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1 Khilver Doanne Sousa Soares Doenças Coronarianas Introdução Suprimento sanguíneo do S2 O cardiomiócitos conta quase exclusivamente com fosforilação oxidativa. Têm também alta densidade de mitocôndrias (20 a 30% do volume do miócito). Além do mais o miocárdio também requer um suprimento constante de sangue oxigenado. Os nutrientes e o oxigênio são distribuídos pelas artérias coronárias (originadas logo distalmente à valva aórtica). Elas iniciam o seu percurso ao longo da superfície externa do coração (artérias coronárias epicárdicas) e depois penetram no miocárdio (artérias intramurais). As três principais artérias coronárias são: Artéria descendente anterior esquerda (DAE). Suas divisões são chamadas ramos diagonais; Artérias circunflexa esquerda (CE). Suas divisões são chamadas ramos marginais; Obs.: ambas acima surgem da artéria coronária esquerda (principal). Artéria coronária direita. Fonte: modificada AMARAL (2009) O conhecimento das áreas do miocárdio perfundidas pelas principais artérias coronárias permite correlacionar as obstruções vasculares específicas com as suas áreas correspondentes de infarto do miocárdio. *artéria coronária: AC Ramo descendente anterior esquerdo (DAE) da AC: irriga a maior parte do ápice do coração, parede anterior do VE e os dois terços anteriores do septo ventricular; Artéria coronária (ACD ou CE) (é chamada de dominante): perfunde o terço posterior do septo; A ACD, da circulação dominante direita: irriga toda a parede livre do ventrículo direito, a parede posterobasal do ventrículo esquerdo e o terço posterior do septo ventricular; A CE: geralmente perfunde apenas a parede lateral do ventrículo esquerdo. Fisiopatologia das Doenças Coronarianas São patologias associadas a obstruções nas artérias coronárias por fibroses ou placas de gordura, que dificultam ou obstruem a passagem de sangue para o miocárdico comprometendo significativamente o suprimento de metabólitos e oxigênio nesta região. Com o baixo suprimento de oxigênio a região sofre lesão celular (isquemia). Como o local de lesão não é regenerado (o tecido muscular cardíaco não sofrer reparo), há substituição na área lesionada por tecido fibroso (comprometendo a funcionalidade da região) e com isso, ocorre a morte tecidual (infarto). Essas alterações fazem o músculo cardíaco perder seu poder de contração, deixando de bombear a quantidade de sangue necessário para suprir o corpo por um todo. Devido a estas alterações podemos associar as doenças coronarianas como alterações primárias para outras patologias secundárias. Os principais acometimentos coronarianos são a arteriosclerose e aterosclerose. 2 Khilver Doanne Sousa Soares Infarto Agudo do Miocárdio Patogenia A sequencia seguinte relata a mais provável base para a maior parte dos IMs: Uma placa ateromatosa da artéria coronária sofre erosão, ulceração, ruptura, fissura ou hemorragia; As plaquetas, ao entrarem em contato com o colágeno subepitelial, iniciam processos de aderência, ativação, liberação do seu conteúdo granular e agregam para formar o microtrombo; Vasospasmo é estimulado por mediadores plaquetários; O tecido ativa a via da coagulação (aumentando o volume do trombo); Em dez minutos o trombo pode ocluir toda a luz do vaso. Obs.: a angiografia coronariana dentro de 4 hrs do início do IM mostra trombose coronariana em cerca de 90% dos casos. No entanto, realizada 12 a 24 hrs depois mostra trombose em cerca de 60% dos casos (resolução por fibrinólise ou relaxamento do espasmo). Resposta do miocárdio A obstrução da artéria coronária reduz o fluxo sanguíneo para uma região do miocárdio, causando isquemia, disfunção miocárdica e por fim morte de miócitos. Consequência bioquímica Cessação do metabolismo aeróbico, causando produção inadequada de fosfatos de alta energia (fosfato de creatinina e trifosfato de adenosina) e acúmulo de metabólitos potencialmente nocivos (ácido lático). Obs.: pela alta dependência de oxigênio pelo miocárdio, sua contratilidade cessa dentro de 1 min após início de isquemia grave. Obs.: apenas isquemia grave de 20 a 30 min ou mais leva a dano irreversível de cardiomiócitos. Fonte: ROBBINS & COTRAN, Bases patológicas das doenças, 9ed. O rompimento do sarcolema nos estágios iniciais da necrose de miócitos permite que macromoléculas intracelulares saiam, cheguem ao interstício cardíaco e penetrem a microvasculatura e vasos linfáticos. Esses ocorridos permitem detecção sensível do dano irreversível do miócito através de exame de sangue. Padrões de infarto A distribuição da necrose está relacionada com a localização e causa da perfusão reduzida. Infarto transmural: IAMs causados pela oclusão de um vaso epicárdico. A necrose envolve toda a espessura da parede ventricular seguindo a AC afetada. Está relacionado à aterosclerose coronariana crônica; Infarto subendocárdico (ñ transmural): a zona subendocárdica é a última perfundidas do miocárdio e, portando, a mais vulnerável à redução do fluxo sanguíneo. Um infarto aqui pode ocorrer por soltura de uma placa. Pode acarretar e diminuição prolongada da pressão arterial. Obs.: se for causado por uma hipotensão global o dano miocárdico geralmente é circular; Microinfarto multifocal: padrão visto em doença de vasos intramurais menores. Cenário resultante de microembolização, vasculite, espasmo vascular ou ainda à cardiomiopatia de takotsubo (cardiomiopatia dilatada relacionada a estresse emocional). Obs.: infartos transmurais são denominados algumas vezes como infarto do miocárdio com elevação ST, e um 3 Khilver Doanne Sousa Soares infarto subendocárdico é chamado de infarto do miocárdio sem elevação ST. Os três troncos arteriais principais e as regiões correspondentes do infarto: AC descendente anterior esquerda: 40 a 50% dos casos, envolvem a parede anterior do VE (próximo ao ápice); porção anterior do septo ventricular; o ápice de modo circunferencial; AC direita: 30 a 40% dos casos, envolvem a parede inferior/posterior do VE; a porção posterior do septo ventricular; a parede livre inferior/posterior do ventrículo direito; AC circunflexa esquerda: 15 a 20% dos casos, envolvem a parede lateral do VE, exceto o ápice. Sequência progressiva das alterações do IAM Envolvem típica necrose isquêmica de coagulação, seguida de inflamação e reparo. Dentro de 12 a 24 hrs pós infarto, o IM pode ser identificado no exame macroscópico como uma área de coloração vermelho-azulada pelo sangue aprisionado e estagnado. Depois disso o infarto transforma-se em uma área amarelo- acastanhada e amolecida. Em 10 ou 14 dias sua margem fica hiperêmica de tecido de granulação altamente vascularizado. Nas semanas seguintes a lesão evolui para uma cicatriz fibrosa. Alterações histopatológicas Em 6 a 12 horas surgem alterações típicas da necrose de coagulação. Fibras onduladas podem estar presentes pelo esforço sistólico adjacente causando estiramento e dobramento. Também pode ocorrer miocitólise (acúmulo intracelular de sal e água dentro do retículo sarcoplasmático). O músculo necrosado estimula uma inflamação aguda (acentuada entre 1 a 3 dias). Após isso os macrófagos removem os miócitos necrosados (+ visíveis em 3 a 7 dias) e a zona danificada é substituída pelo crescimento de um tecido de granulação altamente vascularizado. Com o tempo é substituído por tecido fibroso. Obs.: os IMs geralmente cicatrizam da borda para o interior da lesão. Obs.: quando a lesão está completamente cicatrizada é impossível determinar sua idade. Modificação da área do infarto por reperfusão Trata-se do reestabelecimento do fluxo sanguíneo ao miocárdio isquêmico para salvar o tecido em risco e diminuir a área de infarto. A intervenção deve ser feita o mais rápido possível uma vez diagnosticado o infarto. A reperfusão pode ser realizada por muitas intervenções coronarianas:trombólise, angioplastia, instalação de stent ou cirurgia de enxerto de bypass da artéria coronária (CABG). Os objetivos são: dissolver, alterar mecanicamente ou desviar a lesão que iniciou o infarto. Os benefícios da reperfusão estão diretamente correlacionados com: a rapidez que o fluxo sanguíneo coronário é reestabelecido e a extensão da restauração desse fluxo seguido da correção da lesão causal subjacente. Obs.: a trombólise pode remover um trombo que oclui uma artéria coronária, mas não altera a placa aterosclerótica que iniciou sua lesão. Já a angioplastia coronariana transluminal percutânea (ACTP), com instalação de stent elimina não só a oclusão trombótica, mas também parte da obstrução e da instabilidade originais pela placa rompida. Obs.: as áreas de infarto reperfundidas geralmente apresentam hemorragia pois os vasos são lesados durante a isquemia e há sangramento após o fluxo ser restaurado. A reperfusão salva as células com lesão reversível, mas também altera a morfologia das células fatalmente agredidas: os miócitos lesados irreversivelmente tem faixas de contração intensamente eosinofílicas com sarcômeros extremamente comprimidos, resultado da 4 Khilver Doanne Sousa Soares contração exagerada dos sarcômeros quando a reperfusão é reestabelecida (nesse momento as células com membrana danificada são expostas a grande concentração de íons cálcio). Consequências da reperfusão A lesão por reperfusão pode ocorrer pelo estresse oxidativo, sobrecarga de cálcio e células inflamatórias recrutadas após a lesão tecidual. Além das lesões microvasculares que causam hemorragia e tumefação endotelial ocluindo capilares. Obs.: debate-se que até 50% (ou mais) da área final do infarto seja causada pela reperfusão. Há um fenômeno denominado miocárdio atordoado: um estado de insuficiência cardíaca prolongada que geralmente se recupera após vários dias. O IM é diagnosticado por sintomas, testes laboratoriais (detecção de proteínas do miocárdio no plasma) e alterações no eletro. Sintomas clínicos Classicamente apresentam dor torácica prolongada (+ 30 min) de sensação constritiva, de facada ou aperto. Têm pulso fraco e rápido, transpiração profusa (diaforese), náusea e vômito. Há dispneia decorrente de contração miocárdica insuficiente. Obs.: até 25% dos pacientes são assintomáticos, tendo a descoberta do infarto feita somente por testes laboratoriais ou alterações do eletrocardiograma. Avaliação laboratorial São baseadas na medida dos níveis sanguíneos de proteínas que extravasaram dos miócitos danificados irreversivelmente. As proteínas mais úteis são as troponinas T e I (cTnT e cTnI) específicas do coração e a fração MB da creatina-cinase (CK-MB). Os biomarcadores mais sensíveis e específicos do dano miocárdico são as proteínas específicas do coração: cTnT e cTnI (proteínas que regulam a contração do musculo cardíaco e esquelético). As troponinas I e T começam a elevar em 3 a 12 hrs; cTnT atingem pico em 12 a 48 hrs; cTnI atingem pico em 24 horas. A CK-MB começa a se elevar em 3 a 12 horas, os picos são atingidos em 24 horas, retornando ao normal em 72 hrs. Obs.: a forma MB da creatina-cinase (CK-MB) é sensível, mas não específica: os heterodímeros MB estão localizados principalmente no musculo cardíaco, mas também no musculo esquelético. Além do mais, homodímeros BB são abundantes no cérebro, pulmão e muitos outros tecidos. Resumo: • O tempo de elevação da CKMB, cTnT e cTnI é de 3 a 12 horas. • A CK-MB e a cTnI atingem o pico em 24 horas. • A CK-MB retorna ao normal em 48 a 72 horas, a cTnI, em 5 a 10 dias, e a cTnT, em 5 a 14 dias. Fármacos utilizados no IAM Primeiramente, o objetivo da intervenção farmacológica é diminuir o impacto dos sintomas, desacelerar a progressão da doença e aumentar a sobrevida. De acordo com isso, sete classes de fármacos são eficazes: inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECAs), bloqueadores do receptor de angiotensina (BRAs), antagonistas da aldosterona, β- bloqueadores, diuréticos, vaso e venodilatadores diretos e fármacos inotrópicos. 5 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: Whalen, Finkel e Panavelil; Farmacologia Ilustrada, 6ed. Fisiologia da contração muscular Contração cardíaca A força da contração cardíaca está diretamente relacionada à quantidade de íons cálcio livres no citosol. Logo, fármacos que aumentam a quantidade de cálcio intracelular aumenta a força contrátil do miócito. Resposta fisiológica compensatória na insuficiência cardíaca 1. Aumento da atividade simpática: os barorreceptores são quem detectam a hipotensão e ativam o sistema nervoso simpático. São estimulados receptores β- adrenérgicos aumentando a FC e a força de contração. Logo a vasoconstrição aumenta o retorno venoso e a pré-carga cardíaca. Esse aumento da carga a longo prazo acaba causando declínio na função cardíaca. 2. Ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona: a queda do DC diminui o fluxo sanguíneo nos rins e o faz liberar renina. Isso resulta no aumento da formação da angiotensina 2 e aldosterona. Isso aumenta a resistência periférica e a retenção de sódio e água. Logo, o volume de sangue aumenta, e mais sangue retorna ao coração. Obs.: se o coração não consegue bombear esse volume extra ocorre edema periférico e pulmonar, ademais essa resposta aumenta o trabalho do coração e contribui para o declínio da FC. 3. Hipertrofia miocárdica: inicialmente a hipertrofia leva a uma contação mais forte, mas com o tempo esse alongamento excessivo enfraquece as contrações e diminui a capacidade de ejeção de sangue (insuficiência sistólica, ou IC com fração de ejeção reduzida: ICFEr). Menos comumente os pacientes apresentam disfunção diastólica e o ventrículo não consegue se encher adequadamente. 4. Insuficiência cardíaca aguda: se os mecanismos de compensação conseguem manter o débito cardíaco adequadamente a IC é compensada. Se o débito cardíaco satisfatório não consegue se reestabelecer a IC é descompensada. Nesse segundo caso o paciente desenvolve agravamento dos sinais e sintomas da IC: dispneia de esforço, ortopnéia, dispneia noturna paroxística, fadiga e edema periférico. Inibidores do sistema renina-angiotensina- aldosterona A ativação desse sistema é feita por dois mecanismos: aumento da liberação de renina pelas células justaglomerulares nas arteríolas 6 Khilver Doanne Sousa Soares aferentes e liberação de renina pelas células justaglomerulares. A produção de angiotensina II, um potente vasoconstritor, e a subsequente estimulação da liberação de aldosterona causa retenção de sal e água e levam ao aumento da pré-carga e da pós-carga. No entanto níveis aumentados de aldosterona e angiotensina 2 causam remodelamento cardíaco, fibrose e alterações inflamatórias. Inibidores da enzima conversora de angiotensina Os IECAs bloqueiam a enzima que “corta” a angiotensina 1 para que ela não se torne angiotensina 2. Também diminuem a inativação de bradicinina (polipeptídeo plasmático de função vasodilatadora). Portando, sua ação consiste em diminuir o vasoconstritor angiotensina 2 e aumentar o vasodilatador bradicinina. 1. Ações sobre o coração: os IECAs diminuem a resistência vascular e o tônus venoso, causando aumento do débito cardíaco. Também abrandam o aumento de epinefrina e aldosterona mediado pela angiotensina 2. 2. Indicações: podem ser considerados para pacientes sintomáticos ou não. São indicados para pacientes em todos os estágios de insuficiência ventricular esquerda. esses fármacos podem ser usados em combinação com diuréticos, β-bloqueadores, digoxina, antagonistas da aldosterona e combinação de doses fixas de hidralazina + dinitrato de isossorbida. Os IECAs também podem ser usados no tratamento da hipertensão. 3. Farmacocinética: são absorvidos adequadamente por via oral. Captopril podeter sua absorção reduzida por alimentos, por isso é tomado em jejum. Necessitam de ativação por hidrólise de enzimas hepáticas (exceto o captopril). A eliminação renal da molécula ativa é importante para a maioria dos IECAs, sendo exceção o fosinopril. A meia-vida plasmática dos compostos ativos varia de 2 a 12 horas, embora a ação IECA possa ser muito maior. 4. Efeitos adversos: Incluem hipotensão postural, insuficiência renal, hiperpotassemia, tosse seca persistente e angiedema (raro). Os níveis de potássio precisam ser monitorados, Os níveis de creatinina no soro devem ser monitorados, particularmente em pacientes com doença renal subjacente. O potencial de hipotensão sintomática com IECAs é muito mais comum se for usado concomitantemente com um diurético. Os IECAs são teratogênicos e não devem ser usados em gestantes. Bloqueadores do receptor de angiotensina Os BRAs são antagonistas do receptor de angiotensina 2 tipo 1. Os BRAs têm bloqueio mais completo da ação da angiotensina 2 e não afetam os níveis de bradicinina. 1. Ações sobre o sistema cardiovascular: embora tenham mecanismos diferentes suas ações na pré e pós cargas são similares aos IECAs. Seu uso é principalmente como substituto dos IECAs. 2. Farmacocinética: são ativos via oral uma vez ao dia, exceto a valsartana (duas vezes). São altamente ligados às proteínas plasmáticas. A losartana, o primeiro membro aprovado da classe, difere dos demais, pois sofre extensa biotransformação de primeira passagem pelo fígado, incluindo a conversão em seu metabólito ativo. Os demais fármacos apresentam metabólitos inativos. A eliminação dos metabólitos e do composto original ocorre na urina e nas fezes. 3. Efeitos adversos: perfil e interação similar aos IECAs. Tem incidência menor de tosse e angiedema. Também são contraindicados na gestação. Antagonistas da aldosterona A espironolactona é um antagonista direto da aldosterona; dessa forma, ela previne a retenção de sal, a hipertrofia miocárdica e a hipopotassemia. A eplerona é um antagonista competitivo da aldosterona nos receptores mineralocorticoides. Os antagonistas da 7 Khilver Doanne Sousa Soares aldosterona são indicados em pacientes com estágios de ICFEr mais grave ou ICFEr e infarto do miocárdio recente. β-bloqueadores O benefício dos β-bloqueadores é atribuído, em parte, à sua propriedade de prevenir as mudanças que ocorrem devido à ativação crônica do sistema nervoso simpático. Esses fármacos diminuem a frequência cardíaca e inibem a liberação de renina pelos rins. Além disso, os β-bloqueadores previnem também os efeitos prejudiciais da norepinefrina na fibra muscular cardíaca, diminuindo o remodelamento, a hipertrofia e a morte celular. Três β-bloqueadores revelaram benefícios na IC: bisoprolol, carvedilol e o de longa ação succinato de metoprolol. Carvedilol é um antagonista do adrenoceptor β não seletivo que também bloqueia adrenoceptores α, ao passo que bisoprolol e succinato de metoprolol são β1-antagonistas seletivos. O bloqueio β é recomendado para todos os pacientes com IC crônica e estável. Bisoprolol, carvedilol e succinato de metoprolol reduzem a morbilidade e a mortalidade associada à ICFEr. O tratamento deve iniciar com dosagens baixas que são aumentadas gradualmente até a dosagem-alvo, com base na tolerância e nos sinais vitais do paciente. Carvedilol e metoprolol são biotransformados pela isoenzima CYP2D6, e inibidores dessa via metabólica podem aumentar a concentração desses fármacos e o risco de efeitos adversos. Diuréticos Aliviam congestão pulmonar e edema periférico. Diminuem o volume plasmático, e portanto, o retorno venoso ao coração. Os diuréticos de alça são os mais comumente usados (em pacientes que não necessitam de diurese intensa e com insuficiência renal). Devem ser usados apenas para tratar aumento de volume uma vez que não mostraram aumento de sobrevida. Vaso e Venodilatadores A dilatação dos vasos sanguíneos venosos causa diminuição na pré-carga cardíaca por aumentar a capacitância venosa. Dilatadores arteriais como a hidralazina diminuem a resistência arteriolar sistêmica e diminuem a pós-carga. Se o paciente é intolerante aos IECAs ou aos β-bloqueadores, ou se é necessária uma resposta vasodilatadora adicional, pode ser usada a associação de hidralazina + dinitrato de isossorbida. Inotrópicos Aumentam contratilidade cardíaca e, portanto, o débito. É resultado da concentração de cálcio citoplasmático. Seu uso demonstrou redução da sobrevida por aumentar a contratilidade cardíaca, portanto é usado por períodos curtos principalmente em pacientes hospitalizados. A. Glicosídeos digitálicos A maioria desses fármacos é proveniente da planta conhecida como digital. Os glicosídeos digitálicos têm baixo índice terapêutico com uma pequena margem entre a dosagem terapêutica e a que é tóxica ou mesmo fatal. O digitálico mais amplamente usado é a digoxina, que é usada raramente devido a sua considerável duração de ação. 1. Regulação da concentração de cálcio citosólico: A digoxina reduz a propriedade dos miócitos de bombear Na+ ativamente da célula inibindo a enzima Na+/K+- adenosina trifosfatase (ATPase). Isso diminui o gradiente de concentração de Na+ e, em consequência, do trocador Na+/Ca2+ bombear cálcio para fora da célula. Além disso, o nível celular elevado de Na+ é trocado por Ca2+ extracelular pela bomba Na+/Ca2+, aumentando o Ca2+ intracelular. O aumento de Ca2+ livre é pequeno, mas fisiologicamente importante, e fica disponível para o próximo ciclo de contração do músculo 8 Khilver Doanne Sousa Soares cardíaco, aumentando a contratilidade cardíaca. 2. Aumento da contratilidade do músculo cardíaco: A digoxina aumenta a força de contração cardíaca, causando um débito cardíaco mais próximo ao do coração normal. O tônus vagal também aumenta, de modo que a frequência cardíaca e a demanda de oxigênio pelo miocárdio diminuem. A digoxina diminui a velocidade de condução através do nó AV, fazendo-o útil para fibrilação atrial. 3. Inibição neuro-hormonal: baixas dosagens de digoxina inibem a ativação simpática com efeitos mínimos na contratilidade. Esse efeito é a razão de usar uma concentração sérica menor na ICFEr. B. Farmacocinética A digoxina está disponível para uso oral e injetável. Sua dosagem é baseada na massa corporal magra. Tem meia vida de 30 a 40 horas e é eliminada intacta pelos rins, exige ajuste de dosagem na disfunção renal. C. Efeitos adversos Anorexia, náusea e êmese podem ser indicadores iniciais de toxicidade. Também pode haver visão turva, amarelada e várias arritmias cardíacas. Normalmente a toxicidade pode ser controlada com a parada do uso do medicamento e se necessário repondo o potássio. A intoxicação grave necessita a introdução de antiarrítmicos e anticorpos à digoxina. D. Agonistas β-adrenérgicos Causam efeitos inotrópicos e positivos. Exemplos: dobutamina e dopamina. Os β- agonistas adrenérgicos aumentam o monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) intracelular, o que resulta na ativação da proteinocinase. A proteinocinase então fosforila canais lentos de cálcio, aumentando a entrada de íons cálcio nas células do miocárdio e a contração. Os dois fármacos devem ser feitos intravenoso. Usados primariamente em IC agudo no hospital. E. Inibidores de fosfodiesterase Milrinona é um inibidor da fosfodiesterase que aumenta a concentração intracelular de AMPc. Isso resulta em aumento de cálcio intracelular e, portanto, em maior contratilidade cardíaca. Seu uso crônico aumenta risco de morte. No entanto pode ser obtido algum benefício em pacientes com IC refratária. Referências KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; ASTER, J.C. Robbins & Cotran Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas a.; WHALEN, Karen. Farmacologia Ilustrada.Porto Alegre: Artmed, 2016. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________
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