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1 Khilver Doanne Sousa Soares Psicose & Mania Farmacologia V Tratamento da psicose A psicose é um sintoma de doença mental que se caracteriza por um senso distorcido ou inexistente da realidade. Os transtornos psicóticos comuns incluem os transtornos de humor (depressão maior ou mania) com características psicóticas, psicose induzida por substâncias, demência com características psicóticas, delirium com características psicóticas, transtorno psicótico breve, transtorno delirante, transtorno esquizoafetivo e esquizofrenia. Mecanismo de ação dos receptores D2 Os receptores de dopamina D2 compartilham propriedades comuns com os receptores D3 e D4, visto que cada um deles está ligado à proteína G inibitória Gi, e a estimulação do receptor resulta em produção diminuída de AMPc e, portanto, na redução do AMPc intracelular, enquanto os agonistas dos receptores D1 e D5 estimulam a via G.- adenililciclase-AMPc. As ações antipsicóticas dos receptores D2 também são mediadas por meios que não a proteína G, particularmente pela modulação da atividade de GSK-3β por meio de um complexo de sinalização β-arrestina- 2/PKB/PP2A. Os antagonistas atípicos antagonizam mais as interações receptor D2/ β- arrestina-2 do que a sinalização dependente de proteína G, enquanto os antipsicóticos típicos inibem ambas as vias com eficácia semelhante. Revisão da fisiopatologia relevante Nem toda psicose é esquizofrenia, e a fisiopatologia relevante ao tratamento eficaz da esquizofrenia pode não ser aplicável a outros transtornos psicóticos. A eficácia dos antagonistas de dopamina D2 sobre os sintomas positivos da psicose observados na maioria dos transtornos psicóticos sugere uma etiologia comum relacionada com uma neurotransmissão dopaminérgica excessiva nas vias de DA mesolímbicas (i.e., estriado associativo). Delirium, demência e psicose por doença de Parkinson As psicoses relacionadas com delirium e demência, em particular a demência do tipo Alzheimer, podem compartilhar uma etiologia comum: uma deficiência na neurotransmissão colinérgica muscarínica em consequência de perda neuronal relacionada com idade, doença ou medicamentos. O delirium pode ter outros fatores precipitantes além de medicamentos, como infecção, desequilíbrio eletrolítico e comprometimento metabólico, todos necessitando de tratamento específico, além da retirada dos medicamentos anticolinérgicos. O desenvolvimento da PDP deve-se a uma perda dos neurônios da rafe de serotonina associada aos corpúsculos de Lewy e a uma suprarregulação subsequente dos receptores 5-HT2A corticais. O tratamento seletivo da PDP consiste em pimavanserina, um agonista inverso seletivo de 5- HT2A desprovido de atividade no receptor DA. Revisão da patologia da psicose e metas gerais da farmacoterapia Comuns a todos os transtornos psicóticos são os sintomas positivos, que podem incluir comportamento alucinatório, pensamento perturbado e descontrole comportamental. Comum aos tratamentos efetivos da esquizofrenia é o seu efeito sobre a neurotransmissão dopaminérgica. Tratamento antipsicótico de curto prazo Para muitos transtornos psicóticos, os sintomas são transitórios, e os fármacos antipsicóticos são apenas administrados durante e logo após períodos de exacerbação dos sintomas. Os pacientes com delirium, demência, transtorno depressivo maior ou mania com características psicóticas, psicoses induzidas por substâncias e transtorno psicótico breve normalmente recebem tratamento antipsicótico 2 Khilver Doanne Sousa Soares de curto prazo, que é interrompido após a resolução dos sintomas, embora a duração possa variar de modo considerável, dependendo da etiologia. Os pacientes bipolares, em particular, podem ter o tratamento antipsicótico estendido por vários meses após a resolução da mania e da psicose, visto que os medicamentos antipsicóticos são efetivos para reduzir a recidiva da mania. Locais de ação de agentes antipsicóticos e do Li+. Após liberação exocitótica, a DA interage com receptores pós- sinápticos (R) de tipos D1 e D2 e autorreceptores pré-sinápticos D2 e D3• O término da ação da DA ocorre principalmente por transporte ativo da DA nos terminais pré-sinápticos por meio do DAT, com desaminação secundária pela MAO mitocondrial. A estimulação dos receptores D, pós-sinápticos ativa a via G,-adenililciclase-AMPc. Os receptores D2 acoplam-se através da G; para inibir a adenililciclase e através da Gq para ativar a via PLC-IP3-Ca2+. A ativação da via G; também pode ativar canais de K+, levando à hiperpolarização. Ou+ inibe a degradação de IP e, portanto, aumenta o seu acúmulo e as sequelas (mobilização de Ca2+, ativação da PKC, depleção de inositol celular). Ou+ também pode alterar a liberação do neurotransmissor por uma variedade de mecanismos supostos (ver texto). Os autorreceptores semelhantes a D2 suprimem a síntese de DA diminuindo a fosforilação de TH limitante da velocidade e limitando a liberação de DA. Por outro lado, os A2R pré-sinápticos ativam a via adenililciclase-AMPc-PKA e, portanto, a atividade da TH. Todos os agentes antipsicóticos atuam em autorreceptores e receptores D2; alguns também bloqueiam os receptores D. Os agentes estimulantes inibem a recaptação de DA pelo DAT, prolongando, assim, o tempo de permanência da DA na sinapse. Inicialmente no tratamento antipsicótico, os neurônios da DA liberam mais DA, mas, após tratamento repetido, entram em um estado de inativação da despolarização fisiológica, com redução da produção e liberação de DA, além de bloqueio continuado do receptor. ----1 inibição ou bloqueio; + , elevação da atividade; - , redução da atividade; IP, fosfato de inositol; IP3, 1,4,5-trisfosfato de inositol; PIP2, fosfatidilinositol-4,5-bifosfato; R, receptor. Tratamento antipsicótico de longo prazo O tratamento contínuo com antipsicóticos reduz as taxas de recidiva em 1 ano de 80%, entre pacientes não medicados, para cerca de 15%. Com exceção da pimavanserina para a PDP e da eficácia superior da clozapina na esquizofrenia refratária ao tratamento, nem a apresentação clínica nem os biomarcadores são preditivos da probabilidade de resposta a uma classe ou agente antipsicótico específico. Tratamento de curto prazo Delirium, demência e psicose por doença de Parkinson Os sintomas psicóticos do delirium ou da demência geralmente são tratados com doses baixas de medicação, embora inicialmente possa 3 Khilver Doanne Sousa Soares ser necessário repetir as doses a intervalos frequentes, de modo a obter um controle comportamental adequado. Como os efeitos dos fármacos anticolinérgicos podem agravar o delirium e a demência, os antipsicóticos típicos de alta potência (p. ex., haloperidol) ou os agentes antipsicóticos atípicos com propriedades antimuscarínicas limitadas (p. ex., risperidona) constituem frequentemente os fármacos de escolha. Mania Todos os agentes antipsicóticos atípicos, com exceção de clozapina, iloperidona, brexpiprazol e lurasidona, têm indicações para a mania aguda, e as doses são tituladas rapidamente até a dose máxima aprovada pela FDA ou próximo a ela nas primeiras 24 a 72 horas de tratamento. Os antipsicóticos típicos também são efetivos na mania aguda, porém são frequentemente evitados devido ao risco de SEP. A resposta clínica (diminuição da agitação psicomotora e irritabilidade, aumento do sono e redução ou ausência de delírios e alucinações) normalmente ocorre em um período de 7 dias, mas pode já ser visível em 2 dias. A combinação de um agente antipsicótico com um estabilizador do humor frequentemente melhora o controle dos sintomas maníacos e diminui ainda mais o risco de recidiva. O ganho de peso em consequência dos efeitos aditivos dos agentes antipsicóticos e estabilizadores do humor representa um problema clinico significativo. Depressão maior Os pacientes com transtorno depressivo maior com características psicóticas necessitamde doses de antipsicóticos menores do que as doses médias, administrados em combinação com um antidepressivo. Os principais mecanismos de ação incluem antagonismo de 5-HT2c (a olanzapina e o metabólito da quetiapina, a norquetiapina), que facilita a liberação de DA e NE, e antagonismo parcial de DA D3 (aripiprazol, brexpiprazol, cariprazina), que pode resultar em estimulação dos centros de recompensa. Esquizofrenia Os objetivos imediatos do tratamento antipsicótico agudo consistem em redução do comportamento agitado, desorganizado ou hostil, diminuição do impacto das alucinações, melhora na organização do pensamento e redução do isolamento social. O bloqueio excessivo de D2, como ocorre frequentemente com o uso de agentes típicos de alta potência (p. ex., haloperidol), não apenas aumenta o risco de efeitos neurológicos (p. ex., rigidez muscular, bradicinesia, tremor, acatisia), como também atrasa os processos mentais (bradifrenia) e interfere nas vias de recompensa centrais, resultando em queixas de anedonia pelo paciente (perda da capacidade de sentir prazer). Farmacologia dos agentes antipsicóticos Mecanismo de ação Com a exceção da pimavanserina para a PDP, nenhum antipsicótico efetivo clinicamente disponível é desprovido de atividade moduladora de D2. Essa redução na neurotransmissão dopaminérgica é atualmente obtida por meio de um dos dois mecanismos: antagonismo de D2 ou agonismo parcial de D2 (aripiprazol, brexpiprazol e cariprazina). Diferentemente de outros agentes antipsicóticos, em que a ocupação estriatal de D2 (i.e., redução no sinal pós-sináptico de D2) acima de 78% aumenta o risco de SEP, os antipsicóticos agonistas parciais necessitam de níveis de ocupação de D2 significativamente mais altos (80-95%). Entretanto, o agonismo dopaminérgico intrínseco gera um sinal pós-sináptico suficiente para permanecer abaixo do limiar dos SEP. A clozapina possui antagonismo de D2 mais fraco em comparação com os agentes antipsicóticos atuais, combinado com um potente antagonismo de 5-HT2A que facilita a liberação de DA nas vias mesocortical e nigroestriatal. A clozapina e seu metabólito ativo, a N- desmetilclozapina, também possuem atividade em diversos outros receptores, incluindo antagonismo e agonismo em vários subtipos de 4 Khilver Doanne Sousa Soares receptores muscarínicos e antagonismo em receptores D4 da DA (outros antagonistas de D4 que também não exibam antagonismo de D2 carecem de atividade antipsicótica. Ocupação dos receptores da dopamina e efeitos comportamentais As projeções dopaminérgicas do mesencéfalo terminam em núcleos do septo, tubérculo olfativo e prosencéfalo basal, amígdala e outras estruturas dentro dos lobos cerebrais temporal e pré-frontal e do hipocampo. A neurotransmissão dopaminérgica excessiva no estriado associativo é de importância central para os sintomas positivos da psicose. Os efeitos comportamentais e o tempo da resposta antipsicótica ocorrem paralelamente ao aumento da atividade D2 pós-sináptica nessa região. Papel dos receptores não dopaminérgicos com agentes antipsicóticos atípicos O conceito de atipicidade foi inicialmente baseado na ausência de SEP da clozapina combinada com antagonismo potente dos receptores 5-HT2. O antagonismo de 5-HT2A exerce seu maior efeito na liberação de DA pré- frontal e dos núcleos da base, diminuindo o risco de SEP no contexto do antagonismo nigroestriatal de D2. Os antagonistas de 5-HT2c estimulam o efluxo noradrenérgico do mesencéfalo. Os antipsicóticos atípicos são, em sua maioria, agonistas parciais nos receptores 5- HT1A, resultando em hiperpolarização das células piramidais corticais e em efeitos ansiolíticos clinicamente relevantes. Ocupação da receptor e resposta clínica com agentes antipsicóticos. Normalmente, a ocupação do receptor D2 de mais de 60% pelo fármaco produz efeitos antipsicóticos, enquanto a ocupação do receptor de mais de 80% causa SEP. Os agentes atípicos combinam um bloqueio fraco do receptor D2 com antagonismo/agonismo inverso mais potentes de 5-HT2A. O agonismo inverso nos subtipos do receptor 5-HT2 pode contribuir para a redução do risco de SEP da olanzapina (A) e da risperidona (B) e para a eficácia na ocupação menor do receptor D2 (olanzapina, A). O aripiprazol é um agonista parcial de D2 que pode atingir apenas 75% do bloqueio funcional Síndrome de Tourette A capacidade dos fármacos antipsicóticos de suprimir os tiques em pacientes com síndrome de Tourette está relacionada com a redução da neurotransmissão de D2 nos núcleos da base. O aripiprazol é o único antipsicótico aprovado pela FDA para o tratamento desse transtorno. 5 Khilver Doanne Sousa Soares 6 Khilver Doanne Sousa Soares a - Pode ter uma eliminação multifásica com meia-vida terminal muito mais longa. Efeitos adversos e interações medicamentosas Efeitos adversos previstos pelas afinidades dos receptores de monoamina Receptor de dopamina D2. Com exceção da pimavanserina e dos agonistas parciais de D2 (aripiprazol, brexpiprazol, cariprazina), todos os agentes antipsicóticos possuem propriedades antagonistas dos receptores D2, cuja potência determina a probabilidade de SEP, risco de DT em longo prazo, acatisia, SNM e hiperprolactinemia. Sintomas extrapiramidais. As reações distônicas agudas ocorrem nas primeiras horas e dias de tratamento, com maior risco entre os pacientes mais jovens (idades de maior incidência entre 10-19), em resposta a reduções abruptas na neurotransmissão nigroestriatal de D2. Pode ocorrer parkinsonismo semelhante à sua forma idiopática, que irá responder a uma redução da dose ou mudança para um antipsicótico com antagonismo de D2 mais fraco. Os receptores muscarínicos colinérgicos modulam a liberação nigrostriatal de DA, com bloqueio que aumenta a disponibilidade sináptica de DA. As questões importantes no uso de anticolinérgicos incluem o impacto negativo sobre a cognição e a memória, os efeitos adversos antimuscarínicos periféricos (p. ex., retenção urinária, boca seca, cicloplegia, etc.), exacerbação da DT e risco de rebote colinérgico após retirada abrupta de anticolinérgicos. Discinesia tardia. A DT resulta de um aumento na atividade dopaminérgica nigroestriatal em consequência de supersensibilidade dos receptores polissinápticos e suprarregulação devido aos níveis cronicamente altos de bloqueio pós-sináptico de D2 (e possíveis efeitos tóxicos diretos dos antagonistas de alta potência da DA). A DT ocorre mais frequentemente em pacientes mais velhos e o risco pode ser um pouco maior em pacientes com transtornos de humor do que naqueles com esquizofrenia. Sua prevalência é, em média, de 15 a 25% em adultos jovens tratados com agentes antipsicóticos típicos por mais de um ano; o risco é de um terço a um quinto daquele observado com agentes atípicos. A DT caracteriza-se por movimentos coreiformes (semelhantes a tiques) estereotipados, repetitivos, indolores, involuntários e rápidos da face, das pálpebras (piscar ou espasmo), da boca (caretas), da língua, dos membros ou do tronco, com graus variáveis de atetose (movimentos de torção) mais lentos; a distonia tardia e a acatisia tardia são atualmente raras com a redução do uso de medicamentos antipsicóticos típicos de alta potência em doses elevadas. Todos os movimentos desaparecem durante o sono (como muitas outras síndromes extrapiramidais), variam em intensidade ao longo do tempo e são dependentes do nível de excitação ou do estresse emocional. Os movimentos discinéticos podem ser suprimidos 7 Khilver Doanne Sousa Soares parcialmente pelo uso de um antagonista de DA potente. Acatisia. Ao contrário do parkinsonismo induzido por antipsicóticos e da distonia aguda, a fenomenologia e o tratamento da acatisia sugerem envolvimento de estruturas fora da via nigroestriatal. Apesar da associação com bloqueio de D2, a acatisianão tem uma resposta tão forte aos fármacos antiparkinsonianos, de modo que outras estratégias de tratamento frequentemente são usadas de forma aguda, incluindo benzodiazepínicos de alta potência (p. ex., clonazepam) e β-bloqueadores não seletivos com boa penetração no SNC (p. ex., propranolol). Síndrome neuroléptica maligna. A rara SNM assemelha-se a uma forma grave de parkinsonismo, com sinais de instabilidade autônoma (hipertermia e instabilidade do pulso, da pressão arterial e da frequência respiratória), estupor, elevação da creatina-cinase sérica e, algumas vezes, mioglobinemia com nefrotoxicidade potencial. Em sua forma mais grave, essa síndrome pode persistir por mais de uma semana depois da interrupção do fármaco que a desencadeou e está associada a mortalidade. Hiperprolactinemia. A hiperprolactinemia resulta do bloqueio das ações hipofisárias dos neurônios tuberoinfundibulares dopaminérgicos; esses neurônios projetam-se do núcleo arqueado do hipotálamo até a eminência mediana, onde distribuem DA para a adenohipófise através dos vasos sanguíneos hipofisioportais. Os receptores D2 nos lactotropos na adenohipófise medeiam a ação tônica de inibição da prolactina da DA. As correlações entre a potência de D2 de fármacos antipsicóticos e elevações da prolactina são excelentes. Receptores de histamina H1 O antagonismo central dos receptores H1 está associado a dois efeitos adversos importantes: sedação e ganho de peso por meio de estimulação do apetite. Sedação. O efeito sedativo é facilmente previsível pela sua alta afinidade pelo receptor H1. Ocorrerá desenvolvimento de certa tolerância às propriedades sedativas, um fato útil que deve ser lembrado quando se considera mudar o paciente para um agente não sedativo. A interrupção rápida de fármacos antipsicóticos anti- histamínicos sedativos é inevitavelmente seguida por queixas significativas de insônia de rebote e distúrbios do sono. Se a interrupção do tratamento com antipsicótico sedativo for considerada necessária, exceto para a cessação de emergência da clozapina para agranulocitose, o medicamento deve ser reduzido gradualmente durante 4 a 12 semanas e o médico deve estar preparado para utilizar um sedativo quando se atinge o final da titulação. Ganho de peso. A estimulação do apetite constitui o principal mecanismo envolvido, com pouca evidência sugerindo que a atividade reduzida (em consequência da sedação) possa constituir um importante fator contribuinte para o ganho de peso relacionado com antipsicóticos. Pesquisas laboratoriais indicaram que os medicamentos com antagonismo significativo de H1 induzem estimulação do apetite por meio de efeitos em locais hipotalâmicos. O antagonismo nos receptores 5-HT2c pode desempenhar um papel aditivo ao promover ganho de peso para medicamentos que apresentam alta afinidade por H1 (p. ex., clozapina, olanzapina). Receptores muscarínicos M1 O antagonismo muscarínico é responsável pelos efeitos anticolinérgicos centrais e periféricos de medicamentos. A afinidade pelos receptores muscarínicos e os efeitos anticolinérgicos clinicamente relevantes dos antipsicóticos atípicos são limitados, enquanto a clozapina e as fenotiazinas de baixa potência apresentam efeitos adversos anticolinérgicos significativos. A quetiapina possui afinidade muscarínica modesta; o seu metabólito ativo, a norquetiapina, é provavelmente responsável pelos efeitos anticolinérgicos. A clozapina está particularmente associada a constipação intestinal significativa, talvez devido às 8 Khilver Doanne Sousa Soares propriedades anticolinérgicas e possivelmente a efeitos nos receptores sigma. Receptores α1-adrenérgicos O antagonismo α 1-adrenérgico está associado a um risco de hipotensão ortostática e pode ser particularmente problemático para pacientes idosos, cujo tônus vasomotor é fraco. Em comparação com agentes típicos de alta potência, os fármacos típicos de baixa potência geralmente têm maiores afinidades pelos receptores α 1 e estão associados a maior risco de ortostase. Tratamento da Mania A mania refere-se a um período de humor elevado, expansivo ou irritável, com sintomas coexistentes de aumento de energia e atividade dirigida para metas e redução da necessidade de sono. A mania distingue-se de sua forma menos grave, a hipomania, pelo fato de que a hipomania, por definição, não resulta em prejuízo funcional ou hospitalização e não está associada a sintomas psicóticos. Fármacos antipsicóticos Quando usados para a mania aguda, as doses frequentemente estão na extremidade superior da dose máxima aprovada. A clozapina pode ser benéfica em pacientes com mania refratária como terapia adjuvante e como monoterapia. Lítio O lítio é o mais leve dos metais alcalinos (grupo Ia). Os sais de Li+ compartilham algumas características com os sais de Na+ e K+. As hipóteses plausíveis para o mecanismo de ação do lítio concentram-se no seu impacto sobre as monoaminas envolvidas na fisiopatologia dos transtornos do humor e nos mecanismos de segundos mensageiros e outros mecanismos moleculares intracelulares que atuam na transdução de sinais, na regulação dos genes e na sobrevida celular. O Li+ possui efeitos limitados sobre a atividade da adenililciclase sensível às catecolaminas ou sobre a ligação de ligantes a receptores de monoaminas no tecido cerebral, embora possa influenciar a resposta de autorreceptores de 5-HT aos agonistas. A liberação de 5-HT dos terminais pré-sinápticos é regulada por autorreceptores de 5-HT1A localizados no corpo celular e por receptores de 5-HT1b no terminal nervoso. Estudos eletrofisiológicos in vitro sugerem que o Li+ facilita a liberação de 5-HT. O Li+ aumenta os efeitos de antidepressivos e, em modelos animais de depressão, a atividade do lítio parece ser mediada por ações de dessensibilização nos sítios 5-HT1b. O Li+ inibe a inositol-monofosfatase e interfere no ciclo da via de IP. Um dos resultados consiste em aumento do acúmulo de IP3 quando a via Gq-PLC-IPrCa2+ é ativada. Em consequência, a sinalização de IP3 e a consequente mobilização do Ca2+ das reservas intracelulares também podem aumentar de forma aguda, juntamente com as sequelas desses efeitos e a mobilização de Ca2+, a ativação da PKC, a depleção de inositol celular; outro resultado consiste em redução do inositol disponível para ressíntese/reincorporação nos IP fosfatos da membrana. O tratamento com Li+ leva finalmente a uma redução na atividade de várias proteínas- cinase no tecido cerebral, incluindo a PKC, particularmente as isoformas α e β. ADME Ou+ sofre absorção quase completa pelo trato GI. As concentrações plasmáticas máximas são alcançadas 2 a 4 horas após uma dose oral. A passagem pela barreira hematencefálica é lenta, e, quando um estado de equilíbrio dinâmico é alcançado, a concentração de u + no líquido cerebrospinal e no tecido cerebral corresponde a 40 a 50% da concentração plasmática. Cerca de 95% de uma dose única de Li+ são eliminados na urina, com t1/2 de cerca de 24 horas. 9 Khilver Doanne Sousa Soares 10 Khilver Doanne Sousa Soares 11 Khilver Doanne Sousa Soares Efeitos adversos de alguns fármacos usados no tratamento da depressão. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________ REFERÊNCIAS BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 13. ed. São Paulo: AMGH, 2018. WHALEN, Karen; FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas A. Farmacologia Ilustrada. 6.ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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