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Grandes Culturas 2 Aula 3– Feijão-caupi (Vigna unguiculata) Implantação da cultura do Feijão-caupi Clima - Ampla adaptação: podendo ser cultivado para produção de grãos no Brasil, tanto no clima seco do NE, como no clima úmido do Norte. - Sorriso, no MT é a cidade de maior produção de feijão-caupi. - Estas regiões, com características edafo-climaticas diferentes (o Norte, bastante úmido e o Nordeste com o semiárido e o sertão seco) enquadram-se na fase de temperatura ideal (18 a 37°C) para o desenvolvimento do Caupi. - Necessita de chuvas moderadas e dias bem ensolarados, chuvas em excesso são desfavoráveis, pois a umidade provoca o apodrecimento das folhas e vagens e torna a planta mais susceptíveis ao ataque de pragas e patógenos. Temperatura - Pode ser cultivado numa faixa de 18 a 37°C (ótimo +/- 28°C). A temperatura influencia, principalmente, o desenvolvimento vegetativo, a floração e a atividade do Rhizobium afetando a nodulação da FBN. - Temperatura baixa (< 18°C) prolonga o desenvolvimento vegetativo, aumentando consideravelmente o ciclo da planta, facilita o ataque de viroses e de outras doenças, e atrasa o início da floração. - Temperatura elevada (> 37°C) provoca a queda das flores e diminuiu o número de plantas com nódulos e o número de nódulos por planta. - A faixa de 24 a 33°C é a mais apropriada à formação de nódulos. - A temperatura ideal para o Phaseolus vai de 10 a 25°C. Há, no entanto, variedades que podem ser cultivadas acima de 35°C sob regime de irrigação. O Phaseolus requer temperatura noturna baixa (< 20°C), por isto não produz bem no NE, se verificando abortamento de flores. - Na Bahia existe regiões onde se tem uma produção de Phaseolus devido duas temperaturas mais amenas. Precipitação - O caupi é muito resistente à seca, principalmente as cultivares ramadoras, sendo que o excesso de chuvas é mais prejudicial do que a escassez. - A deficiência hídrica afeta a planta reduzindo o seu potencial de produção principalmente se ocorre na fase de floração e enchimento de frutos. - O período crítico de exigência de água vai de uma semana antes da floração até a frutificação plena. - Precipitação em torno de 50mm por mês são suficientes para o desenvolvimento da cultura se o solo tem boa capacidade de armazenamento d’água. - A quantidade dos grãos é melhor quando na maturação não chove e a colheita é feita em dias secos e sem excesso de umidade no solo. Luz - As variedades cultivadas nas regiões tropicais são indiferentes ao comprimento do dia (fotoneutras). - O fotoperíodo que influencia a indução do florescimento de diferentes cultivares do Caupi encontra-se na faixa entre 8 e 14 horas. - O feijão é pouco sensível ao fotoperíodo, mas pequena intensidade de luz causa a deformação do porte, provocando alongamento dos internos (estiolamento). - Prejudica, também, a floração. Solo - O Caupi produz em vários tipos de solo, dependendo da cultivar utilizada, pois o germoplasma disponível tem mostrado diversos tipos de comportamento, havendo cultivares que exigem condições específicas de solo e outras adaptadas a amplas faixa de variação. - Apesar da versatilidade do caupi quanto ao solo, deve-se evitar áreas que apresentem excesso de umidade, ou solos demasiado argilosos. - Diversas pesquisas têm mostrado que o caupi possui determinada tolerância à solos ácidos. - Solos com pH superior a 5,5 são considerados bons para a cultura. Já o Phaseolus é menos tolerante, exigindo pH na faixa de 6,5 a 7. Preparo do Solo - As culturas anuais têm necessidade de serem semeadas em solo bem preparado para atingir altas produtividades. Vantagens do bom preparado do solo: · Aumenta a velocidade de emergência e garante bom “stand”; · Melhora o desenvolvimento do sistema radicular; · Aumenta a capacidade de absorver/ nutrição da planta; · Diminui a incidência de ervas invasoras; · Possibilita tratamento dos restos da cultura anterior; · Elimina parte das pragas do solo e das pragas em hibernação no solo. - Tipo: Preparo convencional, preparo mínimo e plantio direto. - No Mato Grosso é utilizado o Plantio direto. - Dentro de cada método existem diversos sistemas de preparos ou sequências de operações que podem ser empregadas. Sistema convencional Aração- arado de disco ou aivecas; Gradagem- grandes aradoras: · Após a aração; · Antes da semeadura Cultivo mínimo - Sistema reduzido de preparo do solo - É um sistema intermediário entre o convencional e o plantio direto - No cultivo mínimo, o preparo do solo é minimizado pelo menor uso de máquinas ou substituição de implementos. - Há um revolvimento mínimo do solo e a manutenção dos resíduos vegetais, utilizando-se, apenas, escarificação e gradagens leves. Plantio direto - O plantio direto pressupões a utilização de equipamentos especiais e o uso de herbicidas específicos de pós-emergência. - No caupi vem sendo mais empregado nos últimos anos devido a entrada do caupi no sistema de rotação de culturas da soja no cerrado brasileiro. - Mas a nível nacional, o PD ainda é pouco empregado na cultura do caupi devido à baixa tecnificação nas regiões de maior produção. Adubação mineral - Com adubação mineral consegue-se aumento significativo na produção do caupi. É empregada basicamente pelos grandes produtores (tecnificado). - No entanto, quase não se usa fertilizantes pelos pequenos agricultores no NE porque: · É cultivado por agricultores de baixa renda e baixo nível de escolaridade. · Corre risco com relação a muita ou pouca chuva e também ao preço. · Sabe-se que o caupi é uma planta regenerativa do solo, devido à simbiose de suas raízes com as bactérias do gênero Rhizobium, fixadoras de nitrogênio atmosférico. · É muito usado em consócio e em planos de rotação de culturas. Nutrição de adubação Os problemas de fertilidade que mais interferem na produção sõa: - Baixo teor de fósforo; - Acidez do solo; - Toxidez do alumínio e manganês; - Baixo índice de matéria orgânica. Adubação mineral - Dosagem dos adubos: devem ser baseados no resultado da análise do solo ou da diagnose foliar. - O Nitrogênio, quando indicado, deve ser administrado metade no plantio e metade 20 a 30 dias após. O fósforo e o potássio, todo, por ocasião do plantio. - Posição do adubo: de 5 a 10 cm ao lado e 20 cm abaixo das sementes, ou no fundo da cova ou do sulco. - Quando o solo está seco obtém-se melhores resultados colocando-se o adubo nas camadas mais profundas (+/- 20 cm) por serem mais úmidas. Adubação orgânica - O caupi responde sempre e bem a adubação orgânica. - As doses ótimas variam com: tipo de solo, nível de fertilidade e disponibilidade de água, mas oscilam entre 20 e 40 t/há. - Fonte de nutrientes lenta e duradoura. - Melhora consideravelmente as características físicas, químicas e biológicas do solo. - Utilização de resíduos cujo descarte causaria impactos ambientais. Calagem - Contribui para aumentar a produtividade do feijão, não só pela correlação do solo, mas também por aumentar a eficiência da adubação (P, Ca e Mg). - Deve ser recomendada com base na análise química do solo. - Os resultados experimentais evidenciaram que a calagem deve ser feita para o cultivo do feijão-caupi sempre que a saturação por base for inferior a 50%. O produtor deve aplicar, preferencialmente, o calcário dolomítico, para fornecer o cálcio e o magnésio em proporções equilibradas e com antecedência de 30 dias antes da semeadura. - Quanto mais profunda for a incorporação do calcário (CaCO3), melhor será o resultado da aplicação. - O Calcário deve ser incorporado metade da dosagem na aração e a outra na gradagem. - A quantidade de calcário deve ser calculada para elevar a saturação de base para 60% corrigido o PRNT para 100%. Implantação da cultura - Época de plantio - Semeadura - Densidade de plantio - Sistemas de cultivos Época de Semeadura - Época: tanto no trópico úmido (região norte) como no trópico semiárido (região nordeste) a chance de se obter sucesso com a cultura do caupi depende muito da escolha da época de plantio. - No Norte deve-se evitar os meses que ocorre excesso de chuva,principalmente na colheita. - No Nordeste, onde o principal problema é déficit hídrico, deve-se escolher os meses mais úmidos. - O caupi no Norte e Nordeste pode ser plantado praticamente durante todo o ano, podendo-se ter: culturas de sequeiro, irrigada e de vazante. Plantio Métodos de Plantio: - Manual: é adotado por pequenos e médios produtores, utilizando enxada ou implementos manuais, denominados ‘matraca’ e ‘tico-tico’. - O plantio manual pode ser feito em covas, sulcos ou à lanço. As covas são abertas com enxada e os sulcos podem ser feitos com sulcador, ou riscador manual, de duas ou mais linhas. - A tração animal: são utilizadas plantadeiras simples, que contêm apenas os depósitos de sementes e de fertilizantes. - Mecânico: é o método adotado nas grandes áreas, utiliza semeadeira à tração motora sendo o plantio feito em sulcos ou linhas com várias linhas de plantio (3, 4, 5 ou mais). Semeadura Espaçamento e densidade - Uma das causas de baixa produtividade do caupi é a escassez ou o excessp de plantas por área. - O espaçamento depende: · Do porte da cultivas; · Da fertilidade do solo; · Do sistema de cultivo (solteiro ou consorciado); Profundidade de semeadura - Em solos arenosos a profundidade deve ser de 5 a 6 cm, porque, sendo um solo leve, não existe dificuldade para a emergência das plantas e de garante mais umidade junto à semente, Já nos solos argilosos, por serem mais úmidos, a profundidade pode ser menor, de 3 a 4 cm, para facilitar a emergência, considerando que é um solo mais pesado. Densidade de plantio - A densidade de plantio é definida como o número de plantas capaz de explorar de maneira mais eficiente e completa determinada área do solo. · 50 a 60 mil plantas/há (prostrado) · 60 a 200 mil plantas/há (semi-prostrado) · 150 a 240 mil plantas/há (ereto – BRS Itaim) Espaçamento entre fileiras: · 0,8 a 1,0 m – em sequeiro; tipo prostrado (ramador) · 0,5 a 07 m – com chuvas bem distribuídas ou irrigado; tipos ereto e semiereto. - 6 a 8 plantas/ m linear. Sistemas de produção Sequeiro - Consorciado com anuais milho, mandioca, mamona, amendoim. - Consorciado com culturas perenes. - Solteiro de primeira safra. Cultivo irrigado solteiro Irrigação - O consumo de água pode variar de 250 mm a 400 mm por ciclo, dependendo da cultivar, da densidade de semeadura, do solo e das condições climáticas locais. - Demanda (evapotranspiração e ciclo) - Sistemas de irrigação (aspersão ou microasperção) - Manejo da irrigação: definir o turno de irrigação, calculando pelo balanço da água no solo ou variação da tensão de água no solo. P método do balanço de água no solo é o mais recomendado. - Suspensão da irrigação (antes da colheita). Controle de plantas daninhas - As daninhas competem com as culturas por nutrientes água e luz, além de dificultarem/ inviabilizarem a colheita mecânica. - O caupi é muito sensível à competição das PD, sobretudo na fase inicial do crescimento, 4 a 6 semanas após o plantio. ´As primeiras providências para reduzir a infestação de PD, é o correto preparo do solo, em época adequada. Posteriormente, o produtor deve sempre fazer o balanceamento entre o custo da operação de controle de PD e as possíveis perdas na produção e decidir pelos métodos a usar. - Pode ser: preventivo, controle cultura, mecânico ou químico. É escolhido de acordo com o custo benefício. Amontoa - É um trato cultural, que consiste em ‘chegar terra’ e restos culturais para o ‘pé da planta’. - É mais usada em solos pesados e dispensável, em solos arenosos. Geralmente, são realizadas por ocasião das capinas, quando se joga o material retirado nas entrelinhas, para junto da fileira de plantas. O cultivador de enxadinhas tombadoras realiza esta operação. Colheita Época: quando as vagens atingem o ponto de maturidade adequado, estádio R5. A época de colheita do caupi depende: · Da finalidade da cultura · Da disponibilidade de equipamentos · Do custo de mão-de-obra · Tipo de maturação da cultivar - É fundamental que o plantio seja programado, de modo que, a maturação e colheita ocorra no período seco. - A escolha do método vai depender: do tamanho da área, da cultivar, da finalidade da cultura, da disponibilidade de equipamentos e do custo de mão-de-obra. Beneficiamento - O beneficiamento do feijão consta da operação de trilhagem ou debulha, que subtende as fases de: secagem das vagens, trilhagem e secagem dos grãos. Armazenamento - Normalmente, o problema da armazenagem limita-se, apenas, a atender à comercialização de movimentação da safra, e não à estocagem, propriamente dita, dos excedentes agrícolas. Doenças As principais doenças que infestam o caupi se dividem em: Podridão de raiz-colo-caule: - Tombamento - Podridão das raízes - Podridão do solo - Podridão cinzenta do caule - Murcha de fusarium - Murcha podridão de esclerótico Doenças das flores-vagens e sementes: - Sarna; - Mofo cinzento das vagens. Doenças foliares: - Mosaico severo do caupi; - Mosaico rugoso - Mosaico do pepino; - Mosaico dourado; - Mosqueado severo; - Carvão; - Murcha do café; - Cercosporiose; - Mela; - Mancha zonada; - Ferrugem; - Murcha de alternária; - Oídio cinza; - Mancha bacteriana. Controle - Para o controle das doenças causadas por fungos há no mercado vários produtos registrados, que aliados ao bom manejo cultural apresentam bons resultados no controle destas enfermidades. - Existem cultivares resistentes a algumas doenças. Manejo das pragas do feijão-caupi De acordo com o local de ataque na planta, pode-se esquematizar as pragas do caupi da seguinte forma: - Pragas subterrâneas; - Pragas da parte aérea: Pragas das folhas Pragas dos órgãos reprodutivos (flores, vagens e grãos) - Pragas dos grãos armazenados. 1. Pragas subterrâneas São as que atacam as sementes, raízes e o colo da planta. As de maior importância são: 2. Pragas da parte aérea: 3. Pragas dos grãos armazenados Normalmente provém do campo, a isto, se chama de infestação cruzada. Controle - Tecnologias de manejo integrado de pragas do feijoeiro (MIP-Feijão), se bem implementadas, podem reduzir, em média, 50% a aplicação de químicos, sem aumentar o risco de perdas de produção devido ao ataque de pragas. Melhoramento do caupi Recursos Genéticos no Ne - Instituições que mantêm coleções no NE: · Embrapa Meio Norte (~3.500 acessos) · IPA · UFC (> 1000 acessos) · Embrapa semiárido - Principais introduções: · Coletas no país, IITA (África), EUA. Objetivos do programa Curto Prazo - Melhorar: · Produtividade e a qualidade de grãos; · Adaptabilidade e a estabilidade da produtividade de grãos - Desenvolver: · Cultivares adequadas à agricultura familiar; · Cultivares com porte adequado à colheita mecanizada; · Cultivares com resistência múltipla a doenças; - Aumentar: · Tolerância a estresse hídrico · Tolerância a altas temperaturas; · Resistência a insetos. Médio Prazo - Desenvolver linhagens com características para colheita mecânica: · Porte ereto; · Maturação uniforme; · Folhas senescentes · Pedúnculos de tamanho curto a médio · Baixo índice de acamamento - Melhorara a qualidade culinária e nutricional; - Desenvolver cultivares c/ grãos de ampla aceitação comercial; - Desenvolver cultivares visando o processamento industrial; - Desenvolver cultivares para exportação. Avanços no Melhoramento Genético Qualidade comercial de grãos Desafios para a Pesquisa - Desenvolver cultivares com alto potencial produtivo, de porte ereto, com maturação uniforme, alto índice de senescência foliar, adequadas ao cultivo mecanizado. - Desenvolver cultivares com alto potencial produtivo, de porte ereto, super-precoces (ciclo até 60 dias), para cultivo irrigado. -Desenvolver cultivares com grãos tipo fradinho, de alta qualidade, para dar mais competitividade ao Brasil no mercado de exportação. - Desenvolver cultivares biofortificadas com altos teores de Fe, Zn, fibras alimentares e proteína.