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Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 1 Objetivos: 1- Entender a fisiopatologia da Dor Neuropática; 2- Compreender o Herpes Zoster (etiopatogenia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, diagnóstico diferencial, tratamento e fatores de risco); 3- Citar as medidas preventivas contra o Herpes Zoster em pacientes imunossuprimidos; 4- Citar as principais complicações do Herpes Zoster; 5- Discutir a Neuralgia Pós-Herpética (quadro clínico, diagnóstico e tratamento); 1º, o que é dor neuropática? É um tipo de dor crônica que ocorre quando os nervos sensitivos do Sistema Nervoso Central e/ou periférico são feridos ou danificados. Esse tipo de problema está presente em até 10% da população e pode ser incapacitante, causando diferentes sensações de dor. Definida como dor causada por lesão ou disfunção do sistema nervoso, como resultado da ativação anormal da via nociceptiva (fibras de pequeno calibre e trato espinotalâmico). As principais causas desta síndrome são: diabetes melito, neuralgia pós-herpética, neuralgia trigeminal, dor regional complexa, acidente vascular encefálico, esclerose múltipla, lesão medular, entre outros. Entender a fisiopatologia da Dor Neuropática; Existem cerca de 20 teorias para tentar explicar os mecanismos da dor neuropática. Geração ectópica de impulsos nervosos às fibras de pequeno calibre do tipo C e A-gama. Após a lesão do nervo, alguns pacientes desenvolvem alteração na distribuição e conformação de canais iônicos (especialmente canais de sódio) que promovem aumento da excitabilidade axonal das fibras finas nociceptivas. Tal excitabilidade é, muitas vezes, gerada longe do foco da lesão inicial (por isso chamadas de descargas ectópicas), mas capaz de acarretar o surgimento de sintomas de características neuropáticas. Não é por acaso que um dos tratamentos mais eficazes para a dor neuropática é o uso dos anticonvulsivantes que agem sobre os canais de sódio, tais como a carbamazepina e gabapentina. Para alguns estudiosos, inclusive, a dor neuropática poderia ser considerada como uma “epilepsia do nervo ou da via nociceptiva”. Os canais de sódio dependentes de voltagem (VDNC), localizam-se preferencialmente nos nós de Ranvier, locais, indispensáveis para a condução saltatória do impulso nervoso, onde a fibra não está recoberta pela mielina. Porém, quando uma lesão neuropática provoca uma Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 2 desmielinização dos neurónios sensitivos, vai haver uma acumulação dos VDNC nas zonas desmielinizadas, que podem tornar-se fonte de impulsos ectópicos. Deste modo, a ativação de fibras não nociceptivas por estímulos inócuos pode conduzir à ativação das fibras nociceptivas através de interações enfáticas, e consequentemente o estímulo inócuo poderá ser percepcionado como doloroso (alodínia). A sensibilização dos nociceptores é outro dos fenómenos que pode contribuir para a fisiopatologia da dor neuropática. O fator de crescimento neuronal (NGF) liberado pelas células de Schwann e os fibroblastos é fundamental para sobrevida de uma grande população de nociceptores, porém, o mesmo NGF pode sensibilizar os nociceptores quando existe em excesso, tal como se verifica em lesões inflamatórias, e assim contribuir para a dor nociceptiva. No caso de algumas lesões neuropáticas, mesmo que não haja um componente inflamatório, pode ocorrer sensibilização dos nociceptores não lesados devido a um excesso relativo de NGF, que não é captado pelas fibras sensitivas degeneradas. Resulta da desaferentação e da sensibilização neuronal e/ou da nocicepção, de anormalidades neurovegetativas, dos canais iônicos e/ou receptores do SNP, da síntese e da liberação anormal de neurotransmissores no SNP e no sistema nervoso central (SNC), das anormalidades sinápticas e subcelulares nos neurônios no SNC e da hipoatividade no sistema supressor de dor. No diagnostico propuseram recentemente três níveis de diagnostico: possível, provável e definitivo. Fenômenos negativo: resultam na perda do tato leve, da vibração e da sensação termoalgésica; mediadas por fibras grossas mielinizadas A beta, tato leve e vibração, pouco mielinizadas A gama (frio e dor) e amielínicas do tipo C (calor e dor). Fenômenos positivos: podem apresentar-se de forma espontânea ou evocada, em várias combinações. Tratamento: A dor neuropática costume responder pobremente aos analgésicos comuns, sendo os fármacos antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes os principais representantes no tratamento deste tipo de dor, seja de origem periférica ou central. A dor nociceptiva ocorre por ativação fisiológica de receptores ou da via dolorosa e está relacionada à lesão de tecidos ósseos, musculares ou ligamentares (BENNET et al., 2006). A dor neuropática é definida como uma dor que ocorre em áreas ou órgãos envolvidos em lesões ou doenças neurológicas (BACKONJA, 2003). Manifestações clínicas da dor neuropática Fenômenos negativos Fenômenos positivos Fenômenos autonômicos Perda sensitiva Dor espontânea Dor evocada Vasomotora → Tato leve → Contínua → Alodinia 1. Dinâmica 2. Estática → Vibratória → Térmica → Paroxística → Hiperalgesia Sudomotora → Dor → Hiperpatia Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 3 Compreender o Herpes Zoster (etiopatogenia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, diagnóstico diferencial, tratamento e fatores de risco); Etiopatogenia: O herpes zóster (HZ), conhecido popularmente pelos nomes cobreiro ou zona, é uma doença infecciosa provocada pelo vírus Varicella- Zoster (Human Herpesvirus-3 – HHV-3), o mesmo que causa a catapora (varicela). Observações: 1. Você não pode ter herpes zoster sem antes ter tido catapora; 2. Herpes zoster é diferente de herpes labial ou genital; O HZ é causado pela reativação do vírus Varicela Zóster nos nervos cranianos e nos gânglios das raízes espinhais dorsais, geralmente deflagrada décadas após a infecção primária de varicela Depende fortemente de um sistema imunológico forte, pois, após o quadro de catapora o vírus permanece no organismo (escondido em alguma raiz nervosa), e no momento de imunossupressão o mesmo pode vir a se multiplicar novamente. Fisiopatologia: A determinação do Herpes zoster se dá pela reativação de uma infecção prévia ao vírus da varicela zoster, podendo se deflagrar anos após a primo-infecção. Biologia do vírus: • Vírus de DNA de cadeia dupla; • Família Herpesviridae; • Capacidade de estabelecer uma infecção latente que está presente por toda vida. Na maioria dos casos, o vírus estabelece latência em células dos nervos cranianos. Quadro clínico: Quando o vírus reativa-se, ele faz o caminho inverso, viajando do nervo de volta à pele. O quadro clínico inicia-se com queimação leve a moderada na pele de um determinado dermátomo, frequentemente acompanhada de febre, calafrios, cefaleia e mal-estar, posteriormente evolui para eritema cutâneo eritematoso maculopapular até um estágio final de crostas. Dor lancinante, disestésica (dor em queimação espontânea ou evocada, geralmente com componente lancinante sobreposto) ou de outro tipo se desenvolve no local envolvido, tipicamente seguida de exantema em 2 a 3 dias, geralmente com formação de vesículas em uma base eritematosa. O local geralmente é adjacente a um ou mais dermátomos na região torácica ou lombar, embora poucas lesões satélites possam também aparecer. Ex.: A região do umbigo é inervada por nervos que nascem na altura da 10ª vértebra torácica (T10). Portanto, se o vírus Varicella-Zoster estiver escondido em gânglios próximos à raiz do nervo à esquerda da vértebraT10, por exemplo, quando houver reativação, ele viajará até a região do umbigo e causará erupções em uma faixa do abdômen que fica à esquerda do umbigo. Ao longo da medula saem vários plexos de nervos periféricos para todo o corpo, que são responsáveis pela inervação de regiões específicas. Cada região do corpo que recebe um ramo dos nervos oriundos da medula é chamada dermátomo. Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 4 Apenas um par de nervo costuma transportar o vírus, por isto é uma lesão em faixa e termina exatamente na metade do corpo. As lesões são tipicamente unilaterais e não cruzam a linha média do corpo. Com frequência, o local é hiperestésico e a dor pode ser intensa. As lesões comumente continuam se formando durante cerca de 3 a 5 dias. Pode apresentar sintomas gerais de virose, como febre e mal-estar. Quando o herpes zóster aparece, ele costuma começar como uma erupção bem dolorosa e avermelhada, evoluindo rapidamente para as típicas vesículas (bolhas). A região torácica, abdominal e lombar são as mais acometidas. 1. Dermátomo torácico 2. Dermátomo lombar 3. Lesão em faixa que não ultrapassa a metade do corpo Herpes-zóster pode se disseminar para outras regiões da pele e para os órgãos viscerais, em especial em pacientes imunocomprometidos. Obs: alguns pacientes podem apresentar apenas a dor radicular característica do HZ, sem desenvolver as lesões cutâneas, essa forma é clinicamente chamada de herpes sine herpete e pode ser mais grave que as manifestações usuais, afetando níveis diferentes do sistema nervoso. Zóster geniculado (síndrome de Ramsay Hunt, herpes-zóster ótico) é o resultado do envolvimento do gânglio geniculado do nervo facial. É rara. Ocorrem dor na orelha, paralisia facial e, às vezes, vertigem. Vesículas rompem-se no meato auditivo externo e a gustação pode ser prejudicada nos dois terços anteriores da língua. Herpes-zóster oftálmico resulta de envolvimento do gânglio de Gasser, com dor e erupção vesicular ao redor dos olhos e na fronte, na distribuição da divisão oftálmica do V par craniano (trigêmeo). A Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 5 doença ocular pode ser grave. Vesículas na ponta do nariz (sinal de Hutchinson) indicam envolvimento do ramo nasociliar e risco maior de doença ocular grave. Contudo, o olho pode ser envolvido na ausência de lesões na ponta do nariz. 4. Herpes-zóster (distribuição V2 e V3 do nervo trigêmeo) 5. Distribuição V1 do nervo trigêmeo Zóster intraoral é incomum, mas pode produzir uma distribuição unilateral nítida das lesões. Nenhum sintoma prodrômico intraoral ocorre. Pode recidivar sempre que houver uma queda da imunidade do paciente. Diagnóstico: • Avaliação clínica Suspeita-se de herpes-zóster em pacientes com exantema característico e, às vezes, mesmo antes de as vesículas aparecerem se os pacientes tiverem dor típica com distribuição em dermátomos. O diagnóstico geralmente baseia-se no exantema virtualmente patognomônico. Se o diagnóstico for equivocado, a demonstração de células gigantes multinucleadas, com teste de Tzanck, pode confirmar a infecção por herpes- vírus (herpes-zóster ou herpes simples). O herpes-vírus simples pode produzir lesões quase idênticas, porém, diferentemente do herpes- zóster, tende a recidivar e não afeta dermátomos isolados. Os vírus podem ser diferenciados por meio de cultura ou PCR (polymerase chain reaction). A detecção de antígeno a partir de uma amostra de biópsia também pode ser usada para detectar herpes- zóster. Diagnostico diferencial: Doença Característica que ajuda a diferenciar Impetigo Caracterizado por máculas, seguidas por vesículas ou pústulas, que se rompem formando crostas melicéricas (exsudato da base da lesão). A dor, quando presente, não é intensa, sendo geralmente em queimação. Pode haver prurido. Geralmente localizado em face ou extremidades, sem distribuição em dermátomo Dermatite de contato É uma erupção localizada, sem distribuição em dermátomo, com relação topográfica com o agente causador. Pode ser uma reação alérgica ou irritativa. A remoção do agente causador é importante para a resolução do quadro Dermatite herpetiforme Pápulas e vesículas eritematosas, muito pruriginosas, distribuídas simetricamente, predominando nas superfícies extensoras dos cotovelos (em 90% dos Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 6 pacientes), joelhos (30%), nádega, sacro, ombros e couro cabeludo. A erupção é recorrente, predominando nos meses mais quentes. Está associada à doença celíaca, embora na maioria das vezes os sintomas intestinais não estejam presentes. A confirmação diagnóstica é por meio de biópsia da lesão cutânea Herpes simples Caracterizado por cachos de vesículas dolorosas em base eritematosa, frequentemente precedidas por dor e/ou prurido. As lesões geralmente se localizam em região oral ou genital, sem a distribuição em dermátomo. Eventualmente podem ter uma distribuição mais extensa, lembrando o herpeszóster. Deve-se considerar essa hipótese em casos recorrentes de herpes- zóster, devendo ser feita a diferenciação por meio de exames complementares Varíola dos macacos Apresenta febre, mal- estar, em maioria apresentam poucas feridas, que se localizam-se principalmente nos genitais e no ânus. Se assemelham a espinhas ou a uma crise de herpes simples. Apresenta Linfonodomegalia. Tratamento: • Tratamento sintomático • Antivirais (aciclovir, fanciclovir, valaciclovir) especialmente para pacientes imunocomprometidos Compressas úmidas amenizam, mas analgésicos sistêmicos são frequentemente necessários. 1. Terapia antiviral: O tratamento com antivirais orais diminui a gravidade e a duração da erupção aguda e reduz a taxa de complicações graves em pacientes imunocomprometidos; pode reduzir a incidência de neuralgia pós-herpética. Em pacientes imunocompetentes, geralmente reserva-se a terapia antiviral para aqueles ≥ 50 anos. Indica-se também o tratamento a pacientes com dor intensa, com exantema facial especialmente em volta do olho e a pacientes imunocomprometidos. Deve-se iniciar o tratamento de herpes-zóster o quanto antes possível, idealmente durante o pródromo, e o tratamento tem maior probabilidade de ser ineficaz se administrado > 72 horas após o aparecimento das lesões cutâneas, especialmente na ausência de lesões que surgiram recentemente. Fanciclovir, 500 mg por via oral 3 vezes ao dia, durante 7 dias, e valaciclovir, 1 g por via oral 3 vezes ao dia, durante 7 dias, apresentam melhor biodisponibidade oral do que o aciclovir, sendo, portanto, escolhidos em vez de aciclovir oral, 800 mg, 5 vezes ao dia, durante 7 a 10 dias, para herpes-zóster. Corticoides não diminuem a incidência da neuralgia pós-herpética. Para os pacientes menos imunocomprometidos, fanciclovir, valaciclovir ou aciclovir oral (ver acima) são opções razoáveis; fanciclovir e valaciclovir são preferidos. Para pacientes gravemente imunocomprometidos, recomenda-se aciclovir na dosagem de 10 mg/kg IV a cada 8 h por 7 a 10 dias para adultos e 20 mg/kg IV a cada 8 h por 7 dias para crianças < 12 anos. Alguns especialistas recomendam a pacientes imunocomprometidos o tratamento além de 7 a 10 dias, mantido até que se formem crostas em todas as lesões. Embora dados relativos à segurança do aciclovir e valaciclovir durante a gestação sejam tranquilizadores, a segurança da terapia antiviral durante a gestação não está firmemente estabelecida. Como a varicela congênita pode resultar da varicela materna, mas raramente resulta de zóster materno, o potencial benefício do tratamento de pacientes gestantes deve superar Dor | P5 Mt1Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 7 os possíveis riscos para o feto. Pode-se tratar pacientes gestantes com exantema grave, dor grave ou zóster oftálmico preferencialmente com aciclovir porque seu uso foi mais amplamente testado em gestantes em comparação com outros fármacos, embora o valaciclovir ainda permaneça sendo uma opção. Há poucos dados sobre a segurança do fanciclovir na gestação; assim, geralmente, esse fármaco não é recomendado para gestantes. 2. Anti-inflamatório Uso de corticosteroides parece não contribuir para a resolução da dor aguda, porém, em pacientes saudáveis e imunocompetentes podem ser utilizados associados com a terapia antiviral. Fatores de risco: Até 20% dos pacientes com história de catapora na infância apresentarão pelo menos um episódio de cobreiro, que surge, geralmente, após os 50 anos. Entre os pacientes com mais de 85 anos essa taxa sobe para mais de 50%. O herpes zóster surge quando há uma queda nas defesas imunológicas. • Idade acima de 50 anos. o Declínio na resposta imune mediada pelas células T • Estresse físico ou psicológico. • Privação do sono. • Diabetes mellitus. • Câncer. • Quimioterapia. • Doenças crônicas. • Uso de drogas imunossupressoras. • HIV / AIDS. Citar as medidas preventivas contra o Herpes Zoster em pacientes imunossuprimidos; As lesões são altamente contagiosas e a transmissão do vírus se dá habitualmente através de mãos infectadas pelas lesões (basta coçar ou tocar na lesão para a haver risco de contaminação das mãos). O paciente com zóster ativo é contagioso apenas para as pessoas que nunca tiveram catapora, ou seja, para aquelas que nunca foram infectadas pelo vírus Varicella-Zoster. Recomenda-se uma vacina recombinante contra zóster para adultos imunocompetentes ≥ 50 anos quer tenham tido herpes-zóster ou recebido a vacina mais antiga com vírus vivo atenuado ou não; administram-se 2 doses da vacina recombinante contra zóster em intervalos de 2 a 6 meses e pelo menos 2 meses após a vacina com vírus vivo atenuado. A vacina mais antiga com vírus vivo atenuado não está mais disponível nos EUA, mas continua disponível em muitos outros países. A vacina recombinante mais moderna parece fornecer proteção muito melhor e mais duradoura do que a vacina mais antiga de dose única com zóster vivo atenuado (que é uma versão de dose mais alta da vacina contra varicela). Em um grande ensaio clínico, a vacina recombinante contra zóster foi 90 a 97% eficaz na prevenção do herpes-zóster. Para adultos imunocompetentes ≥ 60 anos, recomenda-se a vacina recombinante ou a vacina viva atenuada, mas a vacina recombinante é a preferida. Um estudo observacional pós- comercialização observou um risco aumentado de síndrome de Guillain-Barré durante os 42 dias após a vacinação com a vacina recombinante contra zóster. Estão surgindo dados sobre a eficácia da vacina recombinante em pacientes imunocomprometidos e, atualmente, não há recomendação para o seu uso em pacientes imunocomprometidos. A vacina viva atenuada é contraindicada em pacientes imunocomprometidos. Citar as principais complicações do Herpes Zoster; As principais complicações, principalmente em indivíduos imunocomprometidos, decorrentes do herpes zoster são: • Neuralgia pós-herpética; • Encefalite; • Mielite; • Paralisia dos nervos periféricos. A neuralgia pós-herpética é uma complicação que se caracteriza pela permanência da dor no local acometido, mesmo depois de muito tempo da resolução da lesão. A infecção desaparece, mas a dor fica. Em alguns casos, a dor da neuralgia pós- herpética é tão intensa e contínua, que pode levar o paciente à depressão e à incapacidade física. Habitualmente, o herpes zóster é autolimitado e acomete uma região pequena do corpo, geralmente só um dermátomo. Se após 7 a 10 dias ainda estiverem surgindo novas bolhas ou se o quadro estiver acometendo vários dermátomos em simultâneo, deve-se pensar na possibilidade Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 8 de uma doença debilitante do sistema imunológico, como câncer ou AIDS. A reativação do zóster na face pode ser perigosa, principalmente se acometer a área dos olhos, o que pode levar à perda da visão. A síndrome de Ramsey Hunt é uma paralisia facial que ocorre pelo acometimento dos nervos faciais pelo herpes zóster. Também é comum nesta síndrome a ocorrência de labirintite. Discutir a Neuralgia Pós-Herpética (quadro clínico, diagnóstico e tratamento); Menos de 4% dos pacientes com herpes-zóster experimentam outro episódio. Porém, muitos pacientes, em particular idosos, apresentam dor persistente ou recorrente no dermátomo envolvido (neuralgia pós-herpética - NPH), que pode persistir por meses (1 e 6 meses) ou anos, ou de forma permanente, após a cura das erupções cutâneas. A NPH é caracterizada por dor neuropática crônica. A incidência varia entre 10% e 20% em adultos imunocompetentes. A dor pode ser dividida em três fases distintas: fase aguda, subaguda e crônica. A fase aguda é definida como a dor que se instala dentro de 30 dias após o início das erupções cutâneas. A fase subaguda caracteriza-se pela dor que persiste além da fase aguda, mas que resolve antes do diagnóstico de NPH ser feito. A terceira fase é a chamada de NPH propriamente dita, com a dor persistindo por 120 dias ou mais após o exantema. Quadro clínico: A dor da neuralgia pós-herpética pode ser lancinante e intermitente ou constante, bem como debilitante. Pode se manifestar com diferentes tipos de dor e sintomas sensoriais. A dor possui caráter crônico caracterizado por queimação, formigamento ou ardor e pode estar associada à hiperalgesia, hiperestesia ou alodínia. A dor lancinante, em fisgada ou em pontada, tem sido relatada com maior frequência no HZ agudo, e a dor em queimação é mais comum nos pacientes com NPH A distribuição da neuralgia segue o padrão dos dermatomos envolvidos no herpes zoster, os mais comuns são os de T3-L3; Diagnóstico clínico. Diagnóstico diferencial dependerá das características clínicas da dor e da localização do nervo afetado. O diagnóstico diferencial inclui: doenças cardíacas, paralisia de Bell, neuralgia do trigêmeo, dentre outras. Tratamento da neuralgia pós-herpética: A conduta em neuralgia pós-herpética pode ser particularmente difícil. Tratamento de alívio da dor, 1ª linha são os anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina) e antidepressivos tricíclicos (amitriptilina). 2ª linha são os opioides, que também podem ser utilizados. Pomada tópica de capsaicina ou lidocaína e injeção de toxina botulínica. Metilprednisolona intratecal pode ser benéfica. Antidepressivos tricíclicos: usados como monoterapia ou associados a outros fármacos. Seu uso exige pelo menos três meses para o efeito positivo. O mecanismo de ação ocorre pelo bloqueio de recaptação de serotonina e noradrenalina e também pela inibição dos canais de sódio voltagem dependente. A amitriptilina é o fármaco mais comumente utilizado, no entanto, todos tem eficácia terapêutica semelhante. Os antidepressivos tricíclicos prescritos incluem a amitriptilina, nortriptilina, imipramina e desipramina. Um fator limitante para o uso clínico são os efeitos adversos como boca seca, turvação visual, tontura, fadiga, sedação, retenção urinária, constipação, ganho de peso, palpitações, hipotensão ortostática e prolongamento do intervalo QT. Anticonvulsivantes: Os fármacos anticonvulsivantes têm sido usados em diversas condições que causam dor neuropática. A gabapentina e a pregabalina são fármacos análogos ao ácido gama aminobutírico (GABA), porém não agem no receptor GABA. O mecanismo de ação da gabapentina é incerto, acredita-se que ela atue na subunidade α-2-δ dos canaisde cálcio voltagem dependentes, diminuindo o influxo do cálcio e inibindo a liberação de neurotransmissores excitatórios nos aferentes primários no corno posterior da medula, assim como a pregabalina. É possível que a gabapentina tenha um efeito sobre os receptores do tipo N-metil-D-aspartato (NMDA), diminuindo os níveis de glutamato, atuando no melhor controle da alodínia. A dose diária de gabapentina pode variar de 1800-2400 mg. Ela é eliminada integralmente pela urina. Os principais Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 9 efeitos colaterais são: sonolência, tontura, ataxia e edema periférico. A combinação de gabapentina e um opioide, em doses mais baixas de ambos, fornece analgesia superior do que cada fármaco usado como agente único. A pregabalina revelou-se eficaz e segura para NPH, pois atua no controle da dor e interage pouco com outros fármacos. A dose recomendada é de 300-600 mg/dia. Seus efeitos colaterais comumente não são graves, porém podem ocorrer, como edema periférico, tontura e sonolência. A carbamazepina atua antagonizando os canais de sódio, estabilizando as membranas neuronais pré e pós-sinápticas. É utilizada em várias doenças que cursam com dor neuropática. É muito efetiva em dores paroxísticas e lancinantes e menos efetiva em dor em queimação e alodínia. A dose recomendada é 600-1600 mg/dia, dividida em 2 a 3 tomadas. Os efeitos adversos associados com a carbamazepina são tonturas, visão turva, náuseas e vômitos. Podem surgir erupções cutâneas, porém as reações graves, como Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica são raras. Opioides: Muitos estudos demonstram que os opioides são eficazes no tratamento da dor neuropática, principalmente se a dor for de moderada a forte intensidade, entretanto, algumas considerações devem ser realizadas como titulação da dose para minimizar os efeitos colaterais, a tolerância e o abuso de fármacos. O uso de opioides deve ser realizado de forma racional. Os efeitos adversos devem ser considerados, como náuseas, vômitos, obstipação, tontura e sedação. Uma recomendação comum é usar codeína (30-60 mg) a cada 6 horas, quando necessário. A codeína pode ser associada ao paracetamol. Outros opioides (morfina, oxicodona, metadona) também são utilizados. A ação analgésica do tramadol ocorre nos receptores opioides µ-agonista e na inibição de recaptação de norepinefrina e serotonina, promovendo redução da intensidade da dor e melhora da QV. Nos casos de dificuldade no manuseio da dor, uma combinação de tramadol e amitriptilina tem sido utilizada. Capsaicina: A capsaicina é um alcaloide derivado da pimenta (Capsicum frutescens) que age na dor neuropática provocada por sensibilização periférica, realizada pela substância P nos receptores periféricos primários, gerando os sintomas dolorosos. A capsaicina estimula uma descarga periférica de substância P, levando ao esgotamento do estoque desta. A indisponibilidade da substância P nas fibras aferentes primárias (fibras C) inibe a geração do fenômeno doloroso. No início do tratamento tópico com a capsaicina ocorre um aumento na sensação álgica, especialmente de queimação, devido a descarga de substância P antes do seu esgotamento. Muitas vezes, isso dificulta a aderência ao tratamento. No entanto, esse efeito inconveniente diminui ou desaparece com o tempo. O uso tópico de capsaicina foi mostrado que fornece alívio significativo da dor em ensaios clínicos randomizados. A capsaicina tópica em baixa concentração (0,025%-0,075%) tem sido usada por décadas como um dos tratamentos de segunda linha para a NPH, porém com resultados divergentes. Nos últimos anos, a forma tópica da capsaicina com concentração a 8% foi desenvolvida e aprovada para tratamento da NPH baseada em dois estudos randomizados e controlados que demonstraram a eficácia e a segurança de uma aplicação de 1h para a NPH, não se encontra disponível no Brasil. Lidocaína: A lidocaína tópica é um fármaco de primeira linha para o tratamento da NPH, com ação bloqueadora nos canais de sódio, reduzindo as descargas ectópicas anormais. Ela é usada na forma de adesivos cutâneos de lidocaína a 5% ou na forma de creme, como uma mistura eutética de anestésicos locais, Eutectic Mixture of Local Anesthetics (EMLA), contendo prilocaína a 2,5% e lidocaína a 2,5%. O adesivo de lidocaína a 5% é licenciado para os pacientes com NPH nos Estados Unidos. O adesivo contém 750 mg de lidocaína, das quais apenas 5% são liberadas. A administração tópica da lidocaína tem se mostrado eficaz, segura e com baixa incidência de reações adversas sistêmicas e poucos efeitos colaterais; comumente os pacientes apresentam reações locais leves. Mesmo com múltiplas aplicações de lidocaína, os níveis sistêmicos desse fármaco permanecem baixos. A lidocaína a 5% deve ser aplicada na área de pele dolorosa por um período máximo de 12h ao dia. Pode ser usada em associação com anticonvulsivantes, opioides e antidepressivos tricíclicos. Tratamento intervencionista Existe uma grande variedade de opções intervencionistas como estratégia de tratamento da NPH, contudo algumas com eficácia incerta. Bloqueios neurais: Os bloqueios simpático- neurais também podem ser considerados no tratamento para alívio da dor aguda do HZ e na NPH. Embora os mecanismos precisos pelos Dor | P5 Mt1 Pr3 | @study.sarahs | MEDICINA – FITS 10 quais o sistema nervoso simpático contribua para dor neuropática não sejam claros, dados indicam uma ativação anormal dos receptores alfa- adrenérgicos nos neurônios aferentes primários. Os bloqueios neurais têm sido utilizados no alívio da dor em pacientes com NPH, embora com menos eficácia analgésica do que nos casos de HZ. Quando o bloqueio é realizado na fase aguda do HZ, além de diminuir a intensidade da dor, teoricamente previne o desenvolvimento de NPH. A administração de anestésico local promove alívio da dor por 12-24h. Em longo prazo, o alívio pode ser alcançado realizando o procedimento semanalmente e numa fase inicial da doença. A incidência de complicações graves causadas pelo bloqueio é baixa e depende da localização do nervo bloqueado. A administração única no espaço peridural de um corticoide associado a um anestésico local na fase aguda do HZ pode ter um efeito na redução da dor por um mês, mas não é eficaz para prevenção em longo prazo da NPH. Vários estudos observacionais e prospectivos sugerem que a utilização do bloqueio peridural em combinação com administração oral de um agente antiviral é muito eficaz no tratamento do HZ agudo, diminuindo a duração e a gravidade da dor. Outros bloqueios nervosos, como bloqueio do nervo intercostal, têm sido utilizados para alívio da dor da NPH. Apesar da injeção subaracnoidea do acetato de metilprednisolona aliviar a dor na NPH, sua segurança tem sido debatida, pois contém álcool benzílico e polietilenoglicol como conservantes, por isso sua utilização tem sido questionada. Estimulação medular: A estimulação medular tem sido realizada para tratar a dor neuropática crônica, seu mecanismo de ação não está claro, porém sua ação baseia-se na teoria do portão de controle da dor, em que a estimulação de fibras mielinizadas Aβ interfere na transmissão do estímulo nociceptivo conduzido pelas fibras C e Aδ da periferia para o corno dorsal da medula. O impulso elétrico é transmitido a partir de um gerador implantado no subcutâneo para os eletrodos colocados no espaço peridural. A estimulação medular apresenta taxa de complicações que variam entre 30% e 40%. As principais complicações são: problemas no funcionamento de hardware, principalmente a migração dos eletrodos, infecção e estimulação dolorosa. As complicações são mais significativas quando associadas às lesões neurológicas,devido a lesão de raiz ou da medula espinhal no intraoperatório. Na tentativa de evitar infecção, utiliza-se uma técnica estéril rigorosa e profilaxia com antibióticos por via venosa antes do procedimento. Pode ocorrer perfuração acidental da dura-máter durante a implantação do estimulador medular, o que resulta em cefaleia pós-punção dural. Primeiramente, adota-se tratamento conservador, porém, nos casos refratários, é recomendado realizar blood pacth peridural. Quando ocorre estimulação dolorosa, deve-se reposicionar ou remover o eletrodo. As evidências atuais da literatura sugerem que a estimulação medular é eficaz no manuseio de certos tipos de dor neuropática. Em determinados pacientes pode proporcionar o alívio da dor em longo prazo em até 60% a 80%, com melhoria na QV e satisfação do paciente. Acupuntura: É uma terapia que tem sido considerada eficaz para controle da dor. Apesar de vários casos documentados sobre o seu uso no HZ e na NPH, as amostras são pequenas. É muito útil quando usada em conjunto com as terapias convencionais da NPH. Tratamento psicológico e terapias comportamentais: A associação dos fatores emocionais aos fatores biológicos é de extrema relevância na manutenção e na modulação da NPH. Portanto, os benefícios potenciais do apoio psicológico para os pacientes com NPH não devem ser ignorados. As terapias comportamentais, como relaxamento, meditação e massagens também têm sido utilizadas com efeitos positivos na NPH. Referências: Schestatsky, Pedro. Definição, diagnóstico e tratamento da dor neuropática. Rev. HCPA 2008. Zakka, Telma. Dor neuropática. Diagnóstico e tratamento. Med Int Méx. 2020. Alexandre Barreto Coelho, Pedro et al. Diagnóstico e manejo do herpes-zóster pelo médico de família e comunidade. 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