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A AUTORA Glória Freitas Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou graduada em Pedagogia, com mestrado e doutorado na área de educação, com diversas experiências técnico-profissionais, na área de Educação, desde 1984, percorrendo inicialmente pela Educação Básica (na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I) em Escolas, posteriormente lecionando em formações docentes em Organizações Governamentais e Não Governamentais (ONG’s e OSCIPs), e a partir de 1990, lecionando os fundamentos e metodologias de ensino, na Formação Docente Inicial e Pós-Graduação, no Ensino Superior, em Universidades Públicas e Particulares, em São Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Identificação da importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor ....................................................... 12 Importância dos contos de fadas modernos e tradicionais através de sua história ..................................................................................................................................................... 12 Importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor na contemporaneidade ......................................................................................... 21 Definição tradicional de contos de fadas .........................................28 Reconhecimento dos conto de fadas renovados .......................... 37 Análise crítica dos contos de fadas ....................................................44 9 LIVRO DIDÁTICO DIGITAL UNIDADE 02 Literatura Infantojuvenil 10 INTRODUÇÃO Você estudará na Unidade II – Os Contos de Fadas Tradicionais e Renovados: Importância, definição e análise crítica. Identificará a importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor, através de sua história, tomando conhecimento dos fatos antecedentes, relacionados as narrativas orais populares, até chegar ao momento intenso de produção escrita dos contos de fadas, a partir do século XVII, com os autores Perrault e nos séculos seguintes com os Irmãos Grimm e Andersen, percorrendo a história e pensando na contemporaneidade dos contos de fadas. Em seguida lerá e será capaz de definir ao final, os Contos de Fadas Tradicionais. A diferenciação entre tais Contos de Fadas Tradicionais será possível, a seguir, ao tomar conhecimento e reconhecer Contos de Fadas Renovados. Por fim, vai ser possível analisar criticamente os contos de Fadas. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Literatura Infantojuvenil 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar a importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor; 2. Definir Conto de Fadas Tradicional; 3. Reconhecer Conto de Fadas Renovado; 4. Analisar criticamente os contos de Fadas. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Literatura Infantojuvenil 12 Identificação da importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar a importância dos contos de fadas modernos e tradicionais, com o seu aprofundamento na leitura conseguirá definir conto de fada tradicional, reconhecendo o que seria um conto de fada renovado, e por meio de todas estas informações, por fim, conseguirá realizar uma análise crítica dos contos de fada. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Importância dos contos de fadas modernos e tradicionais através de sua história Você será capaz de identificar a importância dos contos de fadas modernos e tradicionais, percorrendo a história, conhecendo-lhes suas origens. Quem são os ancestrais dos contos publicados na Europa, trazidos ao Brasil e ainda hoje presentes na indústria de entretenimento, em jogos digitais, em peças de teatro infantil, em filmes feitos pela indústria cinematográfica internacional e nas belas atualizações, nas novas edições dos livros clássicos, repletos de belos contos de fadas e fascinantes imagens? De onde vieram, originalmente, as ideias que são reutilizadas, nas lindas e encantadoras páginas que os pais leem para os seus filhos e que reaparecem na chegada das crianças às escolas, presentes em objetos escolares como lancheiras e até em fantasias de carnaval, ocupando um lugar preponderante na vida das crianças? Hoje, filmes, discos e livros ricamente ilustrados fascinam as crianças, e também os adultos, contando Literatura Infantojuvenil 13 as mesmas histórias. Embora esses narradores e narratários pertençam a mundos tão distantes no tempo. Na busca pela identificação da importância do conto de fadas moderno e tradicional, para muitas gerações de leitores, é fundamental relembrar um pouco sobre as gêneses dos contos, na história da literatura e da humanidade. Devemos às incríveis mulheres as narrativas orais terem chegado um dia à escrita. Durante o reinado de Luís XIV, algumas mulheres narravam suas histórias, memorizadas oralmente, chamadas de ‘contos de velha’, repletas de princípios e lições de moral. Tais histórias teriam chamado a atenção de Charles Perraulto que os reuniu numa publicação que os perpetuariam. Com a escrita, estes atravessaram os tempos e diversas culturas. Perrault deu o título de “Histórias” ou “Contos do tempo passado com moralidades”, à primeira edição de seu célebre livro, publicado em 11 de janeiro de 1697. Mas, o título inhicial ficou apagado e ele se tornou conhecido com outro título, “Contos da Mamãe Gansa”, motivados pela gravura de frente presente na edição original. Este pouco conhecido título está inscrito no seu manuscrito da obra datado de 1695, que veio à tona somente em 1953, por ocasião de seu leilão. O manuscrito só contava com os cinco seguintes contos: A Bela Adormecida no bosque, Chapeuzinho Vermelho, Barba Azul, Mestre Gato ou o Gato de Botas Figura 1: Madame d’Aulnoy que influenciou Charles Perrault Fonte: Wikimedia Literatura Infantojuvenil 14 Esta publicação da 1ª coletânea de contos infantis, na França do século XVII, Contos da Mãe Gansa, obra de Perrault, traziam oito histórias fabulosas e até hoje amadas pelas crianças, a partir da coleta deste autor, das narrações oraispopulares. Antes de publicar estes célebres os Contos, responsável pela origem da literatura infantil, Perrault apresentou na Academia Francesa, no ano de 1691, certo conto popular em verso. Estava aberta a porta da literatura clássica para as histórias do povo. Logo depois os oito contos em prosa da coletânea de 1697 realizariam a proeza de se tornarem conhecidos e admirados no mundo inteiro. Foi feita uma dedicatória do filho mais novo de Perrault, Pierre Perrault, para a sobrinha do rei francês ressaltando que os contos continham morais sensatas, muito apropriados à serem dedicadas a uma princesa, devendo ser valorizados como importantes exemplos da vida do povo. Assim, estavam escritos os materiais recolhidos por Pierre Perrault, trazendo ao convívio dos nobres franceses a tradição folclórica popular, passando por uma sofisticação para agradar ao público nobre francês e em uma versão escrita. O livro não traz o nome do autor na capa, mas a dedicatória vem assinada por P. Darmancour, filho caçula do poeta Perrault. Até hoje se discute se os contos foram escritos pelo pai, pelo filho ou por ambos. Ao que tudo indica foi feita a quatro mãos e toda a polêmica sobre a obra está relacionada ao imenso sucesso dela. Existe uma defesa que a afamada coletânea era realmente fruto de um trabalho de colaboração entre o pai e o filho. O jovem escrevia os contos como exercício de redação, incentivado pelo pai, que acabou se entusiasmando pela ideia de publicá-los. Assim, o pai pegava os manuscritos do filho e os aperfeiçoavam na forma literária. Sendo assim, eram do pai Perrault, os versos moralistas e os arranjos artísticos da frase literária. Esta participação tão ativa do filho, Pierre Perrault nos leva a Literatura Infantojuvenil 15 indagar se sua participação não seria um dos fatores de tal obra ser tão apreciada pelas novas gerações? As histórias contidas em “Contos da Mãe Gansa”, de Charles Perrault eram: Cinderela ou A Gata Borralheira, A Bela Adormecida no Bosque, O pequeno Polegar, Henrique do Topete, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul. As fadas e O Gato de Botas. Eram contos em versos e que foram oferecidos à Infanta, neta do rei francês. Em “As fadas” fica mais evidente o prêmio para a personagem bondosa e o castigo para a maldosa. Enquanto o castigo é o abandono e a morte, o prêmio obviamente é o casamento com um príncipe. Este sucesso da coletânea do autor levou tais contos populares à alto prestigio junto à sociedade burguesa, na Idade Moderna, sendo denominados como Contos de fadas. As fadas só aparecem em quatro das oito histórias e a bruxa (fada-má) só aparece em uma delas, embora esteja representada em outras pela madrasta (mãe-má). As princesas, ou camponesas que se tornam princesas, estão em cinco histórias. Figura 2: Fauna, a fada boa, na Bela Adormecida no Disney Magic On Parade na Disneylândia Paris. Fonte: Wikimedia Literatura Infantojuvenil 16 Qual seria a importância de tais tradicionais contos de fadas, coletados por Charles Perrault e escritos por ele, no século XVII e que poderiam nos inspirar a usá-los ainda hoje, segundo o próprio escritor? Perrault defende que para a moral ingênua e utilitária, os homens devem ser guiados por poderes superiores (mágicos/divinos), que punem o vício e premiam a virtude. Sendo assim, estes contos selecionados por este escritor francês usaram esse esquema nos contos em prosa, escritos para às crianças com especial simplicidade e em formato poético, primando por ensinar belas lições morais de honestidade, paciência, previdência, obediência e coragem para o trabalho. Estas morais das histórias evocadas por Perrault, no ano de 1695, ainda seriam cabíveis aos tempos em que vivemos? São princípios morais valorosos para as sociedades atuais e os tempos em que vivemos? O fato é que caberá a criança ouvinte ou leitora dos contos tradicionais realizar seus julgamentos de valores e os usos que poderão fazer deste material literário, patrimônio da humanidade. Já nos contos modernos, os autores contemporâneos costumam ter a preocupação de trazer questões que estão inseridas nas suas mentes, como pessoas inseridas nos seus tempos. O que se pode afirmar é que será muito importante levar os velhos contos populares, coletados e traduzidos por Perrault, aliviando a excessiva preocupação deste autor com a moral da história, deixando que a própria criança tenha os seus ganhos singulares com a leitura da Cinderela e sua malvada madrasta, no exato momento em que assiste um filme em que aparece a Bela Adormecida. Refletindo com o pensamento de Zilberman, é necessário ter cuidado em não repetir os erros de Perrault, com a sua excessiva jornada em prol da moral burguesa, em considerar como hegemônicos e válidos somente os valores sociais da burguesia, dividindo com os nobres e o clero os privilégios, transmitindo valores burgueses do tipo ético e religioso e conformam o jovem a um certo papel social. No século XVIII, os notáveis alemães Irmãos, Jacob e Wilheim Grimm, eram pesquisadores do folclore e da mitologia alemã, curiosos em busca de antigas narrativas orais populares e encontraram, no decorrer Literatura Infantojuvenil 17 de suas pesquisas, duas mulheres, Katherina Wieckmann e Jeanette Hassenpflug, e os irmãos Grimm ouviram e transcreveram as seguintes histórias que estas mulheres narraram para eles: Branca de Neve e o os Sete Anões, A Gata Borralheira, Bela Adormecida, Joãozinho e Maria, O Príncipe Sapo, O Ganso de Ouro, As três fiandeiras, O Pequeno Polegar, Os músicos de Bremem, Os Sete Corvos, A Guardadora de Gansos e muitas outras maravilhosas narrativas de vasto conhecimento popular. Inicialmente, os Irmãos Grimm publicaram de modo avulso, entre os anos 1812 e 1822, histórias que foram agrupadas em uma publicação intitulada de Contos de Fadas para Crianças e Adultos, que mais tarde ganhariam o nome de Contos de Grimm. Figura 3: Irmãos Grimm - O casamento da Dona Raposa Fonte: Wikimedia Tatar (2013) comenta que os irmãos Grimm, Jacob Grimm (1785- 1863) E Wilheim Grimm (1786-1859), imortalizados por contos de fadas, coletaram contos populares e publicaram sua coletânea, com dois volumes entre os anos de 1812 e 1815. Quando eles desenvolveram seu primeiro plano de compilar contos populares alemães, tinham em mente um projeto erudito. A intenção deles era captar a voz autêntica do seu Literatura Infantojuvenil 18 povo, preservando com a escrita a encantadora poesia oracular popular. Tesouros folclóricos inestimáveis ainda podiam ser encontrados circulando em pequenas cidades e aldeias, mas os fios gêmeos da industrialização e da urbanização ameaçavam sua sobrevivência e exigiam ação imediata. O título da obra era Kinder- und Hausmärchen (Contos da infância e do lar) era composto de contos de fadas clássicos e de lendas, piadas, anedotas e fábulas e muitas narrativas tradicionais populares. Os contos da coletânea dos Grimm passaram a constituir um arquivo cultural do folclore alemão, de histórias que, ao que se pensava, espelhavam e modelavam a identidade nacional. Foram vistas como uma maravilhosa obra, preservando as encantadoras narrativas populares do povo alemã. Os Irmãos Grimm basearam-se em diversas fontes, tanto orais quanto literárias, para compilar a coletânea. As anotações que fazem dos contos revelam o quanto eles se serviram de várias compilações nacionais, sendo possível afirmar que eles recorreram às fontes literárias para preparar a versão folclórica de seus contos. Os esforços dos irmãos Grimm foram intensos para colher as fontes populares do seu povo, dos seus contos orais, criando várias versões. Entre suas privilegiadas fontes estão mulheres da classe social desta dupla de escritores dos contos de fadas e histórias contadas por narradores populares. Entre elas estava Dorothea Wieman, filha de um estalajadeirode ascendência franco-huguenote e viúva de um alfaiate, a qual foi, ironicamente, a mais famosa testemunha da autenticidade folclórica da coletânea. O que se percebeu na escrita foi um distanciamento e alteração, nas versões dadas pelos Irmãos Grimm das fontes orais relativas as narrativas na hora da colheita e na hora de fiar. E, assim, os Irmãos Grimm narraram, do oral às suas escritas, distanciando-as da linguagem rude, do humor obsceno e dos lances indecentes das versões populares. Eles estavam atentos, na escrita, nas ambições eruditas e patrióticas que o movimentavam na escrita para crianças. Receberam muitas críticas, desde serem contaminados pelos franceses e italianos até de conteúdos patéticos e de mau gosto, a ponto Literatura Infantojuvenil 19 de contaminar os pais a não querem comprá-los, antes da publicação, e eles voltaram a reexaminar suas escritas. Receberam, ainda, reclamações sobre a tonalidade grosseira de tais contos populares. E isso resultou em uma busca excessiva para apagar os traços rudes tão criticados, das narrativas populares. E, por fim, mudaram o público alvo. O que fora concebido inicialmente como documentos para estudiosos transformou- se gradualmente em leitura para crianças na hora de dormir. Figura 4: Um dos contos dos Irmãos Grimm – As três fiandeiras Fonte: Wikimedia No século XIX, o autor dinamarquês Hans Christian Andersen escreveu a obra Eventyr, contendo 168 contos publicados entre os anos 1835 e 1877. O autor estava contagiado pelos ideários do Romantismo na literatura, ancorado na injusta realidade à sua época e que explicam a tristeza de alguns dos seus personagens e finais trágicos. Figuram entre os Contos de Andersen: O Patinho feio, Os Cines Selvagens, A Rainha de Neve, João e Maria, A Roupa Nova do Imperador, O Rouxinol e o Imperador da China, Os Sapatinhos Vermelhos, O Soldadinho de Chumbo, entre outras belas narrativas. Estas admiráveis páginas de Andersen foram encontrados no folclore nórdico e também criadas por ele, carregadas dos desejos populares, à época do autor, de superação das injustiças que Literatura Infantojuvenil 20 as camadas populares empobrecidas viviam, aliadas a fé religiosa deste autor e de sua história de luta contra a sua própria pobreza. Hans Christian Andersen (1805-1875) ficou notabilizado por maravilhosos contos como A roupa nova do imperador, A pequena vendedora de fósforos, A princesa e a ervilha, O Patinho Feio e A Pequena Sereia. Quanto a Sereia, este personagem deste autor, imortalizada pelo sofrimento e abnegação, ganhou uma estátua de bronze, configurando conhecido monumento em Copenhague. O autor teria padecido com o desenrolar de seus personagens, com os golpes neles infligidos e condoendo-se de suas humilhações. ‘Sofro com meus personagens’, escreveu para um amigo. ‘Partilho suas disposições de ânimo, sejam boas ou más’. Uma das críticas ao autor é que ele teria infligido coisas más às boas pessoas, como na história da Pequena vendedora de fósforos e também coisas boas a pessoas más, com no personagem do Soldado de chumbo. Andersen é ao mesmo tempo reconhecido por sua vasta produção de mais de 150 contos, sendo responsável por um revigoramento do conto de fadas e um alargamento de seus limites para acomodar novos desejos e fantasias. Tendo publicado até uma versão autobibliográfica, em formato de contos de fadas. Sua história pessoal é de um filho de sapateiro e uma lavadeira, conseguindo ascender socialmente, com pouca instrução, tentou fazer o teatro em Copenhague. Foi estudar somente aos 17 anos, em sala de aula com crianças de 12 anos, sobrevivendo às repreensões do professor e zombarias dos pequenos colegas. Com a ajuda de amigos, chegou a universidade. O primeiro contato de Andersen com contos populares dinamarqueses acontecera no quarto de fiar do asilo em que sua avó trabalhava. O menino entretinha com desenhos a giz as mulheres que lá trabalhavam, e elas retribuíam, ele lembrou, contando-lhe histórias. O que Andersen descobriu no folclore de sua terra natal foi um mundo ‘tão rico quanto o das Mil e uma noites’, mas um mundo que também infundia medo: ‘Quando escurecia, eu mal ousava Literatura Infantojuvenil 21 sair de casa. ’ Já em 1830, no prefácio a uma história chamada O fantasma, Andersen evocava o ‘prazer’ que fora ouvir contos de fadas e declarava sua intenção de publicar um ciclo de contos populares dinamarqueses. (TATAR, 2013, p.275) Publicou um livro intitulado Contos, escrito para crianças, em 1835, com os seguintes contos: O isqueiro, Nicolão e Nicolinho, A princesa e a ervilha e As flores da pequena Ida. O próprio Andersen explicou que tomava para si uma ideia para os adultos e depois conto a história para os pequenos, sempre me lembrando que pai e mãe muitas vezes ouvem, e é preciso dar-lhes também alguma coisa para suas mentes. ACESSE: Acesse o vídeo sobre os Contos de Hans Christian Andersen, com Karin Volobuef, disponível no link: https://bit.ly/2tlddMi. Importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor na contemporaneidade É um engano pensar que os contos de fadas fazem parte de uma longínqua história e que remonta aos distantes primórdios da literatura feita para crianças, há muitos séculos atrás. Isso não corresponde à verdade. Uma forma de esclarecer a importância do conto de fadas na contemporaneidade é examinar a produção editorial infantojuvenil brasileira. Os editores recebem, ainda demanda de publicação de contos de fadas tradicionais? Evidentemente que sim, é do interesse dos adultos, Literatura Infantojuvenil 22 sejam pais, avós ou professores, que compram livros ou escolhem livros para as escolas este universo literário. A importância de oferecer contos de fadas tradicionais e os modernos para as crianças encontra cabimento na afirmação, vinda do campo da literatura, ao declarar que está no encantamento da arte narrativa o motivo da perenidade dos contos de fada. Este ato de polir, através dos mais diversos tempos, este delicado tratamento literário perenizou os contos tradicionais. Outro elemento, de caráter antropológico, a ser conferido, é lembrar que os contos de fadas representam os mitos primitivos da humanidade, e é bom levá-los às crianças para terem contato com tais legados dos nossos ancestrais. E com a ajuda da psicologia é possível entender que levar contos de fadas tradicionais ou modernos proporcionam as crianças o contato com o envolvimento emocional dos narradores, leitores e ouvintes que garante o encantamento produzido pela narrativa. E, ainda, encontraremos razões históricas, filosóficas e da crítica literária, sempre que tais estudos evocam que nos contos de fadas estão os elementos necessários para a transmissão de uma ideologia que, em cada época, se adaptou aos interesses do grupo social responsável pela reprodução e preservação das narrativas. O Psicanalista Bruno Bettelheim (1980), em sua celebrada obra Psicanalise do conto de fadas, entende que os contos de fadas, como uma das experiências mais adequadas para promover um encontro da criança com significados singulares importantes. É relevante o fato dos adultos que cercam a criança desprender tempo para fazer narrações de contos de fadas para suas crianças (sejam familiares, pais, educadores e até funcionários de algum equipamento cultural frequentada pela criança). Estes contos de fadas encantadores, habilmente narradas, trazem à criança a herança cultural, de um modo muito privilegiado para as crianças pequenas. Tais contos agem de forma salutar para melhor lidar com as maiores dificuldades íntimas das crianças. Estas narrativas não são fixadas nas necessidades, como grande maioria das cartilhas Literatura Infantojuvenil 23 e manuais destinados a fazer a criança ler, fixados nas habilidades, e descontextualizadas de maioressignificados, indo além do divertimento e da informação (presentes em muitos outros tipos de literatura infantil). São os contos de fadas que se aprofundam, nos significados intensos e significativos, dos valores relativos ao viver, prendendo a curiosidade da criança. Possibilitando um enriquecimento da vida, estimulando a imaginação, o desenvolvimento e o esclarecimento de suas emoções mais íntimas e indizíveis, não sendo discordante de suas ansiedades e de suas aspirações, e não desfazendo de suas dificuldades e dores e trazendo alívios para os perturbadores problemas. Os contos de fadas modernos ou tradicionais não deixam de lado aquilo que é a expressão da personalidade da criança, que ouve ou ler um conto de fada. Precisando ser capaz de encarar com seriedade as dificuldades e oferecendo oportunidades de promoção da confiança na criança em si mesma e nas possibilidades do porvir. Em todos esses aspectos e em vários outros, no conjunto da ‘literatura infantil’ – com raras exceções -, nada é tão enriquecedor e satisfatório, seja para a criança, seja para o adulto, do que o conto de fadas popular. Bettelheim (1980) defende que os contos de fadas colaboram em uma tarefa essencial: a trazer sentidos ao turbilhão de sentimentos das crianças, oferecendo suportes para colocar em ordem a casinha interior e ordenar a própria existência. Entra no circuito da necessária educação moral que as crianças precisarão obter e terão que ser convencidos do valoroso papel de bom comportamento moral, sem abstrações, de forma tangível e significativa. Transmitindo significados manifestos e latentes salutares à existência humana. Atingindo a mente, naquilo que o aparelho psíquico apresenta: as instâncias consciente, pré-consciente e inconsciente. Tais contos de fadas lidam com aqueles problemas universais e que perturbam o cotidiano infantil, fortalecendo o desenvolvimento psíquico e aliviando as incógnitas advindas do pré-consciente e inconsciente. Os professores devem entender que os contos de fadas são imprescindíveis. É este tipo de narrativa que vai oferecer às crianças sugestões em forma simbólica indicando como podem melhor lidar com suas inquietações existenciais. É preciso aprender a lidar com temas como Literatura Infantojuvenil 24 a morte e o envelhecimento. Nos contos de fadas são oportunizadas as convivências com as nossas dificuldades humanas básicas. Bem como, tais contos de fadas oferecem dilemas existenciais, com possíveis apreensões dos elementos importantes e as soluções dos problemas, de forma bem simplificada, com personagens de fácil entendimento e decifração, capazes de cometer as mais belas virtudes e as mais sórdidas maldades. Somos humanos demasiadamente humanos! Os problemas morais são apresentados e demandam soluções e finais felizes! As mais dolorosas angústias e os mais terríveis dilemas humanos são levados muito a sério: necessidade de amor, medos de desvalorização, amor à vida e medo de morrer. O conto de fadas, por suas imensas qualidades literárias, traz às crianças uma experiência de prazer, de encantamento e fruição diante de uma obra de arte, agindo de forma singular para cada pequeno leitor e trazendo significados ímpares aos que ouvem o mesmo conto de fadas, a depender do momento em que vive. Os adultos que escolhem literatura para crianças precisaram ouvir os gostos das crianças, elas saberão esclarecer o que precisarão ler ou ouvir. Há algo precioso em escolher contos de fadas para as crianças: eles as direcionam para o encontro com às suas identidades e vocações, indicando caminhos ou experiências necessárias para o longo caminho de estruturação do caráter. Trazem esperançosas lições para as adversidades da vida, elas serão superadas, com a escolha do caminho do bem, dando força nas mais arriscadas empreitadas, as futuras vitórias valem os maiores riscos. Longe de trazerem conselhos infalíveis e nem mostram o mundo como ele é. Os contos de fadas exigem que o seu uso terapêutico se faça na busca de cada um por suas próprias soluções. Cada um busque suas próprias verdades e soluções aos seus pesares mais íntimos. Nos anos em que a criança permanece na Educação Infantil, dos três aos seis anos, tendo a cada dia uma maior habilidade como falante da língua portuguesa, domando as regras de sintaxe e expandindo o seu vocabulário, interessadas em tudo o que envolve os atos de ler e escrever, os contos de fadas tradicionais e modernos são bastante apropriados. É fundamental tornar familiar à criança a necessidade de acomodarem-se Literatura Infantojuvenil 25 confortavelmente para ouvir; fazerem o menor barulho possível, para que todos possam ouvir e acompanhar a narrativa; visualizarem o modo como o adulto relaciona-se com o objeto livro. Estes usos reiterados, geração a geração, produziu um conhecimento de personagens que já estavam nos antigos disquinhos infantis no século XX e hoje e estão presentes em muitos objetos e em formatos digitais. E, é inegável, que este conjunto fantástico de princesas, príncipes, sapos, fadas, bruxas, sofrimentos e finais felizes podem ser tocados por questões atualíssimas: Além disso, os contos de fadas, com seus seres mágicos e seus finais exemplares (em que o mal é sempre punido) são histórias que possibilitam às crianças de qualquer contexto – social, econômico, cultural, étnico, racial – a vivencia de uma experiência sem precedentes. Cabe destacar aqui que os contos de fadas possibilitam ao educador a discussão de suas ilustrações (Será́ que a princesa não poderia ser negra? Será que o príncipe não poderia usar óculos?) ou seu conteúdo (será́ que a madrasta não poderia se tornar amiga da Branca de Neve? (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p.85) Ainda representa interesse intenso de muitos professores brasileiros de Educação Infantil e do ensino fundamental, oferecer, nas suas escolas para os seus alunos livros de contos de fadas ou de animais, temas tradicionais e consagrados como os que mais agradam as crianças. Evidentemente, não são somente os contos de fadas tradicionais que interessam aos adultos e agradam às crianças e adolescentes brasileiros. Antes que você fique indagando se seriam somente estas as escolhas dos professores, é importante destacar que existe, no Brasil, diversificada e crescente produção literária para crianças, iniciada na última década do século XX, por meio dos temas transversais, cada vez mais apreciados pelos professores e pela escola. Magda Soares informa a existência entre o público brasileiro infantojuvenil da aceitação deste agrupamento literário, contos de fadas, Literatura Infantojuvenil 26 envolvido tradicionalmente com a fantasia ou a fantasia como tradição. Fantasia é a faculdade humana relativa a imaginação. De origem latina a palavra “phantasĭa”, relacionada a um vocábulo grego, significa uma faculdade dos seres humanos que possibilita a reprodução de eventos já passados, através de imagens mentais, ou a representação dos acontecimentos irreais no cotidiano. E os contos de fadas e fábulas coexistem, em distintas traduções, versões, adaptações e atualizações, e as histórias de bichos de todas as espécies, com destaque especial para os animais de estimação; ou, ainda, em menor escala, aqueles que abordam os espaços “preferidos” pelas crianças. Tal é o lugar importante que os contos ocupam na literatura voltada as crianças, desde tempos remotos até a nossa Era Digital atual, que não seria exagero nenhum afirmar que junto com os livros de fábulas, os contos estão na base da literatura voltada para a criança e, por essa razão, podemos justificar o seu predomínio, ainda hoje, como temática preferencial, com narrativas que procuram sempre assegurar a vitória do bem e a derrota do mal. E qual seria o universo em que a criança mergulha ao ouvir ou ler os contos de fadas tradicionais ou modernos?Com estas narrativas, é moldado um mundo justo onde bem e mal ficam isolados como se na natureza humana esses ‘lados’ fossem excludentes, assegurando o caráter pedagógico, moralizante e exemplar dessa produção. O que foi sendo modificado dos tempos de surgimento destes contos tradicionais ao momento de ruptura, a partir do século XIX, permanecendo firme o elemento da fantasia, como uma tradição que não se perdeu e é mantida viva, tanto nas traduções e novas versões de contos de fadas tradicionais como nos modernos contos de fadas, com ou em final feliz. Isso nos leva, de certo modo, a eleger os textos dessa tradição como depositários desse mundo encantado, e, com base nessas redes de sonho e imaginação, é possível agregar, em função das mudanças históricas e sociais, elementos e espaços novos do universo infantil, que promovam uma atualização das narrativas sem que se perca a fantasia, a tal ponto que não questionemos. (SOARES, 2004, p.40) Literatura Infantojuvenil 27 E esta presença dos contos de fadas tradicionais e atuais na vida das crianças deve muito ao fato da escola ter encontrado com a literatura e ter feito alianças que não se desmancharam com o passar dos tempos, já há muitos séculos. Por mais que algumas metodologias educacionais tenham primado por usos mais pragmático dos velhos ou atuais contos de fadas não foram capazes de destitui-los desta maravilhosa viagem fantástica que escutá-los ou lê-los traz aos seus pequenos leitores. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendo a leitura do artigo Importância dos contos de fadas: no desenvolvimento da imaginação, disponível no link: https://bit.ly/2rNWqRx. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Com as suas leituras, até este momento, você conseguirá identificar a importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor. Na primeira parte, foi possível identificar a importância dos contos de fadas modernos e tradicionais, através de sua história. E na parte final, você será capaz de identificar a importância dos contos de fadas modernos e tradicionais na formação do leitor, na contemporaneidade, refletindo em tudo o que leu até aqui sobre os contos de fadas tradicionais e modernos. Literatura Infantojuvenil 28 Definição tradicional de contos de fadas INTRODUÇÃO: Os contos de fadas tradicionais são histórias advindas da tradição oral, recolhidas por escritores como Perrault, os irmãos Grimm, Andersen, entre outros. O maravilhoso atende a uma função literária e a uma função psicossocial. Como os contos de fadas são exemplos das primeiras narrativas, ou seja, das narrativas mínimas e de estrutura mais estável, o maravilhoso será o elemento mais propício para a passagem de uma situação de equilíbrio para outra de desequilíbrio, ou vice- versa, geralmente com o retorno ao equilíbrio inicial, modificado. (KHÉDE, 1986, p.21) Enquanto obra literária, os contos de fadas possuem uma estrutura narrativa linear, em que a sequência da narração é igual à sequência dos fatos, caracterizando a narrativa em ordem cronológica, a forma mais antiga de narrar, herdada da literatura oral. Tais contos de fadas não apresentam nenhuma criação artística individual existe, portanto, no plano da estrutura narrativa dos contos, isto é, na construção da trama das ações que formam o enredo. Seria no plano da linguagem, no nível da manifestação, ou seja, do estilo do narrador, que o artista dá a sua contribuição ao adaptar histórias de origem folclórica. Às narrativas populares devemos tais contos! Os contos de fadas tradicionais são belas contribuições artísticas dos escritores, onde se usa o maravilhoso, o mágico, o humor, baseados nas narrativas da tradição oral, colhidas por eles, primando pela criatividade, com capacidade elogiável de produzirem uma comédia humana, antes da escrita, com a marca forte do imaginário de suas épocas, capaz de colocar a magia dentro das situações mais cotidianas das pessoas, potente Literatura Infantojuvenil 29 o suficiente para unir a fantasia e o real, penetrando nos segredos da vida familiar, vendo os conflitos, necessidades e cuidados, relacionados a vida doméstica. O termo “contes de fées” é, todavia, estranhamente inapropriado, já que nem sempre existem fadas nas histórias. Na verdade, ele foi criado para distinguir o que pertencia aos incultos e camponeses do que era culto e aristocrático. Formulando um termo distinto, ‘conto de fadas’ os escritores também estabeleceram a distinção entre o que vinha diretamente da experiência e da luta social e o que se transformou em fantasia. (CANTON, 1994, p. 33) Os contos de fadas, ganharam fama com Perrault e por tais caminhos de sucesso foram seguidos pelos Irmãos Grimm (século XIX) e já tinham sido convertidos em sinônimo de literatura que agradava às crianças, determinando uma escolha por histórias fantásticas, que aparecerão nos Contos , de Hans Christian Andersen (1833), bem como na escrita clássica de Lewis Carroll, o comemorado livro Alice no país das maravilhas (1863), assim como na escrita de Collodi, no conhecido Pinóquio (1883), e não sendo diferente a escolha feita por James Barrie, em Peter Pan (1911). Partir do epicentro formado pelos contos de Perrault implicou dirigir o foco sobre contos de fadas que tinham como cerne dramas familiares, e não sobre chistes e charadas, sobre fábulas animais ou contos proverbiais e admonitórios, frequentemente agrupados sob o título mais abrangente de contos de fadas. (WARNER, 1999, p.14) Os contos de fadas e os contos maravilhosos, ambos envoltos com a ideia do maravilhoso, são as obras literárias que permitem bons encontros entre adultos e crianças, desde dos tempos bem pequeninos. Neste incrível encontro, ao som de narrativas ou leituras de livrinhos com suas belas imagens, as crianças vão sendo apresentadas à cultura dos seus adultos mais significativos. Assim, é possível perceber que a vida Literatura Infantojuvenil 30 não é simples, mas é possível, temos o fantástico e o maravilhoso para aliviar as dores existenciais, sendo que os contos falam até de intricados mecanismos sociais e econômicos. DEFINIÇÃO: Contos são narrativas repletas de seres maravilhosos, repletos de fantasia, em que um narrador apresenta personagens e o enredo, que depois de muitas provações poderá chegar à um final feliz. E as fadas? São seres divinos, não foram delineadas em seus aspectos físicos, mas as princesas, seres humanos, mereceram requintes de descrição literária. As princesas dos contos de fadas poderiam servir de modelos do comportamento às meninas e mulheres da burguesia. As fadas fizeram o seu acesso à literatura, por intermédio das novelas de cavalaria, dos romances corteses, já que as Fadas ou Damas com poderes mágicos, representavam diversas personificações, contidas no folclore europeu e chegaram através dos colonizadores ao nosso país, Brasil. As fadas são seres fantásticos ou imaginários, de grande beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em situações-limite. E como se perenizaram os contos do povo na literatura chamada de contos de fadas? Através do esforço artístico do poeta burguês francês para perenizar sua ideologia. Já quando se buscam os significados das funções femininas se descobre que muitos elementos foram esquecidos ou propositalmente preteridos pela educação burguesa, poderão ainda ser recuperados. Tudo depende dos valores predominantes na sociedade. Isso demonstra a materialidade mutável deles. Os contos de fadas possuem vasta eficiência literária, conseguindo demonstrar o máximo de rendimento emocional com um mínimode manifestação verbal. É capaz de comunicar muito com pequenas frases, demonstrando fortes impactos emocionais. Não abrindo mão da Literatura Infantojuvenil 31 verossimilhança (parece com o real), mesmo em cenários improváveis e mágicos. Quanto à real interferência dos padrões sociais característicos daquela época em que cada conto foi escrito (chamado de tempo da enunciação) fez com que aquele discurso do narrador (chamado de enunciado) fosse definido, através de dois objetivos: [...] dirigir- se a um determinado tipo de receptor (a criança) e transmitir um determinado código moral (a ideologia familista burguesa). Por isso a linguagem é ao mesmo tempo simples como a dos narradores populares e literariamente trabalhada como a dos poetas, para que o prazer da leitura (função poética da linguagem) facilitasse a recepção da mensagem. (MENDES, 2000, p.116) Os contos de fadas tradicionais são adaptações ricas e contraditórias em que o artista procura ser fiel aos ritmos, aos tons e aos espíritos dos contos, O que não representa que elaboração de um autor como Perrault não tenha sido bastante requintada. Os efeitos desejados são obtidos com extraordinária economia de recursos, astúcia na construção do texto e achados verbais de rara sutileza. Os contos de fadas podem ser definidos quanto ao seu característico estilo literário, que envolve o seu receptor, ou seja a criança, levando em consideração que os alicerces da sua estrutura discursiva eram os papéis sociais determinados pelos adultos. E o objetivo dessa estrutura era a moralização dos hábitos femininos, desde a infância até a maturidade. Os tais iniciais contos populares foram sofisticados, atraindo mais leitores da classe hegemônica, entre os nobres e burgueses. O conto popular iniciou produziu figuras inesquecíveis. As primorosas adaptações literárias dos contos, assim essas figuras deixaram o universo da tradição folclórica em que viviam e se tornaram ‘criações artísticas’. Há três séculos elas habitam a imaginação de crianças e adultos nos mais diferentes rincões. Bettelheim (1980), na obra já anteriormente comentada, A psicanálise dos contos de fadas, esclarece as identificações de tantas Literatura Infantojuvenil 32 gerações para os mesmos contos de fadas, contados e recontados em tempos tão díspares e por povos tão pouco semelhantes. O herói (ou a criança) parte para o mundo e poderá se encontrar, assim encontrará também o outro com quem será capaz de viver feliz para sempre; isto é, sem nunca mais ter de experimentar a ansiedade de separação. Este autor entende que o conto de fadas é dirigido para o futuro e orienta a criança leitora, consciente e inconscientemente a abandonar seus desejos de dependência infantil e conseguir uma existência mais satisfatoriamente independente. Freud (1908), em uma importante obra dele, Escritores criativos e devaneios, indaga pela genealogia do material criativo produzido pelos escritores, e questiona se estes primeiros traços de atividade imaginativa estariam circunscritos na infância. Na percepção freudiana, os poetas e os escritores criativos costumam, nas suas elaborações escritas, criar um mundo particular para si mesmos e costumam acomodar este mundo novo aos seus próprios prazeres, reajustando as tensões, tornando agradável os fatores que provocam desagrados. Quanto as crianças, estes privilegiados leitores e ouvintes dos contos de fadas tradicionais, nos variados tempos e em muitos lugares diferentes, de forma similar aos escritores criativos buscam no brincar da criança a realização de um desejo que percorre toda a infância: querem/desejam ser grandes e adultos. Santa Roza acredita que, neste trabalho publicado em 1908, o brincar é visto como uma das primeiras manifestações da fantasia, um precursor da atividade imaginativa que rege a produção literária e poética. Assim, vemos uma pista para entender as razões ou as desrazões que levam a popularidade dos contos de fadas tradicionais entre o público infantil. Seus hábeis escritores respondem às questões íntimas das crianças ao pensar ou ao sentir que melhor seria a vida se fossem adultos. E o que lhe trazem os contos de fadas? Muitos fatos relacionados as vidas dos pais, das madrastas, das mocinhas, dos rapazes, do amor, Literatura Infantojuvenil 33 da morte, da dor, das perseguições, dos sentimentos mais atrozes e das maiores felicidades ao final. Na visão psicanalítica, a antítese de brincar não seria o sério, mas o que é real (Freud, 1908). Freud acenava, seguramente, a esse real como a realidade dos adultos. Para Freud, o poeta e a criança que brinca ocupam- se da mesma tarefa, ou seja, da criação de um mundo fantástico e que é movido com a maior seriedade pelos dois. O que em si não implica que as crianças e os escritores criativos confundam este mundo que lhes é com a realidade. Nesta obra de 1908, Sigmund Freud defende que a irrealidade do mundo poético (é certo que o que escrevem os escritores criativos não é a realidade!)produzem suas consequências sobre as técnicas artísticas, porque muito do que, sendo real, não traz nenhum prazer, a realidade se impõe relutante contra a fantasia, mas nada impede que ao escrever os escritores criativos e os poetas colaborem com as crianças, ao revelar em seus personagens tantas emoções dolorosas e que se tornam em si mesmas fontes de prazer para as crianças que tomam conhecimento de suas obras ou ao público em geral de poetas e escritores criativos. Na impossibilidade de ser adulto aqui e agora, o brincar, e também o ler ou ouvir contos de fadas tradicionais, as crianças são capazes de efetuar esta fantasia possível e embarcar nos contos maravilhosos e seus personagens adultos. A diferença entre o brincar e a criação literária reside no fato das crianças estarem impossibilitadas de exerces seus desejos de poder e amor, só consegue fazer algo neste sentido através do faz-de- conta. Freud afirma que o desejo que dirige o brincar da criança é o de tornar-se adulto. Esse desejo é regido pela ilusão de que o mundo adulto proporciona a realização das fantasias. Freud (1908) entendia que os escritores de romances, contos e histórias, nas criações deles, é possível encontrar, inicialmente, a seguinte e essencial característica: todos criam um protagonista, constituído como foco de interesse, que é atingido de inúmeros modos em um dado capítulo, são inúmeros padecimentos e já no próximo capítulo da obra já é possível vê-lo reestabelecido e na luta. Mal saiu aos destroços em um Literatura Infantojuvenil 34 primeiro volume da obra e já será possível ler que o herói, na obra seguinte, conseguiu um resgate milagroso. Os leitores respiram sossegados! O herói destemido e forte vence todos os obstáculos inimagináveis. Freud entende que este sinal de invulnerabilidade, ou seja está sempre lá no herói em sua integridade, em uma próxima página de um conto, neste sinal de invulnerabilidade conjuga bem com o esforço que cada um de nós (sua majestade o eu que vive em cada um de nós) persiste em viver. Cada um de nós é um herói de todos os sonhos e de todos os contos, romances e histórias contadas às crianças. O fato do herói contar em circunstâncias de intensos conflitos com o apoio de algum ser sobrenatural, vindo ao seu socorro e solucionando imensas dificuldades e riscos é definidora dos contos de fadas. E quem seria o herói? É aquele personagem que passa e suporta “amplas aventuras e obtém vitória nas adversidades surgidas”. Por isso ele é considerando o personagem principal, cujas ações, pensamentos e sentimentos acompanhamos com maior interesse. O herói é também chamado protagonista da história. Voltando ao Bettelheim (1980), com os entendimentos freudianos, aqui anteriores, vai ficar mais inteligível que os contos de fadas tradicionais ou contos maravilhosos podem ser definidoscomo auxílios essenciais para todos os desafios existências que as crianças passam, ao longo de suas infâncias. Teriam os contos de fadas valores inigualáveis, ao oferecer: [...] novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ainda mais importante: a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida. (BETTELHEIM, 1980, p.16) Os Contos de Fadas Tradicionais e Contos Maravilhosos eram um alento aos povos medievais, que sobreviviam em tempos, históricos e sociais difíceis. Esta dura luta pela sobrevivência ficou marcada em Literatura Infantojuvenil 35 algumas narrativas de tais contos. Isso é evidente ao perceber que os invasores húngaros, chamados de Oigours, viraram os Ogros dos contos maravilhosos. Os ogros são os terríveis devoradores de criancinhas, personagens ameaçadores e que serão, nos tempos seguintes, denominados de bicho-papão dos contos feitos para crianças. Os contos populares deste período medieval são fiéis em representar seus duros tempos. A crueldade vai do marido que destratam as mulheres (em Grisélides), pai que deseja sua filha (Pele de Asno), tempos de fome e abandono dos filhos (em João e Maria) e hábitos antropofágicos de alguns povos medievais (em João e o Pé de Feijão). Na Idade Moderna tais horripilantes e violentos traços medievais foram amenizados pelos celebrados publicadores dos contos coletados e adaptados às suas épocas, nos séculos XVII e XVIII, Perrault e Grimm. O declínio dos contos de fadas coincide com a chegada da Revolução Francesa, momento histórico em que são confrontados os interesses das classes superiores e das classes inferiores. Com grande influência entre os séculos XVII e XVIII, na Europa, foram trazidos para as Américas, no do século XIX. Os valores e comportamentos-padrão estabelecidos pelos contos de Perrault exerceram e continuam a exercer poder sobre a forma como lemos e interpretamos contos de fadas hoje em dia, seja por intermédio das coleções ilustradas para crianças, das versões cinematográficas de Walt Disney, dos anúncios de televisão ou de outras utilizações nos veículos de comunicação de massa. (CANTON, 1994, p.94-98) O Conto de fada pode referir-se aos mitos de muitos povos. Um conto como Chapeuzinho Vermelho, com aparições semelhantes entre diversos povos, centra sua origem no mito grego Cronos, capaz de engolir seus filhos e com um final tranquilizador e marcado pela saída deles de dentro da barriga do pai. E esta temática, retorna no século XI, Literatura Infantojuvenil 36 em Fecunda Ratis, um conto maravilhoso de uma menina que usa um capuz vermelho e foi devorada pelo lobo, mas consegue escapar no final e encher a barriga dele de pedras. ACESSE: Acesse o Primeiro vídeo da série especial sobre contos de fadas: o que são? De onde surgiram? Por que ainda contamos? No link: https://bit.ly/2PKW3iA. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Ao final da sua leitura, você está mais esclarecido a respeito da definição de Conto de Fadas Tradicional, percorrendo a história dos contos de fadas tradicionais, advindas da tradição oral, de inúmeras origens, colocados nas escritas de autores europeus com suas lições de moral, e até hoje em uso e com suas eficácias comprovadas pela psicanálise. Literatura Infantojuvenil 37 Reconhecimento dos conto de fadas renovados INTRODUÇÃO: Os Contos de Fadas Renovados narram histórias, que podem ter elementos dos contos tradicionais, renovando-os e adaptando-os às nossas características sociais, aos contextos sóciohistóricos contemporâneos e ao momento em que alguém lida com tal conto renovado. O conto de fadas tradicional pode ser renovado, mas não desfigurado totalmente, bem como deve manter o elemento da magia, essencial aos contos de fadas. Inúmeros usos no cinema, no teatro e na TV acontecem com esta materialidade dos contos de fadas, renovando-os: Estas transformações foram incorporadas internacional e interdisciplinarmente, já que os contos foram escritos de diversas maneiras, narradas em diferentes línguas e encenados sob variadas circunstâncias. Quando um novo produto cultural – seja um livro, um balé, ou uma peça de dança – teatro contemporâneo – utiliza o conto de fadas como paradigma, estabelece um diálogo, mesmo que não exclusivo, com Charles Perrault e a França do século XVII e com os Irmãos Grimm na Alemanha do século XIX. (CANTON, 1994, p.59) Quando um escritor produz um novo conto de fadas está realizando uma revisão estética e contando uma história que vai além da trama literária, abrindo a possibilidade para o autor fazer suas ponderações e interpretá-lo. Como em um jogo, a paródia de histórias antigas configura na tentativa de inovação de convenções, tanto do ponto de vista formal quanto de seu conteúdo. Novos contadores de Literatura Infantojuvenil 38 histórias assimilam referências ancestrais e as modificam, apresentando soluções condizentes com seu tempo, daí a validade da releitura desses contos. (ALBERT, 2006, p.41) Os contos de fadas renovados como obras literárias criativas são obras vinculadas à inovação e apresentam formas inusitadas, com firmes propósitos de exploração de linguagens que façam rupturas e sérios questionamentos ideológicos e de visões de mundo e realidade. Por isso, o valor literário tão-somente emergirá da renúncia ao normativo, o que implica abandono do ponto de vista adulto, ampliação do horizonte temático de representação e incorporação de uma linguagem renovadora, atenta ao discurso da vanguarda, às modalidades da paródia, enfim, acompanhando a evolução da arte literária, que se dá sempre como ruptura e não como obediência. (ZILBERMAN, 2003, p.69) Com os contos de fadas renovados, os escritores assumem o risco de questionar os usos pedagógicos dos contos de fadas, não se desprendendo do fato deles serem obras de arte. Terá que mover esforços para trazer nova roupagem para os contos de fadas, historicamente, fechados e degastados. Vale o esforço de escreverem com originalidade, reutilizando o gênero e acrescentando elementos de questionamentos e críticas. Enquanto os lugares em que os personagens dos contos tradicionais circulam são extremamente rurais e viviam em um tempo remoto, em um Era uma vez, os contos de fadas renovados podem trazer personagens vivendo em cenários urbanos e bastante contemporâneos, sendo que Literatura Infantojuvenil 39 são releituras dos contos de fadas tradicionais. Ainda que os personagens falem sobre este contexto urbano e contemporâneo. Exemplo: Um bom exemplo é a obra histórica de “Cinderela: uma biografia autorizada” (2004). Nesta obra, as personagens são garotas que mostram camisetas com estampas do príncipe. As imagens bem contemporâneas são transmitidas, através dos comerciais de roupas íntimas, imagens nos álbuns de família, madrastas e filhas flagradas pelas lentes de um paparazzi numa ilha tropical, recortes de jornais, todos elementos presentes no cotidiano atual. Neste conto de fadas renovado, são visíveis mudanças estéticas e comportamentais comparadas a velha Cinderela, dos séculos XVII e XVIII. Cinderela é chamada pelo codinome ‘Cin’. Ela é uma garota moderna, do seu tempo, não inocente, muito independente, nada frágil, nem padecendo de sérios sofrimentos. A semelhança com os contos de fadas tradicionais está no começo do conto renovado: Era uma vez uma moça que se chamava... bom, o nome de verdade não importa. As personagens do conto de Mastroberti possuem alguns traços semelhantes às das versões da Cinderela, mas em nenhuma delas é possível apontar uma correspondênciaplena com os papéis previstos. O narrador deste conto de fadas renovado é diferente dos contos de Perrault e Grimm. É narrador- testemunha. Conheci Cinderela menina ainda, quando morava na mesma rua em que estabeleci meu negócio. Bons tempos aqueles, quando os ricos tinham não só muito dinheiro, mas muita, muita classe. A família enfrentará problemas, a mãe dela morrerá e a futura madrasta já não parece com a má esposa do pai dos contos de fadas tradicionais. O conto de Mastroberti, através da renovação, e, ao contrário da padronização dos contos de fadas tradicionais, mostra Cinderela vencedora de todos os obstáculos enfrentados. O Príncipe quer ser monge no Tibet e não se entende bem com o pai e até chora. O conto renovado costuma questionar os papeis dos contos Literatura Infantojuvenil 40 tradicionais. A paródia, como se sabe, serve à crítica que resulta na inversão de pontos de vista e no questionamento dos modelos parodiados. E até mesmo aquela frase comum aos contos de fadas, ‘Foram felizes para sempre’, é diferenciado nos contos renovados. O cargo de Princesa lhe prometia ser muito pesado. Mesmo Sua Alteza tinha suas recaídas e de vez em quando voltava a falar do Tibete. Os contos renovados comportam temas e estratégias dos contos tradicionais, levando-os para novidades, amalgamando-as a novos processos. O conto renovado rever os clássicos contos de fadas para tratar de assuntos atuais. Como exemplo das contadoras de histórias de outros tempos, a autora realiza o rito de permanência de tradições, trazendo para seus receptores atuais novos recursos narrativos. É característico dos contos renovados, as alterações com relação ao enredo do conto tradicional, ocorrendo a intertextualidade (aquela influência de um texto sobre outro) e mistura de estilos, com a presença de um narrador que está atento e dialogando com quem lê, apresentando linguagem renovada, reflexiva, desafiante, humorada e com a presença da fantasia, prazerosa, interativa, revisitando e aproveitando as formas e os temas antigos, restringindo aquelas antiquadas lições de moral. Além de alargar vários limites entre diversos gêneros e estilos, realizando uma ruptura com a realidade contemporânea, chamando os leitores do conto renovado para repensar e criar, diante do novo texto e a partir do momento presente e da própria sociedade em que vivem, que podem levar aos questionamentos dos problemas e desigualdades da nossa realidade social, na busca pelo novo. O autor de um conto renovado busca um encontro com os acervos de contos de fadas que já são conhecidos pelos leitores. E o que se dá com o leitor do conto renovado? Reconhecendo a fórmula do conto clássico e detectando a inversão, o leitor percebe que, por trás do conto Literatura Infantojuvenil 41 Cinderela: uma biografia autorizada, existe um questionamento da ordem vigente. No Brasil da década de 1970, aconteceu uma vibrante movimentação pró-renovação do conceito de literatura infantojuvenil. No bojo destas transformações, eis que os contos de fadas cresceram, foram renovados e tais frutos chegarão aos dias atuais, ganhando maior qualidade gráfica e artística. Os autores foram sendo notabilizados por suas fabulosas obras, dialogando com os seus vastos leitores, infantis e até adultos. As magias de tais contos de fadas renovados tinham o objetivo de modificar a realidade. A experiência da história, assim como a apreciação estética do quadro, é singular e inquestionável; depende do momento da história pessoal de cada expectador e é sempre uma conversa entre dois reinos de imagens: o reino de imagens presentes na obra de arte e o reino de imagens que constitui a experiência de mundo de quem entra em contato com essa obra. (MACHADO, 2004, p.42) Alguns escritores brasileiros farão suas incursões pelo formato de contos de fadas renovados, algo que remeta, pelo menos levemente, aos velhos contos de Perrault. Um caso que flerta com as antigas raízes dos contos de fadas mais tradicionais são os textos com os quais dialoga a História meio ao contrário (1979), de Ana Maria Machado, que recupera, discute e inverte diametralmente situações e valores correntes nas histórias infantis. A reconhecida escritora brasileira, Ana Maria Machado caminha pelas as clássicas frases de fechamento dos contos de fadas, “... e então eles se casaram, tiveram uma filha linda como um raio de sol e viveram felizes para sempre”. E ainda percorre caminhos junto aos conteúdos fantásticos, fazendo paródias com elementos oriundos de outra fonte literária, resgatando um personagem, na figura do gigante, de contos de fadas, dialogando com os versos do nosso hino nacional, no livro História meio ao contrário, dialogando a literatura infantil contemporânea Literatura Infantojuvenil 42 com fontes mais remotas da literatura para crianças: “— Mas alguém já viu o Gigante acordado? Ele passa o tempo todo deitado, esse gigante adormecido. — É mesmo.... Deitado eternamente”. Outro caso espetacular brasileiro é a escritora Marina Colasanti, no livro Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento (1978). Em um período muito delicado da vida nacional, em tempos sombrios e ainda longe dos tempos de redemocratização, eis que surge uma obra, com vários elementos próprios dos contos de fadas tradicionais, como os personagens (o rei e a rainha), o cenário (o castelo), o elemento maravilhoso (o unicórnio), a atmosfera medieval”. Ressurge o velho fantástico dos contos de fadas antigos, criado por Marina Colasanti dialogando com fontes originais do conto de fadas, contestando-os também. • Marina Colasanti explica o que são histórias maravilhosas ou contos de fada. No link: https://bit.ly/2Eqhj7T. Marina Colasanti, em outro livro, Uma ideia toda azul (publicado em 1979), traz na sua escrita um retorno à literatura infantil, com os reis rainhas, princesas e fadas, os habitantes dos contos tradicionais. Em duas obras desta autora brasileira, primeiro na obra Uma ideia toda azul e também na obra Doze reis e a moça do labirinto do vento (1983) existem personagens reis, rainhas, princesas, fadas, tecelãs, sereias e unicórnios, os cenários remontam aos palácios e espelhos. Algumas florestas e torres aparecem no texto sem ter qualquer compromisso com a realidade ao redor. Com uma escrita bem simples, melodiosa e linear, repleta de lições existências, para problemas tão contemporâneos ao viver da autora: solidão, morte, tempo e amor. Sem saber o que fazer, a princesa pegou o alaúde e a noite inteira cantou sua tristeza. A lua apagou-se. O sol mais uma vez encheu de luz as corolas. Outras obras, neste período histórico e repressivo, apostaram neste projeto com o objetivo de desmitificar as criaturas do reino das fadas. Elementos advindos dos textos de Perrault e Grimm forma repensados como metáforas de graves situações sociais ou psicológicas. Tais visões contra o maniqueísmo destes antigos escritores que vão surgem Literatura Infantojuvenil 43 interpretações questionadoras brasileiras. A fada que tinha ideias e Soprinho, de Fernanda Lopes de Almeida, A fada desencantada, de Eliane Ganem, História meio ao contrário, de Ana Maria Machado, e Onde tem bruxa tem fada, de Bartolomeu Campos Queirós. Já Haroldo Bruno (1979), na sua obra O misterioso rapto de Flor- do-Sereno, criou uma narrativa apoiada na linguagem popular e oral, aproximada da novelística medieval (novela arcaica) e ao mesmo tempo do romance de cordel (literatura nordestina com elementos da novelística medieval, trazida pelos colonizadores). Seus títulos já são encantadoras narrativas: O rapto da meiga e branca Flor-do-Sereno, com a casa sendo violentamente atirada nos ares e outras desordens do natural. De como o mágico Segismundo-corre-mundo sabe do endereço do monstro. Sazafrás pela inscrição de fogo que se abre num céu de estrelas e relâmpagos.SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Era uma vez um conto de fadas: Das Origens à contemporaneidade. Disponível no link: https://bit.ly/2PS66Cq. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Ao final desta leitura, você é capaz de reconhecer contos de fadas renovados. Sendo capaz de distingui-los dos contos tradicionais, por estar esclarecido para você que os contos de fadas renovados narram histórias, com elementos dos contos tradicionais, renovando-os. Literatura Infantojuvenil 44 Análise crítica dos contos de fadas INTRODUÇÃO: É bom não esquecer que os contos de fada ou contos maravilhosos de Perrault, Grimm ou Andersen, ou as fábulas de La Fontaine, praticamente esquecemos (ou ignoramos) que esses nomes não correspondem aos dos verdadeiros autores de tais narrativas. Não se deve desprezar e é necessário reconhecer, ao percorrer a história da literatura, de modo geral ou especificamente, a história da literatura feita para o público infanto-juvenil, que os clássicos infantis, estes maravilhosos contos de fadas tradicionais, devem ser reconhecidos, a partir de seus ancestrais ou de sua célula- máter: a Novelística Popular Medieval que, por sua vez, tem suas raízes mais remotas em certas fontes orientais (Índia) ou, mais precisamente, indo-europeias. Arqueólogos, no século XIX, conduzindo importantes escavações na Itália, encontraram evidências de que alguns lendas e histórias ditas como criadas eram histórias verdadeiras, nas cidades italianas de Herculano e Pompeia evidências, no ano 79 d.C. (da nossa era comum). Posteriormente, outras escavações em Tróia, encontram hieróglifos egípcios reveladoras de produções antes de nossa Era comum (a.C). Isso motivou a busca por elementos das culturas populares, guardadas nas memórias dos povos em diversos países da Europa e das Américas, entre eles o nosso pais, Brasil. O material coletado reunia contos maravilhosos, narrados pelos povos, patrimônio cultural imaterial destes povos falantes de diversas línguas e que memorizaram e narraram histórias diversas e entre tais narrativas estavam Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida e a Gata Borralheira. Os contos de fadas são produções artísticas de uma das espécies literárias, pertencente ao conjunto vasto de narrativas infantis, que são Literatura Infantojuvenil 45 comumente ajuntadas quanto à origem, em folclóricas e artísticas. As folclóricas são formadas de histórias criadas coletivamente pelo povo em diferentes épocas, como fábulas, contos populares, lendas e contos de fadas tradicionais. Quanto as artísticas, reúnem obras assinadas por autores, abarcando contos de fadas modernos, textos infantis que, por sua brevidade, simplicidade e enredo e relação estreita entre discurso e imagem, são denominados histórias curtas e narrativas formadas somente por imagens. Estas extraordinárias pesquisas revelaram sobre as origens das narrativas orientais uma fonte anterior a Cristo (a.C), na Índia, e que embasará outras fontes como a latina (greco-romana) e também a céltico- bretã (verdadeiro nascedouro das encantadoras e amadas fadas). Fadas: são os seres que fadam, isto é, orientam ou modificam o destino das pessoas. Fada é um termo originado do latim fatum, que significa destino. Se as fadas são o símbolo do poder feminino, as princesas e as camponesas que se tornam princesas são o símbolo da fragilidade, que deveria caracterizar as mulheres terrenas, seres humanos submissos às contingências do destino e à moral determinada pela sociedade. O poder divino das fadas e o poder masculino dos príncipes deveriam comandar a sua vida. Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, a esposa de Barba Azul, a filha bondosa, a princesa linda e estúpida, todas são personagens marcadas pela fragilidade, que deveria ser a característica das mulheres e das crianças na sociedade patriarcal. (MENDES, 2000, p.129) Uma das pérolas encontradas e que pode ser vista como as origens dos tradicionais Contos de Fadas e que estavam no manuscrito egípcio, localizado na Itália, no século XIX, com atestados 3.200 anos de existência, anteriores as fontes indianas, era o conto Os dois Irmãos. Com uma interessante narrativa e não incomum ao imaginário nordestino brasileiro, em que uma mulher deseja comer a língua (ou o fígado) de um Literatura Infantojuvenil 46 boi estimado. No nordeste brasileiro tal narrativa é chamada de A Princesa e o Gigante, segundo o folclorista Câmara Cascudo. Outra obra Sendebar ou O Livro dos Enganos das mulheres, de origem indiana, com texto originalmente na língua indiana, sânscrito, em que é narrado que uma mentira de uma madrasta (ela afirma ter sido molestada por ele) quase faz com que um rapaz fosse morto. Tal valorosa obra indiana terá o seu texto original em sânscrito (língua antiga dos indianos) traduzida entre os séculos IX e XIII para língua árabe e castelhano, dada a permanência árabe na Península Ibérica, entre os séculos VIII e XVI. Ainda estão presentes nesta obra alguns contos maravilhosos vastamente conhecidos no ocidente, tal como Aventuras de Simbad, o Marujo, Aladim e o Gênio, Ali Babá e os Quarenta Ladrões, entre outras. Estas duas obras pertencentes aos povos do oriente, egípcios e indianos, podem seguramente ser considerados como os precursores dos contos de fadas tradicionais. Ambos carregam conflitos básicos existenciais, com eixo relacionados a paixão-ódio-sabedoria. Relatam as humanas paixões rejeitadas. Tais origens precisam ser reveladas aos leitores, aos professores e até as crianças que ouvem as narrações. A encantadora obra oriental, As Mil e Uma Noites, estava pronta no século XV e esperou a chegada do século XVIII para receber pleno reconhecimento no ocidente, em uma celebrada edição francesa, no começo deste século. Assim, tal obra célebre vai ser contemporânea da considerada obra inaugural dos contos maravilhosos ou de fadas publicado por Charles Perrault, a famosa obra Contos da Mãe Gansa, repleta da ideia do maravilhoso e de fadas, com forte aceitação dos franceses. Foram várias publicações e que foram reunidas em 1785, compondo 41 volumes de diversos autores, notabilizadas no século XVIII. Assim, é possível diferenciar os contos tradicionais, que remontam aos povos do oriente, recitados e posteriormente escritos, da Índia para o mundo Árabe, da publicação Árabe, daqueles outros e renomados escritores, a partir do século XVII e XVIII na Europa, como Perrault, Grimm ou Andersen, das produções dos contos de fadas modernos. É interessante observar e valorizar que os Contos Populares, provenientes da tradição Literatura Infantojuvenil 47 oral popular, perpetuados às novas gerações através da memória oral dos povos, foram incansavelmente preservados e difundidos de forma oral. O importante estudioso russo Propp (2001) ficou notabilizado por sua instigante pesquisa sobre as coincidentes narrativas, nos contos maravilhosos, presentes em povos distintos e que jamais teriam tido qualquer convivência. Ele indagava: Como explicaria que a história da princesa-rã se assemelhe na Rússia, Alemanha, França, Índia, entre os peles-vermelhas da América e na Nova Zelândia, quando não se pode provar historicamente nenhum contato entre esses povos? Seus estudos foram essenciais para a compreensão de que muitas histórias apresentavam sequência de ações ou funções narrativas muito semelhantes. Propp começou a indagar se haveria uma única origem e fonte comuns aos povos, ainda que levando em conta suas distintas versões e seus temas diferenciados. Isso conduz as pesquisas de Propp a seguinte pergunta e muitos desdobramentos: Os contos folclóricospossuem uma origem comum e somente uma fonte de onde todos surgiram, apesar dos diferentes temas e diferentes versões? A resposta para essa pergunta só foi encontrada anos mais tarde, quando o linguista se dedicou à pesquisa das raízes históricas dos contos maravilhosos (Propp, 1983). O resultado dessa pesquisa foi a descoberta da suposta fonte comum: as práticas comunitárias dos povos primitivos. Entre essas práticas destacam-se os ritos de iniciação sexual e as representações da vida após a morte. Para o autor, esses dois motivos explicam a existência de dois ciclos de contos, dando conta da quase totalidade das histórias hoje chamadas contos maravilhosos ou contos de fadas. (MENDES, 2000, p. 23) Conhecer esta história implica na necessidade de valorizar às fontes orais populares. Propp foi relacionando os ritos dos povos, comparando- os aos contos de fadas e contos maravilhosos, definindo que os mais velhos tinham papéis definidos, nos ritos de passagem, tendo a responsabilidade de narrar para os jovens, em momentos anteriores às Literatura Infantojuvenil 48 iniciações deles, como uma condição indiscutível para ter acesso as suas responsabilidades adultas. O nascimento do herói é acompanhado, em geral, de uma profecia sobre seu destino. Antes de que se teça a intriga, já se revelam os atributos do futuro herói, defendia Propp sobre o herói dos contos maravilhosos que analisou, com bastante atenção. E tal frase poderia ser uma afirmação sobre os que passam pelos rituais de iniciação? Sobre os ritos de passagens, haviam as narrativas passadas em segredo, tais narrativas eram relatos daquelas etapas que tais jovens passariam nos rituais que os levariam aos seus devidos lugares nas suas comunidades primitivas. Os adultos narradores já teriam passado por estes ritos e outros adultos antes deles também, geração após geração. A narrativa tratava do ancestral mais antigo deles, adultos e dos jovens, aquele que teria dito a responsabilidade de criar tudo: a raça e os costumes perpetuados. A narração, que revelava ao neófito o sentido das práticas a que se submetia, fazia parte do ritual e não podia ser divulgada. Era um segredo entre iniciador e iniciado, uma espécie de ‘amuleto verbal’, que dava poderes mágicos a quem o possuía. E essas narrações foram-se transformando nos mitos das sociedades tribais, conservados e transmitidos como preciosos tesouros, instrumentos sagrados indispensáveis à vida da comunidade. (MENDES, 2000, p.24) E para o que serviriam os Contos Populares? O que teria levado tais povos, por gerações sem fim ao zelo pela preservação? Na verdade, trata-se de um ato de prazer, cuja finalidade é exatamente fugir aos hábitos rotineiros que marcam a monotonia da vida cotidiana. Tais povos entendiam que um determinado conto popular, que além de tê-los ouvido na infância, mobilizou as suas próprias ações de aprendê-lo, serem capazes de realizar excelentes e envolventes narrações, destinadas aos seus filhos e netos, pelo simples fato de acreditarem que o conto seria um Literatura Infantojuvenil 49 agente de transmissão de valores éticos, conceitos morais, modelos de comportamento e concepções de mundo. Revisitando os nossos contos tradicionais brasileiros encontramos narrativas próprias do Brasil, de autoria anônima, de domínio popular e oferecidos às crianças e aos adolescentes. E vale relembrar que outros tantos contos foram transmitidos pela tradição oral nas várias regiões do Brasil, são variantes de relatos trazidos pelos povos que compõem a etnia brasileira. E para o que servem os refinados contos de fadas, pós século XVII? Os esforços das narrativas orais populares não deveriam ser mais valorizados, implicando até em pesquisa das narrativas orais do povo brasileiro, trazendo-os para perto das novas gerações? Os Contos de fadas tradicionais, assim denominados, são o resultado de pesquisa de consagrados autores europeus, colhidos junto aos povos que os mantinham preservados, na oralidade e os remetiam aos seus descendentes que acabavam por decorá-los e recitá-los, indiferente ao fato de não saberem ler e escrever. O que seria semelhante entre as famosas histórias infantis de Perrault, dos Irmãos Grimm e de Andersen: Seria que estes diferentes autores, agindo em tempos e culturas distintas, é o fato de conseguirem o êxito de pesquisar e imortalizar com suas publicações o imaginário de crianças e adultos de seus países. ACESSE: Veja o seguinte vídeo sobre as básicas críticas imputadas aos contos de fadas, tais como a crueldade, o maniqueísmo e a passividade dos protagonistas. Disponível no link: https://bit. ly/38Hyn7B. Análise crítica dos contos de fadas: da Moral da história ao valoroso legado cultural da humanidade Literatura Infantojuvenil 50 Aqueles antigos contos de fadas, narrados ao pé da lareira para afugentar o tédio dos afazeres domésticos, foram transplantados com grande sucesso para o quarto das crianças, onde florescem na forma de entretenimento e edificação. E, assim constituíram-se um poderoso legado cultural transmitido de geração em geração, fornecem mais que prazeres amenos, enlevos encantadores e deleites divertidos. Contêm muito de “doloroso e aterrorizante”. Tais celebradas obras dos Irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen tocaram, através dos tempos, as mais diversificadas infâncias, pelo mundo. Nossos desejos mais profundos, bem como nossas angústias mais arraigadas, misturam-se ao folclore e nele permanecem através de histórias que ganham a predileção de uma comunidade de ouvintes ou leitores. É inegável que os contos de fadas, com uma estrutura com começo, meio e fim bem nítidos ajuda a criança a compor uma visão sobre a vida, que ela não tem como experienciar e compreender em sua diversidade. E isso precisará ser bem e habilmente valorizado. Se por um lado, existiram e existem seus leitores encantados, sempre tiveram que enfrentar críticas ferrenhas. É, fundamental, não ser esquecido na hora de fazer qualquer análise crítica dos usos de tal tipo de literatura infantil, que os Contos de Fadas devem ser encarados como consideráveis depósitos de um consciente e um inconsciente culturais coletivos. Assim, é um objeto cultural privilegiado! Já é reconhecido seu intenso valor terapêutico, pelos psicólogos e psicanalistas. Bruno Bettelheim (1980) ressalta que estes contos de fadas, ensinam às crianças que é salutar e inevitável lutar contra imensas dificuldades na vida. O conto de fadas é apontado para o futuro e dirige a criança, em termos que ela pode entender tanto na sua mente consciente quanto na inconsciente – a abandonar seus desejos de dependência infantil e a alcançar uma existência independente mais satisfatória. Esta autonomia da criança com tal material ninguém anula. Muitos psicólogos infantis usam estes contos de fadas e os avaliam como poderosos veículos terapêuticos para ajudar crianças e adultos a resolver seus problemas meditando sobre os dramas neles encenados. Os textos possuem uma capacidade para serem usados como instrumentos Literatura Infantojuvenil 51 facilitadores para enfrentar os medos, lidar com os sentimentos mais hostis e os desejos prejudiciais. Ingressando no mundo da fantasia e da imaginação, crianças e adultos garantem para si um espaço seguro em que os medos podem ser confrontados, dominados e banidos. Um conto de fada traz uma possibilidade de extração de prazer na dor, dando vida às figuras sombrias de nossa imaginação como bichos- papões, bruxas, canibais, ogros e gigantes, os contos de fadas podem fazer aflorar o medo, mas no fim sempre proporcionam o prazer de vê-lo vencido. Tatar (2013) lembra que o filosofo Walter Benjamin teria louvado os heróis e heroínas dos contos de fadas, declarando que a coisa mais sábia – assim o conto de fadas ensinou à humanidade nos velhos tempos, e ensina
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