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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 1/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 2/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 SUMÁRIO 1. OBJETIVOS ................................................................................................................................3 2. JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................................3 3. INDICAÇÕES ..............................................................................................................................3 4. COMPLICAÇÕES .........................................................................................................................5 5. CÂNULAS DE TRAQUEOSTOMIA ................................................................................................5 6. CUIDADOS ANTES DO PROCEDIMENTO .....................................................................................7 7. O PROCEDIMENTO DE TRAQUEOSTOMIA ..................................................................................8 8. CUIDADOS NO PÓS OPERATÓRIO ............................................................................................10 9. DECANULAÇÃO.........................................................................................................................14 10. ORIENTAÇÕES PARA DOMICÍLIO .............................................................................................15 11. ATRIBUIÇÕES, COMPETÊNCIAS,RESPONSABILIDADES.............................................................17 12. REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................19 13. HISTÓRICO DE ELABORAÇÃO/REVISÃO ...................................................................................21 14. APÊNDICES ..............................................................................................................................22 UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 3/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 1. OBJETIVOS Padronizar entre a equipe interdisciplinar do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), a indicação da traqueostomia e as condutas de cuidado ao paciente adulto antes, durante e após a realização do procedimento. 2. JUSTIFICATIVA A traqueostomia é o procedimento cirúrgico que consiste na abertura da parede anterior da traqueia, comunicando-a com o meio externo por meio de uma cânula, possibilitando a permeabilidade da via aérea. Tem como objetivo primário servir como alternativa artificial e segura para a passagem do ar quando existe alguma obstrução nas vias aéreas naturais do paciente. Trata-se de um dos procedimentos mais realizados em unidades de terapia intensiva (UTI) e sua opção é vantajosa em relação à intubação orotraqueal, uma vez que: facilita a alimentação do paciente; facilita a aspiração de secreções da traqueia, bem como a mobilização dessas secreções, trazendo maior conforto; diminui a incidência de pneumonias; facilita o desmame ventilatório; promove o retorno precoce da fala; facilita a respiração, por diminuir o espaço morto e a resistência ao fluxo aéreo. A comunicação da traqueia com o meio externo, possibilitada pela traqueostomia, permite uma redução de 10 a 50% no espaço morto anatômico. É importante ressaltar que alguns pacientes ficarão com a traqueostomia temporariamente, enquanto outros permanecerão com ela pelo resto da vida. 3. INDICAÇÕES As indicações para a realização da traqueostomia são: permitir ventilação mecânica em intubações orotraqueais prolongadas (isto é, quando a extubação é improvável entre 10 a 14 dias de intubação orotraqueal); liberar uma obstrução de vias aéreas superiores; permitir higiene pulmonar, incluindo indivíduos com aspiração laringotraqueal; e permitir a ventilação em pacientes com debilidade na musculatura respiratória por diminuir o espaço morto. 3.1 Traqueostomia Algumas condições clínicas, como as descritas na tabela a seguir, podem levar à necessidade de traqueostomia no adulto: UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 4/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 Principais indicações da traqueostomia no adulto Alérgicas Angioedema, anafilaxia e asma. Metabólicas Fibrose cística, coma devido a diabetes, uremia e síndrome da angústia respiratória. Profiláticas Cirurgia de cabeça e pescoço, neurocirurgia, cirurgia cardíaca, intubação prolongada, idade avançada, higiene das vias aéreas. Degenerativas/ Idiopáticas Paralisia abdutora das cordas vocais; distúrbios de deglutição grave. Deficiência do Sistema Nervoso Central ou Neuromuscular Síndrome de Guillain-Barré, polimiosite, miastenia grave, botulismo, parada cardíaca e parada respiratória. Desordens do Sono Apneia do sono. Congênitas Estenoses glóticas, subglóticas ou de traqueia superior, cistos laríngeos e de valécula e hemangioma de laringe. Trauma Lesões maxilofaciais graves, fraturas ou transecções da laringe ou da traqueia, lesões cervicais que tornam difícil ou inviável a intubação oro ou nasotraqueal para manipulação e abordagem das vias aéreas (necessidade de cricoidostomia ou traqueostomia de urgência), corpo estranho, queimaduras. Tóxico Aspiração de conteúdos químicos ou lacerações traqueais. Infecção Epiglotite aguda e laringotraqueobronquite recorrente (em casos de dificuldade de intubação traqueal ou ausência do broncoscópio). Neoplasia Tumores avançados de laringe, tonsilas, faringe ou traqueia superior com consequente estridor e colapsos mecânicos. 3.2 Cricotomia Em algumas situações emergenciais, quando existe obstrução das vias aéreas superiores e é preciso desobstruir rapidamente a passagem de ar, pode-se optar pela realização da cricotomia. Ela é uma opção quando a intubação não é bem sucedida e não há tempo de se fazer uma traqueostomia. Essa situação pode ocorrer, por exemplo, em edema de glote por reação anafilática ou por queimadura após inalação de gases em altas temperaturas ou por politrauma com lesões maxilofaciais graves. Trata-se de um procedimento que deve ser realizado por médico capacitado, preferencialmente um cirurgião, e que se baseia na ruptura por bisturi ou outros instrumentos cirúrgicos da membrana cricotireoidea, com seguinte colocação de uma cânula comunicando a luz da traqueia com o meio externo. A cricotomia deve ser realizada respeitando técnicas de antissepsia e anestesia do paciente. Devido aos riscos de complicações graves, deve ser convertida em traqueostomia em até 48 a 72 horas, isto é, o mais rápido possível.Assim, em última análise, a cricotomia torna-se uma indicação absoluta de traqueostomia. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 5/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 4. COMPLICAÇÕES As complicações já verificadas pela literatura científica abarcam desde o período intraoperatório até o pós-operatório tardio. Elas podem ser significativamente minimizadas com treinamento profissional para seu manuseio, utilização de materiais para os cuidados e autocuidado do paciente. Em termos de garantia de uma via aérea superior prolongada, as complicações da traqueostomia são significativamente menores do que a intubação orotraqueal ou a cricotomia. As principais complicações da traqueostomia são: hemorragia, pneumotórax, enfisema cirúrgico, infecção local, deslocamento da cânula traqueal (devido ao ato cirúrgico ou posicionamento do circuito do ventilador mecânico), extremidade da cânula bloqueada, caso esteja pressionada contra a carina ou a parede traqueal, obstrução do tubo por secreção, herniação do balonete (causando obstrução da cânula), irritação traqueal, ulceração e necrose (causadas, geralmente, pela hiperinsuflação do balonete ou excessiva movimentação da cânula), traqueomalácea, estenose traqueal, fistula traqueoesofágica e infecção da árvore traqueobrônquica. 5. CÂNULAS DE TRAQUEOSTOMIA As cânulas de traqueostomia podem ser metálicas, plásticas ou siliconadas; com ou sem cânula interna; com ou sem balonete (cuff); e fenestradas ou não. As cânulas fenestradas possibilitam a passagem do ar por meio da cânula e das cordas vocais, permitindo a fala. É importante a inserção de uma cânula interna sólida para a aspiração. As cânulas contêm um mandril (guia) em seu interior, que é um pouco mais longo do que a cânula, de ponta romba, servindo como um condutor no momento da introdução na traqueia. Com relação ao comprimento, é importante que a cânula não seja muito curta, pois pode causar lesão da parede posterior da traqueia com consequente ulceração e obstrução; nem muito longa, o que pode levar à erosão da parede anterior da traqueia e acometimento de outras estruturas anatômicas, como o tronco braquiocefálico. Já quanto ao diâmetro, a cânula deve ter aproximadamente 75% do diâmetro da traqueia (como valores aproximados, podemos ter cânula plástica n° 7 para mulheres e n° 8 para homens). Esses valores podem se alterar conforme a anatomia do paciente, por isso durante o procedimento, caso o tamanho previsto não seja o ideal, é importante que outros tamanhos estejam facilmente acessíveis. Figura 1 – Cânula plástica à esquerda e metálica à direita. A cânula metálica está separada em cânula externa (A), cânula interna (B) e mandril (C). UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 6/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 5.1 Cânulas plásticas As cânulas plásticas são frequentemente utilizadas pois possuem baixo custo e estão amplamente distribuidas no mercado, mas sua durabilidade é questionável. Nas UTIs, a cânula Portex® é mais comumente utilizada, por possuir conexão com Ambu® e com a ventilação mecânica, com apresentações com ou sem balonete. Entretanto, não contém cânula interna e pode possuir furos do balonete, rachaduras e maior propensão a infecções. Nos adultos, a preferência é pela cânula Shiley® que tem menos dessas desvantagens, porém custos mais elevados. Possui válvula de fonação própria, cânula interna e podem ter ou não conexão com a ventilação mecânica ou balonetes. Para pacientes com alterações anatômicas na traqueia, pode ser importante utilizar uma cânula mais longa, por exemplo, Tracheoflex®. 5.2 Cânulas metálicas As cânulas metálicas (Jackson®) são constituídas de uma cânula externa, uma interna e um mandril (guia). (Figura 1). São feitas de aço inoxidável ou prata esterlina, possuem sistema de travamento da cânula interna, não possuem conexões para equipamento respiratório e por possuírem maior durabilidade, são utilizadas por pacientes traqueostomizados por longo prazo. Antes de alguns exames ou tratamentos, a cânula metálica precisa ser substituída por uma cânula plástica ou o procedimento deve ser realizado sem cânula. Nesse contexto, é necessária a avaliação do profissional responsável sobre as condições do paciente suportar o procedimento. A cânula metálica não pode ser utilizada em pacientes que estão em tratamento radioterápico na região da cabeça e pescoço, exames de ressonância magnética, tomografia da cabeça e pescoço ou por contraindicação médica. 5.3 Cânulas com cuff e sem cuff Algumas cânulas são equipadas com cuff (do inglês: punho da manga, manguito), um balonete instalado por fora da cânula que é insuflado e toma a forma da traqueia (figura 2). O balonete (cuff) é indicado quando há necessidade de vedação das vias aéreas, ou seja, quando o ar insuflado precisa de exclusividade de passagem apenas para as vias aéreas inferiores. O cuff é indicado para pacientes que precisam respirar com ajuda de aparelhos por um tempo prolongado (tempo maior que 10 a 14 dias) e em pacientes traqueostomizados que apresentam risco de broncoaspiração. A pressão do balonete deverá ser insuflada e aferida através do manômetro de cuff ou cuffômetro. Quando situadas entre 25-35 mmHg ou entre 20-30 quando realizada a medida em cmH2O, são consideradas seguras para evitar lesões. A pressão do cuff deverá ser monitorada periodicamente pelo fisioterapeuta e/ou pelo enfermeiro. As cânulas sem cuff são indicadas aos pacientes fora da Ventilação Mecânica, que não precisam de manter altas pressões pulmonares e que não apresentam distúrbio gastroesofágico. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 7/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 Figura 2 - Modelo de cânula para traqueostomia com cuff 6. CUIDADOS ANTES DO PROCEDIMENTO A traqueostomia é um procedimento com potenciais riscos para o paciente e, se complicações ocorrerem, pode vir a prejudicar a ventilação e causar danos maiores, como sequelas neurológicas permanentes e até óbito. Por isso deve ser realizada somente por equipe capacitada e em ambiente que ofereça segurança para possíveis complicações emergenciais intraoperatórias. O profissional responsável pela execução traqueostomia é o médico cirurgião geral ou cirurgião torácico ou, eventualmente, cirurgião de cabeça e pescoço, uma vez que essas especialidades possuem capacidade técnica para realização desse procedimento. Além disso, é essencial avaliar o quadro clínico do paciente e os riscos anestésicos cirúrgicos. Se for um procedimento que pode ser realizado de modo eletivo, deve ser priorizado dessa maneira, com consulta pré-operatória antes do procedimento. Ao anestesiologista cabe realizar investigação do histórico clínico do paciente, possíveis alergias e medicações em uso, além de checar todos os parâmetros clínicos do paciente e otimizando-os para que ele tenha as melhores condições possíveis para o procedimento. Contemplando as diretrizes do checklist de cirurgia segura, explicar aos familiares em período apropriado sobre o procedimento anestésico, assimcomo coleta do termo de consentimento livre e esclarecido em Anestesiologia. É importante que o médico assistencial, quando identificada a necessidade da realização da traqueostomia, solicite exames pré-operatórios como hemograma (especialmente para avaliar o valor de hemoglobina e corrigir, se necessários, anemias, bem como contagem plaquetária), função renal (creatinina, ureia e taxa de filtração glomerular) e coagulograma (tempo de protrombina e tempo de troboplastina parcial ativada). Assim, o cirurgião, quando for realizar o procedimento, terá maior segurança para a sua realização e as chances de complicações são reduzidas. É importante explicar antecipadamente à família, a necessidade do procedimento, esclarecendo os motivos, a técnica cirúrgica e as consequências benéficas ou maléficas que a traqueostomia pode oferecer. Se possível, deve-se pedir o documento de autorização do procedimento cirúrgico. Caso seja feito de forma emergencial, deve-se comunicar a família os motivos. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 8/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 7. O PROCEDIMENTO DE TRAQUEOSTOMIA A traqueostomia deve ser realizada por um cirurgião, acompanhado por um cirurgião auxiliar, um anestesiologista e, quando disponível, um instrumentador. É recomendável que seja um procedimento realizado no bloco cirúrgico. Porém a sua realização em leitos de enfermaria e UTI podem ser possíveis, desde que avaliado pela equipe assistencial a sua execução e disponibilidade de outros colaboradores. É preciso que se tome as devidas precauções para evitar exposição do procedimento a outros pacientes que compartilham a mesma UTI ou enfermaria, devendo-se atentar ao uso de cortinas ou outros acessórios que impossibilitem a visão do leito em que se encontra o paciente no procedimento. Na literatura, constam duas técnicas: a de Griggs, mais frequentemente realizada e considerada convencional, e a percutânea. A primeira envolve a abertura dos planos anatômicos e secção da traqueia para sua abertura, a partir da qual será inserida a cânula. Já a segunda, compreende a punção por agulha entre os anéis cartilaginosos da traqueia, que é usada como guia para se colocar uma cânula. Apesar de aparentar mais simples, menos invasiva e ter menos complicações que a técnica de Griggs, a técnica percutânea tem mais contraindicações, como obesidade mórbida, bócio tireoidiano, incapacidade de hiperextensão cervical e traqueostomia prévia. Ainda existe discussão na literatura científica sobre qual é a melhor técnica. Os trabalhos têm evidenciado menores taxas de complicações na técnica percutânea, mas, quando ocorrem, têm maior gravidade como falso trajeto, pneumotórax e morte. Como não existe um consenso, fica a cargo do cirurgião decidir a melhor técnica de acordo com o paciente e sua experiência. Durante a técnica de Griggs, ocorre dissecção do tecido cutâneo, músculo platisma e músculos pré-traqueais. Assim, encontra-se o istmo da tireoide (geralmente entre o primeiro e segundo anel traqueal). Após atravessar o ismo, é rompida a fáscia pré-traqueal, permitindo a visualização dos anéis traqueais. Pode-se fazer o estoma traqueal em formato de U invertido, T ou H. Em seguida, posiciona-se a cânula e é feita a sutura entre o flap traqueal e o tecido subcutâneo (ponto de Bjork), que facilita o acesso à traqueia em caso de decanulação acidental. Já no procedimento percutâneo, as mesmas estruturas são atravessadas pela agulha e em seguida é posicionada a cânula. Inicia-se com a palpação da cartilagem cricoide para localizar o segundo e o terceiro anel traqueal. Entre essas estruturas, perfura-se a membrana, coloca-se um dilatador e em sequência um fio guia para posicionar a cânula. Ainda vale ressaltar que a broncofibroscopia pode auxiliar na realização desse procedimento e melhorar a orientação da técnica cirúrgica, especialmente se for necessário extubar uma intubação orotraqueal antes. Outro aspecto fundamental é a anestesia. Se o paciente já estiver sob sedação, ainda assim o anestesiologista deve estar acompanhando o procedimento, avaliando os parâmetros clínicos do paciente e ajustando a ventilação. Se não estiver, a presença do anestesista torna-se ainda mais essencial e deve ser ele a conduzir a sedação/hipnose do paciente para viabilizar o procedimento cirúrgico. A escolha do fármaco devido para anestesia fica a cargo do anestesista, que deve considerar disponibilidade da instituição, qualidade dos medicamentos, indicações e contraindicações individuais de cada paciente, técnicas usuais e alergias ou complicações prévias do paciente. A seguir, pode-se observar as figuras das duas técnicas cirúrgicas: a primeira pela técnica de Griggs (figura 3) e a segunda pela técnica percutânea (figura 4). UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 9/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 Figura 3 – Traqueostomia pela técnica de Griggs UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 10/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 Figura 4 – Traqueostomia pela técnica percutânea 8. CUIDADOS NO PÓS-OPERATÓRIO No período de pós-operatório imediato, o paciente deve ser monitorizado continuamente e deve ser realizada radiografia de tórax para avaliar a distância da cânula em relação à carina. O paciente deve ser posicionado com o decúbito elevado (entre 30 e 45°) e com a cabeça posicionada de forma que não oclua a traqueostomia. É essencial manter umidificação adequada (entre 36 e 40mgH2O/L), o ar umidificado deve ser oferecido continuamente para reduzir a tendência de acúmulo de secreções e promover a patência do tubo. A cânula deve ser mantida limpa por aspirações sempre que haja indicações clínicas de obstrução. A primeira troca de tubo, assim como a retirada de fios inabsorvíveis, deve ser realizada a critério do médico assistente do paciente. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 11/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 8.1 Umidificação É absolutamente essencial a realização da umidificação artificial para a manutenção da umidade e da temperatura do ar inspirado. Com a temperatura mantida em torno de 32 a 34°C, a umidade deve ser entre 36 a 40mgH2O/L. Para isso, podem ser utilizados nebulizadores, umidificadores aquecidos ou umidificadores trocadores de calor e de umidade, ou ainda filtros hidroscópicos. Quando a umidificação do ar não acontece corretamente, a secreção se torna mais espessa e será mais difícil eliminá-la através da tosse, o que aumenta o risco de obstrução do tubo. A correta umidificação exerce importante papel na fluidificação da secreção. É preciso prestar sempre atenção na viscosidade do muco e se há traços de sangue no mesmo e oferecer uma quantidade razoável de líquido para manter a fluidificação do muco. Se forem notadas rolhas de secreção, será necessário que se faça aspiração para retirá-las e, caso não consiga, é preciso trocara cânula de traqueostomia. Em casos de sangramento na traqueostomia, pode-se utilizar soro fisiológico 0,9% gelado durante a aspiração, na intenção de amenizar o quadro. Para a resolução, muitas vezes, são necessárias medidas com medicamentos para conter o sangramento local. 8.2 Aspiração A aspiração de secreções deve ser realizada quando clinicamente indicada (ausculta pulmonar, secreções visíveis e/ou audíveis, queda na saturação de oxigênio, cianose, expansão torácica diminuída, alterações nos valores gasométricos, alteração na frequência respiratória e/ou padrão respiratório, bradicardia/taquicardia e/ou agitação sem outra causa, aumento na pressão de pico do ventilador), nos casos em que o paciente é incapaz de expectorar as secreções por conta própria. O fisioterapeuta e/ou enfermeiro devem avaliar sistematicamente a necessidade de realização do procedimento. É necessário nebulizar e pré-oxigenar o paciente e limpar o cateter de sucção com a ponta em solução salina estéril antes do procedimento. Também é importante atentar quanto ao posicionamento correto do paciente, decúbito elevado com cabeceira de 30 a 45°. Na aspiração, a sonda deve ter pressão de aspiração entre 100 e 120 mmHg (para que haja remoção das secreções sem lesões na mucosa) e deve ser introduzida com cautela, com o vácuo desligado e até a ponta da sonda sentir resistência. Em seguida, o vácuo é ligado e a sonda é retirada suavemente com movimentos giratórios. O cateter de sucção deve possuir múltiplos orifícios para diminuir o risco de lesões na mucosa. Deve-se evitar dobrar e soltar o cateter na mucosa, uma vez que tal procedimento resulta na aplicação de vácuo intenso, podendo causar maiores danos. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 12/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 Quanto ao tamanho do cateter de aspiração, o calibre da sonda não deve ultrapassar dois terços do calibre da cânula. Isso permite um fluxo de ar ao redor do cateter para evitar atelectasia durante a aspiração. Uma outra consideração na escolha do cateter é a habilidade para remover secreções adequadamente e detectar tubos parcialmente obstruídos. A profundidade da aspiração não deve ultrapassar o comprimento da cânula, para evitar traumatismos na traqueia. Um cateter largo e firme pode ser facilmente inserido e remover secreções rapidamente, sendo esse um fator importante, pois as aspirações lentas podem resultar em atelectasia. Ainda é importante lembrar que se trata de uma técnica estéril: o profissional deve fazer uso de avental, luvas, máscaras e óculos, além de cateteres estéreis para o procedimento de aspiração. Assim, esse método deve ser utilizado no ambiente hospitalar. Após a aspiração, o paciente deve ser reavaliado pela equipe. 8.3 Troca da fixação No caso de se trocar a fixação, é importante manter a área em volta do orifício limpa para prevenir infecções. Deve-se trocar a fixação diariamente (após o banho ou sempre que estiver molhada ou suja). Durante a troca da fixação, um profissional deve segurar o tubo no lugar enquanto outro remove a fixação antiga e coloca uma nova. A fixação deve ser bem executada com cadarços ou colares limpos (velcro), com uma folga de dois dedos para não sufocar o paciente. Precauções na fixação: nunca amarrar a fixação da traqueostomia com um nó. A fixação deve ser amarrada com um laço, o que facilitará a sua retirada. Para se certificar que a fixação foi bem colocada, medir o espaço com o dedo indicador entre a fixação e o pescoço. 8.4 Troca da cânula É recomendado que a troca do tubo de traqueostomia seja feita por profissional médico ou fisioterapeuta, sendo a frequência de troca de cânula metálica a cada 30 dias e a frequência de troca da cânula plástica em até 14 dias. A mesma cânula plástica só pode ser utilizada por até 90 dias, devendo então ser descartada. Já a cânula metálica não tem limite de tempo de uso, não precisando ser descartada mesmo após anos de uso, exceto se houver algum defeito no equipamento ou se o paciente não necessitar mais da cânula. Materiais para a troca Uma cânula de traqueostomia de uso adulto adequada ao paciente e uma cânula de número menor; Fixação adequada (cadarço convencional ou velcro); Tesoura de ponta arredondada; Coxim nas escápulas se não houver contraindicação para hiperextensão cervical; Lidocaína gel; Avental, gorro, máscara e proteção para os olhos; Luva estéril; Gaze estéril; Bandeja de curativos ou de traqueostomia. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 13/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 Troca de tubos sem cuff Troca de tubos com cuff Explicar o procedimento para paciente; Auxiliar paciente a sentar-se no leito, mantendo o tórax em posição elevada, apoiado pelo coxim, com o pescoço ligeiramente estendido ou elevar a cabeceira do leito; Paramentar-se com máscara, óculos, gorro e luvas estéril; Colocar o obturador dentro do novo tubo; Uso de lidocaína gel na porção da cânula a ser introduzida; Com a mão não-dominante, retirar a cânula antiga; Retirar curativo (gaze ou almofada) ao redor do estoma, limpar o estoma com gaze e soro fisiológico 0,9%; Com a mão dominante, rapidamente, introduzir a nova cânula com o guia posicionado no estoma; Se não houver sucesso na passagem da cânula do mesmo número, tentar uma segunda vez com uma cânula menor; Verificar posicionamento correto da cânula após a troca com padrão respiratório normal e saída de ar pelo orifício interno da cânula; Colocar a fixação; Se a segunda tentativa com a cânula menor não obtiver sucesso, providenciar fonte de O2 para o paciente e monitorização; Uma segunda pessoa presente deve chamar ajuda em caso de falha na troca. Explicar o procedimento para paciente; Auxiliar paciente a sentar-se no leito, mantendo o tórax em posição elevada, apoiado pelo coxim, com o pescoço ligeiramente estendido ou elevar a cabeceira do leito; Paramentar-se com máscara, óculos, gorro e luvas estéril; Desinsuflar totalmente o cuff com uma seringa de 20 ml ou manômetro de cuff; Uso de lidocaína gel na porção da cânula a ser introduzida; Com a mão não-dominante, retirar a cânula antiga; Retirar curativo (gaze ou almofada) ao redor do estoma, limpar o estoma com gaze e soro fisiológico 0,9%; Com a mão dominante, rapidamente, introduzir a nova cânula com o guia posicionado no estoma; Se não houver sucesso na passagem da cânula do mesmo número, tentar uma segunda vez com uma cânula menor; Verificar posicionamento correto da cânula após a troca com padrão respiratório normal e saída de ar pelo orifício interno da cânula; Colocar a fixação; Insuflar o cuff com o manômetro de cuff com 20 cmH2O; Se a segunda tentativa com a cânula menor não obtiver sucesso, providenciar fonte de O2 para o paciente e monitorização; Uma segunda pessoa presente deve chamar ajuda em caso de falha na troca. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 14/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 9. DECANULAÇÃO A retirada da cânula de traqueostomiae realização do curativo oclusivo do estoma é um procedimento difícil e somente deve ser tentado após resolução da doença primária que o indicou. A decanulação deve ser precedida de endoscopia de vias aéreas superiores a fim de excluir doenças obstrutivas (estenose de laringe ou subglótica, granulomas, colapso traqueal acima da traqueostomia, entre outros) que impeçam a remoção da cânula. Se presentes, as alterações obstrutivas devem ser tratadas antes da remoção da cânula de traqueostomia, pois a via aérea superior deve estar restaurada para a passagem adequada do fluxo aéreo. Na maioria dos casos, a cânula de traqueostomia é retirada e o estoma se fecha espontaneamente. Em cerca de 40% dos casos ocorre falha no fechamento, sendo necessário um fechamento cirúrgico da fístula traqueocutânea, caso essa persista por 6 meses ou mais. A técnica tradicional de decanulação envolve uma sequência de redução do calibre do tubo, de um período que varia de dias a várias semanas. Quando o paciente estiver apto para tolerar o menor tubo, este é removido. Entretanto o desmame da traqueostomia e a consequente decanulação dependem de muitos fatores e por serem processos complexos, devem levar sempre em consideração a importância da atuação da equipe multidisciplinar. No caso de decanulação acidental, deve-se introduzir outra cânula de mesmo calibre ou meio número menor pelo próprio cuidador. Esses cuidadores devem ser orientados quanto a posicionamento do paciente e cuidados na reinserção, com lubrificação e tensão da pele. 9.1 Fatores que contraindicam decanulação Instabilidade hemodinâmica; Sinais de esforço respiratório; Ausência de EVA (exame endoscópico das vias aéreas); Dependência de ventilação mecânica nos últimos três meses; Dependência da traqueostomia para a toalete pulmonar. 9.2 Critérios para decanulação Habilidade de tolerar o cuff desinsuflado por 24 horas; Ausência de secreção, de sinais de desconforto respiratório e de broncoaspiração; Tosse eficaz; Vias aéreas superiores íntegras; Capacidade de deglutição; Fala com válvula de fonação ou oclusão da traqueostomia. A seguir pode-se conferir o fluxograma de decanulação na Figura 5. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 15/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 Figura 5 – Fluxograma de decanulação 10. ORIENTAÇÕES PARA O DOMICÍLIO Previamente à alta, é importante orientar a família quanto ao padrão respiratório do paciente, sinais de infecção, troca de cânula, fixação, uso e troca do filtro de traqueostomia, aspiração de secreções, manejo dos equipamentos de monitorização, oxigenoterapia, ressuscitação cardiopulmonar básica e técnicas para alimentação adequada, o que irá permitir um bom manejo com o paciente em domicílio. A responsabilidade do treinamento do familiar referente ao procedimento de aspiração é da equipe de fisioterapia e do enfermeiro, bem como a supervisão diária até a alta hospitalar. 10.1 Cuidados com o estoma A traqueostomia é um orifício cirúrgico, sendo assim, é necessária higiene adequada e algumas precauções observadas. A higienização diária do estoma, ou com maior frequência, irá depender das condições climáticas e de saúde geral do paciente, presença excessiva de secreção ou complicações locais. Não se recomenda de rotina o uso de pomadas, exceto no caso de haver sinais de inflamação da pele periestomal e, nesse caso, o uso deve seguir prescrição médica. A colocação de gaze entre a cânula e a pele pode ser usada desde que não acumule umidade na região da pele periestomal. 10.2 Cuidados com aspiração A técnica limpa é o procedimento habitualmente utilizado em domicílio. Todos os cuidadores devem lavar bem as mãos antes e após o procedimento e as luvas de procedimento podem ser usadas para proteção do cuidador. Após o término da aspiração, o cateter é lavado com água filtrada e/ou fervida, até que não haja mais secreções no lúmen e armazenado em recipiente seco com tampa para novo uso. Cateteres individuais podem ser usados por 24 horas enquanto permanecerem intactos e desde que seja feito inspeção para remover as secreções. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 16/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 As vias aéreas superiores são revestidas por tecido delicado e cuidados precisam ser tomados para não lesá-lo durante a aspiração. Por essa razão, a aspiração deve ser realizada de forma intermitente e com rotação da sonda, prevenindo o trauma da mucosa da traqueia e dos brônquios. A descida da sonda deve ocorrer sempre com o vácuo desativado e a sonda de aspiração não deve ultrapassar o limite de 0,5 cm do final da cânula traqueal. Essa medida pode ser obtida na embalagem da cânula e anotada para ser marcada na sonda de aspiração, pois, ultrapassar esse limite traumatiza a carina, que é sensível à dor, e invade áreas do pulmão de maneira inadequada. Ao chegar ao ponto desejado, deve-se acionar o vácuo e voltar aspirando. 10.3 Identificação precoce de complicações e condutas a serem tomadas O cuidador do paciente traqueostomizado deve permanecer vigilante, ser orientado e treinado quanto aos cuidados necessários em domicílio. Uma informação de fácil entendimento melhora o conhecimento e o enfrentamento do paciente com doença crônica, ajuda a desenvolver atitudes e habilidades, facilita a autonomia, promove a adesão, torna capaz de entender como as próprias ações influenciam o padrão de saúde. A orientação familiar é importante quanto aos cuidados com a traqueostomia, cuidados e limpeza da pele periestoma, troca diária da fixação da cânula de traqueostomia, técnica correta da aspiração das vias aéreas, prevenção de complicações e condutas frente às intercorrências. 10.4 Insumos necessários para os cuidados no domicílio As famílias devem ter disponível em domicílio, ao menos, uma cânula de mesmo calibre da atual em uso e outra de meio tamanho menor da atual em uso. Lista de materiais necessários para cuidados com traqueostomia no domicílio por 30 dias Sonda de aspiração traqueal: 30 unidades Gaze estéril: 30 pacotes Luvas de procedimento: 3 caixas Aspirador portátil com borracha de aspiração de látex: 1 unidade Soro fisiológico 0,9% (flaconetes 10ml): 120 ampolas Borrachas para aspirador: 3 unidades Micropore: 1 unidade Xylocaína Gel ou outro lubrificante para facilitar a passagem da cânula Cadarço para fixação ou fixação de velcro (1 unidade/dia) Ambu (máscara de silicone) sem reservatório: 1 unidade Cânula de traqueostomia meio tamanho menor do que a em uso 10.5 Cartão de identificação Recomenda-se que os pacientes traqueostomizados possuam cartão de identificação contando as seguintes informações: médico/hospital responsável, tamanho da cânula em uso, comprimento da cânula, tamanho da sonda de aspiração, profundidade sugerida de aspiração, data da última troca, necessidade de insuflar o balonete e o volume. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 17/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 10.6 Orientação multiprofissional A interação entre médico, enfermeiro, fisioterapeuta e fonoaudiólogopermite diminuir o tempo de uso da traqueostomia, acelerando o desmame e o tornando mais seguro para o paciente, com menor risco de insucesso e complicações. Além disso, destaca-se a importância dos profissionais de terapia ocupacional, psicologia e serviço social aos pacientes em uso de traqueostomia. A atuação de profissionais de diferentes áreas complementa os cuidados, promovendo ainda um plano assistencial individual, o que recai na melhoria da qualidade de vida do paciente. 11. ATRIBUIÇÕES, COMPETÊNCIAS, RESPONSABILIDADES Enfermeiro Preparar o cliente nos cuidados pré e pós-operatório. Identificar precocemente qualquer fator contribuinte ao evento adverso e adotar medidas preventivas/corretivas. Notificar a ocorrência de eventos adversos no Vigihosp (sistema de notificação de eventos adversos e queixas técnicas). Participar junto à equipe multiprofissional no planejamento e prestação dos cuidados. Envolver o cliente e sua família no planejamento diário dos cuidados, visando a alta responsável e orientação para os cuidados domiciliares. Capacitar a equipe técnica de enfermagem para a implementação dos cuidados, sob sua responsabilidade legal, e supervisionar o seu cumprimento. Técnico em Enfermagem Implementar as intervenções de enfermagem prescritas para a manutenção da via aérea artificial. Participar junto a equipe multiprofissional no planejamento e prestação dos cuidados. Preparar o cliente nos cuidados pré-operatório. Implementar a prescrição de enfermagem. Identificar precocemente qualquer fator contribuinte ao evento adverso, adotar medidas preventivas/corretivas e comunicar a chefia imediata. Envolver o cliente e sua família no planejamento diário dos cuidados. Auxiliar/colaborar nos cuidados para decanulação. Psicólogo Auxiliar a equipe no esclarecimento da indicação de traqueostomia para a família; Acolher e orientar familiares sempre que necessário. Assistente Social Realizar entrevista social, objetivando compreender a situação socioeconômica e familiar dos usuários, com o intuito de identificar a realidade social e as questões referentes à programação de alta e elaboração de estratégias de intervenção. Veiculação de informações quanto aos direitos sociais e direitos dos usuários dos serviços de saúde. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 18/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 Encaminhar o responsável para o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), com a documentação organizada, para requerimento do benefício de Prestação Continuada (BPC), conforme critérios do benefício. Realizar contato telefônico e encaminhar e-mail para o Programa Saúde da Família (PSF) referenciando o caso para os acompanhamentos pós alta: Para adultos procedentes de Uberaba: encaminhar Relatório Médico pelo e-mail melhoremcasa@uberabadigital.com.br para o Programa Melhor em Casa, solicitando a avaliação para os acompanhamentos pós alta; Encaminhamento do responsável para acesso de aquisição dos insumos e materiais para cuidados com a traqueostomia na cidade a qual o usuário for proveniente. Terapeuta Ocupacional Dificuldades transitórias ou dificuldades de comunicação. Quando uma pessoa fica impedida de se comunicar pela fala, necessita de forma alternativa para desempenhar essa função. A equipe de comunicação alternativa, composta por fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais de saúde, deve ser responsável por avaliação, indicação do vocabulário e treinamento do paciente e da sua família; além da orientação da forma de comunicação do paciente com outros profissionais. Fisioterapeuta A atuação do fisioterapeuta é essencial, tanto no cuidado inicial quanto na preparação dos cuidadores para o cuidado domiciliar do paciente traqueostomizado. As técnicas desobstrutivas e reexpansivas da fisioterapia previnem complicações como tampões mucosos e consequentemente, a ocorrência de desconforto respiratório, infecções pulmonares e atelectasias. O cuidado adequado na fase pós-operatória é imprescindível para a redução do índice de complicações e para a decanulação precoce. Fonoaudiólogo O fonoaudiólogo atuará avaliando a mobilidade e postura da musculatura orofacial, tanto em repouso quanto durante a deglutição, verificando possíveis riscos de penetração e aspiração laringotraqueal, seja de saliva ou de dieta. Nos casos em que for possível a manutenção da dieta por via oral, adequar consistência, temperatura, utensílios, se é necessário a utilização de manobras protetivas de vias aéreas durante ou após deglutição, adequados a cada caso. Em casos de disfagia onde não é possível retorno da alimentação por via oral, atuar na reabilitação, minimizando sequelas. Auxiliar em formas alternativas de comunicação. Em casos possíveis, atuar, junto à equipe, no processo de utilização de válvula de fala, com um intuito de facilitar a comunicação e reduzir riscos de broncoaspiração. Junto à equipe, facilitar o processo de decanulação, tendo em vista o retorno de uma alimentação segura e da vocalização. mailto:melhoremcasa@uberabadigital.com.br UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 19/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 12. REFERÊNCIAS A. C. CAMARGO CÂNCER CENTER. Orientações para pacientes: traqueostomia. São Paulo: A. C. Camargo Câncer Center, [20--]. Disponível em: https://www.accamargo.org.br/sites/default/files/2018-07/manual---traqueostomia.pdf. Acesso em: 15 maio 2020. COSTA, E. C. L.; RODRIGUES, C. F.; MATIAS, J. G.; BEZERRA, S. M. G.; ROCHA, D. de M.; MACHADO, R. da S. et al. Cuidados para a prevenção de complicações em pacientes traqueostomizados. Revista de Enfermagem UFPE on-line, Recife, v. 13, n.1, p. 169-178, jan. 2019. CURCIO, A. 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EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO. Procedimento Operacional Padrão: POP/Unidade de reabilitação/20/2015: traqueostomia: cuidados e decanulação: versão 2.0. Uberaba, MG: EBSERH, 2018. Disponível em: http://www2.ebserh.gov.br/documents/147715/0/pop20traqueo/39ca3e31-f1eb-4dfd-85a2- 63cc7e8a7b90. Acesso em: 15 maio 2020. FREEMAN, B. D. Tracheostomy update: when and how. Critical Care Clinics, Philadelphia, v.33, n. 2, p. 311–22, abr. 2017. GOMAA, D.; BRANSON, R. D. Conditioning inspired gases for tracheostomy. 2019. 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HISTÓRICO DE ELABORAÇÃO/REVISÃO VERSÃO DATA DESCRIÇÃO DA AÇÃO/ALTERAÇÃO 1 01/07/2020 Elaboração do protocolo (PRT) Cópia Eletrônica não Controlada Permitida a reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte e sem fins lucrativos. ® 2019, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Todos os direitos reservados. www.Ebserh.gov.br Elaboração Vinícius Henrique Almeida Guimarães, acadêmico de medicina da UFTM Ana Letícia de Freitas Silva, acadêmica de medicina da UFTM Carolina Cassiano, acadêmica de medicina da UFTM Luciano Alves Matias da Silveira, professor da Disciplina de Anestesiologia da UFTM e chefe da Unidade de Especialidades Cirúrgicas do HC-UFTM Flora Margarida Barra Bisinotto, professora da Disciplina de Anestesiologia da UFTM Thaís Santos Guerra Stacciarini, enfermeira da Divisão de Enfermagem (DE). Responsável Técnica (RT) do Serviço de Educação em Enfermagem Data: 01/07/2020 Validação João Paulo Vieira dos Santos, cirúrgião torácico Bruna Gomes Prates, RT de fisioterapia da UTI adulto e coronariana Ana Cláudia de Moraes Faquim, enfermeira, chefe da Unidade Bloco Cirúrgico/RPA/CME) Andreia Duarte de Resende, chefe da Divisão Médica, coordenadora do Núcleo de Protocolos Assistenciais Multiprofissionais (NPM) Data: 01/07/2020 Registro, análise e revisão final Ana Paula Corrêa Gomes, chefe da Unidade de Planejamento Data: 19/08/2020 Aprovação Mara Danielle Felipe P. Rodrigues, chefe da DE Priscila Salge Mauad Rodrigues, chefe da Unidade de Reabilitação substituta Ivone Aparecida Vieira Silva, chefe da Unidade de Atenção Psicossocial Fernanda Carolina Camargo, chefe do Setor de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente Ivonete Helena Rocha, chefe da Divisão de Gestão do Cuidado Andreia Duarte de Resende, gerente de atenção à saúde substituta Data: 05/08/2020 Data: 05/08/2020 Data: 18/08/2020 Data: 08/08/2020 Data: 07/08/2020 Data: 17/08/2020 UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS Tipo do Documento PROTOCOLO MULTIPROFISSIONAL PRT.NPM.019 - Página 22/22 Título do Documento TRAQUEOSTOMIA: INDICAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE CUIDADO AO PACIENTE ADULTO Emissão: 19/08/2020 Próxima revisão: 19/08/2022 Versão: 1 14. APÊNDICES APÊNDICE A – CARTÃO DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE ADULTO TRAQUEOSTOMIZADO (UTILIZAÇÃO QUANDO IMPLEMENTADO) CARTÃO DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE ADULTO TRAQUEOSTOMIZADO DADOS DO PACIENTE COM TRAQUEOSTOMIA NOME DO PACIENTE: HOSPITAL: MÉDICO RESPONSAVEL: Tamanho da Cânula Diâmetro Interno Presença de cuff Comprimento Aspiração Tamanho sonda Insuflação cuff Volume: ml Profundidade da sonda: cm Considerações aplicáveis: Alerta: Patência de via aérea acima da cânula SIM NÃO Data da última troca: APÊNDICE B – INTERVENÇÃO MULTIPROFISSIONAL
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