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46 Unidade II Unidade II 5 AS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÂO As teorias da administração são conceitos que envolvem estratégias de gestão recomendadas aos administradores, que podem incluir ferramentas como estruturas e diretrizes passíveis de serem implementadas em organizações modernas. Geralmente, os profissionais não dependem apenas de uma teoria de gestão sozinha, em vez disso, introduzem vários conceitos de diferentes teorias de gestão que melhor se adaptam à sua força de trabalho e à cultura da empresa. É importante destacar que os estudos e as teorias foram desenvolvidos de acordo com a evolução das organizações e da administração em cada época. O propósito de cada teoria é, acima de tudo, buscar soluções para os problemas mais importantes enfrentados na época em que foram fundamentadas. Quadro 3 – Resumo das principais teorias da administração Teoria Ênfase Principais pontos Contribuição Científica Tarefa O sistema fechado é mecânico, previsível e determinístico Remuneração justa, especialização da mão de obra Clássica Estrutura Divisão do trabalho, centralização e normas Sistema de regras e normas administrativas Burocrática Estrutura Administração racional e autoridade Modelo de organização racional, meritocracia e padronização Relações humanas Pessoas Fato psicológico na produtividade Empregado como ser social Neoclássica Estrutura Aspectos práticos da organização Autonomia, resultados e foco em objetivos Estruturalista Estrutura – ambiente Homem organizacional Interação entre as estruturas formais e informais Comportamental Pessoas Comportamento individual e motivação Influência da motivação na produtividade Desenvolvimento organizacional Pessoas Compreensão dos ambientes internos e externos Interação entre ambiente, organização, grupo e indivíduo Sistêmica Sistema organizacional integrado Empresa como um sistema único Relação entre o sistema organizacional e o ambiente Matemática Quantitativo Uso mais aprofundado de técnicas estatísticas e matemáticas aplicadas Uso de informações numéricas para a tomada de decisão Contingencial Ambiente – tecnologia Visão relativista e contingencial das organizações Não existência de um módulo único de gestão e influências do ambiente 47 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO 5.1 Abordagem clássica da administração A abordagem clássica, pioneira na ciência administrativa, nasce no século XX, com os estudos pioneiros de dois engenheiros, que, embora em países separados e com propostas diferentes, convergiam para uma visão que se complementava. Essa abordagem é decorrência direta da Revolução Industrial, causada pelo crescente aumento do número de indústrias bem como pelo acirramento da concorrência. Então, as origens da abordagem clássica se devem a dois aspectos históricos: • o crescimento acelerado e desordenado das empresas; • a necessidade de aumentar a eficiência e a competência das organizações. É composta por duas teorias ou escolas, a saber: • Escola da administração científica, que ocorreu nos EUA e teve como principal personalidade Frederick Winslow Taylor, dando ênfase para as tarefas organizacionais. • Escola dos anatomistas e fisiologistas da administração, que ficou conhecida como teoria clássica da administração. Seu maior nome foi Henri Fayol. Aconteceu na França, dando ênfase para a estrutura organizacional. Essa abordagem é decorrência direta da Revolução Industrial. Essas duas correntes, embora em locais diferentes, aconteceram na mesma época (início do século XX) e tiveram muitos pontos em comum, de forma que são consideradas juntamente numa proposta que leva o nome de abordagem clássica. Abordagem clássica Administração científica Teoria clássica Ênfase na estrutura Ênfase nas tarefasTaylorTaylor FayolFayol Figura 10 – Teorias da abordagem clássica Na escola clássica da administração, duas abordagens ganham destaque: a científica e a clássica. As duas escolas surgiram em meados do século XX e seus percursores foram dois engenheiros: um americano e outro europeu. Henry Fayol, europeu, foi o percursor da teoria clássica da administração, enquanto Frederick Winslow Taylor, americano nascido na Filadélfia, foi o teórico mais importante da teoria científica. Perceberemos ao longo dos estudos que as teorias clássica e científica têm vários pontos em comum, mas há algumas questões em que os teóricos divergiam. E é justamente nessas divergências que as teorias vão ganhando novos estudos, novos conceitos e novas aplicações. 48 Unidade II Algumas dessas concordâncias são destacadas a seguir: • foram conduzidas por engenheiros diretamente ligados a indústrias; • consideravam princípios prescritivos e normativos, tais como divisão do trabalho, especialização, unidade de comando e amplitude de controle; • preocupação com a organização formal; “é o nome dado à organização oficialmente adotada pela empresa e retratada pelo organograma” (CHIAVENATO, 2003b, p. 94); • aceitação do conceito de homo economicus: é a pressuposição de que o ser humano é principalmente motivado por estímulos de ordem financeira e material; • busca da máxima eficiência. Essas duas abordagens serão vistas separadamente a seguir. 5.1.1 Abordagem científica da administração Os estudos da administração científica surgiram em 1903, nos EUA, liderados por Frederick W. Taylor. Considerada como a primeira teoria no campo da administração, o desenvolvimento dessa teoria pode ser representado pela própria trajetória de vida de seu principal autor, Taylor, que começou como operário e supervisor em uma grande indústria e, por ter estudado engenharia, atingiu altos cargos de direção em sua vida. Essa teoria pode ser usada em organizações que aprendem devido à sua capacidade de ser matematicamente experientes para produzir os melhores resultados para uma instituição. A teoria pode ser dura, pois os funcionários são considerados mais fatores produtivos do que humanos. Para entender melhor essa teoria, vejamos a situação hipotética a seguir. Luís da Silva é o gestor de uma linha de produções da indústria Frio Quentinho Ltda. Silva é responsável por duzentos funcionários, que produzem 20 mil cobertores por ano. A Frio Quentinho tem percebido em suas contas que está perdendo mercado, pois o seu principal concorrente consegue produzir, com esse mesmo número de funcionários, 30 mil cobertores por ano. Luis da Silva foi cobrado pela diretoria e deverá melhorar a produtividade, alcançando ou até mesmo superando esse concorrente. Nessa situação o que deveria ser feito? Uma das ações de Luís da Silva foi aplicar os princípios da teoria de Taylor, adotando o que Taylor afirmava ser o principal objetivo da administração: assegurar o máximo de prosperidade à organização e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao funcionário. Para isso, Taylor focou seus estudos em tentar eliminar desperdícios e especializar as tarefas dos funcionários. Para ele, a eficiência do trabalho está ligada a se produzir o máximo com a maior economia possível de esforço. Para alcançar seus objetivos, Taylor dividiu as atividades de execução (operários), planejamento e supervisão (administração). 49 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Assim, caberia aos operários produzir e executar os processos da linha de produção, enquanto ficaria a cargo da administração planejar e supervisionar o trabalho dos operários. Nessa teoria, a empresa era vista como um sistema fechado, isto é, os indivíduos não recebiam influências externas. O sistema fechado é mecânico, previsível e determinístico. Os estudos da teoria administrativa foram divididos em dois momentos: a organização racional do trabalho (ORT) e, num segundo período, denominado administração científica. No primeiro momento, os principais focos dos estudos de Taylor foram: • estudo de tempo e padrões de produção; • supervisão funcional; • padronização de ferramentas e instrumentos; • planejamento das tarefase cargos; • princípio da execução; • utilização da régua de cálculo e de instrumentos para economizar tempo; • fichas de instruções de serviços; • prêmios de produção pela execução eficiente das tarefas; • definição de rotina de trabalho; • conceito de homo economicus. Para atingir estes objetivos, Taylor buscou os seguintes aspectos: • Os tempos e movimentos relacionados com cada tarefa foram exaustivamente investigados, de modo a permitir que se definisse uma maneira única e melhor de realizá-la (the best way). Isso resulta num desenho de cargos e tarefas que os segmenta, reduzindo-os a pequenas porções de trabalho, o que conduz à superespecialização do seu executor. • Foram padronizados métodos, máquinas e ferramentas, buscando reduzir as diferenças na aplicação do trabalho. • Foram implantados a seleção e o treinamento científico dos trabalhadores, de modo a garantir que cada tarefa fosse executada por quem tivesse condições físicas para isso e, consequentemente, houvesse maior produtividade dos operários em suas tarefas. 50 Unidade II • Foram pesquisadas as condições de trabalho, envolvendo o próprio ambiente físico, tal como ventilação, iluminação, limpeza e as ferramentas utilizadas, considerando sua proximidade, condições de uso etc. • Houve a preocupação em reduzir condições que elevassem a fadiga do operário, para que sua produção não fosse prejudicada. • Um operário poderia ter mais de um supervisor, e este poderia ter mais de um operário supervisionado. • Criou-se o pagamento por produção; tratava-se de um prêmio a quem atingisse os padrões de produção esperados ou os ultrapassasse. Essa prática baseava-se no conceito de homo economicus. Operário A Operário B Operário C Supervisão 1 Supervisão 2 Supervisão 3 Figura 11 – Relação de supervisão segundo Taylor Observação Todos os conceitos foram desenvolvidos a partir do contato com os operários (chão de fábrica), tentando entender e melhorar as condições de realização do seu trabalho. A maneira como era realizado o trabalho mostrava que havia muita diferença tanto nas tarefas (a forma como operários diferentes realizavam tarefas parecidas não era homogênea), quanto nas ferramentas (uso de diferentes ferramentas e, além disso, de forma não padronizada). O segundo momento dos estudos de Taylor foi marcado pela publicação, em 1911, de seu livro The principles of scientific management. Foi por esse motivo que o período ficou conhecido como administração científica. Nessa obra Taylor estabelece quatro princípios da administração geral e como adequá-los aos níveis gerenciais das organizações: • princípio do planejamento; • princípio do preparo; • princípio do controle; • princípio da execução. 51 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO A teoria científica, com ênfase nas tarefas, foi estruturada por Taylor em 1903, como mostrou Maximiano (2000b). Por enfatizar as tarefas, a administração científica baseou-se na busca pela eficácia organizacional através da racionalização do trabalho no nível operacional. Para tal, Taylor acreditava que a organização deveria ser estudada tendo como ponto de partida os operários, ou seja, de baixo para cima. Ele foi o primeiro a defender a administração como uma ciência carente de estudos e descobertas. Para Taylor a eficiência do trabalho estava ligada a se produzir o máximo com a maior economia possível de esforço. Para isso, era necessário contratar pessoas dispostas e especializá-las na função específica. Para evitar a fadiga e o ócio, Taylor propunha melhores salários, pois acreditava que o funcionário era motivado pelo aspecto financeiro. A empresa era vista como um sistema fechado, isto é, os indivíduos não recebiam influências externas. O sistema fechado é mecânico, previsível e determinístico. A teoria científica pode, portanto, ser considerada uma abordagem “de baixo para cima” e “das partes para o todo”. Figura 12 – Homo economicus: movido a dinheiro Disponível em: https://bit.ly/33BYxah. Acesso em: 11 maio 2021. Lembrete A administração científica foca na produção e nos colaboradores para que a organização tenha bons resultados produtivos. Teve seu surgimento no chão de fábrica. A teoria clássica de Fayol complementa a administração científica, pois sua visão é de forma mais gerencial, objetivando os resultados da produção. Quadro 4 – Teoria científica Teoria Aspectos positivos Aspectos negativos Científica Melhores salários e incentivos Delimitação da jornada de trabalho Dias de descanso remunerado Aumento da qualidade dos produtos Redução de custos operacionais Ignora necessidades individuais dos trabalhadores Mecaniza o funcionário Excesso de especialização do trabalho Ignora as relações entre funcionários e patrões 52 Unidade II Conforme a teoria de Taylor, os benefícios para os trabalhadores são: • os salários chegaram a atingir, em alguns casos, o dobro do que eram antes; • os funcionários passaram a se sentir mais valorizados e isso fez com que exercessem seus ofícios com mais prazer; sentiam-se mais acolhidos pela empresa; • a jornada de trabalho foi reduzida consideravelmente; • vantagens foram concedidas, a exemplo dos dias de descanso remunerado. Por sua vez, os benefícios para os empregadores são: • produtos com qualidade superior aos anteriores; • ambiente de trabalho agradável tanto para o chão de fábrica quanto para a diretoria, evitando distúrbios e conflitos que podem gerar situações negativas dentro da empresa (por exemplo, greves e desestímulo); • redução de custos extraordinários dentro do processo produtivo, como a eliminação de inspeções e gastos desnecessários. Saiba mais Quer entender como funcionava a especialização da tarefa ou do funcionário? Assista ao filme indicado a seguir. TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. EUA: United Artist, 1936. 87 min. 5.1.2 Teoria clássica da administração Vamos retomar o gestor Luís da Silva, citado no exemplo inicial na teoria científica. Ele continua seu desafio em melhorar a produtividade da organização. Mas agora Silva assumiu a direção geral da empresa Frio Quentinho e precisa organizá-la e torná-la produtiva, já que está perdendo eficiência e clientes. A empresa está em desordem, com empregados fazendo trabalhos em duplicidade e seguindo várias orientações ao mesmo tempo. O que Luís da Silva deve focar, então, nesse momento? A variável estrutura organizacional, e é com base nessa estrutura que Fayol desenvolveu seus estudos. A teoria clássica da administração foi idealizada a partir de 1916 pelo engenheiro francês Henri Fayol. Ele apresentou essa teoria em seu livro Administration industrielle et générale e se pautou na variável estrutura organizacional. 53 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Essa teoria caracterizou-se pela ênfase na estrutura organizacional e por constantes buscas pela eficiência. Fayol acreditava que a organização deveria ser vista de cima para baixo, tendo os gerentes e diretores como os primeiros a mudar seu modo de pensar e agir. Fayol desenvolveu os conceitos clássicos da administração, conhecidos como planejar, organizar, comandar, coordenar e avaliar. Em sua teoria, ele enfatizou a organização formal, os princípios gerais da administração (divisão do trabalho; autoridade e responsabilidade; disciplina; unidade de comando; unidade de direção; subordinação dos interesses individuais aos gerais; remuneração do pessoal; centralização; linha de comando; ordem; equidade; estabilidade dos funcionários; iniciativa; espírito de equipe) e a função do administrador (MAXIMIANO, 2000b). Teoria clássica Prever OrganizarControlar ComandarCoordenar Figura 13 – Pilares da teoria clássica Para Fayol, administrar é: • prever: visualizar o futuro e traçar o programa de ação; • organizar: constituir o duplo organismo material e social da empresa; • comandar: dirigir e orientar o pessoal; • coordenar: ligar, unir e harmonizar todos os atos e esforços coletivos; • controlar:verificar se tudo está ocorrendo conforme o estabelecido. Hoje tais componentes da função administrativa são conhecidos como planejamento, organização, direção e controle (P-O-D-C). Henri Fayol desenvolveu as seis funções de gerenciamento. Isso trouxe uma abordagem mais humanística para a compreensão da gestão científica, permitindo que os seres humanos sejam humanos e focando mais em gerenciar situações e usar pessoas para ajudar no processo. Fayol definiu que a organização era um conjunto de seis funções, a saber: 54 Unidade II • técnicas: produção de bens ou serviços da empresa; • comerciais: compra, venda e troca de bens; • financeiras: procura e gerenciamento de capitais; • segurança: proteção e preservação de bens; • contábeis: inventários, registros, balanços, custos e estatísticas; • administrativas: coordenam e comandam as outras cinco, constituindo-se na mais importante. Fayol definia os elementos fundamentais da estrutura organizacional e de sua gestão assim: a divisão da empresa em partes (departamentos) mostrava claramente que atividades similares e sobre o mesmo assunto deveriam ser agrupadas numa mesma função, especializando sua atuação. Do mesmo modo, independentemente de qual das cinco funções estivesse sendo tratada, a sua gestão (administração) seria executada pela sexta função, a função administrativa. O estudioso ainda apontou em seus estudos que existia uma proporcionalidade no uso da função administrativa. O que isso quer dizer? Que a função administrativa não acontece apenas no topo da empresa (gerência e diretoria), mas está distribuída ao longo de todos os níveis hierárquicos. Para Fayol, porém, quanto mais elevado fosse o nível hierárquico da organização, maior seria a proporção da função administrativa em relação às outras cinco funções. E o inverso também era verdadeiro: quanto mais baixo o nível hierárquico, menor seria a participação da função administrativa em relação às demais funções. Essa proporcionalidade está ilustrada na imagem a seguir: Prever Organizar Comandar Coordenar Controlar Outras funções não administrativas Níveis hierárquicos mais baixos Níveis hierárquicos mais altos Figura 14 – Funções organizacionais Então, Fayol apresentou 14 princípios gerais que deveriam nortear a aplicação da administração como ciência: 55 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO • divisão do trabalho; • autoridade e responsabilidade; • disciplina; • unidade de comando; • unidade de direção; • subordinação dos interesses individuais aos gerais; • remuneração do pessoal; • centralização; • cadeia escalar; • ordem; • equidade; • estabilidade do pessoal; • iniciativa; • espírito de equipe. Lembrete Teoria clássica caracteriza-se pela ênfase na estrutura organizacional, pela visão do homem econômico e pela busca da máxima eficiência. A visão de Fayol, ao contrário da visão de Taylor (trabalhador) e do olhar de Henry Ford (dono), foi a de um gerente ou diretor. Quadro 5 – Teoria clássica Teoria Aspectos positivos Aspectos negativos Clássica Estruturação da empresa em setores Desenvolvimento técnico dos setores e das pessoas Obsessão pelo comando A empresa como sistema fechado Manipulação dos trabalhadores 56 Unidade II Conforme a teoria de Fayol, os benefícios para os trabalhadores são: • referência; • setorização; • equipe; • equidade; • estabilidade. Por sua vez, os benefícios para os empregadores são: • controle; • menor desperdício; • setorização; • unidade de comando. 5.1.3 Teorias científica e clássica: convergências e divergências As teorias clássica e científica compõem a escola clássica da administração. Apesar de terem ênfases diferentes (a clássica foca a estrutura e a científica, a tarefa), elas apresentam vários pontos de convergência. Enquanto Taylor estudava a empresa privilegiando as tarefas de produção, Fayol estudava a empresa privilegiando as tarefas da organização. As principais convergências são: • foram conduzidas por engenheiros diretamente ligados a indústrias; • consideravam princípios prescritivos e normativos, tais como divisão do trabalho, especialização, unidade de comando e amplitude de controle; • preocupação com a organização formal: “é o nome dado à organização oficialmente adotada pela empresa e retratada pelo organograma” (CHIAVENATO, 2003b, p. 94); • aceitação do conceito de homo economicus: é a pressuposição de que o ser humano é principalmente motivado por estímulos de ordem financeira e material; • busca da máxima eficiência; • dividiam o trabalho em tarefas; 57 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO • falavam sobre a teoria da máquina; • ênfase na divisão do trabalho; • obediência de operários. Já as divergências são: • A base do estudo. Enquanto Fayol defendia que a organização deveria ser analisada de cima para baixo, mostrando uma visão mais gerencial, Taylor estudou as organizações de baixo para cima, tendo como base a produção e o operário para resultados na produtividade. • Taylor estudava a empresa privilegiando as tarefas de produção e Fayol, da organização. A teoria clássica é usada até hoje em diferentes empresas de diferentes portes e segmentos. As divisões de trabalho (estruturas) organizacional e o desenvolvimento técnico de cada setor da empresa têm bases nessa estrutura; por outro lado, a teoria clássica deixou como legado para os dias de hoje a obsessão pelo comando e o excesso de controle da equipe. Já a teoria científica é utilizada atualmente quando falamos em melhores salários e incentivos, redução de custos operacionais e foco na qualidade. Todavia, também trouxe o excesso de especialização dos funcionários, limitando, de certa forma, seu poder de atuação. 5.1.4 Teoria burocrática Citemos mais uma vez Luís da Silva, a personagem do nosso exemplo. Ele ainda é diretor da Frio Quentinho, e no processo de reordenação dos processos da organização ele detectou que não existia um padrão produtivo dos cobertores e que nem todos os colaboradores estavam preparados para atuar nas funções que estavam exercendo. Então, Silva passou a estudar a teoria burocrática. Hoje a burocracia nos remete muito a excesso de formalidade, atrasos, muitos níveis hierárquicos e excesso de papel. Figura 15 – Burocracia Disponível em: https://bit.ly/3tEQR1y. Acesso em: 11 maio 2021. 58 Unidade II Entretanto, na década de 1940, quando essa teoria foi desenvolvida, seu significado era bem diferente do que temos hoje. A teoria burocrática está relacionada à estrutura e ao processo administrativo da organização e foi idealizada por Max Weber, considerado o pai da burocracia. O que é burocracia? O termo burocracia significa regras e regulamentos, processos, procedimentos e padrões que são formulados para reduzir a complexidade do funcionamento da organização. Segundo Max Weber, a organização burocrática é o meio mais racional de exercer um controle vital sobre os trabalhadores individuais. Uma organização burocrática é aquela que possui uma hierarquia de autoridade, força de trabalho especializada, princípios, regras e regulamentos padronizados, pessoal administrativo treinado etc. A teoria burocrática de Weber difere da organização gerencial tradicional nesse sentido; é impessoal e o desempenho de um indivíduo é julgado por meio de atividades baseadas em regras e as promoções são decididas com base em seus méritos e desempenho. Além disso, existe uma hierarquia na organização, que representa as linhas claras de autoridade, permitindo a um indivíduo conhecer seu supervisor imediato, a quem ele é diretamente responsável. Isso mostra que a burocracia tem muitas implicações em vários campos da teoria organizacional. Assim, a teoria burocrática de Weber contribui significativamente para a teoria organizacional clássica, que explica que a estrutura organizacional precisa das linhas definidas de autoridade e que é algo necessário em uma organização para ter um local de trabalho eficaz. Os estudosde burocracia, desenvolvidos por Weber, estão pautados em três princípios: • formalidade: sistema de normas com autoridade definida pela lei; • impessoalidade: nenhuma pessoa é subserviente à outra e a obediência é devida aos cargos; • profissionalismo: significa que a burocracia é formada por funcionários, com uma carreira profissional e meios de subsistência. A partir desses princípios, Weber define em sua teoria os seguintes aspectos: • Caráter legal das normas e dos regulamentos. É baseada em legislação própria e previamente estabelecida e possui caráter legal porque confere às pessoas nomeadas em cargos o poder de coação sobre os subordinados. • Caráter formal das comunicações. Na burocracia, comunicações, regras e decisões são escritas, criando a formalidade com o preenchimento de formulários e a rotina que advém desse procedimento. • Caráter racional e divisão do trabalho. A divisão do trabalho é sistemática e adequada aos objetivos pretendidos de máxima eficiência com cada funcionário e sua respectiva função, com suas atribuições e responsabilidades. 59 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO • Impessoalidade nas relações profissionais. A distribuição das atividades é feita em termos de cargos e funções, e não com pessoas envolvidas. • Hierarquia da autoridade. Segundo o princípio da hierarquia, cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um posto superior. • Rotinas e procedimentos padronizados. As regras e normas técnicas regulam a conduta do ocupante de cada cargo e suas atividades são executadas de acordo com as rotinas e os procedimentos. • Competência técnica e por mérito. A escolha do profissional é feita por meio de méritos adquiridos e na competência técnica. São usados critérios de avaliação e classificação para toda a organização. • Especialização da administração. Os administradores da burocracia não são seus donos ou acionistas, assim, surgiu a especialidade de gerir o negócio. • Profissionalização dos participantes. Cada funcionário da burocracia é um profissional especializado nas atividades do cargo que ocupa. • Completa previsibilidade do comportamento funcional. Os funcionários deverão comportar-se de acordo com as normas e os regulamentos da organização e conforme o previsto. A burocracia é uma forma de organização humana baseada na racionalidade, ou seja, na adequação dos meios aos fins desejados como forma de assegurar a máxima eficiência nas ações. Weber havia definido três tipos de autoridade: • a tradicional, com base em características patriarcais e patrimonialistas; • a carismática, embasada em aspetos místicos, arbitrários e personalísticos; • a legal, racional ou burocrática, na qual valem as normas impessoais e racionalidade na escolha dos meios e dos fins. Quadro 6 – Autoridades segundo Weber Tipos de autoridade Características Exemplos Legitimação Aparato administrativo Tradicional Patriarcal e patrimonialista Conservadorismo Não é racional Poder herdado ou delegado Baseada no “senhor” Clã Tribo Família Sociedade medieval Tradição, hábitos, usos e costumes Forma: – patrimonial – feudal 60 Unidade II Tipos de autoridade Características Exemplos Legitimação Aparato administrativo Carismática Personalista, mística e arbitrária Revolucionária Não é racional, nem herdada, nem delegável Baseada no carisma Grupos revolucionários Partidos políticos Nações em revolução Características pessoais (heroísmo, magia, poder mental) Carisma do líder Inconstante e instável Escolhido pela lealdade e devoção ao líder, e não por qualidades técnicas Legal, racional ou burocrática Racionalidade dos meios e dos objetivos Legal Racional Impessoal formal Meritocrática Estados modernos Grandes empresas Exércitos Justiça da lei Promulgação e regulamentação de normas legais e previamente definidas Burocrático Observe mais alguns aspectos a respeito do pensamento de Weber: • Na autoridade tradicional, Weber apontava que as principais características eram o patriarcalismo, o patrimonialismo e o conservadorismo, com decisões não racionais e poder herdado ou delegado diretamente. Ainda dentro da autoridade tradicional, a legitimação do poder acontece através de tradição, hábitos, usos e costumes, e ele cita como exemplos as tribos e famílias. • Já a autoridade carismática, para Weber, é personalista, mística, arbitrária e revolucionária. Nesse grupo o poder não é racional, nem herdado, nem delegável, mas sim baseado no carisma. O poder é formalizado por características pessoais (heroísmo, magia, poder mental) e um grande exemplo desse tipo de autoridade são os líderes políticos. • Por fim, e não menos importante, vem a autoridade legal. Nesse modelo de autoridade, Weber aponta que as principais características são a racionalidade dos meios e dos objetivos. Para ele, a designação dessa autoridade é legal, racional, impessoal, formal e meritocrática. Ele cita como exemplo os cargos de liderança em grandes organizações. Observação Deve-se destacar, contudo, que não existem organizações totalmente burocráticas nem totalmente desburocratizadas. As organizações transitam entre os extremos, buscando o equilíbrio que favoreça aos resultados organizacionais. 61 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Quadro 7 – Equilíbrio de burocracia Ausência de burocracia Item em análise Excesso de burocracia Falta de especialização, bagunça, confusão Divisão do trabalho Superespecialização, responsabilidade Falta de autoridade Hierarquia Autoridade, autocracia e imposição Liberdade excessiva Regras e regulamentos Ordem e disciplina Ausência de documentos, informalidade Formalização da comunicação Excesso de papelório, formalismo Ênfase nas pessoas Impessoalidade Ênfase nos cargos Apadrinhamento Seleção e promoção de funcionários Excesso de exigências Desordem Eficiência Engessamento/rigidez De acordo com essa teoria, as vantagens da burocracia são: racionalidade dos objetivos; precisão na definição do cargo e na operação; rapidez nas decisões; única interpretação de informações recebidas; uniformidade de rotina e procedimentos; continuidade da organização; redução dos conflitos interpessoais; decisões tomadas nas mesmas circunstâncias; confiabilidade; e benefícios para as pessoas da organização. Por outro lado, as desvantagens consistem em: internalização das regras e apego aos regulamentos; excesso de formalismo e de papelada; resistência às mudanças; despersonalização do relacionamento; categorização como base do processo decisório; apego às rotinas e aos procedimentos; exibição de sinais de autoridade; dificuldade no atendimento a clientes; e conflitos com o público. Lembrete No modelo burocrático de Weber, todo processo organizacional exige controle. Os processos que apresentam previsibilidade do comportamento (consequências previstas) geram maior eficiência. Já os processos que apresentam disfunções da burocracia (consequências imprevistas) caminham para a ineficiência. De forma geral, a teoria burocrática é uma corrente baseada no trabalho de Max Weber, que descreve as características do modelo burocrático da organização. Weber acreditava na racionalidade organizacional acima de qualquer outro fator administrativo. Dizia, ainda, que a autoridade burocrática é a base da eficiência de uma organização. Essa teoria afirmava que as organizações necessitam ter cargos formalmente bem definidos, ordem hierárquica com linhas de autoridade e responsabilidades bem apresentadas. A burocracia, para Weber, detalha, padroniza e rotiniza as atividades de uma organização (MAXIMIANO, 2007). O grande objetivo da burocracia é a busca da previsibilidade de funcionamento da organização. A seguir são destacadas as críticas à burocracia: 62 Unidade II • Excessivo racionalismo: não deixa espaço para criatividade, por exemplo. • Mecanicismo e limitações da “teoria da máquina”: a burocracia, a administração científica ea teoria clássica entendiam a organização como um sistema fechado. Esse sistema funcionaria de maneira mecânica e predeterminada, como se fosse uma máquina. Por essa razão, essas três teorias, num conjunto, receberam o nome de teoria da máquina. • Conservantismo da burocracia: a burocracia não aceita inovações: tudo já está determinado, é previsível. • Abordagem de sistema fechado: enxerga as organizações como entes absolutos, não considerando o contexto externo (ambiente) a elas. Observação Para Weber, a burocracia não era algo que criasse obstáculos nos processos. Para ele, a burocracia era um modelo técnico-administrativo, composto por profissionais especializados que executavam as atividades pautadas em um padrão. Exemplo de aplicação Vamos listar as práticas burocráticas da organização em que você atua? Liste os processos, padrões, normas e regulamentos. Depois, classifique-os em benefícios ou obstáculos e analise se a burocracia de Weber contribuiu ou atrapalhou o andamento das atividades em sua empresa. Quadro 8 – Teoria burocrática Teoria Aspectos positivos Aspectos negativos Burocrática Racionalidade e rapidez para execução de tarefas Meritocracia Padronização e rotina das atividades organizacionais Hierarquia Normas e procedimentos Exagerado apego a normas e regulamentos Excesso de formalismo Resistência a mudanças Sobreposição de regras aos objetivos Despersonalização do relacionamento Excesso de autoridade A teoria burocrática é utilizada pelas organizações nos dias de hoje quando são fixadas regras, rotinas e hierarquias, definindo-se que o desenvolvimento do funcionário será por meritocracia. Contudo, quando o excesso de burocracia prevalece, impedindo o bom desenvolvimento da empresa, dizemos que o lado negativo da burocracia está sendo a base da organização, ou seja, empresas que têm resistência a mudanças tornam o relacionamento entre seus funcionários despersonalizado, engessam procedimentos; de fato, estão sendo influenciadas pelo negativismo burocrático. 63 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO 5.2 A abordagem humanística da administração Essa abordagem surgiu para contrapor a teoria da administração científica e a teoria clássica. Com a abordagem humanística, o foco sai da tarefa ou da organização e passa para as pessoas, como o próprio nome sugere. A abordagem humanística da administração surgiu por volta da década de 1930, nos EUA, com o nascimento da teoria das relações humanas. 5.2.1 Teoria das relações humanas A teoria das relações humanas ganhou força em 1932, quando o mundo se recuperava da crise de 1929. Tendo como foco as pessoas, essa teoria investigava a motivação, a liderança, a comunicação e a dinâmica de grupos, sempre tendo como referência o indivíduo (MAXIMIANO, 2000b). A teoria das relações humanas tenta mostrar que o homem não pode ser visto tão mecânico como nas teorias clássicas e científica, ele sofre influências do meio em que vive e está motivado a atender suas necessidades. Esse meio, que gera influência no homem, e suas necessidades interferem na produtividade do funcionário. Os estudos de Elton Mayo, criador dessa teoria, mudaram o foco do homo economicus e o trabalhador passou a ser visto como homo social. Essa teoria pode ser considerada como “uma reação aos conceitos pregados pela teoria clássica”, conforme frisa Chiavenato (2003b, p. 101). Trata-se de uma corrente teórica que se fixa, a partir de 1932, com um enfoque totalmente contrário ao que propunha a abordagem clássica da administração. A abordagem clássica tinha uma visão completamente formal da organização, voltava-se para as suas tarefas e para a sua estrutura, preocupando-se muito pouco ou quase nada com as pessoas no trabalho, além dos aspectos de técnicas, disciplina, métodos, padronização, uso de ferramentas, tempos e movimentos, ou seja, relações com a tarefa. Foi uma abordagem moldada por engenheiros e, por esse motivo, contaminada por uma visão tecnicista do trabalho, de acordo com a concepção imperante em sua época. A teoria das relações humanas, ao contrário, foi uma escola criada sob uma ótica psicossocial, uma vez que seus principais pesquisadores eram psicólogos e cientistas sociais. Seu enfoque concentrou-se nas relações informais das pessoas na organização. Dois conceitos são fundamentais para entender essa teoria: – organização informal: é o conjunto de grupos espontâneos que existe em toda organização e que condiciona fortemente o comportamento de seus membros; – grupos informais: são os grupos espontâneos de pessoas que formam a organização informal (CHIAVENATO, 2003b, p. 113). 64 Unidade II Segundo Chiavenato (2003b, p. 101), alguns aspectos condicionam o aparecimento dessa teoria: 1. a necessidade de humanizar e democratizar a administração; 2. o desenvolvimento das ciências humanas; 3. as ideias da filosofia pragmática de John Dewey e da psicologia dinâmica de Kurt Lewin; 4. as conclusões da experiência de Hawthorne. Antes de essa teoria ser aceita, já se anunciavam, ainda no segundo período de Taylor, movimentos humanísticos nos estudos de pesquisadores que podem ser chamados de teorias transitivas. Não constituíam ainda a teoria das relações humanas, mas prepararam o terreno para que ela aparecesse. Os principais nomes desse período são: Hugo Munstenberg, Ordway Tead, Mary Parker Follett e Chester Barnard. A experiência de Hawthorne Ao observar os estudos de Chiavenato (2003a), sabemos que o governo americano já andava preocupado com as condições de trabalho dos operários americanos e com os elevados índices de rotatividade nas empresas. Conduzida pelo psicólogo Elton Mayo e colaboradores, a experiência de Hawthorne aconteceu numa fábrica da Western Electric, no bairro de Hawthorne, em Chicago, de 1927 a 1932, quando foram publicadas suas conclusões, que marcam o início dessa teoria. Esses estudos de Mayo foram desenvolvidos em quatro fases: • Na primeira fase, estudou-se o efeito da iluminação sobre o rendimento dos operários. Ficou comprovada a preponderância do fator psicológico sobre o fator fisiológico, ou seja, os operários reagiam às experiências muito mais de acordo com as suas suposições pessoais do que às condições reais de iluminação. • Na segunda fase, estudaram-se as condições de trabalho de um grupo de observação, comparando-se o resultado desse grupo com o de outro grupo de controle. O grupo de observação ficou num ambiente separado do grupo de controle e, por 12 períodos da experiência, que duraram várias semanas, a produção desse grupo aumentou seguidamente de um período para o outro, independentemente das condições geradas no seu ambiente. A explicação dada foi a de que as condições psicológicas e sociais de trabalho do grupo de observação foram consideradas melhores pelos participantes do grupo e interferiram positivamente nos resultados. 65 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO • A terceira fase voltou-se para a pesquisa das relações humanas no trabalho em toda a organização, criando-se um grande programa de entrevistas com o objetivo de conhecer o que os operários pensavam e sentiam quanto ao trabalho. • Na quarta fase, um grupo experimental foi observado em relação aos outros grupos do departamento para analisar a organização informal dos operários. O observador constatou que esse grupo desenvolveu métodos para assegurar suas atitudes e criou regras para estabilizar a produção nos níveis interessantes para o grupo, punindo todos os colegas que quebrassem essas regras e prejudicassem o grupo. Essa fase permitiu estabelecer relações entre a organização informal dos empregados e a organização formal da fábrica. As conclusões da experiência de Hawthorne, na fábrica citada, foram as seguintes: • o nível de produção mostrou-se resultante da integração social das pessoas no trabalho; • o comportamento social dos empregados se apoiava totalmente no grupo; • as recompensas e sanções sociais produzidas pelo grupo para os seus componenteseram mais poderosas que as recompensas financeiras da organização; • os grupos informais existiam e às vezes tinham força maior que os grupos formais da organização; • as relações humanas apareciam dentro da organização em razão das oportunidades de contato e mantinham uma constante interação grupal; • o conteúdo e a natureza do trabalho tinham influência sobre o moral dos trabalhadores; • os aspectos emocionais do comportamento humano mostraram-se importantes e chamaram a atenção dos pesquisadores. Com essas conclusões, a teoria das relações humanas deslocou o foco de estudos dos aspectos formais das tarefas e da estrutura da organização para a preocupação com as pessoas e com a organização informal. Agora tratemos das decorrências da teoria das relações humanas. De acordo com o que apresenta Chiavenato (2003a), a teoria das relações humanas influenciou diretamente estudos da administração, que se voltou para temas como: • A influência da motivação humana no trabalho. A experiência de Hawthorne permitiu que se mudasse a concepção de homo economicus, ou seja, a pressuposição de que as pessoas só seriam sensíveis a estímulos de ordem salarial e econômica, para a crença no homo social, para o qual as recompensas sociais e simbólicas seriam mais importantes que aquelas. A preocupação com as necessidades humanas básicas é explorada e é a base que vai compor a abordagem 66 Unidade II comportamental, teoria que aparece décadas mais adiante. Também se iniciam os estudos sobre as necessidades fisiológicas, psicológicas e de autorrealização sobre ciclo motivacional e moral e clima organizacional. Caso a necessidade não tiver sido plenamente satisfeita por qualquer barreira ou obstáculo que ocorreu, isso poderá levar ao sentimento de frustração, o que provocará desequilíbrios e reações diversas no indivíduo. • Preocupação com a liderança e sua influência sobre o comportamento das pessoas. Conceitua-se liderança e são estabelecidas teorias a seu respeito, como mostra a figura a seguir: Teorias de traços de personalidade Características marcantes de personalidade possuídas pelo líder Teorias sobre estilos de liderança Maneiras e estilos de comportamento adotados pelo líder Teorias situacionais de liderança Adequação do comportamento do líder às circunstâncias da situação e dos liderados Figura 16 – Liderança Entre essas teorias de liderança, destaca-se o estudo dos estilos, realizado por White e Lippitt, os quais podem ser resumidos no quadro seguinte: Quadro 9 – Teorias da liderança Autocrática Democrática Liberal (laissez-faire) O líder fixa as diretrizes sem qualquer participação do grupo As diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo, que é estimulado e assistido pelo líder Há liberdade total para as decisões grupais ou individuais, com a mínima participação do líder O líder determina as providências para execução das tarefas quando elas se tornam necessárias e de modo imprevisível para o grupo O grupo esboça as providências para atingir o alvo e pede conselhos ao líder, que sugere alternativas para o grupo escolher A participação do líder é limitada, apresentando apenas sugestões quando solicitado ao fazê-las O líder determina a tarefa que cada um deve executar e os colegas de trabalho A divisão do trabalho fica a critério do grupo e cada membro tem liberdade de escolher seus colegas de trabalho A divisão do trabalho e a escolha dos colegas ficam totalmente a cargo do grupo. Há absoluta falta de participação do líder O líder é dominador e é pessoal nos elogios e nas críticas ao trabalho de cada membro Em espírito, o líder procura ser um membro normal do grupo O líder é objetivo e limita-se aos fatos nas críticas e nos elogios O líder não avalia o grupo nem controla os acontecimentos, apenas comenta as atividades quando perguntado Adaptado de: Chiavenato (2003a, p. 125). 67 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO • A comunicação também é enfocada (e, oportunamente, será enriquecida, com o modelo matemático da Shannon e Weaver, na teoria sistêmica, de 1953). Nesse processo estudam-se as redes de comunicação: roda, cadeia e círculo (que serão apresentadas depois) para explicar a maneira como esse processo pode funcionar nos grupos de trabalho. O conceito de comunicação ainda será enriquecido, na teoria sistêmica, com o modelo matemático dos autores Shannon e Weaver. Quadro 10 – Teoria das relações humanas Teoria Aspectos positivos Aspectos negativos Relações humanas Preocupação com o ambiente de trabalho Interesse pelo homem social Interesse pelos aspectos emocionais dos funcionários A compreensão da natureza das relações humanas permite ao administrador melhores resultados de seus trabalhadores Ênfase muito intensa nos grupos informais Uma visão muito superficial e ingênua sobre o funcionário Suas pesquisas foram limitadas e questionáveis A teoria das relações humanas é utilizada nos dias de hoje quando se trabalha com a interação entre a organização e o funcionário, respeitando seus objetivos pessoais e tentando conciliá-los aos empresariais. Além disso, empresas em que o RH se importa com o bem-estar, a motivação de sua equipe e o ambiente de trabalho está usando os preceitos da teoria das relações humanas. Negativamente, podemos dizer que a teoria das relações humanas deixou como legado o foco excessivo nos grupos informais, e o fato, de muitas vezes, as organizações perceberem o indivíduo de forma isolada, e não no grupo que deve interagir. 5.2.2 Teoria neoclássica da administração Conforme Chiavenato (2003b), essa abordagem teve Peter Drucker como seu principal representante. Surgiu em 1954, nos EUA, estudando as variáveis tarefas, a estrutura organizacional e as pessoas. Outros nomes importantes dessa teoria: Dale, Koontz, O´Donnell, Jucius, Newman, Davis, Terry, Hurley e Allen. Chiavenato (2003b) informa que no início da década de 1950 houve uma grande remodelação nas teorias da administração em razão de todo o quadro econômico, político e social do mundo. O surgimento da abordagem neoclássica é a retomada de uma série de conceitos da teoria clássica, que, embora criticados e renegados pela teoria das relações humanas, nunca foram totalmente substituídos. Trata-se, portanto, de uma visão eclética que combina essas duas correntes, acrescentando alguns aspectos que melhoraram sua aplicação. É formada por vários estudiosos, relativamente heterogêneos, que não se preocuparam em montar uma escola teórica bem definida, mas que defenderam as seguintes características: • ênfase na prática da administração: valorização dos resultados concretos e palpáveis por meio do pragmatismo; 68 Unidade II • reafirmação dos postulados clássicos: de certa forma, é uma reação à teoria humanista, pois retoma os conceitos da teoria clássica, relegados por esta; • ênfase nos princípios gerais da administração: procuram estabelecer princípios gerais que sirvam a todo tipo de organização, tais como planejar, organizar, dirigir e controlar; • ênfase nos objetivos e nos resultados: o dimensionamento, a estruturação e a orientação das organizações deveriam ser função de seus objetivos e resultados; • ecletismo nos conceitos: não estavam fechados a proposições de outras teorias. A administração é vista como uma técnica social, pois consiste em orientar, dirigir e controlar os esforços de um grupo de indivíduos para um objetivo comum. Há a concepção de que existem aspectos comuns a todas as organizações. Saiba mais Drucker dizia que a administração moderna é a ciência que trata sobre pessoas nas organizações. Quer saber mais sobre esse autor? Leia o livro indicado a seguir. DRUCKER, P. F. O gestor eficaz em ação. São Paulo: LTC, 2007. Promove-se a consideração sobre a eficiência e a eficácia simultaneamente. Uma ilustração da discussão desses dois conceitos é dada pelo quadro a seguir. Quadro 11 – Eficiência versus eficácia Eficiência Eficácia Ênfase nosmeios Ênfase nos resultados Fazer corretamente as coisas Fazer as coisas certas Resolver problemas Atingir objetivos Salvaguardar recursos Otimizar o uso de recursos Cumprir tarefas e obrigações Obter resultados Treinar os subordinados Dar eficácia aos subordinados Manter máquinas Máquinas em funcionamento Frequentar a igreja Praticar valores religiosos Rezar Ganhar o céu Jogar futebol com arte Ganhar o jogo Adaptado de: Chiavenato (2003b, p. 156). 69 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Retomam-se os seguintes princípios básicos de organização, a saber: • Divisão do trabalho: decomposição de um processo complexo numa série de pequenas tarefas que o constituem. • Especialização: o reconhecimento de que cada órgão ou cargo deve ter tarefas específicas e especializadas. • Hierarquia: é aceito o princípio escalar, segundo o qual a autoridade do administrador aumenta na medida em que se sobe na hierarquia; ponderam-se os conceitos de autoridade, responsabilidade e de delegação. Considera-se a existência na organização de três níveis administrativos típicos e necessários para a direção e execução das tarefas, o que gera, em consequência, denominações para os administradores de cada um desses níveis, conforme mostrado a seguir: — nível institucional ou estratégico: composto por dirigentes e diretores da organização; — nível intermediário ou tático: formado por gerentes; — nível operacional: composto por supervisores diretamente relacionados com a execução das tarefas e operações da empresa. • Amplitude administrativa: o dimensionamento de quantos subordinados um administrador pode supervisionar. Nessa teoria discutem-se amplamente, também, os conceitos de centralização e de descentralização, que envolvem a definição de qual é o nível hierárquico em que as decisões devem ser tomadas. A centralização concentra-se num único ponto (no topo de uma pirâmide organizacional): a tomada de decisão. Inversamente, a descentralização repassa essa autoridade para decidir para outros níveis abaixo, o que estudaremos mais adiante. Retomam-se as funções do administrador: planejamento, organização, direção e controle. Essas funções são estudadas minuciosamente e enriquecidas com o desenvolvimento de novos aspectos teóricos, dando a elas uma consistência notável por meio das decorrências dessa abordagem. Esse fato vai especialmente identificar a abordagem neoclássica como a escola do processo administrativo (PA). A seguir, o quadro mostra no que consiste o processo administrativo: Quadro 12 Planejamento Organização Direção Controle Definir a missão Formular objetivos Definir planos para alcançar os objetivos Programar as atividades Dividir o trabalho Designar as atividades Agrupar as atividades em órgãos e cargos Alocar recursos Definir autoridade e responsabilidade Designar as pessoas Coordenar os esforços Comunicar Motivar Liderar Orientar Definir os padrões Monitorar o desempenho Avaliar o desempenho Ação corretiva Fonte: Chiavenato (2003a, p. 168). 70 Unidade II As decorrências da abordagem neoclássica envolvem: estudos e definições dos tipos de organização; estudos e definições sobre departamentalização; a administração por objetivos. O processo de planejamento organizacional considera três níveis de abrangência: • O planejamento estratégico, sob responsabilidade da cúpula da organização, que estabelece o contexto que ela deve respeitar em seu desempenho futuro. Define, entre outras coisas, os objetivos gerais e suas estratégias. • O planejamento tático, que é a apropriação, por meio de cada departamento, da parte que lhe corresponde no planejamento estratégico. Nesse planejamento, cada órgão detalha suas ações que devem convergir para o que o planejamento estratégico definiu. São fixadas estratégicas específicas para cada departamento, que, por serem componentes das estratégias organizacionais, recebem o nome de táticas. • O planejamento operacional, no qual os órgãos que compõem cada departamento tratam da especificação detalhada das ações que devem ser realizadas pela base da pirâmide organizacional para que sejam atingidos os objetivos definidos pelo planejamento estratégico e regulados pelo tático. Estratégias e táticas são conceitos essencialmente iguais, diferenciando-se apenas em aspectos de abrangência e que, por essa razão, vão produzir resultados distintos em termos dessa abrangência organizacional. O quadro a seguir esclarece essa classificação: Quadro 13 – Estratégia e tática Estratégia Tática Envolve a organização como uma totalidade É um meio para alcançar objetivos organizadores É orientada para o longo prazo É decidida no nível institucional da organização Refere-se a cada departamento ou unidade É um meio para alcançar objetivos departamentais É orientada para o médio ou curto prazo É definida no nível intermediário pelo gerente Adaptado de: Chiavenato (2003a, p. 235). O planejamento estratégico apresenta os seguintes estágios, conforme mostra Chiavenato (2003a, p. 237): 1. Estágio da formulação de objetivos organizacionais. 2. Estágio da auditoria externa – o ambiente. 3. Estágio da auditoria interna – a organização. 71 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO 4. Estágio da formulação estratégica. 5. Estágio de desenvolvimento de planos táticos. 6. Operacionalização da estratégia. O planejamento estratégico, a partir da definição dos objetivos maiores (organizacionais), fundamenta-se em dois tipos de análise: • interna, na qual a empresa busca conhecer-se da maneira mais completa possível; • externa, na qual a empresa tenta perceber o ambiente no qual está situada. 5.3 A abordagem estruturalista da administração: a teoria estruturalista A teoria estruturalista surgiu em 1947. A teoria estruturalista, tal qual a teoria da burocracia, faz parte da abordagem estruturalista. O foco dessa teoria está na estrutura e no ambiente, e ela mostra a organização como sendo um sistema aberto, capaz de se relacionar com o ambiente e com outras organizações. Para os estudiosos dessa teoria, o todo (organização) é composto por partes que se inter-relacionam (CHIAVENATO, 2003b). De acordo com Chiavenato (2003b), essa abordagem surgiu nos EUA e estudou as variáveis tarefa e ambiente. Seus representantes foram: James D. Thompson, Victor A. Thompson, Peter M. Blau, David Sills, Burton Clark, Jean Viet, sendo o mais conhecido deles Amitai Etzioni. Chiavenato (2003b) apresenta as seguintes razões para seu aparecimento: • foi uma síntese, inspirada nas teorias de Weber, das abordagens clássicas e das relações humanas, na tentativa de oferecer respostas que essas duas teorias não conseguiram dar; • havia a necessidade de se compreender a organização como uma entidade social complexa na qual interagem grupos de pessoas; • havia a influência do estruturalismo nas ciências sociais que repercutia no estudo das organizações; • uma nova conceituação para estrutura estava em pauta. Nesse instante, é preciso fazer algumas considerações essenciais sobre a abordagem estruturalista. Com base em Chievenato (2003b) são as seguintes: as organizações constituíam a forma dominante de instituições na sociedade moderna: o homem passa a depender delas para nascer, viver e morrer. Os estudiosos dessa abordagem, com uma ótica fortemente marcada pela sociologia quanto às organizações, abriram o enfoque que era voltado para dentro delas e tentaram relacionar a organização 72 Unidade II com o ambiente externo, que é entendido, de forma ampla, como sociedade. Essa postura altera a visão das pessoas, que passam a ser vistas como executoras de vários papéis diferentes, em organizações diversas. As relações entre as partes e o todo devem ser compreendidas. Assim, as organizações formal e informal (internamente), todos os tipos diferentes de organização (externamente), bem como as sanções e recompensas relacionadas com comportamento das pessoas devem ser objeto da análise organizacional. Também são estudadosobjetivos organizacionais que representem as intenções das organizações na busca por compreender sua eficiência e eficácia. Talcott Parsons (apud CHIAVENATO, 2003b, p. 296) indica uma nova nomenclatura para os níveis organizacionais já conhecidos: Institucional Gerencial Técnico Figura 17 – Níveis organizacionais Fonte: Chiavenato (2003b, p. 296). Os três níveis organizacionais propostos: • no nível institucional se encontram os diretores, que têm a função de decidir; • no nível gerencial encontramos os gerentes e chefes, responsáveis pelos planos; • o nível de técnico é aquele no qual ocorrem as operações da organização e aí são encontrados os supervisores e os executores. São propostas tipologias que facilitam essa análise e comparação organizacionais. São acentuados o conceito de conflitos e de dilemas pela primeira vez na teoria administrativa. A teoria estruturalista, então, desvenda as organizações, concorrendo para sua visão de sistemas abertos. Constitui-se numa escola de transição, rumo à teoria de sistemas. Conforme Chiavenato (2003b), entre as propostas de tipologia, destacam-se as de Blau e Scott e a de Etzioni. 73 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO A tipologia de Blau e Scott trata dos tipos de organizações a partir de seus beneficiários principais, a saber: • os próprios membros da organização (associações de beneficiários mútuos, tais como associações profissionais, cooperativas, sindicatos etc.); • os proprietários ou acionistas (organizações com interesses comerciais, como sociedades anônimas e empresas familiares); • os clientes (organizações de serviços, como hospitais, universidades, organizações religiosas e sociais); • o público em geral (organizações de Estado, como organizações militares, de segurança pública, correios, de saneamento). A tipologia de Etzioni considera as organizações coercitivas, normativas e utilitárias. • As coercitivas usam como tipo de poder o coercitivo, controlado por prêmios e punições. Os participantes são controlados por coação e imposição, força, ameaça e medo, provocando alienação com base no temor. Como exemplo, Etzioni cita as penitenciárias. • As normativas (poder normativo) têm controle moral e ético sobre os participantes, por meio da convicção, fé, crença e ideologia. Têm cunho moral e motivacional como autoexpressão. São representadas por igrejas, hospitais e universidades. • As utilitárias usam o poder remunerativo (incentivos econômicos), trabalhando com interesse em vantagem percebida pelos participantes. O envolvimento pessoal dos participantes é calculativo e busca vantagens; é o caso das empresas em geral. A partir dessas classificações, ficou mais fácil compreender, estudar e relacionar as organizações num contexto mais amplo, o ambiente, constituído por organizações interdependentes que compõem a sociedade. A teoria estruturalista apresenta, pela primeira vez, na teoria administrativa, os conceitos de conflito e de dilema: o conflito representa um choque de interesses que são gerados pelas mudanças e que, por sua vez, geram mudanças. Ele pode ser atenuado, resolvido e, às vezes, não resolvido. O dilema expressa uma situação diante de dois interesses irreconciliáveis entre si: o alcance de um impede o alcance do outro. O principal dilema das organizações é expresso pelos pontos antagônicos: a ordem e a liberdade. As organizações oscilam entre eles. A ordem é representada pela coordenação, pela disciplina burocrática e pelo planejamento centralizado, enquanto a liberdade é caracterizada pela comunicação livre, pela especialização profissional e pela iniciativa individual. As organizações têm que escolher dentro desse dilema como se comportar, optando para qual dos lados deve definir-se. 74 Unidade II Outra contribuição nessa abordagem é dada por autores extremamente críticos, que, por meio de publicações de obras irreverentes (sátiras), mostraram incoerências da administração. São eles: Northcote Parkinson, Peter e Hull, Thompson e Anthony Jay. Críticas à teoria estruturalista: • é uma convergência das várias teorias administrativas até então; • essa teoria desloca o foco, que estava no indivíduo e no grupo, para a organização como um todo e, mais recentemente, para a relação da organização com o ambiente; • dupla tendência teórica: foco na análise da organização como um todo e nos seus conflitos; • análise organizacional mais ampla: abre-se o foco para qualquer tipo de organização, não apenas indústrias; • inadequação das tipologias organizacionais: são tipologias simples e unidimensionais, que reduzem a classificação das organizações a uma única variável para ser possível a sua comparação; • teoria da crise: o foco da análise das organizações complexas recai mais sobre os seus problemas do que sobre sua normalidade; • teoria de transição e de mudança: estabelece clima para outras teorias, tais como a teoria de sistemas. Quadro 14 – Teoria estruturalista Teoria Aspectos positivos Aspectos negativos Estruturalista Ampliou a visão dos administradores Busca uma integração de todas as teorias que a antecederam Permite uma abordagem múltipla da organização Vê a organização como um sistema aberto, capaz de relacionar-se Preocupação com a origem dos problemas Simplifica as organizações para poder compará-las Suas contribuições são limitadas quanto à aplicação prática As influências da teoria estruturalista hoje são vistas nas organizações quando seus administradores praticam a gestão com visão ampla e flexível. Essas organizações objetivam a integração entre estrutura/funcionário/motivação/objetivos/méritos, buscando a origem dos problemas para uma solução definitiva. Contudo, o estruturalismo também deixa sua marca negativa, quando simplifica demais as organizações e os processos para poder compará-la a outras organizações e sistemas. 75 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO 5.4 A abordagem comportamental da administração Tal qual a teoria das relações humanas, a teoria comportamentalista tem seu foco nas pessoas e insere a psicologia como uma ciência interferente na administração. A teoria comportamentalista redimensiona e atualiza os conceitos das relações humanas. No comportamentalismo existe uma integração entre os objetivos individuais e organizacionais. Por isso, os estudiosos defendiam a cooperação entre os membros. Para os teóricos dessa corrente, os administradores devem organizar essa cooperação, pois os operários passam a cooperar quando aceitam os objetivos da organização (CHIAVENATO, 2003b). De acordo com Chiavenato (2003a), essa abordagem surgiu nos EUA em 1957. Estudou as variáveis pessoas e ambiente e teve como principais representantes: Argyris, Barnard, Bennis, Herzberg, Likert, Maslow, McClelland, McGregor e Simon. A teoria comportamental também é conhecida como behaviorismo, uma derivação aportuguesada da palavra inglesa behavior, que significa comportamento. Por se tratar de uma extensão da teoria das relações humanas, enriquecida por novos estudos de psicologia organizacional, essa teoria é a mais profunda influência das ciências do comportamento na administração. Neste livro-texto são abordados os seguintes aspectos trabalhados pela teoria comportamental: • motivação humana; • estilos de administração; • sistemas de administração; • processo decisório. Motivação humana Novos estudos foram desenvolvidos, contemplando a motivação humana, por nomes como McGregor, Maslow e Herzberg. Estava definitivamente aceita a proposição de que o administrador deveria conhecer os mecanismos motivacionais humanos para poder dirigir adequadamente as organizações por meio das pessoas. O modelo de Abraham Maslow acentua uma explicação para os motivos que levam as pessoas a fazerem as coisas. A compreensão disso certamente auxiliaria os gerentes a trabalhar com esses vetores para conseguir melhores resultados nas relações organizacionais. O modelo que consta de cinco tipos de necessidades, devidamentehierarquizadas, e que teriam o poder de mover as pessoas nas suas ações, é o seguinte: 76 Unidade II Necessidades de autorrealização Necessidades de estima Necessidades sociais Necessidades de segurança Necessidades fisiológicas Figura 18 – Pirâmide de Maslow Adaptada de: Maslow (1970). Maslow afirmava que a capacidade de motivar uma pessoa (poder motivacional) estaria numa dessas cinco necessidades, conforme fosse o estágio em que essa pessoa se encontrasse. Para ele, as necessidades primárias seriam inatas, ou seja, a pessoa já nasceria com elas, enquanto as secundárias seriam adquiridas ao longo da vida. Outro teórico, Frederick Herzberg, buscou entender como a motivação se relacionava com o trabalho humano nas organizações e desenvolveu um modelo baseado em dois fatores: os higiênicos e os motivadores. Quadro 15 Fatores motivacionais (satisfatórios) Fatores higiênicos (insatisfatórios) Conteúdo do cargo (como a pessoa se sente em relação ao seu cargo) Contexto do cargo (como a pessoa se sente em relação à sua empresa) Trabalhos em si Realização Reconhecimento Progresso profissional Responsabilidade Condições de trabalho Administração da empresa Salário Relações com o supervisor Benefícios e serviços sociais Adaptado de: Chiavenato (2003a, p. 334). 77 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Estilos de administração Os comportamentalistas (behavioristas) também deram muito valor aos estudos dos estilos de administração. São desenvolvidos os estilos de Douglas McGregor, por meio das teorias X e Y, e de Rensis Likert, sobre os quatro sistemas organizacionais. McGregor propõe um modelo motivacional, composto por dois estilos extremos, que denominou teoria X e teoria Y. Nessa proposta, McGregor apresenta como os gerentes se comportam a partir de pressupostos sobre o comportamento das pessoas. Os gerentes X e Y manifestam uma visão totalmente antagônica a respeito da natureza humana. Essas diferentes percepções desencadeiam diferentes estilos de liderança. São premissas da teoria X: • as pessoas são preguiçosas e indolentes; • as pessoas evitam o trabalho; • as pessoas evitam a responsabilidade a fim de se sentirem mais seguras; • as pessoas são controladas e dirigidas; • as pessoas são ingênuas e sem iniciativa. Em oposição, a teoria Y assume as seguintes premissas: • as pessoas são esforçadas e gostam de ter o que fazer; • o trabalho é uma atividade tão natural como brincar ou descansar; • as pessoas procuram e aceitam responsabilidades e desafios; • as pessoas podem ser automotivadas e autodirigidas; • as pessoas são criativas e competentes. Acredita-se que exista uma projeção de expectativas dos gerentes sobre seus subordinados que condiciona o comportamento destes (motivação). Então, de acordo com o que os gerentes pensam de seus funcionários, certos comportamentos de resposta seriam manifestados por eles. 78 Unidade II Sistemas de administração Outra abordagem para os estilos de administração organizacionais foi desenvolvida por Rensis Likert. De acordo com Chiavenato (2003a), Likert classificou os estilos administrativos em quatro sistemas, assim denominados: • Sistema 1 (autoritário coercitivo): sistema administrativo autocrático e forte, altamente coercitivo e arbitrário, que controla rigidamente tudo o que ocorre dentro da organização. É o sistema mais duro e fechado dos quatro. • Sistema 2 (autoritário benevolente): constitui uma variação atenuada do sistema 1, pois é o mesmo sistema, um pouco condescendente e menos rígido. • Sistema 3 (consultivo): sistema que tende mais para o lado participativo do que para o lado autocrático e impositivo. Representa um gradativo abrandamento da arbitrariedade organizacional. • Sistema 4 (participativo): sistema democrático por excelência e, por conseguinte, o mais aberto de todos. Considerando o conceito de continuum (um intervalo, marcado por dois pontos extremos contraditórios ou antagônicos), uma empresa qualquer pode ocupar qualquer um dos dois extremos ou qualquer outra posição entre eles. No caso do continuum dos sistemas administrativos de Likert, as empresas não precisam estar necessariamente no extremo 1 ou no 4, ou então nas outras posições 2 ou 3. Podem estar em qualquer ponto entre 1 e 4, por exemplo, 2, 5 ou 3, 5 etc. Cada um desses quatro sistemas é avaliado por meio de variáveis, como processo decisório, sistema de comunicações, relações interpessoais e sistemas de recompensas e punições. Ferreira, Reis e Pereira (1997) apresentam, no quadro a seguir, como cada uma dessas variáveis é tratada em cada um desses sistemas: Quadro 16 – Sistemas organizacionais Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Sistema 4 Liderança a) Confiança nos subordinados Nenhuma Alguma Razoável Absoluta b) Liberdade dos subordinados para falarem sobre o trabalho Nenhuma Não muita Alguma Plena c) Importância atribuída às ideias dos subordinados Raramente Às vezes Frequentemente Sempre Motivação a) Usa medo (1), ameaças (2), castigo (3), recompensas (4) ou participação (5)? 1, 2, e 3; eventualmente, 4 4, algumas vezes, 3 4, algumas vezes 3 e 5 5 e 4, cf. os objetivos grupais b) Responsável pela consecução dos objetivos organizacionais Predominância da cúpula Na cúpula e médios escalões Em quase todos os níveis Em todos os níveis 79 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Sistema 4 Comunicação a) Fluxo de comunicação Para baixo Predominância para baixo Para baixo e para cima Para todos os lados b) Aceitação da comunicação Suspeita Provavelmente suspeita Cautela De mente aberta c) Precisão da comunicação para cima Frequentemente errada Censurada pelo chefe Precisão limitada Exata d) Conhecimento dos superiores dos problemas dos subordinados Pouco Algum Bastante Muito Interação a) Característica Pouca, com temor Pouca, condescendente Moderada, c/ certa confiança Ampla, com confiança b) Trabalho cooperativo em grupo Nenhuma Relativamente pouca Moderada Considerável Decisões a) Nível de tomada de decisões Predominância na cúpula Cúpula, alguma delegação Maior delegação Geral e integrada b) Origem do conhecimento para a decisão Cúpula Níveis altos e médios Em toda parte Toda a empresa c) Envolvimento dos subordinados Nenhum Ocasional Normal Completo d) Contribuição para a motivação Nenhuma Pouca Alguma Considerável Objetivos a) Estabelecimento Ordens Ordens e alguma consulta Discussão e ordens Grupo, salvo crises b) Presença de resistência velada Forte Moderada Alguma Pequena Controle a) Concentração de revisão e controle Acentuadamente na cúpula Geralmente na cúpula Moderada delegação Amplamente compartilhados b) Existe organização informal? Sim Normalmente Às vezes Não c) Utilização dos dados Castigo Recompensa e castigo Recompensa, alguma auto-orientação Auto-orientação e solução de problemas Adaptado de: Ferreira, Reis e Pereira (1997). Processo decisório A teoria comportamental também contemplou o processo decisório. Para essa escola, toda decisão envolve seis elementos, a saber: o tomador de decisões; os objetivos desejados; as preferências (critérios de escolha); a estratégia; a situação (aspectos do ambiente em que a decisão está sendo tomada); e os resultados. Simon, o principal teórico da decisão, adverte que nessa escola há uma grande dose de subjetividade em toda decisão tomada e lembra alguns aspectos que estão envolvidos nela: 80 Unidade II • Racionalidade limitada: não existe acesso a todos os dados necessários, muitas vezes é preciso escolher subjetivamente. • Imperfeição nas decisões: não existem decisões perfeitas, mas apenas algumas melhores ou piores que outras. Assim, deve-se buscar o máximo resultado possível em uma decisão. • Relatividade das decisões: uma escolha qualquer representa a renúncia sobre as demais. Nunca uma decisão é ótima, mas sim satisfatória. • Hierarquização das decisões: é preciso distinguir o que é apenas um meio ou um fim. •Racionalidade administrativa: os processos administrativos são, basicamente, processos decisórios. • Influência organizacional: as organizações já possuem processos decisórios previamente desenvolvidos, ou seja, as pessoas decidem muito pouco. Observe a seguir as críticas à teoria comportamental: • ênfase exagerada nas pessoas; • abordagem mais descritiva (mostra o que é) e menos prescritiva (mostra o que deve ser); • profunda reformulação na filosofia administrativa; • dimensões bipolares, ou seja, tudo é abordado em modelos antagônicos (macro versus micro, informal versus formal etc.); • relatividade das teorias de motivação; • influência das ciências do comportamento sobre a administração; • organização como um sistema de decisões; • visão tendenciosa: padronizou respostas não considerando as diferenças entre as pessoas. Quadro 17 – Teoria comportamental Teoria Aspectos positivos Aspectos negativos Comportamentalista Reconhece o conflito entre os níveis organizacionais Atenção às necessidades e motivações de cada um Estudo do indivíduo dentro do grupo e sua relação com ele Ênfase no comportamento humano e sua influência dentro da organização Fez uma divisão equivocada de pessoas eficientes e não eficientes, satisfeitas e insatisfeitas Busca a satisfação, e não a maximização Não se desenvolve com base na redução de custos Ainda hoje os estudos da teoria comportamentalista são utilizados pelas organizações. Isso é visto em uma organização que valoriza os seus grupos, reconhece as necessidades dos funcionários 81 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO e se esforça para atendê-los, dá autonomia e desafios às pessoas. Porém, empresas que trabalham apenas com foco em satisfação, esquecendo-se da otimização dos processos produtivos e resultados, acabam utilizando o lado negativo do comportamentalismo. 5.4.1 Teoria do desenvolvimento organizacional (DO) Essa teoria apareceu no início dos anos 1960, com base em considerações sobre o homem, a organização e o ambiente. Trata-se de um desdobramento da teoria comportamental em direção à abordagem sistêmica e deve-se aos seguintes aspectos: • Dificuldade de colocar em prática as diferentes abordagens administrativas até então. Isso demandava um esforço para promover mudança e flexibilidade nas organizações. • Necessidade de revisão dos estudos sobre motivação humana, pois nem sempre há convergência dos objetivos das pessoas com os da organização. • A criação do National Training Laboratory (NTL – Laboratório Nacional de Treinamento), em 1947, com as primeiras pesquisas sobre o comportamento de grupo e publicação de estudos sobre como estes poderiam ser aplicados nas organizações. • Grande variedade de mudanças que estavam ocorrendo no mundo naquela época. • A fusão dos estudos sobre comportamento humano com o das organizações. O DO envolve, então, uma integração de tudo isso, por meio da abordagem sistêmica. Com base na atuação de consultores de dinâmica de grupo e de comportamento organizacional, o DO chegou a assumir a postura de uma nova teoria administrativa. Existe uma variedade de técnicas de DO para os relacionamentos interpessoais, grupais, intergrupais e organizacionais, com vários tipos de treinamento associados a esses trabalhos. Podem ser citados: treinamento de sensitividade; análise transacional; consultoria de processos; desenvolvimento de equipes; reuniões de confrontação; tratamento de conflito intergrupal. Vários modelos são apresentados, tais como o de Blake e Mouton, de Lawrence e Lorsch e de Reddin. O modelo de Blake e Mouton, como trata de liderança, está apresentado no processo administrativo, no tópico sobre liderança. O DO também se preocupou com o estudo do clima organizacional, que é condicionado, basicamente, pela cultura da organização. O iceberg organizacional É tradicional em administração, quando se discute a cultura da organização, lançar mão da figura do iceberg para explicar os aspectos nela envolvidos. Esse artifício permite representar a organização como 82 Unidade II um iceberg, que tem como parte visível a parcela que está emersa, acima da linha da água, e como parte invisível a que está imersa, abaixo da linha da água. Embora seja a parte aparente a que nos mostra a organização, a parte submersa é que lhe dá sustentação. Conforme mostram vários autores, como Moscovici (1988) e Oliveira (2006), a porção visível recebe várias denominações: é o lado luz da empresa, são os seus aspectos formais e abertos, seus aspectos racionais. Da mesma forma, o pedaço invisível seria então o lado sombra da organização, os seus aspectos informais e ocultos, seus aspectos afetivos. Quadro 18 – A organização vista como um iceberg Aspectos envolvidos O iceberg Estrutura organizacional Denominação e descrição de cargos Rede de autoridade formal Alcance do controle e dos níveis organizacionais Objetivos estratégicos Políticas e procedimentos operacionais Planejamento e sistema de informação Políticas e procedimentos referentes ao pessoal Unidades de mensuração referentes à produtividade física e monetária Porção escondida (a organização não visível) Padrões de poder crescente e de influência Componentes geralmente não visíveis e emocionalmente criados e orientados, tendo em vista o clima geral e o processo social, psicológico e comportamental da organização Visão pessoal das competências organizacionais e individuais Padrões de equipes interpessoais e de relações divisionais Sentimento e normas das equipes de trabalho Percepção da existência de relacionamentos de confiança, de abertura e de comportamentos relativos à aceitação de riscos Percepção do papel individual e dos sistemas de valores Sentimentos emocionais, necessidades e desejos Área de sombra Relacionamento afetivo entre executivos e funcionários Unidade de medida para contabilização dos recursos humanos Adaptado de: Oliveira (2006) e Moscovici (1988). 83 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Segundo Chiavenato (2003a), o processo de DO envolve etapas típicas: • decisão da empresa de utilizar o DO; seleção do consultor; • diagnóstico das necessidades pela direção do diretor; • obtenção de dados apropriados; • retroação de dados e confrontação; • planejamento da ação e solução do problema; • desenvolvimento de equipes; • desenvolvimento intergrupal; • avaliação e acompanhamento. Uma simplificação dessas fases é apresentada por Lawrence e Lorsch, de acordo com Chiavenato (2003a): Diagnóstico Planejamento da ação Implementação da ação Avaliação Figura 19 – Etapas do desenvolvimento organizacional Conforme Chiavenato (2003a), embora pareça uma moda passageira na teoria administrativa, o DO é uma alternativa democrática e participativa muito interessante para a renovação e revitalização das organizações. Observe a seguir as críticas ao DO: • Aspecto mágico do DO: existem vários mitos que cercam o DO e que lhe conferem poderes que essa teoria não tem. • Imprecisão do campo do DO: há muita confusão, pois o DO aceita várias tendências, e muitas atividades diferentes se aproveitam disso. 84 Unidade II • Ênfase na educação emocional: o DO acaba privilegiando o relacionamento em detrimento de habilidades mais técnicas. Acaba tendo um cunho “terapêutico”. • Aplicações distorcidas do DO: tem sido usado para manutenção de status e de promoção de dirigentes. 5.5 A abordagem sistêmica da administração De acordo com Chiavenato (2003a), essa abordagem surgiu em 1951, nos EUA, e estudou a variável ambiente e teve vários representantes, como: Neumann e O. Morgenstern, Wiener, Shannon e Weaver, Bertalanffy, Ashby, Katz, Kahn, Kast, Rosenzweig, Churchman, Trist e Rice. Até a abordagem sistêmica, a teoria geral da administração sofreu a influência de três princípios intelectuais: • O reducionismo: baseado na crença de que todas as coisas podem ser decompostas e reduzidas em seus elementos fundamentais simples, que constituem unidades
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