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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS A implementação do tratamento anti-hipertensivo visa, principalmente, reduzir a morbidade e a mortalidade decorrentes dos valores elevados da PA. Os índices de controla da HA ainda são insatisfatórios no Brasil, sendo que a taxa de controle varia de 43,7% a 67,5%. Um dos principais fatores para que isso ocorra é a falta de adesão ao tratamento. CONCEITO DE ADESÃO OMS (2003) -> “grau em que o comportamento de uma pessoa – tomar o medicamento, seguir uma dieta e/ou executar mudanças no estilo de vida – corresponde às recomendações acordadas com um prestador de assistência à saúde”. Adesão ao tratamento é caracterizado por: ❖ Início -> tempo desde a prescrição até a tomada da primeira dose do medicamento. ❖ Implementação -> coincidência entre a dose que o paciente toma e a dosagem prescrita. ❖ Descontinuação -> interrupção. É quando o paciente se omite a próxima dose a ser tomada e interrompe o tratamento posteriormente. O abandono do tratamento é mais frequente nos primeiros meses, além de os pacientes tomarem os medicamentos em desacordo com a prescrição médica. ! A falta de adesão é definida quando os hipertensos fazem o uso de menos de 80% dos medicamentos prescritos. FATORES QUE INTERFEREM NA ADESÃO AO TRATAMENTO Fatores como idade, renda, escolaridade e etnia/raça são fatores que se destacam, principalmente em locais com baixo nível socioeconômico. O sistema de saúde ofertado e as características da equipe de saúde também podem influenciar na adesão. Nos fatores relacionados à doença em si, se destacam a cronicidade e ausência de sintomatologia da HÁ, o tratamento para toda a vida e o esquema medicamentoso complexo em alguns casos, além dos efeitos indesejáveis de alguns fármacos. No que diz respeito ao paciente, acrescentam-se a falta de envolvimento com a sua problemática de saúde e o esquecimento do uso de medicamentos. ESTRATÉGIAS DE ADESÃO AO TRATAMENTO DA HA A adoção de estratégias para promover a adesão ao tratamento anti- hipertensivo tem como objetivo reduzir o aumento de LOA e da morbimortalidade cardiovascular, o que também tem grande impacto econômico devido aos gastos e aposentadorias precoces. F Das estratégias disponíveis, as mais factíveis de serem implementadas no Brasil são: ❖ Automedida da PA ❖ Esquemas posológicos com maior comodidade: menores doses possíveis, tomada em dose única diária, associação de anti- hipertensivos em um mesmo comprimido. ❖ Implementação de equipes multiprofissionais no cuidado de pacientes hipertensos. COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS À HAS LESÕES DOS ÓRGÃOS ALVO (LOA) Quando a HAS apresenta sintomas, geralmente estão relacionados com os efeitos crônicos da hipertensão em outros sistemas do corpo -> rins, coração, olhos e vasos sanguíneos. HAS é um FR importante para aterosclerose -> promove e/ou acelera a formação e ruptura potencial das placas ateroscleróticas. ❖ HAS também é FR a todos os principais distúrbios cardiovasculares ateroscleróticos, bem como cardiopatia coronariana, IC, AVE e doença arterial periférica. Elevação da PA aumenta a carga de trabalho do VE, já que eleva a pressão contra a qual o coração precisa bombear para ejetar o sangue na circulação sistêmica. Com o tempo, a pressão alta sobrecarrega o coração. ❖ Aqui, há um remodelamento da parede do VE e hipertrofia, para compensar o aumento da carga de pressão – o coração não consegue bombear sangue com eficiência. Nefrosclerose -> pode ser causada pela hipertensão e é uma causa comum de doença renal crônica. Um dos principais mecanismos pelo qual a HA causa danos aos rins é por redução da perfusão dos glomérulos, causando glomerulosclerose. APG 03 - hipertrofia e insuficiência cardíaca Maria Luiza Sena – Med XIV FASA HA também apresenta papel importante na aceleração da evolução de outros tipos de doença renal, principalmente da nefropatia diabética. HA pode causar demência e disfunção cognitiva -> é um fator de risco significativo para AVE isquêmico e hemorragia intracerebral. É comumente observado em pacientes com HA um estreitamento e esclerose das artérias perfurantes finas nas regiões subcorticais do encéfalo. ❖ Essas alterações podem contribuir para hipoperfusão, perda da autorregulação do fluxo sanguíneo e violação da barreira hematoencefálica, levando à desmielinização da sub. branca subcortical. Retinopatia hipertensiva -> os olhos de um paciente hipertenso têm tônus vasomotor exagerado, causando estreitamento arteriolar generalizado. Se a HA persiste, alterações arterioscleróticas pioram, incluindo hiperplasia da artéria média, espessamento da íntima e degeneração da hialina – isso pode causar cegueira. ! Retina é um dos órgãos-alvo que devem ser avaliados regularmente nos pacientes hipertensos, afim de evitar lesões oculares graves. HIPERTROFIA CARDÍACA O mecanismo de Frank-Starling postula que o volume sistólico do coração é uma função do comprimento diastólico da fibra e que, o coração normal irá bombear qualquer volume trazido pela circulação venosa. Normalmente, o coração ejeta cerca de 60% do volume ventricular durante a sístole. Em situações patológicas, o coração pode sofrer alterações compensatórias para manter o débito cardíaco, a exemplo da hipertrofia. Quando esses mecanismos compensatórios começam a falhar, o paciente começa a desenvolver IC. Hipertrofia Miocárdica -> resposta adaptativa que aumenta a força contrátil do miócito e que se desenvolve sob condições de sobrecarga hemodinâmica, como na hipertensão crônica. ❖ Caracteriza-se pelo aumento do tamanho do miócito e das quantidades de proteínas sarcoméricas, sem um aumento verdadeiro do número de miócitos. Fatores envolvidos no desenvolvimento da Hipertrofia Cardíaca: ❖ Angiotensina II: secretada localmente e promove hipertrofia e formação da matriz extracelular. ❖ Endotelina I: vasoconstritora e fator de crescimento de miócitos. ❖ Fator de crescimento insulina-símile-1: promove crescimento dos miócitos. ❖ Matriz extracelular: aumento da síntese de colágeno na sobrecarga cardíaca pode levar ao comprometimento da difusão de O2 e nutrientes. ❖ Dessensibilização beta-adrenérgica: diminuição da resposta cardíaca a catecolaminas -> defeito no acoplamento do receptor com adenil ciclase. ❖ Homeostase do cálcio: diminuição na captação de cálcio pelo sarcolema -> diminuição do cálcio citosólico -> comprometimento da contratilidade. ❖ Expressão de genes fetais: fator natriurético atrial e proteína natriurética cerebral são expressos no coração adulto sucedendo sobrecarga e influenciando no equilíbrio de sódio e água. Coração em IC pode utilizar glicose em vez de ácidos graxos como fonte de energia. ! A maior parte dos pacientes com IC apresenta hipertrofia ventricular. Nos casos em que o VE sofre hipertrofia e entra em falência, o VD sofre um certo nível devido à sobrecarga. Na maioria dos casos, a hipertrófica é sucedida por dilatação dos ventrículos. Hipertrofia Concêntrica -> quando a parede ventricular tem sua espessura aumentada sem aumentar a cavidade ventricular, evento principalmente relacionado à HAS. Hipertrofia Excêntrica -> aumento da parede ventricular e também da cavidade. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA (IC) Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é o termo utilizado para denominar a falência do coração. A maioria dos casos de IC resulta de: ❖ Disfunção Sistólica -> função contrátil inadequada do miocárdio, caracteristicamente consequência da cardiopatia isquêmica ou da HAS. ❖ Disfunção Diastólica -> incapacidade do coração de relaxar e se encher de modo adequado, como ocorre na hipertrofia do VE, na fibrose do miocárdio, na deposição de amiloide e na pericardite constritiva.! IC observada em idosos, diabéticos e mulheres resulta com frequência de disfunção diastólica. ICC surge quando o coração não consegue produzir débito suficiente para satisfazer as demandas metabólicas dos tecidos, ou apenas consegue satisfazê-las sob pressões de enchimento superiores às normais. O início da ICC pode ser abrupto, como nos casos de infarto grande do miocárdio, ou pode desenvolver-se gradualmente como resultado dos efeitos cumulativos da sobrecarga crônica de trabalho ou da perda progressiva de miocárdio. O coração em falência não consegue bombear de modo eficiente o sangue levado até ele pela circulação venosa. Isso resulta em aumento do volume ventricular diastólico final, provocando elevação das pressões diastólicas finais. O sistema cardiovascular tenta compensar a redução da contratilidade miocárdica ou o aumento da carga hemodinâmica utilizando vários mecanismos: Mecanismo de Frank-Starling: aumento do volume de enchimento diastólico final dilata o coração e alonga as fibras musculares cardíacas. Essas fibras alongadas se contraem de forma mais vigorosa, aumentando o DC. ❖ A dilatação ventricular ocorre à custa de aumento na tensão das paredes e intensifica as necessidades de O2 de um miocárdio já comprometido. Ativação dos sistemas neuro-hormonais: ❖ Liberação de norepinefrina pelo SNA, elevando a FC e aumentando a contratilidade do miocárdio e a resistência vascular. ❖ Ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona estimula a retenção de sal e água, elevando o tônus vascular. ❖ Liberação do peptídeo natriurético atrial equilibra o sistema renina-angiotensina-aldosterona por meio da diurese e do relaxamento do músculo liso vascular. Alterações na estrutura do miocárdio, incluindo aumento da massa muscular: mióticos não proliferam, mas adaptam a um aumento da carga de trabalho -> aumento de tamanho dos miócitos (hipertrofia). INSUFICIÊNCIA CARDÍADA ESQUERDA As causas mais comuns da IC esquerda são: cardiopatia isquêmica, HAS, doença da valva da aorta/da atrioventricular esquerda e as doenças primárias do miocárdio. Efeitos morfológicos e clínicos da ICC esquerda provêm da diminuição da perfusão sistêmica e da elevação das pressões de retorno dentro da circulação pulmonar. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIREITA Geralmente é consequência da IC esquerda, visto que qualquer aumento de pressão na circulação pulmonar produz aumento da carga do lado direito do coração. ❖ IC direita isolada também pode ocorrer em algumas doenças. Os principais efeitos morfológicos e clínicos da IC direita diferem dos da esquerda, já que na direita o ingurgitamento dos sistemas venosos sistêmico e portal normalmente é pronunciado, e a congestão pulmonar é mínima. REMODELAMENTO DO VENTRÍCULO ESQUERDO O processo de remodelamento do VE está diretamente relacionado com a deterioração posterior de seu desempenho. É influenciado por fatores hemodinâmicos, neuro-hormonais, epigenéticos e genéticos, bem como as comorbidades. O remodelamento do VE afeta de modo importante a biologia do cardiomiócito, o volume dos componentes miocitários e não miocitários do miocárdio e a geometria e arquitetura da câmara ventricular esquerda.