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Tratamento de Água de Abastecimento D I S C I P L I N A : CAPÍTULO 4: FLOCULAÇÃO 4-2 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 4�1 INTRODUÇÃO A floculação continua o processo de aglutinação das impure- zas feita na coagulação. Os termos coagulação e floculação são utilizados como si- nônimos, uma vez que ambos significam o processo integral de aglomeração das partículas. Mas pode-se dizer que a coagulação é o processo pelo qual o agente coagulante é adicionado à água, reduzindo as forças que tendem a manter separadas as partículas em suspensão, e a floculação é a aglomeração dessas partículas por meio de transporte de fluido, de modo a formar partículas maiores que possam sedimentar. A Figura 4-1 apresenta o processo de coa- gulação-floculação aplicados à uma água turva. Figura 4-1: Exemplo do processo de coagulação- floculação aplicados à uma água turva. (Fonte: www.kurita.com) As partículas se agregam e se transformam em flocos mais pesados que se sedimentam a uma velocidade mais amena. A agi- tação suave facilita o contato dos flocos, sem quebrá-los. Ela tem como objetivo agregar o maior número de partículas primárias desestabilizadas/precipitadas em flocos para que sejam separados 4-3 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 por sedimentação ou flotação. Na floculação a agitação na água deve ser tal que crie gradientes de velocidade que causem turbu- lência capaz de provocar choques ou colisões entre as partículas coaguladas e as existentes em suspensão e no estado coloidal da água. Estes gradientes são limitados para que não ultrapassem a capacidade de resistência do cisalhamento destas partículas. De- pendendo do tamanho da partícula envolvida o processo de flocu- lação ,pode ser classificado em microfloculação (ou floculação pericinética) e macrofloculação (ou floculação ortocinética). 6 Na floculação pericinética o processo se desenvolve para partículas pequenas (<1 µm), predominando o movimen- to browniano1, pois as moléculas de água envolvidas no processo proporcionam movimentos erráticos das partí- culas favorecendo a colisão entre as mesmas. 6 A floculação ortocinética é aplicada às moléculas com ta- manhos superiores a 1 µm. O processo se desenvolve pelas diferenças de velocidades dentro do líquido, tanto em re- gime laminar como em regime turbulento, ressaltando-se pela distribuição do tamanho das partículas primárias na otimização do floco. Em geral, todas as partículas estão submetidas a esses dois tipos de floculação. A relação do tamanho e densidade do floco em função do gradiente de velocidade de floculação mais alta acarreta- ria flocos mais densos e de melhores dimensões e vice-versa. 1 O movimento browniano pode ser definido como movimento aleatório de partículas microscópicas imersas em fluido. Este movimento provém dos choques das moléculas do fluido nessas partículas microscópicas e é muito importante pois comprova a teoria corpuscular da matéria. 4-4 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 A introdução de ácidos fracos e sais hidrolisados, como o sulfato de alumínio e cloreto férrico, influenciam diretamente nos índices de acidez e alcalinidade, de forma que a aplicação de al- calinizantes se faz necessária, a fim de restaurar o equilíbrio dos parâmetros fora dos padrões. Para que a floculação tenha um bom desempenho, é pri- mordial que a água em questão não apresente valores extremos de alcalinidade. Uma vez detectados valores excessivamente altos ou baixos, deve-se aplicar produtos que corrijam artificialmen- te a alcalinidade. Cal hidratada (Ca(OH)2) e carbonato de sódio (Na2CO3) são aplicados em situações de baixa alcalinidade. Para alcalinidades elevadas, a acidificação é o procedimento padrão. So- mente assim os mecanismos de coagulação poderão ser ativados, possibilitando a efetivação da floculação. Não existe uma regra geral para a escolha do auxiliar de floculação. O auxiliar de floculação mais eficaz, a faixa de pH, o tipo de polímero (catiônico, aniônico e não-iônico) e a do- sagem ideal do polieletrólito só podem ser efetuadas por meio do teste de jarros. A Figura 4-2 apresenta um modelo esquemático dos processos. 4-5 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 Figura 4-2: Modelo esquemático dos processos de coagulação e floculação com a utilização de um polieletrólito (Fonte: ROSA, 2008) A separação dos flocos formados nos ensaios de coagulação- -floculação pode ser realizada por processos de sedimentação e flotação. Para determinadas taxas de escoamento, a utilização da sedimentação pode apresentar custos de implantação mais baixos em relação à flotação e com eficiências bem próximas, por isso são geralmente utilizadas. Porém, dependendo da qualidade exigida para o efluente, a utilização da flotação, além de apresentar uma eficiência alta na remoção de sólidos suspensos aumentando a qualidade da água, apresenta ainda as vantagens de produção de um lodo com teor de umidade baixo. Requer menores dosagens de coagulante e auxiliares de floculação (formação de flocos me- nos densos), apresenta partida rápida, proporciona o arraste de parcela de gases e compostos voláteis e a elevação na concentração de oxigênio dissolvido ao final. Estudos demonstram que a coagulação e a floculação são as etapas mais delicadas do tratamento de água para abasteci- mento, sendo que a correta operação influi de modo decisivo na 4-6 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 preparação da decantação e indiretamente para que se processe uma boa filtração. 4.1.1 Floculação por Sedimentação A sedimentação é uma operação física em que partículas suspensas com densidade superior ao meio líquido apresentam movimento descendente devido à ação da gravidade. O principal objetivo da sedimentação é produzir um efluente clarificado, mas também é necessário produzir um lodo adensado, apresentando concentrações de sólidos que possam ser facilmente manusea- das e tratadas. A teoria da sedimentação baseia-se no fato de que qualquer partícula não coloidal suspensa em um meio líquido em repouso, de menor massa específica, será acelerada pela ação da gravidade até que as forças de resistência viscosa e de deformação do líquido sejam iguais à resultante do peso efetivo da partícula. 4.1.2 Floculação por Flotação A flotação é uma técnica de separação de misturas que con- siste na introdução de bolhas de ar a uma suspensão de partículas. As bolhas de ar, ao se aderirem às partículas sólidas no pro- cesso de flotação, reduzem sua densidade específica, tornando-as menos densas que a água. O mesmo ocorre no caso da existência de flocos. O ar fica retido nos intervalos existentes entra as partícu- las que formam o floco, diminuindo também sua densidade. Essa ação do ar faz com que as partículas sólidas sejam carregadas para a superfície do líquido em decorrência da força de empuxo, permi- tindo, assim, que o material suspenso seja removido. 4-7 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 Com isso, verifica-se que as partículas aderem às bolhas, for- mando uma espuma que pode ser removida da solução e separando seus componentes de maneira efetiva. O importante nesse proces- so é que ele representa exatamente o inverso daquele que deveria ocorrer espontaneamente à sedimentação das partículas. A ocor- rência do fenômeno se deve à tensão superficial do meio de disper- são e ao ângulo de contato formado entre as bolhas e as partículas. Dentre os principais processos utilizados para flotação, o FAD é o mais utilizado para águas de abastecimento, porém existem diver- sos processos. A Tabela 4-1 apresenta as características principais dos processos de flotação aplicados ao tratamento de água (tanto de abastecimento quando para águas residuais). Tabela 4-1: Principais características e processos aplicados à flotação Técnica Características Tamanhos de partículas resultantes(µm) Flotação por ar dissolvido – FAD Produção de bolhas de ar pela des- pressurização de uma corrente aquo- sa saturada com ar em uma pressão acima da pressão atmosféricas 20 – 100 Eletro-Flotação Geração de microbolhas pela ele- trólise de soluções aquosas com a produção de gás nos dois eletrodos 10 – 40 Ar induzido Produção de bolhas pela agitação mecânica de um disco rotador em baixa rotação 50 – 1500 Condicionamento em alta intensidade – CAI Injeção de microbolhas diretamente na água via aeração, pela extração do ar ambiente, para um meio de injeção de microbolhas 10 – 100 4-8 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 Técnica Características Tamanhos de partículas resultantes (µm) Aspersão ou Nozzle Extração do ar da água reciclada via aspirador de gás, que em seguida é descarregado em um recipiente de flotação para o desenvolvimento de uma mistura de ar e água de duas fases 400 – 800 Jameson ou a Jato Geração de bolhas pela sucção de ar em um tubo descendente (downco- mer) por contrição tipo Venturi 100 – 800 Flotação em coluna Operação em regime contracorrente, bolhas ascendentes e alimentação da mistura descente, mas também pode operar em regime concorrente. 50 – 1000 4.1.3 Auxiliares de floculação Quando a floculação não ocorre, há demora na sedimenta- ção. Por isso, é necessário o uso de floculantes, que melhoram a clarificação, a filtração e as operações de centrifugação. Atuam também no processo: velocidade de escoamento (m/s), tempo de detenção (min) e gradiente de velocidade (s-1). Dependendo da água a ser tratada, verifica-se que os flocos formados necessitam de maior densidade para poderem sedimen- tar em decantadores. Recorre-se então aos auxiliares de floculação, como os polieletrólitos, que aumentam a velocidade de sedimenta- ção dos flocos e a resistência às forças de cisalhamento. Polímeros sintéticos e naturais (amidos em geral) têm sido utilizados como auxiliares de coagulação, floculação e filtra- ção. O emprego de pequenas quantidades desses auxiliares redu- zem consideravelmente as dosagens de coagulantes primários, 4-9 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 quando estes são sais de alumínio ou ferro. Dentre os diversos po- límeros naturais usados como auxiliares em tratamento de água de abastecimento, o mais comumente utilizado é o amido. Além do amido, podem ser citados a quitosana, o tanino o emprego de al- gumas plantas, tais como: quiabo (Abelmoschus esculentus), mutamba (Guazuma ulmifolia), além do cacau (Theobroma cacau) e a goma xantana. 4.1.4 Floculadores Os sistemas de floculação hidráulicos apresentam alguns in- convenientes, como a pouca flexibilidade em relação à variação da vazão, impossibilidade de variar ou ajustar a gradiente de velocida- de e podem apresentar perda de carga relativamente alta, quando comparado com os floculadores mecanizados. Apresentam como vantagens menores custos de implantação, operação e manuten- ção, e não exigir pessoal qualificado para operação e manutenção. Os sistemas mecanizados apresentam diversas vantagens so- bre os hidráulicos como a baixa perda de carga, facilidade de insta- lação em estações existentes e maior flexibilidade de operação em função das variações das características da água bruta. As limita- ções referem-se ao consumo de energia, à maior probabilidade de curtos-circuitos e à necessidade de manutenção dos equipamen- tos. A NBR 12216/92, norma técnica que regulamenta os proje- tos de estações de tratamento de água para fins de abastecimento, recomenda, para floculadores mecanizados, tempo de residência teórico de 30 a 40 min, em média 40 % maior que para projetos de floculadores hidráulicos (20 a 30 min). A floculação pode ser executada através de: 6 Floculadores hidráulicos: 4-10 Tratamento de Água de Abastecimento F LO C U LA Ç Ã O 4 ○ Floculadores hidráulicos de fluxo horizontal ○ Floculadores hidráulicos de fluxo vertical ○ Floculador Alabama ○ Floculadores em meio poroso 6 Floculadores mecânicos: ○ Agitadores de fluxo radial ○ Agitadores de fluxo axial ○ Agitadores de fluxo radial e axial O dimensionamento de um floculador é caracterizado por diversas etapas (a depender do tipo de floculador que será aplicado), dentre as quais pode-se destacar: 6 Definição do sistema de vazão; 6 Definição do número de câmaras de floculação; 6 Definição do tempo de detenção nas câmaras; 6 Cálculo do volume total de água; 6 Cálculo da área superficial; 6 Cálculo da velocidade do escoamento nas câmaras; 6 Cálculo do número de agitadores ou chicanas nas câmaras; 6 Cálculo do percurso do escoamento; 6 Cálculo das perdas de carga nas câmaras; 6 Cálculo do gradiente de velocidade nas câmaras; 6 Cálculo do número de Camp (gradiente de velocidade x tempo de detenção na câmara) das câmaras.