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1 Khilver Doanne Sousa Soares Endocardites Endocardite Infecciosa A endocardite infecciosa (EI), muito associada à destruição de tecidos cardíacos subjacentes, é uma infecção microbiana das valvas ou endocárdio mural. A aorta, aneurismas, outros vasos e dispositivos proteicos podem ser infectados. A maioria das endocardites é de origem bacteriana, mas pode ser causada por fungos. A EI é classificada em aguda e subaguda. A EI aguda geralmente acomete a valva por meio de um organismo altamente virulento (ex.: Staphylococcus aureus), que produz lesões necrosantes e destrutivas rapidamente (essas lesões geralmente precisam de cirurgia). Já a EI subaguda causam infecções insidiosas das valvas deformadas com menor destruição total (ex.: Streptococcuss viridans, um componente normal da flora da cavidade oral). Principais anormalidades cardíacas e vasculares que aumentam o risco de EI: prolapso da valva mitral, estenose valvar calcificada degenerativa, valva aórtica bicúspide, valvas artificiais (protéticas) e defeitos congênitos reparados ou não. A endocardite de valvas naturais, mas previamente danificadas ou anormais representa 50 a 60% dos casos, comumente pelo Streptococcuss viridans. Já os S. aureus, mais virulentos, são responsáveis por 20 a 30% de todos os casos. Característica clássica da EI: vegetações nas valvas cardíacas. Elas são lesões friáveis, volumosas e potencialmente destrutivas. Contem fibrina, células inflamatórias, e bactérias. As valvas aórtica e mitral são os locais + comuns de infecção. As vegetações são isoladas ou múltiplas; podem envolver mais de uma valva; podem sofrer erosão e atingir o miocárdio subjacente. Obs.: as vegetações são propensas a embolização e, por isso, abcessos nos locais onde os êmbolos se alojam são comuns já que eles carregam organismos virulentos. Isso causa infartos sépticos ou aneurismas micóticos. As vegetações da EI subaguda tem destruição valvar menor que a aguda com diferença sutil. Microscopicamente as vegetações da EI aguda apresentam tecido de granulação em suas bases, indicando cicatrização. Com o tempo pode haver fibrose, calcificação e infiltrado inflamatório crônico. A EI aguda tem início violento, rápido desenvolvimento de febre, calafrios fraqueza e cansaço. Os sopros estão presentes em 90% dos pacientes com EI do lado esquerdo. Os critérios de Duke modificados facilitam a avaliação de indivíduos com suspeita de EI já que levam em consideração fatores predisponentes, achados físicos, resultados de cultura do sangue, achados ecocardiográficos e informação laboratorial. 2 Khilver Doanne Sousa Soares As complicações da EI podem incluir a deposição do complexo antígeno-anticorpo no glomérulo, causando a glomerulonefrite. O diagnóstico precoce e o tratamento eficaz têm praticamente eliminado algumas manifestações clínicas de EI de longa duração que costumavam ser comuns. A endocardite trombótica não bacteriana (ETNB) é caracterizada pela deposição de pequenos trombos estéreis nos folhetos das valvas cardíacas. Ocorrem isoladas ou múltiplas ao longo da linha de fechamento dos folhetos ou cúspides. Fonte: ROBBINS & COTRAN, Bases patológicas das doenças, 9ed. Histologicamente, são compostas de trombos macios, inseridos frouxamente na valva subjacente (as vegetações não são invasivas e não produzem reação inflamatória). No entanto, essas vegetações podem ser a fonte de êmbolos sistêmicos que produzem infartos significativos em qualquer lugar (cérebro, coração, etc.). Geralmente a ETBN ocorre em pacientes debilitados. Têm uma grande associação com adenocarcinomas mucinosos, relacionada aos efeitos pró-coagulantes da mucina, que também podem causar tromboflebite migratória (síndrome de Trousseau). O trauma endocárdico como o produzido por um cateter de demora, é outra condição predisponente bem conhecida. Valvulite mitral e tricúspide com pequenas vegetações estéreis. As lesões são vegetações pequenas de 1 a 4mm de diâmetro, isoladas ou múltiplas, estéreis e róseas com aparência verrucosa. As vegetações consistem de material eosinofílico, fibrinoso e finamente granular que contém restos celulares. A valva mitral está mais envolvida que a aórtica, e a regurgitação é a anormalidade funcional comum. Consequências locais As consequências locais da endocardite infecciosa incluem: Abscessos miocárdicos, com destruição tecidual e, às vezes, anormalidades do sistema de condução (em geral com abscessos septais baixos); Pode haver desenvolvimento súbito e grave de insuficiência valvar, causando insuficiência cardíaca, levando a insuficiência cardíaca e morte (normalmente em virtude de lesões das valvas aórtica e mitral); Aortite devido à disseminação contínua da infecção. As infecções das próteses valvares são especialmente propensas a desenvolver abscessos de anel valvar, vegetações obstrutivas, abscessos miocárdicos e aneurismas micóticos manifestos por obstrução valvar, deiscência e alterações da condução. Consequências sistêmicas As consequências sistêmicas da endocardite ocorrem primariamente por: Embolização do material infectado da valva cardíaca; https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/doen%C3%A7as-da-aorta-e-seus-ramos/aortite 3 Khilver Doanne Sousa Soares Fenômenos imunomediados (principalmente na infecção crônica). As lesões do lado direito tipicamente produzem êmbolos sépticos pulmonares, que podem levar a infarto pulmonar, pneumonia ou empiema. As lesões do lado esquerdo podem embolizar para qualquer órgão, especialmente rins, baço e sistema nervoso central. Aneurismas micóticos podem se formar em qualquer artéria de grosso calibre. São comuns as embolias cutânea e retiniana. A glomerulonefrite difusa pode ser decorrente da deposição de imunocomplexo. +++ Sinais e sintomas. Endocardite bacteriana subaguda. Inicialmente, os sintomas da endocardite bacteriana subaguda são vagos: febre baixa (< 39° C), sudorese noturna, fadiga, mal-estar e perda ponderal. Podem ocorrer calafrios e artralgias. Os sinais e sintomas de insuficiência valvar podem constituir o primeiro indício. Inicialmente, ≤ 15% dos pacientes têm febre ou sopro, mas eventualmente quase todos desenvolvem ambos. O exame físico pode ser normal ou incluir palidez, febre, modificação de sopro preexistente ou desenvolvimento de novo sopro de regurgitação e taquicardia. As embolias retinianas podem provocar lesões retinianas hemorrágicas arredondadas ou ovais, com pequenos centros esbranquiçados (manchas de Roth). As manifestações cutâneas incluem petéquias (na parte superior do tronco, conjuntivas, mucosas e extremidades distais), nódulos subcutâneos eritematosos dolorosos nas pontas dos dedos (nódulos de Osler), máculas hemorrágicas indolores nas palmas das mãos ou plantas dos pés (lesões de Janeway) e hemorragias longitudinais subungueais. Cerca de 35% dos pacientes têm efeitos sobre o sistema nervoso central, incluindo episódios de isquemia transitória, acidente vascular encefálico, encefalopatia tóxica e, se houver ruptura de aneurisma micótico no sistema nervoso central, abscesso cerebral e hemorragia subaracnoidea. A embolia renal pode causar dor no flanco e, raramente, hematúria macroscópica. A embolia esplênica pode causar dor no hipocôndrio esquerdo. A infecção prolongada pode causar esplenomegalia ou baqueteamento dos dedos das mãos e dos pés. Endocardite bacteriana aguda e endocardite valvar protética. Os sinais e sintomas da endocardite bacteriana aguda e da endocardite valvar protética são semelhantes aos da endocardite bacterianasubaguda, mas o curso é mais rápido. Inicialmente, quase sempre há febre, os pacientes aparentam estar toxemiados e, às vezes, desenvolvem choque séptico. O sopro cardíaco inicialmente está presente em 50 a 80% e, no decorrer da doença, em > 90%. Raramente, ocorre meningite purulenta. Endocardite do lado direito. A embolia pulmonar séptica pode causar tosse, dor torácica pleurítica e, às vezes, hemoptise. O sopro de regurgitação tricúspide é típico. Referências KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; ASTER, J.C. Robbins & Cotran Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/acidente-vascular-encef%C3%A1lico/ataque-isqu%C3%AAmico-transit%C3%B3rio-ait https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/acidente-vascular-encef%C3%A1lico/ataque-isqu%C3%AAmico-transit%C3%B3rio-ait https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/acidente-vascular-encef%C3%A1lico/vis%C3%A3o-geral-do-acidente-vascular-encef%C3%A1lico https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/medicina-de-cuidados-cr%C3%ADticos/sepse-e-choque-s%C3%A9ptico/sepse-e-choque-s%C3%A9ptico https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/valvopatias/regurgita%C3%A7%C3%A3o-tric%C3%BAspide https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/valvopatias/regurgita%C3%A7%C3%A3o-tric%C3%BAspide