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Resumo Psicanalise

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AULA 1: Desdobramentos e expansões da Psicanálise. 
Diferentes matrizes clínicas e suas consequências para a teorização 
psicanalítica. 
Panorama geral da vida e obra de Melanie Klein. Contexto cultural, histórico e 
político. 
Bibliografia: 
CINTRA, E. M. U.; FIGUEIREDO, L.C. Melanie Klein, estilo e pensamento. 
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. Capítulo 1: Melanie: algumas 
informações introdutórias (29-35). 
Capítulo 1: 
“Melanie Reizes, poderia ter sido, como milhões de outras mulheres de sua 
época e situação social, uma pobre mulher judia condenada pela posição de 
filha, esposa e mãe a uma vida repleta de submissão, humilhação, e, fracasso”. 
De fato, o decurso de sua história se mostrou assim até seus trinta anos, quando 
o conhecimento da psicanálise a “salvo-a da depressão, da inveja, raiva e 
mediocridade, inclusive de seu casamento”. 
Melanie Klein de origem hebraica nasceu em Viena, era caçula de quatro irmãos 
de uma família humilde, embora dotada de um certo nível cultural seu pai Moriz 
era médico e dentista e sua mãe Libussa, dona de casa e proprietária de um 
pequeno comércio. 
Melanie teve infância e juventude de perdas, perdeu irmã sua irmã de 7 anos, 
quando tinha 4, o pai aos 18 e seu irmão predileto quando chegava aos 20 anos. 
Noiva desde os 17 casou-se com um amigo de seu irmão Athur Klein 
(Engenheiro Químico). Após casamento Klein (nome de seu marido), passou a 
residir em diversas cidades do Império Austro-Húngaro até chegar em 
Budapeste, em 1910. 
Neste período Melanie sofria de profundos episódios depressivos de 
desesperança trazendo prejuízos na capacidade cuidar de seus filhos, 
principalmente os mais velhos, ficando por vezes, longas temporadas ausente, 
em repouso, deixando para sua mãe os cuidados com as crianças. 
Em 1914, morreu mãe de Klein ao mesmo tempo em que seu marido se afasta 
da família, devido a Primeira Guerra. Neste mesmo ano Melanie entra em 
contato com a obra sobre os sonhos e ao que parece iniciou análise com 
Ferenczi, nessa ocasião, seu filho Erich apresentava sinais de inibição 
intelectual, bloqueios na curiosidade, Klein deu início a intervenções guiadas 
pela teoria psicanalítica e analista. 
Em 1918, participou do 5º congresso internacional de Psicanálise em Budapeste, 
ouviu Freud sobre os avanços da terapia psicanalítica. No ano seguinte Klein 
escreve seu primeiro artigo, sendo ingressa como membro da sociedade de 
Budapeste. 
Em 1921 mudou-se para Berlim sem a companhia do marido (partiu a trabalho 
para Suécia) e filhos mais velhos (Melitta e Hans). Seu casamento passará por 
tentativas de reconciliação, mas em 1924, o casamento rompe definitivamente, 
advindo divórcio, em 1927. 
Em 1922 teve sua primeira mudança realizada por iniciativa própria e interesse, 
mudou-se para Alemanha, de início acompanhada apenas pelo filho Erich. 
Em 1924, começou análise com Karl Abraham e leu seu primeiro trabalho em 
um congresso internacional, além de apresentar outro texto sobre psicanálise de 
crianças, “trabalho para o qual os Freud’s já torcem o nariz...” 
Em 1925, foi convidada para realizar palestra em Londres, e, em 1926 mudou-
se definitivamente para Londres, mudança que correspondia aos convites dos 
analistas ingleses, impressionados com originalidade da jovem Melanie Klein. 
Após morte de Abraham seu analista e protetor, Klein ficava mais exposta a 
críticas de membros mais conservadores da Sociedade Local e de Viena. Era 
acusada de violentar a inocência das crianças e perturbar a relação elas com 
seus pais. 
A partir daí, sua ascensão na sociedade de Psicanálise Inglesa foi fulminante, 
no entanto no âmbito familiar Klein colhia muitos dissabores. 
Em 1930, morre seu filho Hans de acidente em uma escalada, esse filho “pré-
Psicanalítico”, pelo tudo que parece fora analisado por Klein, na adolescência, 
tendia à depressão e lhe suspeitava de tendência homoafetiva. Sua morte 
acidental podia ser interpretada como suicídio, Klein ficou paralisada diante a 
notícia e sequer quis comparecer ao enterro. 
De outro lado Klein, após reencontro feliz com Melitta (formou-se em medicina, 
sonho da mãe), casada com outro psicanalista (Walter Schmideberg) 
supervisionando de Freud, as relações da filha com a “mãe começaram a 
azedar”. Melitta tornou-se nos anos posteriores a mais agressiva das opositoras 
de Klein, “exibindo um comportamento que chamava atenção pelo destempero 
e pela falta de pudor. Melanie Klein nunca revidou publicamente esses ataques 
escandalosos. Mais tarde Melitta mudou-se para os EUA e nunca mais se 
reconciliou com sua mãe. 
Klein acabou por se tornar grande opositora de Anna Freud ao traduzir em 
palavras o universo simbólico que emerge durante a análise de crianças e por 
haver considerado que as crianças estão aptas a estabelecer relações 
transferenciais. 
Melanie Klein, se meteu em diversas confusões, sendo quase excluída da 
sociedade. No entanto, recuperou-se, consolidou grupo de adeptos, vindo a 
gozar, no final da década de 40 e durante os anos 50, de uma posição estável, 
solida e prestigiável no seio da Sociedade Britânica. Ao longo dos anos Klein 
teve uma vida confortável, até mesmo luxuosa. 
Em conversa com Betty Joseph (1935) Melaine Klein protestou ao ser chamada 
de "kleiniana" por se considerar "freudiana", Betty Joseph lhe respondeu: "Tarde 
demais, você é uma kleiniana, queira ou não queira" (GROSSKURTH, 1992). 
Por fim, Melanie Klein teve origem humilde e, sem acesso ao mundo acadêmico, 
se inseriu na psicanálise movida mais pelas próprias necessidades pessoais de 
saúde mental, do que por uma inclinação acadêmico-científica. Ela morre em 
1960, aos 78 anos fortemente consolidada na sociedade Britânica e das 
sociedades da América do sul e por último nos EUA E França. 
Melanie morreu em Londres, no dia 22 de setembro de 1960, mesmo ano em 
que escreveu “Sobre saúde mental”: 
“Muitas pessoas aparentemente equilibradas, não tem força de caráter. Facilitam 
a vida a si próprias evitando conflitos internos e externos. Como consequência, 
visam aquilo que é garantido ou conveniente, e não podem desenvolver 
convicções profundamente arraigadas. Um caráter forte, no entanto, se não for 
mitigado pela consideração pelos outros, não é característico de uma 
personalidade equilibrada. A compreensão para com outras pessoas, a 
compaixão, a simpatia e a tolerância enriquecem nossa experiencia do mundo e 
fazem-nos sentir mais confiantes em nós mesmos e menos sós.” (Inveja e 
Gratidão - página 307) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 2: A Técnica Psicanalítica através do brincar: sua história e 
significado. 
 
Bibliografia: 
“A técnica Psicanalítica através do brincar: Sua História e Significado “KLEIN, M. 
Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. 
 
A técnica do brincar. 
A teoria elaborada por Melanie Klein resultou uma clínica muito diferente de tudo 
o que havia disponível para o trabalho analítico infantil. Ela traduziu como 
ninguém os processos e mecanismos psíquicos mais arcaicos e profundos que 
integram a formação do psiquismo. 
Quando Klein atendeu seu primeiro caso, já havia um trabalho psicanalítico, 
particularmente o da Dra. Hermine Hug Hellmuth. No entanto, ela não 
empreendeu a psicanálise com crianças menores de 6 anos, embora usasse 
desenhos e ocasionalmente o brincar como produtor de material, ela não 
desenvolveu uma técnica específica. A dra. Hellmuth foi centro de algumas 
crises no universo psicanalítico, em 1920 ela forjou um diário de uma jovem para 
que fosse compatível com sua teoria do desenvolvimento sexual e no ano de 
1924 foi assassinada pelo próprio filho adotivo, que ela havia criado de acordo 
com os princípios psicanalíticos. 
Na época, os psicanalistas achavam potencialmente perigoso explorar as 
profundezas do inconsciente da criança. A psicanálise era indicada apenas para 
crianças delatência em diante. 
Pode-se dizer que Klein foi pioneira e original na criação de uma psicanálise para 
criança que incluía o entendimento simbólico contido nos brinquedos e jogos. 
Quando Klein iniciou seu primeiro trabalho, ela estabeleceu, a princípio, que as 
interpretações deveriam ser dadas de modo parcimonioso. 
O primeiro paciente de Klein, tinha 5 anos de idade, “Fritz”, no início achava 
suficiente orientações direcionadas a genitora, sugeriu que deveria encorajar a 
criança discutir livremente com ela muitas questões não verbalizadas que 
estariam no fundo da mente e que impedia o seu desenvolvimento intelectual. 
Klein percebe um bom efeito, mas, as dificuldades neuróticas não foram 
aliviadas. Ao fazer o atendimento, Klein devia de algumas regras estabelecidas 
até então, pois interpretava o que pensava ser mais urgente do material 
apresentado pela criança, e, percebeu que seu interesse central se dava nas 
ansiedades e defesas usadas contra elas. 
Essas ansiedades encontradas por Klein eram agudas, embora se sentisse no 
caminho certo ao observar alívio das ansiedades, ficava perturbada com 
surgimento de novas ansiedades que iam sendo trazidas à tona. Preocupada 
buscou conselhos com o Dr. Abraham que a encorajou a seguir com o mesmo 
método de abordagem. 
“Esta análise representou o início da técnica psicanalítica através do brincar, 
porque desde o início a criança expressou suas fantasias e ansiedades 
principalmente através do brincar, e eu interpretava consistentemente seu 
significado a ela, com o resultado de que o material adicional aparecia em seu 
brincar”. 
Ao interpretar não apenas as palavras, mas também as atividades da criança 
com o brinquedo, Klein aplicou um princípio básico à mente da criança, cujo 
brincar e atividades variadas, na verdade, todos os seus comportamentos são 
modos de se expressar, o que nós adultos expressamos predominantemente por 
meio de palavras. 
Contudo, Klein se apoia em dois princípios fundamentais da psicanálise a 
exploração do inconsciente e análise da transferência. 
A partir de 1920 a 1923, teve diversas experiências com atendimentos de 
crianças. Em particular o caso que contribui significativamente com a técnica foi 
o tratamento de uma criança de 2 anos e 9 meses analisada em 1923. 
“Rita” sofria terrores noturnos e fobias de animais, era muito ambivalente para 
com a mãe, porém era apega a ponto de não ficar sozinha. Apresentava neurose 
obsessiva acentuada e as vezes ficava muito deprimida, seu brincar era inibido, 
demonstrava inabilidade de tolerar frustração que tornava sua educação algo 
difícil. 
Inicialmente Klein ficou hesitante em aceitar o atendimento devido idade da 
criança. Na primeira sessão Rita ao ser deixada no quarto sozinha com Klein 
demonstrou sinais de transferência negativa. Rita estava silenciosa, ansiosa e 
solicitou ir para parte externa, ao jardim. Os observados tia e genitora 
demonstravam olhares, sinais de um trabalho fadado ao fracasso e ficaram 
surpresas ao verem Rita sendo amistosa com Klein 10 minutos mais tarde. 
Klein narra que a explicação para tal mudança se deu enquanto estavam fora, 
ela interpretou a transferência negativa, sendo isso, novamente contra a prática 
usual. 
A partir de poucas coisas que a criança falou e o fato de ter ficado menos 
amedrontada, Klein conclui que a criança estava particularmente receosa com o 
que poderia acontecer a ela a sós no quarto. Ela interpretou isso, referindo ao 
medo noturno, ao medo de uma mulher má hostil a atacasse quando estive 
sozinha. Depois dessa interpretação Klein sugeriu que retornassem ao quarto, 
pedido prontamente atendido pela criança. 
A inibição de Rita ao brincar era acentuada, dificilmente fazia outra coisa a não 
ser vestir e desvestir uma boneca. Logo Klein passou a entender as ansiedades 
subjacentes as obsessões de Rita e as interpretou. 
A partir deste caso, Klein ficou convicta de que a precondição para psicanálise 
de criança é de compreender e interpretar as fantasias, sentimentos, 
ansiedades, experiências expressas no brincar, ou se as atividades do brincar 
estão inibidas, as causas da inibição. 
Klein considerando o caso de “Fritz” chegou à conclusão de que o trabalho 
psicanalítico não deveria ser feito na casa da criança. Percebeu também que 
mesmo a mãe de Rita precisando de ajuda e optando pela psicanálise como 
solução apresentava postura muito ambivalente para com Klein. Situações 
transferenciais que no consultório podem ser estabelecidas e mantida como algo 
separado da vida familiar cotidiana. 
Outra observação de um atendimento realizado no mesmo ano foi de uma 
menina de 7 anos que apresentava dificuldades neuróticas aparentemente não 
grave, mas os pais estavam preocupados com o desenvolvimento intelectual da 
criança. Embora bastante inteligente não acompanhava os demais de sua faixa 
etária, sua relação com a genitora era amistosa e de confiança, e, com o início 
da vida escolar passou a ser reservada e silenciosa. 
Klein passou algumas sessões sem muito contato, pelas falas e comportamentos 
da criança ficava claro que não gostava de ira a escola. Em uma sessão a criança 
estava aparentemente indiferente e retraída, não gostava de desenhar, com isso, 
Klein foi ao quarto de seus próprios filhos e pegou alguns brinquedos e dispôs 
para criança. 
A criança estava desinibida ao brincar, logo destacou duas figuras de brinquedo 
que representava a si mesmo e outro um menino pequeno, parecia haver algo 
secreto entre eles, pois sentia ressentimento com os outros bonecos que 
interferiam e espiavam eles. As atividades com os brinquedos levavam a 
catástrofes, tais como quedas, colisões de carros, eram repetidos e 
demonstravam sinais de ansiedade crescente. Neste ponto Klein interpreta que 
algo poderia ter acontecido ela e seu amigo e que estava com medo de ser 
descoberta e por isso desconfiava das outras pessoas. Assinalou também que 
quando brincava ficava ansiosa a ponto de parar a brincadeira. Lembrou que 
parecia que ela tinha medo da diretora descobrir sua relação com seu colega e 
a punisse. “Sobretudo estava com medo da mãe e, portanto, desconfiava dela e 
agora poderia estar desconfiada de mim”. 
O efeito dessa interpretação foi surpreendente, a ansiedade e desconfiança 
inicialmente aumentaram, mas logo deram lugar a um evidente alívio. Embora 
não admitisse e tampouco negasse as interpretações, demonstrou concordância 
apresentando novos materiais, tornando sua fala e brincar mais livres. Passou a 
melhorar sua relação com a família, a se interessar pelas lições, mas as inibições 
na aprendizagem estavam enraizadas em ansiedades profundas, resolvido 
gradativamente no decurso do tratamento. 
Klein sugeriu que os brinquedos fossem guardados em uma caixa, e, a partir das 
suas experiências decidiu os mais adequados para a técnica psicanalítica como 
brinquedos pequenos e de variedades que permita que a criança expresse suas 
fantasias e experiencia, que não fossem mecânicos e que as figuras humanas 
não tenham em particular, ocupação preestabelecida. 
No entanto os brinquedos não são os únicos requisitos para análise do brincar. 
Por exemplo: as atividades realizadas ao redor da pia que é equipada com 2 
tigelas, copos e colheres. Frequentemente a criança pinta, recorta, conserta 
brinquedos. Em tais jogos a criança comumente atribui funções a si mesma e 
analista, assumem papeis dos adultos, demonstrando desejo de reverter os 
papeis, seu desejo de como os adultos deveriam se comportar em relação a ela. 
A agressividade é expressa em várias formas indiretas e diretas, o brinquedo 
quebra e quando a criança é mais agressiva investidas com tesoura, faca são 
dadas a mesa, as tintas espalhadas por todos os lados, um cenário praticamente 
de guerra. 
“Em geral sou capaz de transmitir à criança que eu não toleraria ataques físicos 
contra mim”. 
Essa atitude protege tanto o analistacomo a análise, evitando culpas e 
ansiedades persecutórias excessivas e desnecessárias. 
É essencial trazer a luz a agressividade da criança, mas o que conta mais é 
compreender nesse momento em particular da situação transferencial, como que 
aparecem os impulsos agressivos e suas consequências na mente da criança. 
Por exemplo: sentimento de culpa por ter quebrado um boneco que representava 
inconscientemente um irmão ou um pai, a interpretação tem que lidar com níveis 
mais profundos. 
Por exemplo, muitas vezes a criança deixa de lado o boneco danificado 
(representação de figura afetiva significativa, um irmão) demonstrando certa 
persecutoriedade de que a pessoa atacada tenha se tornado um retaliador, a 
culpa e depressão em excesso podem reforçar também o sentimento 
persecutório. E, o sentimento de perseguição pode ser tão forte que encobre os 
de culpa e depressão, que por sua vez, quando despertados pela percepção do 
dano produzido resultam em melhora. 
Quando isso acontece, percebemos melhora na relação com irmão, os 
sentimentos de culpa, depressão, o desejo de fazer reparações e o sentimento 
de amor que estava prejudicado pela ansiedade voltam a primeiro plano. 
“Nunca é demais, enfatizarmos a importância de tais mudanças para a formação 
de caráter e para as relações de objeto, assim como para estabilidade mental”. 
Ao contrário de Freud, Klein identificava no brincar em situação transferencial a 
possibilidade de interpretar com base na brincadeira produzida pela criança. 
Para ela as brincadeiras equivaliam às fantasias e davam acesso à sexualidade 
infantil e à agressividade. Com base nessa constatação, concebeu a relação 
transferencial e contratransferência entre criança e analista. A associação livre 
do adulto é um equivalente do brincar infantil para Klein, pois traduz ao analista 
o simbolismo de seu mundo interno. A teoria kleiniana permite a compreensão 
de processos transferenciais em idades muito tenras. Klein sugere interpretar a 
angústia no preciso momento em que ela aparece no atendimento. Klein 
desenvolveu a técnica do brincar e da utilização de jogos como meio de 
comunicação com as crianças. 
Nessa obra aparecem também as primeiras noções teóricas de maior alcance, 
como, por exemplo, a discriminação entre angústia persecutória e culpa, e a 
importância da transformação do superego arcaico em um superego 
desenvolvido, com sua forma acabada de consciência moral, capaz e tendo por 
pressuposto a capacidade de levar o outro em consideração. 
_______________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 3: O Complexo de Édipo na obra de Melanie Klein. 
 
Bibliografia: 
 
KLEIN (1928) Estágios iniciais do conflito edipiano. In: KLEIN, M. Obras 
Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Amor, culpa e 
reparação e outros trabalhos, Vol. I). 
 
KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. 
*Influências mútuas do desenvolvimento de ego e id (1952). 
*Sobre a observação do comportamento de bebês (1952). 
 
O Édipo em Klein 
Em 1921 Klein faz sua primeira menção ao Édipo no artigo "O desenvolvimento 
de uma criança" (1921/1996). Neste texto ela apresenta o caso de “Fritz”, de 
quatro anos e três terços, que apresentava atraso no desenvolvimento e inibição 
intelectual, por outro lado apresentava uma memória impressionante, na ocasião 
fazia muitas indagações sobre a origem dos bebês, depois “do reconhecimento 
do processo verdadeiro, o complexo de Édipo começou a ocupar o primeiro 
plano" (idem, p.57). A solução das dúvidas permitiu intervenções no sentido de: 
"a mamãe não pode ser sua mulher porque ela já é mulher do papai, e aí o papai 
ia ficar sem mulher" (idem, p.56). 
Quando klein passou a se dedicar a pensar sobre “os princípios da análise 
infantil”, ela participou de um simpósio sobre o assunto no qual esteve presente 
Ana Freud, o que permitiu uma série de polêmicas interessantes e a crescente 
consolidação de sua técnica psicanalítica do brincar, sempre enfatizava a 
importância de analisar a angústia e a culpa. Defendia também a tese que a 
situação analítica infantil deve ser equivalente à de análise com adultos, tanto 
em termos de interpretação de conflitos, quanto ao fato delas estabelecerem 
uma neurose de transferência com seus analistas. 
Na obra “Amor culpa e reparação” no texto sobre "Análise de crianças pequenas" 
(1923/1996) e "Princípios psicológicos da análise de crianças pequenas" 
(1926/1996), Melanie Klein se difere do conceito clássico do Édipo, preconizando 
a ideia que o complexo surge muito antes do que Freud acreditava, considerava 
suas manifestações por volta dos 2 ou 3 anos de idade (KLEIN, 1923/1996), 
depois passa a considerar a partir do segundo ano de vida (KLEIN, 1926/1996). 
Em seguida a partir do início do desmame e que se manifestam no final do 
primeiro e início do segundo ano de vida” (KLEIN, 1928/1996, p. 216). 
Desse modo, Klein afirma a existência do superego antes mesmo do conflito 
edípico, o que contrariava o que havia sido postulado por Freud, para quem o 
superego era compreendido como herdeiro do superego. Esse superego 
primitivo proposto por Klein é composto pelas identificações surgidas nas fases 
oral e sádico-anal que representavam um grande fardo para as crianças, e uma 
das tarefas da análise de crianças era diminuir seu poder de constrangimento 
suavizando-o. 
O conceito de superego precoce é um pressuposto imprescindível para o 
trabalho da análise de crianças, sendo também uma das descobertas iniciais 
mais importantes de Melanie Klein. Esse superego primitivo, de acordo com a 
autora, foi uma descoberta inesperada, ele é composto de várias identificações, 
é mais cruel do que sua forma posterior e é um fardo para o ego frágil da criança. 
Esse superego arcaico é muito mais cruel do que o dos adultos, devido à fantasia 
de “punições como ser castrado, cortado em pedaços, devorado etc.” (KLEIN, 
1927a/1996, p.182), derivada da destruição do objeto por suas pulsões sádico-
orais e sádico-anais. 
No texto “Estágios iniciais do conflito edipiano” (1928), a autora reitera que as 
tendências edipianas são liberadas como consequência da frustração da criança 
com o desmame, que se manifesta no final do primeiro ano de vida da criança, 
reforçada também pelas frustrações anais sofridas durante o treinamento de 
hábitos de higiene. Desse modo, o complexo tem início nas "fases pré-genitais 
do desenvolvimento" (KLEIN, 1928/1996, p.217), quando o objeto ainda é 
parcial. Assim, o medo da castração, sentimento de culpa estão intimamente 
relacionados com a formação do superego. 
Nesse sentido o pensamento da autora considera que o processo inicial das 
tendências edípicas, provocam importante ansiedade em decorrência das 
fantasias de ataques contra o corpo da mãe que faz surgir uma imago de uma 
mãe hostil que desmembra e castra” (KLEIN, 1928/1996, p.220). 
“O conflito entre o ego e o superego ... mostra que o superego possui uma 
severidade fantástica. Devido à fórmula bem conhecida que prevalece no Ics, 
essa criança antevê, por causa de seus próprios impulsos canibais e sádicos, 
punições como ser castrado, cortado em pedaços, devorado etc., vivendo num 
medo constante de que estas sejam levadas a cabo”. 
(Este trecho é endossado por Freud no Mal-estar da Civilização em nota de 
rodapé: “punições ameaçadas pelo superego da criança chega a ser grotesco, e 
é um lembrete de que não devemos de modo algum identificar os objetos reais 
com aqueles introjetados pela criança”. (Klein, 1927a, p.182)) 
A concepção kleiniana sobre a vivência edípica, implica na reformulação da 
teoria da sexualidade, é baseada no conceito de posições posteriormente 
denominada de esquizoparanóide e depressiva. Na ocasião a autora afirma que 
na posição oral, o bebê estabelecia dentro de si a imago devoradora, decorrentedo próprio desejo de incorporação, voltado contra si mesmo. Essa primeira 
dimensão do superego acenava com a ameaça de “devorar e ser devorado”, ao 
passo que as outras camadas acenavam para o risco de ser paralisado, 
controlado, queimado, invadido ou penetrado, revelando os demais traços 
sádico-anais, uretrais e fálicos. O que impulsiona a passagem de uma “posição” 
para outra é a frustração vivida nas posições anteriores, e a busca de novos 
objetos decorre do ódio sentido dos primeiros objetos. 
Desse modo, as posições se diferem das fases evolutivas propostas por Freud. 
As posições correspondem a modos de funcionamento das relações com os 
objetos e os mecanismos de defesa a eles associados. No estágio inicial, o bebê 
se relaciona com objetos parciais (seio, leite). Entre os seis e nove meses a 
criança tornou-se capaz de reconhecer a mãe, a mera aparição de uma pessoa 
estranha no lugar é suficiente para desencadear uma “angústia frente ao perigo 
de perda do objeto”, essa angústia é considerada a primeira triangulação do 
Édipo precoce de Klein. 
Melanie Klein introduz no conceito de Édipo precoce a partir das frustrações 
sofridas pela criança quanto a satisfação de suas tendências orais e anais levam-
na a buscar novas fontes de prazer, ativando então a zona genital, com as 
fantasias de penetrar e ser penetrada. Ela afirma que o menino “passa a ter o 
objetivo de penetração associado a posse do pênis” e no caso da menina “o 
objetivo receptivo passa da posição oral para a genital”. 
No caso do menino, a ansiedade de castração abre espaço para o "complexo de 
feminilidade" (idem, p.219) oriundo do desejo de possuir um órgão especial, 
criador de vida, assim como o da mãe. Tal desejo frustrado que mais tarde pode 
ser transformado em agressividade e desprezo frente à figura feminina, por meio 
de uma espécie de fantasia de "superioridade" (idem, p.220), após a descoberta 
de seu pênis. 
Na menina, a ansiedade está centrada no medo de ter seu interior atacado pela 
mãe hostil, em seguida o medo de perdê-la. No menino o medo em perder o 
pênis e da menina em perder sua feminilidade colabora para refrear os impulsos 
edipianos" (idem, p.224). 
Para a autora o ódio e destrutividade preponderavam nas etapas pré-genitais, 
de outro, o amor e consideração estavam em alta na posição genital. As etapas 
pré-genitais configuram uma relação parcial, significa incorporação, posse, 
rivalidade e consumo, ao passo que a percepção do objeto total levaria um 
desejo de cuidar dele e à preponderância do amor sobre o ódio. 
No estabelecimento de relação de objeto parcial o amor e o ódio, bem como os 
aspectos bons e maus do seio, são mantidos amplamente separados um do 
outro e na posição depressiva são unificados, pois na ansiedade depressiva, o 
bebê sente que está destruindo um objeto inteiro com sua voracidade e 
agressão, sente que esses impulsos destrutivos são dirigidos contra uma pessoa 
amada" (KLEIN, 1952/1991, p.73). 
“A análise de crianças muito pequenas me revelou que até mesmo uma criança 
de três anos de idade já deixou para trás, a parte mais importante do 
desenvolvimento de seu complexo de Édipo. Como consequência, ela já está 
muito afastada, através da repressão e do sentimento de culpa, dos objetos que 
desejava originalmente”. (Klein, 1927a, pp.178-179). 
Assim Klein postulou que o propósito da análise seria a redução da força do 
superego primitivo ao contrário de Ana Freud que achava que de modo educativo 
o processo objetiva fortalecer o superego. Klein também se afasta da teoria de 
Freud considerando auge do complexo de Édipo por volta dos 3 anos. 
Influências mútuas do desenvolvimento de ego e id. 
Klein postulou a existência de um ego arcaico que estabelece relações objetais 
desde o início da vida. No começo ele é muito desprovido de coesão e é 
dominado por mecanismos de cisão. O perigo de ser destruído pela pulsão de 
morte dirigida contra o seu self contribui para cisão dos impulsos em bons e 
maus; devido aos impulsos sobre o objeto originário, este também é cindido em 
bom e mau. Como consequência, nos estágios mais iniciais, a parte boa do ego 
e do objeto bom estão, em certa medida protegidos, já que a agressão é 
desviada deles. Esses são processos específicos que a autora descreve como 
a base de uma segurança relativa do bebê muito pequeno, na medida que é 
possível alcançar segurança nesse estágio, ao passo que os outros processos 
de cisão, tais aos que levam a fragmentação, são prejudiciais ao ego e sua força. 
Junto a necessidade de cindir, existe desde o início uma tendência a integração 
que aumenta com o crescimento do ego. Esse processo de integração baseia-
se na introjeção do objeto bom primordialmente um objeto parcial – o seio da 
mãe, embora outros aspectos da mãe também entrem até na mais antiga 
relação. Se o objeto interno é bem estabelecido com relativa segurança, ele se 
torna o cerne do ego em desenvolvimento. 
Klein foi original ao postular a existência de um ego rudimentar, já no recém-
nascido, de considerar a pulsão de morte inata desde o início da vida, sob a 
forma de ataques contra o seio da mãe. Essas pulsões agindo dentro da mente 
promovem um terrível “angústia de aniquilamento”. Para se afastar de tais 
angústias, o incipiente ego do bebê lança mão de mecanismos primitivos de 
defesa contra ansiedade por meio de processos de introjeção e projeção. A 
autora afirma repetidamente que o ego estabelece relações de objeto a partir 
dos primeiros contatos com o mundo externo. 
Klein inclui neste processo, a teoria das pulsões de Freud, em que a pulsão de 
vida e de morte que o id, como reservatório das pulsões, opera ab initio. 
“Acredito que as fantasias estão em atividade desde o começo, do mesmo modo 
que as pulsões, e são a expressão mental da atividade de ambas as pulsões, de 
vida e de morte”. (Klein-1952 pág.68) 
O sistema específico de fantasias que se centram no mundo interno da criança 
é de suprema importância para o desenvolvimento do ego. Os objetos 
internalizados são sentidos pelo bebezinho como tendo vida própria, em 
harmonia ou em conflito uns com os outros e com o ego, de acordo com as 
emoções e experiências do bebê. Quando o bebê sente que contém objetos 
bons, ele vivência confiança, estima e segurança. Quando sente que contém 
objetos maus, ele vivência perseguição e suspeita”. (Klein -1952 pág. 83) 
Por outro lado, as relações com os objetos internos e externos é desde o 
começo, influenciado pelas frustrações e gratificações que fazem parte da vida 
cotidiana do bebê. 
Assim, a vida da criança pequena se constitui essencialmente da sua relação 
com seu objeto primário. Com isso, surge a figura que lhe dá o que é essencial 
na vida (alimento amor e compreensão), com o qual, a criança cria uma relação 
idealizada ela ama e se sente amada. Por outro lado, a criança passa por 
situação desagradáveis de necessidades não satisfeitas inevitáveis. O bebê não 
acha que deve enfrentar uma ausência, conceito apurada de mente imatura, mas 
sim uma presença maligna que lhe provoca sofrimento. Uma vez que sua mãe é 
figura central do mundo, o objeto maligno, embora diferente da mãe boa, também 
tem a forma dela, os sentimentos pelo objeto primário tendem a ser dirigidos ao 
mundo externo em geral, assim, se cria uma cisão fundamental: bom e mau. 
Mesmo na melhor das hipóteses, a relação com a mãe e seu seio nunca é livre 
de perturbações, já que a ansiedade persecutória fatalmente surgirá. A 
ansiedade persecutória está no seu auge durante os três primeiros meses de 
vida- o período da posição esquizoparanóide. Surge, no início da vida, como 
resultado da luta entre as pulsões de vida e de morte, e a experiência de 
nascimento contribui para isso. Sempre que os impulsos destrutivos surgem com 
muita força, a mãe e seu seio, são sentidos como persecutórios e, portanto, o 
bebê – inevitavelmente – sente algumainsegurança, essa insegurança 
paranoide tem origem na pulsão (inata) de morte. 
Quando surge a posição depressiva - comumente na metade do primeiro 
trimestre de vida – o ego está mais integrado. Isso se expressa por um 
sentimento mais forte de inteireza, que permite ao bebê ser mais capaz de se 
relacionar com a mãe, e mais tarde com outras pessoas, como uma pessoa 
completa. Assim a ansiedade paranoide dá lugar para ansiedade depressiva. 
Mas o próprio processo de integração tem efeito de mitigar o ódio através do 
amor, tornando os impulsos destrutivos menos poderosos. 
Dessa forma autora concebeu a mente como um universo de objetos internos 
que estão se relacionando entre si, por meio de fantasias inconscientes, 
constituindo a realidade psíquica. Além dos objetos totais ela concebeu os 
objetos parciais (figuras parentais representadas por um mamilo, seio, pênis etc. 
Postulou uma constante dissociação entre os objetos (seio bom X seio mau; 
idealizados x persecutórios) e entre as pulsões (destrutivas x criativas). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 4: O inconsciente Kleiniano. 
Tema de discussão: O inconsciente Kleiniano: Vida emocional e mundo interno: 
fantasia, cisão, projeção, introjeção, identificação projetiva. 
Bibliografia: 
Klein, M. (1991) in Inveja e Gratidão. Notas sobre alguns mecanismos 
esquizoides (1946). 
 
Mecanismos esquizoides. 
 
Em “Notas sobre alguns mecanismos esquizoides” Melanie Klein trata sobre a 
importância dos mecanismos e ansiedades arcaicas de natureza paranoide 
(perseguição) e esquizoide (divisão). Após desenvolver teorias sobre os 
processos depressivos na criança, da posição depressiva infantil, a autora passa 
a refletir e se preocupar com a fase precedente. Contudo, o objetivo do texto é 
de formular algumas hipóteses sobre as ansiedades e mecanismos arcaicos, 
iniciais do desenvolvimento. 
“As hipóteses sobre as ansiedades arcaicas foram extraídas por meio de 
inferências de materiais obtidos em análises de adultos e crianças e algumas 
hipóteses parecem estar de acordo com observações familiares ao trabalho 
psiquiátrico. Sustentar aos fatos exigiria um acúmulo de material clínico 
pormenorizado, para o qual não há espaço nos limites deste artigo”. (KLEIN 
1946/1991) 
A autora compreende que surgem na infância ansiedades características das 
psicoses, que forçam ao ego a desenvolver mecanismos de defesa específicos. 
É nesse período que se encontra pontos de fixação de todos os distúrbios 
psicóticos. 
Klein expressa com frequência que o ego, as relações de objetos, os impulsos 
libidinais e destrutivos surgem desde o nascimento. 
Sobre o ego arcaico, Klein considera útil dar ênfase a noção dada por Winnicott 
à não integração do ego arcaico (situação patológica de não integração descrito 
por Winnicott de uma paciente que não podia distinguir entre sua irmã e ela 
mesma). Nesse sentido, o bebê não reconhece a existência de mais ninguém a 
não ser a de si mesmo (o seio da mãe para ele simplesmente uma parte de si 
mesmo – apenas uma sensação no início), e ele espera que todos seus desejos 
sejam satisfeitos. Ao descobrir que não pode suprir suas necessidades, põe a 
chorar e a gritar, torna-se agressivo. 
Nessa tríade ego, objeto e instintos, surgem as fantasias. Para autora, as 
fantasias são representantes das pulsões (vida x morte) libidinais e destrutivas 
com as quais a criança nasce, essas fantasias correspondem e dão certa 
figurabilidade mínima aos objetos da pulsão, é originaria, a criança nasce com a 
capacidade de criar fantasia que darão expressão a seus impulsos e suas 
reações instintivas. Para elaborar essa ideia de fantasia Klein se apoiou na ideia 
Freudiana de “realização alucinatória de desejo. 
A pulsão de morte seria, então, uma ameaça de aniquilação em abstrato, logo 
passa a manifestar-se em conexão com os objetos primários, vindo então a se 
tornar uma angústia persecutória, a aniquilação deixa de ser um perigo de uma 
ameaça abstrata e se transforma em um medo de ser aniquilado pelo objeto, 
perseguidor concreto que provoca terror. 
“Desde o início os impulsos destrutivos voltam-se para o objeto e se expressa 
em fantasias sádicos orais ao seio materno, os quais logo evoluem para ataques 
contra o corpo materno com todos meios sádicos. Os medos persecutórios 
decorrentes dos impulsos sádicos do bebê, de assaltar o corpo materno e retirar 
os conteúdos bons, bem como dos impulsos sádicos orais de pôr dentro da mãe 
os próprios excrementos (inclusive colocar seu corpo dentro da mãe e controlá-
la), são de grande importância para o desenvolvimento da paranoia e da 
esquizofrenia”. (Klein -1946/1991). 
Nesse sentido, Klein sugeriu que essa relação com os objetos primários se dá 
através de introjeção e projeção entre os objetos e situações internas e externas. 
A introjeção ao lado da projeção, é um dos mecanismos de defesa mais 
fundamentais, ambos são responsáveis pela constituição do aparelho psíquico 
e dos objetos internos; São reguladores do prazer e desprazer do aparelho 
psíquico. 
A introjeção tem significante de incorporar, de trazer para dentro é internalizar. 
Essa imagem do objeto externo é mais ou menos distorcida pelas fantasias do 
bebê, na sua mente, o objeto internalizado é sempre mais ou menos distorcida 
pelas suas próprias fantasias. 
A projeção é uma operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro 
– pessoa ou coisa – qualidades, sentimentos, desejos e mesmo “objetos” que 
desconhece e recusa nele. 
“Ela é a primeira e mais fundamental dentre as nossas garantias ou medidas de 
segurança contra as sensações de sofrimento, de ser atacado, ou desamparado 
- da qual tantas outras decorrem – é esse processo que chamamos de projeção. 
Através desse processo, todas sensações ou sentimentos penosos e 
desagradáveis existentes na mente são automaticamente banidos para fora de 
nós, na expressão psicologicamente exata, culpamos alguém mais por eles.” 
Para um bebê a distinção entre os seus estados de prazer e desprazer, entre os 
sentimentos bons e mais dentro de si, refletem-se no mundo externo e influência 
sua diferenciação entre as coisas e pessoas boas e más no mundo externo. A 
projeção é a primeira reação do bebê ao sofrimento, e provavelmente permanece 
em todos nós como reação espontânea a qualquer sentimento penoso ao longo 
de toda nossa vida. O subsequente desenvolvimento mental permite cada um de 
nós, em grau variável, controlar ou refrear essa reação primitiva e subjetiva, 
substituindo-a por outros processos mais bem adaptados à verdade e à realidade 
objetiva da situação em que nos encontramos. (Joan Rivieri 1937). 
Segundo a autora, os medos persecutórios dos impulsos sádico-orais do bebê 
são de grande importância para o desenvolvimento da paranoia e da 
esquizofrenia. Por outro lado, postula que as ansiedades, mecanismos de 
defesas do ego, de tipo psicótico, possuem grande influência no 
desenvolvimento do ego e superego, como também, nas relações de objeto. 
Nesse sentido todo ego em seu estado inicial sofre estados transitórios de 
despedaçamento, entretanto, quando estes se ampliam, predominam e 
persistem, provavelmente estamos diante um caso de esquizofrenia. 
A posição paranoide precede a posição depressiva, que por sua vez, pode ser 
impedida devido ao excesso de perseguição. O fracasso de um ego frágil pode 
levar a um reforço regressivo dos medos persecutórios, e pode fortalecer a 
fixação para psicoses graves (esquizofrenias). Klein postula sobre a importância 
da introjeção do objeto bom, da necessidade de estabelecer objetos bons 
internos para segurança da criança em seu mundo interior e superação da fase 
depressiva. 
As fantasias de envenenamento e de ser devorado, como a maioria dos 
fenômenos que prevalecem nos primeiros meses de vida, são encontrados 
depois em quadrossindrômicos da esquizofrenia. (A esquizofrenia possui 
significado de fragmentação da alma, divisão do cérebro). 
No decurso do texto Klein enumerou diversas defesas típicas de um ego 
arcaico, tais como o mecanismo de cisão de objetos e de impulsos, idealização, 
negação da realidade interna (consiste em negar aspectos da realidade psíquica 
que provocam um aumento excessivo das excitações, tanto de ódio como de 
amor intensos) e externa, e abafamento das emoções. 
Sobre a cisão, em conexão com a projeção e a introjeção. De acordo com Freud, 
ela concorda que a projeção se origina da deflexão da pulsão de morte para fora, 
e ajuda o ego a superar a ansiedade livrando-o perigo e de coisas más. 
No que diz respeito a cisão do objeto, devemos lembrar que, nos estados de 
gratificação, os sentimentos amorosos se voltam para o seio gratificador, ao 
passo que nos estados de frustração o ódio e a ansiedade persecutória se ligam 
ao seio frustrador. A cisão de objetos é responsável pela criação de objetos bons 
e maus, a cisão dos impulsos é o que separa o amor e ódio. 
A idealização, fragmentação, dissociações são defesas esquizoides com 
significante de cisão (divisão), uma espécie de confusão do mundo interno e 
externo. Com seu desenvolvimento, interação (interno x externo) essa cisão dos 
bom e mau formados na mente do bebê resultam em uma introjeção de um 
objeto real. 
Neste processo a idealização (superestimação do objeto) é operante e faz com 
que o objeto se torne um perseguidor aterrorizante ou um objeto ideal, por 
exemplo, o seio bom inexaurível, disponível, sempre gratificador ou o seio mau 
que envenena. 
A idealização também é uma defesa contra a ansiedade persecutória, a 
introjeção do seio bom é fundamental para a integração do bebê, ele precisa 
conservar a crença da existência e presença do seio bom, pois somente assim 
poderá sentir-se seguro com estabilidade e segurança necessárias para suportar 
frustrações e privações. “A idealização está ligada à cisão do objeto, pois os 
aspectos bons do seio são exagerados como uma salvaguarda contra o medo 
do seio perseguidor”. 
Outra defesa primitiva é a identificação projetiva que se caracteriza por uma 
“evacuação” de conteúdos intoleráveis para o Eu atribuídos a um outro 
Eu/individuo. Assim, o sujeito projeta aspectos intoleráveis em si, são atribuídos 
a outros indivíduos, ocorre então um processo de “excisão” (partes), trata-se de 
uma visão seguida de projeção do aspecto cindido, dissociado, separado, 
expulso de si mesmo. 
Já a identificação introjetiva, identificação com outra pessoa através da 
internalização de suas características, ou parte delas. 
Controle onipotente do objeto, a palavra “onni”, no latim tem significante de 
tudo, portanto poder tudo. 
Por volta do quarto mês de vida, ocorre uma mudança significativa de relações 
de afeto do bebê, ele deixa de se relacionar com o objeto parcial e passa a se 
relacionar com o objeto total (mãe). Reconhece a mãe como semelhante, passa 
então a considerá-la, demonstra preocupação, inclusive teme sua perda. Mas 
para chegar a esta integração do eu com as pulsões, o bebê passa por diversas 
ansiedades advindas das pulsões que envolvem o eu obrigando-o a se defender. 
Em conclusão Melanie Klein (1946/1991) destaca algumas das relações de 
objeto perturbadas que são encontradas em personalidades esquizoides. A 
cisão violenta do self e a projeção excessiva tem por efeito fazer o objeto um 
perseguidor, uma vez que a parte odiada e destrutiva do eu é projetada e sentida 
como perigosa ao objeto amado, portanto, a origem da culpa também tem origem 
no processo de projeção. 
 
Fonte: Klein, M. (1991). Notas sobre alguns mecanismos esquizoides. Em Inveja 
e gratidão e outros trabalhos (pp. 17-43). Rio de Janeiro, Imago (Trabalho 
original publicado em 1946). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 5: Tema de discussão: Posição esquizo-paranóide, Posição depressiva 
e luto. 
 
Referências: 
KLEIN (1935) Capítulo: Psicogênese dos estados maníaco-depressivos; 
KLEIN (1940) Capítulo: O luto e suas relações com os estados maníaco-
depressivos. 
In:KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. 
(Amor, culpa e reparação e outros trabalhos, Vol. I). 
KLEIN (1959) Capítulo 12: Nosso mundo adulto e suas raízes na infância. 
CINTRA, E. M. U.; FIGUEIREDO, L.C. Melanie Klein, estilo e pensamento. 
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. 
 
Posição esquizo-paranóide, Posição depressiva. 
Tendo como base seus trabalhos com análise de crianças, Klein afirma a 
presença de sentimento de culpa muito antes dos três e dos quatro anos. Essas 
observações analíticas levaram a hipótese de um superego precoce, formado 
pela introjeção das figuras edipianas arcaicas, atacadas pelo sadismo infantil e 
tornadas ameaçadoras mediante o retorno do sadismo sobre a própria criança. 
Desse modo ela deixa explicito a noção de que a criança projeta sua 
agressividade sobre figuras parentais e que a característica aterrorizante do 
superego decorre de tal projeção. Klein discorre sobre as vantagens pessoais e 
sociais decorrentes da transformação do superego aterrorizador em consciência 
moral benigna, capaz de limitar a insaciabilidade destrutiva e modificá-la, por 
meio de mecanismos sublimatórios. 
O conceito de posição compreende uma colocação perante o objeto, na posição 
paranoide, estar diante ao objeto indicava o seu consumo e, inversamente o 
medo de perseguição, pois as partes maltratadas ou excluídas vinham a se 
tornar fontes ameaçadoras. Na posição depressiva estar diante ao objeto é antes 
de tudo reconhecê-lo como alguém que desejo preservar e que posso perder. 
Na posição esquizoparanoide o pós-natal despoja de um ego rudimentar, arcaico 
e fragmentado. Para o bebê o seio é um objeto parcial, o próprio leite é um objeto 
parcial, e ele tem o desejo de “devorar” atacar o seio. Nos primeiros meses de 
vida, quando o bebê se encontra na posição esquizo-paranóide, o seio/leite é 
um objeto a ser consumido. 
Para Klein uma relação feliz com a mãe e seu seio nunca é livre de perturbações, 
já que a ansiedade persecutória fatalmente surgirá. A ansiedade persecutória 
está em seu auge durante os três primeiros meses de vida. Nessa posição 
predomina a desconfiança na bondade dos objetos devido aos impulsos 
destrutivos que surgem com muita força, a mãe e seu seio, devido a projeção, 
são sentidos como persecutórios e, portanto, o bebê sente, inevitavelmente, 
insegurança. Na posição paranoide o bebê experiência uma ansiedade 
persecutória, ele teme sofrer com o ataque do objeto, nesta forma de ansiedade, 
a preocupação é com a preservação do próprio eu (medo do aniquilamento). 
A posição esquizo-paranóide se refere a um estado psíquico, sua base 
etimológica esquizo provém do grego com significante de cisão, dissociação, 
divisão. Ela se caracteriza por defesas esquizoides, ou seja, fragmentações, 
dissociações, idealizações, interligados a paranoide, perseguição. A ansiedade 
persecutória ou paranoide é a forma mais primitiva da ansiedade advinda do 
medo do aniquilamento. A cisão, idealização, a projeção, a negação da realidade 
psíquica são defesas contra ansiedades persecutórias, defesas muito arcaicas 
e são dirigidas contra os impulsos agressivos. Para Klein os impulsos agressivos, 
são mais intensos nos primórdios da vida, quando a criança se encontra na 
posição esquizo-paranóide, e ela se caracteriza pelos seguintes aspectos, 
pulsões agressivas particularmente intensas, aspecto clivado, dividido em dois, 
bom e mau (não há meio termo), a ansiedade é sempre de natureza 
persecutória. 
A gratificação pelo seio nutridor é a primeira forma de gratificação experienciada 
pelo bebê (seio bom que alimenta e o mau que frustra). Nesse sentido, ocorre 
uma cisão. O seio bom e o seio mau são “imagos” que se formam na mente do 
bebê. Essas “imagos” do seio resultam em introjeçãodo seio real (introjeção, 
internalizar, incorporar, trazer para dentro). Essa imagem do objeto externo é 
sempre mais ou menos distorcida pelas suas próprias fantasias. 
Uma relação inicial satisfatória com a mãe implica um contato íntimo entre o 
inconsciente da mãe e o da criança. Junto a necessidade de cindir, existe desde 
o início da vida uma tendência a integração, que aumenta com o crescimento do 
ego. (Klein - 1963) 
Por volta do quarto, quinto mês ocorre uma mudança significativa nas relações 
de afeto do bebê o objeto parcial passa a se tornar total, mais próximo ao real. 
O bebê se identifica com a mãe e a reconhece como semelhante, se preocupa 
com ela e tem medo de perdê-la. Neste mesmo período, quarto mês de vida, a 
criança ingressa na posição depressiva e nessa posição o afeto é algo que deve 
ser preservado e não devorado. 
Na posição depressiva, a criança começa a ver o objeto como semelhante, o 
bebê teme danificá-lo, teme que o objeto ao qual depende desapareça. Nesse 
caso predomina uma relação de confiança na bondade dos objetos e o processo 
de introjeção do seio bom converte-se na fonte de segurança e bondade, durante 
a posição depressiva a ansiedade persecutória diminui. 
“Quando surge a posição depressiva, comumente na metade do primeiro 
semestre de vida, o ego já está mais integrado. Isso expressa um sentimento de 
inteireza, que permite ao bebê ser mais capaz de se relacionar com a mãe, e 
mais tarde com as pessoas, como uma pessoa completa” (Klein 1963). 
“A integração se puder ser alcançada tem efeito de mitigar o ódio através do 
amor e, dessa forma, tornar os impulsos destrutivos menos poderosos” (Klein 
1963). Na posição depressiva o bebê experiencia uma ansiedade depressiva 
(ansiedade com traços de culpa), sente culpa por ter atacado a mãe em sua 
fantasia. 
O bebê tende a idealizar o seio “bom”, o seio ideal, inexaurível, sempre 
disponível, sempre gratificador. A introjeção do seio bom é fundamental para 
integração do bebê. Para Klein a integração do ego resulta na diminuição da 
ansiedade persecutória. 
O bebê precisa conservar a crença de um seio bom, pois só assim poderá sentir-
se seguro e estabelecer uma relação de confiança com o objeto. Esses 
sentimentos são fundamentais para a construção de um objeto interno bom. A 
internalização do objeto bom proporciona para o bebê sentimentos de segurança 
e confiança necessárias para suportar frustrações e privações. 
A introjeção do objeto bom consiste na colocação para dentro do aparelho 
psíquico de todas as experiências de prazer, formando um registro dinâmico 
(constelação), isto é, de uma reserva interna de experiências de prazer e a 
segurança, aumentando a capacidade de tolerar estados transitórios de privação 
e frustração. Esse registro dinâmico de inúmeras situações de prazer (de sentir 
desejado, amado, cuidado) funciona como uma garantia de acesso ao prazer. 
Isso alimenta a esperança na criança e aumenta sua capacidade de suportar 
frustração, privações e perdas. 
Para autora, durante os primeiros cinco anos de desenvolvimento, ocorre uma 
alternação muito característica entre as posições esquizoparanóide e 
depressivas (embora, ao longo da vida, sempre haja uma alternância entre as 
duas posições e isso faz parte da saúde mental). 
Melanie Klein considera a elaboração da posição depressiva é o ponto mais 
importante do desenvolvimento infantil: nos casos mais bem sucedidos, ocorre 
uma predominância da posição depressiva sobre a posição paranoide, o que 
significa ter havido uma firme introjeção do objeto bom, aspecto que será 
decisivo para determinar a capacidade de amar e de reparar. Sem isso, as 
defesas maníacas continuarão prevalecendo, e o retorno à posição paranoide 
será inevitável. Se uma criança tiver serias dificuldades para elaborar a posição 
depressiva, ela poderá apresentar distúrbios maníacos depressivos na vida 
adulta. 
Podemos também afirmar que a cisão entre “figuras excessivamente boas e 
más” é o que caracteriza a posição paranoide, ao passa que o desenvolvimento 
da posição depressiva envolve a unificação dessa bondade e maldade, 
conduzindo a imagos mais moderadas. 
A elaboração bem-sucedida da posição depressiva, envolve a capacidade de 
superar a ambivalência, que nunca será eliminada. A saúde psíquica e a 
capacidade de amar depende da habilidade de suportar a ambivalência. 
“Quando o bebê alcança a posição depressiva e torna-se mais capaz de 
enfrentar a sua realidade psíquica, sente também que a “maldade” do objeto é 
devida em grande parte à sua própria agressividade e à projeção decorrente”. 
(Inveja e Gratidão pag. 228) 
Ao longo da vida sempre haverá uma alternância entre as duas posições, elas 
coexistem a vida toda e essa interligação perpetua conflito pelo resto da vida. 
“Minha experiência tem-me mostrado que nunca há uma integração completa, 
mas que quanto mais o indivíduo se esforçar nessa direção, mais insight terá 
sobre suas ansiedades e impulsos, mais forte será o seu caráter e maior seu 
equilíbrio mental”. (Inveja e Gratidão- pág. 312) 
 
Sobre o sentimento de culpa e defesas maníacas. 
Por que a intenção é equiparada a execução? 
Como preconizado por Freud, a criança teme a perda do amor dos pais, pois ela 
depende deles para sobreviver. Para Freud o termo culpa se aplica as 
manifestações de consciência resultantes do superego. Para ele, o termo não se 
aplica as crianças com menos de 3 ou 4 anos de idade. Para ele a criança não 
sente culpa, e sim medo de perder o amor dos pais. 
Ao contrário de Freud, Klein sustenta que as crianças menores de 3 anos já 
experienciam a culpa. Isso ocorre porque ela deriva a culpa dos impulsos 
agressivos. Para ela a culpa provém da agressão, ou seja, quando o individuo 
ataca o objeto amado, ele sente culpa pela agressão. Para Klein a culpa se acha 
intimamente vinculada a ansiedade depressiva e a tendência de fazer reparação. 
Entende que a essência da culpa reside no sentimento que o indivíduo tem, de 
ter danificado o objeto amado bom. 
 A criança, no entanto, pode sentir que feriu sua mãe quando não feriu de fato, 
esse dano pode não ser real. Nos primórdios da vida, a criança ainda não é 
capaz de distinguir seus impulsos dos efeitos que eles realmente provocam. A 
criança ainda não consegue discernir o que é imaginário e o que é real, o seu 
mundo interno com seu mundo externo. Isso se deve a sua onipotência dos 
pensamentos. Após sentir culpa dos ataques reais ou imaginários a seus objetos 
de amor, a criança tem o ímpeto de repará-los. A necessidade de reparar o 
objeto amado surge da culpa. 
No entanto as operações de reparação nem sempre ocorrem na medida 
necessária, podem tornar mais forte e frequente as chamadas defesas 
maníacas. As defesas maníacas expressam o desejo de anular todos os ataques 
sádicos realizados na posição paranoide, com a anulação mágica dos efeitos 
dos ataques sádicos, são dissolvidos, igualmente, os perseguidores. As defesas 
maníacas o libertam da culpa e do medo do aniquilamento. 
A depressão surge do sentimento de perda. O temor de perder a mãe desperta 
sentimentos depressivos na criança, dessa forma o ego mobiliza defesas contra 
ansiedades de culpa e depressão, assim mobiliza defesas contra a culpa e do 
medo de perder o objeto bom conhecidas como defesas maníacas, as defesas 
maníacas se caracterizam pela tríade: 
 
1- Triunfo. 
2 – Desprezo. 
3 – Controle onipotente. 
O triunfo sobre o objeto é caracterizado pelo desejo de dominar, sobrepujar o 
objeto. Por exemplo: A criança tem o sonho de crescer e ser grande igual os 
pais, pode ter a seguinte fantasia: haverá um dia que eu serei rico, poderoso e 
os pais se tornarão crianças indefesas, ou estarão velhos e pobres. 
O desprezo também é uma defesa maníaca e está ligada no mecanismo de 
negação. O sujeito despreza o objeto bom. Nega sua dependência dele, nega 
que precisa do outro. Negasua dependência perigosa e escravizante do aspecto 
amado. Pode depreciar aquilo que não pode ter, para não ficar desapontado 
consigo mesmo. 
No controle onipotente do objeto, o sujeito nega a culpa decorrente de sua 
própria hostilidade para com o objeto. Nega que danificou o objeto, por um lado, 
nega o medo de ser atacado pelo objeto danificado e por outro, nega o medo de 
perder o objeto bom. 
O luto. 
O luto nas perspectivas Kleinianas. Em um sentido mais estrito, o luto é um 
sentimento de pesar pela perda de um ente querido. Num sentido amplo, 
podemos entender que o luto é a perda de alguém que consideramos importante, 
ou algo que consideramos valioso. 
“O luto é a perda de uma pessoa amada ou a perda de abstrações colocadas 
como pátria, liberdade, um ideal”. 
Após um período o luto é superado, esse processo de superação do luto, na 
psicanálise é chamado de trabalho de luto, o luto não é considerado um estado 
patológico. O alheamento em relação ao mundo externo é um aspecto 
característico do processo de luto. Com o tempo, o choro e a tristeza diminuem, 
o sujeito se consola e aos poucos se reorganiza. Quanto maior o apego ao objeto 
perdido, maior o sofrimento de luto. 
A dor não deve ser negada deve ser vivenciada para suportar o luto. A duração 
do luto varia de acordo com, as características pessoais do sujeito enlutado, laço 
afetivo do sujeito com o objeto perdido e a forma como perdeu. Mortes 
traumáticas e inesperadas geralmente demoram mais para serem digeridas. 
“É impressionante que encaremos um incômodo tão penoso como algo tão 
natural. Cada lembrança, situações de expectativa demonstra o apego para com 
a pessoa perdida, juntamente quando se depara com a imposição da realidade 
que esse não existe mais. Mesmo que por fora não pareça devido ao alheamento 
do mundo, há uma grande luta por ser travada internamente”. O anseio pela 
pessoa amada implica na dependência, apego em relação a ele. 
Em alguns casos o luto pode ser patológico, o luto não é enfrentado de forma 
adequada. Para atravessar com sucesso o primeiro luto a criança deve ter 
introjetado um objeto bom. 
Assim, quando o sofrimento é vivido ao máximo e o desespero atinge seu auge, 
o indivíduo de luto vê brotar novamente seu amor pelo objeto. Ele sente com 
mais força que a vida continuará por dentro e por fora, e que o objeto amado 
perdido pode ser preservado em seu interior. Nesse estágio do luto, o sofrimento 
pode se tornar produtivo. Sabemos que experiências dolorosas de todos os tipos 
às vezes estimulam as sublimações, ou até despertam novas habilidades nas 
pessoas, que começam a pintar, escrever ou iniciam outras atividades produtivas 
sob a pressão das frustrações e\adversidades. 
Se o indivíduo não tem um objeto bom interno suficientemente estabelecido, sua 
capacidade de suportar perdas diminui. Consequentemente ele tende a 
fracassar no luto. 
O que o maníaco depressivo e o sujeito que fracassa no trabalho de luto tem em 
comum? 
A mania é caracterizada pela elação, elevação do eu e humor acompanhada por 
uma aceleração do nível global de atividade psíquica. Já a depressão é polo 
oposto, onde o sujeito deprimido não tem vontade de fazer suas vontades 
cotidianas. 
Para Klein ambos não desenvolveram o estabelecimento de objetos bons na 
infância. Se um indivíduo não tem objetos bons internos, dentro de si, vivera em 
uma perda com desesperança e ficará propenso a desenvolver uma afecção 
psíquica, mania e depressão. 
 
 
 
 
 
AULA 6: Tema de discussão: Inveja e Gratidão. 
 
Bibliografia: 
 
KLEIN (1957) Capítulo 10: Inveja e Gratidão; KLEIN (1959) Obras Completas. 
Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e outros 
trabalhos, Vol. III). 
KLEIN (19). Sobre a teoria da ansiedade e da culpa. In: KLEIN, M. Obras 
Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e 
outros trabalhos, Vol. III). 
 
Inveja e Gratidão (1957) 
 
A inveja está relacionada diretamente a um único objeto, EU  outro, não 
envolve terceiro. Inveja-se o que outro possui, suas qualidades pessoais, 
capacidades e conquistas. A inveja implica na espoliação do objeto, pela 
hostilidade para com a pessoa invejada. 
Segundo Melanie Klein “a inveja é um fator muito importante para o solapamento 
das raízes dos sentimentos de amor e gratidão, pois ela afeta a relação mais 
antiga de todas, a relação com a mãe”. 
A autora considera a inveja uma expressão sádico-oral (consumir o seio) e 
sádico anal (controle excessivo dos objetos) de impulsos destrutivos, em 
atividade desde o começo da vida, e que tem base constitucional. 
Considera que se deve “fazer distinção entre a inveja, ciúmes e voracidade. A 
inveja é o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta algo 
desejável – sendo o impulso invejoso de tirar este algo ou de estragá-lo. Além 
disso, a inveja pressupõe a relação do indivíduo com uma só pessoa e remonta 
à mais arcaica e exclusiva relação com a mãe. O ciúme é baseado na inveja, 
mas envolve a relação com, pelo menos, duas pessoas; diz respeito 
principalmente ao amor que o indivíduo sente como lhe sendo devido e que foi 
tirado, ou está a perigo de sê-lo, por seu rival. Na concepção corriqueira de 
ciúme, um homem ou uma mulher se sente privado, por outrem, da pessoa 
amada”. (pág. 212) 
“A voracidade é uma ânsia impetuosa e insaciável, que excede aquilo que o 
sujeito necessita e o que o objeto é capaz e está disposto a dar. A nível 
inconsciente, a voracidade visa, primariamente, escavar completamente, sugar 
até deixar seco e devorar o seio; ou seja, seu objetivo é a introjeção destrutiva, 
ao passo que a inveja procura não apenas despojar dessa maneira, mas também 
de depositar maldade, primordialmente excrementos maus e partes más do self, 
dentro da mãe, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de estragá-la e destruí-
la. No sentido mais profundo, isso significa destruir a criatividade da mãe. Esse 
processo, que deriva de um impulso sádico uretrais e sádicos anais, foi por mim 
definido em outro artigo como um aspecto da identificação projetiva, começando 
desde o início da vida. Uma diferença essencial entre voracidade e inveja, 
embora nenhuma linha divisória rígida possa ser traçada visto estarem tão 
estreitamente associadas, seria, então, que a voracidade está ligada 
principalmente à introjeção e a inveja à projeção”. (pág. 213) 
De acordo com Klein, o invejoso não tolera algo que o outro usufrui, pois não é 
capaz de expressar gratidão. Uma pessoa muito invejosa tende a se tornar 
insegura/desconfiada, pois a inveja impede de estabelecer relações objetais 
boas e confiáveis. A pessoa invejosa também teme a inveja dos outros. 
Quando uma pessoa invejosa tem boas experiências de prazer, lhe ocorre o 
oportuno sentimento de que poderia ter mais do que tem ou que outra pessoa 
tem mais que ela. 
“Pode-se se dizer que a pessoa muito invejosa é insaciável, que nunca pode ser 
satisfeita porque sua inveja brota de dentro e, portanto, sempre encontra um 
objeto sobre o qual focalizar-se. Isso mostra também a intima conexão com o 
ciúme, voracidade e inveja”. 
Dentre as defesas mais empregadas contra a inveja, se destacam: a idealização, 
o invejoso tende a idealizar a tal forma a pessoa que se inveja, que a distância 
é tão grande que nenhuma comparação é possível; a desvalorização de si, faz 
parecer não possuir algo a oferecer, aumentando a distância de si mesmo e a 
pessoa invejada; provocar inveja em outrem ou evitar situações que provoquem 
rivalidade e inveja; desprezo, depreciar aquilo que inveja. 
Todos nós temos que lidar com a inveja, contrabalançando, a inveja que 
sentimos, com a nossa capacidade de sentir calor humano e gratidão. (Beth 
Joseph) 
 
“Não é preciso dizer que os nossos pacientes nos criticam por uma variedade de 
razões, às vezes justificadamente. Mas a necessidade que tem um paciente de 
desvalorizar otrabalho analítico que experimentou como proveitoso é expressão 
de inveja”. (pág. 215) 
A gratidão é o sentimento que o indivíduo tem por receber algo vindo do outro. 
A etimologia da palavra gratidão vem de uma expressão latina gratus, que é 
traduzida como estar agradecido ou ser grato. Além disso, gratidão deriva 
também de gratia, que em latim quer dizer graça. 
Klein relaciona a capacidade de amar com o sentimento de gratidão. “O bebê só 
pode sentir satisfação completa se a capacidade de amar é suficientemente 
desenvolvida; e é a satisfação que forma a base da gratidão”. Freud descreveu 
o êxtase do bebê na amamentação como protótipo da gratificação sexual. Ao 
entendimento de Klein essas experiências não constituem apenas a base da 
gratificação sexual, mas também de toda felicidade subsequente. “Em condições 
favoráveis, tal compreensão não necessita de palavras para expressá-la, o que 
demonstra sua derivação da intimidade mais inicial com a mãe, no estágio pré-
verbal. A capacidade de fruir plenamente a primeira relação com o seio forma a 
base para sentir prazer proveniente de diversas fontes”. 
“Se há experiência frequente de ser alimentado sem que a satisfação seja 
perturbada, a introjeção do seio bom se dá com relativa segurança. Uma 
gratificação plena ao seio significa que o bebê sente ter recebido do objeto 
amado uma dadiva especial que ele deseja guardar... o individuo sente estar 
controlando, exaurindo e, portanto, danificando o objeto, ao passo que, numa 
boa relação com o objeto interno e externo, predomina o desejo de preservá-lo 
e poupá-lo”. (a criança investe no mundo externo, desse modo ele ama e 
protege, dando base a confiança em sua própria bondade) 
Quanto mais se experiencia a gratificação proporcionada pelo seio, são sentidas 
satisfações e a gratidão, por conseguinte, o desejo de retribuir o prazer forma a 
capacidade de reparação. 
“A gratidão está intimamente ligada à generosidade. A riqueza interna deriva de 
ter o objeto bom assimilado de maneira que o indivíduo se torna capaz de 
compartilhar com outros os dons do objeto. Isso torna possível introjetar um 
mundo externo mais amistoso, a que se segue um sentimento de maior riqueza. 
Mesmo o fato de a generosidade ser frequentemente pouco reconhecida não 
solapa necessariamente a capacidade de dar. Em contraste, nas pessoas em 
que esse sentimento de riqueza e forças internas não se acha suficientemente 
estabelecido, acessos de generosidade são muitas vezes seguidos por uma 
necessidade exagerada de reconhecimento e gratidão e, consequentemente, 
por ansiedades persecutórias de haverem sido empobrecidas e roubadas”. 
“Frequentemente encontramos expressões de gratidão que se revelam movidas 
muito mais por sentimento de culpa do que pela capacidade de amar. Acho que 
importante a distinção entre tais sentimento de culpa e gratidão em nível mais 
profundo. Isso não quer dizer que um certo elemento de culpa não entre nós 
mais genuínos sentimentos de gratidão”. 
“As atividades construtivas e criadoras, os sentimentos sociais e cooperativos 
são então sentidos como moralmente bons, e são, portanto, o meio mais 
importante de manter a distância ou para superar a sensação de culpa. Quando 
os vários aspectos do superego se tornam unificados (que é o que acontece com 
pessoas maduras e equilibradas), o sentimento de culpa não desaparece, mas 
integra-se na personalidade, juntamente com meio de contrabalançá-lo.” 
 
SOBRE A TEORIA DA ANSIEDADE E DA CULPA (1948) 
Com respeito a culpa, Freud sustenta sua origem no complexo de Édipo e que 
surge em decorrência dele. Há passagens entretanto, nas quais Freud 
claramente fez referência a conflito de culpa que surge num estágio de vida muito 
anterior. Freud escreveu” ...o sentimento de culpa é uma expressão do conflito 
devido à ambivalência, da eterna luta entre Eros e a pulsão de destruição ou de 
morte”. Melanie Klein acrescenta que a eterna luta entre as tendências de amor 
e de morte, há....um aumento do sentimento de culpa”. 
“Klein propôs a seguinte hipótese sobre a ansiedade. “A ansiedade é despertada 
pelo perigo proveniente da pulsão de morte que ameaça o organismo; e sugeri 
que essa é a causa primordial da ansiedade. A descrição de Freud da luta entre 
as pulsões de vida e de morte (luta que leva à deflexão, para fora, de uma parcela 
de pulsão de morte, e à fusão das duas pulsões) apontaria para a conclusão de 
que a ansiedade tem origem no medo da morte” 
“Em seu artigo sobre o masoquismo, Freud tirou algumas conclusões 
fundamentais acerca das conexões entre o masoquismo e a pulsão de morte, e 
considerou sob a luz as várias ansiedades resultantes da atividade da pulsão de 
morte voltada para dentro. Dentre essas ansiedades não mencionou, no entanto, 
o medo da morte”. 
“Seguindo essa concepção, desde o início o medo da morte se imiscui no medo 
ao superego, e não é, como Freud afirmava, uma “transformação final” do “medo 
do superego”. 
“Um dos resultados do novo trabalho sobre a agressividade foi o reconhecimento 
da importante função da tendência reparatória, que é uma expressão da pulsão 
de vida em luta contra a pulsão de morte. Não só se teve melhor perspectiva dos 
impulsos destrutivos, como também se lançou mais luz sobre a interação entre 
as pulsões de vida e de morte, e, por conseguinte, também sobre o papel da 
libido em todos os processos mentais e emocionais”. 
“No decorrer deste trabalho deixei claro o ponto que sustento de que a pulsão 
de morte (impulsos destrutivos) é o fator primário na gênese da ansiedade. 
Ficou, no entanto, também implícito, na minha exposição dos processos que 
conduzem à ansiedade e à culpa, que o objeto primário contra o qual se dirigem 
os impulsos destrutivos é o objeto da libido (objeto de amor/mãe), e que o que 
causa a ansiedade e culpa é, portanto, a interação entre a agressividade e a 
libido(amor)- em última análise, a fusão, assim como a polaridade, das duas 
pulsões. Outro aspecto dessa interação é a mitigação (aliviamento, alívio) dos 
impulsos destrutivos pela libido(amor). Um nível ótimo na interação entre libido 
e agressividade implica que a ansiedade proveniente da perene (perpetuo) 
atividade da pulsão de morte, embora jamais eliminada, é contrabalançada e 
mantida à distância pela força da pulsão de vida”. 
 
Referências: 
 
KLEIN (1957) Capítulo 10: Inveja e Gratidão; KLEIN (1959) Obras Completas. 
Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e outros 
trabalhos, Vol. III). 
KLEIN (19). Sobre a teoria da ansiedade e da culpa. In: KLEIN, M. Obras 
Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e 
outros trabalhos, Vol. III). 
 
AULA 7: Tema de discussão: A Clínica Kleiniana. 
 
Bibliografia: 
Klein, M. (1991). As origens da transferência. Em Inveja e Gratidão e outros 
Trabalhos, vol. III das Obras Completas de Klein, Rio de Janeiro: Imago, (original 
de 1952) 
 
A transferência na escola Kleiniana. 
 
Melanie Klein, reconhecida como psicanalista pioneira a utilizar 
sistematicamente brinquedos como técnica e instrumento de análise. Sua prática 
dá ênfase na relação analista-analisando e à transferência, ou seja, o aqui e 
agora no setting, uma das suas maiores contribuições teóricas a psicanálise a 
“teoria das posições”. 
Como já vimos em aulas anteriores, Klein compreende que na posição 
esquizoparanóide, a ansiedade predominante para o EU, é de perseguição. Com 
o desenvolvimento do bebê, surge a posição depressiva que se dá pela dor e 
tristeza que a criança sente com a percepção de que sua mãe é inteira, 
autônoma e separada dela e pode ir embora quando quiser. Nesta posição a 
ansiedade é pelo objeto, ou seja, pelo dano (imaginado ou real) que o eu pode 
causar no objeto, essa condição gera culpa e a maior defesa é a reparação. 
Klein postula considerando Freud a pulsão de morte opera desde início no 
psiquismo e consideraa inveja primária como constitucional, assim como, 
mecanismos de defesas antigos e arcaicos, por exemplo, a identificação 
projetiva que consiste em uma fantasia de projeção de partes cindidas de si 
mesmo para o interior de outra pessoa com intuito de controlá-lo internamente. 
Para ilustrar, um exemplo: o paciente é informado sobre as férias do analista; e 
ele responde: como que eu fico? Com quem vou falar? Isso é imoral, um absurdo 
o analista tirar férias. Nesse momento para o paciente o analista não é visto 
como um indivíduo total, que possui cansaço e direito a férias. Quem está sendo 
imoral com isso? 
O paciente (vê o analista como parcial, algo a ser consumido) tenta controlar o 
analista por dentro, infringindo culpa, querendo implantar uma ideia no analista 
de que ele é imoral e sua ação absurda. Se o analista sente culpa e adia suas 
férias, a identificação projetiva foi exitosa. 
Freud conceitua a transferência como o processo por meio do qual certas 
relações e acontecimentos do passado, junto com seus componentes afetivos, 
são repetidos (ou reeditados) na relação com o analista, sob a influência do 
princípio da compulsão à repetição. No caso Dora (1905) Freud já define e 
caracteriza o fenômeno transferencial em seus componentes essenciais. 
Klein em origem da transferência, compreende de que a transferência se deriva 
dos mesmos processos que determinam as relações do objeto. Sendo eles 
introjeção e projeção. Para a autora o essencial na transferência não reside na 
relação entre passado e presente, mas sim na relação existente entre mundo 
interno e mundo externo. 
“A primeira forma de ansiedade é de natureza persecutória. O trabalho interno 
da pulsão de morte, que, de acordo com Freud, é dirigido contra o organismo, 
da origem ao medo do aniquilamento, e essa é a causa primordial da ansiedade 
persecutória, os impulsos dirigidos contra o objeto incitam medo da retaliação” 
(pág. 71). 
Klein afirma: "Minha concepção de transferência como algo enraizado nos 
estágios iniciais do desenvolvimento e nas camadas mais profundas do 
inconsciente é muito mais ampla, envolvendo uma técnica através da qual, a 
partir da totalidade do material apresentado, são deduzidos os elementos 
inconscientes da transferência. Por exemplo, relatos de pacientes sobre suas 
vidas, relações e atividades cotidianas não só nos oferecem uma compreensão 
do funcionamento do ego, mas revelam igualmente as defesas contra a 
ansiedade suscitadas na situação de transferência, caso exploremos seu 
conteúdo inconsciente”. 
Cabe lembrar, neste ponto, que as fantasias ocorrem no nível inconsciente da 
mente e podem, eventualmente, tornar-se conscientes. Elas são a "matéria 
prima" do inconsciente e, como tal, permeiam toda a vida mental que, por sua 
vez, está na base do comportamento manifesto dos indivíduos. 
... "o estilo e o tom de voz ao falar, a -postura corporal, o modo de andar, de 
apertar a mão, a expressão facial, a caligrafia e os maneirismos, em geral, 
também são determinados, direta ou indiretamente por fantasias específicas. 
Estas são, usualmente, muito complexas, relacionadas com os mundos interno 
e externo, e vinculadas à história psíquica do indivíduo" (pág. 114). 
"De mesmo modo, as mais vastas expressões sociais do caráter e personalidade 
mostram-nos também a potência das fantasias. Por exemplo, as atitudes das 
pessoas em matérias tais como o tempo, dinheiro e posse de bens, ser pontual 
ou atrasar-se, dar e receber, liderar ou ser adepto, estar 'no centro do palco' ou 
concentrar-se em trabalhar nos bastidores etc. são sempre expressões que, na 
análise, se verifica estarem relacionadas com certos conjuntos específicos de 
variadas fantasias" (pag. 155). 
A fantasia é considerada o substrato da vida mental, elas representam também 
as ansiedades e defesas, que são outros conceitos a serem abordados. O 
paciente está fadado a lidar com conflitos e ansiedades, revividos na relação 
com o analista, empregando os mesmos métodos a que recorreu no passado. 
Isto quer dizer que ele se afasta do analista como tentou se afastar de seus 
objetos primários; tenta cindir a relação com eles, mantendo-os como figuras 
boas ou más; deflete alguns dos sentimentos e atitudes vividos em relação ao 
analista para outras pessoas em sua vida cotidiana, e isto é parte da situação 
transferencial. 
Na relação dupla transferencial, existem basicamente dois tipos de ansiedade: a 
paranoide e a depressiva. A primeira sinaliza o perigo do ego ser destruído por 
objetos internos e externos, e a segunda, o perigo de danificar ou destruir os 
objetos amados. 
A ansiedade paranoide está relacionada à posição esquizoparanóide, que se 
caracteriza por uma vivência de objetos parciais e por um splitting entre os 
objetos frustradores e os gratificadores. Os objetos parciais que frustram são 
violentamente atacados ao nível das fantasias e se tornam terríficos, ameaçando 
constantemente o ego, que se sente em perigo. 
“convenci-me de que a análise da transferência negativa, que havia recebido 
pouca atenção na técnica psicanalítica, constitui uma precondição para analisar 
as camadas mais profundas da mente”. 
Já a ansiedade depressiva está associada à posição depressiva, um estado 
mental que se caracteriza por um contato com o objeto total, ou seja, a 
percepção de que é o mesmo objeto que frustra e gratifica. Esta integração 
concomitante do objeto e do ego gera o medo de que a parte má do ego vá 
danificar ou destruir o objeto que, ambivalentemente, o gratifica e o frustra. 
Estas ansiedades, ao serem vivenciadas, mobilizam defesas no ego, que são 
formas de reagir a estes "perigos". A ansiedade paranoide gera defesas tais 
como projeção, splitting, negação, identificação projetiva e idealização, todas 
elas com a finalidade de livrar o ego de seus perseguidores. Por intermédio 
destas defesas, o ego procura afastar-se dos perigos que julga serem externos 
e colocar fora de si as partes que são sentidas como perigos internos. 
Paralelamente, busca identificar-se com os objetos idealizados para sentir-se 
suficientemente forte diante dos perseguidores. São tempos de guerra para o 
ego e, consequentemente, o sofrimento mental é intenso. O indivíduo está 
sempre alerta, amedrontado, aterrorizado e as defesas de que se utiliza, em 
geral, provocam fragilidade do ego e afastamento da realidade. 
A ansiedade depressiva também mobiliza um sistema poderoso de defesas, a 
saber, as defesas maníacas. O ego, ao entrar em contato com sua capacidade 
destrutiva e com a possibilidade de perder o objeto amado, defende-se com 
sentimentos de desvalorização, desprezo e triunfo sobre o objeto, na tentativa 
de negar sua importância e, assim, afastar o medo de perdê-lo ou de se separar 
dele. 
Estas ansiedades e defesas são vividas em um contexto de relações objetais. 
A transferência é um fenômeno psíquico em que todas as fantasias, ansiedades 
e defesas que compõem o mundo interno são expressas nas situações vividas 
no cotidiano. O indivíduo traz para cada nova relação que estabelece ou cada 
nova situação que vive, toda sua história, seus objetos internos, seus medos e 
esperanças e transfere-as para a situação atual. 
“Sugeri que um dos fatores que levam à compulsão à repetição é a pressão 
exercida pelas primeiras situações de ansiedade. Quando as ansiedades 
persecutórias e depressiva e a culpa diminuem, há menos premência a repetir 
continuamente experiências fundamentais e, em consequência, antigos padrões 
e modos de sentir são mantidos com menos tenacidade.” (pág. 79) 
Embora a transferência não seja específica da relação analítica, ela é 
incrementada nesta relação. Klein afirma que, na medida em que o analista vai 
abrindo caminho em direção ao inconsciente do paciente, a premência em 
transferir suas experiências mais profundas e mais primitivas é reforçada e 
o setting analítico passa a ser o

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