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AULA 1: Desdobramentos e expansões da Psicanálise. Diferentes matrizes clínicas e suas consequências para a teorização psicanalítica. Panorama geral da vida e obra de Melanie Klein. Contexto cultural, histórico e político. Bibliografia: CINTRA, E. M. U.; FIGUEIREDO, L.C. Melanie Klein, estilo e pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. Capítulo 1: Melanie: algumas informações introdutórias (29-35). Capítulo 1: “Melanie Reizes, poderia ter sido, como milhões de outras mulheres de sua época e situação social, uma pobre mulher judia condenada pela posição de filha, esposa e mãe a uma vida repleta de submissão, humilhação, e, fracasso”. De fato, o decurso de sua história se mostrou assim até seus trinta anos, quando o conhecimento da psicanálise a “salvo-a da depressão, da inveja, raiva e mediocridade, inclusive de seu casamento”. Melanie Klein de origem hebraica nasceu em Viena, era caçula de quatro irmãos de uma família humilde, embora dotada de um certo nível cultural seu pai Moriz era médico e dentista e sua mãe Libussa, dona de casa e proprietária de um pequeno comércio. Melanie teve infância e juventude de perdas, perdeu irmã sua irmã de 7 anos, quando tinha 4, o pai aos 18 e seu irmão predileto quando chegava aos 20 anos. Noiva desde os 17 casou-se com um amigo de seu irmão Athur Klein (Engenheiro Químico). Após casamento Klein (nome de seu marido), passou a residir em diversas cidades do Império Austro-Húngaro até chegar em Budapeste, em 1910. Neste período Melanie sofria de profundos episódios depressivos de desesperança trazendo prejuízos na capacidade cuidar de seus filhos, principalmente os mais velhos, ficando por vezes, longas temporadas ausente, em repouso, deixando para sua mãe os cuidados com as crianças. Em 1914, morreu mãe de Klein ao mesmo tempo em que seu marido se afasta da família, devido a Primeira Guerra. Neste mesmo ano Melanie entra em contato com a obra sobre os sonhos e ao que parece iniciou análise com Ferenczi, nessa ocasião, seu filho Erich apresentava sinais de inibição intelectual, bloqueios na curiosidade, Klein deu início a intervenções guiadas pela teoria psicanalítica e analista. Em 1918, participou do 5º congresso internacional de Psicanálise em Budapeste, ouviu Freud sobre os avanços da terapia psicanalítica. No ano seguinte Klein escreve seu primeiro artigo, sendo ingressa como membro da sociedade de Budapeste. Em 1921 mudou-se para Berlim sem a companhia do marido (partiu a trabalho para Suécia) e filhos mais velhos (Melitta e Hans). Seu casamento passará por tentativas de reconciliação, mas em 1924, o casamento rompe definitivamente, advindo divórcio, em 1927. Em 1922 teve sua primeira mudança realizada por iniciativa própria e interesse, mudou-se para Alemanha, de início acompanhada apenas pelo filho Erich. Em 1924, começou análise com Karl Abraham e leu seu primeiro trabalho em um congresso internacional, além de apresentar outro texto sobre psicanálise de crianças, “trabalho para o qual os Freud’s já torcem o nariz...” Em 1925, foi convidada para realizar palestra em Londres, e, em 1926 mudou- se definitivamente para Londres, mudança que correspondia aos convites dos analistas ingleses, impressionados com originalidade da jovem Melanie Klein. Após morte de Abraham seu analista e protetor, Klein ficava mais exposta a críticas de membros mais conservadores da Sociedade Local e de Viena. Era acusada de violentar a inocência das crianças e perturbar a relação elas com seus pais. A partir daí, sua ascensão na sociedade de Psicanálise Inglesa foi fulminante, no entanto no âmbito familiar Klein colhia muitos dissabores. Em 1930, morre seu filho Hans de acidente em uma escalada, esse filho “pré- Psicanalítico”, pelo tudo que parece fora analisado por Klein, na adolescência, tendia à depressão e lhe suspeitava de tendência homoafetiva. Sua morte acidental podia ser interpretada como suicídio, Klein ficou paralisada diante a notícia e sequer quis comparecer ao enterro. De outro lado Klein, após reencontro feliz com Melitta (formou-se em medicina, sonho da mãe), casada com outro psicanalista (Walter Schmideberg) supervisionando de Freud, as relações da filha com a “mãe começaram a azedar”. Melitta tornou-se nos anos posteriores a mais agressiva das opositoras de Klein, “exibindo um comportamento que chamava atenção pelo destempero e pela falta de pudor. Melanie Klein nunca revidou publicamente esses ataques escandalosos. Mais tarde Melitta mudou-se para os EUA e nunca mais se reconciliou com sua mãe. Klein acabou por se tornar grande opositora de Anna Freud ao traduzir em palavras o universo simbólico que emerge durante a análise de crianças e por haver considerado que as crianças estão aptas a estabelecer relações transferenciais. Melanie Klein, se meteu em diversas confusões, sendo quase excluída da sociedade. No entanto, recuperou-se, consolidou grupo de adeptos, vindo a gozar, no final da década de 40 e durante os anos 50, de uma posição estável, solida e prestigiável no seio da Sociedade Britânica. Ao longo dos anos Klein teve uma vida confortável, até mesmo luxuosa. Em conversa com Betty Joseph (1935) Melaine Klein protestou ao ser chamada de "kleiniana" por se considerar "freudiana", Betty Joseph lhe respondeu: "Tarde demais, você é uma kleiniana, queira ou não queira" (GROSSKURTH, 1992). Por fim, Melanie Klein teve origem humilde e, sem acesso ao mundo acadêmico, se inseriu na psicanálise movida mais pelas próprias necessidades pessoais de saúde mental, do que por uma inclinação acadêmico-científica. Ela morre em 1960, aos 78 anos fortemente consolidada na sociedade Britânica e das sociedades da América do sul e por último nos EUA E França. Melanie morreu em Londres, no dia 22 de setembro de 1960, mesmo ano em que escreveu “Sobre saúde mental”: “Muitas pessoas aparentemente equilibradas, não tem força de caráter. Facilitam a vida a si próprias evitando conflitos internos e externos. Como consequência, visam aquilo que é garantido ou conveniente, e não podem desenvolver convicções profundamente arraigadas. Um caráter forte, no entanto, se não for mitigado pela consideração pelos outros, não é característico de uma personalidade equilibrada. A compreensão para com outras pessoas, a compaixão, a simpatia e a tolerância enriquecem nossa experiencia do mundo e fazem-nos sentir mais confiantes em nós mesmos e menos sós.” (Inveja e Gratidão - página 307) AULA 2: A Técnica Psicanalítica através do brincar: sua história e significado. Bibliografia: “A técnica Psicanalítica através do brincar: Sua História e Significado “KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. A técnica do brincar. A teoria elaborada por Melanie Klein resultou uma clínica muito diferente de tudo o que havia disponível para o trabalho analítico infantil. Ela traduziu como ninguém os processos e mecanismos psíquicos mais arcaicos e profundos que integram a formação do psiquismo. Quando Klein atendeu seu primeiro caso, já havia um trabalho psicanalítico, particularmente o da Dra. Hermine Hug Hellmuth. No entanto, ela não empreendeu a psicanálise com crianças menores de 6 anos, embora usasse desenhos e ocasionalmente o brincar como produtor de material, ela não desenvolveu uma técnica específica. A dra. Hellmuth foi centro de algumas crises no universo psicanalítico, em 1920 ela forjou um diário de uma jovem para que fosse compatível com sua teoria do desenvolvimento sexual e no ano de 1924 foi assassinada pelo próprio filho adotivo, que ela havia criado de acordo com os princípios psicanalíticos. Na época, os psicanalistas achavam potencialmente perigoso explorar as profundezas do inconsciente da criança. A psicanálise era indicada apenas para crianças delatência em diante. Pode-se dizer que Klein foi pioneira e original na criação de uma psicanálise para criança que incluía o entendimento simbólico contido nos brinquedos e jogos. Quando Klein iniciou seu primeiro trabalho, ela estabeleceu, a princípio, que as interpretações deveriam ser dadas de modo parcimonioso. O primeiro paciente de Klein, tinha 5 anos de idade, “Fritz”, no início achava suficiente orientações direcionadas a genitora, sugeriu que deveria encorajar a criança discutir livremente com ela muitas questões não verbalizadas que estariam no fundo da mente e que impedia o seu desenvolvimento intelectual. Klein percebe um bom efeito, mas, as dificuldades neuróticas não foram aliviadas. Ao fazer o atendimento, Klein devia de algumas regras estabelecidas até então, pois interpretava o que pensava ser mais urgente do material apresentado pela criança, e, percebeu que seu interesse central se dava nas ansiedades e defesas usadas contra elas. Essas ansiedades encontradas por Klein eram agudas, embora se sentisse no caminho certo ao observar alívio das ansiedades, ficava perturbada com surgimento de novas ansiedades que iam sendo trazidas à tona. Preocupada buscou conselhos com o Dr. Abraham que a encorajou a seguir com o mesmo método de abordagem. “Esta análise representou o início da técnica psicanalítica através do brincar, porque desde o início a criança expressou suas fantasias e ansiedades principalmente através do brincar, e eu interpretava consistentemente seu significado a ela, com o resultado de que o material adicional aparecia em seu brincar”. Ao interpretar não apenas as palavras, mas também as atividades da criança com o brinquedo, Klein aplicou um princípio básico à mente da criança, cujo brincar e atividades variadas, na verdade, todos os seus comportamentos são modos de se expressar, o que nós adultos expressamos predominantemente por meio de palavras. Contudo, Klein se apoia em dois princípios fundamentais da psicanálise a exploração do inconsciente e análise da transferência. A partir de 1920 a 1923, teve diversas experiências com atendimentos de crianças. Em particular o caso que contribui significativamente com a técnica foi o tratamento de uma criança de 2 anos e 9 meses analisada em 1923. “Rita” sofria terrores noturnos e fobias de animais, era muito ambivalente para com a mãe, porém era apega a ponto de não ficar sozinha. Apresentava neurose obsessiva acentuada e as vezes ficava muito deprimida, seu brincar era inibido, demonstrava inabilidade de tolerar frustração que tornava sua educação algo difícil. Inicialmente Klein ficou hesitante em aceitar o atendimento devido idade da criança. Na primeira sessão Rita ao ser deixada no quarto sozinha com Klein demonstrou sinais de transferência negativa. Rita estava silenciosa, ansiosa e solicitou ir para parte externa, ao jardim. Os observados tia e genitora demonstravam olhares, sinais de um trabalho fadado ao fracasso e ficaram surpresas ao verem Rita sendo amistosa com Klein 10 minutos mais tarde. Klein narra que a explicação para tal mudança se deu enquanto estavam fora, ela interpretou a transferência negativa, sendo isso, novamente contra a prática usual. A partir de poucas coisas que a criança falou e o fato de ter ficado menos amedrontada, Klein conclui que a criança estava particularmente receosa com o que poderia acontecer a ela a sós no quarto. Ela interpretou isso, referindo ao medo noturno, ao medo de uma mulher má hostil a atacasse quando estive sozinha. Depois dessa interpretação Klein sugeriu que retornassem ao quarto, pedido prontamente atendido pela criança. A inibição de Rita ao brincar era acentuada, dificilmente fazia outra coisa a não ser vestir e desvestir uma boneca. Logo Klein passou a entender as ansiedades subjacentes as obsessões de Rita e as interpretou. A partir deste caso, Klein ficou convicta de que a precondição para psicanálise de criança é de compreender e interpretar as fantasias, sentimentos, ansiedades, experiências expressas no brincar, ou se as atividades do brincar estão inibidas, as causas da inibição. Klein considerando o caso de “Fritz” chegou à conclusão de que o trabalho psicanalítico não deveria ser feito na casa da criança. Percebeu também que mesmo a mãe de Rita precisando de ajuda e optando pela psicanálise como solução apresentava postura muito ambivalente para com Klein. Situações transferenciais que no consultório podem ser estabelecidas e mantida como algo separado da vida familiar cotidiana. Outra observação de um atendimento realizado no mesmo ano foi de uma menina de 7 anos que apresentava dificuldades neuróticas aparentemente não grave, mas os pais estavam preocupados com o desenvolvimento intelectual da criança. Embora bastante inteligente não acompanhava os demais de sua faixa etária, sua relação com a genitora era amistosa e de confiança, e, com o início da vida escolar passou a ser reservada e silenciosa. Klein passou algumas sessões sem muito contato, pelas falas e comportamentos da criança ficava claro que não gostava de ira a escola. Em uma sessão a criança estava aparentemente indiferente e retraída, não gostava de desenhar, com isso, Klein foi ao quarto de seus próprios filhos e pegou alguns brinquedos e dispôs para criança. A criança estava desinibida ao brincar, logo destacou duas figuras de brinquedo que representava a si mesmo e outro um menino pequeno, parecia haver algo secreto entre eles, pois sentia ressentimento com os outros bonecos que interferiam e espiavam eles. As atividades com os brinquedos levavam a catástrofes, tais como quedas, colisões de carros, eram repetidos e demonstravam sinais de ansiedade crescente. Neste ponto Klein interpreta que algo poderia ter acontecido ela e seu amigo e que estava com medo de ser descoberta e por isso desconfiava das outras pessoas. Assinalou também que quando brincava ficava ansiosa a ponto de parar a brincadeira. Lembrou que parecia que ela tinha medo da diretora descobrir sua relação com seu colega e a punisse. “Sobretudo estava com medo da mãe e, portanto, desconfiava dela e agora poderia estar desconfiada de mim”. O efeito dessa interpretação foi surpreendente, a ansiedade e desconfiança inicialmente aumentaram, mas logo deram lugar a um evidente alívio. Embora não admitisse e tampouco negasse as interpretações, demonstrou concordância apresentando novos materiais, tornando sua fala e brincar mais livres. Passou a melhorar sua relação com a família, a se interessar pelas lições, mas as inibições na aprendizagem estavam enraizadas em ansiedades profundas, resolvido gradativamente no decurso do tratamento. Klein sugeriu que os brinquedos fossem guardados em uma caixa, e, a partir das suas experiências decidiu os mais adequados para a técnica psicanalítica como brinquedos pequenos e de variedades que permita que a criança expresse suas fantasias e experiencia, que não fossem mecânicos e que as figuras humanas não tenham em particular, ocupação preestabelecida. No entanto os brinquedos não são os únicos requisitos para análise do brincar. Por exemplo: as atividades realizadas ao redor da pia que é equipada com 2 tigelas, copos e colheres. Frequentemente a criança pinta, recorta, conserta brinquedos. Em tais jogos a criança comumente atribui funções a si mesma e analista, assumem papeis dos adultos, demonstrando desejo de reverter os papeis, seu desejo de como os adultos deveriam se comportar em relação a ela. A agressividade é expressa em várias formas indiretas e diretas, o brinquedo quebra e quando a criança é mais agressiva investidas com tesoura, faca são dadas a mesa, as tintas espalhadas por todos os lados, um cenário praticamente de guerra. “Em geral sou capaz de transmitir à criança que eu não toleraria ataques físicos contra mim”. Essa atitude protege tanto o analistacomo a análise, evitando culpas e ansiedades persecutórias excessivas e desnecessárias. É essencial trazer a luz a agressividade da criança, mas o que conta mais é compreender nesse momento em particular da situação transferencial, como que aparecem os impulsos agressivos e suas consequências na mente da criança. Por exemplo: sentimento de culpa por ter quebrado um boneco que representava inconscientemente um irmão ou um pai, a interpretação tem que lidar com níveis mais profundos. Por exemplo, muitas vezes a criança deixa de lado o boneco danificado (representação de figura afetiva significativa, um irmão) demonstrando certa persecutoriedade de que a pessoa atacada tenha se tornado um retaliador, a culpa e depressão em excesso podem reforçar também o sentimento persecutório. E, o sentimento de perseguição pode ser tão forte que encobre os de culpa e depressão, que por sua vez, quando despertados pela percepção do dano produzido resultam em melhora. Quando isso acontece, percebemos melhora na relação com irmão, os sentimentos de culpa, depressão, o desejo de fazer reparações e o sentimento de amor que estava prejudicado pela ansiedade voltam a primeiro plano. “Nunca é demais, enfatizarmos a importância de tais mudanças para a formação de caráter e para as relações de objeto, assim como para estabilidade mental”. Ao contrário de Freud, Klein identificava no brincar em situação transferencial a possibilidade de interpretar com base na brincadeira produzida pela criança. Para ela as brincadeiras equivaliam às fantasias e davam acesso à sexualidade infantil e à agressividade. Com base nessa constatação, concebeu a relação transferencial e contratransferência entre criança e analista. A associação livre do adulto é um equivalente do brincar infantil para Klein, pois traduz ao analista o simbolismo de seu mundo interno. A teoria kleiniana permite a compreensão de processos transferenciais em idades muito tenras. Klein sugere interpretar a angústia no preciso momento em que ela aparece no atendimento. Klein desenvolveu a técnica do brincar e da utilização de jogos como meio de comunicação com as crianças. Nessa obra aparecem também as primeiras noções teóricas de maior alcance, como, por exemplo, a discriminação entre angústia persecutória e culpa, e a importância da transformação do superego arcaico em um superego desenvolvido, com sua forma acabada de consciência moral, capaz e tendo por pressuposto a capacidade de levar o outro em consideração. _______________________________________________________________ AULA 3: O Complexo de Édipo na obra de Melanie Klein. Bibliografia: KLEIN (1928) Estágios iniciais do conflito edipiano. In: KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Amor, culpa e reparação e outros trabalhos, Vol. I). KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. *Influências mútuas do desenvolvimento de ego e id (1952). *Sobre a observação do comportamento de bebês (1952). O Édipo em Klein Em 1921 Klein faz sua primeira menção ao Édipo no artigo "O desenvolvimento de uma criança" (1921/1996). Neste texto ela apresenta o caso de “Fritz”, de quatro anos e três terços, que apresentava atraso no desenvolvimento e inibição intelectual, por outro lado apresentava uma memória impressionante, na ocasião fazia muitas indagações sobre a origem dos bebês, depois “do reconhecimento do processo verdadeiro, o complexo de Édipo começou a ocupar o primeiro plano" (idem, p.57). A solução das dúvidas permitiu intervenções no sentido de: "a mamãe não pode ser sua mulher porque ela já é mulher do papai, e aí o papai ia ficar sem mulher" (idem, p.56). Quando klein passou a se dedicar a pensar sobre “os princípios da análise infantil”, ela participou de um simpósio sobre o assunto no qual esteve presente Ana Freud, o que permitiu uma série de polêmicas interessantes e a crescente consolidação de sua técnica psicanalítica do brincar, sempre enfatizava a importância de analisar a angústia e a culpa. Defendia também a tese que a situação analítica infantil deve ser equivalente à de análise com adultos, tanto em termos de interpretação de conflitos, quanto ao fato delas estabelecerem uma neurose de transferência com seus analistas. Na obra “Amor culpa e reparação” no texto sobre "Análise de crianças pequenas" (1923/1996) e "Princípios psicológicos da análise de crianças pequenas" (1926/1996), Melanie Klein se difere do conceito clássico do Édipo, preconizando a ideia que o complexo surge muito antes do que Freud acreditava, considerava suas manifestações por volta dos 2 ou 3 anos de idade (KLEIN, 1923/1996), depois passa a considerar a partir do segundo ano de vida (KLEIN, 1926/1996). Em seguida a partir do início do desmame e que se manifestam no final do primeiro e início do segundo ano de vida” (KLEIN, 1928/1996, p. 216). Desse modo, Klein afirma a existência do superego antes mesmo do conflito edípico, o que contrariava o que havia sido postulado por Freud, para quem o superego era compreendido como herdeiro do superego. Esse superego primitivo proposto por Klein é composto pelas identificações surgidas nas fases oral e sádico-anal que representavam um grande fardo para as crianças, e uma das tarefas da análise de crianças era diminuir seu poder de constrangimento suavizando-o. O conceito de superego precoce é um pressuposto imprescindível para o trabalho da análise de crianças, sendo também uma das descobertas iniciais mais importantes de Melanie Klein. Esse superego primitivo, de acordo com a autora, foi uma descoberta inesperada, ele é composto de várias identificações, é mais cruel do que sua forma posterior e é um fardo para o ego frágil da criança. Esse superego arcaico é muito mais cruel do que o dos adultos, devido à fantasia de “punições como ser castrado, cortado em pedaços, devorado etc.” (KLEIN, 1927a/1996, p.182), derivada da destruição do objeto por suas pulsões sádico- orais e sádico-anais. No texto “Estágios iniciais do conflito edipiano” (1928), a autora reitera que as tendências edipianas são liberadas como consequência da frustração da criança com o desmame, que se manifesta no final do primeiro ano de vida da criança, reforçada também pelas frustrações anais sofridas durante o treinamento de hábitos de higiene. Desse modo, o complexo tem início nas "fases pré-genitais do desenvolvimento" (KLEIN, 1928/1996, p.217), quando o objeto ainda é parcial. Assim, o medo da castração, sentimento de culpa estão intimamente relacionados com a formação do superego. Nesse sentido o pensamento da autora considera que o processo inicial das tendências edípicas, provocam importante ansiedade em decorrência das fantasias de ataques contra o corpo da mãe que faz surgir uma imago de uma mãe hostil que desmembra e castra” (KLEIN, 1928/1996, p.220). “O conflito entre o ego e o superego ... mostra que o superego possui uma severidade fantástica. Devido à fórmula bem conhecida que prevalece no Ics, essa criança antevê, por causa de seus próprios impulsos canibais e sádicos, punições como ser castrado, cortado em pedaços, devorado etc., vivendo num medo constante de que estas sejam levadas a cabo”. (Este trecho é endossado por Freud no Mal-estar da Civilização em nota de rodapé: “punições ameaçadas pelo superego da criança chega a ser grotesco, e é um lembrete de que não devemos de modo algum identificar os objetos reais com aqueles introjetados pela criança”. (Klein, 1927a, p.182)) A concepção kleiniana sobre a vivência edípica, implica na reformulação da teoria da sexualidade, é baseada no conceito de posições posteriormente denominada de esquizoparanóide e depressiva. Na ocasião a autora afirma que na posição oral, o bebê estabelecia dentro de si a imago devoradora, decorrentedo próprio desejo de incorporação, voltado contra si mesmo. Essa primeira dimensão do superego acenava com a ameaça de “devorar e ser devorado”, ao passo que as outras camadas acenavam para o risco de ser paralisado, controlado, queimado, invadido ou penetrado, revelando os demais traços sádico-anais, uretrais e fálicos. O que impulsiona a passagem de uma “posição” para outra é a frustração vivida nas posições anteriores, e a busca de novos objetos decorre do ódio sentido dos primeiros objetos. Desse modo, as posições se diferem das fases evolutivas propostas por Freud. As posições correspondem a modos de funcionamento das relações com os objetos e os mecanismos de defesa a eles associados. No estágio inicial, o bebê se relaciona com objetos parciais (seio, leite). Entre os seis e nove meses a criança tornou-se capaz de reconhecer a mãe, a mera aparição de uma pessoa estranha no lugar é suficiente para desencadear uma “angústia frente ao perigo de perda do objeto”, essa angústia é considerada a primeira triangulação do Édipo precoce de Klein. Melanie Klein introduz no conceito de Édipo precoce a partir das frustrações sofridas pela criança quanto a satisfação de suas tendências orais e anais levam- na a buscar novas fontes de prazer, ativando então a zona genital, com as fantasias de penetrar e ser penetrada. Ela afirma que o menino “passa a ter o objetivo de penetração associado a posse do pênis” e no caso da menina “o objetivo receptivo passa da posição oral para a genital”. No caso do menino, a ansiedade de castração abre espaço para o "complexo de feminilidade" (idem, p.219) oriundo do desejo de possuir um órgão especial, criador de vida, assim como o da mãe. Tal desejo frustrado que mais tarde pode ser transformado em agressividade e desprezo frente à figura feminina, por meio de uma espécie de fantasia de "superioridade" (idem, p.220), após a descoberta de seu pênis. Na menina, a ansiedade está centrada no medo de ter seu interior atacado pela mãe hostil, em seguida o medo de perdê-la. No menino o medo em perder o pênis e da menina em perder sua feminilidade colabora para refrear os impulsos edipianos" (idem, p.224). Para a autora o ódio e destrutividade preponderavam nas etapas pré-genitais, de outro, o amor e consideração estavam em alta na posição genital. As etapas pré-genitais configuram uma relação parcial, significa incorporação, posse, rivalidade e consumo, ao passo que a percepção do objeto total levaria um desejo de cuidar dele e à preponderância do amor sobre o ódio. No estabelecimento de relação de objeto parcial o amor e o ódio, bem como os aspectos bons e maus do seio, são mantidos amplamente separados um do outro e na posição depressiva são unificados, pois na ansiedade depressiva, o bebê sente que está destruindo um objeto inteiro com sua voracidade e agressão, sente que esses impulsos destrutivos são dirigidos contra uma pessoa amada" (KLEIN, 1952/1991, p.73). “A análise de crianças muito pequenas me revelou que até mesmo uma criança de três anos de idade já deixou para trás, a parte mais importante do desenvolvimento de seu complexo de Édipo. Como consequência, ela já está muito afastada, através da repressão e do sentimento de culpa, dos objetos que desejava originalmente”. (Klein, 1927a, pp.178-179). Assim Klein postulou que o propósito da análise seria a redução da força do superego primitivo ao contrário de Ana Freud que achava que de modo educativo o processo objetiva fortalecer o superego. Klein também se afasta da teoria de Freud considerando auge do complexo de Édipo por volta dos 3 anos. Influências mútuas do desenvolvimento de ego e id. Klein postulou a existência de um ego arcaico que estabelece relações objetais desde o início da vida. No começo ele é muito desprovido de coesão e é dominado por mecanismos de cisão. O perigo de ser destruído pela pulsão de morte dirigida contra o seu self contribui para cisão dos impulsos em bons e maus; devido aos impulsos sobre o objeto originário, este também é cindido em bom e mau. Como consequência, nos estágios mais iniciais, a parte boa do ego e do objeto bom estão, em certa medida protegidos, já que a agressão é desviada deles. Esses são processos específicos que a autora descreve como a base de uma segurança relativa do bebê muito pequeno, na medida que é possível alcançar segurança nesse estágio, ao passo que os outros processos de cisão, tais aos que levam a fragmentação, são prejudiciais ao ego e sua força. Junto a necessidade de cindir, existe desde o início uma tendência a integração que aumenta com o crescimento do ego. Esse processo de integração baseia- se na introjeção do objeto bom primordialmente um objeto parcial – o seio da mãe, embora outros aspectos da mãe também entrem até na mais antiga relação. Se o objeto interno é bem estabelecido com relativa segurança, ele se torna o cerne do ego em desenvolvimento. Klein foi original ao postular a existência de um ego rudimentar, já no recém- nascido, de considerar a pulsão de morte inata desde o início da vida, sob a forma de ataques contra o seio da mãe. Essas pulsões agindo dentro da mente promovem um terrível “angústia de aniquilamento”. Para se afastar de tais angústias, o incipiente ego do bebê lança mão de mecanismos primitivos de defesa contra ansiedade por meio de processos de introjeção e projeção. A autora afirma repetidamente que o ego estabelece relações de objeto a partir dos primeiros contatos com o mundo externo. Klein inclui neste processo, a teoria das pulsões de Freud, em que a pulsão de vida e de morte que o id, como reservatório das pulsões, opera ab initio. “Acredito que as fantasias estão em atividade desde o começo, do mesmo modo que as pulsões, e são a expressão mental da atividade de ambas as pulsões, de vida e de morte”. (Klein-1952 pág.68) O sistema específico de fantasias que se centram no mundo interno da criança é de suprema importância para o desenvolvimento do ego. Os objetos internalizados são sentidos pelo bebezinho como tendo vida própria, em harmonia ou em conflito uns com os outros e com o ego, de acordo com as emoções e experiências do bebê. Quando o bebê sente que contém objetos bons, ele vivência confiança, estima e segurança. Quando sente que contém objetos maus, ele vivência perseguição e suspeita”. (Klein -1952 pág. 83) Por outro lado, as relações com os objetos internos e externos é desde o começo, influenciado pelas frustrações e gratificações que fazem parte da vida cotidiana do bebê. Assim, a vida da criança pequena se constitui essencialmente da sua relação com seu objeto primário. Com isso, surge a figura que lhe dá o que é essencial na vida (alimento amor e compreensão), com o qual, a criança cria uma relação idealizada ela ama e se sente amada. Por outro lado, a criança passa por situação desagradáveis de necessidades não satisfeitas inevitáveis. O bebê não acha que deve enfrentar uma ausência, conceito apurada de mente imatura, mas sim uma presença maligna que lhe provoca sofrimento. Uma vez que sua mãe é figura central do mundo, o objeto maligno, embora diferente da mãe boa, também tem a forma dela, os sentimentos pelo objeto primário tendem a ser dirigidos ao mundo externo em geral, assim, se cria uma cisão fundamental: bom e mau. Mesmo na melhor das hipóteses, a relação com a mãe e seu seio nunca é livre de perturbações, já que a ansiedade persecutória fatalmente surgirá. A ansiedade persecutória está no seu auge durante os três primeiros meses de vida- o período da posição esquizoparanóide. Surge, no início da vida, como resultado da luta entre as pulsões de vida e de morte, e a experiência de nascimento contribui para isso. Sempre que os impulsos destrutivos surgem com muita força, a mãe e seu seio, são sentidos como persecutórios e, portanto, o bebê – inevitavelmente – sente algumainsegurança, essa insegurança paranoide tem origem na pulsão (inata) de morte. Quando surge a posição depressiva - comumente na metade do primeiro trimestre de vida – o ego está mais integrado. Isso se expressa por um sentimento mais forte de inteireza, que permite ao bebê ser mais capaz de se relacionar com a mãe, e mais tarde com outras pessoas, como uma pessoa completa. Assim a ansiedade paranoide dá lugar para ansiedade depressiva. Mas o próprio processo de integração tem efeito de mitigar o ódio através do amor, tornando os impulsos destrutivos menos poderosos. Dessa forma autora concebeu a mente como um universo de objetos internos que estão se relacionando entre si, por meio de fantasias inconscientes, constituindo a realidade psíquica. Além dos objetos totais ela concebeu os objetos parciais (figuras parentais representadas por um mamilo, seio, pênis etc. Postulou uma constante dissociação entre os objetos (seio bom X seio mau; idealizados x persecutórios) e entre as pulsões (destrutivas x criativas). AULA 4: O inconsciente Kleiniano. Tema de discussão: O inconsciente Kleiniano: Vida emocional e mundo interno: fantasia, cisão, projeção, introjeção, identificação projetiva. Bibliografia: Klein, M. (1991) in Inveja e Gratidão. Notas sobre alguns mecanismos esquizoides (1946). Mecanismos esquizoides. Em “Notas sobre alguns mecanismos esquizoides” Melanie Klein trata sobre a importância dos mecanismos e ansiedades arcaicas de natureza paranoide (perseguição) e esquizoide (divisão). Após desenvolver teorias sobre os processos depressivos na criança, da posição depressiva infantil, a autora passa a refletir e se preocupar com a fase precedente. Contudo, o objetivo do texto é de formular algumas hipóteses sobre as ansiedades e mecanismos arcaicos, iniciais do desenvolvimento. “As hipóteses sobre as ansiedades arcaicas foram extraídas por meio de inferências de materiais obtidos em análises de adultos e crianças e algumas hipóteses parecem estar de acordo com observações familiares ao trabalho psiquiátrico. Sustentar aos fatos exigiria um acúmulo de material clínico pormenorizado, para o qual não há espaço nos limites deste artigo”. (KLEIN 1946/1991) A autora compreende que surgem na infância ansiedades características das psicoses, que forçam ao ego a desenvolver mecanismos de defesa específicos. É nesse período que se encontra pontos de fixação de todos os distúrbios psicóticos. Klein expressa com frequência que o ego, as relações de objetos, os impulsos libidinais e destrutivos surgem desde o nascimento. Sobre o ego arcaico, Klein considera útil dar ênfase a noção dada por Winnicott à não integração do ego arcaico (situação patológica de não integração descrito por Winnicott de uma paciente que não podia distinguir entre sua irmã e ela mesma). Nesse sentido, o bebê não reconhece a existência de mais ninguém a não ser a de si mesmo (o seio da mãe para ele simplesmente uma parte de si mesmo – apenas uma sensação no início), e ele espera que todos seus desejos sejam satisfeitos. Ao descobrir que não pode suprir suas necessidades, põe a chorar e a gritar, torna-se agressivo. Nessa tríade ego, objeto e instintos, surgem as fantasias. Para autora, as fantasias são representantes das pulsões (vida x morte) libidinais e destrutivas com as quais a criança nasce, essas fantasias correspondem e dão certa figurabilidade mínima aos objetos da pulsão, é originaria, a criança nasce com a capacidade de criar fantasia que darão expressão a seus impulsos e suas reações instintivas. Para elaborar essa ideia de fantasia Klein se apoiou na ideia Freudiana de “realização alucinatória de desejo. A pulsão de morte seria, então, uma ameaça de aniquilação em abstrato, logo passa a manifestar-se em conexão com os objetos primários, vindo então a se tornar uma angústia persecutória, a aniquilação deixa de ser um perigo de uma ameaça abstrata e se transforma em um medo de ser aniquilado pelo objeto, perseguidor concreto que provoca terror. “Desde o início os impulsos destrutivos voltam-se para o objeto e se expressa em fantasias sádicos orais ao seio materno, os quais logo evoluem para ataques contra o corpo materno com todos meios sádicos. Os medos persecutórios decorrentes dos impulsos sádicos do bebê, de assaltar o corpo materno e retirar os conteúdos bons, bem como dos impulsos sádicos orais de pôr dentro da mãe os próprios excrementos (inclusive colocar seu corpo dentro da mãe e controlá- la), são de grande importância para o desenvolvimento da paranoia e da esquizofrenia”. (Klein -1946/1991). Nesse sentido, Klein sugeriu que essa relação com os objetos primários se dá através de introjeção e projeção entre os objetos e situações internas e externas. A introjeção ao lado da projeção, é um dos mecanismos de defesa mais fundamentais, ambos são responsáveis pela constituição do aparelho psíquico e dos objetos internos; São reguladores do prazer e desprazer do aparelho psíquico. A introjeção tem significante de incorporar, de trazer para dentro é internalizar. Essa imagem do objeto externo é mais ou menos distorcida pelas fantasias do bebê, na sua mente, o objeto internalizado é sempre mais ou menos distorcida pelas suas próprias fantasias. A projeção é uma operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro – pessoa ou coisa – qualidades, sentimentos, desejos e mesmo “objetos” que desconhece e recusa nele. “Ela é a primeira e mais fundamental dentre as nossas garantias ou medidas de segurança contra as sensações de sofrimento, de ser atacado, ou desamparado - da qual tantas outras decorrem – é esse processo que chamamos de projeção. Através desse processo, todas sensações ou sentimentos penosos e desagradáveis existentes na mente são automaticamente banidos para fora de nós, na expressão psicologicamente exata, culpamos alguém mais por eles.” Para um bebê a distinção entre os seus estados de prazer e desprazer, entre os sentimentos bons e mais dentro de si, refletem-se no mundo externo e influência sua diferenciação entre as coisas e pessoas boas e más no mundo externo. A projeção é a primeira reação do bebê ao sofrimento, e provavelmente permanece em todos nós como reação espontânea a qualquer sentimento penoso ao longo de toda nossa vida. O subsequente desenvolvimento mental permite cada um de nós, em grau variável, controlar ou refrear essa reação primitiva e subjetiva, substituindo-a por outros processos mais bem adaptados à verdade e à realidade objetiva da situação em que nos encontramos. (Joan Rivieri 1937). Segundo a autora, os medos persecutórios dos impulsos sádico-orais do bebê são de grande importância para o desenvolvimento da paranoia e da esquizofrenia. Por outro lado, postula que as ansiedades, mecanismos de defesas do ego, de tipo psicótico, possuem grande influência no desenvolvimento do ego e superego, como também, nas relações de objeto. Nesse sentido todo ego em seu estado inicial sofre estados transitórios de despedaçamento, entretanto, quando estes se ampliam, predominam e persistem, provavelmente estamos diante um caso de esquizofrenia. A posição paranoide precede a posição depressiva, que por sua vez, pode ser impedida devido ao excesso de perseguição. O fracasso de um ego frágil pode levar a um reforço regressivo dos medos persecutórios, e pode fortalecer a fixação para psicoses graves (esquizofrenias). Klein postula sobre a importância da introjeção do objeto bom, da necessidade de estabelecer objetos bons internos para segurança da criança em seu mundo interior e superação da fase depressiva. As fantasias de envenenamento e de ser devorado, como a maioria dos fenômenos que prevalecem nos primeiros meses de vida, são encontrados depois em quadrossindrômicos da esquizofrenia. (A esquizofrenia possui significado de fragmentação da alma, divisão do cérebro). No decurso do texto Klein enumerou diversas defesas típicas de um ego arcaico, tais como o mecanismo de cisão de objetos e de impulsos, idealização, negação da realidade interna (consiste em negar aspectos da realidade psíquica que provocam um aumento excessivo das excitações, tanto de ódio como de amor intensos) e externa, e abafamento das emoções. Sobre a cisão, em conexão com a projeção e a introjeção. De acordo com Freud, ela concorda que a projeção se origina da deflexão da pulsão de morte para fora, e ajuda o ego a superar a ansiedade livrando-o perigo e de coisas más. No que diz respeito a cisão do objeto, devemos lembrar que, nos estados de gratificação, os sentimentos amorosos se voltam para o seio gratificador, ao passo que nos estados de frustração o ódio e a ansiedade persecutória se ligam ao seio frustrador. A cisão de objetos é responsável pela criação de objetos bons e maus, a cisão dos impulsos é o que separa o amor e ódio. A idealização, fragmentação, dissociações são defesas esquizoides com significante de cisão (divisão), uma espécie de confusão do mundo interno e externo. Com seu desenvolvimento, interação (interno x externo) essa cisão dos bom e mau formados na mente do bebê resultam em uma introjeção de um objeto real. Neste processo a idealização (superestimação do objeto) é operante e faz com que o objeto se torne um perseguidor aterrorizante ou um objeto ideal, por exemplo, o seio bom inexaurível, disponível, sempre gratificador ou o seio mau que envenena. A idealização também é uma defesa contra a ansiedade persecutória, a introjeção do seio bom é fundamental para a integração do bebê, ele precisa conservar a crença da existência e presença do seio bom, pois somente assim poderá sentir-se seguro com estabilidade e segurança necessárias para suportar frustrações e privações. “A idealização está ligada à cisão do objeto, pois os aspectos bons do seio são exagerados como uma salvaguarda contra o medo do seio perseguidor”. Outra defesa primitiva é a identificação projetiva que se caracteriza por uma “evacuação” de conteúdos intoleráveis para o Eu atribuídos a um outro Eu/individuo. Assim, o sujeito projeta aspectos intoleráveis em si, são atribuídos a outros indivíduos, ocorre então um processo de “excisão” (partes), trata-se de uma visão seguida de projeção do aspecto cindido, dissociado, separado, expulso de si mesmo. Já a identificação introjetiva, identificação com outra pessoa através da internalização de suas características, ou parte delas. Controle onipotente do objeto, a palavra “onni”, no latim tem significante de tudo, portanto poder tudo. Por volta do quarto mês de vida, ocorre uma mudança significativa de relações de afeto do bebê, ele deixa de se relacionar com o objeto parcial e passa a se relacionar com o objeto total (mãe). Reconhece a mãe como semelhante, passa então a considerá-la, demonstra preocupação, inclusive teme sua perda. Mas para chegar a esta integração do eu com as pulsões, o bebê passa por diversas ansiedades advindas das pulsões que envolvem o eu obrigando-o a se defender. Em conclusão Melanie Klein (1946/1991) destaca algumas das relações de objeto perturbadas que são encontradas em personalidades esquizoides. A cisão violenta do self e a projeção excessiva tem por efeito fazer o objeto um perseguidor, uma vez que a parte odiada e destrutiva do eu é projetada e sentida como perigosa ao objeto amado, portanto, a origem da culpa também tem origem no processo de projeção. Fonte: Klein, M. (1991). Notas sobre alguns mecanismos esquizoides. Em Inveja e gratidão e outros trabalhos (pp. 17-43). Rio de Janeiro, Imago (Trabalho original publicado em 1946). AULA 5: Tema de discussão: Posição esquizo-paranóide, Posição depressiva e luto. Referências: KLEIN (1935) Capítulo: Psicogênese dos estados maníaco-depressivos; KLEIN (1940) Capítulo: O luto e suas relações com os estados maníaco- depressivos. In:KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Amor, culpa e reparação e outros trabalhos, Vol. I). KLEIN (1959) Capítulo 12: Nosso mundo adulto e suas raízes na infância. CINTRA, E. M. U.; FIGUEIREDO, L.C. Melanie Klein, estilo e pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. Posição esquizo-paranóide, Posição depressiva. Tendo como base seus trabalhos com análise de crianças, Klein afirma a presença de sentimento de culpa muito antes dos três e dos quatro anos. Essas observações analíticas levaram a hipótese de um superego precoce, formado pela introjeção das figuras edipianas arcaicas, atacadas pelo sadismo infantil e tornadas ameaçadoras mediante o retorno do sadismo sobre a própria criança. Desse modo ela deixa explicito a noção de que a criança projeta sua agressividade sobre figuras parentais e que a característica aterrorizante do superego decorre de tal projeção. Klein discorre sobre as vantagens pessoais e sociais decorrentes da transformação do superego aterrorizador em consciência moral benigna, capaz de limitar a insaciabilidade destrutiva e modificá-la, por meio de mecanismos sublimatórios. O conceito de posição compreende uma colocação perante o objeto, na posição paranoide, estar diante ao objeto indicava o seu consumo e, inversamente o medo de perseguição, pois as partes maltratadas ou excluídas vinham a se tornar fontes ameaçadoras. Na posição depressiva estar diante ao objeto é antes de tudo reconhecê-lo como alguém que desejo preservar e que posso perder. Na posição esquizoparanoide o pós-natal despoja de um ego rudimentar, arcaico e fragmentado. Para o bebê o seio é um objeto parcial, o próprio leite é um objeto parcial, e ele tem o desejo de “devorar” atacar o seio. Nos primeiros meses de vida, quando o bebê se encontra na posição esquizo-paranóide, o seio/leite é um objeto a ser consumido. Para Klein uma relação feliz com a mãe e seu seio nunca é livre de perturbações, já que a ansiedade persecutória fatalmente surgirá. A ansiedade persecutória está em seu auge durante os três primeiros meses de vida. Nessa posição predomina a desconfiança na bondade dos objetos devido aos impulsos destrutivos que surgem com muita força, a mãe e seu seio, devido a projeção, são sentidos como persecutórios e, portanto, o bebê sente, inevitavelmente, insegurança. Na posição paranoide o bebê experiência uma ansiedade persecutória, ele teme sofrer com o ataque do objeto, nesta forma de ansiedade, a preocupação é com a preservação do próprio eu (medo do aniquilamento). A posição esquizo-paranóide se refere a um estado psíquico, sua base etimológica esquizo provém do grego com significante de cisão, dissociação, divisão. Ela se caracteriza por defesas esquizoides, ou seja, fragmentações, dissociações, idealizações, interligados a paranoide, perseguição. A ansiedade persecutória ou paranoide é a forma mais primitiva da ansiedade advinda do medo do aniquilamento. A cisão, idealização, a projeção, a negação da realidade psíquica são defesas contra ansiedades persecutórias, defesas muito arcaicas e são dirigidas contra os impulsos agressivos. Para Klein os impulsos agressivos, são mais intensos nos primórdios da vida, quando a criança se encontra na posição esquizo-paranóide, e ela se caracteriza pelos seguintes aspectos, pulsões agressivas particularmente intensas, aspecto clivado, dividido em dois, bom e mau (não há meio termo), a ansiedade é sempre de natureza persecutória. A gratificação pelo seio nutridor é a primeira forma de gratificação experienciada pelo bebê (seio bom que alimenta e o mau que frustra). Nesse sentido, ocorre uma cisão. O seio bom e o seio mau são “imagos” que se formam na mente do bebê. Essas “imagos” do seio resultam em introjeçãodo seio real (introjeção, internalizar, incorporar, trazer para dentro). Essa imagem do objeto externo é sempre mais ou menos distorcida pelas suas próprias fantasias. Uma relação inicial satisfatória com a mãe implica um contato íntimo entre o inconsciente da mãe e o da criança. Junto a necessidade de cindir, existe desde o início da vida uma tendência a integração, que aumenta com o crescimento do ego. (Klein - 1963) Por volta do quarto, quinto mês ocorre uma mudança significativa nas relações de afeto do bebê o objeto parcial passa a se tornar total, mais próximo ao real. O bebê se identifica com a mãe e a reconhece como semelhante, se preocupa com ela e tem medo de perdê-la. Neste mesmo período, quarto mês de vida, a criança ingressa na posição depressiva e nessa posição o afeto é algo que deve ser preservado e não devorado. Na posição depressiva, a criança começa a ver o objeto como semelhante, o bebê teme danificá-lo, teme que o objeto ao qual depende desapareça. Nesse caso predomina uma relação de confiança na bondade dos objetos e o processo de introjeção do seio bom converte-se na fonte de segurança e bondade, durante a posição depressiva a ansiedade persecutória diminui. “Quando surge a posição depressiva, comumente na metade do primeiro semestre de vida, o ego já está mais integrado. Isso expressa um sentimento de inteireza, que permite ao bebê ser mais capaz de se relacionar com a mãe, e mais tarde com as pessoas, como uma pessoa completa” (Klein 1963). “A integração se puder ser alcançada tem efeito de mitigar o ódio através do amor e, dessa forma, tornar os impulsos destrutivos menos poderosos” (Klein 1963). Na posição depressiva o bebê experiencia uma ansiedade depressiva (ansiedade com traços de culpa), sente culpa por ter atacado a mãe em sua fantasia. O bebê tende a idealizar o seio “bom”, o seio ideal, inexaurível, sempre disponível, sempre gratificador. A introjeção do seio bom é fundamental para integração do bebê. Para Klein a integração do ego resulta na diminuição da ansiedade persecutória. O bebê precisa conservar a crença de um seio bom, pois só assim poderá sentir- se seguro e estabelecer uma relação de confiança com o objeto. Esses sentimentos são fundamentais para a construção de um objeto interno bom. A internalização do objeto bom proporciona para o bebê sentimentos de segurança e confiança necessárias para suportar frustrações e privações. A introjeção do objeto bom consiste na colocação para dentro do aparelho psíquico de todas as experiências de prazer, formando um registro dinâmico (constelação), isto é, de uma reserva interna de experiências de prazer e a segurança, aumentando a capacidade de tolerar estados transitórios de privação e frustração. Esse registro dinâmico de inúmeras situações de prazer (de sentir desejado, amado, cuidado) funciona como uma garantia de acesso ao prazer. Isso alimenta a esperança na criança e aumenta sua capacidade de suportar frustração, privações e perdas. Para autora, durante os primeiros cinco anos de desenvolvimento, ocorre uma alternação muito característica entre as posições esquizoparanóide e depressivas (embora, ao longo da vida, sempre haja uma alternância entre as duas posições e isso faz parte da saúde mental). Melanie Klein considera a elaboração da posição depressiva é o ponto mais importante do desenvolvimento infantil: nos casos mais bem sucedidos, ocorre uma predominância da posição depressiva sobre a posição paranoide, o que significa ter havido uma firme introjeção do objeto bom, aspecto que será decisivo para determinar a capacidade de amar e de reparar. Sem isso, as defesas maníacas continuarão prevalecendo, e o retorno à posição paranoide será inevitável. Se uma criança tiver serias dificuldades para elaborar a posição depressiva, ela poderá apresentar distúrbios maníacos depressivos na vida adulta. Podemos também afirmar que a cisão entre “figuras excessivamente boas e más” é o que caracteriza a posição paranoide, ao passa que o desenvolvimento da posição depressiva envolve a unificação dessa bondade e maldade, conduzindo a imagos mais moderadas. A elaboração bem-sucedida da posição depressiva, envolve a capacidade de superar a ambivalência, que nunca será eliminada. A saúde psíquica e a capacidade de amar depende da habilidade de suportar a ambivalência. “Quando o bebê alcança a posição depressiva e torna-se mais capaz de enfrentar a sua realidade psíquica, sente também que a “maldade” do objeto é devida em grande parte à sua própria agressividade e à projeção decorrente”. (Inveja e Gratidão pag. 228) Ao longo da vida sempre haverá uma alternância entre as duas posições, elas coexistem a vida toda e essa interligação perpetua conflito pelo resto da vida. “Minha experiência tem-me mostrado que nunca há uma integração completa, mas que quanto mais o indivíduo se esforçar nessa direção, mais insight terá sobre suas ansiedades e impulsos, mais forte será o seu caráter e maior seu equilíbrio mental”. (Inveja e Gratidão- pág. 312) Sobre o sentimento de culpa e defesas maníacas. Por que a intenção é equiparada a execução? Como preconizado por Freud, a criança teme a perda do amor dos pais, pois ela depende deles para sobreviver. Para Freud o termo culpa se aplica as manifestações de consciência resultantes do superego. Para ele, o termo não se aplica as crianças com menos de 3 ou 4 anos de idade. Para ele a criança não sente culpa, e sim medo de perder o amor dos pais. Ao contrário de Freud, Klein sustenta que as crianças menores de 3 anos já experienciam a culpa. Isso ocorre porque ela deriva a culpa dos impulsos agressivos. Para ela a culpa provém da agressão, ou seja, quando o individuo ataca o objeto amado, ele sente culpa pela agressão. Para Klein a culpa se acha intimamente vinculada a ansiedade depressiva e a tendência de fazer reparação. Entende que a essência da culpa reside no sentimento que o indivíduo tem, de ter danificado o objeto amado bom. A criança, no entanto, pode sentir que feriu sua mãe quando não feriu de fato, esse dano pode não ser real. Nos primórdios da vida, a criança ainda não é capaz de distinguir seus impulsos dos efeitos que eles realmente provocam. A criança ainda não consegue discernir o que é imaginário e o que é real, o seu mundo interno com seu mundo externo. Isso se deve a sua onipotência dos pensamentos. Após sentir culpa dos ataques reais ou imaginários a seus objetos de amor, a criança tem o ímpeto de repará-los. A necessidade de reparar o objeto amado surge da culpa. No entanto as operações de reparação nem sempre ocorrem na medida necessária, podem tornar mais forte e frequente as chamadas defesas maníacas. As defesas maníacas expressam o desejo de anular todos os ataques sádicos realizados na posição paranoide, com a anulação mágica dos efeitos dos ataques sádicos, são dissolvidos, igualmente, os perseguidores. As defesas maníacas o libertam da culpa e do medo do aniquilamento. A depressão surge do sentimento de perda. O temor de perder a mãe desperta sentimentos depressivos na criança, dessa forma o ego mobiliza defesas contra ansiedades de culpa e depressão, assim mobiliza defesas contra a culpa e do medo de perder o objeto bom conhecidas como defesas maníacas, as defesas maníacas se caracterizam pela tríade: 1- Triunfo. 2 – Desprezo. 3 – Controle onipotente. O triunfo sobre o objeto é caracterizado pelo desejo de dominar, sobrepujar o objeto. Por exemplo: A criança tem o sonho de crescer e ser grande igual os pais, pode ter a seguinte fantasia: haverá um dia que eu serei rico, poderoso e os pais se tornarão crianças indefesas, ou estarão velhos e pobres. O desprezo também é uma defesa maníaca e está ligada no mecanismo de negação. O sujeito despreza o objeto bom. Nega sua dependência dele, nega que precisa do outro. Negasua dependência perigosa e escravizante do aspecto amado. Pode depreciar aquilo que não pode ter, para não ficar desapontado consigo mesmo. No controle onipotente do objeto, o sujeito nega a culpa decorrente de sua própria hostilidade para com o objeto. Nega que danificou o objeto, por um lado, nega o medo de ser atacado pelo objeto danificado e por outro, nega o medo de perder o objeto bom. O luto. O luto nas perspectivas Kleinianas. Em um sentido mais estrito, o luto é um sentimento de pesar pela perda de um ente querido. Num sentido amplo, podemos entender que o luto é a perda de alguém que consideramos importante, ou algo que consideramos valioso. “O luto é a perda de uma pessoa amada ou a perda de abstrações colocadas como pátria, liberdade, um ideal”. Após um período o luto é superado, esse processo de superação do luto, na psicanálise é chamado de trabalho de luto, o luto não é considerado um estado patológico. O alheamento em relação ao mundo externo é um aspecto característico do processo de luto. Com o tempo, o choro e a tristeza diminuem, o sujeito se consola e aos poucos se reorganiza. Quanto maior o apego ao objeto perdido, maior o sofrimento de luto. A dor não deve ser negada deve ser vivenciada para suportar o luto. A duração do luto varia de acordo com, as características pessoais do sujeito enlutado, laço afetivo do sujeito com o objeto perdido e a forma como perdeu. Mortes traumáticas e inesperadas geralmente demoram mais para serem digeridas. “É impressionante que encaremos um incômodo tão penoso como algo tão natural. Cada lembrança, situações de expectativa demonstra o apego para com a pessoa perdida, juntamente quando se depara com a imposição da realidade que esse não existe mais. Mesmo que por fora não pareça devido ao alheamento do mundo, há uma grande luta por ser travada internamente”. O anseio pela pessoa amada implica na dependência, apego em relação a ele. Em alguns casos o luto pode ser patológico, o luto não é enfrentado de forma adequada. Para atravessar com sucesso o primeiro luto a criança deve ter introjetado um objeto bom. Assim, quando o sofrimento é vivido ao máximo e o desespero atinge seu auge, o indivíduo de luto vê brotar novamente seu amor pelo objeto. Ele sente com mais força que a vida continuará por dentro e por fora, e que o objeto amado perdido pode ser preservado em seu interior. Nesse estágio do luto, o sofrimento pode se tornar produtivo. Sabemos que experiências dolorosas de todos os tipos às vezes estimulam as sublimações, ou até despertam novas habilidades nas pessoas, que começam a pintar, escrever ou iniciam outras atividades produtivas sob a pressão das frustrações e\adversidades. Se o indivíduo não tem um objeto bom interno suficientemente estabelecido, sua capacidade de suportar perdas diminui. Consequentemente ele tende a fracassar no luto. O que o maníaco depressivo e o sujeito que fracassa no trabalho de luto tem em comum? A mania é caracterizada pela elação, elevação do eu e humor acompanhada por uma aceleração do nível global de atividade psíquica. Já a depressão é polo oposto, onde o sujeito deprimido não tem vontade de fazer suas vontades cotidianas. Para Klein ambos não desenvolveram o estabelecimento de objetos bons na infância. Se um indivíduo não tem objetos bons internos, dentro de si, vivera em uma perda com desesperança e ficará propenso a desenvolver uma afecção psíquica, mania e depressão. AULA 6: Tema de discussão: Inveja e Gratidão. Bibliografia: KLEIN (1957) Capítulo 10: Inveja e Gratidão; KLEIN (1959) Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III). KLEIN (19). Sobre a teoria da ansiedade e da culpa. In: KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III). Inveja e Gratidão (1957) A inveja está relacionada diretamente a um único objeto, EU outro, não envolve terceiro. Inveja-se o que outro possui, suas qualidades pessoais, capacidades e conquistas. A inveja implica na espoliação do objeto, pela hostilidade para com a pessoa invejada. Segundo Melanie Klein “a inveja é um fator muito importante para o solapamento das raízes dos sentimentos de amor e gratidão, pois ela afeta a relação mais antiga de todas, a relação com a mãe”. A autora considera a inveja uma expressão sádico-oral (consumir o seio) e sádico anal (controle excessivo dos objetos) de impulsos destrutivos, em atividade desde o começo da vida, e que tem base constitucional. Considera que se deve “fazer distinção entre a inveja, ciúmes e voracidade. A inveja é o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta algo desejável – sendo o impulso invejoso de tirar este algo ou de estragá-lo. Além disso, a inveja pressupõe a relação do indivíduo com uma só pessoa e remonta à mais arcaica e exclusiva relação com a mãe. O ciúme é baseado na inveja, mas envolve a relação com, pelo menos, duas pessoas; diz respeito principalmente ao amor que o indivíduo sente como lhe sendo devido e que foi tirado, ou está a perigo de sê-lo, por seu rival. Na concepção corriqueira de ciúme, um homem ou uma mulher se sente privado, por outrem, da pessoa amada”. (pág. 212) “A voracidade é uma ânsia impetuosa e insaciável, que excede aquilo que o sujeito necessita e o que o objeto é capaz e está disposto a dar. A nível inconsciente, a voracidade visa, primariamente, escavar completamente, sugar até deixar seco e devorar o seio; ou seja, seu objetivo é a introjeção destrutiva, ao passo que a inveja procura não apenas despojar dessa maneira, mas também de depositar maldade, primordialmente excrementos maus e partes más do self, dentro da mãe, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de estragá-la e destruí- la. No sentido mais profundo, isso significa destruir a criatividade da mãe. Esse processo, que deriva de um impulso sádico uretrais e sádicos anais, foi por mim definido em outro artigo como um aspecto da identificação projetiva, começando desde o início da vida. Uma diferença essencial entre voracidade e inveja, embora nenhuma linha divisória rígida possa ser traçada visto estarem tão estreitamente associadas, seria, então, que a voracidade está ligada principalmente à introjeção e a inveja à projeção”. (pág. 213) De acordo com Klein, o invejoso não tolera algo que o outro usufrui, pois não é capaz de expressar gratidão. Uma pessoa muito invejosa tende a se tornar insegura/desconfiada, pois a inveja impede de estabelecer relações objetais boas e confiáveis. A pessoa invejosa também teme a inveja dos outros. Quando uma pessoa invejosa tem boas experiências de prazer, lhe ocorre o oportuno sentimento de que poderia ter mais do que tem ou que outra pessoa tem mais que ela. “Pode-se se dizer que a pessoa muito invejosa é insaciável, que nunca pode ser satisfeita porque sua inveja brota de dentro e, portanto, sempre encontra um objeto sobre o qual focalizar-se. Isso mostra também a intima conexão com o ciúme, voracidade e inveja”. Dentre as defesas mais empregadas contra a inveja, se destacam: a idealização, o invejoso tende a idealizar a tal forma a pessoa que se inveja, que a distância é tão grande que nenhuma comparação é possível; a desvalorização de si, faz parecer não possuir algo a oferecer, aumentando a distância de si mesmo e a pessoa invejada; provocar inveja em outrem ou evitar situações que provoquem rivalidade e inveja; desprezo, depreciar aquilo que inveja. Todos nós temos que lidar com a inveja, contrabalançando, a inveja que sentimos, com a nossa capacidade de sentir calor humano e gratidão. (Beth Joseph) “Não é preciso dizer que os nossos pacientes nos criticam por uma variedade de razões, às vezes justificadamente. Mas a necessidade que tem um paciente de desvalorizar otrabalho analítico que experimentou como proveitoso é expressão de inveja”. (pág. 215) A gratidão é o sentimento que o indivíduo tem por receber algo vindo do outro. A etimologia da palavra gratidão vem de uma expressão latina gratus, que é traduzida como estar agradecido ou ser grato. Além disso, gratidão deriva também de gratia, que em latim quer dizer graça. Klein relaciona a capacidade de amar com o sentimento de gratidão. “O bebê só pode sentir satisfação completa se a capacidade de amar é suficientemente desenvolvida; e é a satisfação que forma a base da gratidão”. Freud descreveu o êxtase do bebê na amamentação como protótipo da gratificação sexual. Ao entendimento de Klein essas experiências não constituem apenas a base da gratificação sexual, mas também de toda felicidade subsequente. “Em condições favoráveis, tal compreensão não necessita de palavras para expressá-la, o que demonstra sua derivação da intimidade mais inicial com a mãe, no estágio pré- verbal. A capacidade de fruir plenamente a primeira relação com o seio forma a base para sentir prazer proveniente de diversas fontes”. “Se há experiência frequente de ser alimentado sem que a satisfação seja perturbada, a introjeção do seio bom se dá com relativa segurança. Uma gratificação plena ao seio significa que o bebê sente ter recebido do objeto amado uma dadiva especial que ele deseja guardar... o individuo sente estar controlando, exaurindo e, portanto, danificando o objeto, ao passo que, numa boa relação com o objeto interno e externo, predomina o desejo de preservá-lo e poupá-lo”. (a criança investe no mundo externo, desse modo ele ama e protege, dando base a confiança em sua própria bondade) Quanto mais se experiencia a gratificação proporcionada pelo seio, são sentidas satisfações e a gratidão, por conseguinte, o desejo de retribuir o prazer forma a capacidade de reparação. “A gratidão está intimamente ligada à generosidade. A riqueza interna deriva de ter o objeto bom assimilado de maneira que o indivíduo se torna capaz de compartilhar com outros os dons do objeto. Isso torna possível introjetar um mundo externo mais amistoso, a que se segue um sentimento de maior riqueza. Mesmo o fato de a generosidade ser frequentemente pouco reconhecida não solapa necessariamente a capacidade de dar. Em contraste, nas pessoas em que esse sentimento de riqueza e forças internas não se acha suficientemente estabelecido, acessos de generosidade são muitas vezes seguidos por uma necessidade exagerada de reconhecimento e gratidão e, consequentemente, por ansiedades persecutórias de haverem sido empobrecidas e roubadas”. “Frequentemente encontramos expressões de gratidão que se revelam movidas muito mais por sentimento de culpa do que pela capacidade de amar. Acho que importante a distinção entre tais sentimento de culpa e gratidão em nível mais profundo. Isso não quer dizer que um certo elemento de culpa não entre nós mais genuínos sentimentos de gratidão”. “As atividades construtivas e criadoras, os sentimentos sociais e cooperativos são então sentidos como moralmente bons, e são, portanto, o meio mais importante de manter a distância ou para superar a sensação de culpa. Quando os vários aspectos do superego se tornam unificados (que é o que acontece com pessoas maduras e equilibradas), o sentimento de culpa não desaparece, mas integra-se na personalidade, juntamente com meio de contrabalançá-lo.” SOBRE A TEORIA DA ANSIEDADE E DA CULPA (1948) Com respeito a culpa, Freud sustenta sua origem no complexo de Édipo e que surge em decorrência dele. Há passagens entretanto, nas quais Freud claramente fez referência a conflito de culpa que surge num estágio de vida muito anterior. Freud escreveu” ...o sentimento de culpa é uma expressão do conflito devido à ambivalência, da eterna luta entre Eros e a pulsão de destruição ou de morte”. Melanie Klein acrescenta que a eterna luta entre as tendências de amor e de morte, há....um aumento do sentimento de culpa”. “Klein propôs a seguinte hipótese sobre a ansiedade. “A ansiedade é despertada pelo perigo proveniente da pulsão de morte que ameaça o organismo; e sugeri que essa é a causa primordial da ansiedade. A descrição de Freud da luta entre as pulsões de vida e de morte (luta que leva à deflexão, para fora, de uma parcela de pulsão de morte, e à fusão das duas pulsões) apontaria para a conclusão de que a ansiedade tem origem no medo da morte” “Em seu artigo sobre o masoquismo, Freud tirou algumas conclusões fundamentais acerca das conexões entre o masoquismo e a pulsão de morte, e considerou sob a luz as várias ansiedades resultantes da atividade da pulsão de morte voltada para dentro. Dentre essas ansiedades não mencionou, no entanto, o medo da morte”. “Seguindo essa concepção, desde o início o medo da morte se imiscui no medo ao superego, e não é, como Freud afirmava, uma “transformação final” do “medo do superego”. “Um dos resultados do novo trabalho sobre a agressividade foi o reconhecimento da importante função da tendência reparatória, que é uma expressão da pulsão de vida em luta contra a pulsão de morte. Não só se teve melhor perspectiva dos impulsos destrutivos, como também se lançou mais luz sobre a interação entre as pulsões de vida e de morte, e, por conseguinte, também sobre o papel da libido em todos os processos mentais e emocionais”. “No decorrer deste trabalho deixei claro o ponto que sustento de que a pulsão de morte (impulsos destrutivos) é o fator primário na gênese da ansiedade. Ficou, no entanto, também implícito, na minha exposição dos processos que conduzem à ansiedade e à culpa, que o objeto primário contra o qual se dirigem os impulsos destrutivos é o objeto da libido (objeto de amor/mãe), e que o que causa a ansiedade e culpa é, portanto, a interação entre a agressividade e a libido(amor)- em última análise, a fusão, assim como a polaridade, das duas pulsões. Outro aspecto dessa interação é a mitigação (aliviamento, alívio) dos impulsos destrutivos pela libido(amor). Um nível ótimo na interação entre libido e agressividade implica que a ansiedade proveniente da perene (perpetuo) atividade da pulsão de morte, embora jamais eliminada, é contrabalançada e mantida à distância pela força da pulsão de vida”. Referências: KLEIN (1957) Capítulo 10: Inveja e Gratidão; KLEIN (1959) Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III). KLEIN (19). Sobre a teoria da ansiedade e da culpa. In: KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. (Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III). AULA 7: Tema de discussão: A Clínica Kleiniana. Bibliografia: Klein, M. (1991). As origens da transferência. Em Inveja e Gratidão e outros Trabalhos, vol. III das Obras Completas de Klein, Rio de Janeiro: Imago, (original de 1952) A transferência na escola Kleiniana. Melanie Klein, reconhecida como psicanalista pioneira a utilizar sistematicamente brinquedos como técnica e instrumento de análise. Sua prática dá ênfase na relação analista-analisando e à transferência, ou seja, o aqui e agora no setting, uma das suas maiores contribuições teóricas a psicanálise a “teoria das posições”. Como já vimos em aulas anteriores, Klein compreende que na posição esquizoparanóide, a ansiedade predominante para o EU, é de perseguição. Com o desenvolvimento do bebê, surge a posição depressiva que se dá pela dor e tristeza que a criança sente com a percepção de que sua mãe é inteira, autônoma e separada dela e pode ir embora quando quiser. Nesta posição a ansiedade é pelo objeto, ou seja, pelo dano (imaginado ou real) que o eu pode causar no objeto, essa condição gera culpa e a maior defesa é a reparação. Klein postula considerando Freud a pulsão de morte opera desde início no psiquismo e consideraa inveja primária como constitucional, assim como, mecanismos de defesas antigos e arcaicos, por exemplo, a identificação projetiva que consiste em uma fantasia de projeção de partes cindidas de si mesmo para o interior de outra pessoa com intuito de controlá-lo internamente. Para ilustrar, um exemplo: o paciente é informado sobre as férias do analista; e ele responde: como que eu fico? Com quem vou falar? Isso é imoral, um absurdo o analista tirar férias. Nesse momento para o paciente o analista não é visto como um indivíduo total, que possui cansaço e direito a férias. Quem está sendo imoral com isso? O paciente (vê o analista como parcial, algo a ser consumido) tenta controlar o analista por dentro, infringindo culpa, querendo implantar uma ideia no analista de que ele é imoral e sua ação absurda. Se o analista sente culpa e adia suas férias, a identificação projetiva foi exitosa. Freud conceitua a transferência como o processo por meio do qual certas relações e acontecimentos do passado, junto com seus componentes afetivos, são repetidos (ou reeditados) na relação com o analista, sob a influência do princípio da compulsão à repetição. No caso Dora (1905) Freud já define e caracteriza o fenômeno transferencial em seus componentes essenciais. Klein em origem da transferência, compreende de que a transferência se deriva dos mesmos processos que determinam as relações do objeto. Sendo eles introjeção e projeção. Para a autora o essencial na transferência não reside na relação entre passado e presente, mas sim na relação existente entre mundo interno e mundo externo. “A primeira forma de ansiedade é de natureza persecutória. O trabalho interno da pulsão de morte, que, de acordo com Freud, é dirigido contra o organismo, da origem ao medo do aniquilamento, e essa é a causa primordial da ansiedade persecutória, os impulsos dirigidos contra o objeto incitam medo da retaliação” (pág. 71). Klein afirma: "Minha concepção de transferência como algo enraizado nos estágios iniciais do desenvolvimento e nas camadas mais profundas do inconsciente é muito mais ampla, envolvendo uma técnica através da qual, a partir da totalidade do material apresentado, são deduzidos os elementos inconscientes da transferência. Por exemplo, relatos de pacientes sobre suas vidas, relações e atividades cotidianas não só nos oferecem uma compreensão do funcionamento do ego, mas revelam igualmente as defesas contra a ansiedade suscitadas na situação de transferência, caso exploremos seu conteúdo inconsciente”. Cabe lembrar, neste ponto, que as fantasias ocorrem no nível inconsciente da mente e podem, eventualmente, tornar-se conscientes. Elas são a "matéria prima" do inconsciente e, como tal, permeiam toda a vida mental que, por sua vez, está na base do comportamento manifesto dos indivíduos. ... "o estilo e o tom de voz ao falar, a -postura corporal, o modo de andar, de apertar a mão, a expressão facial, a caligrafia e os maneirismos, em geral, também são determinados, direta ou indiretamente por fantasias específicas. Estas são, usualmente, muito complexas, relacionadas com os mundos interno e externo, e vinculadas à história psíquica do indivíduo" (pág. 114). "De mesmo modo, as mais vastas expressões sociais do caráter e personalidade mostram-nos também a potência das fantasias. Por exemplo, as atitudes das pessoas em matérias tais como o tempo, dinheiro e posse de bens, ser pontual ou atrasar-se, dar e receber, liderar ou ser adepto, estar 'no centro do palco' ou concentrar-se em trabalhar nos bastidores etc. são sempre expressões que, na análise, se verifica estarem relacionadas com certos conjuntos específicos de variadas fantasias" (pag. 155). A fantasia é considerada o substrato da vida mental, elas representam também as ansiedades e defesas, que são outros conceitos a serem abordados. O paciente está fadado a lidar com conflitos e ansiedades, revividos na relação com o analista, empregando os mesmos métodos a que recorreu no passado. Isto quer dizer que ele se afasta do analista como tentou se afastar de seus objetos primários; tenta cindir a relação com eles, mantendo-os como figuras boas ou más; deflete alguns dos sentimentos e atitudes vividos em relação ao analista para outras pessoas em sua vida cotidiana, e isto é parte da situação transferencial. Na relação dupla transferencial, existem basicamente dois tipos de ansiedade: a paranoide e a depressiva. A primeira sinaliza o perigo do ego ser destruído por objetos internos e externos, e a segunda, o perigo de danificar ou destruir os objetos amados. A ansiedade paranoide está relacionada à posição esquizoparanóide, que se caracteriza por uma vivência de objetos parciais e por um splitting entre os objetos frustradores e os gratificadores. Os objetos parciais que frustram são violentamente atacados ao nível das fantasias e se tornam terríficos, ameaçando constantemente o ego, que se sente em perigo. “convenci-me de que a análise da transferência negativa, que havia recebido pouca atenção na técnica psicanalítica, constitui uma precondição para analisar as camadas mais profundas da mente”. Já a ansiedade depressiva está associada à posição depressiva, um estado mental que se caracteriza por um contato com o objeto total, ou seja, a percepção de que é o mesmo objeto que frustra e gratifica. Esta integração concomitante do objeto e do ego gera o medo de que a parte má do ego vá danificar ou destruir o objeto que, ambivalentemente, o gratifica e o frustra. Estas ansiedades, ao serem vivenciadas, mobilizam defesas no ego, que são formas de reagir a estes "perigos". A ansiedade paranoide gera defesas tais como projeção, splitting, negação, identificação projetiva e idealização, todas elas com a finalidade de livrar o ego de seus perseguidores. Por intermédio destas defesas, o ego procura afastar-se dos perigos que julga serem externos e colocar fora de si as partes que são sentidas como perigos internos. Paralelamente, busca identificar-se com os objetos idealizados para sentir-se suficientemente forte diante dos perseguidores. São tempos de guerra para o ego e, consequentemente, o sofrimento mental é intenso. O indivíduo está sempre alerta, amedrontado, aterrorizado e as defesas de que se utiliza, em geral, provocam fragilidade do ego e afastamento da realidade. A ansiedade depressiva também mobiliza um sistema poderoso de defesas, a saber, as defesas maníacas. O ego, ao entrar em contato com sua capacidade destrutiva e com a possibilidade de perder o objeto amado, defende-se com sentimentos de desvalorização, desprezo e triunfo sobre o objeto, na tentativa de negar sua importância e, assim, afastar o medo de perdê-lo ou de se separar dele. Estas ansiedades e defesas são vividas em um contexto de relações objetais. A transferência é um fenômeno psíquico em que todas as fantasias, ansiedades e defesas que compõem o mundo interno são expressas nas situações vividas no cotidiano. O indivíduo traz para cada nova relação que estabelece ou cada nova situação que vive, toda sua história, seus objetos internos, seus medos e esperanças e transfere-as para a situação atual. “Sugeri que um dos fatores que levam à compulsão à repetição é a pressão exercida pelas primeiras situações de ansiedade. Quando as ansiedades persecutórias e depressiva e a culpa diminuem, há menos premência a repetir continuamente experiências fundamentais e, em consequência, antigos padrões e modos de sentir são mantidos com menos tenacidade.” (pág. 79) Embora a transferência não seja específica da relação analítica, ela é incrementada nesta relação. Klein afirma que, na medida em que o analista vai abrindo caminho em direção ao inconsciente do paciente, a premência em transferir suas experiências mais profundas e mais primitivas é reforçada e o setting analítico passa a ser o
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