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Carla Bertelli – 4° Período 1 – Revisar a Morfofisiologia do Trato Urinário e seus mecanismos de defesa fisiológicos, biológicos e genéticos. 2 – Classificar os tipos de infecções urinárias 3 – Compreender a etiologia, fisiopatologia, epidemiologia, fatores de risco, diagnóstico e tratamento das infecções urinárias. É composto pelos rins, dois ureteres, uma bexiga urinária e uma uretra. Os rins são responsáveis por manter a pureza e a constância químicas do sangue e de outros fluídos corporais extracelulares. Eles filtram diariamente muitos litros de sangue, eliminando do corpo humano toxinas, resíduos metabólicos, excesso de água e íons através da urina, além de também, devolver para o sangue substâncias necessárias obtidas no fluido filtrado. Os principais fluidos excretados são 3 compostos nitrogenados: ureia (derivada da decomposição dos aminoácidos), ácido úrico (renovação dos ácidos nucleicos) e creatinina (decomposição da fosfocreatina). Os rins também regulam o volume e a composição química do sangue, mantendo o equilíbrio adequado de águas e sais além dos ácidos e bases. Os ureteres são tubos que transportam a urina dos rins para a bexiga, que é um reservatório de armazenamento temporário da urina. A uretra e um tubo que transporta urina da bexiga para fora do corpo. São estruturas castanho-avermelhados em formato de feijão, localização retroperitoneal na região lombar superior da parede posterior do abdome, ao nível da 11° e 12° costelas. Possui um hilo renal (por onde vasos, ureteres e nervos entram), uma capsula fibrosa (tecido de sustentação), uma capsula adiposa. Internamente é dividido em córtex e medula (formada pelas pirâmides renais). As papilas renais estão localizadas no final das pirâmides. Já as colunas renais são extensões do córtex para dentro, separando as pirâmides. O seio renal é um grande espaço na parte medial do rim que se abre para o Hilo. A Pelve Renal é um tubo plano em forma de funil, é a parte superior do ureter expandida. Extensões ramificadas da pelve renal formam dois ou três cálices renais maiores, cada um deles dividindo-se e formando vários cálices renais menores, tubos em forma de taca que confinam as papilas das pirâmides. Os cálices coletam a drenagem de urina das papilas e a desaguam na pelve renal; então, a urina escoa pela pelve renal e entra no ureter, que a transporta até a bexiga, onde será armazenada. A unidade estrutural do rim é o néfron – o néfron produz urina por 3 mecanismos: filtração, reabsorção e secreção. Cada néfron é composto por um corpúsculo renal e o túbulo renal que é dividido em porções: túbulo contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e túbulo coletor. Em todo seu comprimento o néfron é revestido por um epitélio simples que é adaptado a vários aspectos na produção de urina. Carla Bertelli – 4° Período – Tubos delgados longos (24cm), que transportam a urina dos rins para a bexiga. Faz uma entrada oblíqua na bexiga para evitar o refluxo de urina para os ureteres. Microscopicamente sua parede é composta por 3 camadas: mucosa, muscular e adventícia. – Reservatório muscular dobrável que armazena e expele urina, situa-se abaixo da cavidade peritoneal no assoalho pélvico, imediatamente posterior a sínfise púbica. Nos homens, a bexiga situa-se na posição anterior ao reto; nas mulheres, a bexiga localiza-se imediatamente anterior a vagina e ao útero. No interior da bexiga as aberturas dos ureteres e da uretra formam o trígono – tem importância clínica especial porque as infecções tendem a persistir nessa região. Microscopicamente ela possui 3 camadas: mucosa, muscular espessa e adventícia. – tubo de parede fina que drena a urina da bexiga e transporta para fora do corpo. Consiste em musculo liso e uma mucosa interna. Esfíncter interno da uretra Existem três tipos de infecção urinária, com causas diferentes entre si: – Infecção na bexiga causada por bactérias, a principal causadora é a Escherichia coli. Mais comum em mulheres. - Inflamação na uretra ocasionada por diferentes bactérias, como Nesseria gonorrheae (sim, a mesma da gonorreia) e a Chlamydia trachomatis. inflamação dos rins acompanhada de acometimento dos cálices, da pelve e do ureter. çã á refere-se a processo infeccioso que acomete as vias urinárias, dos rins à bexiga. Infecção urinária predomina em três grupos etários: (1) infância, associada muitas vezes a malformações congênitas do trato urinário; (2) mulheres jovens, em fase sexualmente ativa, por traumatismos durante o intercurso sexual; (3) homens, sobretudo após 55 anos, por obstrução urinária por aumento da próstata. Os principais agentes etiológicos são bactérias Gram- negativas encontradas na microbiota entérica (infecção endógena). Escherichia coli é responsável por 85 a 90% das infecções urinárias; seguem-se infecções por Enterobacter, Klebsiella, Proteus, Pseudomonas e outras bactérias. Os microrganismos atingem o sistema urinário superior através de três vias. á É a mais comum. A uretra distal tem microbiota semelhante à da pele adjacente, sendo a maioria dos microrganismos não patogênica. Em mulheres, existem bactérias também no vestíbulo vaginal. Infecção urinária começa pela colonização dos microrganismos, facilitada pela aderência bacteriana ao epitélio da vagina e da uretra. Alcançando a bexiga, inicia- se a multiplicação bacteriana quando há redução dos fatores locais de defesa e/ou estase urinária. Infecção vesical (cistite) pode ficar isolada ou estender-se ao ureter, à pelve e ao parênquima renal. Carla Bertelli – 4° Período í . É menos importante do que a anterior, pode coexistir. Pelo sangue, as bactérias chegam ao sistema urinário a partir de infecções em outros órgãos (endocardite, infecção pulmonar, endomiometrites, septicemia etc.). Estafilococos são as bactérias mais envolvidas. á - A possibilidade de conexões linfáticas entre o trato urinário inferior e o superior e deste com o intestino favorece essa rota de contaminação. Disseminação da infecção dentro do rim pode ser feita por vasos linfáticos. Numerosos fatores favorecem infecções urinárias, sua recidiva ou reinfecção: – Em mulheres a uretra é mais curta e mais calibrosa e fica próximo a estruturas contaminadas, que favorece a penetração de microrganismos. Em homens, o líquido prostático possui atividade antibacteriana - IU na gravidez associa-se a bacteriúria assintomática, que resulta de estase urinária por dilatação fisiológica do ureter e da pelve e de redução do seu peristaltismo, a partir do segundo mês de gestação e até o puerpério imediato, por efeito hormonal. Progesterona reduz a contratilidade da musculatura vesical - Microrganismos na bexiga são normalmente eliminados com o fluxo urinário. Quando há obstrução urinária, as bactérias não são eliminadas, multiplicam-se e causam infecção. Deve- se suspeitar de obstrução urinária toda vez em que há infecção urinária persistente. A obstrução pode ocorrer na uretra, na bexiga, nos ureteres e nos rins. - A porção intravesical do ureter tem trajeto oblíquo e fica comprimida durante a micção, impedindo o retorno da urina para os ureteres (mecanismo valvular). RVU, primário ou secundário, consiste na passagem do conteúdo vesical para o ureter, especialmente durante a micção, por incompetência da válvula ureterovesical. RVU primário resulta de distúrbio congênito da válvula ureterovesical, mais curta ou ausente devido a ectopia lateral do meato ureteral. Infecções vesicais podem agravar o RVU, particularmente em crianças. RVU secundário deve-se a insuficiência da válvula ureterovesical por anormalidades do ureter, da bexiga e da uretra – Presente em crianças com até 4 anos de idade, permite que o conteúdo da pelve e dos cálices penetre noparênquima renal. O refluxo é favorecido por papila anormal com extremidade côncava e/ou invaginada, com abertura ampla dos ductos coletores terminais - Diabéticos têm maior risco de infecção urinária, provavelmente por neuropatia vesical, lesões vasculares e o próprio distúrbio metabólico. - Redução do fluxo sanguíneo causa hipóxia e dificulta a chegada de leucócitos, o que favorece infecções. Em todas as doenças ou condições acompanhadas de redução da resposta imunitária, há maior risco de IU. Desnutrição predispõe a IU, especialmente em crianças - Mesmo com a mais cuidadosa técnica e rigorosa assepsia, instrumentação urológica (cateterismo, cistoscopia etc.) aumenta a frequência de infecção no trato urinário e é um dos seus principais fatores de risco. Cistite é a doença mais comum da bexiga. Contaminação da urina vesical, mesmo sem cistite, é importante como ponto de origem para pielonefrite ascendente. A urina da bexiga é estéril, sendo difícil a colonização por germes, devido a: • Seu esvaziamento periódico; • Características físico-químicas da urina (pH, hiperosmolaridade etc.); • Atividade antibacteriana do revestimento das vias urinárias; • Níveis elevados de IgA, IgG e IgM na urina. A causa mais comum de cistite é infecção bacteriana e, portanto, ela é mais comum em mulheres em consequência de uretra mais curta. Cerca de 40% Carla Bertelli – 4° Período das mulheres apresentam pelo menos um episódio de infecção do trato urinário baixo durante a vida. Várias condições facilitam a contaminação da urina e infecção vesical: • Obstrução do fluxo urinário, mecânica ou funcional, congênita ou adquirida; • Hiperdistensão da parede vesical por estase urinária, que compromete o fluxo sanguíneo local e modifica as condições de proteção e defesa da parede; • Cateterismo e instrumentação vesical, especialmente sondas de demora e cateterismo repetido; • Litíase; corpo estranho estéril na bexiga favorece a colonização de microrganismos, mesmo quando estes são introduzidos por via venosa; • Tumores, que, além de obstruírem o fluxo da urina, constituem terreno favorável à colonização por microrganismos (úlceras, necrose); • Pielonefrite, que elimina microrganismos para a bexiga; • Extrofia da bexiga, cistocele, fístula retovaginal; • Traumatismos; • Diminuição da resposta imunitária por qualquer motivo; • Gravidez. Além dos microrganismos descritos a propósito da infecção urinária, agentes químicos (anilina, terebintina, permanganato de potássio, nitrato de prata, agentes antineoplásicos, como a ciclofosfamida) e físicos (irradiações) podem causar cistite. Hoje, em razão do uso cada vez mais comum de antibióticos, corticoides e imunossupressores, cistite por Candida tem se tornado mais frequente. Embora possa não ter alteração macroscópica, cistite aguda apresenta muitas vezes hiperemia, edema e infiltrado purulento na mucosa. Microscopicamente, vê-se infiltrado predominantemente de neutrófilos. Em inflamações crônicas, que ocorrem especialmente próximas dos meatos ureterais ou do orifício uretral, a bexiga perde a elasticidade, e a sua parede torna-se dura, espessa e retraída, o que diminui a capacidade do órgão. As manifestações clínicas mais importantes são polaciúria, disúria, piúria e bacteriúria. Disúria (dor à micção) é variável, sendo mais comum em cistites agudas e ulceradas. Bacteriúria e piúria são também constantes. No entanto, nenhuma dessas manifestações é exclusiva de cistites, podendo ocorrer nas demais doenças dos vários componentes do sistema urinário. Na cistite crônica, a mucosa é espessada e, às vezes, ulcerada. O infiltrado inflamatório, predominantemente de mononucleares, é mais abundante na lâmina própria. Inflamação crônica causa edema e estimula a proliferação do urotélio, o que resulta em padrões morfológicos distintos. í caracteriza-se por pequenos cistos discretamente salientes na mucosa. Os cistos originam-se dos ninhos epiteliais de von Brunn, pequenas invaginais normais do urotélio. Muitas vezes, tais cistos sofrem diferenciação colunar e delimitam espaços glandulares metaplásicos, padrão denominado de cistite glandular pode simular carcinoma papilífero à cistoscopia, e surge em áreas de traumatismo prolongado (cateterismo de demora) e em fístulas. Estroma edemaciado forma projeções polipoides com eixos largos (distintos dos eixos fibrovasculares delgados das neoplasias uroteliais papilíferas verdadeiras). mais comum em mulheres no climatério e após a menopausa, compromete todas as camadas da bexiga, causa fibrose na parede e leva a retenção de urina. A inflamação é bastante dolorosa e acompanha-se de hematúria. À cistoscopia, aparecem fissuras na mucosa. A doença é idiopática, mas parece tratar-se de reação imunitária, pois há casos associados a hipersensibilidade a medicamentos ou a autoanticorpos. Algumas vezes, formam-se úlceras na mucosa (úlcera de Hunner). Infiltrado de mononucleares rico em mastócitos e tecido de granulação são encontrados em toda a parede. É causada por irradiação de tumores da pelve, sobretudo do colo uterino. Após aplicação do radioisótopo, surgem hiperemia e edema, mas as lesões mais importantes só aparecem meses depois, quando ocorrem necrose da parede vascular, trombose, hemorragias e úlceras; o epitélio sofre metaplasia escamosa, às vezes extensa. A úlcera pode ser profunda e causar perfuração e fístulas ou abrir-se na parede abdominal. A lesão pode sofrer infecção secundária. O diagnóstico de ITU inferior baseia-se, com frequência, apenas na história do paciente. A probabilidade de cistite Carla Bertelli – 4° Período em mulher no âmbito ambulatorial que apresenta disúria e polaciúria sem qualquer secreção vaginal é de cerca de 96%. O exame microscópico da urina que demonstra piúria (definida por mais de cinco leucócitos por campo de grande au- mento) em amostra de urina obtida com técnica asséptica possui alta sensibilidade para infecção (95%), porém especificidade relativamente baixa (71%). A presença de bactérias visíveis na microscopia é mais específica (85 a 95%). O exame de urina com tira reagente adquiriu maior popularidade por ser rápido e conveniente, particularmente no âmbito ambulatorial. A presença de nitrito ou esterase leucocitária é considerada resultado positivo (sensibilidade de 75% e especificidade de 82%). A cultura de urina é habitualmente efetuada a partir de amostra de urina do jato médio obtida com técnica asséptica. O critério tradicional de 100.000 bactérias ou unidades formadoras de colônias (ufc/ml) possui alta especificidade, porém sensibiilidade de apenas 50%. Em mulheres jovens com sintomas de disúria e polaciúria, a reduc ̧ão do limiar para 1.000 ufc/ml eleva a sensibilidade com redução mínima da especificidade. Um ciclo de 3 dias de sulfametoxazol-trimetoprima (SMX/ TMP) continua sendo o esquema antibiótico de primeira linha apropriado para a maioria das ITU não complicadas em mulheres jovens saudáveis e não grávidas entre 15 e 50 anos Um ciclo de 3 dias de uma fluoroquinolona — como, por exemplo, levofloxacino, ciprofloxacino ou gatifloxacino — constitui uma alternativa razoável para os pacientes com intolera ̂ncia ao SMX/TMP Outras alternativas possíveis consistem em um ciclo de 7 dias de um antibiótico β-lacta ̂mico — como, por exemplo, amoxicilina-clavulanato ou nitrofurantoína e cefalosporinas orais. Todavia, em situações nas quais um esquema de 3 dias fracassa (devido à persistência dos sintomas ou ocorrência de recidiva em 4 semanas após o término do tratamento), devem-se realizar culturas de urina (para investigar a presença de bactérias resistentes) e exames de imagem, a fim de excluir uma infecção complicada.Nestas situações, recomenda-se um esquema antibiótico de 14 dias. Uretrites podem ser ô ó ã ó ó cuja incidência havia caído em décadas passadas, voltou a recrudescer nos últimos anos. Trata-se de inflamação que atinge ambos os sexos e é transmitida habitualmente por contato sexual. Em homens, após período de incubação de 2 a 10 dias, surge inflamação aguda na mucosa, com corrimento uretral mucopurulento. Se as lesões não são extensas, há regeneração do epitélio. Nos casos não tratados, a inflamação progride e causa úlceras, compromete estruturas adjacentes e leva a fibrose e estreitamento uretral. Complicação temida é a propagação do processo para a uretra posterior, colo vesical, próstata, ductos ejaculadores, vesículas seminais e epidídimo. Uretrite gonocócica crônica refere-se à persistência de inflamação por longo tempo, em consequência de infecção da próstata, vesículas seminais ou epidídimo; com frequência, surgem abscessos, estenoses e outras alterações graves. Em mulheres, uretrite gonocócica é discreta e manifesta-se por hiperemia do meato. ã ó são mais comuns. Cerca de 20 a 60% dos casos em homens e 20% em mulheres são causados por várias espécies de clamídias. Infecções por outras bactérias (estafilococos, estreptococos, E. coli, bacilos difteroides) são também importantes e ocorrem após uretrite gonocócica ou secundariamente a traumatismos, às vezes discretos. A exsudação é escassa, as complicações são muito menos frequentes e a evolução é prolongada e sujeita a recidivas. Uretrite por Candida albicans aparece após tratamento prolongado com antibióticos ou quimioterápicos. Na í , ocorrem uretrite, conjuntivite e poliartrite. A uretrite surge 5 a 30 dias após contato sexual; em seguida vêm a conjuntivite e, finalmente, a Carla Bertelli – 4° Período artrite; esta persiste por meses, enquanto as duas primeiras curam-se rapidamente. O diagnóstico clínico de uretrite se faz pela presença de corrimento uretral mucopurulento no paciente, podendo ser dividido em dois grupos: uretrites gonocócicas e não- gonocócicas, das quais são os principais agentes etiológicos: Chlamydia trachomatis, em 15 a 55% dos casos; Ureaplasma urealyticum e Mycoplasma genitalium. Além disso, a co-infecção pela Chlamydia spp. ocorre em 10 a 30% das uretrites gonocócicas e, caso o profissional de saúde não possa realizar uma bacterioscopia da secreção uretral, está indicado o tratamento de ambas. No tratamento das uretrites gonocócicas a primeira opção de tratamento é ciprofloxacina 500 mg, por via oral ou ceftriaxona 250 mg, intramuscular, administradas em dose única. Em relação às uretrites não-gonocócicas, prioriza-se o tratamento para Chlamydia trachomatis, sendo: • A primeira opção, azitromicina 1 g, por via oral, dose única ou doxiciclina 100 mg, por via oral, a cada 12 horas, durante 7 dias; • Como segunda opção, ofloxacina 400 mg/dia, por 7 dias. Pielonefrite aguda é a inflamação purulenta que compromete túbulos, interstício e pelve renais. O início das manifestações é súbito, com sinais gerais de infecção, dor lombar, disúria, polaciúria, piúria, hematúria e cilindros leucocitários (purulentos); estes confirmam o comprometimento renal, pois se formam nos túbulos. Insuficiência renal depende da extensão do processo. O quadro clínico e a evolução modificam-se quando surgem complicações; necrose de papilas precipita insuficiência renal aguda. Com tratamento adequado, a doença evolui para cura. Quando há obstrução urinária ou se os pacientes são debilitados, imunossuprimidos, diabéticos ou submetidos a instrumentação urológica, pode ocorrer septicemia. Recidivas ou reinfecções não são raras, sobretudo se persistirem os fatores predisponentes. Pielonefrite crônica (PNC) é inflamação parenquimatosa crônica dos rins, uni ou bilateral, associada a fibrose e cicatrizes no parênquima e a deformidades no sistema pielocalicial. Pielonefrite crônica é causa importante de insuficiência renal crônica. Há duas formas de pielonefrite crônica: (a) PNC obstrutiva; (b) PNC associada a refluxo. Na PNC obstrutiva, obstrução urinária predispõe a infecções recorrentes e contribui para isquemia e hipotrofia do parênquima renal. A PNC de refluxo é a mais comum e pode iniciar-se na infância. É possível haver PNC associada a refluxo sem infecção urinária, pois não é raro o achado de urina estéril em indivíduos com pielonefrite crônica, embora seja difícil afastar a hipótese de infecção prévia já controlada. A PNC evolui lentamente, muitas vezes de forma assintomática, exceto em crises de recorrência, quando se manifesta como pielonefrite aguda. Especialmente na PNC de refluxo, a evolução é arrastada, oligossintomática, de diagnóstico tardio, já com insuficiência renal crônica e hipertensão arterial. Em crianças com hipertensão arterial, é importante investigar nefropatia de refluxo como fator predisponente. Às vezes, há perda da capacidade de concentração urinária (poliúria e nictúria) ou bacteriúria e piúria assintomáticas; bacteriúria pode estar ausente na fase tardia. Na nefropatia de refluxo, a cistoureterografia miccional pode ser decisiva no diagnóstico. Em 70% dos casos de PNC obstrutiva, há sinais de infecção urinária aguda e manifestações de infecção do trato urinário inferior. Insuficiência renal crônica e hipertensão arterial ocorrem nos casos de longa evolução. Exames radiográficos mostram dilatação do ureter e dos cálices, achatamento ou desaparecimento das papilas e estreitamento do parênquima; em obstruções ureteropélvicas, não há dilatação ureteral. PNC pode associar-se a rim em estágio terminal, seja como doença primária, seja como afecção superposta a outras nefropatias. Nesses casos, acompanha-se de hipertensão arterial e de insuficiência renal crônica. Quando unilateral, pode causar hipertensão arterial renovascular, inclusive com alterações vasculares no rim contralateral. Carla Bertelli – 4° Período Quando existe proteinúria intensa, suspeita-se de glomerulosclerose focal segmentar secundária, interpretada como consequência a adaptações glomerulares pela perda do parênquima renal, particularmente na nefropatia de refluxo. Esses casos têm prognóstico desfavorável e evoluem para insuficiência renal. Em certas ocasiões, os pacientes podem queixar-se de dor que se irradia para a virilha, sugerindo cálculo renal, ou de dor no rim referida para o epigástrio ou os quadrantes inferiores, sugerindo doença da vesícula biliar, pancreatite ou apendicite. Os pacientes idosos podem relatar sintomas de polaciúria e incontinência que podem não estar relacionados à ITU, como, por exemplo, os decorrentes de diverticulite. Além disso, frequente- mente é difícil obter um relato de sintomas de ITU em adultos mais idosos devido à demência subjacente ou uso de cateteres urinários de demora. Convém assinalar que os pacientes com ITU na presença de cateter urinário de demora habitualmente não apresentam sintomas do trato inferior, mas pode haver febre e bacteriúria. Pode-se estabelecer um diagnóstico incorreto de urossepse na ausência de sintomas urinários, devido à presença de bacteriúria, comum nesta população As mulheres saudáveis e não grávidas que apresentam pielonefrite aguda não complicada poderão ser tratadas em am- bulatório se não tiverem sinais de toxicidade sistêmica e forem capazes de tomar antibióticos orais. Para essas pacientes, reco- menda-se um ciclo de 14 dias de uma fluoroquinolona. Todavia, as mulheres com sintomas leves podem ser tratadas com um ciclo de 7 dias de fluoroquinolona por via oral. As pacientes in- capazes de manter uma hidratação oral ou tomar medicamentos, que exibem pouca adesão ao tratamento ou têm situações sociais incertas, ou, ainda, apresentam infecc ̧ão complicada ou sinaisde toxicidade sistêmica devem ser internadas para administração inicial de antibióticos por via parenteral. As fluoroquinolonas por via intravenosa ou uma cefalosporina de amplo espectro com ou sem aminoglicosídio, ertapeném ou piperacilina- tazobactam proporcionam uma cobertura adequada contra os prováveis patógenos. Para as infecções suspeitas pela P. ae- ruginosa, deve-se considerar o uso de um antibiótico antipseu- domonas, como ceftazidima, cefepima, imipeném-cilastatina ou meropeném com ou sem aminoglicosídio. Os antibióticos podem ser ajustados depois de identificado o micro-organismo infectante e estabelecida sua sensibilidade. Em geral, são necessários 14 dias de antibioticoterapia. As pacientes que inicialmente receberam antibióticos intravenosos podem passar para antimi- crobianos orais após a melhora clínica Filho, Geraldo B. Bogliolo - Patologia . Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021. Lerma, Edgar, V. et ai. ATUAL: Nefrologia e Hipertensão . Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo A, 2011. TRATAMENTO DAS PRINCIPAIS INFECÇÕES COMUNITÁRIAS E RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE E A PROFILAXIA ANTIMICROBIANA EM CIRURGIA. (n.d.). Retrieved September 15, 2022, from https://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_r m/cursos/atm_racional/modulo3/trato_urinario5.htm
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