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Lesões de furca e defeitos infraósseos Periodontia – UFPE Larissa Albuquerque Terminologia *Complexo radicular: é a porção localizada apicalmente à junção cemento-esmalte e é dividida em tronco radicular (região não dividida da raiz) e cones radiculares (região dividida da raiz). *Região de furca (região entre os cones radiculares): é composta pelo fórnix (teto da furca) e pela entrada da furca. *Cones radiculares: possuem grau de separação (ângulo de separação entre os cones) e possuem divergência (distância entre duas raízes, que aumenta em direção apical). Anatomia dos molares superiores *Os molares possuem ordem decrescente de tamanho, sendo o primeiro molar superior maior que o segundo, que por sua vez é maior que o terceiro molar. *Possuem três raízes, sendo a posição da mesiovestibular vertical, a da distovestibular é distalizada e a da palatina é palatinizada. *A secção transversal das raízes distovestibular e palatina tendem a ter formato circular e a mesiovestibular tende ao formato de ampulheta. *A furca mesial deve ser sondada pelo lado palatino do dente, a furca vestibular deve ser sondada pelo lado vestibular do dente e a furca distal deve ser sondada pelo lado vestibular ou palatino. Anatomia dos molares inferiores *Assim como os superiores, seguem a ordem decrescente de tamanho, sendo o primeiro molar inferior mais que o segundo e o segundo maior que o terceiro. *Possuem duas raízes, uma mesial em posição vertical e uma distal, em possição distalizada. *A secção transversal distal possui formato mais circular e a mesial tendo ao formato de ampulheta, com concavidade na superfície distal. *A sondagem da furca vestibular é pelo lado vestibular do dente e a sondagem da furca lingual, pelo lado lingual. Diagnóstico *Classe I: ocorre a perda horizontal de até 3mm. *Classe II: ocorre a perda horizontal excedendo 3mm, mas não abrange a largura total. *Classe III: ocorre a destruição horizontal de um lado ao outro. Sondagem *Nos molares superiores, a entrada de furca mesial está mais proxima da região palatina, então deve ser sondada pelo lado palatino. A entrada da furca distal pode ser sondada tanto pela vestibular quanto pela palatina a depender da sua localização. (a) Entrada da furca vestibular e (b) entrada da furca mesial de molar superior. Radiografias *Radiografias periapicais (avaliação do periápice) e interproximais (vizualização dos defeitos ósseos devido à incidência perpendicular dos raios x) sempre devem ser obtidas para confirmar os achados durante a sondagem em dentes com envolvimento de furca. Diagnóstico diferencial *Uma lesão na área entre as raízes pode ocorrer por problemas no canal radicular ou por sobrecarga oclusal. Dessa forma, não se deve iniciar o tratamento do dente com envolvimento de furca até que seja realizado o diagnóstico diferencial. *Patologia pulpar: é preciso realizar o teste de vitalidade pulpar, se for negativo, significa que há uma patologia pulpar. Diante disso, é preciso realizar inicialmente sempre o tratamento endodôntico para em seguida poder fazer a terapia periodontal. Isso se faz necessário porque a patologia pulpar pode causar a destruição do osso e com a sua resolução pode 8,6 a 28,6% dos molares apresentam projeções cervicais de esmalte em direção da região de furca, afetando a remoção da placa, complicando a raspagem e alisamento radicular, servindo como fator lecal para gengivite e periodontite. Por isso, devem ser removidas. Também podem ser encontradas pérolas de esmalte, que devem ser desgastadas. Periodontia Larissa Albuquerque haver a cicatrização do defeito. Assim, deve-se observar se há cicatrização após dois meses. (a) dente com rarefação óssea na região de furca. Teste de vitalidade pulpar negativo. Foi realizado tratamento endodôntico e houve cicatrização do defeito de furca (b). *Trauma oclusal: forças oclusais podem causar mobilidade aumentada. Durante a sondagem não se detecta o envolvimento de furca e na radiografia observa-se defeito ósseo. Dessa forma, antes de tratar o possível defeito de furca, deve-se realizar o ajuste oclusal, pois após semanas o dente tende a estabilizar e os defeitos desaparecem. Objetivos da terapia *Eliminação da placa microbiana das superfícies expostas do complexo radicular. *Estabelecimento de anatomia das superfícies afetadas que facilite o auto controle de placa. Terapia da lesão de furca *Envolvimento de furca classe I: raspagem e alisamento radicular e plastia de furca. *Envolvimento de flurca classe II: plastia de furca, tunelização, hemissecção radicular, ressecção radicular, extração dentária, regeneração tecidual guiada nos molares inferiores. *Envolvimento de furca classe III: tunelização, hemissecção radicular, ressecção radicular e extração dentária. Raspagem e alisamento radicular (RAR) *A RAR na área de entrada da furca classe I, em sua maioria, resulta no fim da lesão inflamatória na gengiva. A cicatrização promove o restabelecimento da anatomia gengival normal com adaptação dos tecidos moles sobre os duras. Plastia de furca *Tem como objetivo eliminar defeitos interradiculares e é feito pela odontoplastia e/ou osteoplastia. *Odontoplastia: consiste na remoção de tecido dentário (“degrau”) na região de furca, devolvendo o formato arredondado da área e facilitando a limpeza pelo paciente. *Odontoplastia + osteoplastia: a osteoplastia corrige a anatomia óssea após a destruição do osso, regularizando-o ao torná-lo mais uniforme para formar uma superfície contínua. Tunelização *Pode ser indicada para defeitos de furca de classe II profundos e classe III em molares inferiores. Pode ser realizada em molares inferiores com tronco radicular curto, amplo ângulo de separação e grande divergencia das raízes mesial e distal. *Esse procedimento retira o tecido de granulação do defeito, realiza a raspagem e alisamento da região, amplia a area de furca pela remoção de parte do osso interradicular. Isso permite a passagem da escova interdental em casos em que não é possível fazer a regeneração, pois não há paredes remanescentes. Regeneração *Pode ser indicada para classe II e promove o fechamento do defeito de furca. A regeneração consiste na aplicação de uma membrana que isole o osso do tecido mole, visto que o tempo de cicatrização da gengiva é de 1,5 a 2 vezes mais rápido que o do osso. Dessa forma, a membrana permite a cicatrização de cada tecido, sem a gengiva invadir o local que seria cicatrizado pelo tecido ósseo. *A regeneração é mais favorável para os casos de classe II em molares inferiores, molar que possua osso interproximal próximo à juncão cemento-esmalte (defeito de buraco de fechadura). *O preenchimento da região pode ser feito com o Emdogain, formado por proteínas derivadas da matriz do esmalte e que estimula a regeneração da região, com maior redução dos defeitos e redução da dor e edema pós-operatório. Periodontia Larissa Albuquerque Hemissecção radicular *É a separação do complexo radicular com ponta diamantada, mantendo todas as raízes. Isso facilita a higienização pelo paciente, favorecendo a permanência do elemento dentário por mais tempo. É um procedimento menos conservador, indicado para molares com envolvimento de furca classe II e III. Ressecção radicular *É a separação do complexo radicular removendo um ou mais raízes. É um procedimento menos conservador, indicado para classe II e III. Foi retirada a raiz mesial devido à destruição, mantendo-se a raiz distal. Foi realizada a reanatomização do dente como um pré- molar e feita uma prótese fixa definitiva para restabelecer a função mastigatória. Para permitir a higienização, deve ser mantido as ameiaspara passagem de escova interdental. Sucesso do tratamento *O sucesso a longo prazo envolve o diagnóstico completo, seleção de pacientes com boa higiene oral, excelencia da terapia não cirúrgica e realização cuidadosa dos procedimentos cirúrgicos e restauradores. Referência: • Tratado de periodontia clínica e implantologia oral. Niklaus P. Lang, Jan Lindhe; tradução Maria Cristina Motta Schimmelpfeng. - 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. A hemissecção e ressecção radiculares são indicadas apenas quando há comprimento do tronco radicular suficiente para sua realização (proporção raiz/coroa 1:1). Deve-se avaliar a divergência dos cones radiculares (raízes pouco divergentes são mais difíceis de separar), o comprimento e a forma (cones curtos e pequenos tendem a apresentar aumento na mobilidade e são pilares ruins para restaurações protéticas), se há fusão dos cones radiculares, se há suporte remanescente ao redor da raiz, estabilidade dos cones radiculares e se haverá acesso para higienização.
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