos ao bairro para mais um dia de observação e pudemos perceber um grupo de crianças que se encontravam as margens do Lago do Macurany para pescar, nos aproximamos e tivemos uma conversa informal com eles, logo após autorizada por seus pais para utilização da pesquisa. Kramer (2002, p42) vem destacar que, no caso de serem usadas e produzidas imagens de crianças, a autorização dada pelos adultos, em geral pelos pais é suficiente do ponto de vista ético para divulgação. 
Segundo José Gabriel, 09 anos:“Nós descemos quase todos os dias aqui para a orla para pescar. Eu mesmo faço meu caniço com um galho fino de uma árvore que tiro ali do outro lado, o anzol quando não dá pra comprar faço de arame de caderno velho e amolo na pedra; as iscas são pedaços de pão que trago de casa. Da pra pescar branquinha, sardinha e aracu.”
A partir desta fala, podemos perceber que as crianças mesmo desenvolvem seus materiais de brincadeiras, para o jogo de futebol as mesmas constroem seus campinhos a margem da orla, ondes as traves são pedaços de madeira velha e as redes são restos de malhadeiras cedidas por algum adulto. Leitão e Duarte, (2015):
As experiências do brincar, desde a invenção ou reinvenção de uma brincadeira, passando pela construção do brinquedo, podendo ficar registradas de diferentes formas. Esses momentos prazerosos são assim eternizados, guardando o sonho e a descoberta da infância vivida por todos os arteiros e artistas
 UNIÃO, UM BAIRRO BANHADO PELO LAGO MACURANY
 O Bairro União localizado na zona sul de Parintins, se produziu a partir de um dos maiores conflitos sociais que as cidades brasileiras enfrentam: a luta por moradia. De outro modo, o bairro é oriundo de ocupações que tiveram início no ano de 2008 se concretizando em 2009, em uma área pertencente ao empresário de nome Paulo Corrêa. Depois de requerer na justiça a posse da área ocupada, o Sr. Paulo Corrêa foi ressarcido pelo poder público. 
Segundo relato de pesquisa realizado no dia 28 de maio de 2018, em uma localidade de nossa cidade de Parintins/ AM, conhecida a 25 anos atrás como “ Ropoca”, atualmente conhecida como orla do Bairro União; nome dado na primeira gestão do Prefeito Bi Garcia, ambiente de difícil acesso pois as ruas que nos levam a ele estão cheias de buracos que ficam com poças de lamas, local que durante as enchentes dos rios torna-se opções de diversão para crianças, adolescentes e jovens ou até mesmo para famílias da localidade do Bairro União ou adjacentes. Rodrigo, 12 anos nos diz que:
“Gosto de estar aqui aos finais de semana, pois meus pais durante a semana exigem que eu estude e ajude em casa, gosto de vim pra cá pois gosto de brincar de bola e pular na agua, pois é divertido para mim, meus amigos e irmãos.”
A subida das águas interferem na vivência dos moradores do bairro, seja de maneira positiva ou negativa. Tendo em vista que próximo a orla há uma área de ocupação, onde famílias e comércios junto a flutuantes que ali estão atracados dividem o mesmo espaço. 
No bairro a luta dos moradores por sobrevivência se manifestam principalmente pelas diferentes formas de trabalho para ganhar alguns trocados como o comercio feito em casa. Vania, 45 anos diz que: 
“Sou moradora aqui do local, frente a orla; e vejo que tudo fica muito movimentado devido as embarcações que chegam do interior; mais no final de semana, onde vendo meus flals e salgados que eu mesmo faço. Isso aqui fica parecendo um balneário, cheia de gente descendo pra tomar banho ou passear de barco e canoa.”
As estratégias de sobrevivência desses moradores em realizar essas pequenas atividades de comércio são de visão positiva, pois geram uma economia própria e que de certa forma contribuem para a economia e desenvolvimento do bairro.
COMO A ENCHENTE CONTRIBUI E INTERFERE NO LAZER DAS CRIANÇAS NO ENTORNO DO LAGO DO MACURANY
As crianças que habitam próximo as margens do Lago do Macurany tendem a se adaptar as subidas das águas que vão do mês de novembro a julho todos os anos. Isso interfere principalmente nas práticas de suas brincadeiras e traz outras percepções. Izandro, 13 anos nos disse que: 
“Tem um lado positivo e um negativo quando fica cheio aqui próximo, o bom é que podemos descer pra ‘beirada’ e tomar banho ou pescar. Ruim é que as vezes encontramos cobras, tatus ou outros animais quando vamos ali pra baixo pra brincar”
Percebe-se no depoimento acima a preocupação com a enchente dos rios, e que de certa forma as crianças sentem-se ameaçadas, exigindo assim cuidados com os animais peçonhentos; ou o contato com outras espécies de animais ou peixes, como no caso do “piramboia” (lepdosirem paradoxa), conhecido pelas crianças como “pirarucu-boia”; trata-se de um peixe pulmonado ósseo encontrado na Bacia amazônica, em regiões pantanosas que secam no período de baixa dos rios; o que é o caso do lago do Macurany. A atenção de alguns pais neste período dobra. Com a ocorrência deste fenômeno da natureza, as crianças põem em práticas as suas diversas brincadeiras. 
Outro fator muito perceptível é a questão da poluição do lago que se intensifica ainda mais na época da enchente causada pelo despejo de impurezas das embarcações que ali se concentram pondo em risco o bem estar e a saúde das crianças. 
Como a enchente acontece em um período no qual a cidade de Parintins está bastante movimentada por conta de uma das maiores manifestações culturais a céu aberto do mundo; denominada Festival Folclórico de Parintins, evento que ocorre anualmente no último final de semana do mês de junho, com a apresentação e disputa dos Bumbas Garantido e Caprichoso com suas diversas manifestações culturais; pessoas de diversas localidades do brasil e de outros países vem prestigiar esta festa.
Entre estas pessoas, há também aquelas que vem com más intenções ao aproveitarem-se da ingenuidade de crianças e adolescentes, sujeitas a serem vítimas de exploração, sequestro ou outro tipo de violência. Os pais e responsáveis das crianças e adolescentes que transitam na localidade da orla relatam que ficam receosos neste período, pois o número de desconhecidos, lanchas e outros tipos de embarcações neste período aumentam. 
CONCLUSÃO 
Através desta pesquisa conhecemos mais a fundo as brincadeiras típicas da cultura das crianças que residem em torno de lagos. Mesmo não havendo uma infraestrutura adequada, pois não há parques e nem praças para que as crianças brinquem de forma segura, e mesmo em meios a barcos e flutuantes as crianças conseguem se divertir, sendo que essa é a única opção que elas possuem. A questão econômica, relaciona-se com as condições financeiras das crianças, pois muitas delas são de classe baixa, e os riscos que o ambiente oferece estão ligados a poluição, animais perigosos e a pessoas desconhecidas, que tornam empecilhos para que essas crianças tenham seus momentos de lazer e diversão tranquilos.
A infância é regada de experiências que farão com que a criança construa conhecimento. Essas experiências merecem um lugar adequado para serem vividas. Há uma ausência de locais para as crianças se divertirem e viverem parte de sua infância, sendo assim existe a necessidade de um olhar mais atento para com essas crianças do entorno do lago do Macurany.
A vulnerabilidade social no qual as crianças do bairro da união se encontram decorrente a ausência de uma área destinada a esporte e lazer é perceptível todos os dias, a sociedade e o poder público ainda fazem vista grossa com relação a isso, infringindo assim, o estatuto da criança e adolescente que estabelece que:
Art. 4°. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentes a vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao esporte, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência a familiar e comunitária.
REFERÊNCIAS 
BORBA, Ângela M. A brincadeira como experiência de cultura na educação infantil. In: BRASIL/MEC – Revista Criança do professor de educação infantil – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. 
DUARTE, LEITÃO. Mércia Maria, Neide. Construindo o Brincar. MultiRio, 2015.
KRAMER, S., Leite. Infância: fios e desafios da pesquisa. Campinas: Papirus, 2002. 
WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade. Trad. De José Octavio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro, Imago,1975.

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