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Desafios Contemporâneos 3

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Desafios Contemporâneos
3.1 Meio ambiente, consumo e ética
O consumo faz parte da história humana e está associado à sobrevivência dos grupos sociais, como bem sugeriu o sociólogo Zygmunt Bauman (2012) em sua obra “Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria.” Produzir, estocar e trocar produtos tem sido algumas das principais atividades humanas desde a Pré-História. Durante muitos anos, o consumo visou suprir as necessidades humanas: compravam-se ou trocavam-se produtos que eram necessários à sobrevivência ou à condução da vida social. Mas essa maneira de consumir se modificou ao longo do tempo, principalmente após a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII.
A partir da Revolução Industrial a oferta de produtos passou a ser mais abundante e barata. O consumo tornou-se a base da movimentação da economia. E é com o aumento do consumo que as empresas passam a obter lucros. O consumidor, então, torna-se central nesse processo, pois é preciso convencê-lo a comprar os novos produtos disponíveis no mercado. Gradativamente, ao longo do século XX, temos a passagem do consumo para o consumismo. Mas qual a diferença entre consumo e consumismo? Vamos para a resposta a seguir.
3.1.1 As diferenças entre consumo e consumismo
Seguindo as reflexões de Bauman (2012, p. 25), o “consumismo é um tipo de arranjo social” baseado nos desejos e anseios das pessoas. Mas estes desejos não obedecem a uma reflexão autônoma dos indivíduos. Eles são fruto de construções sociais, impostas pelas empresas, com a ajuda de campanhas de marketing, que têm o objetivo de convencer as pessoas – agora transformadas em “consumidoras” – de que elas precisam de determinados produtos. Temos, então, um tipo de organização social em que o consumo tornou-se tão importante que passou a ser percebido como “o verdadeiro propósito da existência” (CAMPBELL, 2004, apud BAUMAN, 2012, p. 24).
De acordo com Bauman (2012), se nas sociedades e períodos históricos marcados pela lógica do consumo, a qualidade e a durabilidade dos produtos eram requisitos importantes, nas sociedades marcadas pelo consumismo os valores que implicam no consumo são outros. A segurança de um bem durável é substituída por uma quantidade cada vez maior de desejos imediatos, que são sempre renovados e ampliados, com a substituição constante dos objetos de desejo. Um bom exemplo é a velocidade com que os produtos tecnológicos, como celulares e computadores, tornam-se obsoletos. Como desfecho dessas constatações, temos uma espécie de círculo vicioso em que novos desejos demandam novos produtos e novos produtos demandam novos desejos.
Mas quais as consequências para o meio ambiente do consumo desenfreado? Os produtos que são vendidos nas lojas e supermercados pressupõem a utilização de recursos naturais, sendo que muitos não são renováveis. E se os produtos se tornam rapidamente obsoletos, isso significa que muitos vão parar na lata do lixo. Então, quanto mais consumimos, mais produzimos lixo. Quais as consequências para a natureza de uma produção descontrolada de lixo?
3.1.2 Produção de bens de consumo e o meio ambiente
Para sustentar uma sociedade baseada no consumo, a produção de bens deve ser cada vez mais intensa. O desenvolvimento tecnológico, sobretudo, nas últimas décadas, tem intensificado a produção desses bens. As empresas mais sofisticadas utilizam máquinas, computadores, robôs, dentre outras tecnologias para aumentar a sua produtividade. Com uma maior oferta e demanda de produtos, acompanhamos o aumento do uso dos recursos naturais, o avanço da emissão de gases poluentes e uma acentuada produção de lixo (LEONARD, 2011).
O uso intensivo dos recursos naturais nem sempre é acompanhado dos cuidados que a atividade demanda. Um exemplo que ilustra essa questão refere-se ao que ficou conhecido como o “Desastre de Mariana”, no estado de Minas Gerais, em que o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração, em 2015, causou uma série de danos ambientais. A tragédia é fruto de uma exploração desenfreada dos recursos naturais, almejando o lucro sem as devidas preocupações com o meio ambiente.
Outro recurso natural bastante utilizado em nossa sociedade é o petróleo, que ainda é uma das bases que possibilita o movimento da economia de diversos países, tanto como combustível para veículos automotores, como em seus diversos usos na indústria de materiais plásticos. No entanto, a queima de combustíveis fósseis é responsável pela emissão de grandes quantidades de CO2 (dióxido de carbono) no planeta, um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa e, consequentemente, pelo aquecimento global (GIDDENS, 2012).
 
	A produção de lixo é outra consequência do consumo desenfreado dos nossos tempos. Em todo o ciclo de produção de bens, que começa com o processo de extração de matérias-primas da natureza, até sua utilização e descarte, há a geração de lixo em estado gasoso, líquido e sólido. Além disso, um grande desafio enfrentado pelas cidades é o que fazer com a quantidade de lixo produzido diariamente, uma vez que seu descarte inadequado causa sérios danos ao meio ambiente. 
	Um dos danos é a poluição dos mares e rios, que gera degradação da vida marinha e põe em risco o abastecimento de água potável (PEREIRA, 2011). Além disso, há a emissão de gases produzidos pelos lixões, que intensificam o aquecimento global e poluem os lençóis freáticos. Apesar disso, muitas pessoas ainda não têm consciência dos riscos à vida do planeta que o descarte incorreto do lixo representa, por isso sacolas plásticas e embalagens de todo o tipo são comumente encontrados jogados pelas ruas.
Mas será que a produção de lixo e a poluição do planeta é um caminho sem volta? E o que nós podemos fazer para amenizar ou até mesmo frear essa situação?
3.1.3 Possibilidades para reverter a degradação do meio ambiente
As soluções para os problemas apontados anteriormente não são simples e exigem a sensibilização do maior número possível de pessoas e, também, dos nossos governantes. Como afirma Anthony Giddens (2012), é preciso impor limites à destruição do planeta e para tanto o engajamento das nações é imprescindível. Mas em escala individual, algumas atitudes, como as descritas a seguir, também podem ser adotadas para transformar nossa sociedade e colaborar com o planeta.
Uma atitude passível de ser adotada é repensar nosso modelo de consumo. É necessário que cada vez mais pessoas passem a praticar um consumo consciente, refletindo se os bens adquiridos são uma necessidade ou apenas um impulso consumista. Junto disso, é possível contribuir com a preservação dos recursos naturais ao buscar informações sobre a origem da matéria-prima dos bens que consumimos – se foram produzidos com baixo impacto ambiental, por exemplo, e se são recicláveis.
Outra providência que tem sido empregada em cidades que buscam reduzir a emissão de gases poluentes é o estímulo ao uso do transporte público.
Para além das ações individuais, também é preciso demandar ações voltadas para a preservação do meio ambiente, tais como leis que coíbam o desmatamento e a poluição do solo e dos rios. Adotar uma postura ética perante a natureza, tanto a nível individual quanto a nível institucional e governamental, é urgente para frear a degradação ambiental. Além da questão ambiental, o desenvolvimento tecnológico também tem impacto nas relações sociais.
3.2 O impacto da tecnologia nas relações sociais
As tecnologias são inerentes à vida do homem em sociedade. Embora o termo seja costumeiramente empregado para designar produtos modernos e sofisticados do tempo presente, tecnologia remete às técnicas, métodos, instrumentos, utensílios empregados na realização das atividades humanas. Se pensarmos nas ferramentas construídas com pedras lascadas, no período que remonta à Pré-História, as ferramentas com pedras polidas representam uma tecnologia melhorada e as com metais, uma verdadeira transformação tecnológica. Comparando com as máquinas e os instrumentos do nosso tempo, as ferramentas do período histórico denominadoIdade dos Metais parecem obsoletas.
Mas será que o domínio tecnológico do presente não seria consequência de cumulativas invenções e descobertas realizadas ao longo do tempo? E, por outro lado, existiriam peculiaridades no desenvolvimento tecnológico contemporâneo? Na verdade, o homem sempre desenvolveu tecnologia, a novidade é a dinâmica que elas assumiram nas sociedades capitalistas atuais.
3.2.1 Os grandes marcos tecnológicos das sociedades humanas
A história das tecnologias é marcada por eventos importantes, que determinaram a sobrevivência da espécie humana no planeta e a forma de organização social. Na Pré-História, por exemplo, a descoberta do fogo foi fundamental para a sobrevivência do homem. Além de proteger do frio, possibilitou o cozimento dos alimentos e, posteriormente, trabalhar com os metais. Já a agricultura aumentou significativamente a oferta de alimentos e possibilitou fixar o homem em um território, que até então era nômade, colaborando para o surgimento dos primeiros povoados e cidades (CARVALHO, 2014). Com a fixação do homem e o desenvolvimento da agricultura, o tempo que antes era gasto na caça e na coleta passou a ser empregado em outras atividades, resultando em novas invenções.
Ao longo do tempo, a invenção de objetos, a maneira de produzir os bens e a forma de organização social foram se transformando. É a Revolução Industrial o principal acontecimento que marca o início da sociedade capitalista moderna. Esse evento desencadeou profundas transformações na forma de produzir manufaturados, com a intensificação do uso de maquinas a vapor, novas formas de organizar a produção nas fábricas e dando início a produção de massa. Temos, então, um progresso acelerado da indústria, com destaque para a têxtil e a dos transportes, com o desenvolvimento das ferrovias (CASTELLS, 1999).
A Revolução Industrial também colaborou para o surgimento do capitalismo e para a destruição dos modos de produção artesanais. Os países que, na esteira da Inglaterra, se industrializaram, logo experimentaram um crescimento econômico sem precedentes. Não obstante, os trabalhadores perderam o controle sobre o processo de trabalho. Se antes o trabalhador era o responsável pela concepção e construção dos produtos, agora ele não é proprietário dos meios de produção, não cabe a ele sua concepção e irá executar apenas uma parte do trabalho, alienando-se do processo e do produto final. Além disso, as primeiras fábricas desse período proporcionaram lucros extraordinários para seus proprietários, mas péssimos salários e condições de trabalho aos trabalhadores (HOBSBAWM, 1977).
A chamada Segunda Revolução Industrial, no século XIX, é um desdobramento da primeira, porém com a participação proeminente dos Estados Unidos. Neste período, temos a intensificação de inovações importantes, que se mantêm até os dias atuais, tais como o emprego da energia elétrica, a utilização do petróleo nos motores a combustão, as novas ligas metálicas mais resistentes e maleáveis. É nesse contexto que surgem os primeiros protótipos e os primeiros automóveis são comercializados. Novos métodos gerenciais também remontam a este período, buscando organizar as empresas para aumentar a sua produtividade. O norte-americano Frederick Taylor é uma das personalidades mais marcantes, ele elaborou uma obra chamada “Princípios da administração científica”, publicada em 1911, considerada um marco na história da administração. Nela, Taylor detalha como deve ser uma administração científica, buscando a eficiência da empresa. Até mesmo os mínimos gestos dos trabalhadores são estudados por Taylor, buscando fazer com que se produza mais em menos tempo (BRAGA, 1995).
Na primeira metade do século XX, ocorre a consolidação e expansão do uso das tecnologias desenvolvidas ao longo do século anterior. Os países mais industrializados dominam a utilização do petróleo, da energia elétrica e possuem indústrias altamente mecanizadas. Já na segunda metade do século XX, a grande novidade advém das chamadas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Também chamada de Terceira Revolução Industrial, Revolução Informacional, Era Digital, Era da Informação, dentre outras denominações, o que caracteriza este momento histórico é o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, personificadas na figura dos computadores. A rede mundial de computadores, a internet, permitiu conectar o mundo com qualidade e instantaneidade. Rapidamente os computadores foram adotados pelas empresas, pelos governos e pelas pessoas. A capacidade que os computadores possuem de processar uma grande quantidade de dados é sem precedentes, além de permitir inúmeras outras atividades, pois se trata de uma tecnologia em constante aprimoramento (CASTELLS, 1999).
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) vêm tendo, a partir de então, uma influência crescente em nossa sociedade: nas empresas, nos governos, nas universidades, na ciência e na vida pessoal de cada um. Mas para além dos produtos tecnológicos entregues pela Era da Informação, existiriam singularidades na forma de organização da nossa sociedade causadas pelas tecnologias informacionais? E quais seriam as características principais desta nova Era? Precisamos refletir sobre isso, afinal de contas, estamos vivendo sob seus efeitos.
3.2.2 A singularidade da Era da Informação
As transformações trazidas pela Era da Informação estão sendo impactantes, em graus diferentes, para todos os países. As novidades e possibilidades ensejadas pelos computadores e pela internet afetaram a organização das empresas, a forma de produzir e de trabalhar. Pela primeira vez na história, temos o conhecimento como a matéria-prima principal, como fonte da produtividade.
	O sociólogo Manuel Castells (1999), um dos principais teóricos da Era da Informação, apresenta as principais características deste período histórico, fornecendo pistas para entender as mudanças que ainda estão em curso. Segundo o autor, a penetrabilidade das novas tecnologias seria um dos fatores principais de sua abrangência. Dessa forma, todos os processos da vida, tanto individual quanto coletiva, seriam atingidos pelas novas tecnologias. Outro ponto importante seria o que o autor chamou de lógica das redes. Isso significa que as tecnologias permitem um estreitamento das relações, tanto dos sistemas produtivos quanto das relações sociais.
	Conectado à lógica das redes, Castells (1999) destaca outra característica de nossa época, trazida pelas TIC, que é a flexibilidade. A flexibilidade das redes faz com que os processos, as organizações ou instituições possam ser alterados a qualquer momento, pelo rearranjo de seus componentes. A flexibilidade é também responsável pelas rápidas mudanças que ocorrem nos padrões produtivos a nível mundial. Por fim, o autor aponta outro aspecto emblemático da Era da Informação, a intensa convergência de tecnologias em um sistema cada vez mais integrado. Ou seja, as novas tecnologias de comunicação e de informação estão integradas com todo o sistema produtivo, com as engenharias, com a química e com as demais ciências, influenciando-se mutuamente, estando em constante evolução.
Afora essas características apresentadas, temos ainda outros desdobramentos oriundos do desenvolvimento das TIC. A internet, por exemplo, além de conectar as pessoas que se encontram em diferentes locais no globo, deu um novo impulso à acumulação capitalista, com o protagonismo do mercado financeiro que, a partir de então, controla o movimento da economia em tempo real e transfere seu capital de um país a outro em um clique. Temos aqui o que foi denominado de globalização, marcada por intensas trocas comerciais e culturais entre os países.
Outro aspecto marcante é a automação de muitas atividades que antes eram realizadas pelo ser humano. Há uma crescente substituição da mão de obra humana por máquinas, computadores e robôs. Nesse ponto, a interpretações sobre as novas tecnologias é bastante polarizada: há quem argumente que as máquinas estão destruindo o emprego das pessoas;e há quem pense que, se empregos estão sendo destruídos, também novos empregos estão sendo criados.
Em que pesem as especulações, ainda não se tem com exatidão a resposta para a questão se a balança entre extinção e criação de empregos se equilibrará. O certo é que as indústrias e empresas que mais se desenvolvem na atualidade são aquelas que se utilizam das novas tecnologias. O mercado de trabalho cresce em áreas que produzem computadores e seus componentes, como softwares, circuitos eletrônicos e serviços voltados à informática e a tendência é que isso se intensifique, abrangendo todos os setores da economia de forma cada vez mais intensa.
É importante destacar que as novas tecnologias de informação e comunicação transformaram, significativamente, o sistema produtivo mundial. Mas também é importante compreender que estas mudanças atingiram a forma de organização da sociedade, que passou a estar conectada com o mundo por meio da internet (CASTELLS, 1999). É a natureza das relações humanas que está se transformando. A proximidade virtual entre as pessoas, a velocidade dos acontecimentos e a penetrabilidade das tecnologias transforma a maneira como nos relacionamos uns com os outros e com a sociedade. Realmente, vivemos em um mundo surpreendente e a questão do desenvolvimento tecnológico também requer uma abordagem do ponto de vista ético, como vamos acompanhar no próximo tópico.
3.3 Ciência, tecnologia e ética
Você acredita que sempre se fez ciência da mesma forma, ao longo da história da humanidade? Ao contrário do que se possa imaginar - de que a ciência é uma atividade sempre cumulativa e que progride linearmente ao longo do tempo - ela possui rupturas e reorientações, que a conduziram até seu estado atual (KUHN, 1997). Os primeiros passos da ciência, tal como a conhecemos hoje, foram dados a partir do século XV, com a Revolução Científica.
Se até o final da Idade Média a forma como a humanidade conhecia o mundo estava vinculada a concepções teológicas e filosóficas, a partir do século XV e, especialmente, com os estudos de Galileu Galilei, a produção de conhecimento científico tomou um rumo mais prático. O empirismo e o método indutivo, que define a produção de conhecimento científico através da observação e a da experiência, firmaram-se como paradigmas metodológicos da nova forma de fazer ciência.
Observamos uma maior profissionalização e institucionalização da prática científica durante o século XIX. Descobertas, invenções e novas tecnologias se conjugaram e se retroalimentaram para promover grandes saltos de conhecimento que transformaram o modo como nos relacionamos com a natureza e com o mundo. Quais seriam os principais avanços trazidos pela ciência?
3.3.1 Passos cada vez mais largos e mais rápidos: os avanços da ciência 
Ao longo do século XX, o desenvolvimento tecnológico e a expansão econômica e industrial causaram impactos profundos na vida social e cultural, na organização das cidades, nas formas de comunicação e transporte, bem como na relação entre homem e natureza. Se no início do século XX a ideia de que algum dia o homem pudesse “voar como um pássaro” parecia algo fantasioso e altamente improvável, na segunda metade o homem já dava seus primeiros passos na lua. Esse exemplo ilustra a rapidez crescente com que as transformações, inovações, tecnologias e descobertas científicas se descortinam diante dos olhos das sociedades nos séculos XX e XXI (HOBSBAWM, 1977).
A primeira metade do século XX foi profundamente marcada pela eclosão de duas Grandes Guerras de implicação mundial, e os desafios impostos por este contexto acelerou o desenvolvimento de tecnologias e inovações, dentre elas a que marcou o século XX: a energia atômica, cuja aplicação trágica pôs fim à Segunda Guerra Mundial, mas sob pena de devastar duas cidades japonesas – Hiroshima e Nagasaki, a fim de mostrar a força bélica dos Aliados. Foi a primeira vez na História que uma criação humana mostrou força com potencial de colocar em suspenso a garantia da própria sobrevivência da espécie humana no planeta, e os aspectos éticos que decorrem daí se tornaram incontornáveis.
A medicina científica foi uma das áreas que mais cresceu no último século. Em 1920, Alexander Fleming descobriu, por acaso, o mais poderoso antibiótico utilizado na medicina: a penicilina. Junto com os antibióticos, as vacinas, cirurgias assépticas, anestesia, transplantes de órgãos, cirurgias menos invasivas, dentre outros, fizeram saltar a expectativa de vida dos seres humanos no período (UJVARI; ADONI, 2014). No Brasil, por exemplo, em 1910, a esperança de vida ao nascer era de 34,6 anos. Em 2010, de 72,6 anos, ou seja, aumentou 38 anos no período (IBGE, 2018). Já o desenvolvimento da engenharia genética, a partir da década de 1950, viria revolucionar o entendimento e as possibilidades das terapias médicas.
Por outro lado, a história da tecnologia e da ciência médica é também um terreno tortuoso no qual se conjugam avanços significativos com debates e entraves éticos ferozes. Muitos dos tratamentos terapêuticos disponíveis atualmente são resultados de testes, experiências e estudos questionáveis do ponto de vista ético. 
3.3.2 Os avanços da ciência médica e a ética científica
Os campos de batalha das duas grandes Guerras Mundiais tornaram-se verdadeiros laboratórios a céu aberto para a atuação médica. Com pouco tempo para agir, poucos recursos e a alta probabilidade de que soldados feridos nestas condições viessem a óbito, era justificável que tratamentos mais arriscados e inovadores fossem utilizados, de modo que a medicina pôde testar métodos, refutar alguns e validar outros, bem como descobrir tratamentos inteiramente novos. Foi nesse contexto que surgiram novas técnicas cirúrgicas, anestesia, o tratamento com soro fisiológico, transfusão de sangue, dentre outras (UJVARI; ADONI, 2014). Mas no que diz respeito à Segunda Guerra Mundial, não apenas o campo de batalha foi utilizado como laboratório médico. Os experimentos médicos levados a cabo pelo regime nazista junto aos prisioneiros dos campos de concentração chocam pela crueldade: as cobaias humanas eram coagidas a participar e as experiências resultavam, em grande parte das vezes, em morte, incapacidade permanente, mutilação ou desfiguração.
É impossível negar que a ciência médica tenha evoluído graças a episódios tão grotescos e chocantes, e hoje parte dos conhecimentos médicos de que dispomos são resultados de tais experiências. Existe, inclusive, o debate sobre se os dados produzidos em situações tão desumanas poderiam ser utilizados pela medicina atual.
	Os avanços da ciência médica nas últimas décadas têm suscitado debates éticos de outra ordem. Quando os norte-americanos Watson e Crick desvendaram a estrutura molecular do DNA em 1953, abriram-se as portas para que se começasse a adentrar um dos maiores mistérios da humanidade: como a vida funciona. Cerca de 50 anos mais tarde, a descoberta da estrutura da dupla hélice levou ao sequenciamento do genoma humano, uma verdadeira revolução na medicina.
	Considerando que a genética é responsável, pelo menos em parte, por todas as doenças que acometem os humanos, o seu sequenciamento torna viável a chamada “medicina individual”. Ou seja, já é possível conhecer as características genéticas individuais de uma pessoa de modo a garantir tratamentos mais eficazes e personalizados, ou mesmo prevenir doenças com base em suas predisposições genéticas (UJVARI; ADONI, 2014).
O cenário, nesse sentido, é de grande otimismo. Doenças que hoje afetam grande parte da população e se constituem em fonte de preocupação, como é o caso do câncer em suas diversas manifestações, poderão ser tratadas mais eficazmente, e até mesmo prevenidas antes de se manifestar. Mas o debate ético sobre o uso e a aplicação deste poderoso conhecimento tem se acirrado cada vez mais. Imagine se uma empresa, antes de contratar seus funcionários, pedir exames de sequenciamento genético. Ao identificar riscos de doenças futuras, se eliminaria o candidato da disputa pela vaga? Pesquisadoresjá têm alertado para o fato de que cada vez mais o conhecimento sobre o genoma pode se transformar num elemento de poder das instituições sobre os indivíduos.
Dominar o conhecimento sobre o sequenciamento genético significa também conhecer as bases da manipulação genética. Poderíamos fazer a analogia com o poder dos cientistas em “brincar de Deus”. O ser humano hoje é capaz de interferir na natureza de outro ser humano – escolher sexo, cor dos olhos, cor da pele, e outras características. Os passos dados em direção ao maior domínio genético do ser humano são também os passos que nos aproximam de uma manipulação e interferência cada vez maior. Assim como os usos negativos de tecnologias, como a energia atômica, corremos os riscos de utilizar indevidamente a engenharia genética. Quais medidas devemos tomar para conseguir aproveitar os benefícios desses avanços e evitar as tragédias que podem decorrer?
Outros exemplos podem ser citados para debater a questão da ética da ciência médica e do fazer científico em geral: já somos capazes de clonar animais – o caso da Ovelha Dolly foi um marco na história da ciência. Quanto falta para clonarmos seres humanos? A tecnologia permite realizar modificações genéticas para aumentar a produtividade de inúmeras culturas que servem de base para a alimentação humana. A indústria aplica esse conhecimento em larga escala e hoje boa parte do que consumimos provêm de organismos geneticamente modificados. Mas temos a garantia de que esses alimentos são realmente seguros, especialmente em médio e longo prazo?
Os debates mencionados acima são questões para as quais não temos respostas exatas. O que precisamos manter presente é a necessidade de estar atentos ao desenvolvimento de novas tecnologias e descobertas, pesando as consequências de seus usos e aplicações sob a égide da ética científica e do respeito à dignidade humana. Inovações tecnológicas e científicas não são boas ou más em si mesmas, mas dependem dos usos que a sociedade faz delas. E estes usos, muitas vezes, são pautados por interesses econômicos, especialmente, de grandes corporações. Como consequência desses interesses, temos o impacto do desenvolvimento tecnológico também no mundo do trabalho.
3.4 Trabalho e desenvolvimento tecnológico
O atual desenvolvimento tecnológico ensejou importantes transformações e desafios ao mundo do trabalho. Sua natureza e sua centralidade são objeto de indagações, tanto por parte dos especialistas, quanto por parte dos empresários e trabalhadores. Muitas coisas mudaram ou estão mudando na realidade do trabalho, tais como qualificações necessárias para desempenhar determinadas tarefas, o local em que o trabalho é realizado, o tempo dedicado ao trabalho e a flexibilidade do trabalho e da legislação. Tudo isso só é possível graças ao desenvolvimento acelerado e abrangente das tecnologias de informação e comunicação, que possibilitaram a reestruturação produtiva dos últimos anos.
Mas afinal, o que mudou no mundo do trabalho? Quais os requisitos que são demandados aos trabalhadores na atualidade? E como o desenvolvimento tecnológico se encaixa nesta complexa engrenagem que é o mundo do trabalho?
3.4.1 A reorganização do mundo do trabalho e os impactos sobre os trabalhadores
A reestruturação produtiva que as empresas realizaram após a chamada crise do petróleo, nos anos 70, teve forte impacto no mundo do trabalho e sérias consequências para os trabalhadores. Neste período se dá a substituição paulatina do paradigma fordista de produção pelo modelo denominado Toyotismo. O novo modelo caracteriza-se pela produção enxuta, também denominada acumulação flexível (HARVEY, 1992). A produção passou as ser Just-in-time, ou seja, o tempo entre comprar insumos, produzir os produtos e vendê-los no mercado foi reduzido a fim de evitar desperdícios e melhorar a eficiência dos negócios. Temos aqui a chamada produção por demanda, em que o produto é vendido primeiro e fabricado depois.
A grande maioria destas transformações no modo de produção só foi possível de se concretizar devido ao desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação e das inovações delas decorridas. O controle exigido durante todo o processo somente é realizado de forma virtuosa com a ajuda de máquinas e computadores. Além disso, as máquinas são responsáveis por desempenhar, com maior perfeição e velocidade, as atividades que antes eram realizadas por vários trabalhadores. Como consequência, e devido à crescente automatização, temos uma redução do número de trabalhadores no chão de fábrica e uma modificação no tipo de trabalho demandado (ANTUNES, 2003).
As mudanças no padrão produtivo, para além das tecnológicas e gerenciais, também estão acompanhadas de mudanças políticas e econômicas. Observou-se nas últimas décadas, juntamente com a reestruturação produtiva, a flexibilização do trabalho e das leis trabalhistas, tendo como consequência a perda de direitos por parte dos trabalhadores (HARVEY, 1992; ANTUNES, 2003).
Todas estas mudanças relatadas até aqui chegaram ao Brasil no final dos anos 1980 e se intensificaram nos anos 1990, com o processo de liberalização da economia brasileira. Em que pese a reestruturação produtiva ter eliminado empregos que pertenciam ao modelo Fordista e Taylorista de organização, bem como ter imposto uma nova forma de inserção profissional tendo como suporte as novas tecnologias, estas mesmas tecnologias podem representar uma janela de oportunidades para os países se desenvolverem. É por isso que o Brasil vem realizando esforços para se integrar aos mercados mundiais de forma diferenciada. Mas para que o país aproveite as oportunidades que as TIC abriram às economias emergentes, é preciso elevar os investimentos em ciência e tecnologia e também em educação e superar, assim, os efeitos negativos do novo paradigma produtivo. E, afinal, quais as características do trabalho na Era da Informação? O que se espera dos trabalhados inseridos nesse contexto?
3.4.2 As singularidades do trabalho na Era da Informação
As mudanças no mercado de trabalho desenharam também um novo perfil de trabalhador desejável. Em períodos anteriores, as empresas demandavam em grande escala trabalhadores pouco qualificados, que desempenhavam tarefas repetitivas ao longo da linha de montagem, produzindo bens de forma massiva e padronizada. Com os rearranjos proporcionados pela Era da Informação, hoje o trabalhador que quiser se manter empregável precisa ser qualificado, pois o tipo de atividade que ele deve desempenhar é cada vez mais complexo. Além disso, o perfil ideal é de quem sabe trabalhar em equipe, pois a estrutura rígida e hierarquizada da fábrica Fordista dá lugar a ilhas de produção em que a cooperação e a criatividade são indispensáveis.
Além disso, observa-se que as trajetórias profissionais se multiplicaram. Se no passado o trabalhador aposentava-se na mesma empresa em que começou a trabalhar, ou no máximo trocava de empresa, mas seguia na mesma profissão, no presente as trajetórias são múltiplas. O tempo de permanência do trabalhador em uma mesma corporação diminuiu significativamente e a mobilidade entre empresas é uma constante.
A estabilidade do trabalho pode não vir do fato do indivíduo permanecer no mesmo emprego durante muito tempo, mas por ele se manter empregável. O fato é frequentemente verificado no mercado de tecnologia da informação, sobretudo, no setor de software, em que os trabalhadores atuam em equipes e por projetos. Assim que os projetos acabam, a equipe é desfeita e o trabalhador fica sem trabalho até que um novo projeto inicie. O intervalo entre um e outro não se configura em desemprego, uma vez que faz parte deste mercado de trabalho em específico, embora, devido à demanda da área, o intervalo muitas vezes seja inexistente.
Por outro lado, se há um novo perfil de empresas com demandas específicas aos trabalhadores, há também, como demonstra Mocelin (2009), uma nova geração de trabalhadores que aspiram empregos com este perfil que surgiu na Era da Informação. São pessoas dinâmicas,bem escolarizadas, que preferem um trabalho desafiador, mesmo com risco de cair no desemprego, a um trabalho com estabilidade, mas monótono. Preferem também a liberdade de escolher o tempo e o local de trabalho. Enfim, os computadores e a internet mudaram o mundo do trabalho, e as sociedades devem compreender estas mudanças para melhor reagir a elas.

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