Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INTEGRADA INFANTIL - 2022/1 AULA 3 HIPOMINERALIZAÇÃO MOLAR-INCISIVO 1 FORMAÇÃO DO ESMALTE O esmalte dentário tem origem ectodérmica e epitelial e se desenvolve em três etapas: fase formativa (proteínas são depositadas), fase de mineralização (deposição mineral e maior parte das proteínas originais é removida) e fase de maturação (esmalte sofre mineralização e os remanescentes das proteínas originais são removidos). 2 DEFEITOS NO DESENV. AMELOGÊNICO Hipoplasia : defeito de quantidade que ocorre durante a fase formativa (não ocorreu deposição correta da matriz orgânica). Hipomineralização (HMI) : defeito de qualidade que ocorre durante a fase de maturação (a fase formativa ocorreu corretamente), apresentando clinicamente como uma translucência anormal e opacidade do esmalte. A hipomineralização molar-incisivo é um defeito qualitativo que afeta um ou até todos os primeiros molares, acometendo também frequentemente os incisivos. 3 FATORES ETIOLÓGICOS Podem ser pré-natais, perinatais e pós-natais. A formação do esmalte dos dentes permanentes começa em torno de 20 semanas de vida intra-uterina para os primeiros molares, 3 a 4 meses para os incisivos centrais e incisivos laterais inferiores e 10 a 12 meses para os incisivos laterais superiores. É necessário cerca de 3 anos para a formação total da coroa. Fatores pré-natais : problemas cardíacos, náuseas e vômitos prolongados, carência de vitaminas (principalmente vitaminas A e D), infecções urinárias, diabetes mellitus gestacional, uso de medicação* e anemia. Fatores perinatais : cesárias, partos prolongados, partos prematuros, má oxigenação durante o parto e baixo peso ao nascer. Fatores pós-natais: doenças sistêmicas ocorridas nos três primeiros anos da criança (febre, asma e pneumonia) e medicamentos. Componente genético : vários genes envolvidos na formação do esmalte contribuem para a HMI, suportando o conceito de que a HMI é uma doença multifatorial com influência genética. → Basicamente, a maioria dos fatores etiológicos envolvidos na HMI estão associados com aumento da temperatura (que desnatura proteínas), privação de oxigênio e diminuição do cálcio sérico (diminui a disponibilidade para a mineralização). 4 EPIDEMIOLOGIA A HMI pode ser considerada um problema de saúde pública, já que possui alta prevalência, afeta a qualidade de vida do paciente e é passível de tratamento. 5 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS A coloração do esmalte é alterada, variando de branco ao amarelo/marrom, as áreas são bem demarcadas com bordas bem definidas, aspecto mais poroso e, com isso, mais frágil, além de maior exposição da dentina. 6 CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS Perda e desgaste do esmalte, necessidade de reintervenções devido a dificuldade na aderência de materiais restauradores, insatisfação estética, maior facilidade de acúmulo de biofilme, hipersensibilidade, necessidade de visitas frequentes ao dentista, comportamento de inquietude e prejuízos funcionais. 7 CLASSIFICAÇÃO Severidade leve : opacidades demarcadas em áreas livres de carga mastigatória, presença de opacidades isoladas, sem relato de hipersensibilidade dentária ou cáries associadas ao esmalte afetado, sem fragmentação de esmalte e o envolvimento dos incisivos pode ser leve ou inexistente. Severidade moderada : há presença de restaurações atípicas, fraturas pós-eruptivas e/ou INTEGRADA INFANTIL - 2022/1 cárie limitadas a uma ou duas superfícies do dente, maior probabilidade de sensibilidade dentária e preocupações estéticas por parte dos pais e da criança. Severidade grave: o esmalte apresenta fratura pós-eruptiva, que ocorre principalmente durante a erupção dentária, podendo haver lesões extensas de cárie, restaurações atípicas com defeitos e histórico de sensibilidade espontânea, uma vez que a destruição da coroa por causa das fraturas pode facilmente chegar na polpa. 8 DIAGNÓSTICO Anamnese detalhado e exame clínico realizado após a profilaxia com os dentes úmidos e tem por base a idade de 8 anos (quando a saliva termina a maturação do dente), a presença de um único primeiro molar hipomineralizado já é suficiente para considerar o indivíduo portador da HMI, observar a coloração, aspecto visual, fraturas e avaliar o risco de cárie e cruzar as informações clínicas tendo em mente o coletado em anamnese. Fotografias, escaneamento e modelos de gesso são meios auxiliares para diagnóstico. 9 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Hipoplasia : esmalte com defeito quantitativo (tem uma perda estrutural) podendo apresentar ausência parcial ou total de esmalte. O esmalte é liso, translúcido (qualidade normal) e pode fazer exposição de dentina (pela falta de quantidade). Amelogênese imperfeita : todos os dentes serão acometidos, podendo ser detectada através de exame clínico de rotina, sendo comprovado o envolvimento genético (nem qualitativo e nem quantitativo). Fluorose : caracterizada por linhas brancas, difusas e a quantidade de dentes acometidos depende do tempo de exposição ao flúor. O sinal patognomônico da fluorose é a simetria das lesões em dentes homólogos. 10 ASSOCIAÇÃO COM A CÁRIE DENTÁRIA Devido a baixa qualidade da mineralização e calcificação do esmalte dos elementos afetados, a desmineralização promovida pelas bactérias cariogênicas torna-se mais facilitada, havendo uma maior propensão ao desenvolvimento de cárie. É fundamental que o clínico avalie a severidade, a atividade e o risco individual à cárie. A HMI afeta negativamente a quantidade de vida, por prejuízos funcionais, estéticos e psicológicos. 11 TRATAMENTO A abordagem dos dentes afetados pela HMI deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar visto que as modalidades de tratamento envolvem diversas áreas de especialidade e podem variar desde a prevenção de cáries e fraturas pós-eruptivas, manejo da hipersensibilidade ou dor, tratamentos restauradores até a extração do dente afetado com ou sem tratamento ortodôntico. A escolha do tratamento depende da condição dentária, idade, nível socioeconômico e expectativa do profissional e paciente. Estudos avaliaram que crianças portadoras de HMI passam por mais tratamentos dentários que crianças não afetadas, além de que, aos 9 anos, tratamentos odontológicos no primeiro molar permanente são 10 vezes maiores que em crianças sem HMI. Os maiores desafios são problemas de comportamento (medo e ansiedade), adesão deficiente em razão da estrutura dentária alterada e o padrão de condicionamento ácido é pobre, dificultando a contenção da restauração adesiva. As condições para o sucesso do tratamento incluem conscientização dos pais sobre o problema em questão, aconselhamento sobre dieta e escovação dentária. 12 SELEÇÃO DO MATERIAL RESTAURADOR Depende da severidade do defeito, da idade e da cooperação da criança. Podem ser RC, CIV ou coroas de aço. Resina composta : é a primeira escolha, remoção de todas as lesões opacas e hipomineralizada do esmalte, a interface esmalte/adesivo é mais porosa e utilizam-se adesivos autocondicionantes. CIV: não são recomendadas em áreas sujeitas ao estresse, restauração provisória, pode ser INTEGRADA INFANTIL - 2022/1 utilizado em conjunto com a resina composta e em superfícies severamente acometidas. Pode ser utilizado o CIV modificado por resina ou o CIV convencional. Coroas : casos com maior comprometimento da estrutura dentária e fraturas recorrentes, auxiliam no controle da sensibilidade dentária e na preservação da dimensão vertical e contato interproximal. Inlay, Onlay e Overlay: protegem a estrutura do dente, mantém a função, são estéticas e a extensão, a forma e a retenção são dadas pela lesão de cárie e/ou área do esmalte hipomineralizado. Infiltrante : atuação da estética, resina altamente fluida, aumenta índice de refração do esmalte, mascara opacidades, alto custo e melhora propriedades mecânicas do esmalte. A primeira linha de tratamento sempre é a prevenção, realizando a remineralização, redução da dor, prevenção de fraturas pós-eruptivas e aconselhamento dietético. Utiliza-se escovação com dentifrício fluoretado acima de 1.000 ppm de flúor, aplicação tópica de flúor e selante ionomérico. Para molares parcialmente irrompidos : selamento de fóssulas e fissuras com cimentos ionoméricos, liberação de flúor, reparos sempre que necessário até a aplicação do selante resinoso. Para molares já irrompidos : lesões cavitadas e fraturas em esmalte (remoção com curetas), CIV provisório e resina composta definitiva. Para casos mais severos : recomenda-se exodontia dos primeiros molares, avaliação da oclusão e crescimento, ideal com 8 ou 0 anos. Sinais favoráveis: potencial de erupção e bom contato com o 2 pré-molar. Incisivos: razões estéticas, restaurações em resina composta, clareamento dental e microabrasão (o esmalte precisa estar íntegro, tem risco de sensibilidade dentária e alguns autores não indicam o clareamento para casos de HMI).
Compartilhar