Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autora: Profa. Tatiana de Freitas Luchezi Colaboradores: Prof. Fabio Pozati Prof. Mauro Kiehn Profa. Christiane Mazur Doi Organização de Eventos Professora conteudista: Tatiana de Freitas Luchezi Mestra em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi (2005), especialista em Formação de Professores para o Ensino Superior pela Universidade Nove de Julho (2003) e graduada em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi (1998). Possui experiência em organização de eventos corporativos como feiras, exposições, seminários, coletivas com a imprensa e solenidade de posse (1997). Atuou na função de recepcionista de eventos como lançamentos, seminários, congressos e workshops (2000). Iniciou carreira de docente em cursos de graduação em turismo, hotelaria, eventos e secretariado (2000). Atualmente, é docente do curso de Turismo na Universidade Paulista (2020). Desenvolve atividades no ensino a distância como docente, tutora e curadora de material instrucional na área de hospitalidade (2009). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) L936o Luchezi, Tatiana de Freitas. Organização de Eventos / Tatiana de Freitas Luchezi. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 172 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Evento. 2. Comunicação. 3. Mercado. I. Título. CDU 395 U510.53 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Bruno Barros Aline Ricciardi Sumário Organização de Eventos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 CENÁRIO DO SETOR DE EVENTOS ............................................................................................................. 11 1.1 Relação dos eventos com a hospitalidade ................................................................................. 13 1.2 Entidades do setor de eventos ........................................................................................................ 18 1.2.1 Associações internacionais ................................................................................................................. 19 1.2.2 Associações nacionais ........................................................................................................................... 21 2 HISTÓRICO DOS EVENTOS ............................................................................................................................ 23 2.1 Primeiros registros no mundo ......................................................................................................... 24 2.1.1 Feiras comerciais ..................................................................................................................................... 25 2.1.2 Eventos técnicos e científicos ............................................................................................................ 26 2.1.3 Exposições universais ............................................................................................................................ 26 2.2 O século XX ............................................................................................................................................. 30 2.3 Registros dos eventos no Brasil ...................................................................................................... 31 Unidade II 3 PRIMEIRAS ETAPAS DO EVENTO ................................................................................................................ 40 3.1 Conceito de eventos ............................................................................................................................ 40 3.2 Benefícios dos eventos ....................................................................................................................... 41 3.3 Primeiro contato com o cliente ...................................................................................................... 42 3.4 Apurando os resultados da reunião .............................................................................................. 48 3.5 Área de interesse do evento ............................................................................................................. 49 3.6 Tipologia dos eventos ......................................................................................................................... 50 3.7 Abrangência dos eventos .................................................................................................................. 66 3.8 Periodicidade e rotatividade do evento ...................................................................................... 66 3.9 Fases do evento ..................................................................................................................................... 68 3.9.1 Concepção ................................................................................................................................................. 68 3.9.2 Pré-evento ................................................................................................................................................. 70 3.9.3 Transevento ............................................................................................................................................... 71 3.9.4 Pós-evento ................................................................................................................................................ 72 3.10 Atuação da secretaria do evento ................................................................................................. 75 3.10.1 Mailing ...................................................................................................................................................... 77 4 INFORMAÇÕES TÉCNICAS DO EVENTO ................................................................................................... 77 4.1 Escolha da data ..................................................................................................................................... 78 4.2 Local do evento ..................................................................................................................................... 79 4.2.1 Cidade-sede .............................................................................................................................................. 81 4.2.2 Espaço físico ............................................................................................................................................. 83 4.2.3 Disposição de salas .................................................................................................................................88 4.3 Diferença entre tema e título do evento .................................................................................... 92 4.4 O participante do evento .................................................................................................................. 93 4.4.1 Público-alvo e de interesse ................................................................................................................. 93 4.4.2 Evento fechado e aberto ...................................................................................................................... 94 4.4.3 Aquisição do tíquete para o evento ................................................................................................ 95 4.4.4 Porte do evento ....................................................................................................................................... 96 4.5 Montando a programação ................................................................................................................ 97 4.6 Fornecedores .......................................................................................................................................... 99 4.7 Sustentabilidade em eventos ........................................................................................................105 Unidade III 5 COMUNICAÇÃO ..............................................................................................................................................114 5.1 Ferramentas de comunicação .......................................................................................................115 5.2 Clima do evento ..................................................................................................................................120 5.3 Gancho do evento ..............................................................................................................................121 5.4 Captação de recursos ........................................................................................................................121 5.5 Instrumentos de controle ...............................................................................................................124 5.5.1 Cronograma ........................................................................................................................................... 124 5.5.2 Check-list ................................................................................................................................................ 124 5.5.3 Ficha de responsabilidade ................................................................................................................ 125 5.5.4 Rider técnico .......................................................................................................................................... 126 5.5.5 Cotação de serviços ............................................................................................................................ 127 5.5.6 Borderô .................................................................................................................................................... 127 5.5.7 Controle de orçamento ..................................................................................................................... 128 5.5.8 Contrato de fornecedor .................................................................................................................... 129 5.5.9 Logística ................................................................................................................................................... 130 6 TECNOLOGIA NOS EVENTOS ......................................................................................................................133 6.1 Eventos de games ..............................................................................................................................133 6.2 Eventos 100% on-line ......................................................................................................................136 6.3 Transmissão ao vivo ...........................................................................................................................137 6.4 Inscrição e avaliação on-line .........................................................................................................137 6.5 Ingressos on-line ................................................................................................................................137 6.6 Site do evento ......................................................................................................................................138 6.7 Aplicativos para eventos .................................................................................................................139 6.8 Leitor de credencial ...........................................................................................................................141 6.9 Tablet .......................................................................................................................................................141 6.10 Realidade virtual ..............................................................................................................................141 6.11 Videogame como atração .............................................................................................................142 6.12 Projeção mapeada ...........................................................................................................................142 6.13 Holograma ..........................................................................................................................................143 6.14 Drones ..................................................................................................................................................143 6.15 Wi-fi temporário ..............................................................................................................................143 6.16 Banner eletrônico ............................................................................................................................143 Unidade IV 7 ATUAÇÃO NO MERCADO ............................................................................................................................149 7.1 Empresas promotoras e organizadoras de eventos ..............................................................149 7.2 O profissional de eventos ................................................................................................................151 8 CERIMONIAL E PROTOCOLO ......................................................................................................................154 9 APRESENTAÇÃO A área da hospitalidade abrange um complexo grupo de atividades voltadas para agenciamento, lazer, gastronomia, hotelaria e eventos. Este livro-texto aborda particularmente o segmento de eventos em suas diversas faces, com o objetivo de contextualizá-lo no Brasil e no mundo, trazendo conceitos e características, além de visão estratégica para organizá-lo desde sua idealização, projeto, formação de equipe, divulgação e sistemática de funcionamento. O evento só alcançará êxito se for bem planejado, ou seja, não basta apenas uma ótima ideia ou vontade de executá-lo; é preciso técnica e habilidade para colocar em prática todos os detalhes da realização. Daí a necessidade de se contratar um profissional com formação e competência no assunto. O conteúdo aqui exposto também traz ferramentas de organização e gestão de eventos, compreendendo que cada realização é um universo personalizado e, por isso, não existe uma única fórmula ou um padrão de trabalho para o profissional da área. É cada vez mais comum as pessoas encontrarem-se para trocar informações, atualizarem-se, conhecerem-se e, com isso, ampliarem suas redes de contato. Então os eventos, sejam eles presenciais ou virtuais,proporcionam ao participante uma experiência para que ele alcance seu objetivo. Este livro-texto é oportuno, uma vez que o mercado de trabalho oferece chances de atuação em eventos sociais, culturais, científicos e corporativos, tanto na posição de organizador quanto na função de prestador de serviços. Há também a oportunidade para novos empreendedores, que encaram o desafio de inovar no setor de eventos, captando clientes potenciais, gerando emprego e negócios. As ferramentas tecnológicas só vêm somar nessa experiência, agilizando e produzindo novas formas de se organizar eventos. INTRODUÇÃO A profissão de turismólogo está vinculada à área da hospitalidade. Em sua grade de formação, são apresentadas várias frentes de trabalho como políticas públicas, planejamento de cidades turísticas, pesquisa sobre turismo, agenciamento, transportes, meios de hospedagem, lazer e recreação, alimentos e bebidas. É nesse contexto que também se apresentam os eventos, como uma oportunidade de prestação de serviços na organização e execução de acontecimentos presenciais ou virtuais, com temáticas sociais, culturais, científicas ou corporativas. Mas os eventos não caminham isoladamente do turismo; comumente necessitam de estrutura de apoio ao longo de sua realização, como, por exemplo, hospedagem para palestrantes, atividades de recreação e refeições no intervalo da programação ou agenciamento para tour pela cidade. O evento também é responsável por gerar fluxo turístico em um município, uma vez que as pessoas podem viajar para um destino buscando participar do evento, como é o caso de um congresso de odontologia, o salão do automóvel ou o Carnaval. Nesse sentido, o turista visita a localidade com foco principal no evento em si e, claro, estando na cidade, usufrui de sua estrutura de apoio e de seus atrativos turísticos. O setor de eventos é bem abrangente e, por isso, este livro-texto procura expor sua diversidade, suas possibilidades de trabalho diante de nichos de mercado como casamentos, festa de aniversário, 10 shows musicais, espetáculos teatrais, congressos profissionais, convenções de empresas, palestras de profissionais renomados, seminários técnicos, lançamentos de produtos; há profissionais que optam por se especializar em uma tipologia de eventos – feiras comerciais, congressos – ou ainda em um perfil de cliente, seja ele pessoa física, empresa, artista buscando excelência em seus serviços. O conteúdo a seguir se apresenta em quatro partes. Inicialmente, será contextualizado o mercado de eventos nacional e internacionalmente, com suas entidades representativas; em seguida, serão abordados momentos ao longo da história da humanidade que possam justificar a existência dos eventos até os dias atuais. Depois, serão abordados conceito de eventos, tipologia, características e componentes necessários para uma melhor organização do trabalho do profissional. Posteriormente, serão mostradas as ferramentas de comunicação utilizadas para divulgar eventos conforme o perfil do público; serão apresentados os principais instrumentos de controle que facilitam o desenvolvimento do trabalho, a fim de sistematizá-lo, uma vez que suas etapas compreendem a formação de uma equipe conhecedora dos detalhes da realização. Essa parte tratará ainda das tecnologias utilizadas nos eventos, na tentativa de otimizá-los quanto ao tempo, custo e conforto; serão abordados também os eventos de games e os 100% on-line, já acompanhando as tendências de mercado. Por fim, serão destacados a composição das empresas organizadoras de eventos, o perfil do profissional para atuar no mercado e as regras de cerimonial e protocolo em eventos oficiais. Para composição desse material, foram utilizadas obras de autores conceituados, artigos, pesquisas e publicações de entidades que representam o setor de eventos, além da experiência de mercado da autora, com a intenção de gerar crédito à leitura. 11 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS Unidade I 1 CENÁRIO DO SETOR DE EVENTOS Cada vez mais, o homem busca interagir com seus semelhantes para se comunicar, se expressar, trocar informações, seja no campo profissional, social, cultural. Essa experiência é muito bem aceita no formato dos eventos, por isso, constantemente eles acontecem. Os eventos são importantes geradores de receita e emprego. Muitos são os trabalhadores que atuam para que ele aconteça, seja fixa ou temporariamente. Então, é interessante para uma cidade ou país, receber diversas realizações, influenciando positivamente no seu índice de produtividade. Além disso, durante os eventos, são gerados muitos negócios, parcerias, expansão de empreendimentos, principalmente em feiras e exposições. Uma pesquisa realizada pela Mizzin (2018) com 4 mil criadores de eventos globais trouxe um panorama do contexto desse mercado. Os países que mais pretendiam aumentar o número de eventos em 2018 eram Brasil (74%), Alemanha (60%), países da América do Norte (54%) e Austrália (52%). Cada um se sentia estimulado pelos fatores seguintes: Quadro 1 – Motivação dos países para investir em eventos País Motivação Brasil Educação ou treinamento Atrair novos clientes e fornecedores Gerar receita Alemanha Gerar receita Educação ou treinamento Conscientizar pessoas sobre marca ou causa Países da América do Norte Gerar receita Educação ou treinamento Construir comunidade ou grupo Austrália Construir comunidade ou grupo Educação ou treinamento Conscientizar pessoas sobre marca ou causa Adaptado de: Mizzin (2018). 12 Unidade I De acordo com o quadro, observa-se que os países entrevistados buscavam grandes benefícios com os eventos, como monetizar as relações comerciais, melhorar a comunicação entre cliente e empresa por meio do marketing e progredir na instrução do público. As ferramentas tecnológicas chegaram em 2018 para ficar. O uso intenso de aplicativos, inteligência artificial e realidade virtual tomaram conta dos eventos, até mesmo para aproximar a linguagem do público. Há aplicativos nos quais o visitante pode montar seu próprio percurso de visitação, os óculos de realidade virtual podem levar o participante a viajar para outro país ou, ainda, um robô pode passar conhecimento valioso ao público. O Brasil não ficou atrás no que se refere a todas as novidades mundiais; aplicou também essas tendências com êxito em seus eventos. Quanto à tipologia, o país era mais conhecido por receber eventos corporativos e comerciais; a partir dos anos de 2010, começou a explorar intensamente a área de entretenimento, trazendo shows e espetáculos, nacionais e internacionais; houve também um incremento na produção de casamentos, isso porque o perfil do consumidor passou a pedir não só um evento, mas “ter uma experiência”. Com isso, a criatividade dos organizadores precisou ser intensa para satisfazer os clientes. Diante da expectativa promissora para o mercado global de eventos, em dezembro de 2019, os planos foram arruinados com a pandemia que assolou o mundo. O vírus Sars-CoV-2 foi registrado na China e difundido rapidamente entre os países, decretando-se a pandemia em março de 2020. Ele causa infecções respiratórias graves, podendo levar a óbito (MENEZES, 2020). Não há comprovações científicas sobre a eficácia de remédios, tampouco a formulação de vacinas. O fato é que a sociedade precisou ficar em isolamento social, mudando por completo seus hábitos e rotinas. Somente os serviços essenciais de saúde, alimentação, transporte e segurança mantiveram-se em funcionamento. Houve aumento de trabalho home office, estudos on-line e as pessoas deixaram de viajar, de utilizar espaços de lazer e de participar de eventos devido à proibição de aglomerações. Todos os eventos agendados a partir de março de 2020 foram cancelados, e o mercado continua estudando formas de se ajustar à nova realidade. Ainda em 2020, alguns eventos presenciais conseguiram reagendar suas datas para os meses seguintes, transformando-se em 100% on-line. Claro que é umaadaptação tanto para quem os promove quanto para quem participa deles, como foi o caso do congresso Personal Organizer Brasil 2020. Dependendo do resultado e grau de satisfação, alguns eventos manterão o novo formato em suas próximas edições. Outra adaptação ocorreu no segmento de shows musicais e sessões de cinema com o drive-in, no qual o participante assiste ao evento dentro do próprio carro, estacionado de frente para a tela ou palco. No segmento de festas de casamento, os noivos integram o cenário montado para a cerimônia e transmitem a realização ao vivo para seus convidados. Constata-se que a sociedade passa por profundas transformações que se estenderão ao longo dos próximos anos, e com o setor de eventos não será diferente, mas tais incertezas são capazes de gerar uma série de oportunidades para quem estiver atento à circunstância. 13 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS 1.1 Relação dos eventos com a hospitalidade A área de hospitalidade engloba o turismo e seus setores como agência, alimentos e bebidas, lazer, hotelaria e eventos. Aqui, será relacionado cada um dos elementos aos eventos. A hospitalidade é estudada por diversas áreas, mas grande parcela acredita que deva ocorrer um vínculo entre duas partes. Ela é “uma maneira de viver em conjunto, regida por regras, ritos e leis” (MONTANDON, 2011, p. 31). No ciclo de dar, receber e retribuir, sempre uma pessoa se sentirá endividada com a outra, mas não necessariamente essa dívida será uma troca monetária. Para Lashley (2004, p. 11), a hospitalidade “é um relacionamento baseado nas obrigações mútuas e, em última análise, na reciprocidade. Enfim, o hóspede torna-se o hospedeiro em outra ocasião”. Essa regra está implícita entre os envolvidos, os quais apresentam interesse ou não em manter essa sequência. Você já se viu em uma situação de hospitalidade? Alguém já te recebeu muito bem ou lhe pagou um jantar e você sentiu necessidade de retribuir o gesto? A hospitalidade é uma sequência de comportamentos, pois quem recebe algo hoje, poderá retribuir amanhã. Assim, o vínculo sempre será mantido. Em uma festa de aniversário, o brasileiro costuma convidar determinadas pessoas e espera como retorno – sim, realmente ele espera – que seja convidado para o aniversário de cada um. Essa seria a retribuição. Montandon (2003) diz que a hospitalidade trata do convívio harmônico em grupo, cujas regras são estabelecidas, verbalmente ou não, pelo coletivo. Os eventos são momentos de reunir pessoas com um determinado objetivo. Nessa reunião, espera-se boa relação entre os participantes e a vigência das normas culturais e de educação. É o que ocorre em eventos sociais, empresariais, técnico-científicos, comerciais, de entidades. Observação A hospitalidade possui diversas correntes teóricas, a saber: francesa, inglesa e norte-americana. A principal diferença entre elas é a questão da troca monetária nessa relação. Camargo (2015, p. 44) explica que a hospitalidade: [...] é uma virtude que se espera quando nos defrontamos com o estranho (e todo estranho é também um estrangeiro), alguém que ainda não é, mas deve ser reconhecido como o outro. Tudo se passa como se o sentido mais importante da noção seja perguntar-se se esse encontro resultou em estreitamento ou esgarçamento do vínculo social de início buscado. 14 Unidade I Percebe-se que a hospitalidade é um processo de relação entre duas partes, o qual se utiliza de elementos verbais e não verbais para se efetivar. Como Camargo explica, nem toda relação é hospitaleira; o relacionamento pode tanto aproximar como distanciar os indivíduos em uma situação. Os eventos contêm muitos elementos da hospitalidade que facilitam essa comunicação dirigida como o cenário, a divulgação por folheteria, a atuação de recepcionistas. O tempo todo, participantes, empresas e promotoras se comunicam no evento. Lashley (2004) posiciona a hospitalidade sob os domínios social (acolher conhecidos e forasteiros), privado (anfitrião supre necessidades fisiológicas e psicológicas do hóspede) e comercial (reciprocidade baseada em troca monetária). Dos três domínios, os eventos se encaixam principalmente no domínio comercial, nas mais variadas relações: o consumidor compra ingresso para um show, o participante paga a inscrição de um congresso, ou paga a entrada para uma feira. Cada participante deseja receber, em troca, um evento satisfatório, que atenda suas expectativas; esse limite de satisfação rege a experiência da hospitalidade. Para o cliente que idealiza o evento – empresa, promotora – o objetivo pode ser o lucro, melhorar a imagem, se aproximar do consumidor, apresentar os produtos; e o interesse das expositoras ou dos fornecedores é ter a oportunidade de oferecer seus produtos e serviços ao público envolvido. Além da relação entre pessoas, a hospitalidade pode ocorrer com objetos inanimados, como, por exemplo, com o espaço físico e sua decoração. Um salão de festas, auditório, pavilhão ou espaço ao ar livre passam uma mensagem ao participante, cada qual com seu estilo, cor, estrutura e cenário; assim, o participante classifica o evento como “acolhedor”. O conjunto de elementos no local do evento comunicam sua proposta. De repente, uma decoração temática, as cores do logotipo, flores ou balões, uso de tapetes, quadros e esculturas já inserem o participante na vivência do evento. E se você fizer uma análise detalhada, encontrará outras relações com a hospitalidade. O turismo também é um braço da hospitalidade que tem forte vínculo com o setor de eventos. Devido ao desenvolvimento da sociedade e ao ritmo de vida acelerado recorrente, nos últimos trinta anos, é passada a ideia de que o turismo é a única fórmula mágica para descanso; embora seja pago, o indivíduo se afasta da rotina. E realmente há uma quebra de tempo e espaço quando se procuram novos cenários e interação com outras comunidades (STOPPA; TRIGO; ISAYAMA, 2017), mas talvez esse pensamento seja um pouco equivocado, pois as pessoas podem realizar em seu tempo livre algumas atividades como brincadeiras, leitura de livro, que não impliquem viagens turísticas. Ademais, o turismo auxilia na melhora de oportunidades de emprego, geração de renda para uma população, mas não soluciona qualquer problema da localidade. Entende-se por turismo o deslocamento de um ou mais indivíduos de seu ambiente de origem para destinos nos quais lá permaneçam por mais de 24 horas. Esse deslocamento fomenta o desenvolvimento do destino, o qual transforma sua diversidade de produtos, serviços e atrações, em oferta turística (CASTAÑEDA, 2019). Nos dias atuais, a leitura do turismo pode ser mais ampla, voltada aos pequenos detalhes da experiência da viagem, à integração do viajante ao destino. É nesse contexto que se inserem os eventos. 15 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS A realização de eventos na cidade-sede mobiliza equipamentos de transporte, hospedagem, alimentação e serviços de agenciamento; todos eles fazem parte do turismo e serão abordados nos próximos parágrafos deste livro-texto. O turista de eventos se desloca de seu habitat para acompanhar uma realização que esteja ocorrendo em outra cidade ou país, gerando fluxo turístico. Independentemente de seu objetivo ser profissional ou de lazer, o evento se torna uma atração. Mas o que é considerado atrativo? Quais são suas características? O atrativo é qualquer item ou local que esteja relacionado com as motivações de visitação e com a avaliação de cada visitante. Possui certa subjetividade porque o que é interessante para um indivíduo pode não ser para outro, e o valor do atrativo será maior conforme seu diferencial (IGNARRA, 2013). Qualquer pessoa pode se sentir atraída para participar de um evento por seu assunto, ou somente pelo fato de conviver com pessoas em um espaço comum, por exemplo. Elas precisam de algum elemento no destino que lhes chame a atenção, que desperte a curiosidade; isso é o atrativo, a matéria-prima que guia o fenômeno. E grande parte dos eventosrealizados no Brasil e no mundo podem ser considerados atrativos turísticos. O autor Swarbrooke (2000, p. 89) considera ainda duas ramificações dos atrativos: “atrativo que não foi criado para atrair turistas, mas adquiriu essa característica no decorrer do tempo; atrativo construído pelo homem cuja única razão de sua criação é a de atrair turistas”. De acordo com o ponto de vista, os eventos cabem em ambas as classificações, mediante seu enfoque. Na primeira, uma manifestação popular, muito comemorada entre a população local por sua representatividade, vai ganhando maior número de espectadores até se tornar uma atração turística. Veja que sua origem não foi pensada para atrair turistas, mas a propaganda boca a boca fez com que ganhasse esse destaque. O grande exemplo para esse caso é o Festival de Parintins, no Amazonas. A festa existe desde 1965 e retrata uma brincadeira com o boi-bumbá e os rituais do norte do país. O evento agrega características do Carnaval, com apresentação das escolas Caprichoso e Garantido e jurados atribuindo notas pela performance. Tamanha é sua popularidade e simbologia que, de acordo com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (NA ABERTURA..., 2019) o festival foi reconhecido como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Saiba mais O Festival de Parintins gera grande fluxo de turistas nacionais e estrangeiros no Amazonas por seus atributos como evento e patrimônio. Vale a pena acessar os sites: https://www.festivaldeparintins.com.br/ http://portal.iphan.gov.br/ 16 Unidade I Na segunda classificação de atrativo, tem-se como exemplo shows como Rock in Rio, que já são criados pensando em atrair grande público nacional e internacional. Por isso são atrativos turísticos desde sua origem. Saiba mais O Rock in Rio é um festival que teve sua primeira edição em 1985, no Rio de Janeiro, cidade que batizou o evento. Para analisar sua grandiosidade, acesse: https://rockinrio.com Outro aspecto que deve ser abordado sobre a motivação do turista é sua categorização em primária ou secundária. Há turistas que se deslocam exclusivamente para participar de eventos, então seria sua motivação primária. Porém, durante sua estada no destino, identifica e vai visitar outros pontos turísticos da cidade, mas essa seria sua motivação secundária, pois ele não saiu de sua casa para visitar atrativos. Significa que se o passeio não acontecer, não influenciará no seu principal desejo de participar de eventos. O inverso também é verdadeiro. Há turistas que não foram estimulados inicialmente por eventos. Em princípio, o indivíduo pode ter como motivação primária a visitação aos atrativos naturais (praias, cachoeira) ou histórico-culturais (museus, ruínas). Entretanto, durante sua estada no destino, verifica que a cidade está recebendo uma exposição de motocicletas, ou um show de dupla sertaneja. Então, aproveita para participar do evento antes de seu retorno para casa. Nesse caso, o evento seria sua motivação secundária. A realização de um evento pode ser utilizada como ferramenta para incentivar o turismo, principalmente na baixa temporada, isto é, se em determinadas épocas do ano, os atrativos não são suficientes para captar turistas, então, são promovidos eventos capazes de ser o principal motivo da viagem. Espetáculos teatrais, festivais gastronômicos, exposições de animais podem ser tentativas bem-sucedidas de lidar com a sazonalidade, aumentando um pouco o fluxo de consumidores em hotéis, bares e restaurantes. Exemplo de aplicação O atrativo turístico é o principal elemento capaz de estimular o deslocamento de indivíduos para um destino diferente de sua origem. Na cidade em que você reside, estabeleça um perfil de turista – ecológico, de negócios, cultural – e selecione três pontos turísticos (de qualquer categoria) e três eventos que o município sediou no último ano. Dessa lista, combine um atrativo com um evento e identifique qual é a motivação primária e a secundária do viajante. 17 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS Outro componente da hospitalidade que se relaciona com os eventos é o agenciamento. As agências de viagens oferecem ao cliente o serviço de reservas de passagem aérea e de hospedagem para palestrantes e convidados VIP, quando a despesa é de responsabilidade do próprio cliente. Elas também providenciam guias de turismo para acompanhar os participantes. Por exemplo, há eventos que levam um grupo de funcionários para a África, para Paris; e é importante que o guia dê suporte para o embarque, despacho de bagagem, imigração – se for o caso – chegada em outro país, ônibus de traslado, check-in no hotel, entrada no evento, circulação do grupo pela cidade-sede nas horas livres. As agências também oferecem passeios – city tour – elaborados especialmente para os participantes do evento, com o objetivo de visitar os atrativos turísticos da cidade, consumir a gastronomia do local. A parceria entre o cliente que concebeu o evento e a agência de viagens pode se dar de duas formas: o cliente contrata os serviços mencionados e paga por eles – normalmente para convidados especiais – ou o evento apenas sugere a agência como suporte para os participantes que quiserem pagar individualmente por cada serviço. É claro que essa indicação gera mais segurança ao participante, principalmente se ele está indo para cidade ou país desconhecidos. Os eventos também se correlacionam com os meios de hospedagem, principalmente se recebem turistas. Eles podem incluir na programação palestrantes de outro estado ou outro país, funcionários de empresas expositoras que necessitam permanecer na cidade-sede pelo período da feira ou então participantes que precisam utilizar meios de hospedagem para acompanhar o evento. É comum serem escolhidas acomodações próximas ao local do evento a fim de haver menos tempo para o deslocamento dos envolvidos. A categoria da hospedagem pode variar, ou seja, o promotor do evento reserva um hotel cinco estrelas para os palestrantes, a empresa expositora reserva um hotel três estrelas para seus funcionários, e o site do evento indica hotéis mais econômicos da região para que o participante se encarregue da sua própria estadia. Tudo vai depender do planejamento e aporte financeiro de cada evento. O transporte é peça essencial na realização de eventos, pois dele depende a logística de tudo o que for planejado. O transporte aéreo fica responsável pelo trajeto de palestrantes e convidados VIP, caso sejam de outra região ou país. A partir da escolha do espaço físico, os equipamentos, mobiliários e as estruturas deverão ser transportados para a montagem do local. Além disso, o promotor poderá disponibilizar transporte para os convidados especiais, como carro com motorista particular ou van. Muitas vezes, um carro fica à disposição do convidado durante o período do evento, seja para buscá-lo no aeroporto, levá-lo ao hotel, ao evento ou por passeios pela cidade. Outra possibilidade de transporte pode ser oferecida aos participantes; quando há grande quantidade de público chegando no aeroporto, por exemplo, o evento oferece um ônibus gratuito, com saídas regulares, a cada 30 minutos; ou então, quando o local é um pouco distante de transporte público, o ônibus sai de estações de metrô ou terminais rodoviários rumo ao local da realização. Os elementos de lazer e entretenimento são muito bem-vindos nos eventos, pois geram impacto positivo nos participantes, facilitando alcançar os objetivos propostos. Para o autor Melo Neto (2005), diversão significa descoberta de si, autoconhecimento para experimentar novas aprendizagens. Ela é uma das bases do lazer e elemento motivacional para captar grande número de participantes para os eventos. Andrade (2001) considera que no Brasil, a mistura 18 Unidade I de turismo com lazer é detectada nos esportes, nos transportes e na hospedagem, principalmente nas grandes cidades; e quando se realizam eventos, elesconseguem atrair grande público, oferecendo total assistência aos participantes. E os eventos acabam realmente como uma mistura de vários componentes de turismo e lazer. Melo Neto (2005) afirma ainda que um evento com concepção de espaço de entretenimento, independentemente de sua tipologia e objetivos, ganha mais mercado e aumenta o público, que passa a interpretá-lo como local de diversão. Por isso o cliente ou promotor investe em itens como recreacionista, artistas, decoração, cenário, jogos interativos, show circense, sorteios, brindes; chamando a atenção do público, inclusive em eventos do tipo congressos, workshops, seminários, feiras, exposições. Reforçando a ideia de diversão, há participantes que encaram qualquer tipo de evento como uma festa, porque sabem que encontrarão brincadeiras, sorteios, brindes, degustação; ou também encaram o evento como local lúdico para se divertir estudando ou trabalhando. Além do entretenimento dentro dos eventos, o participante pode também procurar lazer pela cidade como bares, restaurantes, espetáculos, casas noturnas, jogos, com o intuito de usufruir após o horário do evento. Observe então que todos os setores citados têm vínculo e atuação com os eventos, e tal relação pode se intensificar conforme a tipologia e o porte da realização. 1.2 Entidades do setor de eventos Quando uma atividade profissional vai ganhando grande número de adeptos, é conveniente formar uma representação. A associação é uma entidade que reúne pessoas com objetivo de informar os assuntos relacionados à categoria, como normas de trabalho, aberturas de empresas, direitos e deveres do empresário e relação com o cliente, além de atualizações sobre o setor. Se você é um organizador de eventos, por exemplo, e quer contatar parceiros, identificar concorrentes, acompanhar estatísticas ou tirar dúvidas sobre legislação específica, a associação de sua categoria pode auxiliar nesse processo. Saiba mais Os primeiros passos para a criação de uma associação podem ser consultados no site do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Acesse: SEBRAE. Tudo o que você precisa saber para criar uma associação de sucesso. Sebrae, [s.d.]. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/ PortalSebrae/artigos/artigosCoperacao/roteiro-para-criar-uma-associacao, 54fe438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em: 4 nov. 2020. 19 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS São inúmeras as entidades relacionadas direta e indiretamente ao segmento de eventos e que fortalecem a categoria tanto nas relações comerciais quanto no desenvolvimento profissional. A seguir, serão descritas as principais delas para seu primeiro contato e futuras consultas se assim desejar. 1.2.1 Associações internacionais A Organização Mundial do Turismo (OMT) é o órgão oficial que representa o setor globalmente e está intimamente ligada aos eventos. Essa Agência das Nações Unidas especializada em turismo está sediada na Espanha e reúne seus 159 países para orientar a atividade turística pelo mundo. Em 2015, ficou estabelecido entre chefes de Estado o acordo da Agenda 2030, baseado no desenvolvimento econômico e sustentável para a humanidade. A OMT pretende contribuir com as metas traçadas, mas especialmente com aquelas responsáveis pelo crescimento econômico, desenvolvimento sustentável e acessível por meio do turismo (EL TURISMO..., [s.d.]). O setor de eventos se vincula à OMT nessa empreitada a partir do momento que poderá organizar diversos tipos de encontros, gerando empregos, movimentando a economia e os negócios, implementando práticas sustentáveis, bem como trazendo informações atualizadas para toda a humanidade. Saiba mais No site da OMT, é possível verificar os países associados, bem como as metas da Agenda 2030. Acesse: https://www.unwto.org/ A Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA) surgiu em 1963 e desde então tem a função de concentrar todos os atores envolvidos em reuniões internacionais, sejam eles prestadores de serviços, cidades ou países. Com sede na Holanda, atualmente contempla cerca de 1100 associados, representantes de mais de noventa países. No caso do Brasil, os membros associados à ICCA são destino Salvador, Embratur, Convention Bureau do Rio de Janeiro e centros de convenções de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu. A entidade procura dar suporte aos seus associados, indicando as potencialidades de cada destino para sediar eventos, indicando os espaços físicos que comportam o perfil de cada evento, apresentando estatísticas do setor, identificando empresas que lidam com marketing de destinos, listando empresas de transporte e hospedagem de participantes e palestrantes e oferecendo capacitações personalizadas aos seus associados. A ICCA também auxilia os associados com dicas e ferramentas tecnológicas para melhorar suas reuniões, comparar possíveis destinos-sede, encontrar fornecedores cadastrados no mailing, além de oferecer consultoria para projetos de reuniões futuras. Tudo isso para melhor assistência aos envolvidos com eventos. 20 Unidade I Saiba mais A página da ICCA informa todos os prestadores de serviços associados, as pesquisas do setor de reuniões internacionais e ferramentas facilitadoras do trabalho dos associados. Acesse: http://www.iccaworld.org A Federação de Entidades Organizadoras de Congressos e Afins da América Latina (Cocal) tem sede na Argentina e surgiu em 1983. Ela dá suporte à cadeia de eventos da América e sua intenção é projetar a competitividade para o resto do mundo. A empresa associada tem como benefícios oferta de cursos técnicos para o setor, assistência jurídica e acesso às normas e princípios éticos. No Brasil, a associada a essa entidade é apenas a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC). Há um congresso anual que ocorre desde 1980, a Cocal traz atualizações e tendências dos eventos na América e no mundo. A entidade também disponibiliza o calendário de grandes eventos pelo mundo, para que o setor possa acompanhar e até mesmo, fazer negócios. Saiba mais A Cocal apresenta as ações aos associados em sua página. Acesse: www.cocal.org Outra organização de destaque é a Bureau International des Expositions (BIE). Sua atuação partiu da necessidade de garantir a qualidade das exposições, que eram muitas na época; então, a partir de 1931, passou a estabelecer normas e regulamentação de direitos e deveres aos países que desejassem sediar as quatro principais Expos. Atualmente, sua sede é em Paris e conta com 170 países membros. As exposições assessoradas pela BIE estão no quadro: Quadro 2 – Exposições mundiais da BIE Exposição Descrição Exposições mundiais 1851, com o objetivo de apresentar a capacidade de produção Exposições especializadas 1936, com escolha do tema de acordo com a situação momentânea da humanidade Exposições de horticultura 1960, contempla soluções da indústria agrícola, produtores de horticultura e o estilo de vida saudável Trienal de Milão 1933, voltada para arquitetura, design e artesanato e retrata a relação entre sociedade, economia e arte Tais exposições seguem os padrões estabelecidos pelo comitê da BIE quanto a periodicidade, local, tamanho, instalações, escolha do tema. 21 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS Saiba mais Os detalhes de cada exposição poderão ser consultado no seguinte site: https://www.bie-paris.org/site/en 1.2.2 Associações nacionais A União Brasileira de Promotores de Feiras (Ubrafe) representa o sistema expositor do Brasil, isto é, empresas promotoras de feiras e exposições que realizam grandes eventos, movimentando a economia do país. A União é responsável por acompanhar os interesses dessas empresas, bem como as necessidades específicas de eventos de grande porte. Atualmente a Ubrafe abrange cerca de 100 mil marcas nos eventos de vários setores da economia e conta com cerca de 35 associados. Seu principal material é o calendário anual de feiras e exposições nacionais; é também de sua responsabilidadea divulgação de dados estatísticos sobre os eventos de negócios das associadas, que movimentam significativamente a economia do país. Saiba mais Para conhecer as principais feiras do Brasil, basta acessar o site: https://www.ubrafe.org.br/ A Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc) atua desde 1977 para seus quinhentos associados, que são empresas organizadoras, promotoras e prestadoras de serviços do setor. Ela intercede nas parcerias técnicas entre associados e auxilia na intermediação política da categoria. Seus canais de comunicação ficam disponíveis para a divulgação das empresas associadas e estas podem se utilizar do logotipo da entidade para lhes dar maior credibilidade. A Abeoc busca promover debates e eventos de atualização para seus integrantes, além de publicar estatísticas sobre o setor de eventos. Saiba mais A página da Abeoc traz notícias do setor e oferece cursos de qualificação para associados. Acesse: https://abeoc.org.br/ 22 Unidade I O Brasil Convention & Visitors Bureau tem por objetivo representar os interesses dos associados nos segmentos de turismo e hospitalidade. É aceito o vínculo apenas com escritórios Convention & Visitors Bureau instalados em território nacional. A organização intermedeia a troca de experiência entre os escritórios, além de auxiliar o poder público na tomada de decisão em relação aos rumos do turismo de eventos. Os Convention & Visitors Bureaux (CVBx) são estruturas independentes, não governamentais, apartidárias, sem fins lucrativos, com a missão de promover o desenvolvimento econômico e social do destino que representa, através do incentivo e fomento da indústria do turismo (HISTÓRIA, [s.d.]). Cada escritório sem fins lucrativos tem a missão de captar e promover eventos na região, gerando atividade turística. Os destinos podem estar em desenvolvimento turístico ou já estarem consolidados. Essa proposta parte de uma visão mais abrangente dos agentes do turismo de uma localidade que entendem que não basta o lucro próprio de sua empresa se a cidade está degradada. Há escritórios distribuídos por todo o território, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Distrito Federal. Dentro de cada Estado, há ainda escritórios locais que representam uma região menor, para serem mais efetivos, como os exemplos a seguir. Quadro 3 – Convention & Visitors Bureaux Regionais Convention & Visitors Bureau Localidade Terras Altas São Carlos e região – SP Santos Santos e região – SP Salvador Salvador e Litoral Norte – BA Ouro Preto Ouro Preto e Circuito do Ouro – MG Juiz de Fora Juiz de Fora e Região – MG Montanhas Capixabas Domingos Martins e Região – ES Litoral Piauiense Delta do Parnaíba e Lençóis Maranhenses – PI O importante dos escritórios é fomentar a região com potencial para o turismo, mais especificamente para o turismo de eventos; o agrupamento de cidades fortalece as ações do setor. Saiba mais Os escritórios existentes para captação de eventos podem ser mapeados no site: https://brasilcvb.com.br/ A Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta) representa o setor de eventos corporativos, sociais, os prestadores de serviços de buffet e as montadoras de estandes. Ela engloba todos os serviços: 23 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS alimentação, transporte, agência de viagens, vestuário, decoração, som e iluminação e procura dar credibilidade ao cliente por apresentar mais de setenta fornecedores de qualidade. Com foco maior em eventos sociais, a entidade tem como objetivo estruturar esse mercado, tornando-o cada vez mais técnico, profissional, com normatização e regulamentação. Saiba mais A Abrafesta é uma das poucas entidades que abarca o segmento de eventos sociais. Acesse: https://abrafesta.com.br/ As entidades não param por aqui. Esse levantamento foi apenas uma breve explanação sobre os mecanismos do setor. Exemplo de aplicação São muitas as entidades que representam o setor de eventos em território nacional e globalmente. Da lista de instituições, escolha uma delas e consulte no site próprio se há pesquisas estatísticas disponíveis. Observe qual o objetivo da pesquisa, qual o período considerado e seus principais resultados. 2 HISTÓRICO DOS EVENTOS Todo indivíduo ao longo de sua trajetória participa de eventos, sejam eles por motivos de trabalho, por atualização pessoal ou por simples comemorações sociais. Mas você já parou para pensar por que essa prática é tão comum? Por que as pessoas procuram por eventos ou do que elas se beneficiam? Evento é uma reunião de pessoas que desejam vivenciar um tema para alcançar seu objetivo. Significa que as pessoas se agrupam porque querem experienciar um determinado assunto e colher um resultado para si ao final desse acontecimento. De acordo com o dicionário Luft (2009, p. 310), a palavra evento significa “acontecimento”. Nesse sentido, pode-se ter eventos organizados de forma amadora, sem a técnica profissional; e eventos organizados por profissionais da área. Mas em quantos eventos uma pessoa chega a participar ao longo da vida? A humanidade tem cada vez mais necessidade de se atualizar, para isso busca informações nos eventos. Além disso, ela tem como característica inata a necessidade de se socializar, conviver em grupo. Para entender o início do fenômeno dos eventos, serão apresentadas algumas possíveis raízes ao longo da história. 24 Unidade I 2.1 Primeiros registros no mundo Na história da humanidade, observa-se uma movimentação de pessoas se reunindo para vivenciar um tema e alcançar um objetivo, como, por exemplo, ocorria com o homem primitivo. Ele se deslocava em busca de uma presa, normalmente estava acompanhado para ter auxílio no transporte da caça e, por fim, reunia um pequeno grupo de pessoas para compartilhá-la em volta de uma fogueira. Mas, veja, de acordo com a situação narrada, pode-se dizer que o homem primitivo realizava eventos? Não, porque, embora os primitivos se agrupassem no mesmo local para vivenciar o momento da caça como alimento, alcançando o objetivo da refeição, não existia o fenômeno ou o termo “evento” nessa época. A autora Marlene Matias (2013) discorre sobre os momentos que marcaram os eventos ao longo da história, que serão apresentados a seguir. O primeiro registro de evento aconteceu com os Jogos Olímpicos, em 776 a.C. Não se tratava simplesmente de uma disputa esportiva; o evento tinha cunho religioso e era instituída trégua nos combates pelo período do evento. O interessante é que os homens tinham palavra e realmente respeitavam essa trégua. Que bom seria se os eventos de hoje preservassem tal característica pelo período de realização; os países que estão em guerra agradeceriam os momentos de trégua. Matias também explica que as Festas Saturnálias de 500 a.C. dariam origem ao que se conhece como Carnaval. E o primeiro evento intitulado congresso (377 a.C.) reuniu delegados de cidades gregas para discutirem sobre a luta contra a Pérsia, ocorreu de forma muito simplificada e seria retomado em 1815 em Viena. Figura 1 – Estádio Panatenaico de atletismo situado em Atenas, um dos mais antigos do mundo Observação Embora o evento fosse denominado congresso, suas características condizem com as da assembleia, por reunir representantes de cidades para decidirem sobre um assunto. 25 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS Outro período importante para os eventos foi a Idade Média (476 d.C. a 1453), com a realização de diversos concílios encabeçados pela Igreja, nos quais os presentes deliberavam questões sobre doutrina e fé cristã. Havia também muitas peças teatrais que retratavam momentos das missas. 2.1.1 Feiras comerciais No quesito feiras comerciais, a Idade Média também era protagonista, realizando feiras de rua, nas quais as pessoas se deslocavam para participar e trocarem seus produtos como alimentos, vestuário, artesanato. A feira regular mais antiga registrada fora a da região de Champagnena França (427 d.C.), mas o evento tinha abrangência internacional. Cada edição durava entre 6 e 7 semanas e reunia produtos da Europa, África e Oriente para as ricas famílias visitantes (MATIAS, 2013). Observação Atualmente, são raros os eventos que duram sete semanas; eles estão concentrados na categoria artística como, por exemplo, mostras de pintores renomados. A duração mais comum dos eventos é de 1 a 15 dias; em vez de serem mais longos, é preferível repeti-los em um período mais curto. A época da Revolução Industrial aqueceu o mercado de feiras, uma vez que se tinham novas mercadorias para serem trocadas, aumentando o fluxo de viajantes a fim de fazerem negócios. Galpões foram construídos para atender às necessidades de feiras e exposições da época. A primeira feira de Portugal data de 1776 e apresentou produtos industrializados nacionais. Em 1797, a França realizou uma feira de tapeçaria (MATIAS, 2013). Em 1851, o Palácio de Cristal, construído na Inglaterra, foi considerado o primeiro pavilhão de feiras e exposições do mundo, isto é, um espaço físico permanente para receber eventos de grande porte. Observação Os registros históricos não são muito claros na diferenciação do conceito entre feiras e exposições nessa época. Já que as feiras eram acontecimentos que traziam lucros, novidades, novos negócios e informação, outros países da Europa foram desenvolvendo calendários com suas próprias feiras. Com o grande número de realizações, o Bureau International de Expositions (BIE) estabeleceu em 1931 uma diferenciação nos termos feira: feira geral era aquela que apresentasse o progresso humano em diversas áreas e feira especial “era aquela que apresentasse os avanços da ciência (MATIAS, 2013). 26 Unidade I Em 1894, registra-se a primeira Feira de Amostra na Alemanha, com o objetivo de expor os produtos industrializados. Em 1904, foi a vez de Paris; em 1915, da Inglaterra; e, em 1935, da Itália. Todos os locais com Feiras de Amostra apresentando produtos próprios (MATIAS, 2013). Com o advento da Segunda Guerra de 1939 a 1945, as feiras foram suspensas, sendo retomadas nos países europeus após esse período, como forma de gerar receita para a reconstrução da região. 2.1.2 Eventos técnicos e científicos De acordo com Matias (2013), o primeiro congresso na categoria científica foi sediado em Roma, para o público de Medicina em 1681. Já o primeiro congresso técnico registrado na história ocorreu em Viena, em 1815, para os países europeus discutirem a redistribuição das terras conquistadas por Napoleão. Se você analisar, a realização de eventos técnico-científicos tornou-se ainda mais frequente a partir da Revolução Industrial (1760), quando houve realmente uma mudança no cotidiano das pessoas no sentido de substituição da mão de obra humana por maquinários, a introdução dessa tecnologia foi bastante discutida em encontros. Embora não haja muitos registros sobre os eventos técnicos e científicos, vale destacar que Thomas Cook – personagem muito importante na história das agências de viagens – foi o pioneiro das viagens organizadas e, em 1841, levou 570 pessoas para o Congresso Antialcoólico em Leicester e Loughborough. 2.1.3 Exposições universais Na linha do tempo não se pode deixar de comentar sobre as exposições. Ao contrário de feiras, as exposições têm o objetivo de apresentar produtos e serviços apenas para sua divulgação. O primeiro registro de evento desse tipo foi a Exposition des Produits de L’Industrie em 1798 na França (MATIAS, 2013). Todavia, vale destacar aqui a história das exposições universais. A autora Sandra Pesavento (1997) explica que as Exposições Universais eram eventos que reuniam todas as nações convidadas, as quais tinham a oportunidade de criar alianças ao longo da realização. Objetivavam apresentar a capacidade técnica produtiva de cada país, com produtos novos e úteis, podendo ser equipamentos ou acessórios que facilitassem o cotidiano das pessoas. Era também uma forma de incutir a ideia de que a sociedade industrializada era o caminho para a felicidade e de identificar o que cada país prospectava para seu futuro, o que pretendia aplicar nos anos seguintes. A primeira Exposição Universal foi inaugurada em 1851 em Londres, com a participação de 25 países, 13 mil expositores e a presença de seis milhões de visitantes (A EXPOSIÇÃO..., 2020). Em comemoração à exposição, Joseph Paxton construiu um edifício de ferro e vidro, o Palácio de Cristal, que demonstrava avanços tecnológicos quanto ao uso desses materiais para a confecção rápida e fácil de estruturas. Foi um sucesso e, ao término do evento, o palácio foi desmontado e realocado no Sydenham, onde permaneceu até 1936, quando um incêndio destruiu suas instalações por completo. 27 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS Saiba mais O Palácio de Cristal foi bastante simbólico para a história da Inglaterra e para os eventos no mundo. Leia: A EXPOSIÇÃO Universal de Londres de 1851 e o Palácio de Cristal. Biblioteca Nacional, 1º maio 2020. Disponível em: https://www.bn.gov.br/ acontece/noticias/2020/05/exposicao-universal-londres-1851-palacio- cristal. Acesso em: 28 out. 2020. Figura 2 – Palácio de Cristal de Londres Observe que em várias edições foi utilizado algum elemento atrativo, dando o caráter de entretenimento para o evento. Além disso, foram inaugurados monumentos que se tornaram pontos turísticos das cidades. Então, se você lida com a área da hospitalidade, é interessante tomar conhecimento da história dessa exposição. Observação Você sabia que o Brasil também possui um Palácio de Cristal? Construído em 1884 a pedido do Conde D’Eu, com o objetivo de sediar exposições de produtos hortícolas, a estrutura passou por vários momentos ao longo de sua história e até hoje é destaque turístico da cidade de Petrópolis – RJ. A edição de 1855, em Paris, destacava o culto às máquinas e a propaganda expunha os produtos da melhor forma para serem aceitos e consumidos posteriormente. 28 Unidade I Na exposição de 1862, Londres convidou o Brasil para participar. A princípio, o convite era inviável devido ao curto tempo para organizar a sua atuação. Mas o que o país divulgaria como capacidade de produção? Foi então que se organizaram exposições regionais e foram coletados os melhores produtos para representar o Brasil. Sua participação internacional equiparava-o à dos países europeus, mostrando que o desenvolvimento era possível. Muitas alianças entre nações surgiam no pós-evento. A Exposição Universal de 1867, na França, também contou com a participação do Brasil, que não tinha muita capacidade industrial, mas como país predominantemente agrícola, expôs café, madeira e algodão. As atrações se intensificavam: cafés-concerto, restaurantes de comidas típicas e passeio de bateaux-mouches para os sightseeing no Sena. Veja que esses elementos atribuíam à exposição um caráter festivo e de espetáculo, reforçando a necessidade humana de entretenimento. Além disso, via-se grande circulação de nacionalidades entre os sete milhões de visitantes, pois havia pessoas vendo, pela primeira vez, turcos ou japoneses. Pesavento (1997) segue descrevendo a edição de 1873 em Viena, com destaque à instalação de uma roda-gigante no Prater; e, em 1876, na Filadélfia, o evento foi marcado com o centenário da Independência dos Estados Unidos. Nessa edição, o Brasil apresentou suas riquezas naturais e, como curiosidade, D. Pedro II foi um dos primeiros compradores do aparelho telefônico. A exposição de 1878 em Paris teve como destaque o advento da eletricidade. E, na mesma cidade, a edição de 1889 foi popularizada, não atraindo apenas a elite. Ocorria a celebração do centenário da Revolução Francesa; o engenheiro francês Gustave Eiffel construiu sua torre utilizando componentes de aço e ferro forjado pré-fabricados, essa estrutura artificial foi considerada a mais alta do mundo durante 40 anos. Mas nem era para a torre permanecer erguida, contrariamente ao que ocorreu, poisali se estampava o progresso e a criação de formas atrativas de diversão. Figura 3 – Construção da Torre Eiffel, 1889 29 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS Outra sensação da exposição de 1889 foi o balão cativo – ancorado por cordas – que dava ao visitante a oportunidade de visão panorâmica da cidade, e também os alemães Daimler e Maybach, que exibiram um veículo a motor. Em termos de organização de eventos, essa edição deu ao visitante a possibilidade de visitação noturna, com show de luzes próximo à Torre Eiffel (BARBUY, 1999). Observação A característica do funcionamento do evento em horário noturno é aplicada até hoje em qualquer tipo de evento, mas principalmente em feiras e exposições. A realização de 1893, em Chicago, contou com a participação do Brasil, que mesmo estando em um momento delicado de transformação de monarquia para república, participou com alguns produtos, mas o destaque foi para o café cultivado na cidade de São Paulo. A nova regra da organização abria os portões também aos domingos, sendo mantida até hoje. Houve apresentação de dança do ventre vinda do oriente, o destaque foi o conjunto arquitetônico de edifícios brancos dispostos em série e ao longo dos canais, com estilo semelhante ao greco-romano (PESAVENTO, 1997). Em 1900, a Exposição Universal em Paris marcou a presença da bicicleta la petite reine, o cinematógrafo e o automóvel como explicação dos motores de combustão interna. Na época, já ocorria a exposição somente de automóveis na França (PESAVENTO, 1997). Desde o início, observa-se que as Exposições Universais sempre tiveram o caráter de apresentação de progresso e capacidade industrial. Entretanto, o próprio público passou a procurá-las, motivados pela diversão. As exposições da fin de siècle se renderam, pois, ao primado do lazer. Com o tempo, a missão pedagógica do evento se juntou com o aspecto lúdico, que tendeu a dominar. A superposição de uma função sobre a outra não alterou a essência do aspecto fantasmagórico das exposições (PESAVENTO, 1997, p. 52). Isso pode ocorrer com qualquer evento, ou seja, sua concepção tem uma finalidade, mas com o passar do tempo ou devido à necessidade do próprio visitante, o evento abarcou participantes com outros propósitos. Com o período da Primeira Guerra Mundial gerando conflito globalizado, as Exposições Universais foram suspensas, afinal, como reunir as nações em pleno combate? Depois disso, o retorno do evento ganhou nova configuração, ficando menor e tornando-se mais especializado. Os países foram optando por realizar seus próprios eventos, voltados para um único produto, nos moldes como ocorrem hoje em dia. A edição seguinte foi em 1929 e ocorreu em Barcelona. A partir de 1996, a nomenclatura das Exposições Universais passou para Expo Mundial (MATIAS, 2013). E mesmo diante de tantas modificações, o evento ainda sobrevive. As duas últimas edições que se tem 30 Unidade I registro foram as de Xangai em 2010 e de Milão em 2015. Na cidade chinesa, bateu o recorde de pessoas foi batido, atraindo 73 milhões de visitantes. Já, na Itália, participaram 20 milhões de pessoas. Tais edições procuraram abordar a sustentabilidade, a sobrevivência no planeta e as conexões entre povos (SANJAD, 2017). A cidade de São Paulo se candidatou, com Dubai (Emirados Árabes Unidos), Esmirna (Turquia), Ayutthaya (Tailândia) e Yekaterinburg (Rússia), para sediar a edição da Expo 2020, mas o país árabe saiu na frente. O tema da cidade brasileira apresentado foi “Força da diversidade, harmonia para o crescimento” e seria construído um complexo de eventos de 5 milhões de metros quadrados no bairro de Pirituba, além de uma torre com mirante, ícone do evento que se tornaria permanente para visitação de turistas (G1, 2013). Se a história das Exposições Universais fosse linear, ou seja, sem contratempos, deveria ocorrer a cada cinco anos, com duração média de seis meses; porém, quando ocorrem fatos mundiais – guerras ou pandemias – que abalam a estrutura da organização, essa regularidade deixa de existir, como ocorreu com a edição 2020 de Dubai, suspensa devido ao isolamento social pelo vírus Sars-CoV-2. Mas seja a qualquer tempo, a história do evento sempre busca retratar o olhar da sociedade sobre o mundo e sobre as relações humanas. Lembrete A característica de funcionamento da Exposição Universal de domingo começou com a realização de 1893 em Chicago e é mantida até hoje, facilitando a presença do público. 2.2 O século XX Os eventos são acontecimentos que estabelecem uma temática e agregam pessoas que desejam experienciá-la. A escolha por cada assunto sempre revela tendências da sociedade. Uma parte do século XX foi relatada nas Exposições Universais, mas esse tópico agregará outros elementos ao período. Serão destacados alguns fatos da história que demonstram a oportunidade para fazer cada vez mais eventos. Após o término da Primeira Guerra Mundial em 1918, os Estados Unidos se destacavam como superpotência mundial, com crescimento econômico e consumo desenfreado de produtos e concedendo empréstimo aos países europeus que tentavam se reerguer. Só que a excessiva produção de mercadorias não pode ser consumida pelo mundo, e o grande número de ações colocadas à venda simultaneamente na bolsa de Nova York levou à quebra da economia americana. Tal fato repercutiu negativamente no resto do globo. A partir dos anos 1930, muitos governos totalitaristas se solidificaram na Europa, como o fascismo na Itália liderado por Benito Mussolini e o nazismo na Alemanha liderado por Adolf Hitler. E o mundo caminhava para a Segunda Guerra Mundial, que duraria de 1939 a 1945. 31 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS Se, por um lado, o ser humano vivia em disputa pelo poder no século XX, por outro, a população buscava novos assuntos, novas formas de diversão para esquecer tal adversidade. Nos meios de comunicação despontavam a telefonia, o rádio e o cinema com som; a ciência apresentava a teoria da relatividade de Einstein, a teoria da psicanálise com Freud, o antibiótico penicilina com Fleming e a chegada do homem à Lua. Na música e dança, surgiam novos estilos como jazz, tango e swing; e na pintura e escultura, retratavam-se as novas formas de se ver o mundo sob diversos ângulos, com jogos de cores e a brincadeira entre formas e elementos abstratos. O comportamento da mulher também mudou consideravelmente, pois conquistou muitos direitos, como o voto e o trabalho fora de casa. Isso também interferiu na moda feminina, com a possibilidade de roupas mais confortáveis, peças práticas como sutiã e calça, maquiagem intensa e cortes de cabelos mais curtos e ousados. Você acha que o século XX foi marcante? Cada assunto anteriormente citado foi motivo para realização de novos eventos. Todo indivíduo precisa se atualizar, acompanhar tendências, mudar a forma de pensar e criar novos hábitos. Então, para cada mudança nas relações humanas, se faz necessário um encontro entre pessoas para informação e discussão de novos parâmetros. Os eventos do século XX foram de toda ordem: desde comemorações festivas, eventos desportivos – Jogos Olímpicos e Copa do Mundo – até congressos técnico-científicos, palestras, feiras e exposições. E o que muda no atual século XXI? As questões de guerra entre nações e crise econômica mundial ainda se repetem. A tecnologia toma conta das relações, sejam elas no ambiente corporativo ou pessoal; há uso excessivo de computadores, tablets, celulares para otimizar o tempo e facilitar a produção e o consumo. As pessoas se relacionam em ambientes virtuais por meio de redes sociais, ampliando o número de contatos pelo mundo todo. Há preocupação cada vez maior com o meio ambiente, pois alguns recursos estão se extinguindo e o desenvolvimento sustentável do planeta não está sendo efetivo. Tem-se então uma outra gama de assuntos que reafirmam a necessidade cada vez maior de se realizar eventos pela sociedade. 2.3 Registros dos eventos no Brasil Há evidências de outros tiposde eventos no Brasil que, da mesma forma que na Idade Média, realizava feiras de rua, nas quais os produtores colocavam suas barracas para comercializar todo tipo de item: vestuário, hortifruti, carnes, grãos. Elas ocorriam aos domingos ou em dias de comemorações religiosas. Marcavam presença também os artistas com poemas, histórias e canções (MATIAS, 2013). A feira mais antiga registrada foi no Rio de Janeiro. Hoje, esse modelo se assemelha à feira livre de rua que ocorre semanalmente nos diversos bairros das cidades brasileiras oferecendo principalmente hortaliças, frutas e legumes. 32 Unidade I Lembrete Como descrito anteriormente, o Brasil atuou como expositor nas Exposições Universais desde 1862 em Londres, mesmo sem ter muita experiência. O primeiro evento ocorrido em espaço físico específico foi o baile de carnaval no Rio de Janeiro em 1840. De 1861 a 1875, foram organizadas exposições regionais com o objetivo de se eleger os produtos que representariam o Brasil nas Exposições Universais desse período. Até então, o país apresentava pouco know-how enquanto organizador de eventos; muitas tentativas, acertos e erros nas organizações nacionais e nos eventos internacionais. Em 1922 o Brasil passa a desempenhar um trabalho mais profissional na organização da Exposição de Comemoração do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro. O evento teve duração de cerca de 10 meses, com a participação de 14 países expositores e mais de 3 milhões de visitantes (MATIAS, 2013). O hotel Copacabana Palace, inaugurado em 1923, sediou muitos eventos em seu espaço físico. O mesmo período de estagnação que acometeu o mundo, devido à Segunda Guerra, também afetou o Brasil. Exemplo de aplicação Você reparou quantas vezes o Rio de Janeiro foi protagonista de eventos? Por que a cidade não ficou mais conhecida como a capital dos eventos? São Paulo nem apareceu nesse percurso, mas hoje é a capital dos eventos e negócios. Em comemoração aos 400 anos da cidade de São Paulo, foi inaugurado o Parque do Ibirapuera na zona sul da cidade, um complexo formado por áreas verdes, museus e pavilhão para eventos (MATIAS, 2013). Ocorreram várias feiras no local até a inauguração do Complexo Anhembi, em 1970, com 400 mil metros quadrados, na zona norte da cidade. Esse espaço fora construído especialmente para realizações e proporcionava a possibilidade de receber eventos de grande porte com pavilhão, auditório e sala de reuniões. Na história dos eventos no Brasil, há um personagem que merece destaque, Caio de Alcântara Machado, um visionário para seu tempo. Nos anos 1950, Caio trabalhava em uma das poucas agências de publicidade do país, mas era muito bem relacionado, com grande rede de contatos e grandes ideias. Ele conseguiu fazer com que o Brasil tivesse sua primeira participação na US World Trade Fair em 1956 (SÃO PAULO TURISMO, 2010). Como Caio viajava muito para Estados Unidos e Europa, acompanhava as feiras comerciais internacionais e ponderava se esse formato de evento não daria certo no Brasil. Começou então a amadurecer a ideia. 33 ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS O momento político também era propício, pois o presidente Juscelino Kubitschek – governo de 1956 a 1961 – queria trazer desenvolvimento econômico e social para o país, o famoso “cinquenta anos em cinco”. Assim, o cenário para sediar feiras comerciais viria a calhar nessa empreitada. Em 1958, Caio decidiu então inaugurar a primeira Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit) com o objetivo de reunir tecelagens e empresas afins, fato que não surtiu muito efeito, pois os próprios fabricantes não acreditavam na ideia de expor seus produtos juntos a seus concorrentes (SÃO PAULO TURISMO, 2010). Mesmo assim, o publicitário apostou em outros dois projetos: a Feira da Mecânica, em 1959; e o Salão do Automóvel, em 1960. Esses eventos iniciaram no Pavilhão do Parque Ibirapuera, enquanto não existia o Pavilhão do Anhembi. Caio foi apurando sua visão sobre as feiras comerciais e adaptou-as para a realidade brasileira, desenvolvendo as seguintes premissas: para que uma feira desse certo, precisaria ser realizada em grandes centros urbanos que tivessem parque industrial, ser feita por três anos consecutivos e não negociar seu valor de metro quadrado. O centro urbano de uma cidade concentra grande número de empresas, prestadores de serviços, além de muitas pessoas circularem nele. Logo, para uma feira, torna-se mais fácil contratar fornecedores e garantir o mínimo de participantes – que já é bastante –, pelo menos aqueles que residem na cidade. Quanto aos anos consecutivos, Caio entendia que a proposta de uma feira, ainda novidade para a população, deveria ter sua marca registrada na mente coletiva. Exemplo de aplicação Você sabe dizer de quanto em quanto tempo ocorre o Salão do Automóvel? Se você respondeu anualmente, pense melhor. O salão ocorre a cada dois anos. Então, a estratégia de marketing era realizar o evento uma vez por ano, durante três anos consecutivos para que os visitantes registrassem a marca. Após esse período, seria avaliada a necessidade do evento, ou seja, se os produtos ou serviços expostos deveriam ser apresentados uma vez por ano ao seu público ou se poderia ser a cada dois anos e assim por diante. Caio também se preocupava em não desgastar a marca, pois se repetisse o evento em curtos espaços de tempo, o público poderia se desinteressar pelo acontecimento. Sobre o valor do metro quadrado, está vinculado à marca do evento. Então o fato de se conceder descontos ou fazer valores promocionais acabavam por desvalorizar a marca. Isso fazia com que as feiras de Alcântara Machado fossem muito procuradas pelos expositores, pois agregavam valor às respectivas empresas. Observe que muitos desses argumentos são válidos até hoje para esse veículo de comunicação dirigida que é o evento e, assim, registra-se a importância do personagem Caio de Alcantara Machado na história dos eventos do Brasil. 34 Unidade I Resumo O homem precisa cada vez mais interagir com outros indivíduos para se comunicar e, por isso, os eventos tornam-se uma ferramenta relevante. Eles são importantes geradores de receita e emprego, ainda que temporários. É interessante para uma cidade ou país receber diversas realizações, influenciando positivamente no seu índice de produtividade. Os eventos estão inseridos na área da hospitalidade e são parte dos três domínios – social, privado e comercial. Encaixam principalmente no domínio comercial, quando o participante paga ingressos ou inscrições para o evento. Na relação com o turismo, os eventos podem ser o próprio atrativo capaz de deslocar fluxo de pessoas para visitar a cidade-sede; é o que ocorre com grande parte de eventos no Brasil e no mundo. Outro componente da hospitalidade que se relaciona com os eventos é o agenciamento. As agências de viagens oferecem ao cliente o serviço de reservas de passagem aérea e de hospedagem para palestrantes e convidados VIP quando a despesa é de responsabilidade do próprio cliente. Elas também providenciam guias de turismo para acompanhar os participantes. Os eventos também se correlacionam com os meios de hospedagem no momento que os utilizam para acomodar palestrantes e participantes vindos de outros estados e países. O transporte é peça essencial na realização de eventos, responsável pelo transporte aéreo de palestrantes e convidados VIP, pelo transporte de equipamentos e estruturas para a montagem do local e pelo deslocamento de participantes e palestrantes dentro da cidade. Os elementos de entretenimento são amplamente explorados nos eventos, pois são capazes de aumentar o número de participantes, os quais os encaram muitas vezes como uma festa. No quesito representatividade, o setor de eventos possui entidades internacionais – ICCA, Cocal, BIE; e nacionais – Ubrafe, Abeoc, Convention & Visitors Bureaux, Abrafesta – que procuram direcionar suas ações para legislação, regulamentação, capacitação e
Compartilhar