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A AUTORA
Glória Freitas
Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou graduada em Pedagogia, com 
mestrado e doutorado na área de educação, com diversas experiências 
técnico-profissionais, na área de Educação, desde 1984, percorrendo 
inicialmente pela Educação Básica (na Educação Infantil e no Ensino 
Fundamental I) em Escolas, posteriormente lecionando em formações 
docentes em Organizações Governamentais e Não Governamentais 
(ONG’s e OSCIPs), e a partir de 1990, lecionando os fundamentos e 
metodologias de ensino, na Formação Docente Inicial e Pós-Graduação, 
no Ensino Superior, em Universidades Públicas e Particulares, em São 
Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço 
e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando 
em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a 
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder 
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! 
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
INTRODUÇÃO:
para o início do 
desenvolvimento de 
uma nova compe-
tência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de se apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando forem 
necessários obser-
vações ou comple-
mentações para o 
seu conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundamen-
to do seu conheci-
mento;
REFLITA:
se houver a neces-
sidade de chamar a 
atenção sobre algo 
a ser refletido ou dis-
cutido sobre;
ACESSE: 
se for preciso aces-
sar um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
se fazer um resumo 
acumulativo das últi-
mas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de au-
toaprendizagem for 
aplicada;
TESTANDO:
quando o desen-
volvimento de uma 
competência for 
concluído e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
Identificação da importância dos contos de fadas modernos e 
tradicionais na formação do leitor ....................................................... 12
Importância dos contos de fadas modernos e tradicionais através de sua 
história ..................................................................................................................................................... 12
Importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação 
do leitor na contemporaneidade ......................................................................................... 21
Definição tradicional de contos de fadas .........................................28
Reconhecimento dos conto de fadas renovados .......................... 37
Análise crítica dos contos de fadas ....................................................44
9
LIVRO DIDÁTICO DIGITAL
UNIDADE
02
Literatura Infantojuvenil
10
INTRODUÇÃO
Você estudará na Unidade II – Os Contos de Fadas Tradicionais 
e Renovados: Importância, definição e análise crítica. Identificará a 
importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação 
do leitor, através de sua história, tomando conhecimento dos fatos 
antecedentes, relacionados as narrativas orais populares, até chegar 
ao momento intenso de produção escrita dos contos de fadas, a partir 
do século XVII, com os autores Perrault e nos séculos seguintes com 
os Irmãos Grimm e Andersen, percorrendo a história e pensando na 
contemporaneidade dos contos de fadas. Em seguida lerá e será capaz 
de definir ao final, os Contos de Fadas Tradicionais. A diferenciação 
entre tais Contos de Fadas Tradicionais será possível, a seguir, ao tomar 
conhecimento e reconhecer Contos de Fadas Renovados. Por fim, vai ser 
possível analisar criticamente os contos de Fadas. Entendeu? Ao longo 
desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Literatura Infantojuvenil
11
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso propósito é auxiliar 
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o 
término desta etapa de estudos:
1. Identificar a importância dos contos de fadas modernos e 
tradicionais na formação do leitor;
2. Definir Conto de Fadas Tradicional;
3. Reconhecer Conto de Fadas Renovado;
4. Analisar criticamente os contos de Fadas.
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? 
Ao trabalho! 
Literatura Infantojuvenil
12
Identificação da importância dos contos 
de fadas modernos e tradicionais na 
formação do leitor
INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você será capaz de identificar a 
importância dos contos de fadas modernos e tradicionais, 
com o seu aprofundamento na leitura conseguirá definir conto 
de fada tradicional, reconhecendo o que seria um conto de 
fada renovado, e por meio de todas estas informações, por 
fim, conseguirá realizar uma análise crítica dos contos de 
fada. E então? Motivado para desenvolver esta competência? 
Então vamos lá. Avante!
Importância dos contos de fadas modernos 
e tradicionais através de sua história
Você será capaz de identificar a importância dos contos de fadas 
modernos e tradicionais, percorrendo a história, conhecendo-lhes suas 
origens. Quem são os ancestrais dos contos publicados na Europa, 
trazidos ao Brasil e ainda hoje presentes na indústria de entretenimento, 
em jogos digitais, em peças de teatro infantil, em filmes feitos pela 
indústria cinematográfica internacional e nas belas atualizações, nas 
novas edições dos livros clássicos, repletos de belos contos de fadas e 
fascinantes imagens? 
De onde vieram, originalmente, as ideias que são reutilizadas, nas 
lindas e encantadoras páginas que os pais leem para os seus filhos e que 
reaparecem na chegada das crianças às escolas, presentes em objetos 
escolares como lancheiras e até em fantasias de carnaval, ocupando um 
lugar preponderante na vida das crianças? Hoje, filmes, discos e livros 
ricamente ilustrados fascinam as crianças, e também os adultos, contando 
Literatura Infantojuvenil
13
as mesmas histórias. Embora esses narradores e narratários pertençam a 
mundos tão distantes no tempo.
Na busca pela identificação da importância do conto de fadas 
moderno e tradicional, para muitas gerações de leitores, é fundamental 
relembrar um pouco sobre as gêneses dos contos, na história da literatura 
e da humanidade. 
Devemos às incríveis mulheres as narrativas orais terem chegado 
um dia à escrita. Durante o reinado de Luís XIV, algumas mulheres 
narravam suas histórias, memorizadas oralmente, chamadas de ‘contos 
de velha’, repletas de princípios e lições de moral. Tais histórias teriam 
chamado a atenção de Charles Perraulto que os reuniu numa publicação 
que os perpetuariam.
Com a escrita, estes atravessaram os tempos e diversas culturas. 
Perrault deu o título de “Histórias” ou “Contos do tempo passado com 
moralidades”, à primeira edição de seu célebre livro, publicado em 11 
de janeiro de 1697. Mas, o título inhicial ficou apagado e ele se tornou 
conhecido com outro título, “Contos da Mamãe Gansa”, motivados pela 
gravura de frente presente na edição original. Este pouco conhecido título 
está inscrito no seu manuscrito da obra datado de 1695, que veio à tona 
somente em 1953, por ocasião de seu leilão. 
O manuscrito só contava com os cinco seguintes contos: A Bela 
Adormecida no bosque, Chapeuzinho Vermelho, Barba Azul, Mestre Gato 
ou o Gato de Botas
Figura 1: Madame d’Aulnoy que influenciou Charles Perrault
Fonte: Wikimedia
Literatura Infantojuvenil
14
Esta publicação da 1ª coletânea de contos infantis, na França do 
século XVII, Contos da Mãe Gansa, obra de Perrault, traziam oito histórias 
fabulosas e até hoje amadas pelas crianças, a partir da coleta deste autor, 
das narrações oraispopulares. 
Antes de publicar estes célebres os Contos, responsável pela 
origem da literatura infantil, Perrault apresentou na Academia Francesa, 
no ano de 1691, certo conto popular em verso. Estava aberta a porta da 
literatura clássica para as histórias do povo. Logo depois os oito contos 
em prosa da coletânea de 1697 realizariam a proeza de se tornarem 
conhecidos e admirados no mundo inteiro.
Foi feita uma dedicatória do filho mais novo de Perrault, Pierre 
Perrault, para a sobrinha do rei francês ressaltando que os contos 
continham morais sensatas, muito apropriados à serem dedicadas a 
uma princesa, devendo ser valorizados como importantes exemplos da 
vida do povo. Assim, estavam escritos os materiais recolhidos por Pierre 
Perrault, trazendo ao convívio dos nobres franceses a tradição folclórica 
popular, passando por uma sofisticação para agradar ao público nobre 
francês e em uma versão escrita. O livro não traz o nome do autor na capa, 
mas a dedicatória vem assinada por P. Darmancour, filho caçula do poeta 
Perrault. 
Até hoje se discute se os contos foram escritos pelo pai, pelo filho 
ou por ambos. Ao que tudo indica foi feita a quatro mãos e toda a polêmica 
sobre a obra está relacionada ao imenso sucesso dela.
Existe uma defesa que a afamada coletânea era realmente fruto 
de um trabalho de colaboração entre o pai e o filho. O jovem escrevia 
os contos como exercício de redação, incentivado pelo pai, que acabou 
se entusiasmando pela ideia de publicá-los. Assim, o pai pegava os 
manuscritos do filho e os aperfeiçoavam na forma literária. Sendo assim, 
eram do pai Perrault, os versos moralistas e os arranjos artísticos da frase 
literária. Esta participação tão ativa do filho, Pierre Perrault nos leva a 
Literatura Infantojuvenil
15
indagar se sua participação não seria um dos fatores de tal obra ser tão 
apreciada pelas novas gerações?
As histórias contidas em “Contos da Mãe Gansa”, de Charles Perrault 
eram: Cinderela ou A Gata Borralheira, A Bela Adormecida no Bosque, O 
pequeno Polegar, Henrique do Topete, Chapeuzinho Vermelho, O Barba 
Azul. As fadas e O Gato de Botas. Eram contos em versos e que foram 
oferecidos à Infanta, neta do rei francês. Em “As fadas” fica mais evidente o 
prêmio para a personagem bondosa e o castigo para a maldosa. Enquanto 
o castigo é o abandono e a morte, o prêmio obviamente é o casamento 
com um príncipe.
Este sucesso da coletânea do autor levou tais contos populares 
à alto prestigio junto à sociedade burguesa, na Idade Moderna, sendo 
denominados como Contos de fadas. As fadas só aparecem em quatro 
das oito histórias e a bruxa (fada-má) só aparece em uma delas, embora 
esteja representada em outras pela madrasta (mãe-má). As princesas, ou 
camponesas que se tornam princesas, estão em cinco histórias.
Figura 2: Fauna, a fada boa, na Bela Adormecida no Disney Magic On Parade na 
Disneylândia Paris.
Fonte: Wikimedia
Literatura Infantojuvenil
16
Qual seria a importância de tais tradicionais contos de fadas, 
coletados por Charles Perrault e escritos por ele, no século XVII e que 
poderiam nos inspirar a usá-los ainda hoje, segundo o próprio escritor? 
Perrault defende que para a moral ingênua e utilitária, os homens devem 
ser guiados por poderes superiores (mágicos/divinos), que punem o vício 
e premiam a virtude. Sendo assim, estes contos selecionados por este 
escritor francês usaram esse esquema nos contos em prosa, escritos para 
às crianças com especial simplicidade e em formato poético, primando 
por ensinar belas lições morais de honestidade, paciência, previdência, 
obediência e coragem para o trabalho. 
Estas morais das histórias evocadas por Perrault, no ano de 1695, 
ainda seriam cabíveis aos tempos em que vivemos? São princípios morais 
valorosos para as sociedades atuais e os tempos em que vivemos? O fato 
é que caberá a criança ouvinte ou leitora dos contos tradicionais realizar 
seus julgamentos de valores e os usos que poderão fazer deste material 
literário, patrimônio da humanidade. Já nos contos modernos, os autores 
contemporâneos costumam ter a preocupação de trazer questões que 
estão inseridas nas suas mentes, como pessoas inseridas nos seus 
tempos. 
O que se pode afirmar é que será muito importante levar os 
velhos contos populares, coletados e traduzidos por Perrault, aliviando 
a excessiva preocupação deste autor com a moral da história, deixando 
que a própria criança tenha os seus ganhos singulares com a leitura da 
Cinderela e sua malvada madrasta, no exato momento em que assiste um 
filme em que aparece a Bela Adormecida.
Refletindo com o pensamento de Zilberman, é necessário ter 
cuidado em não repetir os erros de Perrault, com a sua excessiva jornada 
em prol da moral burguesa, em considerar como hegemônicos e válidos 
somente os valores sociais da burguesia, dividindo com os nobres e o clero 
os privilégios, transmitindo valores burgueses do tipo ético e religioso e 
conformam o jovem a um certo papel social.
No século XVIII, os notáveis alemães Irmãos, Jacob e Wilheim 
Grimm, eram pesquisadores do folclore e da mitologia alemã, curiosos em 
busca de antigas narrativas orais populares e encontraram, no decorrer 
Literatura Infantojuvenil
17
de suas pesquisas, duas mulheres, Katherina Wieckmann e Jeanette 
Hassenpflug, e os irmãos Grimm ouviram e transcreveram as seguintes 
histórias que estas mulheres narraram para eles: Branca de Neve e o os 
Sete Anões, A Gata Borralheira, Bela Adormecida, Joãozinho e Maria, O 
Príncipe Sapo, O Ganso de Ouro, As três fiandeiras, O Pequeno Polegar, Os 
músicos de Bremem, Os Sete Corvos, A Guardadora de Gansos e muitas 
outras maravilhosas narrativas de vasto conhecimento popular. 
Inicialmente, os Irmãos Grimm publicaram de modo avulso, entre 
os anos 1812 e 1822, histórias que foram agrupadas em uma publicação 
intitulada de Contos de Fadas para Crianças e Adultos, que mais tarde 
ganhariam o nome de Contos de Grimm.
Figura 3: Irmãos Grimm - O casamento da Dona Raposa
Fonte: Wikimedia
Tatar (2013) comenta que os irmãos Grimm, Jacob Grimm (1785-
1863) E Wilheim Grimm (1786-1859), imortalizados por contos de fadas, 
coletaram contos populares e publicaram sua coletânea, com dois 
volumes entre os anos de 1812 e 1815. Quando eles desenvolveram seu 
primeiro plano de compilar contos populares alemães, tinham em mente 
um projeto erudito. A intenção deles era captar a voz autêntica do seu 
Literatura Infantojuvenil
18
povo, preservando com a escrita a encantadora poesia oracular popular. 
Tesouros folclóricos inestimáveis ainda podiam ser encontrados circulando 
em pequenas cidades e aldeias, mas os fios gêmeos da industrialização 
e da urbanização ameaçavam sua sobrevivência e exigiam ação imediata.
O título da obra era Kinder- und Hausmärchen (Contos da infância 
e do lar) era composto de contos de fadas clássicos e de lendas, piadas, 
anedotas e fábulas e muitas narrativas tradicionais populares. Os contos 
da coletânea dos Grimm passaram a constituir um arquivo cultural do 
folclore alemão, de histórias que, ao que se pensava, espelhavam e 
modelavam a identidade nacional. Foram vistas como uma maravilhosa 
obra, preservando as encantadoras narrativas populares do povo alemã. 
Os Irmãos Grimm basearam-se em diversas fontes, tanto orais 
quanto literárias, para compilar a coletânea. As anotações que fazem 
dos contos revelam o quanto eles se serviram de várias compilações 
nacionais, sendo possível afirmar que eles recorreram às fontes literárias 
para preparar a versão folclórica de seus contos.
Os esforços dos irmãos Grimm foram intensos para colher as 
fontes populares do seu povo, dos seus contos orais, criando várias 
versões. Entre suas privilegiadas fontes estão mulheres da classe social 
desta dupla de escritores dos contos de fadas e histórias contadas por 
narradores populares. Entre elas estava Dorothea Wieman, filha de um 
estalajadeirode ascendência franco-huguenote e viúva de um alfaiate, 
a qual foi, ironicamente, a mais famosa testemunha da autenticidade 
folclórica da coletânea. 
O que se percebeu na escrita foi um distanciamento e alteração, 
nas versões dadas pelos Irmãos Grimm das fontes orais relativas as 
narrativas na hora da colheita e na hora de fiar. E, assim, os Irmãos Grimm 
narraram, do oral às suas escritas, distanciando-as da linguagem rude, 
do humor obsceno e dos lances indecentes das versões populares. Eles 
estavam atentos, na escrita, nas ambições eruditas e patrióticas que o 
movimentavam na escrita para crianças. 
Receberam muitas críticas, desde serem contaminados pelos 
franceses e italianos até de conteúdos patéticos e de mau gosto, a ponto 
Literatura Infantojuvenil
19
de contaminar os pais a não querem comprá-los, antes da publicação, e 
eles voltaram a reexaminar suas escritas. Receberam, ainda, reclamações 
sobre a tonalidade grosseira de tais contos populares. E isso resultou 
em uma busca excessiva para apagar os traços rudes tão criticados, 
das narrativas populares. E, por fim, mudaram o público alvo. O que fora 
concebido inicialmente como documentos para estudiosos transformou-
se gradualmente em leitura para crianças na hora de dormir.
Figura 4: Um dos contos dos Irmãos Grimm – As três fiandeiras
Fonte: Wikimedia
No século XIX, o autor dinamarquês Hans Christian Andersen 
escreveu a obra Eventyr, contendo 168 contos publicados entre os anos 
1835 e 1877. O autor estava contagiado pelos ideários do Romantismo na 
literatura, ancorado na injusta realidade à sua época e que explicam a 
tristeza de alguns dos seus personagens e finais trágicos. Figuram entre 
os Contos de Andersen: O Patinho feio, Os Cines Selvagens, A Rainha 
de Neve, João e Maria, A Roupa Nova do Imperador, O Rouxinol e o 
Imperador da China, Os Sapatinhos Vermelhos, O Soldadinho de Chumbo, 
entre outras belas narrativas. Estas admiráveis páginas de Andersen foram 
encontrados no folclore nórdico e também criadas por ele, carregadas 
dos desejos populares, à época do autor, de superação das injustiças que 
Literatura Infantojuvenil
20
as camadas populares empobrecidas viviam, aliadas a fé religiosa deste 
autor e de sua história de luta contra a sua própria pobreza.
Hans Christian Andersen (1805-1875) ficou notabilizado por 
maravilhosos contos como A roupa nova do imperador, A pequena 
vendedora de fósforos, A princesa e a ervilha, O Patinho Feio e A Pequena 
Sereia. Quanto a Sereia, este personagem deste autor, imortalizada pelo 
sofrimento e abnegação, ganhou uma estátua de bronze, configurando 
conhecido monumento em Copenhague. O autor teria padecido com 
o desenrolar de seus personagens, com os golpes neles infligidos e 
condoendo-se de suas humilhações. ‘Sofro com meus personagens’, 
escreveu para um amigo. ‘Partilho suas disposições de ânimo, sejam boas 
ou más’. 
Uma das críticas ao autor é que ele teria infligido coisas más às boas 
pessoas, como na história da Pequena vendedora de fósforos e também 
coisas boas a pessoas más, com no personagem do Soldado de chumbo. 
Andersen é ao mesmo tempo reconhecido por sua vasta produção de 
mais de 150 contos, sendo responsável por um revigoramento do conto 
de fadas e um alargamento de seus limites para acomodar novos desejos 
e fantasias. Tendo publicado até uma versão autobibliográfica, em formato 
de contos de fadas. 
Sua história pessoal é de um filho de sapateiro e uma lavadeira, 
conseguindo ascender socialmente, com pouca instrução, tentou fazer 
o teatro em Copenhague. Foi estudar somente aos 17 anos, em sala de 
aula com crianças de 12 anos, sobrevivendo às repreensões do professor 
e zombarias dos pequenos colegas. Com a ajuda de amigos, chegou a 
universidade. 
O primeiro contato de Andersen com contos populares 
dinamarqueses acontecera no quarto de fiar do asilo em que sua avó 
trabalhava. O menino entretinha com desenhos a giz as mulheres que lá 
trabalhavam, e elas retribuíam, ele lembrou, contando-lhe histórias.
O que Andersen descobriu no folclore de sua terra natal foi um 
mundo ‘tão rico quanto o das Mil e uma noites’, mas um mundo 
que também infundia medo: ‘Quando escurecia, eu mal ousava 
Literatura Infantojuvenil
21
sair de casa. ’ Já em 1830, no prefácio a uma história chamada 
O fantasma, Andersen evocava o ‘prazer’ que fora ouvir contos 
de fadas e declarava sua intenção de publicar um ciclo de 
contos populares dinamarqueses. (TATAR, 2013, p.275)
Publicou um livro intitulado Contos, escrito para crianças, em 1835, 
com os seguintes contos: O isqueiro, Nicolão e Nicolinho, A princesa e 
a ervilha e As flores da pequena Ida. O próprio Andersen explicou que 
tomava para si uma ideia para os adultos e depois conto a história para os 
pequenos, sempre me lembrando que pai e mãe muitas vezes ouvem, e 
é preciso dar-lhes também alguma coisa para suas mentes.
ACESSE:
Acesse o vídeo sobre os Contos de Hans Christian Andersen, 
com Karin Volobuef, disponível no link: https://bit.ly/2tlddMi. 
Importância dos contos de fadas modernos 
e tradicionais na formação do leitor na 
contemporaneidade
É um engano pensar que os contos de fadas fazem parte de uma 
longínqua história e que remonta aos distantes primórdios da literatura 
feita para crianças, há muitos séculos atrás. Isso não corresponde à 
verdade. Uma forma de esclarecer a importância do conto de fadas 
na contemporaneidade é examinar a produção editorial infantojuvenil 
brasileira. Os editores recebem, ainda demanda de publicação de contos 
de fadas tradicionais? Evidentemente que sim, é do interesse dos adultos, 
Literatura Infantojuvenil
22
sejam pais, avós ou professores, que compram livros ou escolhem livros 
para as escolas este universo literário. 
A importância de oferecer contos de fadas tradicionais e os 
modernos para as crianças encontra cabimento na afirmação, vinda 
do campo da literatura, ao declarar que está no encantamento da arte 
narrativa o motivo da perenidade dos contos de fada. Este ato de polir, 
através dos mais diversos tempos, este delicado tratamento literário 
perenizou os contos tradicionais. 
Outro elemento, de caráter antropológico, a ser conferido, é lembrar 
que os contos de fadas representam os mitos primitivos da humanidade, 
e é bom levá-los às crianças para terem contato com tais legados dos 
nossos ancestrais. 
E com a ajuda da psicologia é possível entender que levar contos 
de fadas tradicionais ou modernos proporcionam as crianças o contato 
com o envolvimento emocional dos narradores, leitores e ouvintes que 
garante o encantamento produzido pela narrativa. E, ainda, encontraremos 
razões históricas, filosóficas e da crítica literária, sempre que tais estudos 
evocam que nos contos de fadas estão os elementos necessários para 
a transmissão de uma ideologia que, em cada época, se adaptou aos 
interesses do grupo social responsável pela reprodução e preservação 
das narrativas.
O Psicanalista Bruno Bettelheim (1980), em sua celebrada obra 
Psicanalise do conto de fadas, entende que os contos de fadas, como 
uma das experiências mais adequadas para promover um encontro da 
criança com significados singulares importantes. É relevante o fato dos 
adultos que cercam a criança desprender tempo para fazer narrações de 
contos de fadas para suas crianças (sejam familiares, pais, educadores e 
até funcionários de algum equipamento cultural frequentada pela criança).
Estes contos de fadas encantadores, habilmente narradas, trazem 
à criança a herança cultural, de um modo muito privilegiado para as 
crianças pequenas. Tais contos agem de forma salutar para melhor 
lidar com as maiores dificuldades íntimas das crianças. Estas narrativas 
não são fixadas nas necessidades, como grande maioria das cartilhas 
Literatura Infantojuvenil
23
e manuais destinados a fazer a criança ler, fixados nas habilidades, e 
descontextualizadas de maioressignificados, indo além do divertimento 
e da informação (presentes em muitos outros tipos de literatura infantil).
São os contos de fadas que se aprofundam, nos significados intensos 
e significativos, dos valores relativos ao viver, prendendo a curiosidade 
da criança. Possibilitando um enriquecimento da vida, estimulando a 
imaginação, o desenvolvimento e o esclarecimento de suas emoções 
mais íntimas e indizíveis, não sendo discordante de suas ansiedades e 
de suas aspirações, e não desfazendo de suas dificuldades e dores e 
trazendo alívios para os perturbadores problemas. 
Os contos de fadas modernos ou tradicionais não deixam de lado 
aquilo que é a expressão da personalidade da criança, que ouve ou ler 
um conto de fada. Precisando ser capaz de encarar com seriedade as 
dificuldades e oferecendo oportunidades de promoção da confiança 
na criança em si mesma e nas possibilidades do porvir. Em todos esses 
aspectos e em vários outros, no conjunto da ‘literatura infantil’ – com raras 
exceções -, nada é tão enriquecedor e satisfatório, seja para a criança, 
seja para o adulto, do que o conto de fadas popular. 
Bettelheim (1980) defende que os contos de fadas colaboram em 
uma tarefa essencial: a trazer sentidos ao turbilhão de sentimentos das 
crianças, oferecendo suportes para colocar em ordem a casinha interior e 
ordenar a própria existência. Entra no circuito da necessária educação moral 
que as crianças precisarão obter e terão que ser convencidos do valoroso 
papel de bom comportamento moral, sem abstrações, de forma tangível 
e significativa. Transmitindo significados manifestos e latentes salutares à 
existência humana. Atingindo a mente, naquilo que o aparelho psíquico 
apresenta: as instâncias consciente, pré-consciente e inconsciente. Tais 
contos de fadas lidam com aqueles problemas universais e que perturbam 
o cotidiano infantil, fortalecendo o desenvolvimento psíquico e aliviando 
as incógnitas advindas do pré-consciente e inconsciente. 
Os professores devem entender que os contos de fadas são 
imprescindíveis. É este tipo de narrativa que vai oferecer às crianças 
sugestões em forma simbólica indicando como podem melhor lidar com 
suas inquietações existenciais. É preciso aprender a lidar com temas como 
Literatura Infantojuvenil
24
a morte e o envelhecimento. Nos contos de fadas são oportunizadas as 
convivências com as nossas dificuldades humanas básicas. Bem como, 
tais contos de fadas oferecem dilemas existenciais, com possíveis 
apreensões dos elementos importantes e as soluções dos problemas, 
de forma bem simplificada, com personagens de fácil entendimento e 
decifração, capazes de cometer as mais belas virtudes e as mais sórdidas 
maldades.
Somos humanos demasiadamente humanos! Os problemas morais 
são apresentados e demandam soluções e finais felizes! As mais dolorosas 
angústias e os mais terríveis dilemas humanos são levados muito a sério: 
necessidade de amor, medos de desvalorização, amor à vida e medo de 
morrer. O conto de fadas, por suas imensas qualidades literárias, traz às 
crianças uma experiência de prazer, de encantamento e fruição diante de 
uma obra de arte, agindo de forma singular para cada pequeno leitor e 
trazendo significados ímpares aos que ouvem o mesmo conto de fadas, a 
depender do momento em que vive.
Os adultos que escolhem literatura para crianças precisaram ouvir 
os gostos das crianças, elas saberão esclarecer o que precisarão ler ou 
ouvir. Há algo precioso em escolher contos de fadas para as crianças: 
eles as direcionam para o encontro com às suas identidades e vocações, 
indicando caminhos ou experiências necessárias para o longo caminho de 
estruturação do caráter. Trazem esperançosas lições para as adversidades 
da vida, elas serão superadas, com a escolha do caminho do bem, dando 
força nas mais arriscadas empreitadas, as futuras vitórias valem os maiores 
riscos. Longe de trazerem conselhos infalíveis e nem mostram o mundo 
como ele é. Os contos de fadas exigem que o seu uso terapêutico se faça 
na busca de cada um por suas próprias soluções. Cada um busque suas 
próprias verdades e soluções aos seus pesares mais íntimos. 
Nos anos em que a criança permanece na Educação Infantil, dos 
três aos seis anos, tendo a cada dia uma maior habilidade como falante 
da língua portuguesa, domando as regras de sintaxe e expandindo o seu 
vocabulário, interessadas em tudo o que envolve os atos de ler e escrever, 
os contos de fadas tradicionais e modernos são bastante apropriados. É 
fundamental tornar familiar à criança a necessidade de acomodarem-se 
Literatura Infantojuvenil
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confortavelmente para ouvir; fazerem o menor barulho possível, para que 
todos possam ouvir e acompanhar a narrativa; visualizarem o modo como 
o adulto relaciona-se com o objeto livro. 
Estes usos reiterados, geração a geração, produziu um conhecimento 
de personagens que já estavam nos antigos disquinhos infantis no século 
XX e hoje e estão presentes em muitos objetos e em formatos digitais. E, 
é inegável, que este conjunto fantástico de princesas, príncipes, sapos, 
fadas, bruxas, sofrimentos e finais felizes podem ser tocados por questões 
atualíssimas:
Além disso, os contos de fadas, com seus seres mágicos e 
seus finais exemplares (em que o mal é sempre punido) são 
histórias que possibilitam às crianças de qualquer contexto – 
social, econômico, cultural, étnico, racial – a vivencia de uma 
experiência sem precedentes. Cabe destacar aqui que os 
contos de fadas possibilitam ao educador a discussão de suas 
ilustrações (Será́ que a princesa não poderia ser negra? Será 
que o príncipe não poderia usar óculos?) ou seu conteúdo 
(será́ que a madrasta não poderia se tornar amiga da Branca 
de Neve? (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p.85)
Ainda representa interesse intenso de muitos professores brasileiros 
de Educação Infantil e do ensino fundamental, oferecer, nas suas escolas 
para os seus alunos livros de contos de fadas ou de animais, temas 
tradicionais e consagrados como os que mais agradam as crianças. 
Evidentemente, não são somente os contos de fadas tradicionais que 
interessam aos adultos e agradam às crianças e adolescentes brasileiros. 
Antes que você fique indagando se seriam somente estas as 
escolhas dos professores, é importante destacar que existe, no Brasil, 
diversificada e crescente produção literária para crianças, iniciada na 
última década do século XX, por meio dos temas transversais, cada vez 
mais apreciados pelos professores e pela escola.
Magda Soares informa a existência entre o público brasileiro 
infantojuvenil da aceitação deste agrupamento literário, contos de fadas, 
Literatura Infantojuvenil
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envolvido tradicionalmente com a fantasia ou a fantasia como tradição. 
Fantasia é a faculdade humana relativa a imaginação. De origem latina 
a palavra “phantasĭa”, relacionada a um vocábulo grego, significa uma 
faculdade dos seres humanos que possibilita a reprodução de eventos 
já passados, através de imagens mentais, ou a representação dos 
acontecimentos irreais no cotidiano. E os contos de fadas e fábulas 
coexistem, em distintas traduções, versões, adaptações e atualizações, 
e as histórias de bichos de todas as espécies, com destaque especial 
para os animais de estimação; ou, ainda, em menor escala, aqueles que 
abordam os espaços “preferidos” pelas crianças.
Tal é o lugar importante que os contos ocupam na literatura voltada 
as crianças, desde tempos remotos até a nossa Era Digital atual, que 
não seria exagero nenhum afirmar que junto com os livros de fábulas, 
os contos estão na base da literatura voltada para a criança e, por essa 
razão, podemos justificar o seu predomínio, ainda hoje, como temática 
preferencial, com narrativas que procuram sempre assegurar a vitória do 
bem e a derrota do mal. 
E qual seria o universo em que a criança mergulha ao ouvir ou 
ler os contos de fadas tradicionais ou modernos?Com estas narrativas, 
é moldado um mundo justo onde bem e mal ficam isolados como se 
na natureza humana esses ‘lados’ fossem excludentes, assegurando o 
caráter pedagógico, moralizante e exemplar dessa produção. O que foi 
sendo modificado dos tempos de surgimento destes contos tradicionais 
ao momento de ruptura, a partir do século XIX, permanecendo firme o 
elemento da fantasia, como uma tradição que não se perdeu e é mantida 
viva, tanto nas traduções e novas versões de contos de fadas tradicionais 
como nos modernos contos de fadas, com ou em final feliz.
Isso nos leva, de certo modo, a eleger os textos dessa tradição 
como depositários desse mundo encantado, e, com base 
nessas redes de sonho e imaginação, é possível agregar, 
em função das mudanças históricas e sociais, elementos 
e espaços novos do universo infantil, que promovam uma 
atualização das narrativas sem que se perca a fantasia, a tal 
ponto que não questionemos. (SOARES, 2004, p.40)
Literatura Infantojuvenil
27
E esta presença dos contos de fadas tradicionais e atuais na vida 
das crianças deve muito ao fato da escola ter encontrado com a literatura 
e ter feito alianças que não se desmancharam com o passar dos tempos, 
já há muitos séculos. Por mais que algumas metodologias educacionais 
tenham primado por usos mais pragmático dos velhos ou atuais contos 
de fadas não foram capazes de destitui-los desta maravilhosa viagem 
fantástica que escutá-los ou lê-los traz aos seus pequenos leitores. 
SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendo a leitura do 
artigo Importância dos contos de fadas: no desenvolvimento 
da imaginação, disponível no link: https://bit.ly/2rNWqRx.
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir 
tudo o que vimos. Com as suas leituras, até este momento, 
você conseguirá identificar a importância dos contos de fadas 
modernos e tradicionais na formação do leitor. Na primeira 
parte, foi possível identificar a importância dos contos de fadas 
modernos e tradicionais, através de sua história. E na parte 
final, você será capaz de identificar a importância dos contos 
de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor, na 
contemporaneidade, refletindo em tudo o que leu até aqui 
sobre os contos de fadas tradicionais e modernos.
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Definição tradicional de contos de fadas
INTRODUÇÃO:
Os contos de fadas tradicionais são histórias advindas da 
tradição oral, recolhidas por escritores como Perrault, os 
irmãos Grimm, Andersen, entre outros. 
O maravilhoso atende a uma função literária e 
a uma função psicossocial. Como os contos de 
fadas são exemplos das primeiras narrativas, ou 
seja, das narrativas mínimas e de estrutura mais 
estável, o maravilhoso será o elemento mais 
propício para a passagem de uma situação de 
equilíbrio para outra de desequilíbrio, ou vice-
versa, geralmente com o retorno ao equilíbrio 
inicial, modificado. (KHÉDE, 1986, p.21)
Enquanto obra literária, os contos de fadas possuem uma estrutura 
narrativa linear, em que a sequência da narração é igual à sequência 
dos fatos, caracterizando a narrativa em ordem cronológica, a forma 
mais antiga de narrar, herdada da literatura oral. Tais contos de fadas 
não apresentam nenhuma criação artística individual existe, portanto, no 
plano da estrutura narrativa dos contos, isto é, na construção da trama 
das ações que formam o enredo. Seria no plano da linguagem, no nível 
da manifestação, ou seja, do estilo do narrador, que o artista dá a sua 
contribuição ao adaptar histórias de origem folclórica. Às narrativas 
populares devemos tais contos!
Os contos de fadas tradicionais são belas contribuições artísticas dos 
escritores, onde se usa o maravilhoso, o mágico, o humor, baseados nas 
narrativas da tradição oral, colhidas por eles, primando pela criatividade, 
com capacidade elogiável de produzirem uma comédia humana, antes 
da escrita, com a marca forte do imaginário de suas épocas, capaz de 
colocar a magia dentro das situações mais cotidianas das pessoas, potente 
Literatura Infantojuvenil
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o suficiente para unir a fantasia e o real, penetrando nos segredos da vida 
familiar, vendo os conflitos, necessidades e cuidados, relacionados a vida 
doméstica. 
O termo “contes de fées” é, todavia, estranhamente 
inapropriado, já que nem sempre existem fadas nas histórias. 
Na verdade, ele foi criado para distinguir o que pertencia 
aos incultos e camponeses do que era culto e aristocrático. 
Formulando um termo distinto, ‘conto de fadas’ os escritores 
também estabeleceram a distinção entre o que vinha 
diretamente da experiência e da luta social e o que se 
transformou em fantasia. (CANTON, 1994, p. 33)
Os contos de fadas, ganharam fama com Perrault e por tais caminhos 
de sucesso foram seguidos pelos Irmãos Grimm (século XIX) e já tinham 
sido convertidos em sinônimo de literatura que agradava às crianças, 
determinando uma escolha por histórias fantásticas, que aparecerão nos 
Contos , de Hans Christian Andersen (1833), bem como na escrita clássica 
de Lewis Carroll, o comemorado livro Alice no país das maravilhas (1863), 
assim como na escrita de Collodi, no conhecido Pinóquio (1883), e não 
sendo diferente a escolha feita por James Barrie, em Peter Pan (1911).
Partir do epicentro formado pelos contos de Perrault implicou 
dirigir o foco sobre contos de fadas que tinham como cerne 
dramas familiares, e não sobre chistes e charadas, sobre 
fábulas animais ou contos proverbiais e admonitórios, 
frequentemente agrupados sob o título mais abrangente de 
contos de fadas. (WARNER, 1999, p.14)
Os contos de fadas e os contos maravilhosos, ambos envoltos 
com a ideia do maravilhoso, são as obras literárias que permitem bons 
encontros entre adultos e crianças, desde dos tempos bem pequeninos. 
Neste incrível encontro, ao som de narrativas ou leituras de livrinhos com 
suas belas imagens, as crianças vão sendo apresentadas à cultura dos 
seus adultos mais significativos. Assim, é possível perceber que a vida 
Literatura Infantojuvenil
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não é simples, mas é possível, temos o fantástico e o maravilhoso para 
aliviar as dores existenciais, sendo que os contos falam até de intricados 
mecanismos sociais e econômicos.
DEFINIÇÃO:
Contos são narrativas repletas de seres maravilhosos, repletos 
de fantasia, em que um narrador apresenta personagens e 
o enredo, que depois de muitas provações poderá chegar 
à um final feliz. E as fadas? São seres divinos, não foram 
delineadas em seus aspectos físicos, mas as princesas, seres 
humanos, mereceram requintes de descrição literária. As 
princesas dos contos de fadas poderiam servir de modelos 
do comportamento às meninas e mulheres da burguesia.
As fadas fizeram o seu acesso à literatura, por intermédio das 
novelas de cavalaria, dos romances corteses, já que as Fadas ou Damas 
com poderes mágicos, representavam diversas personificações, contidas 
no folclore europeu e chegaram através dos colonizadores ao nosso 
país, Brasil. As fadas são seres fantásticos ou imaginários, de grande 
beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes 
e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los 
em situações-limite.
E como se perenizaram os contos do povo na literatura chamada 
de contos de fadas? Através do esforço artístico do poeta burguês francês 
para perenizar sua ideologia. Já quando se buscam os significados das 
funções femininas se descobre que muitos elementos foram esquecidos 
ou propositalmente preteridos pela educação burguesa, poderão ainda 
ser recuperados. Tudo depende dos valores predominantes na sociedade. 
Isso demonstra a materialidade mutável deles.
Os contos de fadas possuem vasta eficiência literária, conseguindo 
demonstrar o máximo de rendimento emocional com um mínimode manifestação verbal. É capaz de comunicar muito com pequenas 
frases, demonstrando fortes impactos emocionais. Não abrindo mão da 
Literatura Infantojuvenil
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verossimilhança (parece com o real), mesmo em cenários improváveis e 
mágicos. 
Quanto à real interferência dos padrões sociais característicos 
daquela época em que cada conto foi escrito (chamado de tempo da 
enunciação) fez com que aquele discurso do narrador (chamado de 
enunciado) fosse definido, através de dois objetivos:
[...] dirigir- se a um determinado tipo de receptor (a criança) e 
transmitir um determinado código moral (a ideologia familista 
burguesa). Por isso a linguagem é ao mesmo tempo simples 
como a dos narradores populares e literariamente trabalhada 
como a dos poetas, para que o prazer da leitura (função 
poética da linguagem) facilitasse a recepção da mensagem. 
(MENDES, 2000, p.116)
Os contos de fadas tradicionais são adaptações ricas e contraditórias 
em que o artista procura ser fiel aos ritmos, aos tons e aos espíritos dos 
contos, O que não representa que elaboração de um autor como Perrault 
não tenha sido bastante requintada. Os efeitos desejados são obtidos com 
extraordinária economia de recursos, astúcia na construção do texto e 
achados verbais de rara sutileza.
Os contos de fadas podem ser definidos quanto ao seu característico 
estilo literário, que envolve o seu receptor, ou seja a criança, levando em 
consideração que os alicerces da sua estrutura discursiva eram os papéis 
sociais determinados pelos adultos. E o objetivo dessa estrutura era a 
moralização dos hábitos femininos, desde a infância até a maturidade. Os 
tais iniciais contos populares foram sofisticados, atraindo mais leitores da 
classe hegemônica, entre os nobres e burgueses. O conto popular iniciou 
produziu figuras inesquecíveis. As primorosas adaptações literárias dos 
contos, assim essas figuras deixaram o universo da tradição folclórica em 
que viviam e se tornaram ‘criações artísticas’. Há três séculos elas habitam 
a imaginação de crianças e adultos nos mais diferentes rincões. 
Bettelheim (1980), na obra já anteriormente comentada, A 
psicanálise dos contos de fadas, esclarece as identificações de tantas 
Literatura Infantojuvenil
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gerações para os mesmos contos de fadas, contados e recontados em 
tempos tão díspares e por povos tão pouco semelhantes. O herói (ou a 
criança) parte para o mundo e poderá se encontrar, assim encontrará 
também o outro com quem será capaz de viver feliz para sempre; isto é, 
sem nunca mais ter de experimentar a ansiedade de separação. Este autor 
entende que o conto de fadas é dirigido para o futuro e orienta a criança 
leitora, consciente e inconscientemente a abandonar seus desejos de 
dependência infantil e conseguir uma existência mais satisfatoriamente 
independente. 
Freud (1908), em uma importante obra dele, Escritores criativos e 
devaneios, indaga pela genealogia do material criativo produzido pelos 
escritores, e questiona se estes primeiros traços de atividade imaginativa 
estariam circunscritos na infância. Na percepção freudiana, os poetas e 
os escritores criativos costumam, nas suas elaborações escritas, criar um 
mundo particular para si mesmos e costumam acomodar este mundo 
novo aos seus próprios prazeres, reajustando as tensões, tornando 
agradável os fatores que provocam desagrados. 
 Quanto as crianças, estes privilegiados leitores e ouvintes dos 
contos de fadas tradicionais, nos variados tempos e em muitos lugares 
diferentes, de forma similar aos escritores criativos buscam no brincar 
da criança a realização de um desejo que percorre toda a infância: 
querem/desejam ser grandes e adultos. Santa Roza acredita que, neste 
trabalho publicado em 1908, o brincar é visto como uma das primeiras 
manifestações da fantasia, um precursor da atividade imaginativa que 
rege a produção literária e poética.
Assim, vemos uma pista para entender as razões ou as desrazões 
que levam a popularidade dos contos de fadas tradicionais entre o 
público infantil. Seus hábeis escritores respondem às questões íntimas 
das crianças ao pensar ou ao sentir que melhor seria a vida se fossem 
adultos. E o que lhe trazem os contos de fadas? Muitos fatos relacionados 
as vidas dos pais, das madrastas, das mocinhas, dos rapazes, do amor, 
Literatura Infantojuvenil
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da morte, da dor, das perseguições, dos sentimentos mais atrozes e das 
maiores felicidades ao final.
Na visão psicanalítica, a antítese de brincar não seria o sério, mas o 
que é real (Freud, 1908). Freud acenava, seguramente, a esse real como a 
realidade dos adultos. Para Freud, o poeta e a criança que brinca ocupam-
se da mesma tarefa, ou seja, da criação de um mundo fantástico e que é 
movido com a maior seriedade pelos dois. O que em si não implica que as 
crianças e os escritores criativos confundam este mundo que lhes é com 
a realidade. 
Nesta obra de 1908, Sigmund Freud defende que a irrealidade do 
mundo poético (é certo que o que escrevem os escritores criativos não é 
a realidade!)produzem suas consequências sobre as técnicas artísticas, 
porque muito do que, sendo real, não traz nenhum prazer, a realidade 
se impõe relutante contra a fantasia, mas nada impede que ao escrever 
os escritores criativos e os poetas colaborem com as crianças, ao revelar 
em seus personagens tantas emoções dolorosas e que se tornam em si 
mesmas fontes de prazer para as crianças que tomam conhecimento de 
suas obras ou ao público em geral de poetas e escritores criativos.
Na impossibilidade de ser adulto aqui e agora, o brincar, e também 
o ler ou ouvir contos de fadas tradicionais, as crianças são capazes de 
efetuar esta fantasia possível e embarcar nos contos maravilhosos e seus 
personagens adultos. A diferença entre o brincar e a criação literária reside 
no fato das crianças estarem impossibilitadas de exerces seus desejos de 
poder e amor, só consegue fazer algo neste sentido através do faz-de-
conta. Freud afirma que o desejo que dirige o brincar da criança é o de 
tornar-se adulto. Esse desejo é regido pela ilusão de que o mundo adulto 
proporciona a realização das fantasias.
Freud (1908) entendia que os escritores de romances, contos e 
histórias, nas criações deles, é possível encontrar, inicialmente, a seguinte 
e essencial característica: todos criam um protagonista, constituído como 
foco de interesse, que é atingido de inúmeros modos em um dado 
capítulo, são inúmeros padecimentos e já no próximo capítulo da obra já 
é possível vê-lo reestabelecido e na luta. Mal saiu aos destroços em um 
Literatura Infantojuvenil
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primeiro volume da obra e já será possível ler que o herói, na obra seguinte, 
conseguiu um resgate milagroso. Os leitores respiram sossegados! 
O herói destemido e forte vence todos os obstáculos inimagináveis. 
Freud entende que este sinal de invulnerabilidade, ou seja está sempre lá 
no herói em sua integridade, em uma próxima página de um conto, neste 
sinal de invulnerabilidade conjuga bem com o esforço que cada um de 
nós (sua majestade o eu que vive em cada um de nós) persiste em viver. 
Cada um de nós é um herói de todos os sonhos e de todos os contos, 
romances e histórias contadas às crianças.
O fato do herói contar em circunstâncias de intensos conflitos com 
o apoio de algum ser sobrenatural, vindo ao seu socorro e solucionando 
imensas dificuldades e riscos é definidora dos contos de fadas. E quem 
seria o herói? É aquele personagem que passa e suporta “amplas 
aventuras e obtém vitória nas adversidades surgidas”. Por isso ele é 
considerando o personagem principal, cujas ações, pensamentos e 
sentimentos acompanhamos com maior interesse. O herói é também 
chamado protagonista da história.
Voltando ao Bettelheim (1980), com os entendimentos freudianos, 
aqui anteriores, vai ficar mais inteligível que os contos de fadas tradicionais 
ou contos maravilhosos podem ser definidoscomo auxílios essenciais 
para todos os desafios existências que as crianças passam, ao longo de 
suas infâncias. Teriam os contos de fadas valores inigualáveis, ao oferecer:
[...] novas dimensões à imaginação da criança que ela 
não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ainda 
mais importante: a forma e estrutura dos contos de fadas 
sugerem imagens à criança com as quais ela pode estruturar 
seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida. 
(BETTELHEIM, 1980, p.16)
Os Contos de Fadas Tradicionais e Contos Maravilhosos eram um 
alento aos povos medievais, que sobreviviam em tempos, históricos 
e sociais difíceis. Esta dura luta pela sobrevivência ficou marcada em 
Literatura Infantojuvenil
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algumas narrativas de tais contos. Isso é evidente ao perceber que os 
invasores húngaros, chamados de Oigours, viraram os Ogros dos contos 
maravilhosos. Os ogros são os terríveis devoradores de criancinhas, 
personagens ameaçadores e que serão, nos tempos seguintes, 
denominados de bicho-papão dos contos feitos para crianças.
Os contos populares deste período medieval são fiéis em representar 
seus duros tempos. A crueldade vai do marido que destratam as mulheres 
(em Grisélides), pai que deseja sua filha (Pele de Asno), tempos de fome e 
abandono dos filhos (em João e Maria) e hábitos antropofágicos de alguns 
povos medievais (em João e o Pé de Feijão).
Na Idade Moderna tais horripilantes e violentos traços medievais 
foram amenizados pelos celebrados publicadores dos contos coletados 
e adaptados às suas épocas, nos séculos XVII e XVIII, Perrault e Grimm. 
O declínio dos contos de fadas coincide com a chegada da Revolução 
Francesa, momento histórico em que são confrontados os interesses das 
classes superiores e das classes inferiores. Com grande influência entre 
os séculos XVII e XVIII, na Europa, foram trazidos para as Américas, no do 
século XIX. 
Os valores e comportamentos-padrão estabelecidos pelos 
contos de Perrault exerceram e continuam a exercer poder 
sobre a forma como lemos e interpretamos contos de fadas 
hoje em dia, seja por intermédio das coleções ilustradas para 
crianças, das versões cinematográficas de Walt Disney, dos 
anúncios de televisão ou de outras utilizações nos veículos de 
comunicação de massa. (CANTON, 1994, p.94-98)
O Conto de fada pode referir-se aos mitos de muitos povos. Um 
conto como Chapeuzinho Vermelho, com aparições semelhantes entre 
diversos povos, centra sua origem no mito grego Cronos, capaz de 
engolir seus filhos e com um final tranquilizador e marcado pela saída 
deles de dentro da barriga do pai. E esta temática, retorna no século XI, 
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em Fecunda Ratis, um conto maravilhoso de uma menina que usa um 
capuz vermelho e foi devorada pelo lobo, mas consegue escapar no final 
e encher a barriga dele de pedras.
ACESSE:
Acesse o Primeiro vídeo da série especial sobre contos de 
fadas: o que são? De onde surgiram? Por que ainda contamos? 
No link: https://bit.ly/2PKW3iA. 
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você 
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos 
resumir tudo o que vimos. Ao final da sua leitura, você está 
mais esclarecido a respeito da definição de Conto de Fadas 
Tradicional, percorrendo a história dos contos de fadas 
tradicionais, advindas da tradição oral, de inúmeras origens, 
colocados nas escritas de autores europeus com suas lições 
de moral, e até hoje em uso e com suas eficácias comprovadas 
pela psicanálise.
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Reconhecimento dos conto de fadas 
renovados
INTRODUÇÃO:
Os Contos de Fadas Renovados narram histórias, que podem 
ter elementos dos contos tradicionais, renovando-os e 
adaptando-os às nossas características sociais, aos contextos 
sóciohistóricos contemporâneos e ao momento em que 
alguém lida com tal conto renovado. 
O conto de fadas tradicional pode ser renovado, mas não desfigurado 
totalmente, bem como deve manter o elemento da magia, essencial aos 
contos de fadas. Inúmeros usos no cinema, no teatro e na TV acontecem 
com esta materialidade dos contos de fadas, renovando-os:
Estas transformações foram incorporadas internacional e 
interdisciplinarmente, já que os contos foram escritos de 
diversas maneiras, narradas em diferentes línguas e encenados 
sob variadas circunstâncias. Quando um novo produto cultural 
– seja um livro, um balé, ou uma peça de dança – teatro 
contemporâneo – utiliza o conto de fadas como paradigma, 
estabelece um diálogo, mesmo que não exclusivo, com 
Charles Perrault e a França do século XVII e com os Irmãos 
Grimm na Alemanha do século XIX. (CANTON, 1994, p.59)
Quando um escritor produz um novo conto de fadas está realizando 
uma revisão estética e contando uma história que vai além da trama 
literária, abrindo a possibilidade para o autor fazer suas ponderações e 
interpretá-lo.
Como em um jogo, a paródia de histórias antigas configura 
na tentativa de inovação de convenções, tanto do ponto de 
vista formal quanto de seu conteúdo. Novos contadores de 
Literatura Infantojuvenil
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histórias assimilam referências ancestrais e as modificam, 
apresentando soluções condizentes com seu tempo, daí a 
validade da releitura desses contos. (ALBERT, 2006, p.41)
Os contos de fadas renovados como obras literárias criativas são 
obras vinculadas à inovação e apresentam formas inusitadas, com firmes 
propósitos de exploração de linguagens que façam rupturas e sérios 
questionamentos ideológicos e de visões de mundo e realidade. 
Por isso, o valor literário tão-somente emergirá da renúncia 
ao normativo, o que implica abandono do ponto de vista 
adulto, ampliação do horizonte temático de representação 
e incorporação de uma linguagem renovadora, atenta ao 
discurso da vanguarda, às modalidades da paródia, enfim, 
acompanhando a evolução da arte literária, que se dá sempre 
como ruptura e não como obediência. (ZILBERMAN, 2003, 
p.69)
Com os contos de fadas renovados, os escritores assumem o 
risco de questionar os usos pedagógicos dos contos de fadas, não se 
desprendendo do fato deles serem obras de arte. Terá que mover esforços 
para trazer nova roupagem para os contos de fadas, historicamente, 
fechados e degastados. Vale o esforço de escreverem com originalidade, 
reutilizando o gênero e acrescentando elementos de questionamentos e 
críticas.
Enquanto os lugares em que os personagens dos contos tradicionais 
circulam são extremamente rurais e viviam em um tempo remoto, em um 
Era uma vez, os contos de fadas renovados podem trazer personagens 
vivendo em cenários urbanos e bastante contemporâneos, sendo que 
Literatura Infantojuvenil
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são releituras dos contos de fadas tradicionais. Ainda que os personagens 
falem sobre este contexto urbano e contemporâneo. 
Exemplo: Um bom exemplo é a obra histórica de “Cinderela: 
uma biografia autorizada” (2004). Nesta obra, as personagens 
são garotas que mostram camisetas com estampas do 
príncipe. As imagens bem contemporâneas são transmitidas, 
através dos comerciais de roupas íntimas, imagens nos 
álbuns de família, madrastas e filhas flagradas pelas lentes 
de um paparazzi numa ilha tropical, recortes de jornais, todos 
elementos presentes no cotidiano atual. Neste conto de fadas 
renovado, são visíveis mudanças estéticas e comportamentais 
comparadas a velha Cinderela, dos séculos XVII e XVIII. 
Cinderela é chamada pelo codinome ‘Cin’. Ela é uma garota 
moderna, do seu tempo, não inocente, muito independente, 
nada frágil, nem padecendo de sérios sofrimentos. A 
semelhança com os contos de fadas tradicionais está no 
começo do conto renovado: Era uma vez uma moça que 
se chamava... bom, o nome de verdade não importa. As 
personagens do conto de Mastroberti possuem alguns traços 
semelhantes às das versões da Cinderela, mas em nenhuma 
delas é possível apontar uma correspondênciaplena com os 
papéis previstos. O narrador deste conto de fadas renovado 
é diferente dos contos de Perrault e Grimm. É narrador-
testemunha. Conheci Cinderela menina ainda, quando morava 
na mesma rua em que estabeleci meu negócio. Bons tempos 
aqueles, quando os ricos tinham não só muito dinheiro, mas 
muita, muita classe. A família enfrentará problemas, a mãe dela 
morrerá e a futura madrasta já não parece com a má esposa do 
pai dos contos de fadas tradicionais. O conto de Mastroberti, 
através da renovação, e, ao contrário da padronização dos 
contos de fadas tradicionais, mostra Cinderela vencedora de 
todos os obstáculos enfrentados. O Príncipe quer ser monge 
no Tibet e não se entende bem com o pai e até chora. O 
conto renovado costuma questionar os papeis dos contos 
Literatura Infantojuvenil
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tradicionais. A paródia, como se sabe, serve à crítica que resulta 
na inversão de pontos de vista e no questionamento dos 
modelos parodiados. E até mesmo aquela frase comum aos 
contos de fadas, ‘Foram felizes para sempre’, é diferenciado 
nos contos renovados. O cargo de Princesa lhe prometia ser 
muito pesado. Mesmo Sua Alteza tinha suas recaídas e de vez 
em quando voltava a falar do Tibete. 
Os contos renovados comportam temas e estratégias dos contos 
tradicionais, levando-os para novidades, amalgamando-as a novos 
processos. O conto renovado rever os clássicos contos de fadas para tratar 
de assuntos atuais. Como exemplo das contadoras de histórias de outros 
tempos, a autora realiza o rito de permanência de tradições, trazendo para 
seus receptores atuais novos recursos narrativos.
É característico dos contos renovados, as alterações com relação 
ao enredo do conto tradicional, ocorrendo a intertextualidade (aquela 
influência de um texto sobre outro) e mistura de estilos, com a presença 
de um narrador que está atento e dialogando com quem lê, apresentando 
linguagem renovada, reflexiva, desafiante, humorada e com a presença 
da fantasia, prazerosa, interativa, revisitando e aproveitando as formas e 
os temas antigos, restringindo aquelas antiquadas lições de moral. 
Além de alargar vários limites entre diversos gêneros e estilos, 
realizando uma ruptura com a realidade contemporânea, chamando os 
leitores do conto renovado para repensar e criar, diante do novo texto e a 
partir do momento presente e da própria sociedade em que vivem, que 
podem levar aos questionamentos dos problemas e desigualdades da 
nossa realidade social, na busca pelo novo.
O autor de um conto renovado busca um encontro com os acervos 
de contos de fadas que já são conhecidos pelos leitores. E o que se dá 
com o leitor do conto renovado? Reconhecendo a fórmula do conto 
clássico e detectando a inversão, o leitor percebe que, por trás do conto 
Literatura Infantojuvenil
41
Cinderela: uma biografia autorizada, existe um questionamento da ordem 
vigente.
No Brasil da década de 1970, aconteceu uma vibrante movimentação 
pró-renovação do conceito de literatura infantojuvenil. No bojo destas 
transformações, eis que os contos de fadas cresceram, foram renovados 
e tais frutos chegarão aos dias atuais, ganhando maior qualidade gráfica 
e artística. Os autores foram sendo notabilizados por suas fabulosas 
obras, dialogando com os seus vastos leitores, infantis e até adultos. As 
magias de tais contos de fadas renovados tinham o objetivo de modificar 
a realidade. 
A experiência da história, assim como a apreciação estética 
do quadro, é singular e inquestionável; depende do momento 
da história pessoal de cada expectador e é sempre uma 
conversa entre dois reinos de imagens: o reino de imagens 
presentes na obra de arte e o reino de imagens que constitui 
a experiência de mundo de quem entra em contato com essa 
obra. (MACHADO, 2004, p.42)
Alguns escritores brasileiros farão suas incursões pelo formato de 
contos de fadas renovados, algo que remeta, pelo menos levemente, aos 
velhos contos de Perrault. Um caso que flerta com as antigas raízes dos 
contos de fadas mais tradicionais são os textos com os quais dialoga a 
História meio ao contrário (1979), de Ana Maria Machado, que recupera, 
discute e inverte diametralmente situações e valores correntes nas 
histórias infantis.
A reconhecida escritora brasileira, Ana Maria Machado caminha 
pelas as clássicas frases de fechamento dos contos de fadas, “... e então 
eles se casaram, tiveram uma filha linda como um raio de sol e viveram 
felizes para sempre”. E ainda percorre caminhos junto aos conteúdos 
fantásticos, fazendo paródias com elementos oriundos de outra fonte 
literária, resgatando um personagem, na figura do gigante, de contos 
de fadas, dialogando com os versos do nosso hino nacional, no livro 
História meio ao contrário, dialogando a literatura infantil contemporânea 
Literatura Infantojuvenil
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com fontes mais remotas da literatura para crianças: “— Mas alguém já 
viu o Gigante acordado? Ele passa o tempo todo deitado, esse gigante 
adormecido. — É mesmo.... Deitado eternamente”. 
Outro caso espetacular brasileiro é a escritora Marina Colasanti, no 
livro Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento (1978). Em um período muito 
delicado da vida nacional, em tempos sombrios e ainda longe dos tempos 
de redemocratização, eis que surge uma obra, com vários elementos 
próprios dos contos de fadas tradicionais, como os personagens (o rei 
e a rainha), o cenário (o castelo), o elemento maravilhoso (o unicórnio), 
a atmosfera medieval”. Ressurge o velho fantástico dos contos de fadas 
antigos, criado por Marina Colasanti dialogando com fontes originais do 
conto de fadas, contestando-os também.
 • Marina Colasanti explica o que são histórias maravilhosas ou contos 
de fada. No link: https://bit.ly/2Eqhj7T. 
Marina Colasanti, em outro livro, Uma ideia toda azul (publicado em 
1979), traz na sua escrita um retorno à literatura infantil, com os reis rainhas, 
princesas e fadas, os habitantes dos contos tradicionais. Em duas obras 
desta autora brasileira, primeiro na obra Uma ideia toda azul e também na 
obra Doze reis e a moça do labirinto do vento (1983) existem personagens 
reis, rainhas, princesas, fadas, tecelãs, sereias e unicórnios, os cenários 
remontam aos palácios e espelhos. Algumas florestas e torres aparecem 
no texto sem ter qualquer compromisso com a realidade ao redor. Com 
uma escrita bem simples, melodiosa e linear, repleta de lições existências, 
para problemas tão contemporâneos ao viver da autora: solidão, morte, 
tempo e amor. Sem saber o que fazer, a princesa pegou o alaúde e a noite 
inteira cantou sua tristeza. A lua apagou-se. O sol mais uma vez encheu 
de luz as corolas.
Outras obras, neste período histórico e repressivo, apostaram neste 
projeto com o objetivo de desmitificar as criaturas do reino das fadas. 
Elementos advindos dos textos de Perrault e Grimm forma repensados 
como metáforas de graves situações sociais ou psicológicas. Tais 
visões contra o maniqueísmo destes antigos escritores que vão surgem 
Literatura Infantojuvenil
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interpretações questionadoras brasileiras. A fada que tinha ideias e 
Soprinho, de Fernanda Lopes de Almeida, A fada desencantada, de Eliane 
Ganem, História meio ao contrário, de Ana Maria Machado, e Onde tem 
bruxa tem fada, de Bartolomeu Campos Queirós.
Já Haroldo Bruno (1979), na sua obra O misterioso rapto de Flor-
do-Sereno, criou uma narrativa apoiada na linguagem popular e oral, 
aproximada da novelística medieval (novela arcaica) e ao mesmo tempo 
do romance de cordel (literatura nordestina com elementos da novelística 
medieval, trazida pelos colonizadores). Seus títulos já são encantadoras 
narrativas: O rapto da meiga e branca Flor-do-Sereno, com a casa sendo 
violentamente atirada nos ares e outras desordens do natural. De como 
o mágico Segismundo-corre-mundo sabe do endereço do monstro. 
Sazafrás pela inscrição de fogo que se abre num céu de estrelas e 
relâmpagos.SAIBA MAIS:
 Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à 
seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Era uma 
vez um conto de fadas: Das Origens à contemporaneidade. 
Disponível no link: https://bit.ly/2PS66Cq.
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você 
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos 
resumir tudo o que vimos. Ao final desta leitura, você é capaz 
de reconhecer contos de fadas renovados. Sendo capaz de 
distingui-los dos contos tradicionais, por estar esclarecido 
para você que os contos de fadas renovados narram histórias, 
com elementos dos contos tradicionais, renovando-os.
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Análise crítica dos contos de fadas
INTRODUÇÃO:
É bom não esquecer que os contos de fada ou contos 
maravilhosos de Perrault, Grimm ou Andersen, ou as fábulas 
de La Fontaine, praticamente esquecemos (ou ignoramos) 
que esses nomes não correspondem aos dos verdadeiros 
autores de tais narrativas. Não se deve desprezar e é 
necessário reconhecer, ao percorrer a história da literatura, 
de modo geral ou especificamente, a história da literatura 
feita para o público infanto-juvenil, que os clássicos infantis, 
estes maravilhosos contos de fadas tradicionais, devem ser 
reconhecidos, a partir de seus ancestrais ou de sua célula-
máter: a Novelística Popular Medieval que, por sua vez, tem 
suas raízes mais remotas em certas fontes orientais (Índia) ou, 
mais precisamente, indo-europeias. 
Arqueólogos, no século XIX, conduzindo importantes escavações 
na Itália, encontraram evidências de que alguns lendas e histórias 
ditas como criadas eram histórias verdadeiras, nas cidades italianas de 
Herculano e Pompeia evidências, no ano 79 d.C. (da nossa era comum). 
Posteriormente, outras escavações em Tróia, encontram hieróglifos 
egípcios reveladoras de produções antes de nossa Era comum (a.C). Isso 
motivou a busca por elementos das culturas populares, guardadas nas 
memórias dos povos em diversos países da Europa e das Américas, entre 
eles o nosso pais, Brasil. O material coletado reunia contos maravilhosos, 
narrados pelos povos, patrimônio cultural imaterial destes povos falantes 
de diversas línguas e que memorizaram e narraram histórias diversas e 
entre tais narrativas estavam Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida 
e a Gata Borralheira. 
Os contos de fadas são produções artísticas de uma das espécies 
literárias, pertencente ao conjunto vasto de narrativas infantis, que são 
Literatura Infantojuvenil
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comumente ajuntadas quanto à origem, em folclóricas e artísticas. As 
folclóricas são formadas de histórias criadas coletivamente pelo povo 
em diferentes épocas, como fábulas, contos populares, lendas e contos 
de fadas tradicionais. Quanto as artísticas, reúnem obras assinadas por 
autores, abarcando contos de fadas modernos, textos infantis que, por 
sua brevidade, simplicidade e enredo e relação estreita entre discurso e 
imagem, são denominados histórias curtas e narrativas formadas somente 
por imagens.
Estas extraordinárias pesquisas revelaram sobre as origens das 
narrativas orientais uma fonte anterior a Cristo (a.C), na Índia, e que 
embasará outras fontes como a latina (greco-romana) e também a céltico-
bretã (verdadeiro nascedouro das encantadoras e amadas fadas). Fadas: 
são os seres que fadam, isto é, orientam ou modificam o destino das 
pessoas. Fada é um termo originado do latim fatum, que significa destino.
Se as fadas são o símbolo do poder feminino, as princesas 
e as camponesas que se tornam princesas são o símbolo da 
fragilidade, que deveria caracterizar as mulheres terrenas, 
seres humanos submissos às contingências do destino e à 
moral determinada pela sociedade. O poder divino das fadas 
e o poder masculino dos príncipes deveriam comandar a sua 
vida. Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, 
a esposa de Barba Azul, a filha bondosa, a princesa linda e 
estúpida, todas são personagens marcadas pela fragilidade, 
que deveria ser a característica das mulheres e das crianças 
na sociedade patriarcal. (MENDES, 2000, p.129)
Uma das pérolas encontradas e que pode ser vista como as 
origens dos tradicionais Contos de Fadas e que estavam no manuscrito 
egípcio, localizado na Itália, no século XIX, com atestados 3.200 anos 
de existência, anteriores as fontes indianas, era o conto Os dois Irmãos. 
Com uma interessante narrativa e não incomum ao imaginário nordestino 
brasileiro, em que uma mulher deseja comer a língua (ou o fígado) de um 
Literatura Infantojuvenil
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boi estimado. No nordeste brasileiro tal narrativa é chamada de A Princesa 
e o Gigante, segundo o folclorista Câmara Cascudo.
Outra obra Sendebar ou O Livro dos Enganos das mulheres, de 
origem indiana, com texto originalmente na língua indiana, sânscrito, em 
que é narrado que uma mentira de uma madrasta (ela afirma ter sido 
molestada por ele) quase faz com que um rapaz fosse morto. Tal valorosa 
obra indiana terá o seu texto original em sânscrito (língua antiga dos 
indianos) traduzida entre os séculos IX e XIII para língua árabe e castelhano, 
dada a permanência árabe na Península Ibérica, entre os séculos VIII e XVI. 
Ainda estão presentes nesta obra alguns contos maravilhosos vastamente 
conhecidos no ocidente, tal como Aventuras de Simbad, o Marujo, Aladim 
e o Gênio, Ali Babá e os Quarenta Ladrões, entre outras.
Estas duas obras pertencentes aos povos do oriente, egípcios e 
indianos, podem seguramente ser considerados como os precursores 
dos contos de fadas tradicionais. Ambos carregam conflitos básicos 
existenciais, com eixo relacionados a paixão-ódio-sabedoria. Relatam 
as humanas paixões rejeitadas. Tais origens precisam ser reveladas aos 
leitores, aos professores e até as crianças que ouvem as narrações.
A encantadora obra oriental, As Mil e Uma Noites, estava pronta 
no século XV e esperou a chegada do século XVIII para receber pleno 
reconhecimento no ocidente, em uma celebrada edição francesa, no 
começo deste século. Assim, tal obra célebre vai ser contemporânea 
da considerada obra inaugural dos contos maravilhosos ou de fadas 
publicado por Charles Perrault, a famosa obra Contos da Mãe Gansa, 
repleta da ideia do maravilhoso e de fadas, com forte aceitação dos 
franceses. Foram várias publicações e que foram reunidas em 1785, 
compondo 41 volumes de diversos autores, notabilizadas no século XVIII.
Assim, é possível diferenciar os contos tradicionais, que remontam 
aos povos do oriente, recitados e posteriormente escritos, da Índia para 
o mundo Árabe, da publicação Árabe, daqueles outros e renomados 
escritores, a partir do século XVII e XVIII na Europa, como Perrault, Grimm 
ou Andersen, das produções dos contos de fadas modernos. É interessante 
observar e valorizar que os Contos Populares, provenientes da tradição 
Literatura Infantojuvenil
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oral popular, perpetuados às novas gerações através da memória oral dos 
povos, foram incansavelmente preservados e difundidos de forma oral. 
O importante estudioso russo Propp (2001) ficou notabilizado por 
sua instigante pesquisa sobre as coincidentes narrativas, nos contos 
maravilhosos, presentes em povos distintos e que jamais teriam tido 
qualquer convivência. Ele indagava: Como explicaria que a história da 
princesa-rã se assemelhe na Rússia, Alemanha, França, Índia, entre os 
peles-vermelhas da América e na Nova Zelândia, quando não se pode 
provar historicamente nenhum contato entre esses povos? 
Seus estudos foram essenciais para a compreensão de que muitas 
histórias apresentavam sequência de ações ou funções narrativas muito 
semelhantes. Propp começou a indagar se haveria uma única origem 
e fonte comuns aos povos, ainda que levando em conta suas distintas 
versões e seus temas diferenciados. Isso conduz as pesquisas de Propp 
a seguinte pergunta e muitos desdobramentos: Os contos folclóricospossuem uma origem comum e somente uma fonte de onde todos 
surgiram, apesar dos diferentes temas e diferentes versões?
A resposta para essa pergunta só foi encontrada anos 
mais tarde, quando o linguista se dedicou à pesquisa das 
raízes históricas dos contos maravilhosos (Propp, 1983). O 
resultado dessa pesquisa foi a descoberta da suposta fonte 
comum: as práticas comunitárias dos povos primitivos. Entre 
essas práticas destacam-se os ritos de iniciação sexual e as 
representações da vida após a morte. Para o autor, esses dois 
motivos explicam a existência de dois ciclos de contos, dando 
conta da quase totalidade das histórias hoje chamadas contos 
maravilhosos ou contos de fadas. (MENDES, 2000, p. 23)
Conhecer esta história implica na necessidade de valorizar às fontes 
orais populares. Propp foi relacionando os ritos dos povos, comparando-
os aos contos de fadas e contos maravilhosos, definindo que os 
mais velhos tinham papéis definidos, nos ritos de passagem, tendo a 
responsabilidade de narrar para os jovens, em momentos anteriores às 
Literatura Infantojuvenil
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iniciações deles, como uma condição indiscutível para ter acesso as suas 
responsabilidades adultas. O nascimento do herói é acompanhado, em 
geral, de uma profecia sobre seu destino. Antes de que se teça a intriga, 
já se revelam os atributos do futuro herói, defendia Propp sobre o herói 
dos contos maravilhosos que analisou, com bastante atenção. E tal frase 
poderia ser uma afirmação sobre os que passam pelos rituais de iniciação?
Sobre os ritos de passagens, haviam as narrativas passadas em 
segredo, tais narrativas eram relatos daquelas etapas que tais jovens 
passariam nos rituais que os levariam aos seus devidos lugares nas suas 
comunidades primitivas. Os adultos narradores já teriam passado por 
estes ritos e outros adultos antes deles também, geração após geração. 
A narrativa tratava do ancestral mais antigo deles, adultos e dos jovens, 
aquele que teria dito a responsabilidade de criar tudo: a raça e os costumes 
perpetuados.
A narração, que revelava ao neófito o sentido das práticas a que 
se submetia, fazia parte do ritual e não podia ser divulgada. Era 
um segredo entre iniciador e iniciado, uma espécie de ‘amuleto 
verbal’, que dava poderes mágicos a quem o possuía. E essas 
narrações foram-se transformando nos mitos das sociedades 
tribais, conservados e transmitidos como preciosos tesouros, 
instrumentos sagrados indispensáveis à vida da comunidade. 
(MENDES, 2000, p.24)
E para o que serviriam os Contos Populares? O que teria levado 
tais povos, por gerações sem fim ao zelo pela preservação? Na verdade, 
trata-se de um ato de prazer, cuja finalidade é exatamente fugir aos 
hábitos rotineiros que marcam a monotonia da vida cotidiana. Tais povos 
entendiam que um determinado conto popular, que além de tê-los 
ouvido na infância, mobilizou as suas próprias ações de aprendê-lo, serem 
capazes de realizar excelentes e envolventes narrações, destinadas aos 
seus filhos e netos, pelo simples fato de acreditarem que o conto seria um 
Literatura Infantojuvenil
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agente de transmissão de valores éticos, conceitos morais, modelos de 
comportamento e concepções de mundo.
Revisitando os nossos contos tradicionais brasileiros encontramos 
narrativas próprias do Brasil, de autoria anônima, de domínio popular e 
oferecidos às crianças e aos adolescentes. E vale relembrar que outros 
tantos contos foram transmitidos pela tradição oral nas várias regiões do 
Brasil, são variantes de relatos trazidos pelos povos que compõem a etnia 
brasileira. E para o que servem os refinados contos de fadas, pós século 
XVII? Os esforços das narrativas orais populares não deveriam ser mais 
valorizados, implicando até em pesquisa das narrativas orais do povo 
brasileiro, trazendo-os para perto das novas gerações? 
Os Contos de fadas tradicionais, assim denominados, são o resultado 
de pesquisa de consagrados autores europeus, colhidos junto aos povos 
que os mantinham preservados, na oralidade e os remetiam aos seus 
descendentes que acabavam por decorá-los e recitá-los, indiferente ao 
fato de não saberem ler e escrever.
O que seria semelhante entre as famosas histórias infantis de 
Perrault, dos Irmãos Grimm e de Andersen: Seria que estes diferentes 
autores, agindo em tempos e culturas distintas, é o fato de conseguirem 
o êxito de pesquisar e imortalizar com suas publicações o imaginário de 
crianças e adultos de seus países. 
ACESSE:
Veja o seguinte vídeo sobre as básicas críticas imputadas aos 
contos de fadas, tais como a crueldade, o maniqueísmo e a 
passividade dos protagonistas. Disponível no link: https://bit.
ly/38Hyn7B. 
Análise crítica dos contos de fadas: da Moral da história ao valoroso 
legado cultural da humanidade
Literatura Infantojuvenil
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Aqueles antigos contos de fadas, narrados ao pé da lareira para 
afugentar o tédio dos afazeres domésticos, foram transplantados com 
grande sucesso para o quarto das crianças, onde florescem na forma 
de entretenimento e edificação. E, assim constituíram-se um poderoso 
legado cultural transmitido de geração em geração, fornecem mais que 
prazeres amenos, enlevos encantadores e deleites divertidos. Contêm 
muito de “doloroso e aterrorizante”. 
Tais celebradas obras dos Irmãos Grimm e de Hans Christian 
Andersen tocaram, através dos tempos, as mais diversificadas infâncias, 
pelo mundo. Nossos desejos mais profundos, bem como nossas angústias 
mais arraigadas, misturam-se ao folclore e nele permanecem através 
de histórias que ganham a predileção de uma comunidade de ouvintes 
ou leitores. É inegável que os contos de fadas, com uma estrutura com 
começo, meio e fim bem nítidos ajuda a criança a compor uma visão 
sobre a vida, que ela não tem como experienciar e compreender em sua 
diversidade. E isso precisará ser bem e habilmente valorizado. 
Se por um lado, existiram e existem seus leitores encantados, 
sempre tiveram que enfrentar críticas ferrenhas. É, fundamental, não ser 
esquecido na hora de fazer qualquer análise crítica dos usos de tal tipo 
de literatura infantil, que os Contos de Fadas devem ser encarados como 
consideráveis depósitos de um consciente e um inconsciente culturais 
coletivos. Assim, é um objeto cultural privilegiado!
Já é reconhecido seu intenso valor terapêutico, pelos psicólogos 
e psicanalistas. Bruno Bettelheim (1980) ressalta que estes contos de 
fadas, ensinam às crianças que é salutar e inevitável lutar contra imensas 
dificuldades na vida. O conto de fadas é apontado para o futuro e dirige a 
criança, em termos que ela pode entender tanto na sua mente consciente 
quanto na inconsciente – a abandonar seus desejos de dependência 
infantil e a alcançar uma existência independente mais satisfatória. Esta 
autonomia da criança com tal material ninguém anula.
Muitos psicólogos infantis usam estes contos de fadas e os avaliam 
como poderosos veículos terapêuticos para ajudar crianças e adultos a 
resolver seus problemas meditando sobre os dramas neles encenados. Os 
textos possuem uma capacidade para serem usados como instrumentos 
Literatura Infantojuvenil
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facilitadores para enfrentar os medos, lidar com os sentimentos mais 
hostis e os desejos prejudiciais. Ingressando no mundo da fantasia e da 
imaginação, crianças e adultos garantem para si um espaço seguro em 
que os medos podem ser confrontados, dominados e banidos.
Um conto de fada traz uma possibilidade de extração de prazer na 
dor, dando vida às figuras sombrias de nossa imaginação como bichos-
papões, bruxas, canibais, ogros e gigantes, os contos de fadas podem 
fazer aflorar o medo, mas no fim sempre proporcionam o prazer de vê-lo 
vencido. 
Tatar (2013) lembra que o filosofo Walter Benjamin teria louvado os 
heróis e heroínas dos contos de fadas, declarando que a coisa mais sábia 
– assim o conto de fadas ensinou à humanidade nos velhos tempos, e 
ensina

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