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MERITÍSSIMO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DO RIO DE JANEIRO/RJ CLAUDIO BARBOSA, brasileiro, casado, eletricista, portadora da cédula de identidade RG nº 044555, inscrito no CPF nº 4556666-00, casado pelo regime de comunhão parcial de bens com, CLEIA CARNEIRO, residente e domiciliado na rua Braga, nº 45, CEP nº xxxx-xxx, centro-Rio de Janeiro, RJ e representado pelo advogado, com endereço na rua tal, nº xx, CEP nº xxxxx-xxx, com endereço eletrônico tal, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal de 1988, artigo 186e 927 do Código Civil, propor a presente; AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL Contra o ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito público interno, representada juridicamente, nos termos do artigo 75, inciso II, do Código de Processo Civil, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Procurador Geral do Estado, com endereço na rua tal, nº xxxx, CEP nº xxxxx-xxx, situado nesta Capital, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos: I- GRATUIDADE DA JUSTIÇA O autor requer os benefícios da justiça gratuita nos termos da Lei nº 1.060/50 e art. 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal, uma vez que não têm condições de arcar com as custas e demais despesas processuais, em detrimento do próprio sustento e de sua família. II- DOS FATOS Os fatos objeto da presente ocorreram no INSTITUTO MÉDICO LEGAL DO RIO DE JANEIRO-IML. Órgão público do Estado do Rio de Janeiro e, portanto, não possui personalidade jurídica própria e, consequentemente, não pode ser demandado em juízo, dada a ausência da capacidade processual. Em data de 05/07/2017, o autor saiu para ir ao mercado, e ao retornar por volta das 11:30hs, chegando em casa encontrou sua esposa deitada na cama sem sinais vitais e com marcas roxas do lado esquerdo do corpo. Assim, por não acreditar no falecimento de sua esposa, chamou o SAMU que , ao chegar ao local, confirmou o óbito, e orientou o autor a fazer o registro de ocorrência na delegacia policial mais próxima. sendo assim, o autor compareceu à 5º D.P. lavrando o respectivo registro de ocorrência de nº 005/06035/15, e no mesmo dia 05/07/2017, compareceu o rabecão que realizou a retirada e o translado do corpo de sua esposa ao IML. No entanto, no dia seguinte 06/07/2017, retornando ao IML, o autor conseguiu a liberação do corpo de sua esposa, tão somente às 18h, após fazer o reconhecimento do mesmo, sendo removido para o cemitério do Caju, onde no dia 07/07/2017, seria realizado o sepultamento. Sendo assim, no dia 07/07/2017 às 09 horas, ao abrir a urna do caixão, na presença de todo os familiares, veio a surpresa e indignação, verificou-se que não era o corpo de sua esposa, de imediato fez contato com o IML, que identificou que houve uma errônea troca, e que o corpo de dona Celia tinha ido para o cemitério de Campo Grande. A troca do corpo foi providenciada pelo próprio IML, e no dia 08/07/2017 finalmente foi realizado o sepultamento de sua esposa. Entretanto, foi essa desatenção, essa desídia, essa falta de zelo dos servidores do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro-IML, servidores do requerido , que, de fato, causou transtornos de monta ao autor. O Inequívoco de que os fatos são graves e que causaram aos familiares e ao autor abalo psíquico que excede o patamar do mero aborrecimento rotineiro. III- DO DIREITO Neste caso existe a responsabilidade civil do requerido pela troca dos corpos do "de cujus", que ocasionou transtornos ao autor e a seus familiares. E tal descaso, tal falha, mesmo sendo isolada, mostrou que a prestação do serviço foi feita com total negligência, donde que se extrai a responsabilidade do requerido pelos danos causados ao autor por decorrência do vício no serviço prestado. No presente caso, a responsabilidade é objetiva, prescindindo da prova da culpa dos prepostos- servidores do requerido. Não há dúvida quanto ao que dispõe os artigos 186 e 927 do Código Civil/2002 que: Art. 186-Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927-Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Então, discorre que haverá "omissão específica quando o Estado estiver na condição de garante (ou guardião) e por omissão sua cria situação propícia para a ocorrência do evento em situação em que tinha o dever de agir para impedi-lo [...] em suma, a omissão específica , que faz emergir responsabilidade objetiva da Administração Pública, pressupõe um dever específico do Estado, que o obrigue a agir para impedir o resultado danoso, quando a vítima se encontrava sob sua proteção ou guarda. [...] Em contrapartida, a omissão genérica tem lugar nas hipóteses em que não se pode exigir do Estado uma atuação específica; quando a Administração tem apenas o dever legal de agir em razão, por exemplo, de seu poder de polícia (ou fiscalização), e por sua omissão concorre para o resultado." 2 A troca de cadáver está evidenciada, não deixando qualquer dúvida que tal ocorreu dentro do Instituto Médico Legal, sendo irrelevante para o presente processo os motivos que levaram o IML a ter trocado os corpos. O corpo foi remetido ao departamento para realização de autópsia/perícia médica e ali ocorreu a troca dos corpos, além de todas as ações omissas e negligentes cometidas por aqueles servidores. Desse modo, afigura-se flagrante a negligência e imprudência por partes dos agentes do IML do Rio de Janeiro, cabendo ressaltar que a não separação do corpo já identificado daqueles sem identificação foi imprescindível para o equívoco ocorrido. A conduta descrita subsome-se à teoria do risco administrativo prevista no artigo 37 § 6º da CF , visto que a responsabilidade civil do Estado configura-se pela conjugação dos seguintes requisitos, a saber: conduta (omissiva ou comissiva); o nexo de causalidade e o dano efetivo, sendo desnecessária a análise da existência de dolo ou culpa do Estado em relação ao particular. No presente caso, o Estado causou dano ao seu administrado, estando presente a relação de causalidade entre a atividade administrativa e o dano sofrido pelo autor. Por pertinente cabe citar decisão do STJ: ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTE DA TROCA DE CADÁVERES. MÃE DA AUTORA FOI VELADA INDEVIDAMENTE POR OUTRA FAMÍLIA. DANOS CARACTERIZADOS. PEDIDO DE REDUÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANOSMORAIS, FIXADA EM R$ 00.000,00. RAZOABILIDADE. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Agrava-se de decisão que negou seguimento a Recurso Especial fundado na alínea a do art. 105, III da Constituição Federal, no qual o ESTADO DO CEARÁ se insurge contra acórdão do TJCE, assim ementado: PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. MORTE DA GENITORA DA APELADA. TROCA DE CORPOS NO SISTEMA DE VERIFICAÇÃO DE ÓBITO (SVO). CORPO VELADO E SEPULTADO POR OUTRA FAMÍLIA. ATO PRATICADO POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO ESTADUAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. INCIDÊNCIA DO ART. 37, § 6o., CF. CONDENAÇÃO POR DANOS MORAIS. JUÍZO A QUO AGIU COM CORREÇÃO. SENTENÇA MANTIDA. APELAÇÃO CONHECIDA E IMPROVIDA. Indenização por danos morais; 2 - A responsabilidade do Estado se traduz na obrigação de reparar os danos causados a terceiros, pois todas as pessoas, sejam elas de direito privado, sejam de direito público, estão sujeitasao ordenamento posto, e devem responder pelos comportamentos que violam direito alheio; 3 - No Brasil, a responsabilidade do ente estatal é objetiva, ou seja, independe da comprovação de dolo ou culpa e encontra-se prevista na Constituição Federal de 1988, no art. 37, § 6o.; 4 - Ao lesado, portanto, basta demonstrar o dano sofrido, o comportamento do órgão ou agente do ente federativo e o nexo causal entre um e outro. O comportamento humano comissivo ou omissivo é o primeiro momento da responsabilidade. Registre-se que essa ação ou omissão há de ser voluntária, ou seja, realizada com discernimento e liberdade. O dano, assim, como pressuposto que cause diminuição no patrimônio juridicamente tutelado. O terceiro pressuposto da responsabilidade objetiva é a existência de uma relação de causa e efeito entre a conduta praticada e o dano suportado pela vítima. Em outras palavras, só haverá obrigação de reparar, se restar demonstrado que o dano sofrido adveio de conduta positiva ou negativa do agente; 5 - Assim, a responsabilidade objetiva do Estado, uma vez caracterizada, impõe ao lesado tão somente demonstrar a ocorrência do fato administrativo, do dano e do nexo causal. Em contrapartida, não existe responsabilidade ou dever de indenizar, se não restarem caracterizados quaisquer desses pressupostos; 6 - No caso sub oculi, apreciando os argumentos e documentação acostados, resta evidente que a apelada comprovou todos os pressupostos da responsabilidade civil do Estado, antes mencionados, quais sejam, o dano sofrido, o comportamento do órgão ou agente do Estado e o nexo causal; 7 - O dano caracterizou-se a partir do momento em que, além de ter trocado o corpo da falecida, a apelada deparou-se com a situação que a incapacitaria de velar e sepultar o corpo daquela, em horario a data marcada, a não ser após a troca pelo corpo certo. Eis que o procedimento lhe exigiu esforços, além do esforço já despendido para a superação da perda de sua esposa. O comportamento do agente do Estado também resta induvidoso, sendo o ato comprovado pelo próprio IML, que reconhecendo o erro cometido providenciou de imediato a troca. Frente a isso, reconhecido, portanto, o nexo causal entre o dano sofrido e o comportamento do agente estatal. “ Precedentes do STJ e desta Corte estadual de Justiça". APELAÇÃO. INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. HOSPITAL. MORTE DE PACIENTE. TROCA DE CADÁVERES. Pretensão de reparação por danos morais, em razão de troca de corpos ocorrida em hospital municipal. Liberação do corpo errado. Dever do hospital na certeza de identificação dos corpos. Reconhecimento do erro pela requerida. Falha no serviço público caracterizada. Indenização devida. RECURSO DESPROVIDO. (TJSP; Apelação 1035665- 42.2016.8.26.0053; Relator (a): Alves Braga Junior; Órgão Julgador: 2a Câmara de Direito Público; Foro Central – Endereço a Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento: 13/02/2019; Data de Registro: 13/02/2019) O acontecido, descaso com o autor como relatado, culminado com a troca de cadáveres do familiar, demonstra de forma inequívoca, a negligência, imperícia e imprudência dos servidores do IML, donde decorre o dever de indenizar os danos a ele causado . A responsabilidade do ESTADO DO RIO DE JANEIRO é incontestável, diante dos atos praticados pelos servidores do Instituto Médico legal, que mesmo depois do reconhecimento feito pelo cônjuge e, identificação do corpo de dona CLEIA CARNEIRO, ocorreu a troca dos corpos. Se o IML mantivesse controle adequado acerca dos corpos armazenados na geladeira, essa troca jamais teria acontecido. VI - DOS DANOS MORAIS Como dito, a atuação dos servidores do IML que havia agravando a dor que era experimentada pelos familiares do "de cujus", quando da sua troca , alcançou o seu ápice quando ao entrar em contato com o IML, foram comunicados que houve uma erronia troca de corpos, e que corpo se encontrava em outro cemitério, em Campo Grande, quando estas estavam na expectativa de enfim, propiciar-lhe as cerimônias fúnebres . Assim, foi essa desatenção, essa desídia, essa falta de zelo dos prepostos dos réus, que, de fato, causou e vem causando transtornos de grande monta ao autor. Os fatos são graves e causaram ao autor abalo psíquico que excede o patamar do mero aborrecimento. Já se encontrava em um momento de angústia, e quando da certeza do falecimento de sua esposa ficando mais abalado com a troca de cadáveres, a dor que a acometeu foi profunda, ante a constatação da negligência com que o corpo do sua esposa foi tratado, trocado como se fosse simples mercadoria. Cabe ao responsável a sua reparação, não havendo necessidade do autor apresentar a prova da culpa, visto que na responsabilidade objetiva não se exige a comprovação da culpa, bastando que seja demonstrado o dano e o nexo causal. Como se sabe, o dano moral pode ser conceituado como o vilipêndio a direito da personalidade do lesado, atingindo aspectos não patrimoniais da vida do ser humano. A constatação do referido dano decorre, pois, da demonstração objetividade que a conduta de alguém lesou direito da personalidade de outrem. Assim, inviável exigir-se a prova do sofrimento daquele que suporta o citado dano, pois, nesse caso, estar-se-ia impondo o ônus de demonstrar algo que não se concretiza no mundo dos fatos, mas, tão somente, no âmbito psicológico do lesado. Importante ressaltar que a indenização por danos morais objetiva não somente a reparação pelos danos sofridos pela parte, mas também servirá como forma de penalização ao prestador de serviços, pelo descaso, primeiramente com os familiares e depois com o corpo do seu familiar, servindo ainda essa penalização na tomada de providências no intuito de evitar a continuidade dessa negligência e ineficiência. Com finalidade se esse quantum for suficientemente alto a ponto de apenar o requerido, com vistas a tomar providência para coibir que outros casos semelhantes aconteçam. Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal já decidiu pela dupla função da indenização civil por danos morais, como caráter punitivo ou inibitório e de natureza reparatória ou compensatória (AI 00.000 OAB/UF). Baseando-se em tais parâmetros, considerando o grau do dano sofrido pelas requerentes, a capacidade econômica do requerido, o objetivo de desestimular que outras famílias sofram com situações como a presente, o objetivo que aqueles servidores do IML passem a ter mais cuidado e controle dos corpos que ali são encaminhados e estão sob a sua guarda, pleiteia-se uma indenização pelos danos morais causados , condizente com as circunstâncias apresentadas não inferior a R$ 00.000,00 para o autor. Esse é o razoável valor sugerido a esse exmo. Juízo. V- DOS REQUERIMENTOS Diante do exposto, requer a Vossa Excelência: a) a citação do réu na pessoa do seu representante legal e no endereço constante no preâmbulo desta, para que responda à presente demanda no prazo legal, sob pena de revelia; b) a inversão do ônus da prova; c) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, além da prova documental já juntada; d) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, com o deferimento da Gratuidade da Justiça ao autor; Ao final, pede-se a total procedência da ação para: Condenar o requerido no pagamento da indenização a título de danos morais, no valor sugerido de R$ xxx.xxxx,xx para o autor, visando indenizá-lo por todo o sofrimento provocado pelos atos dos seus servidores , conforme relato e fundamentação exposta, com condenação em honorários e custas. Termos em que, Pede deferimento. Rio de Janeiro, xx de xxxxx de 2022. ADVOGADO: TAL OAB Nº: XXXXXXX
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